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CLÍNICA PASTORAL

CLÍNICA
PASTORAL

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CONTEÚDO

CAPÍTULO 01 .............................................................................................................................. 5
A IGREJA E O ACONSELHAMENTO ................................................................................................... 5
A. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5
B. A DIFÍCIL ARTE DO ACONSELHAMENTO ................................................................................... 6
C. O EXEMPLO DE JESUS NO ACONSELHAMENTO ....................................................................... 8
CAPÍTULO 02 ............................................................................................................................ 12
A IGREJA COMO UMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA .................................................................... 12
A. A IGREJA CUMPRINDO O SEU PAPEL TERAPÊUTICO .............................................................. 12
B. A RAZÃO DE SER DA IGREJA ................................................................................................... 14
CAPÍTULO 03 ............................................................................................................................ 16
A PSICOLOGIA PODE AJUDAR? ...................................................................................................... 16
A. A PSICOLOGIA NA ÁREA DO ACONSELHAMENTO .................................................................. 16
B. A VERDADE DESCOBERTA E A VERDADE REVELADA .............................................................. 18
C. A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO DE RECEITAS ................................................................................ 19
CAPÍTULO 04 ............................................................................................................................ 20
O NÚCLEO DO ACONSELHAMENTO .............................................................................................. 20
A. AS NECESSIDADES HUMANAS ................................................................................................ 20
B. A VIDA ABUNDANTE ............................................................................................................... 22
C. ALVOS A SER ALCANÇADOS NO ACONSELHAMENTO ............................................................ 23
CAPÍTULO 05 ............................................................................................................................ 26
QUALIFICAÇÕES DOS CONSELHEIROS EFICAZES ........................................................................... 26
A. UM BOM CONSELHEIRO......................................................................................................... 26
B. OUTRAS QUALIFICAÇÕES DE UM CONSELHEIRO EFICIENTE .................................................. 27
CAPÍTULO 06 ............................................................................................................................ 29
TÉCNICAS DE ACONSELHAMENTO ................................................................................................ 29
A. O QUE É ACONSELHAMENTO? ............................................................................................... 29
CAPÍTULO 07 ............................................................................................................................ 37
O PROCESSO DO ACONSELHAMENTO ........................................................................................... 37
A. O QUE O ACONSELHAMENTO NÃO É ..................................................................................... 37
B. TAREFA-DE-CASA NO ACONSELHAMENTO ............................................................................ 38
CAPÍTULO 08 ............................................................................................................................ 43
O CONSELHEIRO E O ACONSELHAMENTO .................................................................................... 43

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A. O ACONSELHAMENTO É GRATIFICANTE E ARRISCADO.......................................................... 43


B. A MOTIVAÇÃO E O CONSELHEIRO.......................................................................................... 44
CAPÍTULO 09 ............................................................................................................................ 47
A EFICÁCIA DO CONSELHEIRO ....................................................................................................... 47
A. TODO CRISTÃO É UM BOM CONSELHEIRO? .......................................................................... 47
B. O PAPEL DO CONSELHEIRO .................................................................................................... 48
CAPÍTULO 10 ............................................................................................................................ 53
A VULNERABILIDADE DO CONSELHEIRO ....................................................................................... 53
A. RAZÕES PARA A FRUSTRAÇÃO DE UM CONSELHEIRO ........................................................... 53
CAPÍTULO 11 ............................................................................................................................ 57
A SEXUALIDADE DO CONSELHEIRO ............................................................................................... 57
A. A ATRAÇÃO SEXUAL ENTRE CONSELHEIRO E ACONSELHADO ............................................... 57
B. O AUTOCONTROLE DO CONSELHEIRO ................................................................................... 58
CAPÍTULO 12 ............................................................................................................................ 63
A ÉTICA DO CONSELHEIRO ............................................................................................................ 63
A. O CÓDIGO DE ÉTICA DO CONSELHEIRO CRISTÃO .................................................................. 63
B. A “QUEIMA” DO CONSELHEIRO ............................................................................................. 65
C. O CONSELHEIRO DOS CONSELHEIROS ................................................................................... 67
CAPÍTULO 13 ............................................................................................................................ 69
AS CRISES NO ACONSELHAMENTO ............................................................................................... 69
A. EXPERIMENTANDO OS ALTOS E BAIXOS ESPIRITUAIS............................................................ 69
B. A BÍBLIA E OS TIPOS DE CRISE ................................................................................................ 71
CAPÍTULO 14 ............................................................................................................................ 74
INTERVENÇÃO NAS CRISES ............................................................................................................ 74
A. O ACONSELHAMENTO EM SITUAÇÕES CRÍTICAS TEM VÁRIOS OBJETIVOS ........................... 74
B. COMPREENDENDO A DIVERSIDADE NO ACONSELHAMENTO ............................................... 74
C. ENCAMINHAMENTO .............................................................................................................. 81
CAPÍTULO 15 ............................................................................................................................ 83
O FUTURO DO ACONSELHAMENTO .............................................................................................. 83
A. A DIVISÃO DO ACONSELHAMENTO........................................................................................ 83
B. A INVERSÃO DOS PAPEIS DO ACONSELHAMENTO................................................................. 84
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................... 86

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CAPÍTULO 01

A IGREJA E O ACONSELHAMENTO

A. INTRODUÇÃO
Algum tempo atrás um pastor escreveu um artigo provocante sob o título, "O
Aconselhamento é Uma Perda de Tempo". Frustrado pelo seu pouco êxito no
aconselhamento, o escritor queixou-se de gastar “horas e mais horas”...
falando ad infinitum com grande número de pessoas que simplesmente não
seguem seus “conselhos pastorais”.

O líder da igreja foi suficientemente sincero para reconhecer que seu


insucesso talvez resultasse do fato dele não ter as qualificações necessárias
para aconselhar com eficácia. Concordou também que existe lugar para
discussões doutrinárias e bíblicas entre um ministro e um membro, para falar
sobre o casamento com os que estão se aproximando do altar, ou para
ministrar pessoalmente aos doentes e aos que sofrem. Mas concluiu que não
há lugar para "o aconselhamento pastoral tradicional tão pouco produtivo".

Uma conclusão semelhante foi expressa recentemente pelo presidente de


uma faculdade quando afirmou que "a única razão dos pastores
aconselharem é com o intuito de desempenhar o papel de psiquiatras e
alimentar o seu ego de maneira pouco saudável". Os pastores devem
restringir-se à pregação e evitar o aconselhamento, afirmou o educador em
questão, sem lembrar-se aparentemente de que a pregação pode também
incentivar o ego e que os motivos pouco sadios tendem a anuviar qualquer
atividade, e não apenas o aconselhamento. Ao continuarmos nossa
discussão, ele não disse como um pastor ou outro líder da igreja poderia

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ministrar às pessoas, cuidar de suas necessidades e mesmo assim evitar


ajudá-las numa base individual ou em grupos pequenos.

Em um de seus primeiros livros Wayne Oates escreveu a este respeito com


surpreendente clareza:

 O pastor, sem levar em conta o seu treinamento, não tem o privilégio de


escolher se irá ou não aconselhar o seu povo. Eles inevitavelmente
levam-lhe os seus problemas, a fim de obter orientação e cuidado. Não é
possível evitar tal coisa caso permaneça no ministério pastoral. A sua
escolha não é feita entre aconselhar ou não aconselhar, mas entre acon-
selhar de maneira disciplinada e hábil ou aconselhar de modo
indisciplinado e inábil.

B. A DIFÍCIL ARTE DO ACONSELHAMENTO


Infelizmente, não é fácil aconselhar de forma disciplinada e hábil. Milhares de
técnicas de aconselhamento acham-se literalmente em uso; livros sobre
terapia e ajuda às pessoas são impressos com inquietante regularidade;
existem quase tantas teorias e abordagens ao aconselhamento quanto
conselheiros; e mesmo com toda esta informação e atividade até mesmo o
conselheiro de tempo integral pode sentir-se confuso.

Seria ótimo se todas essas publicações, teorias e treinamentos ajudassem


realmente os conselheiros a serem mais eficazes, mas parte dos chamados
"auxílios de aconselhamento" não tem na verdade muito valor. Até mesmo
os conselheiros bem treinados e experimentados, que se mantêm em dia com
a literatura profissional e aplicam as mais modernas técnicas descobrem que
seus aconselhados nem sempre melhoram. Não é difícil de entender, portan-
to, que alguns desistam concluindo que o aconselhamento é realmente uma
perda de tempo.

Se todos desistissem, porém, para onde iriam as pessoas com os seus

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problemas?

Jesus, que é o exemplo do cristão, passou muito tempo falando com as


pessoas necessitadas, em grupos e em contato face a face.

O apóstolo Paulo, que era muito sensível às necessidades dos indivíduos


sofredores, escreveu:

 "Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as debilidades dos fracos,
e não agradar-nos a nós mesmos" (Rm 15.1).

Paulo escrevia provavelmente aqui sobre os que tinham dúvidas e temores,


mas seu cuidado compassivo estendeu-se a quase todas as áreas de
problemas que poderiam ser encontradas hoje. A ajuda às pessoas não é
apresentada na Bíblia como uma opção, mas como uma exigência para todo
crente, inclusive o líder da igreja. O aconselhamento pode parecer às vezes
uma perda de tempo, mas deve constituir uma parte importante do
ministério, necessária e biblicamente estabelecida.

A fim de ajudar as pessoas, o aconselhamento busca estimular o


desenvolvimento da personalidade:

 Ajudar os indivíduos a enfrentarem mais eficazmente os problemas da


vida, os conflitos íntimos e as emoções prejudiciais;

 Prover encorajamento e orientação para aqueles que tenham perdido


alguém querido ou estejam sofrendo uma decepção; e,

 Para assistir às pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e


infelicidade.

Além disso, o conselheiro cristão busca levar o indivíduo a uma relação


pessoal com Jesus Cristo e seu alvo é ajudar outros a se tornarem,
primeiramente, discípulos de Cristo e depois discipularem outros.

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Para alcançar esses objetivos, é importante que os conselheiros se


familiarizem com os problemas (como surgem e como podem ser resolvidos),
assim como com as técnicas de aconselhamento. Se porém dermos crédito
às pesquisas recentes, as características pessoais dos conselheiros parecem
ter ainda maior significado. Depois de rever quase 100 estudos sobre a
eficácia do aconselhamento, uma dupla de autores concluiu que as técnicas
terapêuticas só podem atuar quando o conselheiro possui uma personalidade
"inerentemente positiva" — isto é, caracterizada por cordialidade,
sensibilidade, compreensão, cuidado, e a disposição de confrontar as pessoas
em uma atitude de amor.

Um psicológico chamado C. H. Patterson chegou a uma conclusão similar


depois de escrever um livro profundo sobre as teorias contemporâneas do
aconselhamento:

 A fim de ser mais eficaz o terapeuta deve ser uma pessoa real,
humana... Oferecendo um relacionamento genuinamente humano...
Grande parte da atuação dos terapeutas é supérflua ou não tem
relação com sua eficiência; de fato, muito de seu sucesso não tem
qualquer ligação com o que fazem ou acontecem do que fazem desde
que ofereçam a relação que os terapeutas de opiniões muito diferentes
parecem fornecer... Trata-se de uma relação que não se caracteriza
tanto pelas técnicas usadas pelo terapeuta, mas pelo que ele é; não é
tanto pelo que ele faz, mas pela maneira como o faz.

C. O EXEMPLO DE JESUS NO ACONSELHAMENTO


Jesus é certamente o melhor exemplo que possuímos de um "maravilhoso
conselheiro” cuja personalidade, conhecimento e habilidade capacitaram-no
eficazmente para assistir as pessoas que precisavam de ajuda.

Quando tentamos analisar o aconselhamento de Jesus, existe sempre a

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tendência, inconsciente ou deliberada, de encarar o ministério de Cristo de


modo a reforçar nossas próprias opiniões sobre como as pessoas são
ajudadas.

O conselheiro diretivo-confrontacional, reconhece que Jesus tinha às vezes


esta qualidade; o não diretivo, "centrado no cliente", encontra apoio para
esta abordagem em outros exemplos de ajuda aos necessitados prestada por
Jesus.

É indiscutivelmente mais exato afirmar que Jesus fez uso de várias técnicas
de aconselhamento, dependendo da situação, da natureza do aconselhado e
do problema específico. Ele algumas vezes ouvia cuidadosamente as pessoas
sem dar muita orientação, às claras, mas em outras ocasiões ensinava
incisivamente. Ele encorajava e apoiava, embora também confrontasse e
desafiasse. Jesus aceitava pessoas pecadoras e necessitadas, mas também
exigia arrependimento, obediência e ação.

A personalidade de Jesus era, entretanto, básica ao seu estilo de ajuda. Ele


demonstrou em seu ensino, cuidado e aconselhamento naqueles traços,
atitudes e valores que o tornaram eficaz como ajudador das pessoas e que
servem de modelo para nós. Jesus era absolutamente honesto,
profundamente compassivo, altamente sensível e espiritualmente amadu-
recido.

