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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA


SUMÁRIO

1. O conhecimento humano...........................................................................................................................3
1.1 A evolução da ciência................................................................................................................................................... 3
1.2 Contribuições de Kant à teoria do conhecimento..................................................................................... 4

2. A unidade do conhecimento....................................................................................................................7
2.1 Retorno à unidade por meio da filosofia.......................................................................................................... 7
2.2 Santo Tomás de Aquino e o conhecimento................................................................................................... 8

3. Liberdade versus determinismo.........................................................................................................10


3.1 Opinião versus pensamento filosófico............................................................................................................. 11

4. A leitura............................................................................................................................................................. 12
4.1 A importância dos clássicos...................................................................................................................................12
4.2 Estilos de leitura e estilos de texto...................................................................................................................12
4.3 A postura do leitor........................................................................................................................................................13
4.4 O hábito da leitura e da escrita........................................................................................................................... 14

5. Tema, problema e elaboração textual............................................................................................. 16

6. Normas ABNT................................................................................................................................................. 19
1 O CONHECIMENTO HUMANO

O processo de aquisição do conhecimento humano enraíza-se na busca pela ver-


dade inerente à condição humana e na capacidade de abstração e raciocínio. Este
percurso é profundamente influenciado pelo legado dos filósofos gregos, que esta-
beleceram as bases do pensamento racional e do método científico como conhe-
cemos hoje. A filosofia grega, com seu enfoque na razão e na busca por princípios
universais que regem o cosmos, foi crucial na evolução do conhecimento e na emer-
gência da ciência como hoje a compreendemos.
A origem do conhecimento humano é frequentemente atribuída ao sentimen-
to de maravilhamento diante da ordem do universo, um impulso para compreender
a realidade que transcende a experiência imediata. Esse impulso é catalisado pela
capacidade de reflexão e raciocínio, características que definem a espécie humana
e permitem a penetração nas camadas mais profundas da realidade. A contribuição
dos gregos nesse contexto é inestimável, cujo desenvolvimento do raciocínio filosófi-
co marcou o início da ciência em seu sentido mais amplo e próprio, entendido como
a procura por um conhecimento sistematizado e fundamentado na razão.
A metodologia de pesquisa na filosofia e nas ciências humanas, conforme deline-
ada pelos pensadores gregos, é caracterizada pela aplicação e desenvolvimento de
conceitos abstratos e universais. Este enfoque permitiu uma compreensão mais pro-
funda das diversas facetas da realidade, transcendendo a simples coleta de dados
empíricos para questionar as estruturas subjacentes e as relações causais. A distinção
entre ciência (episteme) e técnica (techné), conforme articulada por Aristóteles, subli-
nha a importância de um conhecimento que busca compreender as causas primárias
e os princípios universais que governam os fenômenos, em contraste com um saber
prático orientado para a realização de tarefas específicas ou a produção de objetos.
A influência dos filósofos gregos estende-se à contemporaneidade, especial-
mente no que tange à reflexão sobre a natureza e o propósito das ciências humanas.
O reconhecimento da importância da liberdade humana, da capacidade de abstração METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
e do papel dos símbolos na construção do conhecimento são temas recorrentes que
encontram suas raízes no pensamento grego. A trajetória do conhecimento humano,
desde a sua gênese até as complexas estruturas das ciências humanas contempo-
râneas, é profundamente marcada pela herança filosófica grega. O legado dos filó-
sofos gregos continua a influenciar o modo como concebemos o conhecimento, a
realidade e nosso lugar no universo, fundamentando uma tradição de indagação que
busca, acima de tudo, compreender a ordem subjacente que governa o cosmos e a
existência humana.

1.1 A evolução da ciência


A ciência, enquanto empreendimento humano voltado à compreensão sistemáti-
ca do mundo, evoluiu consideravelmente desde suas origens na Antiguidade até os
paradigmas modernos que hoje orientam sua prática e teoria.

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Na Antiguidade, o marco inicial da ciência é frequentemente associado ao pensa-
mento grego, particularmente ao surgimento da filosofia. Os filósofos pré-socráticos,
com sua indagação sobre a physis (natureza), iniciaram a transição do mito para a
razão como meio de explicar os fenômenos naturais. Tal movimento foi caracterizado
por uma busca de princípios (archai) que pudessem explicar a diversidade das experi-
ências humanas a partir de fundamentos universais. Tales de Mileto, por exemplo, ao
prever um eclipse, demonstrou a possibilidade de entender os fenômenos naturais
através da observação e raciocínio.
Esta fase inicial da ciência estava profundamente imbricada com a filosofia, na
medida em que a investigação sobre a natureza do ser, do conhecimento e da rea-
lidade era indissociável da investigação sobre os fenômenos naturais. Platão e Aris-
tóteles, por exemplo, contribuíram significativamente para o desenvolvimento de um
quadro epistemológico que serviria de fundamento para a ciência. Aristóteles, com
sua ênfase na observação empírica e na classificação dos seres vivos, estabeleceu
um método de investigação que seria influente por séculos.
A modernidade foi caracterizada por uma crescente especialização do saber, com
a emergência de disciplinas científicas distintas. O método científico, com suas eta-
pas de observação, formulação de hipóteses, experimentação e verificação, tornou-
-se o paradigma dominante. A ciência moderna buscou não apenas descrever os
fenômenos, mas também explicá-los a partir de princípios e leis universais, aplicáveis
independentemente do contexto específico da observação.
O conceito de ciência continuou a evoluir no século XX, período em que a filoso-
fia da ciência ganhou proeminência com figuras como Karl Popper e Thomas Kuhn.
Popper introduziu a noção de falsificabilidade como critério de demarcação da ciên-
cia, argumentando que uma proposição científica deve ser, em princípio, refutável
por meio da experimentação. Kuhn, por sua vez, desafiou a visão cumulativa do pro-
gresso científico ao propor o modelo de mudanças paradigmáticas. Segundo Kuhn,
a ciência avança por revoluções, nas quais um paradigma científico é substituído por
outro, não necessariamente por acumulação de conhecimento, mas por mudanças
na forma como os cientistas veem o mundo.
A ciência moderna, portanto, ao contrário de seu sentido clássico e pleno, é en-
tendida não como uma busca por verdades universais, mas sobretudo como uma METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
atividade humana sujeita a mudanças de perspectiva e entendimento.

