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EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA

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Resumo do trabalho
Trabalho escolar sobre a Evolução da Ciência, realizado no
âmbito da disciplina de Filosofia (11º ano).

A Evolução da Ciência
O que é a ciência? A ciência caracteriza-se como explicação
racional de fenómenos, com vista à resolução dos problemas que
nos afligem. No entanto, o seu papel, e a sua tomada de posição
perante os diversos assuntos que agitam a sociedade, têm variado
de época para época. Actualmente, estes parâmetros da ciência
ainda não estão completamente definidos. Este facto deve-se à
crise que abalou a comunidade científica há cerca de meio século,
criando a difícil transição daquela que era a Ciência Moderna para a
actual e ainda pouco definida Nova Ciência.
Da Antiguidade até ao séc. XVII (aproximadamente), a ciência e a
filosofia formavam um todo (a ciência tinha, até, o nome de filosofia
natural), muito controlado pela religião. O cristianismo limitava as
investigações e, consequentemente, todo o progresso da ciência.
Contudo, o aparecimento da astronomia e física modernas fazem
diminuir progressivamente o controlo da religião sobre a ciência,
permitindo que esta se torne numa entidade autónoma e
independente. É assim que a Ciência Moderna nasce no séc. XVI,
quando as sociedades ocidentais e a Igreja se viram confrontadas
com a importância das descobertas que se faziam. O renascimento
cria uma profunda revolução científica que transtorna os conceitos e
as ideias fundamentais da Natureza, do Homem, e do Universo.
Estas descobertas devem-se, entre outros, a Copérnico, Galileu,
Newton e Descartes. Todos estes cientistas foram, no fundo, os
fundadores da Ciência Moderna.
Esta ciência assenta em dois grandes pressupostos, que a
caracterizam. O primeiro é a rejeição absoluta dos dados dos
sentidos (experiência imediata) e do senso comum (preconceitos).
Ao duvidar desses dados, a Ciência Moderna afirmava que estes
eram úteis apenas para o conhecimento vulgar, mas que viriam
iludir e induzir em erro o conhecimento científico. A experiência
seria importante apenas como ponto de partida para uma
investigação, ou como confirmação das teorias criadas. O segundo
pressuposto baseia-se na Matemática. A Ciência Moderna só
considerava verdadeiro o que era quantificável: «o rigor científico,
só poderia assentar nos aspectos quantificáveis dos objectos e, por
consequência, no rigor das medições»1. Assim, tudo o que não
podia ser traduzido em números, utilizando a Matemática, era
cientificamente irrelevante. Hoje, considera-se que este rigor
matemático desqualificou os objectos, pois tirou-lhes as relações
(parte muito importante do seu conceito) com o seu meio
envolvente.
A Ciência Moderna também tinha um método próprio, que consistia
em dividir a realidade em porções, de modo a poder simplificá-las,
entendê-las, analisá-las e classificá-las uma a uma. De seguida,
voltava a juntar todas estas porções, e acreditava ter diante de si
um estudo fiável que abrangia toda a realidade. Para criar uma
verdade absoluta, a Ciência Moderna isolava-se da realidade, num
laboratório, no qual entendia obter resultados racionais e absolutos.
O modelo desta ciência designa-se por modelo mecanicista, que
encara o Universo como uma máquina (um mecanismo de relógio,
por exemplo), cujos resultados são previsíveis através de leis físicas
e matemáticas. O modelo mecanicista baseia-se em três
preconceitos, ou três premissas: a homogeneidade da matéria, a
regularidade cíclica dos acontecimentos, e a causalidade ou
racionalidade do Universo. No geral, estas premissas deixam claro
que existe ordem e estabilidade no mundo (as leis que se verificam
aqui, também se verificam em qualquer outro ponto do Universo),
que os acontecimentos do passado repetem-se no futuro, sendo
assim possível a sua previsão, e que o mundo é racional,
comandado por uma força inteligente. A Ciência Moderna defende a
imutabilidade da espécie humana.
Pode dizer-se que outra característica da Ciência Moderna,
resultante das grandes descobertas que se fizeram sob a sua
influência, é o facto de ter proporcionado uma nova visão do
mundo. Esta visão queria-se racional, sem ilusões, e distinta da
visão medieval do mundo que veio substituir: o nosso planeta já não
era o centro do Universo (graças a Copérnico), a vida não surge de
geração espontânea, não somos a obra de um ser divino, mas
descendemos do macaco (graças a Darwin), os impulsos
inconscientes da nossa mente (graças a Freud) e muitas outras
descobertas que, de certo modo, vieram “desencantar” (ou
confundir) a sociedade.
Foi então que todo este conceito de Ciência Moderna, ao ser posto
à prova, falhou. O primeiro a contribuir para esta crise foi Albert
Einstein que, ao criar a noção de que não existe simultaneidade
universal (não pode ser verificada a simultaneidade de
acontecimentos distantes), descredibilizou a existência de espaço e
tempo absolutos, defendidos por Newton. Este conceito mostrou
também que as leis da Física e da Geometria são baseadas em
medições locais, não podendo ser universalizadas. A premissa do
modelo mecanicista que afirmava a homogeneidade da matéria
estava assim posta em causa.
Ao provarem-se relativas, as leis de Newton inspiraram o Princípio
da Incerteza, de Werner Heisenberg. Este princípio traz uma nova
visão do conhecimento, assegurando que este é limitado e
aproximado, e que os resultados que dele obtemos são meramente
probabilísticos, relativos e parcelares. Esta nova caracterização do
conhecimento deve-se ao facto de Heisenberg ter demonstrado
que, ao observar e analisar um objecto, o sujeito confunde-se com
ele, invade-o, influenciando assim o seu conceito («não
conhecemos do real senão a nossa intervenção nele»1) . Ao provar
que, mesmo quando estudamos um objecto em laboratório, este é
manipulado ou alterado pela intervenção do sujeito, o método
“extremista” da Ciência Moderna (que consistia em isolar-se da
realidade num laboratório para obter um estudo fiável dessa mesma
realidade) foi, de certo modo, posto de lado. As leis da Física foram,
também elas, consideradas probabilísticas, e conclui-se que a
totalidade do real não se reduz à soma das partes em que foi
dividido para análise, inviabilizando a hipótese mecanicista.
Outro contributo para a crise da Ciência Moderna foi Kurt Gödel,
que, através das suas investigações (baseadas na demonstração
de que era possível formular proposições individuais que não se
podem demonstrar nem refutar usando a Matemática) provou que a
Matemática carece de fundamento. Ao questionar o rigor da
Matemática, o principal alicerce da Ciência Moderna (que consistia
em considerar verdadeiro apenas o quantificável e cujo
conhecimento se baseava em cálculos e no rigor de medições),
desmoronou-se.
Por fim, Ilya Prigogine descobriu que, em sistemas abertos, a
evolução não é previsível, pois explica-se por variações de energia
que desencadeiam reacções que, ao tornarem o sistema instável, o
conduzem a um novo estado macroscópico (esta transformação é
irreversível). Surgiu então um tempo de reflexão sobre a Ciência
Moderna. Assim, esta descoberta, para além de inviabilizar o
preconceito da Ciência Moderna que assegura a regularidade
cíclica e previsível das alterações do Universo, levou a uma nova
concepção da matéria e da Natureza.
O fim da Ciência Moderna foi então acelerado e marcado pela 2ª
Guerra Mundial. As consequências desta guerra, que não tinham
sido previstas, levaram a comunidade científica da altura a
questionar-se sobre o quão ético e correcto fora o lançamento das
bombas nucleares no Japão. Essas consequências vieram provar
que, para além de não serem verdadeiros os pressupostos da
Ciência Moderna, a ausência de valores humanos nesses
pressupostos tinha levado às consequências nefastas que se
verificaram.