Ele dedicou-se a servir seu Pai celestial e seus semelhantes (nessa ordem),
preparou-se para sua obra mediante períodos frequentes de oração e
meditação, conhecia profundamente as Escrituras, e buscou ajudar as
pessoas necessitadas a se voltarem para ele, onde podiam encontrar paz,
esperança e segurança.

Jesus servia muitas vezes as pessoas através de sermões, mas também


combateu os céticos, desafiou os indivíduos, curou os doentes, falou com os

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necessitados, encorajou os desanimados e deu exemplo de um estilo de vida


santo.

Em seus contatos com o povo, ele compartilhou exemplos tirados de


situações reais e buscou constantemente estimular outros a pensarem e
agirem de acordo com os princípios divinos. Ele aparentemente acreditava
que alguns precisam de ouvido compreensivo que lhes dê atenção e consolo,
e que discutam o problema, antes de poderem aprender através do
confronto, desafio, conselhos ou pregação pública.

De acordo com a Bíblia, os cristãos devem ensinar tudo o que Cristo nos
ordenou e ensinou. Isto inclui certamente doutrinas a respeito de Deus,
autoridade, salvação, crescimento espiritual, oração, a igreja, o futuro, anjos,
demônios e a natureza humana. Todavia, Jesus também ensinou sobre o
casamento, interação entre pais e filhos, obediência, relação entre raças, e
liberdade tanto para homens como para mulheres. Ele ensinou igualmente
sobre assuntos pessoais como sexo, ansiedade, medo, solidão, dúvida,
orgulho, pecado e desânimo.

Todas essas são questões que levam as pessoas a procurar o aconselhamento


hoje. Quando Jesus tratava com essas pessoas ele frequentemente ouvia suas
perguntas e as aceitava antes de estimulá-las a pensar ou agir de modo
diferente. Às vezes dizia o que deveriam fazer, mas também orientava as
pessoas para que resolvessem os seus problemas através de indagações
hábeis e divinamente orientadas. Tome foi ajudado em sua dúvida quando
Jesus mostrou-lhe a evidência; Pedro aparentemente aprendeu melhor por
refletir (com Jesus) sobre os seus erros; Maria de Betânia aprendeu ouvindo;
e Judas parece que não aprendeu nada.

Ensinar tudo o que Cristo ensinou, portanto, inclui instrução na doutrina, mas
abrange também ajudar as pessoas a se entenderem melhor com Deus, com

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o próximo e consigo mesmas. Essas são questões que se referem a todos


praticamente. Alguns aprendem através de palestras, sermões ou livros;
outros pelo estudo pessoal da Bíblia ou discussões; outros ainda aprendem
através de aconselhamento formal ou informal; e talvez a maioria de nós
tenha aprendido mediante uma combinação dos elementos acima.

No centro de toda ajuda cristã, particular ou pública, acha-se a influência do


Espírito Santo. Ele é descrito como um consolador ou ajudador que ensina
"todas as coisas", nos faz lembrar das palavras de Jesus, convence as pessoas
do pecado, e nos guia a toda a verdade.8 Através da oração, meditação sobre
as Escrituras e entrega deliberada a Cristo todos os dias, o conselheiro-
professor se coloca à disposição como um instrumento mediante o qual o
Espírito Santo pode operar, ajudar, ensinar, convencer ou guiar outro ser
humano. Este deve ser o alvo de todo crente - pastor ou leigo, conselheiro
profissional ou ajudador leigo: ser usado pelo Espírito Santo para tocar vidas,
modificá-las e levá-las em direção à maturidade tanto espiritual como
psicológica.

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CAPÍTULO 02

A IGREJA COMO UMA COMUNIDADE


TERAPÊUTICA

A. A IGREJA CUMPRINDO O SEU PAPEL TERAPÊUTICO


Como vimos, Jesus falou com frequência a indivíduos sobre as suas
necessidades pessoais e ele se reunia muitas vezes com pequenos grupos. O
principal entre estes era o grupinho de discípulos que ele preparou para
"tomar seu lugar" depois da sua ascensão ao céu. Foi durante uma dessas
ocasiões em que estava com os discípulos que Jesus mencionou a igreja pela
primeira vez.

Nos anos que se seguiram foi esta igreja de Jesus Cristo que continuou seu
ministério de ensino, evangelização, serviço e aconselhamento. Essas
atividades não foram vistas como responsabilidade especial de líderes
eclesiásticos do tipo "superstar"; mas sim por crentes comuns trabalhando,
compartilhando e cuidando uns dos outros e dos incrédulos fora do corpo. Se
lermos o livro de Atos10 e as Epístolas torna-se aparente que igreja não era
apenas uma comunidade de evangelização, ensino, discipulado, mas também
uma comunidade terapêutica.

1. GRUPOS TERAPEUTICOS
Em anos recentes, profissionais de saúde mental passaram a apreciar o
valor de grupos terapêuticos em que os membros se ajudam uns aos
outros provendo apoio, desafio, orientação e encorajamento que não
seria possível de outra forma. Como é natural, tais grupos podem ser
prejudiciais, especialmente quando se transformam em encontros não-

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controlados que buscam criticar e embaraçar os participantes em lugar de


defecá-los ou desafiá-los à franqueza ou ação eficaz. Quando conduzidas
por um líder sensível as sessões em grupo podem ser, porém, experiências
terapêuticas grandemente eficazes para todos os envolvidos.

2. GRUPOS DIVERSIFICADOS
Tais grupos terapêuticos não precisam limitar-se às reuniões de
aconselhados e um conselheiro. Famílias, grupos de estudo, amigos dignos
de confiança, colegas de profissão, grupos de empregados e outros
pequenos conjuntos de pessoas frequentemente fornecem a ajuda
necessária tanto nas crises como quando os indivíduos enfrentam os
desafios diários da vida. Em toda sociedade, porém, é a igreja que possui
o maior potencial como comunidade terapêutica. Os corpos locais de
crentes podem oferecer apoio aos membros, cura aos indivíduos
perturbados e orientação quando as pessoas tomam decisões e seguem
em direção à maturidade.

3. O UFANISMO DA IGREJA VERSUS NECESSIDADE DE


COMPREENDER A DOR DO PRÓXIMO
Livros recentes sobre a igreja têm apresentado alguns títulos intrigantes:

 A Comunhão dos Santos; Uma Comunhão Viva - Um Testemunho


Dinâmico; A Comunidade Incendiaria; 0 Corpo de Cristo; A Companhia
dos Dedicados...

 Em contraste com este tom otimista, é provável que para muitos a


igreja contemporânea seja mais exatamente descrita como Uma
Reunião de Estranhos, com Bancos Cheios e Pessoas Solitárias.

 O corpo de crentes, que possui potencial para ser uma comunidade


dinâmica, produzindo crescimento, demasiadas vezes degenera em um
grupo de pessoas indiferentes que jamais admite ter necessidades ou

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problemas, assistindo aos cultos por simples hábito, e deixando a


maior parte das atividades a cargo de um pastor sobrecarregado. Tal
quadro talvez seja exagerado, mas para muitos a igreja local não
representa ajuda ou não tem grande significado. Esta não foi segu-
ramente a intenção de Cristo quando a igreja foi estabelecida no
princípio.

B. A RAZÃO DE SER DA IGREJA


Por que a igreja foi iniciada? A resposta com certeza se encontra nas últimas
palavras de Jesus e seus seguidores, quando voltou ao céu:

 “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em


nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco até
à consumação do século”.

A igreja foi estabelecida a fim de cumprir a grande comissão de fazer


discípulos (que inclui evangelização) e ensinar. Ela é agora encabeçada por
Jesus Cristo que nos mostrou como evangelizar e ensinar, quem, pela sua vida
e instrução, nos indicou os aspectos tanto práticos como teóricos do
cristianismo e que resumiu seus ensinamentos em duas leis: amar a Deus e
amar ao próximo.

Tudo isto deve ter lugar dentro dos limites de um grupo de crentes, tendo
cada um recebido os dons e habilidades necessários para edificar a igreja.
Como um grupo, guiado por um pastor, os crentes dirigem sua atenção e suas
atividades para o alto, através da adoração a Deus; para o exterior, mediante
a evangelização, e para o interior através da fraternidade e mútua divisão das
cargas. Quando falta um desses elementos, o grupo fica desequilibrado e os
crentes incompletos.

Os capítulos restantes deste livro foram escritos no sentido de assistir aos

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pastores, estudantes e outros líderes da igreja em um importante aspecto do


trabalho da mesma: suportar as dificuldades. Os tópicos discutidos neste livro
estão entre as áreas de problemas enfrentadas com maior frequência tanto
por cristãos como não-cristãos: problemas que interferem na adoração,
evangelização, ensino e fraternidade.

Para cada um deles consideraremos a origem dos problemas, como as


pessoas são afetadas por eles, como podem ser reduzidos ou eliminados
especialmente através do aconselhamento, como podemos evitar sua re-
corrência e onde obter mais informação. Os capítulos irão resumir o ensino
bíblico sobre esses assuntos, baseando-se em pesquisas e perspectivas
psicológicas recentes.

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CAPÍTULO 03

A PSICOLOGIA PODE AJUDAR?

A. A PSICOLOGIA NA ÁREA DO ACONSELHAMENTO


A fim de aumentar a eficácia no aconselhamento, muitos líderes de igreja têm
procurado as opiniões de psicólogos e outros profissionais que cuidam da
saúde mental. A psicologia é naturalmente um campo de estudo altamente
complexo e popular hoje em dia, tratando tanto do comportamento animal
como humano.

O estudante universitário que faz um curso introdutório à psicologia geral


encontra com frequência uma porção de estatísticas, termos técnicos e
"dados científicos" sobre inúmeros tópicos aparentemente sem importância.

Os cursos em nível de seminário sobre o aconselhamento pastoral tendem a


ser mais relevantes e concentrados nas pessoas. Mesmo assim o estudante
talvez se perca num labirinto de teorias e técnicas pouco proveitosas quando
se depara com um ser humano confuso e sofrendo.

1. A REJEIÇÃO DA PSICOLOGIA
Isto levou alguns escritores a rejeitarem a psicologia, inclusive a área do
aconselhamento e a concluir que a Bíblia é tudo que o cristão interessado
em ajudar as pessoas precisa. Jay Adams, por exemplo, argumenta que os
psiquiatras (e provavelmente os psicólogos) usurparam o lugar dos
pregadores e acham-se perigosamente tentando modificar o compor-
tamento das pessoas e seus valores de maneira ímpia. Escrevendo aos
pastores, Adams afirma que "estudando a Palavra de Deus
cuidadosamente e observando como os princípios bíblicos descrevem as

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pessoas que você aconselha... é possível adquirir toda a informação e


experiência de que precisa para tomar-se um conselheiro cristão
competente e confiante sem estudar psicologia."16 Este escritor de
influência não vê qualquer possibilidade da psicologia ou ramos afins
virem a auxiliar o líder de igreja a aconselhar mais eficazmente.

2. A BÍBLIA É UM MANUAL DE ACONSELHAMENTO?


Será, porém que a Bíblia foi realmente escrita como um manual de
aconselhamento? Ela trata de solidão, desânimo, problemas conjugais,
tristeza, relações entre pais e filhos, ira, medo e inúmeras outras situações
de aconselhamento. Como a Palavra de Deus, ela tem grande e duradoura
importância para o trabalho do conselheiro e as necessidades dos
aconselhados, mas não reivindica ser (nem é esse o seu propósito) a única
revelação de Deus sobre a ajuda às pessoas. Na medicina, no ensino e
noutros campos de assistência "centralizados na pessoa", a humanidade
teve permissão para aprender muito a respeito da criação de Deus através
da ciência e estudo acadêmico. Por que a psicologia deveria ser então
destacada como o único campo que nada tem a contribuir com a tarefa
do conselheiro?

3. PSICOLOGIA – O ESTUDO DO COMPORTAMENTO HUMANO


Como um campo de estudo, a psicologia científica tem cerca de 100 anos
de idade. Durante o século passado, Deus permitiu que os psicólogos
desenvolvessem instrumentos de pesquisa para o estudo do
comportamento humano e publicações profissionais para apresentarem
suas descobertas. Centenas de milhares de pessoas buscaram ajuda e os
conselheiros profissionais aprenderam o que faz as pessoas reagirem e
como podem mudar. Nosso conhecimento está longe de ser completo e
perfeito, mas a pesquisa psicológica cuidadosa e a análise de dados
levaram a um vasto reservatório de conclusões sabidamente úteis aos

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aconselhados e a quem quer que se disponha a ajudar eficazmente as


pessoas. Até mesmo os que querem por de lado o campo da psicologia,
usam frequentemente termos psicológicos em seus escritos e técnicas de
origem psicológica em seu aconselhamento.