1.2 Contribuições de Kant à teoria do conhecimento


A aquisição do conhecimento científico, um tema central na filosofia, tem sido
objeto de profunda reflexão e análise ao longo dos séculos. Dois filósofos que ofe-
recem contribuições significativas para esse debate são Immanuel Kant e Ernst Cas-
sirer, cujos trabalhos lançam luz sobre as estruturas e processos fundamentais que
subjazem à construção do conhecimento científico. Embora separados por séculos,
as obras de Kant e Cassirer estão intrinsecamente conectadas, oferecendo perspec-
tivas complementares sobre a epistemologia e a metodologia científica.
Immanuel Kant, filósofo do século XVIII, é frequentemente considerado um dos
pensadores mais influentes na história da filosofia moderna. Em sua obra crítica,
Kant busca responder a questões fundamentais sobre o conhecimento, a razão e a

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realidade, estabelecendo uma distinção crucial entre o fenômeno (o mundo como
o experimentamos) e o númeno (o mundo como é em si mesmo). Kant argumenta
que nosso conhecimento do mundo é limitado à esfera dos fenômenos; nunca po-
demos ter acesso direto aos númenos. Esta limitação, no entanto, não nos impede
de adquirir conhecimento confiável e significativo sobre o mundo, pois é através das
estruturas a priori da mente humana – categorias e intuições do espaço e tempo –
que organizamos e interpretamos a experiência sensorial. Portanto, o conhecimento
científico, para Kant, é fundamentalmente construído pela interação entre os dados
sensoriais e essas estruturas a priori, possibilitando a compreensão e a previsão dos
fenômenos naturais.
A teoria do conhecimento de Immanuel Kant representa um marco na filosofia, es-
pecialmente no que tange à compreensão da consciência e da capacidade humana
de atuação e interpretação do mundo. Central para a teoria kantiana é a ideia de que
a consciência não é um mero espelho passivo da realidade, mas um agente ativo na
construção do conhecimento. A consciência humana, dotada de categorias a priori
como causalidade, substância e unidade, organiza e dá sentido aos dados brutos da
experiência sensorial. Este processo de síntese a priori é o que possibilita a experiên-
cia coerente do mundo fenomênico, permitindo aos indivíduos não apenas perceber
a realidade, mas também compreendê-la de forma ordenada e significativa.
A atuação no mundo, sob a luz da teoria do conhecimento kantiana, é vista como
uma extensão da capacidade de conhecer. A interação com o mundo é mediada
pelas mesmas estruturas cognitivas que possibilitam o conhecimento, implicando
que toda ação e interpretação estão fundamentadas nas capacidades inerentes da
consciência. Assim, a realidade que experimentamos é sempre uma realidade inter-
pretada, conformada tanto pelos limites quanto pelas possibilidades das categorias
a priori da mente.
Ernst Cassirer, filósofo do século XX, expande e elabora as ideias kantianas em
sua própria teoria das formas simbólicas. Cassirer argumenta que a capacidade hu-
mana para o conhecimento científico não deriva apenas das estruturas a priori da
mente, mas também do uso de símbolos e sistemas simbólicos para representar e
compreender o mundo. Para Cassirer, a ciência é uma entre várias formas simbólicas
– juntamente com a arte, a linguagem, a religião, entre outras – através das quais os METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
seres humanos estruturam sua experiência e conhecimento do mundo. Essas formas
simbólicas não são meras representações da realidade, mas modos ativos de enga-
jamento que moldam nossa compreensão do mundo. A ciência, em particular, utiliza
símbolos – conceitos, teorias, fórmulas matemáticas – para criar modelos explicati-
vos e preditivos da realidade, facilitando a nossa interação com o mundo e aprofun-
dando nosso entendimento dos fenômenos naturais.
A contribuição de Cassirer, assim, ressalta o papel crucial da linguagem e dos
símbolos na mediação entre o sujeito cognoscente e o objeto de conhecimento, am-
pliando a abordagem kantiana ao enfatizar a diversidade de meios através dos quais
o conhecimento é construído e organizado. Através de sua análise das formas sim-
bólicas, Cassirer ilumina o processo pelo qual o conhecimento científico é tanto uma
construção humana quanto uma aproximação progressiva da verdade objetiva.
Kant, deste modo, estabeleceu a fundação ao argumentar que a mente humana
desempenha um papel ativo na construção do conhecimento, através das estruturas

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a priori que organizam a experiência sensorial. Cassirer, por sua vez, amplia esse en-
tendimento ao explorar como os símbolos e os sistemas simbólicos operam como
ferramentas essenciais na formulação e comunicação desse conhecimento. Juntos,
Kant e Cassirer fornecem um quadro para entender a ciência como uma atividade ca-
racterizada pela interação entre a mente, a experiência sensorial e o mundo simbólico.