Em resposta a esta crise, surge um novo movimento científico, que


se destaca pela sua oposição total às bases que sustentam a
Ciência Moderna. Passou a entender-se que as leis, para além de
serem uma simplificação da realidade, têm um carácter meramente
probabilístico e provisório. Considerou-se que o modelo matemático
da Ciência Moderna, isto é, a ideia de que a Matemática pode
abranger tudo, e de que tudo é quantificável, constitui apenas uma
limitação para o nosso conhecimento e para a nossa apreensão da
realidade. Isto deve-se ao facto dos objectos não se reduzirem
apenas aos seus aspectos quantificáveis, e de a sua quantificação
não ter em conta as relações complexas estabelecidas entre o
objecto e o resto do mundo. Assim, passam-se a utilizar vários
métodos para estudar a realidade, dependendo daquilo que
queremos demonstrar. Também, já não se considera a separação
entre sujeito e objecto: entende-se agora que o objecto é uma
continuação do sujeito. A incerteza já não é considerada como uma
limitação técnica, mas é um elemento fundamental para se entender
o mundo que estudamos – a ciência é agora um esforço de
eliminação de erros. Considera-se então que não existem ciências
exactas, nem verdades absolutas. O senso comum também foi
aceite por esta nova comunidade científica, tendo em conta que é
visto como “sabedoria da vida”, logo, constitui conhecimento que se
pode revelar útil no entendimento de certos aspectos do mundo.
Assim, a ciência também ela, tem como objectivo transformar-se em
sabedoria da vida. Menos arrogante, esta nova forma de encarar o
conhecimento e a ciência designa-se por Ciência Pós-Moderna, ou
Nova Ciência.
Mas, e sendo considerado como recente o surgimento desta Nova
Ciência, esta ainda não está completamente definida. Para que o
seu conceito seja estabelecido e aplicado internacionalmente, é
necessário que haja um consenso em toda a comunidade científica.
Só desta forma poderá ser criado um novo paradigma – conjunto de
métodos e critérios que regem a actividade científica. Até que seja
definido o paradigma para a Nova Ciência, pode dizer-se que,
actualmente, o mundo científico está em crise. Naturalmente, esta
crise não impede o progresso científico e tecnológico, bem pelo
contrário. Vivemos numa época extremamente criativa e produtiva a
estes níveis, em parte devido à ausência de paradigma, que
proporciona uma maior liberdade. No entanto, esta liberdade não
implica que qualquer teoria seja considerada válida! Assim, os
cientistas têm que ver a sua tese aceite por toda a comunidade
científica para que esta possa ser vista como uma teoria válida.
Para fazer aceitar a sua teoria, o cientista já não se limita a fazer
uma demonstração: o elemento argumentativo é fundamental.
Verifica-se uma maior exigência e rigor na obtenção do
conhecimento científico e das teorias consideradas válidas, levando
a que se façam menos descobertas realmente significantes, mas
que estas sejam mais fiáveis.
O avanço da tecnologia leva a que a verdade, na Nova Ciência,
seja vista como efémera. É aceite apenas enquanto que os seus
argumentos são válidos, e antes que seja substituída por outra
teoria (com melhores argumentos, e menos erros). Esta verdade
resulta de uma relação dialogante entre a realidade e as
competências do homem (lógica, memória, reflexão crítica, etc.).
Desta forma, ao serem agora toleradas as interferências dos
valores humanos, e ao aceitar-se a efemeridade da verdade, iremos
obter um conceito mais abrangente, viável, e realístico do
conhecimento.
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1 - Transcrições do livro Ágora (Editor: Santillana / Constância), de
Carlos Pascoal, capítulo “Estatuto do Conhecimento Científico”.

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