B. A VERDADE DESCOBERTA E A VERDADE REVELADA


Muitas vezes obras de cientistas sociais na suposição que toda verdade tem
origem em Deus, inclusive a verdade sobre as pessoas por Ele criadas. Deus
revelou esta verdade através da Bíblia, a sua Palavra escrita à humanidade,
mas também permitiu-nos descobrir a verdade mediante a experiência e os
métodos de investigação científica. A verdade descoberta deve estar sempre
de acordo e ser confrontada com o padrão da verdade bíblica revelada.

Limitamos nossa eficácia no aconselhamento quando assumimos que as


descobertas da psicologia nada têm a contribuir para a compreensão e
solução dos problemas. Comprometemos nossa integridade quando
rejeitamos abertamente a psicologia, mas a seguir introduzimos
clandestinamente os seus conceitos em nosso aconselhamento — algumas
vezes ingenuamente e sem sequer perceber o que estamos fazendo.

Vamos aceitar o fato de que a psicologia pode ser de grande ajuda para o
conselheiro cristão. Como então atravessar o pântano de técnicas, teorias, e
termos técnicos para descobrir os pontos realmente úteis? A resposta
envolve nossa descoberta de um guia — alguma pessoa ou pessoas que sejam
seguidores dedicados de Jesus Cristo, familiarizadas com a literatura no ramo
da psicologia e aconselhamento, treinada neste mister e nos métodos de pes-
quisa (a fim de que a exatidão científica das conclusões dos psicólogos possa
ser avaliada), e eficazes como conselheiros. Um ponto de crucial importância
é os líderes aceitarem a inspiração e autoridade da Bíblia como o padrão
contra o qual toda psicologia deve ser testada assim como em seu papel de

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Palavra escrita de Deus, com a qual todo conselho válido deve concordar.

C. A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO DE RECEITAS


A Bíblia não é um livro de receitas infalíveis, destinado a produzir conselheiros
geniais. Os seres humanos são demasiadamente complexos para poderem
ser sempre mudados, mesmo mediante a intervenção dos mais hábeis
conselheiros. Todos os que aconselham têm os seus insucessos, algumas
vezes devido à sua própria inaptidão ou erro, outras, e com mais frequência,
porque o aconselhado não pode ou não quer modificar-se. Mas as melhoras
são mais prováveis quando o conselheiro tem algum conhecimento dos
problemas e de como intervir. Os capítulos que se seguem foram escritos com
o intuito de ajudar neste sentido.

Antes, porém, de darmos início às nossas análises, vamos fazer uma pausa
para ter uma visão geral das técnicas efetivas de aconselhamento. O capítulo
seguinte servirá de introdução útil para o iniciante, e para o conselheiro
experiente será apresentado como uma recapitulação e atualização.

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CAPÍTULO 04

O NÚCLEO DO ACONSELHAMENTO

A. AS NECESSIDADES HUMANAS
A Bíblia é recheada de exemplos de necessidades humanas. Através de suas
páginas lemos a respeito de:

 Solidão

 Desânimo

 Dúvida

 Tristeza

 Inveja

 Violência

 Pobreza

 Doença

 Tensão interpessoal

 Diversos outros problemas pessoais — algumas vezes manifestados na


vida dos homens e mulheres mais consagrados.

1. EXEMPLO DE JÓ
Ele era um homem piedoso, conhecido, rico e grandemente respeitado
por seus contemporâneos. De repente as coisas mudaram. Jó perdeu toda
a sua riqueza. Sua família inteira morreu exceto sua mulher que, sob
pressão, mostrou-se queixosa e implicante. Ele perdeu a saúde, os amigos

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CLÍNICA PASTORAL

pouco o ajudaram e Deus deve ter-lhe parecido muito remoto.

Veio então Eliú, um jovem que deu atenção às palavras de Jó e o ouviu


falar de suas dificuldades. Eliú criticou os que haviam censurado e
oferecido conselhos numa tentativa de ajuda. Ele mostrou aceitação e
interesse, uma disposição humilde de nivelar-se a Jó (sem uma atitude
negativa de parecer "mais santo do que tu"), coragem para confrontar, e
o desejo firme de dirigir o aconselhado a Deus que é o único soberano no
universo. Eliú foi o único conselheiro que prestou auxilio. Ele teve êxito
onde os três outros haviam falhado.

2. CONSELHEIROS INEFICAZES
Há vários anos atrás, um ex-presidente da Associação Americana de
Psicologia calculou que ainda hoje, três entre cada quatro conselheiros
são ineficazes. A proporção cresceu levemente segundo as descobertas de
escritores mais recentes que estudaram a eficácia do aconselhamento. De
acordo com esta pesquisa, podemos estar "bem certos" de que dois den-
tre cada três praticantes são ineficientes e até prejudiciais; desperdiçando
energia, dedicação e cuidado.

3. CONSELHEIROS EFICAZES
Existem, porém conselheiros bem sucedidos, cujo aconselhamento é
grandemente eficaz. Essas pessoas são caracterizadas por uma
personalidade que irradia compreensão, sinceridade e aptidão para
confrontar de maneira construtiva. Esses conselheiros são também hábeis
na aplicação de técnicas que estimulam os aconselhados a se dirigirem
para alvos terapêuticos específicos. Iniciaremos este capítulo com uma
consideração desses alvos de aconselhamento, discutindo as qualificações
de um ajudador eficaz, resumindo algumas técnicas básicas de
aconselhamento, dando uma breve visão geral do processo de

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CLÍNICA PASTORAL

aconselhamento e concluindo com um exame das tarefas para casa


ligadas ao processo em questão.

B. A VIDA ABUNDANTE
Certo dia em que ensinava a seus seguidores, Jesus contou a razão de sua
vinda à terra: “dar-nos vida em abundância e em toda a sua plenitude” – Jo
10.10. Antes disso, no versículo que é hoje certamente o mais conhecido das
Escrituras, Jesus falara sobre o propósito de Deus ao enviar o Filho — "para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16). Jesus
tinha, portanto, dois alvos para os indivíduos:

 Vida abundante na terra, e

 Vida eterna.

O conselheiro que é um seguidor de Jesus tem o mesmo alvo ulterior e


abrangente de mostrar às pessoas como ter uma vida abundante e apontar
aos indivíduos a vida eterna prometida aos crentes. Note as palavras
"ulterior" e "abrangente" na sentença anterior. Se levarmos a sério a grande
comissão, desejaremos ansiosamente ver todos os nossos aconselhados se
tomarem discípulos de Jesus. Se levarmos a sério as palavras de Jesus,
provavelmente chegaremos à conclusão de que uma vida plena e abundante
só é concedida àqueles que buscam viver de conformidade com os seus
ensinos.

Vamos reconhecer, porém, que existem muitos cristãos sinceros que terão
uma vida eterna, mas não gozam de uma vida muito abundante na terra.
Essas pessoas precisam de aconselhamento que envolva mais do que
evangelização ou educação cristã tradicional. Tal aconselhamento poderia,
por exemplo, ajudar os aconselhados a reconhecer as atitudes prejudiciais
inconscientes, ensinar habilidades interpessoais e novos comportamentos,

22
CLÍNICA PASTORAL

ou mostrar como mobilizar os recursos íntimos a fim de enfrentar uma crise.


Tal aconselhamento pode às vezes, quando orientado pelo Espírito Santo,
libertar o aconselhado de situações que o impedem de desenvolver-se até a
maturidade cristã. No caso do incrédulo, tal aconselhamento pode servir
como uma espécie de "pré-evangelização" para usar o termo de Schaeffer,
que remove alguns dos obstáculos mais insidiosos à conversão. A
evangelização e o discipulado são, portanto, os objetivos "ulteriores e
abrangentes" do conselheiro, embora não sejam os únicos.

C. ALVOS A SER ALCANÇADOS NO ACONSELHAMENTO


Quais são alguns dos desses alvos? Qualquer lista pode incluir pelo menos os
seguintes:

1. AUTOCOMPREENÇÃO
Compreender a si mesmo é, no geral, o primeiro passo para a cura. Muitos
problemas são auto-impostos, mas a pessoa que está sendo ajudada
talvez não reconheça que suas percepções são preconceituosas, suas
atitudes prejudiciais e seu comportamento autodestrutivo.

Considere, por exemplo, o indivíduo que se queixa: "Ninguém gosta de


mim", mas não percebe que sua reclamação é uma das razões de ser
rejeitado por outros. Um dos alvos do aconselhamento é que um ajudador
objetivo e alerta, auxilie os que estão sendo assistidos a obter um quadro
real do que está passando em seu íntimo e no mundo que os rodeia.

2. COMUNICAÇÃO
É bem conhecido que muitos problemas no casamento estão relacionados
com uma falta de comunicação entre os cônjuges. O mesmo se aplica a
outros problemas. As pessoas são incapazes ou não estão dispostas a
comunicar-se. O aconselhado precisa aprender a comunicar sentimentos,
pensamentos e atitudes, correta e eficazmente. Tal comunicação envolve

23
CLÍNICA PASTORAL

a expressão da pessoa e a capacidade de receber mensagens corretas por


parte de outros.

3. APRENDIZADO E MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO


Quase todo, se não todo o nosso comportamento é aprendido. O
aconselhamento, portanto, inclui ajuda no sentido de fazer com que o
aconselhado desaprenda o comportamento negativo e aprenda meios
mais eficientes de agir. Tal aprendizado vem através da instrução, da
imitação de um conselheiro ou outro modelo, e da experiência e erro. O
ajudador deve encorajar a pessoa que está auxiliando a "avançar",
praticando o que aprendeu. Algumas vezes será também necessário
analisar o que houve de errado quando ocorrer um fracasso e recomendar
uma nova tentativa por parte do aconselhado.

4. AUTOREALIZAÇÃO
Escritores humanistas recentes têm enfatizado a importância de o
indivíduo aprender a alcançar e manter o seu potencial máximo. Isto é
chamado de "autoealização", sendo proposto por alguns conselheiros
como o alvo de todos os seres humanos quer se achem ou não no ramo
de aconselhamento. Para o cristão, um termo como "Cristo-realização"
poderia ser substituído, indicando que o alvo na vida se completa em
Cristo, desenvolvendo nosso mais elevado potencial mediante o poder do
Espírito Santo que nos leva à maturidade espiritual.

5. APOIO
As pessoas com frequência conseguem alcançar cada um dos alvos acima
e funcionar eficazmente, salvo em períodos temporários de tensão ou
crise incomuns. Tais pessoas podem beneficiar-se de um período de apoio,
encorajamento e "divisão de fardo", até que sejam capazes de remobilizar
seus recursos pessoais e espirituais, a fim de enfrentar eficientemente os

24
CLÍNICA PASTORAL

problemas da vida.

Em qualquer tipo de aconselhamento é, no geral, útil quando conselheiro


e aconselhado estabelecem alvos ou objetivos definidos para o
aconselhamento. Esses alvos devem ser específicos e não vagos, realistas
e (no caso de serem vários) organizados em alguma sequência lógica que
identifique os pontos a serem atingidos em primeiro lugar e, talvez, por
quanto tempo.

25
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 05

QUALIFICAÇÕES DOS CONSELHEIROS EFICAZES

A. UM BOM CONSELHEIRO
O que faz de alguém um bom conselheiro? Num estudo de quatro anos
conduzido com pacientes hospitalizados e vários conselheiros, foi descoberto
que os pacientes melhoravam quando seus terapeutas mostravam um nível
elevado de cordialidade, sinceridade e compreensão empática correta.
Quando faltavam essas qualidades ao conselheiro, os pacientes pioravam.
Essas primeiras descobertas foram apoiadas por pesquisas subsequentes
tanto com pacientes como com aconselhados não hospitalizados. As
qualificações do conselheiro são de tal importância que vale a pena
considerá-las em mais detalhe:

1. CORDIALIDADE
Este termo implica em cuidado, respeito ou preocupação sincera, sem
excessos, pelo aconselhado — sem levar em conta seus atos ou atitudes.
Jesus mostrou isto quando se encontrou com a mulher junto ao poço. As
qualidades morais dela talvez deixassem a desejar, e ele certamente
jamais aprovou o comportamento pecaminoso; mas, mesmo assim, Jesus
respeitou a mulher e a tratou como pessoa de valor. Sua atitude calorosa,
interessada deve ter sido aparente onde quer que fosse.

2. SINCERIDADE
O conselheiro sincero é "real" — uma pessoa aberta, franca, que evita o
fingimento ou uma atitude de superioridade. A sinceridade implica em
espontaneidade sem irreflexão e honestidade sem confrontação

26
CLÍNICA PASTORAL

impiedosa. Isto significa que o ajudador é profundamente ele ou ela


mesmo — não sendo do tipo que pensa ou sente uma coisa e diz algo
diferente.