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2 A UNIDADE DO CONHECIMENTO

A filosofia pode ser concebida como a ciência primeira, a disciplina fundamental


que busca compreender os princípios e causas primeiras de tudo o que existe. Essa
busca pela sabedoria primordial não se limita a um campo específico do saber, mas
abrange todas as questões relativas à existência, à realidade e ao conhecimento.
Nesse contexto, a filosofia não se distingue claramente das ciências naturais, da ma-
temática, da ética ou da política; todas essas áreas eram integradas numa unidade de
conhecimento que explica o real.
Contudo, a era moderna testemunhou uma progressiva fragmentação do saber,
com a especialização crescente das disciplinas científicas e a consequente separação
entre a filosofia e as ciências naturais. Esse processo de diferenciação, embora tenha
contribuído para avanços significativos em campos específicos do conhecimento,
também acarretou a perda da perspectiva integradora que caracterizava o antigo
entendimento da ciência. A especialização excessiva, ao enfatizar a profundidade em
detrimento da amplitude, tende a isolar os campos do saber entre si, dificultando o
diálogo interdisciplinar e a compreensão das questões complexas que transcendem
as fronteiras disciplinares.
Neste cenário, a defesa de um retorno ao antigo sentido de unidade do conheci-
mento não implica necessariamente na rejeição das conquistas das ciências espe-
cializadas ou na negação da importância da especificidade disciplinar. Pelo contrário,
reconhece-se a necessidade de preservar a profundidade e rigor que caracterizam
a investigação científica moderna. No entanto, argumenta-se que a recuperação de
uma perspectiva unificadora, na qual a filosofia reassume seu papel como ciência
primeira, é fundamental para enfrentar os desafios epistemológicos e éticos contem-
porâneos. A filosofia, com sua capacidade de questionamento crítico, reflexão sobre
os fundamentos e busca por princípios universais, oferece recursos valiosos para a
integração do conhecimento, promovendo um entendimento mais abrangente e co-
eso da realidade.
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A necessidade de um retorno ao antigo sentido de unidade do conhecimento re-
flete, assim, uma abordagem mais holística e integrada do saber. Tal abordagem não
apenas facilita o diálogo entre as disciplinas, mas também permite uma melhor apre-
ciação das interconexões e interdependências que caracterizam a realidade. Além
disso, uma visão unificada do conhecimento reforça a ideia de que as questões fun-
damentais sobre a existência, o sentido e o valor não podem ser plenamente aborda-
das por meio de uma perspectiva fragmentada, requerendo uma reflexão filosófica
profunda que transcenda as limitações das especializações científicas.

2.1 Retorno à unidade por meio da filosofia


A era contemporânea, caracterizada por sua crescente complexidade e especia-
lização em todas as áreas do conhecimento, traz consigo um desafio significativo: a
fragmentação do saber. Diante desse cenário, surge uma necessidade premente de

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revisitar e revalorizar a filosofia não apenas como um campo de estudo autônomo,
mas como um elemento unificador essencial do conhecimento humano. Essa pro-
posta não é meramente nostálgica ou idealista, mas fundamenta-se na compreensão
de que a filosofia, em sua essência, detém a capacidade de transcender as divisões
disciplinares, oferecendo uma perspectiva integradora que é crucial para enfrentar
desafios contemporâneos e possibilitar um conhecimento mais pleno do mundo.
Historicamente, a filosofia ocupou o lugar de ciência primeira, um campo de saber
que não se limitava a uma área específica do conhecimento, mas buscava compre-
ender os princípios fundamentais que governam a realidade, a existência e o conhe-
cimento. Esse caráter universal e integrador da filosofia permite uma visão coesa do
mundo, possibilitando a compreensão de questões complexas que não podem ser
plenamente abordadas por meio de uma ciência fragmentada. No entanto, com o
avanço das ciências especializadas, a filosofia foi progressivamente relegada a um
papel secundário, frequentemente percebida como desconectada das investigações
empíricas e das aplicações práticas que caracterizam a pesquisa contemporânea.
A necessidade de um retorno à filosofia como elemento unificador do saber resi-
de, fundamentalmente, na sua capacidade de promover uma compreensão profunda
das condições e limitações do conhecimento humano. A filosofia questiona os funda-
mentos, os métodos e os objetivos das diversas áreas do conhecimento, incentivan-
do uma reflexão crítica sobre as pressuposições que sustentam nosso entendimento
do mundo. Além disso, ao abordar questões relativas aos valores, à ética e ao sentido,
a filosofia oferece orientações vitais para a aplicação responsável e ética do conheci-
mento em diversos contextos sociais, políticos e tecnológicos.
Um retorno à filosofia como elemento unificador também favorece a promoção
do diálogo interdisciplinar. A filosofia, com sua abordagem questionadora e sua bus-
ca por princípios universais, é a ponte entre as ciências, as humanidades e as artes,
facilitando a troca de ideias e a integração de perspectivas diversas. Esse diálogo
enriquecedor é fundamental para abordar questões complexas que transcendem os
limites de uma única disciplina.

2.2 Santo Tomás de Aquino e o conhecimento


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Santo Tomás de Aquino, uma figura central da filosofia medieval e do pensamento
cristão, deixou um legado indelével na teoria do conhecimento e na categorização do
saber. Seu trabalho representa uma síntese notável entre a fé cristã e a filosofia aristo-
télica, e estabelece uma base racional para a compreensão teológica e filosófica. No
que diz respeito à teoria do conhecimento, o Aquinate desenvolveu uma abordagem
que enfatiza a importância da experiência sensorial como ponto de partida para o co-
nhecimento humano, ao mesmo tempo em que reconhece o papel crucial da razão
na elaboração e compreensão dos conceitos abstratos.
Para Santo Tomás, seguindo Aristóteles, todo conhecimento começa com os sen-
tidos. Ele defendia que o contato com o mundo externo através dos sentidos é a
fundação sobre a qual o conhecimento humano é construído. Esta ideia ressoa com a
ênfase aristotélica na empiria (experiência), destacando uma continuidade essencial
entre o mundo material e a capacidade humana de conhecer. No entanto, o Dou-
tor Comum da Igreja não limita o conhecimento à mera experiência sensorial; ele

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argumenta que, a partir dessas experiências, a mente humana é capaz de abstrair
conceitos universais num processo intelectual que transcende o imediatamente sen-
sível. Essa capacidade de abstração permite ao ser humano alcançar um entendi-
mento sobre a essência das coisas, objetivo central comum tanto à filosofia quanto à
teologia.
Além disso, a contribuição de Santo Tomás de Aquino para a categorização do
saber é notável. Ele propõe uma hierarquia do conhecimento que distingue entre
diferentes formas e objetos de estudo, desde as ciências naturais até a teologia, a
ciência suprema devido ao seu objeto de estudo – Deus, e as verdades divinas. Santo
Tomás sistematiza o saber de maneira que cada campo do conhecimento é ordena-
do segundo sua proximidade com o conhecimento divino.
A importância de Santo Tomás para a teoria do conhecimento e a categorização
do saber, portanto, reside na sua habilidade de integrar a fé e a razão, a experiência
sensorial e a abstração intelectual. Ele oferece um modelo de conhecimento que é
ao mesmo tempo aberto à multiplicidade da experiência humana e comprometido
com a busca por princípios universais e verdades últimas. Sua abordagem não só en-
riqueceu o debate filosófico e teológico de sua época, mas também forneceu bases
duradouras para o entendimento sobre como os seres humanos adquirem conheci-
mento e como diferentes áreas do saber se relacionam entre si e com a busca pela
verdade. Ele foi, assim, de certa forma, um modelo de unificador do saber em grau
sumo.

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3 LIBERDADE VERSUS
DETERMINISMO
A disputa entre liberdade e determinismo constitui um dos debates filosóficos
mais intrincados e persistentes ao longo da história do pensamento humano. Esta
controvérsia toca o cerne de questões fundamentais sobre a natureza da vontade
humana, a estrutura da realidade e as possibilidades de ação e escolha dentro do
universo. De um lado, o determinismo sustenta que todos os eventos, incluindo os
atos de vontade, são o resultado inevitável de condições antecedentes em conjun-
to com as leis da natureza. Do outro lado, a liberdade, ou o livre-arbítrio, defende a
capacidade dos indivíduos de escolher entre diferentes possibilidades de ação, uma
escolha que não está predeterminada por condições anteriores ou leis naturais.
O determinismo é frequentemente associado à visão de que o universo opera
de acordo com leis causais fixas e imutáveis. Sob essa perspectiva, se as condições
iniciais do universo e todas as leis naturais fossem conhecidas, teoricamente seria
possível prever cada evento futuro, incluindo as decisões humanas. Essa visão é re-
forçada por avanços em campos científicos como a física e a neurociência, que suge-
rem uma correlação entre a atividade cerebral, os processos químicos e físicos, e o
comportamento humano. O determinismo, portanto, contrapõe-se à noção de auto-
nomia pessoal, sugerindo que nossas escolhas podem ser o resultado de uma cadeia
de eventos e influências que transcendem o nosso controle consciente.
Contrastando com o determinismo, a noção de liberdade ou livre-arbítrio pro-
põe que os seres humanos possuem a capacidade de tomar decisões de maneira
autônoma, não totalmente condicionada por eventos passados ou leis da nature-
za. Esta visão leva em conta a singularidade da experiência humana, a capacidade
de reflexão e a responsabilidade moral, fundamentos essenciais para as noções de
autonomia, ética e justiça. De acordo com essa perspectiva, mesmo que certas pre-
disposições ou influências externas possam afetar a tomada de decisão, a escolha
final é atribuída ao agente, que é visto como capaz de agir de forma diferente sob as
mesmas circunstâncias.
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A disputa entre liberdade e determinismo não é apenas teórica, mas possui im-
plicações práticas significativas, particularmente no âmbito da ética, da responsabi-
lidade moral e do sistema de justiça. Se o determinismo absoluto fosse verdadeiro,
isso colocaria em questão a base para a responsabilização moral, uma vez que os
indivíduos não teriam controle real sobre suas ações. Por outro lado, a aceitação do
livre-arbítrio apoia a ideia de que as pessoas podem ser justamente responsabiliza-
das por suas escolhas e ações, reforçando a importância de conceitos como culpa,
mérito e punição.
A experiência subjetiva da liberdade serve como um argumento intuitivo, mas
poderoso, para a sua existência. Indivíduos cotidianamente vivenciam a sensação de
fazer escolhas com base em suas próprias vontades, preferências e deliberações.
Ademais, a criatividade humana é uma manifestação notável da liberdade. A
capacidade de conceber o novo, seja na arte, na ciência ou na tecnologia, implica
uma fonte de inovação que não parece ser totalmente determinada por condições

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antecedentes. A criatividade desafia a previsibilidade, sugerindo que os seres huma-
nos são capazes de transcender limitações e influências passadas, agindo de manei-
ras que refletem a liberdade genuína.