3. EMPATIA
Como o aconselhado pensa? Como ele se sente na verdade por dentro?
Quais os valores, crenças, conflitos íntimos e mágoas do aconselhado? O
bom conselheiro mostra-se sempre sensível a essas questões, capaz de
entendê-las e comunicar eficazmente essa compreensão (por palavras ou
gestos) ao aconselhado. Esta capacidade de "sentir com" o aconselhado é
o que queremos dizer com compreensão empática correta. É possível
ajudar as pessoas, mesmo quando não entendemos completamente, mas
o conselheiro que consegue empatizar (especialmente no início do
aconselhamento) tem mais probabilidade de tomar-se um ajudador eficaz
de pessoas.

B. OUTRAS QUALIFICAÇÕES DE UM CONSELHEIRO EFICIENTE


Embora a cordialidade, sinceridade e empatia se achem entre os atributos
mais frequentemente citados de um bom conselheiro, existem outras
características importantes de ajuda. O bom conselheiro, por exemplo, é
capaz de viver eficientemente, com poucos conflitos imobilizantes,
desânimos, inseguranças ou problemas pessoais.

O conselheiro eficiente é também compassivo, interessado nas pessoas,


alerta em relação aos seus próprios sentimentos e motivos, revelando-se
mais do que ocultando-se, e bem informado no setor de aconselhamento. O
cristão poderia resumir tudo isto afirmando que o conselheiro deve ter amor.

1. O MAIOR AGENTE TERAPÊUTICO


O “amor” foi ressaltado há vários anos atrás num livro de Gordon Allport,
professor da Faculdade de Harvard e ex-presidente da Associação

27
CLÍNICA PASTORAL

Americana de Psicologia. Ele chamou o amor de "incomparavelmente o


maior agente psicoterapêutico... algo que a psiquiatria profissional não
pode criar por si mesma, nem focalizar, nem liberar."

Allport sugeriu que o conselheiro secular muitas vezes não pode suprir o
amor necessário ao aconselhado e é incapaz de receber o amor que este
quer lhe dar. Será possível, sugeriu ele, que o cristianismo ofereça uma
abordagem para a vida baseada inteiramente no amor e, portanto, possa
ajudar onde o aconselhamento secular fracassa? Isto dá lugar a um desafio
que leva o conselheiro cristão a refletir: um meio básico de ajudar é amar
— pedir a Deus para amar as pessoas necessitadas através de nós e
suplicar que nos conceda mais amor.

2. O AMOR É SUFICIENTE?
Mas, será o amor suficiente? Para algumas pessoas e em relação a alguns
problemas, o amor basta; mas, quanto a outros mais ajuda é necessária.

Há vários anos atrás um famoso psiquiatra infantil escreveu um livro com


o título O Amor Não é Suficiente (Love Is Not Enough) e discutiu a
importância da disciplina, da estrutura e outras influências terapêuticas.
O ajudador cristão eficiente mostra amor. Isto é básico, fundamental. Mas
ele ou ela também busca desenvolver qualificações terapêuticas e tenta
tornar-se perito no conhecimento e uso das técnicas fundamentais de
aconselhamento.

28
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 06

TÉCNICAS DE ACONSELHAMENTO

A. O QUE É ACONSELHAMENTO?
O aconselhamento é, primariamente, uma relação em que uma pessoa, o
ajudador, busca assistir outro ser humano nos problemas da vida.

De modo diferente das discussões casuais entre amigos, a relação de ajuda,


pelo menos para os profissionais, é caracterizada por um propósito claro —
ajudar o aconselhado. As necessidades do ajudador são, na maior parte, sa-
tisfeitas em outra situação e ele não depende do aconselhado para receber
amor, para afirmar-se ou ser ajudado.

O conselheiro tenta remover seus próprios conflitos, tomar consciência das


necessidades do aconselhado e comunicar tanto compreensão como sua
vontade de ajudar. A ajuda pode ser um processo complicado, impossível de
ser descrito em poucos parágrafos. Podemos, porém, resumir algumas das
técnicas mais básicas utilizadas numa situação de ajuda.

1. ATENÇÃO
O conselheiro deve tentar conceder atenção integral ao aconselhado. Isto
é feito mediante:

a. Contato de olhos — olhar sem arregalar os olhos, como um meio de


transmitir interesse e compreensão;

b. Postura, que deve ser relaxada e não tensa, e que geralmente envolve
inclinar-se em direção ao aconselhado e,

c. Gestos Naturais, mas não excessivos ou que provoquem distração.

29
CLÍNICA PASTORAL

O conselheiro deve ser amável, bondoso, fortemente motivado à


compreensão. Ele deve estar sempre vigilante quanto a algumas das
distrações íntimas que nos impedem de oferecer atenção integral: fadiga,
impaciência, preocupação com outros assuntos, devaneios e inquietação.
A ajuda às pessoas é naturalmente difícil, sendo uma tarefa exigente que
envolve sensibilidade, expressões genuínas de cuidado e estar sempre
vigilante para atender a outrem tanto física como psicologicamente.

2. OUVIR
Isto abrange mais do que uma recepção passiva de mensagens. Segundo
o psiquiatra Armand Nicholi, o ato de ouvir eficazmente envolve:

a. Percepção suficiente e solução dos próprios conflitos a fim de evitar


reagir de modo a interferir com a livre expressão dos pensamentos e
sentimentos do aconselhado;

b. Evitar expressões verbais ou não verbais dissimuladas de desprezo ou


juízo com relação ao conteúdo da história do aconselhado, mesmo
quando esse conteúdo ofenda a sensibilidade do conselheiro;

c. Aguardar pacientemente durante períodos de silêncio ou lágrimas,


enquanto o aconselhado se enche de coragem para aprofundar-se em
assuntos penosos ou faz pausas para reunir seus pensamentos ou
recuperar a compostura;

d. Ouvir não apenas o que o aconselhado diz, mas aquilo que ele ou ela
está tentando dizer ou deixou de dizer;

e. Usar os olhos e ouvidos para captar as mensagens transmitidas pelo


tom de voz, postura, e outras pistas não verbais;

f. Analisar as próprias reações quanto ao aconselhado;

g. Evitar desviar os olhos do aconselhado enquanto este fala;

30
CLÍNICA PASTORAL

h. Sentar-se imóvel;

i. Limitar o número de excursões mentais às próprias fantasias;

j. Controlar os sentimentos em relação ao aconselhado que possam


interferir com uma atitude de aceitação, simpatia, que não faz juízos
antecipados; e

k. Compreender que é possível aceitar plenamente o aconselhado sem


aprovar ou sancionar atitudes e comportamento destrutivos para o
aconselhado ou para outros.

É fácil ignorar tudo isto e escorregar rapidamente para a oferta de


conselhos e falação excessiva. Isto impede o aconselhado de expressar
realmente suas mágoas, esclarecer um problema através de conversa,
partilhar todos os detalhes de uma questão ou experimentar o alívio que
vem com o desabafo.

Os conselheiros que falam muito podem dar bons conselhos, mas estes
raramente são ouvidos e terão ainda menos probabilidade de serem
seguidos. Em tais situações, o aconselhado sente que não foi
compreendido. Em contraste, ouvir é um modo de dizer-lhe, "Eu me
interesso". Quando não ouvimos, mas aconselhamos falando, esta é com
frequência uma expressão da própria insegurança do conselheiro ou de
sua incapacidade para tratar de situações ambíguas, ameaçadoras ou
emocionais.

3. RESPONDER
Não se deve supor, porém, que o conselheiro nada faz além de ouvir. Jesus
era um bom ouvinte (lembre-se do seu encontro com os dois discípulos
confusos na estrada de Emaús, por exemplo), mas a sua ajuda também se
caracterizava pela ação e respostas verbais específicas.

31
CLÍNICA PASTORAL

a. Orientar ou liderar é uma habilidade mediante a qual o conselheiro


prevê a direção dos pensamentos do aconselhado e responde de
maneira a redirecionar a conversação. "Você pode dar mais
detalhes...?" "O que aconteceu então...?" "O que você estava
querendo dizer com...'?" — todas essas são perguntas breves que
espera-se irão orientar ao máximo a discussão em direções produtivas.

b. Refletir é um modo de permitir que os aconselhados saibam que


"estamos com eles" e podemos compreender seus sentimentos ou
pensamentos. "Você deve sentir-se...", "Tenho a certeza de que isso o
frustrou," "Acho que foi mesmo divertido" — essas frases refletem o
que está acontecendo no aconselhamento. Tenha cuidado para não
usar esse método depois de cada declaração (faça isso apenas
periodicamente) e tente evitar respostas estereotipadas (e.g., repetir
sempre sentenças começando com frases como: "Você deve pensar..."
ou "Estou ouvindo você dizer que..."). Um breve resumo da entrevista
pode ser também um meio de refletir e estimular maior exploração por
parte do aconselhado. O conselheiro pode resumir sentimentos ("isso
realmente magoa") e/ou temas gerais do conteúdo ("de tudo que me
contou parece que teve uma série de decepções"), mas dê sempre ao
aconselhado tempo e oportunidade para responder a tais reflexões —
fazendo um sumário.

c. Perguntar, caso seja feito com habilidade poderá extrair bastantes


informações úteis. As melhores perguntas são aquelas que exigem pelo
menos uma sentença ou duas do aconselhado (e.g., "Fale-me sobre o
seu casamento") em lugar das que podem ser respondidas em uma
palavra ("Você é casado?" "Qual a sua idade?"). Os conselheiros
iniciantes fazem mais perguntas que os mais experimentados, e desde

32
CLÍNICA PASTORAL

que um interrogatório intensivo pode sufocar a comunicação, os


alunos são no geral instruídos a fazerem poucas perguntas. As
perguntas que começam com "Por quê?" São quase sempre evitadas,
desde que tendem a parecer críticas ou a estimular discussões
intelectuais prolongadas que impedem o aconselhado a confrontar
seus verdadeiros sentimentos ou mágoas.

d. Confrontar significa apresentar alguma ideia ao aconselhado, a qual


ele ou ela talvez não percebesse de outro modo. Os aconselhados
podem ser confrontados com o pecado em sua vida, inconsistência ou
comportamento derrotista, devendo ser encorajados a modificar seu
comportamento ou atitudes. O confronto é mais bem aceito quando
apresentado de maneira suave, cheia de amor, sem uma atitude de
julgamento. Todavia, ele com frequência provoca resistência, culpa e
algumas vezes ira por parte do aconselhado. Torna-se importante,
pois, que o conselheiro dê tempo ao aconselhado para responder
verbalmente ao confronto e discutir maneiras alternativas de
comportar-se. Tal confronto leva às vezes à confissão e a uma
experiência significativa de perdão. Alguns cristãos sugeriram que
aconselhamento e confronto são termos sinônimos. Isto não tem apoio
psicológico nem bíblico. O confronto é uma parte relevante e por vez
difícil do aconselhamento, mas não é a única habilidade envolvida no
processo de ajudar as pessoas.

e. Informar abrange a apresentação de fatos aos que precisam de


informação. Isto difere da ideia do conselheiro partilhar suas opiniões
ou dar conselhos. Informar é uma parte comum e aceita no
aconselhamento; oferecer conselhos é bem mais controverso. Os que
fazem isto geralmente não possuem o conhecimento necessário de

33
CLÍNICA PASTORAL

uma situação para orientar com competência, seus conselhos


encorajam a dependência do aconselhado, e se as recomendações não
forem bem sucedidas o conselheiro irá mais tarde sentir-se
responsável pela sua orientação negativa. Toda vez que lhe pedirem
conselhos ou sentir-se inclinado a aconselhar, certifique-se de que
conhece bem a situação. Você tem suficiente informação e perícia para
aconselhar outrem? Pergunte a si mesmo quais poderiam ser os
resultados de seus conselhos. Haveria possibilidade de provocar
dependência no aconselhado? Você tem condições para enfrentar os
sentimentos que talvez venham a surgir no caso de sua orientação ser
rejeitada ou mostrar-se errada? Caso positivo, ofereça conselho,
ofereça-o na forma de sugestão, dê ao aconselhado tempo para reagir
e falar a respeito de sua sugestão, e informe-se depois para ver até que
ponto o conselho foi proveitoso.

f. Interpretar envolve a ideia de explicar ao aconselhado o que seu


comportamento ou outros eventos significam. Esta é uma habilidade
altamente técnica com grande potencial para capacitar os
aconselhados a verem a si mesmos e suas circunstâncias mais
claramente. Mas as interpretações podem ser também prejudiciais,
especialmente se forem introduzidas antes do aconselhado poder
tratar emocionalmente do material, ou se as interpretações forem
erradas. Se você, como conselheiro, começar a perceber algumas
explicações possíveis para os problemas de outra pessoa, pergunte-se
se o aconselhado acha-se intelectual e emocionalmente preparado
para tratar do assunto, mantenha os termos simples enquanto in-
terpreta, apresente a sua explicação de modo tentativo (e.g., "Não será
que...?") e dê tempo ao aconselhado para responder. Enquanto você
discute a interpretação o aconselhado muitas vezes desenvolve maior

34
CLÍNICA PASTORAL

percepção e fica capacitado a explorar cursos futuros de ação em


conjunto com o conselheiro.

g. Apoiar e encorajar são partes importantes de qualquer situação de


aconselhamento, especialmente no início. Quando as pessoas estão
sobrecarregadas por necessidades e conflitos, elas podem tirar
proveito da estabilidade. Cuidado com uma pessoa empática que
mostre aceitação e lhe forneça uma sensação de segurança. Isto,
porém, é mais do que assistir aos oprimidos. O apoio inclui a orientação
do aconselhado no sentido de fazer uma avaliação de seus recursos
espirituais e psicológicos, encorajá-lo à ação e ajudar com quaisquer
problemas ou fracassos que possam resultar desta ação.