3.1 Opinião versus pensamento filosófico


Como um adendo importante à exposição de problemas filosóficos, vale ressaltar
que, na investigação filosófica, é essencial distinguir entre a expressão de opiniões
pessoais e o desenvolvimento de um raciocínio filosófico. Essa distinção não é me-
ramente acadêmica, mas reflete profundidades significativas quanto à natureza do
conhecimento, à estrutura do pensamento racional e à abordagem de questões fun-
damentais sobre a existência, a realidade e os valores humanos.
Uma opinião é frequentemente formada por impressões imediatas, experiências
subjetivas ou crenças não examinadas. Opiniões podem variar amplamente entre in-
divíduos, refletindo suas histórias de vida, contextos sociais e predisposições pes-
soais. Embora a expressão de opiniões seja um aspecto vital da comunicação e da
identidade pessoal, elas não necessariamente requerem uma base racional sólida,
nem são sempre submetidas a um escrutínio crítico rigoroso. Opiniões podem ser va-
liosas para ilustrar perspectivas individuais, mas não fornecem, por si só, um caminho
confiável para o entendimento universal ou para a verdade objetiva.
Em contraste, o raciocínio filosófico é caracterizado por um esforço deliberado de
abstração, análise e síntese. Não se contenta com a superfície das aparências ou com
o conforto das convenções não questionadas. Ao invés disso, busca fundamentos,
princípios e relações subjacentes que estruturam a realidade e a experiência huma-
na. O raciocínio filosófico envolve a formulação de argumentos lógicos, a exploração
de conceitos fundamentais e a aplicação de métodos críticos para avaliar a validade
das proposições.
Além disso, a filosofia distingue-se por seu compromisso com o diálogo e a argu-
mentação. Ao contrário de meras opiniões, que podem ser afirmadas sem justificação,
o raciocínio filosófico convida à contestação, ao debate e ao exame minucioso. Esse
processo dialético não é apenas uma ferramenta para testar ideias, mas também um
meio para refinar o entendimento e promover o avanço do pensamento. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Importante ressaltar que o raciocínio filosófico não rejeita a experiência subjetiva
ou a riqueza das perspectivas individuais. Pelo contrário, reconhece que o entendi-
mento humano é necessariamente situado e que diferentes pontos de vista podem
iluminar aspectos distintos da realidade. No entanto, a filosofia busca transcender o
meramente subjetivo por meio da busca por argumentos racionais, princípios univer-
sais e uma compreensão mais abrangente e integrada.
Em suma, enquanto opiniões refletem as contingências do individual e do mo-
mentâneo, o raciocínio filosófico esforça-se por alcançar uma visão que seja ao mes-
mo tempo mais abrangente e mais profunda. Ele não se satisfaz com o superficial
ou o imediatamente acessível, mas busca penetrar nas camadas mais profundas da
realidade, aspirando a um conhecimento que seja tanto rigoroso quanto revelador. A
diferença entre opinião e raciocínio filosófico, portanto, reside não apenas na meto-
dologia ou na forma, mas na própria essência do que significa buscar o entendimento
e a verdade.

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4 A LEITURA

4.1 A importância dos clássicos


As obras de autores clássicos não são simplesmente textos antigos ou obras de
referência histórica; eles são fundamentais para entender as questões mais profun-
das e persistentes da condição humana, da ética, da política, da metafísica, da esté-
tica e de outras áreas centrais das humanidades. Estas obras passaram pelo “teste
do tempo” por sua excelência literária ou filosófica e pela capacidade de inspirar,
desafiar e influenciar gerações de pensadores, artistas e cientistas. A leitura desses
textos oferece a base mais sólida sobre a qual novos conhecimentos e compreen-
sões podem ser construídos.
Embora possa ser tentador para o estudioso moderno começar sua pesquisa com
resumos, manuais ou comentários secundários, tal abordagem corre o risco de dis-
tanciar o leitor das fontes originais de pensamento e ideias. Ao invés disso, a imersão
direta nos textos dos grandes filósofos e escritores permite uma compreensão mais
autêntica e profunda de suas concepções. Este processo, embora mais desafiador,
é enriquecedor e transformador, pois confronta o leitor com as complexidades e nu-
ances do pensamento original, que muitas vezes são simplificadas ou perdidas em
interpretações secundárias.
Adicionalmente, ao priorizar a leitura dos clássicos, o pesquisador é desafiado a
desenvolver habilidades de leitura crítica, análise textual e argumentação que são
indispensáveis para qualquer trabalho acadêmico de qualidade. Este desafio não é
trivial; ele exige do leitor uma disposição para enfrentar a dificuldade, investir tempo
e esforço para desvendar o significado dos textos e engajar-se em um diálogo mental
com os autores. Essa prática desenvolve não apenas o conhecimento sobre o assun-
to em questão, mas também aprimora o raciocínio crítico, a empatia intelectual e a
capacidade de pensar de forma independente e criativa.
A defesa da leitura dos clássicos, portanto, não é uma mera exaltação da tradição METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
ou uma preferência por obras antigas em detrimento de novas. É um reconhecimento
de que a busca pelo conhecimento e pela verdade é uma jornada contínua, na qual
os clássicos servem como pontos de referência perenes e essenciais. Eles nos co-
nectam com as questões fundamentais da existência humana e oferecem perspecti-
vas que permanecem válidas em todas as épocas e em todos os lugares.

4.2 Estilos de leitura e estilos de texto


A prática da leitura, em especial no contexto acadêmico das humanidades, não se
restringe ao mero ato de decifrar palavras e frases. Ela se configura como um proces-
so complexo que envolve diferentes métodos e se adapta a uma variedade de estilos
textuais. O entendimento profundo dessa prática é crucial para o desenvolvimento
intelectual e a pesquisa acadêmica.

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Os métodos de leitura variam significativamente, a depender do estilo do leitor
e da diversidade dos textos com os quais se deparam os pesquisadores nas huma-
nidades. Cada gênero textual, seja filosófico, histórico, literário ou de outra natureza,
demanda uma abordagem de leitura específica, que respeite suas particularidades
e atenda aos objetivos da pesquisa. A leitura filosófica, por exemplo, requer um en-
gajamento profundo com o texto, onde o leitor deve estar atento aos argumentos
apresentados, à estrutura lógica e às implicações conceituais das teses defendidas
pelo autor.
Por outro lado, os textos literários e históricos podem demandar uma leitura que
valorize a contextualização e a interpretação dos elementos narrativos e descritivos,
considerando as circunstâncias culturais, sociais e históricas que influenciaram sua
produção.
Ademais, a prática da leitura nas humanidades é marcada pela importância de se
estabelecer um diálogo crítico com os textos. Isso implica não apenas na capacidade
de extrair e compreender as ideias principais, mas também na habilidade de ques-
tionar, comparar e identificar os princípios por trás das afirmações. O leitor deve ser
capaz de identificar os pressupostos subjacentes aos argumentos, avaliar a coerência
e a validade das teses apresentadas e relacioná-las com outras obras. Esse exercício
crítico é essencial para a construção de um pensamento autônomo e para a contri-
buição original ao campo de estudo.
A tomada de notas e o fichamento são práticas complementares muito úteis ao
método de leitura. Essas técnicas permitem ao pesquisador organizar e sintetizar as
informações coletadas, facilitando a referência futura e a elaboração de trabalhos
acadêmicos. A eficácia dessas práticas depende de uma organização metódica e de
um sistema de anotações que atenda às necessidades específicas de cada pesqui-
sador, possibilitando uma rápida recuperação das informações e uma eficiente cons-
trução argumentativa.
Os estilos textuais, por sua vez, apresentam desafios e oportunidades distintas
para o leitor. A diversidade de gêneros na tradição filosófica, por exemplo, desde
os diálogos socráticos até as dissertações contemporâneas, exige uma adaptação
constante dos métodos de leitura. A compreensão dessa variedade estilística auxilia
a apreensão adequada das diferentes formas de expressão do pensamento humano. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Cada estilo textual, com suas características próprias, oferece um caminho particular
de acesso às ideias, demandando do leitor uma sensibilidade para captar as nuances
e particularidades de cada obra.

4.3 A postura do leitor


A primeira abordagem à leitura de textos acadêmicos, particularmente na filosofia
e nas humanidades, requer do leitor uma postura desarmada e imparcial. Essa orien-
tação metodológica se fundamenta na ideia de que, para se engajar genuinamente
com o material estudado, é necessário abster-se de predisposições, preconceitos ou
intenções prévias de refutação ou concordância automática. Este posicionamento
inicial busca garantir uma receptividade aberta às ideias do autor, permitindo uma
compreensão mais profunda e nuanciada do texto.
A leitura desarmada é caracterizada pela suspensão temporária do julgamento
crítico do leitor em relação ao conteúdo do texto. Isso não significa a abdicação da
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razão ou a aceitação acrítica das ideias apresentadas, mas sim a adoção de uma
postura de escuta e observação atenta, na qual o principal objetivo é entender o ar-
gumento do autor em seus próprios termos. Tal abordagem possibilita que o leitor se
familiarize com o arcabouço conceitual, o contexto e os objetivos do texto antes de
formular qualquer tipo de avaliação ou crítica.
Essa imparcialidade inicial é essencial por várias razões. Primeiramente, ela res-
peita a integridade do texto e do autor, reconhecendo que toda obra surge de um
contexto específico e visa atender a determinadas questões ou problemas. Sem a
predisposição a interpretar o texto a partir de um ponto de vista neutro, corremos o
risco de impor nossas próprias ideias ou preconceitos ao material, distorcendo sua
mensagem original.
Além disso, a abordagem desarmada facilita o desenvolvimento de uma compre-
ensão mais rica e complexa do texto. Ao nos abrirmos para o texto sem a intenção
imediata de julgá-lo, somos capazes de explorar suas camadas de significado, per-
ceber nuances e entender as conexões entre diferentes partes do argumento. Esse
mergulho profundo no texto prepara o terreno para uma análise crítica mais informa-
da e refinada, baseada em uma compreensão abrangente da obra.
A prática de abordar a leitura de maneira desarmada e imparcial também cultiva
a humildade intelectual. Reconhece-se que, independentemente do quão avançado
ou especializado seja o leitor, sempre há algo a aprender com os textos dos outros,
especialmente com aqueles reconhecidos como clássicos ou fundamentais em suas
áreas. Essa humildade perante o texto enriquece a experiência de leitura e contribui
para o crescimento intelectual e a formação de pesquisadores mais abertos e erudi-
tos em suas abordagens.

4.4 O hábito da leitura e da escrita


Desenvolver o hábito de leitura e de escrita é crucial para qualquer indivíduo en-
volvido no meio acadêmico, bem como para aqueles que buscam uma expansão
contínua de seu conhecimento e habilidades intelectuais. A leitura constitui a base
para o aprofundamento em qualquer campo do saber, enquanto a escrita é o meio
pelo qual se expressam ideias, argumentos e descobertas. Ambas as práticas estão METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
interligadas e se complementam no processo de formação intelectual e no desen-
volvimento de competências acadêmicas.
A leitura atenta e reflexiva de obras de qualidade, especialmente aquelas reco-
nhecidas como clássicas em seu campo, é um caminho seguro para o aprimoramen-
to da própria escrita. Ao se deparar com diferentes estilos e estruturas textuais, o lei-
tor aprende, muitas vezes de forma inconsciente, formas eficazes de argumentação
e exposição de ideias.
Por outro lado, a prática da escrita é essencial para a consolidação do conheci-
mento adquirido através da leitura. Escrever permite organizar os pensamentos, clari-
ficar ideias e desenvolver argumentos próprios. É um exercício de expressão pessoal
que, ao mesmo tempo, requer a observância de regras e convenções específicas,
especialmente no contexto acadêmico. A escrita acadêmica, com suas exigências de
clareza, objetividade e rigor na argumentação e na utilização de evidências, é uma
habilidade que se aprimora com a prática contínua.