4. ENSINAR
Todas essas técnicas são na verdade formas especializadas de educação
psicológica. O conselheiro é um educador, ensinando através da instrução
e orientando o aconselhado à medida que ele ou ela aprende a enfrentar
os problemas da vida. Da mesma forma que outros tipos pessoais de
educação, o aconselhamento é mais eficaz quando as discussões são
específicas e não vagas, focalizando situações concretas ("Como posso
controlar meu gênio quando sou criticado por minha esposa?") em lugar
de alvos nebulosos ("Quero ser mais feliz").

Um dos instrumentos de aprendizado mais poderosos é o que os


psicólogos chamam de respostas imediatas ("immediacy responses").

Isto envolve a capacidade do conselheiro e aconselhado discutirem direta


e abertamente o que está acontecendo no aqui e agora de sua relação.
"Sinto-me muito frustrado com você no momento," alguém pode dizer,
por exemplo, ou "Estou ficando zangado porque acho que você está me
desprezando".

35
CLÍNICA PASTORAL

Tal expressão sincera e direta de como alguém se sente numa situação são
terapêuticas e tratam com os sentimentos antes destes deteriorarem e
crescerem negativamente. As respostas imediatas também ajudam os
aconselhados (e conselheiros) a compreenderem melhor como as suas
reações afetam outros e como eles respondem emocionalmente aos
relacionamentos interpessoais. Tal compreensão é um aspecto
educacional importante do aconselhamento.

36
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 07

O PROCESSO DO ACONSELHAMENTO

A. O QUE O ACONSELHAMENTO NÃO É


O Aconselhamento não é um processo tipo passo-a-passo, como assar um
bolo, mudar um pneu, ou mesmo preparar um sermão. Cada aconselhado é
único — com problemas, atitudes, valores, expectativas e experiências
peculiares.

O conselheiro (cujos problemas, atitudes, valores, expectativas e


experiências pessoais são também parte das situações de aconselhamento)
deve abordar cada indivíduo de modo um pouco diferente e descobrirá que
o curso do aconselhamento irá variar de pessoa a pessoa.

Em toda relação de aconselhamento, porém, existem ao que parece, vários


estágios, e os três primeiros podem ser repetidos diversas vezes, à medida
que os problemas são considerados e reconsiderados. Esses estágios incluem:

1. O ESTABELECIMENTO E MANUTENÇÃO DE UM RE-


LACIONAMENTO ENTRE CONSELHEIRO E ACONSELHADO
2. A EXPLORAÇÃO DE PROBLEMAS A FIM DE ESCLARECER
CERTAS QUESTÕES E DETERMINAR COMO OS PROBLEMAS
PODEM SER TRATADOS
3. A DECISÃO SOBRE UM CURSO DE AÇÃO
4. O ESTÍMULO DO ACONSELHADO PARA QUE TOME UMA
ATITUDE
5. A AVALIAÇÃO DO PROGRESSO E DECISÃO SOBRE AÇÕES
SUBSEQUENTES
6. COMO TERMINAR A RELAÇÃO SEM A AJUDA CONTÍNUA DO
CONSELHEIRO

37
CLÍNICA PASTORAL

No papel, tudo isto parece direto e simples, mas o processo de aconse-


lhamento pode ser bastante complexo e exigir muito do nosso tempo e
energia.

Uma das razões para isto é que os estágios são raramente identificados com
tanta clareza ou tão facilmente como os parágrafos anteriores talvez sugiram.

Por exemplo, o primeiro passo de estabelecer uma relação é especialmente


importante no início, quando os aconselhados (e conselheiros) talvez estejam
nervosos e apreensivos. Todavia, uma vez que a relação tenha começado, ela
deve ser mantida, a fim de que o conselheiro jamais perca completamente
de vista o passo número um. No decorrer do aconselhamento surge uma
vacilação natural entre esses estágios, de avanço e retrocesso, à medida que
os problemas se tornam mais definidos, as soluções são encontradas e o
aconselhamento se dirige para o seu final.

Sem levar em conta quão eficaz possa ser a hora de aconselhamento, sua
influência pode ser diminuída se o aconselhado sair da sessão e esquecer-se
ou ignorar o que aprendeu. A fim de enfrentar este problema, muitos
conselheiros dão tarefa de casa — projetos destinados a fortalecer, expandir
e estender o processo de aconselhamento para além do período que o
aconselhado passa com o conselheiro.

B. TAREFA-DE-CASA NO ACONSELHAMENTO
Em seu excelente livro sobre a ajuda, o psicólogo Paul Welter nota que cada
pessoa tem um modo especial de aprender.

Alguns aprendem melhor ouvindo — escutando o que outros dizem. Outros


vendo — lendo, assistindo filmes e observando diagramas. Existem também
indivíduos que aprendem melhor fazendo — completando projetos,
desempenhando papéis, ou representando seus sentimentos.

38
CLÍNICA PASTORAL

Embora tenha havido algumas exceções recentes (especialmente em certas


abordagens do aconselhamento orientadas no sentido da experiência), a
ajuda tradicional às pessoas sempre envolveu uma aproximação do tipo falar-
ouvir. As sessões de aconselhamento duram aproximadamente uma hora,
sendo separadas por uma semana ou mais de outras atividades.

As tarefas de casa capacitam as pessoas a estenderem o seu aprendizado para


além das sessões de aconselhamento e permitem ver e fazer além de ouvir.
A tarefa de casa, escreve Adams, é a essência do bom aconselhamento. 0
conselheiro que aperfeiçoa a sua habilidade nesse sentido verá a diferença
em sua eficácia na ajuda às pessoas. Aprender como passar tarefa de casa
positiva, bíblica, concreta, que se adapte criativamente à situação, exige
tempo e esforço, mas produzem dividendos.

Desde que o termo "tarefa-de-casa" geralmente faz pensar em algo


monótono imposto sobre um receptor rebelde, foi sugerido que "acordos-
tarefa" poderia ser um termo melhor e mais exato. O conselheiro e
aconselhado concordam a respeito de tarefas que podem ser realizadas nos
intervalos das sessões de aconselhamento. Essas tarefas ajudam o aconselha-
do a manter-se cônscio dos alvos do aconselhamento, obter informação
adicional (mediante leitura ou ouvindo fitas), desenvolver e praticar novas
habilidades, eliminar o comportamento prejudicial, testar o que foi
aprendido no aconselhamento, e experimentar novas maneiras de pensar e
agir.

Os acordos-tarefa podem ser de vários tipos e incluir comportamentos


específicos, tais como fazer um elogio todos os dias, abster-se de críticas, ler
um capítulo diário na Bíblia, dedicar tempo a um parente que considere
importante, manter um registro do uso do tempo, ou fazer uma lista dos
próprios valores e prioridades. No final de cada sessão de aconselhamento, o

39
CLÍNICA PASTORAL

conselheiro e o aconselhado poderiam perguntar: "Depois deste período de


aconselhamento, de que modos específicos o aconselhado pode praticar o
que aprendeu hoje ou obter novos conhecimentos que serão ainda mais
úteis?" As respostas e, portanto, os acordos-tarefa em potencial, são quase
ilimitados.

Apesar destas possibilidades de diversificação, cinco tipos de tarefas de casa


têm sido quase sempre usados:

1. TESTES
Isto inclui questionários, formulários para completar sentenças, testes
padronizados, e trabalhos escritos (tais como preparar uma breve
biografia, fazer uma lista dos alvos na vida, fazer uma lista daquilo que
gosta ou não gosta sobre o emprego, e assim por diante). Essas respostas
escritas são devolvidas ao conselheiro e discutidas com ele.

2. DISCUSSÃO E GUIAS DE ESTUDO


Esses guias aparecem algumas vezes nos apêndices de livros, mas volumes
inteiros têm sido dedicados à orientação dos estudos em casa ou discus-
são em pequenos grupos. Este estudo tem lugar algumas vezes
independentemente de qualquer aconselhamento. Outras vezes o estudo
é um acordo-tarefa a ser completado entre as sessões de aconselhamento
e discutido subsequentemente no aconselhamento.

3. TAREFAS COMPORTAMENTAIS
Os aconselhados são às vezes encorajados a modificar suas atitudes de
maneira leve, mas importante, entre as sessões de aconselhamento. Dizer
"obrigado", fazer elogios periódicos, não queixar-se de certo hábito
aborrecido do nosso cônjuge, chegar ao trabalho na hora, ler a Bíblia
durante dez minutos diariamente — esses são os tipos de sugestões de
mudança de comportamento dadas pelos conselheiros e depois discutidas

40
CLÍNICA PASTORAL

com os aconselhados.

4. LEITURA
Os livros e artigos com frequência contêm informação útil que pode
completar as sessões de aconselhamento. Existe sempre o perigo dos
aconselhados interpretarem mal o que foi escrito ou que algo seja tirado
de seu contexto.

Poucos conselheiros têm o tempo necessário para examinar todos os


livros potencialmente relevantes e será difícil encontrar materiais escritos
com os quais o conselheiro esteja de pleno acordo. Apesar dessas
limitações, os artigos e livros podem ser um suplemento proveitoso no
aconselhamento, especialmente se a leitura for discutida
subsequentemente com o aconselhado.

5. TERAPIA MUSICAL
A terapia musical — uso da música para ajudar as pessoas com seus
problemas — é pelo menos tão antiga quanto as melodias calmantes que
Davi tocava para serenar o perturbado rei Saul. Muitas pessoas relaxam
ligando o seu aparelho de som depois de um dia pesado de trabalho.

Mas a recente explosão de interesse pela música e a grande


disponibilidade de equipamentos de execução pouco dispendiosos vem
dando ao conselheiro um recurso potencialmente poderoso, mas ainda
não pesquisado. De modo literal, milhares de CDs acham-se pre-
sentemente disponíveis sobre uma ampla escala de assuntos. A qualidade
das músicas e a exatidão da informação nelas contida nem sempre é boa,
mas elas podem ser melhoradas e utilizadas como um suplemento
positivo no aconselhamento pessoal.

Por exemplo, há vários anos atrás na Universidade de Austin, várias


gravações foram preparadas, cada uma das quais durava de sete a dez

41
CLÍNICA PASTORAL

minutos e continha recomendações práticas de aconselhamento, assim


como informação sobre onde conseguir mais ajuda. Essas gravações
tomaram-se parte de um serviço telefônico de 24 horas em que as pessoas
podiam chamar a qualquer hora e ouvir a mensagem de sua escolha. A
pesquisa inicial demonstrou que as gravações estão sendo largamente
usadas, são úteis e quase sempre estimulam as pessoas a buscar mais
aconselhamento.

42
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 08

O CONSELHEIRO E O ACONSELHAMENTO

A. O ACONSELHAMENTO É GRATIFICANTE E ARRISCADO


Há muitas pessoas que gostariam de desempenhar o papel de conselheiros,
muitas vezes por se tratar de uma atividade considerada fascinante — dar
conselhos e ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas.

O aconselhamento, como é natural, pode ser um trabalho muito gratificante,


mas não leva tempo para descobrirmos que se trata de uma tarefa árdua,
emocionalmente exaustiva. Ele envolve concentração intensa e algumas
vezes nos faz sofrer, ao vermos tantas pessoas infelizes. Quando esses
indivíduos não conseguem melhoras, como acontece com frequência, é fácil
culpar-nos, tentar dar mais ainda de nós mesmos e ficar imaginando o que
aconteceu de errado.

Enquanto mais e mais pessoas procuram aconselhamento, surge a tendência


de aumentar nosso período de trabalho, esforçando-nos até o limite máximo
de nossas forças. Alguns dos problemas dos aconselhados nos fazem lembrar-
se de nossas próprias inseguranças e conflitos e isto pode ameaçar nossa
estabilidade ou sentimentos de autoestima.

Não é de admirar que o aconselhamento tenha sido considerado uma


ocupação tanto gratificante como arriscada. Discutiremos neste capítulo
alguns dos riscos, e consideraremos alguns dos meios que podem tomar a
tarefa do conselheiro mais satisfatória e bem sucedida.