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Para desenvolver uma escrita acadêmica de qualidade, é fundamental que o pes-
quisador se habitue a escrever regularmente, adotando uma postura crítica em rela-
ção ao próprio trabalho. Isso implica na revisão constante dos textos produzidos, na
busca por aconselhamento de pares e na disposição para reformular ideias à luz de
novas perspectivas ou críticas. A familiarização com as normas técnicas de escrita e
formatação de trabalhos acadêmicos é parte integrante desse processo, assim como
o domínio do vocabulário e das convenções discursivas da área de estudo.
A leitura, deste modo, fornece o substrato para a escrita, enquanto a prática da es-
crita aprofunda a compreensão e a apreciação dos textos lidos. Ambas as atividades
requerem dedicação, disciplina e uma atitude ativa de engajamento com o material,
seja ele literário, filosófico, científico ou de qualquer outro domínio do conhecimento.

METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

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5 TEMA, PROBLEMA E
ELABORAÇÃO TEXTUAL
Na elaboração de obras no campo das humanidades, a construção temática e a
formulação do problema constituem etapas fundamentais para o desenvolvimento
de pesquisas acadêmicas e dissertações. A delimitação temática e a identificação de
um problema de pesquisa representam momentos distintos, porém interligados, que
orientam o pesquisador na exploração de seu objeto de estudo. A compreensão des-
sas fases é crucial para a formulação de um trabalho consistente e relevante.
A delimitação temática envolve a escolha de uma área de estudo dentro das hu-
manidades, como filosofia, história ou direito, e sua subsequente subdivisão em cam-
pos mais específicos. Esse processo de escolha não se limita apenas ao âmbito geral,
mas também à seleção de temas mais restritos, autores, obras e enfoques particula-
res. Tal escolha requer do pesquisador um esforço de concentração e especificação,
evitando abordagens demasiadamente amplas que comprometam a profundidade e
a viabilidade da pesquisa. A partir dessa delimitação, é possível estabelecer um re-
corte claro e definido que servirá de base para o desenvolvimento do trabalho.
No entanto, identificar o tema de estudo não é o único requisito para uma pesqui-
sa bem-sucedida. É necessário avançar na definição de um problema, que se distin-
gue do tema pela sua natureza questionadora. O problema de pesquisa é a questão
central que o pesquisador se propõe a responder, um desafio que motiva a investiga-
ção. Diferentemente do tema, que delimita o campo de estudo, o problema direciona
o foco da pesquisa para uma dificuldade específica, um ponto de tensão ou uma
lacuna no conhecimento existente. A identificação do problema está intimamente li-
gada a um desafio intelectual e a uma relação pessoal do pesquisador com o tema,
refletindo suas inquietações e o propósito de sua busca por respostas.
A transição da delimitação temática para a formulação do problema exige do pes-
quisador uma reflexão profunda sobre sua própria posição em relação ao tema es-
colhido. Isso implica reconhecer o problema como um ponto de intersecção entre o
interesse acadêmico e a relevância existencial ou social da pesquisa. Tal abordagem METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
permite que o trabalho acadêmico não se limite a uma discussão teórica abstrata,
mas que se engaje com questões significativas, capazes de contribuir para o enten-
dimento e talvez a solução de problemas concretos.
Além disso, o desenvolvimento de uma pesquisa em humanidades requer um
processo contínuo de revisão e refinamento tanto do tema quanto do problema. Isso
envolve a capacidade de ajustar o foco da pesquisa conforme novas perspectivas
são adquiridas e obstáculos são encontrados. A prática da escrita acadêmica, por
sua vez, desempenha um papel fundamental nesse processo, funcionando como um
veículo para a articulação e a exploração das ideias do pesquisador.
Em resumo, a delimitação temática e a formulação do problema são etapas cru-
ciais na elaboração de obras no campo das humanidades. Esses processos não são
estáticos, mas dinâmicos e interativos e geram o desenvolvimento intelectual do
pesquisador e a profundidade de seu engajamento com o tema. Ao navegar com cui-
dado entre a escolha do tema e a definição do problema, o pesquisador estabelece