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CLÍNICA PASTORAL

B. A MOTIVAÇÃO E O CONSELHEIRO
Por que você quer aconselhar? Alguns conselheiros cristãos, especialmente
pastores, foram praticamente obrigados a exercer essa ocupação devido às
pessoas que os procuraram espontaneamente para pedir ajuda com seus
problemas. Outros conselheiros encorajaram as pessoas a procurá-los e
talvez tenham feito um treinamento especial, baseados na suposição válida
de que o aconselhamento é uma das maneiras mais eficazes de servir aos
outros. Como vimos, a Bíblia ordena o cuidado mútuo e isto com certeza
envolvem o aconselhamento.

Quase nunca é fácil analisar e avaliar nossos motivos. Isto talvez se aplique
especialmente quando examinamos nossas razões para praticar o
aconselhamento. Um desejo sincero de auxiliar as pessoas a se
desenvolverem é uma razão válida para tomar-se um conselheiro, mas
existem outras que motivam os conselheiros e que interferem com a eficácia
de seu aconselhamento.

1. CURIOSIDADE – NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO


Ao descrever seus problemas, os aconselhados, no geral, oferecem certas
informações que não contariam a mais ninguém de outra forma. Quando
o conselheiro é curioso, ele ou ela algumas vezes esquece o aconselhado,
pressiona para obter mais detalhes e com frequência não consegue
manter segredo. Por essa razão, as pessoas preferem evitar os ajudadores
curiosos.

2. A NECESSIDADE DE MANTER RELAÇÕES


Todos precisam de aproximação e contatos íntimos com pelo menos duas
ou três pessoas. Para alguns aconselhados, o conselheiro será seu melhor
amigo, pelo menos temporariamente. Mas, e se os conselheiros não
tiverem outros amigos além dos aconselhados? Em tais casos a

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CLÍNICA PASTORAL

necessidade que o conselheiro tem de um relacionamento pode


prejudicar sua ajuda. Ele na verdade não quer que os aconselhados me-
lhorem e terminem o aconselhamento, visto que isto interromperia a
relação. Se você procura oportunidades para prolongar o período de
aconselhamento, para chamar o aconselhado, ou reunir-se com ele
socialmente, a relação pode estar satisfazendo suas necessidades de com-
panhia tanto quanto (ou mais do que) proporciona ajuda ao aconselhado.
Neste ponto o envolvimento conselheiro-aconselhado deixa de ser uma
relação de ajuda profissional. Isto nem sempre é negativo, mas os amigos
também nem sempre são os melhores conselheiros.

3. A NECESSIDADE DE PODER
O conselheiro autoritário gosta de "endireitar" os outros, dar conselhos
(mesmo quando não solicitado), e desempenhar o papel de "solucionador
de problemas". Alguns aconselhados do tipo dependente podem desejar
isto, mas não serão ajudados se suas vidas forem controladas por outra
pessoa. A maioria das pessoas, no entanto, irá eventualmente opor
resistência a um conselheiro autoritário. Ele ou ela não será verdadeiro
ajudador.

4. A NECESSIDADE DE SOCORRER
O conselheiro deste tipo tira a responsabilidade do aconselhado ao
demonstrar uma atitude que diz claramente: "você não é capaz de
resolver isso, deixe tudo comigo". Esta foi chamada de abordagem do
messias benfeitor. Ela pode satisfazer o aconselhado por algum tempo,
mas raramente fornece ajuda duradoura. Quando a técnica de socorro
falha (como acontece muitas vezes), o conselheiro sente-se culpado e ina-
dequado — como um messias incapaz de salvar os perdidos.

É provável que todo conselheiro perspicaz experimente por vezes tais

45
CLÍNICA PASTORAL

tendências, mas não deve ceder às mesmas. Quando a pessoa procura


aconselhamento, está aceitando o risco de compartilhar informação
pessoal e entregar-se aos cuidados do conselheiro. Este irá violar esta
confiança e portanto diminuir a eficácia do aconselhamento se a relação
de ajuda for usada primariamente para satisfazer as necessidades do
próprio ajudador.

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CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 09

A EFICÁCIA DO CONSELHEIRO

A. TODO CRISTÃO É UM BOM CONSELHEIRO?


Todos sabem que algumas pessoas dão melhores conselhos que outras. Isto
faz surgir uma questão importante e fundamental. Todo cristão pode ser um
bom conselheiro ou o aconselhamento é um dom reservado para certos
membros escolhidos no corpo de Cristo? Segundo a Bíblia, todos os crentes
devem ter um interesse compassivo por seus semelhantes, mas não se deduz
disso, necessariamente, que todos os crentes sejam ou possam tomar-se
conselheiros bem dotados. Neste respeito, o aconselhamento é como o
ensino. Todo pai tem a responsabilidade de ensinar seus filhos, mas apenas
alguns são professores especialmente dotados.

Em Romanos 12.8 lemos a respeito do dom da exortação (paraklesis), uma


palavra cujo significado é "andar ao lado para ajudar" e implica em atividades
tais como advertir, apoiar e encorajar outros. Ele é mencionado entre os dons
espirituais possuídos por algumas pessoas, mas não todas. Os que possuem
este dom e o desenvolvem, verão resultados positivos em seu
aconselhamento, à medida que as pessoas são ajudadas e a igreja edificada.

Se o aconselhamento parece ser o seu dom especial, louve a Deus e procure


aprender a exercê-lo melhor. Se o seu aconselhamento parece ineficaz, Deus
talvez tenha concedido outro dom. Isto não isenta ninguém de ajudar as
pessoas, mas pode estimular alguns a concentrarem seus esforços em outro
setor e deixar o aconselhamento para os que são mais bem-dotados nessa
área.

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CLÍNICA PASTORAL

Parafraseando I Coríntios 12.14-18:

 O Corpo não é um só membro, mas muitos. . . Se o conselheiro dissesse,


"como não sou professor, não faço parte do corpo," nem por isso deixa
de ser parte dele. Se todo o corpo consistisse de conselheiros, onde
ficaria o ministério de ensino formal? Se todos fossem mestres, quem
faria o trabalho dos diáconos? Mas Deus dispôs os membros, colocando
cada um deles no corpo, como lhe aprouve... “O mestre não pode dizer
ao conselheiro: Não preciso de você”, ou o evangelista ao mestre, "Não
preciso de você".

Nós claramente precisamos uns dos outros e o aconselhamento é uma parte


— mas apenas uma parte — da igreja em funcionamento. Ajudamos as
pessoas pelo aconselhamento, mas também as auxiliamos através da
evangelização, ensino, preocupação social e outros aspectos do ministério.

B. O PAPEL DO CONSELHEIRO
O aconselhamento, especialmente o pastoral, toma-se às vezes ineficaz
porque o conselheiro não tem uma ideia clara do seu papel e
responsabilidades. Numa série inteligente de artigos publicados há vários
anos atrás, Maurice Wagner identificou várias áreas potenciais de confusão
de papéis.

1. VISITA EM LUGAR DE ACONSELHAMENTO


A visita é uma troca mútua e amigável de informações. O aconselhamento
é uma conversa centralizada num problema, dirigida para um alvo, que
focaliza principalmente as necessidades de uma pessoa, o aconselhado.
Todo aconselhamento envolve visitas periódicas, mas quando estas se
prolongam ou é o ponto principal, os problemas são evitados e é reduzida
a eficácia do aconselhamento.

2. PRESSA EM LUGAR DE DELIBERAÇÃO

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CLÍNICA PASTORAL

As pessoas ocupadas, preocupadas com um alvo, no geral querem


apressar o processo do aconselhamento até um término rápido e bem
sucedido. É verdade que os conselheiros não devem perder tempo, mas
também é certo que o aconselhamento não pode ser acelerado. “Grande
parte do sucesso de qualquer conselheiro está baseada em sua atenção
tranquila e refletida, concentrada nas palavras do aconselhado”. Seu
equilíbrio é frequentemente um ponto de apoio para a pessoa
perturbada... Se o conselheiro for apressado ou dividir sua atenção, seus
comentários encorajadores irão ser provavelmente objeto de suspeita,
julgando estar dizendo apenas aquilo que o aconselhado quer ouvir, a fim
de passar para outro assunto.

"Uma entrevista descontraída e deliberada também faz com que o


aconselhado sinta que está recebendo toda a atenção do conselheiro...
quando este se mostra apressado e impaciente, tende a formular
julgamentos baseados em impressões precipitadas... A deliberação não
pode ser exercida se a pessoa estiver com pressa em acabar com o
problema."

3. DESRESPEITO EM LUGAR DE SIMPATIA


Alguns conselheiros classificam rapidamente as pessoas (por exemplo,
como um "cristão carnal", um "divorciado", ou um "tipo neumático") e
depois despedem os indivíduos com um confronto rápido ou conselho
rígido. Ninguém quer ser tratado com tanto desrespeito e o ajudador que
não ouve com simpatia provavelmente não dará conselhos eficazes.

4. CONDENAÇÃO EM LUGAR DE IMPARCIALIDADE


Há ocasiões em que os aconselhados precisam enfrentar o pecado ou
comportamento incomum em sua vida, mas isto não é o mesmo que
pregar e condenar na clínica de aconselhamento. Quando os

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CLÍNICA PASTORAL

aconselhados se sentem atacados eles ou se defendem (frequentemente


com irritação) com uma atitude de indiferença resignada, ou ainda
aceitam as palavras do conselheiro temporariamente e sob protesto.
Nenhum desses tipos de reação contribui para o amadurecimento do
aconselhado e todos são uma resposta a uma técnica de aconselhamento
que geralmente reflete a ansiedade, incerteza e necessidade do próprio
conselheiro. Jesus é descrito como alguém que "tomou sobre si as nossas
enfermidades". Ele jamais fez vista grossa para o pecado, mas
compreendia os pecadores e sempre manifestou bondade e respeito por
aqueles que, como a mulher junto ao poço, estavam dispostos a aprender,
arrepender-se e mudar seu comportamento.

5. SOBRECARREGAR A SESSÃO EM LUGAR DE MODERAR O


ACONSELHAMENTO
Devido ao seu entusiasmo com a ideia de ajudar, o conselheiro tenta às
vezes fazer demasiado numa sessão. Isto confunde o aconselhado,
perturbando o projeto. Desde que na verdade os aconselhados só podem
provavelmente assimilar um ou dois pontos principais em cada entrevista,
o aconselhamento deve ser compassado, mesmo que isto signifique
reuniões mais curtas e mais frequentes.

6. SER DIRETIVO AO INVÉS DE INTERPRETATIVO


Este é um erro comum e, como vimos, pode refletir a necessidade
inconsciente de dominar do conselheiro. Quando os aconselhados
recebem ordens quanto ao que devem fazer, eles confundem a opinião do
conselheiro cristão com a vontade de Deus, sentem-se culpados e
incompetentes se não seguem os conselhos e jamais aprendem como
amadurecer espiritualmente e emocionalmente até o ponto em que
possam tomar decisões sem o auxílio de um conselheiro. O conselheiro e
o aconselhado devem colaborar como uma equipe, na qual o primeiro

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CLÍNICA PASTORAL

serve como um professor-instrutor cujo alvo eventual é retirar-se do


campo.

7. ENVOLVER-SE EMOCIONALMENTE AO INVÉS DE PERMANECER


OBJETIVO
Existe uma linha divisória muito fina entre interessar-se e tomar-se muito
perturbado, confuso ou lutando com um problema semelhante ao do
próprio conselheiro. Surge então uma tendência para preocupar-se e
permitir que os aconselhados interrompam nossos programas segundo a
sua conveniência. Um envolvimento emocional desse tipo geralmente faz
com que o conselheiro perca a sua objetividade e isto por sua vez reduz a
eficácia do aconselhamento. As pessoas compassivas não conseguem,
com frequência, evitar o envolvimento emocional, mas o conselheiro
cristão pode evitar esta tendência considerando o aconselhamento como
uma relação de ajuda profissional, claramente limitada em seus termos,
tais como duração das entrevistas, número de sessões, resistência ao
toque, etc. Isto não tem como propósito isolar o conselheiro, mas ajudá-
lo a manter-se suficientemente objetivo para prestar auxílio.

8. ATITUDE DE DEFESA EM LUGAR DE EMPATIA


A maioria dos conselheiros sente-se às vezes ameaçada durante o
aconselhamento. Quando somos criticados, incapazes de ajudar, sentimos
culpa, ansiedade, ou estamos em perigo, nossa capacidade de ouvir com
empatia é prejudicada. Quando esta qualidade se vai, também desaparece
nossa eficácia no aconselhamento.

Toda vez que surgem ameaças desse tipo é geralmente proveitoso


perguntar-nos o porquê da situação. Se não soubermos a resposta, vale a
pena discutir o assunto com um amigo ou outro conselheiro. Quanto mais
conhecemos e aceitamos a nós mesmos, tanto menos provável será nos
sentirmos ameaçados pelos nossos pacientes.

51
CLÍNICA PASTORAL

O conselheiro deve manter uma atitude vigilante caso deseje evitar esses
oito riscos. Como ajudadores cristãos honramos a Deus executando nossa
tarefa da melhor forma possível, desculpando-nos ao cometer erros, e
usando nossos erros como situações de aprendizado e degraus de acesso
para o nosso desenvolvimento.