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as bases para uma investigação rica e significativa, capaz de contribuir para o avanço
do conhecimento e para a compreensão de questões complexas e relevantes para a
humanidade.
A transição da análise de textos sobre o tema escolhido para a criação de textos
acadêmicos próprios é uma etapa significativa no processo de pesquisa nas huma-
nidades. Inicialmente, a análise de texto envolve uma abordagem detalhada e crítica
das obras relevantes dentro do campo de estudo do pesquisador. Esse processo in-
clui a identificação das teses principais, argumentos, metodologias e conclusões pre-
sentes nos textos. Uma compreensão profunda desses elementos é essencial para
que o pesquisador possa posicionar seu trabalho em relação às discussões existen-
tes e identificar lacunas na literatura que sua pesquisa poderá abordar. A análise de
texto, portanto, serve como um ponto de partida para a formulação de perguntas de
pesquisa originais e a definição de um problema específico a ser investigado.
A passagem para a criação de textos acadêmicos requer do pesquisador uma
mudança na abordagem, passando da interpretação e crítica dos textos para a pro-
dução de um discurso próprio que contribua para o campo de estudo. Esse processo
envolve a síntese das informações coletadas durante a análise e a aplicação de uma
metodologia de pesquisa adequada para abordar o problema definido. O pesquisa-
dor deve ser capaz de argumentar de forma coerente e fundamentada, utilizando as
evidências coletadas para sustentar suas teses e conclusões.
A criação de textos acadêmicos não se limita à mera apresentação de dados ou
à recapitulação de teorias existentes, mas deve refletir um esforço intelectual para
avançar o entendimento sobre o tema em questão. Isso implica em uma capacidade
de inovação e originalidade por parte do pesquisador, que deve trazer novas pers-
pectivas, argumentos e, possivelmente, soluções para os problemas investigados.
O texto acadêmico, portanto, deve buscar uma contribuição à produção intelectual
dentro da área de estudo.
A escrita acadêmica, neste contexto, exige do autor clareza, precisão e rigor na
exposição de suas ideias. A estrutura do texto deve facilitar a compreensão do leitor,
apresentando de maneira lógica e sequencial os argumentos que sustentam a tese
do pesquisador. A utilização de citações e referências deve ser feita de maneira cri-
teriosa, respeitando as normas acadêmicas e dando crédito aos autores e trabalhos METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
que contribuíram para a pesquisa. Além disso, o pesquisador deve estar atento à qua-
lidade da linguagem utilizada, buscando um equilíbrio entre a formalidade exigida
pelo contexto acadêmico e a acessibilidade do texto para o público-alvo.
O aprimoramento do estilo e da argumentação em textos acadêmicos exige uma
imersão profunda nas práticas de leitura e escrita, ajustadas especificamente aos
padrões exigidos pelo discurso acadêmico. O estilo de um texto acadêmico distin-
gue-se por sua objetividade, precisão e clareza, servindo como um veículo para a
argumentação sólida e fundamentada em evidências.
A construção de uma argumentação eficaz em textos acadêmicos começa com
a seleção cuidadosa de fontes e a análise crítica dos argumentos presentes na lite-
ratura existente. Esta análise prepara o terreno para o desenvolvimento de uma con-
tribuição própria, que deverá ser expresso com clareza e sustentado por evidências
coletadas durante a pesquisa.

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Em resumo, o desenvolvimento de um estilo de escrita adequado ao contexto
acadêmico e a capacidade de formular argumentações convincentes são habilidades
que se aprimoram com a prática constante de leitura e escrita. A leitura proporcio-
na ao pesquisador um modelo para a construção de seus próprios argumentos, en-
quanto a escrita oferece o espaço para experimentação e refinamento de suas ideias.
Assim, a interação contínua entre leitura e escrita não apenas enriquece o repertório
intelectual do pesquisador, mas também aprimora sua capacidade de contribuir sig-
nificativamente para as discussões em sua área de especialização, consolidando seu
lugar na comunidade acadêmica.

METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

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6 NORMAS ABNT

As normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) são obrigatórias


para a elaboração de textos acadêmicos para que haja padronização na produção e
na compreensão dos trabalhos científicos. Estas normas abrangem desde a formata-
ção do documento até a citação de referências, estruturando de maneira coerente e
uniforme a apresentação dos trabalhos.
O documento deve ser preparado em papel tamanho A4, com margens superior
e esquerda de 3 cm e inferior e direita de 2 cm, utilizando-se fontes Times New Ro-
man ou Arial no tamanho 12 para o texto principal e tamanho 10 para citações longas
e notas de rodapé. O espaçamento entre linhas recomendado é de 1,5, exceto para o
resumo, citações longas, referências e notas de rodapé, onde o espaçamento deve
ser simples.
Os textos acadêmicos são divididos em três partes principais: elementos pré-tex-
tuais, textuais e pós-textuais. Os elementos pré-textuais incluem a capa, folha de
rosto, resumo e sumário. A capa deve conter o nome da instituição, título do trabalho,
nome do autor e local e data. A folha de rosto repete algumas dessas informações
e adiciona a natureza do trabalho. O resumo deve apresentar de forma concisa os
pontos principais do estudo, seguido de palavras-chave; ambos devem aparecer em
português e em outra língua, geralmente o inglês (Abstract).
Os elementos textuais compreendem a introdução, desenvolvimento e conclu-
são. A introdução apresenta o tema, objetivos e metodologia do trabalho. O desen-
volvimento é o corpo do texto, onde se argumenta, analisa dados e discute-se o
tema em profundidade. A conclusão reúne os resultados e reflexões finais, indicando
possíveis caminhos para futuras pesquisas.
As referências bibliográficas compõem os elementos pós-textuais, listando todos
os documentos citados no texto, organizados alfabeticamente pelo sobrenome dos
autores. A formatação das referências segue padrões específicos, que variam confor-
me o tipo de material referenciado (livros, artigos de periódicos, capítulos de livros, METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
documentos eletrônicos, entre outros).
Quanto às citações, a ABNT prevê duas formas principais: citações diretas, que
são transcrições textuais de parte da obra do autor consultado, e citações indiretas
ou paráfrases, que são elaborações próprias baseadas nas ideias do autor sem repro-
duzir suas palavras. Citações diretas curtas (até três linhas) são incorporadas ao texto
entre aspas, enquanto citações longas (mais de três linhas) devem ser destacadas
com recuo de 4 cm da margem esquerda, em fonte tamanho 10, sem aspas.
A forma de indicar as referências das citações no texto pode seguir o sistema
autor-data ou por notas de rodapé. No sistema autor-data, inserem-se no texto o
sobrenome do autor e o ano da publicação, seguidos, quando necessário, da página
consultada. Já no sistema de notas de rodapé, a citação é indicada por um número
em expoente que remete à nota de rodapé correspondente, onde a referência com-
pleta é fornecida.
Ao seguir estas normas, os pesquisadores tornam suas obras acessíveis e com-
preensíveis dentro da comunidade acadêmica.
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