Se em nosso desejo de ajudar tivermos assumido um papel pouco


saudável no aconselhamento, devemos reestruturar o relacionamento,
chegando mesmo a falar às pessoas de nossa intenção de mudar
(mediante atos tais como estabelecendo horas de aconselhamento mais
rígidas, recusando-nos a largar tudo quando o aconselhado nos chama,
sendo menos autoritário, e assim por diante). Esta reestruturação é
sempre difícil em vista de envolver a retomada de algo que foi concedido
antes. A alternativa é continuar numa situação confusa e ineficaz no
aconselhamento.

Os erros e confusão de papéis não são, porém, tragédias irreversíveis. A


boa comunicação com os aconselhados pode cobrir uma multidão de
erros no aconselhamento, mas não devemos usar isto como uma desculpa
para um trabalho mal feito e incompetência. "O conceito mais importante
a ter em mente é que Cristo é realmente o Conselheiro; nós somos seus
agentes executando a sua obra, representando-O. O seu Espírito Santo é
o nosso Consolador e Guia e nos orientará, a fim de livrar aqueles que Ele
nos trouxe para receberem ajuda."

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CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 10

A VULNERABILIDADE DO CONSELHEIRO

A. RAZÕES PARA A FRUSTRAÇÃO DE UM CONSELHEIRO


O aconselhamento seria mais fácil se pudesse supor que todo aconselhado
quer ajuda, e irá cooperar plenamente no aconselhamento. Mas,
infelizmente, isto nem sempre acontece. Alguns aconselhados têm o desejo
consciente ou inconsciente de manipular, frustrar, ou não colaborar. Esta é
uma descoberta difícil para o conselheiro que deseja ser bem-sucedido e cujo
sucesso depende principalmente da mudança operada no paciente. É sempre
difícil trabalhar com pessoas assim, principalmente quando não têm espírito
de cooperação. Ao decidirmos ajudar, estamos necessariamente aceitando a
possibilidade de luta pelo poder, exploração e fracasso.

São pelo menos duas as principais maneiras em que as pessoas frustram o


conselheiro e aumentam a sua vulnerabilidade.

1. MANIPULAÇÃO
Algumas pessoas são mestras em impor a sua vontade controlando ou-
tros. Conta-se a história de um jovem conselheiro que se sentia inseguro
e queria agradar. Não desejando ser rotulado como o "conselheiro
anterior que não se importava", o jovem conselheiro achava-se decidido
a ser útil. As sessões de aconselhamento encompridaram e tornaram-se
mais frequentes. Antes de pouco tempo o conselheiro estava dando
telefonemas, fazendo pequenos serviços e empréstimos e até compras
para o aconselhado, que constantemente expressava sua gratidão e
chorosamente pedia mais.

53
CLÍNICA PASTORAL

Os conselheiros manipulados geralmente têm pouca utilidade. Os


indivíduos que tentam manipular seu conselheiro quase sempre fizeram
da manipulação um modo de vida. Eles agem bem e com sutileza, mas não
conseguem viver sem praticar o embuste e a arte de dominar. O
conselheiro precisa opor-se a essas táticas, recusar-se a ser movido por
elas e ensinar meios mais satisfatórios de relacionar-se com outros.

É sábio perguntar-se continuamente:

 "Estou sendo manipulado?"

 "Será que tenho ultrapassado minhas responsabilidades como


conselheiro?"

 "O que este aconselhado deseja realmente?"

Algumas vezes as pessoas alegam desejar ajuda com um problema, mas


na verdade querem seu tempo e atenção, sua aprovação de um
comportamento pecaminoso ou prejudicial, ou seu apoio como aliado
num conflito familiar. Outras vezes elas o procuram por acreditarem que
cônjuges preocupados, outros membros da família ou empregadores
deixarão de queixar-se de seu comportamento uma vez que iniciem o
processo de aconselhamento. Quando você suspeitar desse tipo de
desonestidade e manipulação, é prudente conversar a respeito com o
aconselhado, esperar uma negativa da parte dele, e depois estruturar o
aconselhamento de modo a impedir manipulação e exploração do
conselheiro no futuro. Lembre-se de que o aconselhamento
verdadeiramente útil nem sempre agrada ao aconselhado ou é
conveniente para o conselheiro, mas contribui para o amadurecimento
do indivíduo que solicitou ajuda. A ideia de que "as pessoas sinceras em
seu desejo de aceitar ajuda raramente mostram-se exigentes",
desonestas ou manipuladoras, são, sem dúvida, verdadeiras.

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CLÍNICA PASTORAL

1. RESISTÊNCIA
As pessoas algumas vezes buscam ajuda por desejarem alívio imediato da
dor, mas quando descobrem que o alívio permanente pode exigir tempo,
esforço e maior sofrimento ainda, elas resistem ao aconselhamento.
Noutras ocasiões os problemas fornecem benefícios que o paciente não
quer perder (atenção pessoal de outros, por exemplo, ou compensações
pela sua invalidez, menor responsabilidade, ou gratificações mais sutis,
tais como castigo ou a oportunidade de tornar a vida difícil para os
demais).

Desde que o aconselhamento bem-sucedido iria interromper esses


benefícios, o aconselhado não coopera. A seguir estão aqueles que
adquirem um senso de poder e realização quando conseguem frustrar os
esforços de outros - por exemplo, dos conselheiros profissionais. Essas
pessoas com frequência convencem a si mesmas: "Ninguém pode me
ajudar — mas também o conselheiro que não for bem-sucedido comigo
não vale nada". O conselheiro continua aconselhando, o aconselhado
finge colaborar, mas ninguém melhora.

A resistência é uma força poderosa que quase sempre exige


aconselhamento profissional em profundidade. Quando os conselheiros
começam a trabalhar, as defesas psicológicas do aconselhado são
ameaçadas e isto leva à ansiedade, à ira e a uma atitude de não
colaboração por vezes inconsciente. Quando o paciente é relativamente
bem-ajustado esta resistência pode ser discutida com brandura e
franqueza. Permita que ele ou ela saiba que é responsável (e não o
conselheiro) pelo resultado final do processo, obtendo ou não melhora. O
conselheiro fornece uma relação estruturada, evita ficar na defensiva, e
deve reconhecer que a sua eficácia como conselheiro (e certamente como

55
CLÍNICA PASTORAL

uma pessoa) nem sempre é proporcional à melhora dos aconselhados.

Foi sugerido que os conselheiros se perdem não apenas quando ignoram


a direção que estão tomando, mas também quando não conhecem a si
mesmos. Podemos permanecer vigilantes quanto a problemas em
potencial quando frequentemente fazemos a nós mesmos (e um ao outro)
perguntas tais como:

 Por que acho ser esta a pior (ou melhor) pessoa que já aconselhei?

 Existe uma razão para o meu constante atraso, ou o do aconselhado?

 Existe uma razão para que o aconselhado ou eu deseje mais (ou


menos) tempo do que havíamos combinado no início?

 Minhas reações às palavras deste aconselhado são excessivas?

 Sinto-me aborrecido quando estou com esta pessoa? O problema sou


eu, o aconselhado, ou nós dois?

 Por que eu sempre concordo (ou discordo) com o aconselhado?

 Sinto vontade de terminar esta relação ou de apegar-me a ela embora


devesse terminar?

 Estou começando a sentir demasiada simpatia pelo aconselhado?

 Penso constantemente no aconselhado entre as entrevistas, sonho


acordado com ele ou ela, ou mostro mais do que o interesse comum
no seu problema? Por quê?

56
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 11

A SEXUALIDADE DO CONSELHEIRO

A. A ATRAÇÃO SEXUAL ENTRE CONSELHEIRO E ACONSELHADO


Sempre que duas pessoas trabalham juntas em direção a um alvo comum,
surgem sentimentos de camaradagem e cordialidade entre elas. Quando
esses indivíduos possuem um estilo de vida similar (ambiente semelhante), e
especialmente quando são do sexo oposto, os sentimentos calorosos quase
sempre incluem um componente sexual. Esta atração sexual entre
conselheiro e aconselhado foi chamada de "problema ignorado pelos
clérigos". Trata-se, porém, de um problema que quase todos os conselheiros
enfrentam, quer falem ou não sobre ele com outros.

0 aconselhamento frequentemente envolve a discussão de detalhes íntimos


que jamais seriam tratados em outro lugar — especialmente entre um
homem e uma mulher que não são casados um com o outro. Isto pode
despertar sexualmente tanto o conselheiro como o aconselhado. O potencial
para a imoralidade pode ser ainda maior se o aconselhado é atraente e/ou
tende a mostrar-se sedutor, se o aconselhado indicar que ele ou ela necessita
realmente do conselheiro, e/ou se o aconselhamento envolver discussões
detalhadas de informações sobre o despertamento sexual.

Tais influências sutis escreveu Freud há muitos anos atrás, "acarretam o


perigo de fazer o homem esquecer-se de sua técnica e tarefa médica a favor
de uma experiência agradável". É provável que todo aluno deste Curso
conheça conselheiros, inclusive pastores-conselheiros, que transigiram com
seus padrões "a favor de uma experiência agradável" e descobriram que seus

57
CLÍNICA PASTORAL

ministérios, reputação, eficácia de aconselhamento e talvez seus casamentos


acabaram sendo destruídos como um resultado disso — sem falar sobre os
efeitos negativos que isto pode ter no aconselhado.

B. O AUTOCONTROLE DO CONSELHEIRO
A atração sexual por um aconselhado é coisa comum e o conselheiro
prudente deve esforçar-se ao máximo para exercer autocontrole.

1. PROTEÇÃO ESPIRITUAL
A meditação sobre a Palavra de Deus, a oração (incluindo a intercessão de
outros) e a confiança na proteção do Espírito Santo, são elementos
importantíssimos. Além disso, os conselheiros devem vigiar sua mente. A
fantasia muitas vezes precede a ação e o conselheiro sábio cultiva o hábito
de não demorar-se em pensamentos luxuriosos, mas focalizá-los naquilo
que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e bom.

Encontrar outro crente a quem você possa prestar contas regularmente


de seus atos também é de muito valor. Isto pode ter um impacto poderoso
em seu comportamento. Finalmente, tenha cuidado em não cair na
perigosa armadilha de pensar: "Isso acontece com outros, mas jamais
aconteceria comigo". Esta é a espécie de orgulho que no geral precede a
queda na tentação. Ele ignora o mandamento bíblico de que ele (ou ela)
que pensa estar de pé deve cuidar para não cair.

E, se você cair? Servimos a um Deus que perdoa, embora as cicatrizes —


na forma de uma reputação arruinada ou um insucesso no casamento, por
exemplo — possa durar a vida inteira. Se confessarmos qualquer pecado
recebemos perdão, mas temos depois a obrigação de modificar daí por
diante nosso comportamento a fim de fazê-lo mais coerente com as
Escrituras.

2. PERCEPÇÃO DOS SINAIS DE PERIGO

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CLÍNICA PASTORAL

Num livro inteiro dedicado aos sentimentos sexuais do conselheiro e


aconselhado, Rassieur indicou várias pistas que podem apontar para uma
mudança potencial do profissionalismo do aconselhamento para uma
intimidade perigosa. Isto inclui:

 A comunicação de mensagens sutis de qualidade mais íntima


(sorrisos, levantar as sobrancelhas, contatos físicos, etc);

 O desejo do conselheiro e aconselhado de manterem o


relacionamento;

 Ansiedade, especialmente por parte do aconselhado, de divulgar


detalhes de experiências ou fantasias sexuais;

 Permissão do conselheiro para que o aconselhado o manipule;

 Reconhecimento por parte do conselheiro de que ele ou ela precisa


ver o aconselhado (este é um sinal de fracasso);

 Frustrações crescentes na vida conjugal do conselheiro; e

 O prolongamento do tempo e frequência das entrevistas, algumas


vezes suplementadas por chamadas telefônicas.

3. ESTABELECIMENTO DE LIMITES
Quando a atração sexual se faz presente e é reconhecida, o conselheiro
pode interromper o aconselhamento, transferir o trabalho para outra
pessoa, ou até mesmo discutir esses sentimentos com o aconselhado.
Antes de qualquer coisa, porém, é melhor estabelecer certos limites
definidos, prescrevendo claramente a frequência e duração das sessões
de aconselhamento e apegar-se a esses limites;

 Recusar conversas telefônicas prolongadas;

 Desencorajar discussões detalhadas de tópicos sexuais;

59
CLÍNICA PASTORAL

 Evitar o contato físico; e

 Encontrar-se num lugar que desestimule olhares eloquentes ou


intimidades pessoais. A maneira de sentar-se, sem aproximar-se
demasiado do paciente também é importante.

4. ANÁLISE DE ATITUDES
Não existe proveito algum em negar os seus instintos sexuais. Eles são
comuns, com frequência embaraçosos e bastante estimulantes, mas
controláveis. Lembre-se do seguinte:

 As Consequências Sociais. Ceder à tentação sexual pode arruinar a


reputação da pessoa, seu casamento e eficácia como conselheiro.
Esta compreensão pode agir como um importante impedimento.

 Imagem Profissional. Lembre-se de que você é um conselheiro


profissional e, pelo menos se espera, um homem ou mulher de Deus
em direção ao amadurecimento. As intimidades sexuais com os
aconselhados jamais ajudam as pessoas com problemas nem
beneficiam o trabalho profissional do conselheiro.

 Verdade Teológica. O envolvimento sexual fora do casamento é


pecaminoso e deve ser evitado. É verdade que as circunstâncias
influenciam nosso comportamento presente e as experiências
passadas podem limitar nossas opções correntes, mas isso não nos
absolve da responsabilidade. Cada conselheiro e aconselhado é
responsável pelo seu próprio comportamento.

 O indivíduo escreve o psiquiatra Vicktor Frankl, "não é


complementarmente condicionado e determinado; ele decide por si
mesmo se vai ceder ou opor-se às condições... Todo ser humano tem
liberdade para modificar-se a qualquer momento." Podemos alegar

60
CLÍNICA PASTORAL

que "o diabo me obrigou a isso", mas o diabo só tenta. Ele nunca nos
obriga a fazer nada. Nós decidimos pecar, deliberando e agindo
contrariamente à orientação do Espírito Santo, que reside no interior
do crente e é maior que Satanás. É importante que tanto conselheiros
como aconselhados compreendam isto.

5. PROTEÇÃO DO GRUPO DE APOIO


A resistência eficaz envolve o reconhecimento sincero da atração sexual.
Existe, pois, grande valor em discutir o assunto com um ou dois confiden-
tes dignos de confiança.

A primeira pessoa na lista é o nosso cônjuge. O bom casamento não


impede que alguém se sinta atraído sexualmente por um aconselhado,
mas tem uma influência significativa na capacidade do conselheiro resistir.
Algumas vezes por medo, embaraço ou desejo de não provocar mágoas,
o conselheiro jamais discute este ponto com seu cônjuge. Como resultado,
ele perde uma boa oportunidade para uma comunicação conjugal em
profundidade, apoio e conforto por parte do companheiro. Se o
aconselhado tornar-se uma séria ameaça para o casamento do
conselheiro, é provável que já exista problemas na união antes do
aconselhado entrar em cena.

Discutir nossos sentimentos com outro conselheiro ou um amigo em


quem temos confiança sempre resulta proveitoso. O problema pode ser
mantido assim em perspectiva, o amigo cristão pode orar pedindo
proteção e o conselheiro tem alguém a quem prestar contas.

A atração sexual deve ser discutida em alguns casos com o aconselhado?


Isto pode ser às vezes apropriado no sentido de ajudar na compreensão e
amadurecimento do mesmo, mas os riscos envolvidos em tais discussões
são muito altos. Alguns pacientes podem interpretar tais conversas como

61
CLÍNICA PASTORAL

um convite a maiores intimidades. Outros, especialmente os imaturos e


convencidos, podem contar a outros a respeito do assunto e isto poderia
ter consequências desastrosas no sentido profissional. Antes de discutir
seus sentimentos sexuais com um aconselhado, seria prudente conversar
primeiro com um amigo ou consultor profissional.

Se decidir não revelar seus sentimentos ao aconselhado, tente aplicar as


sugestões dadas nos parágrafos anteriores: evite o flerte a todo custo e
considere seriamente a transferência para outro conselheiro se observar
indícios como ansiedade contínua durante as sessões de aconselhamento,
falta de concentração interrompida por fantasias sexuais, medo de
desagradar o aconselhado; preocupação com pensamentos e fantasias
sobre o aconselhado no intervalo das sessões e expectativa óbvia da
próxima entrevista acompanhada de temor da sessão ser cancelada ou
terminado o aconselhamento.

62
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 12

A ÉTICA DO CONSELHEIRO

A. O CÓDIGO DE ÉTICA DO CONSELHEIRO CRISTÃO


A maioria das organizações de aconselhamento profissional (tais como a
Associação Americana de Psicologia ou a Associação Americana de
Orientação e Pessoal) desenvolveu códigos éticos para orientar os
conselheiros nas decisões morais e proteger o público de práticas que não
sejam éticas. No geral, os profissionais cristãos buscam cumprir esses códigos
éticos, mas, desde que consideramos a Bíblia como a Palavra de Deus, as
Escrituras se tornam o padrão final ao tomarmos todas as nossas decisões
morais.

O conselheiro cristão respeita cada indivíduo como uma pessoa de valor,


criada por Deus à imagem divina, manchada pela queda da humanidade no
pecado, mas amada por Deus e objeto da redenção divina. Cada pessoa
possui sentimentos, pensamentos, vontade e liberdade para comportar-se
como achar adequado. Como um ajudador de pessoas, o conselheiro busca
sinceramente o melhor para o bem-estar do aconselhado e não tenta
manipular ou imiscuir-se na vida do mesmo. Como servo de Deus, o
conselheiro tem a responsabilidade de viver, agir e aconselhar de acordo com
os princípios bíblicos. Como empregado, ele tenta cumprir as suas
responsabilidades e executar seus deveres com fidelidade e competência.
Como cidadão e membro da sociedade, busca obedecer às autoridades
governamentais e contribuir para o bem da cultura.

Quando não existem conflitos entre essas suposições e valores, o trabalho do

63
CLÍNICA PASTORAL

conselheiro pode prosseguir tranquilamente. Os problemas éticos surgem


quando há conflito de valores e decisões diferentes devem ser tomadas.
Muitas, embora não todas, dessas decisões envolvem questões confidenciais.
Considere, por exemplo, o seguinte:

 Um aconselhado confessa ter infringido a lei ou que pretende


prejudicar alguém. Você conta à polícia ou à vítima em potencial?

 A filha de um líder da igreja revela estar grávida e que pretende fazer


um aborto. O que você faz com esta informação?

 Um jovem vem pedir-lhe ajuda, a fim de obter maior autoconfiança


com as mulheres de modo a poder encorajar suas amiguinhas a terem
intercurso sexual com ele. Qual a sua responsabilidade como
conselheiro, desde que considera errado o sexo pré-conjugal?

 Um aluno formado pelo seminário que está buscando empregar-se


como pastor, revela no aconselhamento que é um homossexual ativo.
Como membro da igreja você revela isto ou não diz nada ao preencher
um formulário de recomendação?

O conselheiro tem a obrigação de manter em segredo as informações


confidenciais, a não ser quando haja risco para o bem-estar do aconselhado
ou de outra pessoa. Em tais ocasiões, o aconselhado deve ser orientado no
sentido de transmitir a informação diretamente às pessoas envolvidas
(polícia, empregadores, pais, etc.), e em regra gerais, a informação não deve
ser divulgada pelo conselheiro sem conhecimento do paciente. Além disso, o
conselheiro deve abster-se de administrar ou interpretar testes, dar
conselhos médicos ou legais, ou oferecer quaisquer serviços para os quais
não esteja treinado nem qualificado. Nos estados e países onde os
conselheiros são licenciados ou possuem certificado, eles anunciam seus
serviços corretamente e de acordo com a lei.

64
CLÍNICA PASTORAL

Em toda decisão moral o conselheiro procura agir de modo a dar honra a


Deus, manter-se conforme o ensino bíblico e respeitar o bem-estar do
consulente e de outros. Quando decisões diferentes precisam ser tomadas,
os conselheiros têm a obrigação de discutir a situação confidencialmente com
um ou dois conselheiros cristãos e/ou especialistas, tais como um advogado
ou médico que não precisam saber a identidade do aconselhado, mas que
podem auxiliar nas decisões éticas. Tais decisões não são fáceis, mas o
conselheiro cristão obtém o máximo de fatos possível (inclusive dados
bíblicos), confiando sinceramente em que Deus irá orientá-lo, e em seguida
toma a decisão mais sábia possível baseada na melhor evidência a seu dispor.

B. A “QUEIMA” DO CONSELHEIRO
Os alunos que se diplomam em aconselhamento com frequência supõem que
o trabalho de ajudar pessoas irá prover uma vida inteira de satisfação e
realização vocacional. Algum tempo depois de formados, a maioria dos
conselheiros descobre, porém que seu trabalho é árduo, que muitos
consulentes não melhoram, e que o envolvimento constante com os
problemas e misérias de outros é psicológica e fisicamente extenuante.

Num estudo de grande divulgação, os pesquisadores da Universidade da


Califórnia Em Berkeley, conduziram recentemente entrevistas em
profundidade com 200 médicos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais,
conselheiros escolares, enfermeiras especializadas em doenças mentais, e
muitos ajudadores. Foi evidenciado que a maior parte dos conselheiros tem
dificuldade de enfrentar as tensões emocionais associadas ao trabalho íntimo
e contínuo com seres humanos perturbados, muitos dos quais não obtêm
melhora. Tudo isto contribui para a "queima" do conselheiro — um
sentimento de futilidade, inépcia, fadiga, cinismo, apatia, irritabilidade e

65
CLÍNICA PASTORAL

frustração. Num esforço sutil e à vez inconsciente para proteger-se, os conse-


lheiros que acreditam na importância da cordialidade, autenticidade e
empatia, tomam-se então ajudadores frios, distantes, pouco simpáticos,
indiferentes, desgastados. O relatório conclui: o profissional passa a usar uma
armadura tão grossa que ninguém consegue atravessá-la.

A "queima" é provavelmente comum em todas as profissões no ramo da


ajuda pessoal, inclusive no ministério, mas, poderá ser evitada? Existem
aparentemente algumas medidas que podemos tomar a fim de não nos
tornarmos ajudadores cansados e indiferentes.

 Em primeiro lugar, para prevenir a "queima", precisamos de força


espiritual que nos é concedida mediante períodos regulares de oração
e reflexão sobre as Escrituras.

 Segundo, temos necessidade do apoio de algumas outras pessoas que


nos aceitem por aquilo que somos e não pelo que fazemos. Cada um
de nós precisa de pelo menos uma pessoa que nos ame e compreenda
e com quem possamos chorar; alguém que conheça as nossas
fraquezas, mas suficientemente confiável para não usar contra nós
este conhecimento.

 Terceiro, temos necessidade de férias - períodos regulares, distantes


das pessoas exigentes, necessitadas. Jesus fez isto e nós também
devemos fazê-lo se quisermos continuar sendo ajudadores eficientes e
capazes.

 Finalmente, será muito útil compartilharmos nosso fardo, encorajando


outros crentes a serem conselheiros leigos e ajudadores. O líder da
igreja ou outro conselheiro cristão que tenta ajudar a todos sozinho
está se preparando para um fracasso ou eventual "queima".

66
CLÍNICA PASTORAL

O que dizer do ajudador que já se queimou?

 Tire o mais depressa possível o seu fone do gancho e se afaste pelo


menos para um breve período de reavaliação.

 Considere como pode aplicar as sugestões mencionadas no parágrafo


precedente.

 Depois pense sobre as suas atividades fora do trabalho. Como elas


podem aliviar seu fardo e acrescentar autossatisfação e descanso?

O conselheiro precisa encontrar equilíbrio nas suas atividades, tempo para


descansar ou divertir-se, e oportunidade para rir. Caso contrário, a vida torna-
se aborrecida, entrando na rotina e perdendo o brilho. Isto não é agradável
para o conselheiro e com certeza não contribui em nada para ajudar
eficazmente os aconselhados a enfrentarem as pressões da vida.

C. O CONSELHEIRO DOS CONSELHEIROS


Muitos programas de treinamento profissional exigem que os alunos tenham
experiência de aconselhamento pessoal, prática supervisionada, treinamento
de susceptibilidade em grupo, ou outras técnicas semelhantes, num esforço
para aumentar a auto percepção, facilitar a auto aceitação e remover os
bloqueios emocionais e psicológicos que impedem a eficácia no
aconselhamento. Embora tal aconselhamento seja muitas vezes útil e
altamente recomendado, ele com frequência ignora a maior fonte de força e
sabedoria dos conselheiros cristãos — o Espírito Santo que orienta e habita
na vida de todo crente. "Fico preocupado," escreveu um conselheiro pastoral.
"Os ajudadores cristãos ficam tão envolvidos nas técnicas e teorias do
aconselhamento que chegam até nós através de outras profissões do mesmo
ramo, que eles ignoram ou jamais tomam consciência da Fonte em que todo
tipo de socorro tem origem - o próprio Deus."

67
CLÍNICA PASTORAL

A Bíblia descreve Jesus Cristo como o Maravilhoso Conselheiro. Ele é o


conselheiro dos conselheiros — sempre disponível para encorajar, dirigir e
conceder sabedoria aos ajudadores humanos. Vale a pena repetir que o
conselheiro cristão verdadeiramente eficaz é basicamente um instrumento
perito e disponível através de quem o Espírito Santo opera transformando
vidas. Quando o trabalho do conselheiro provoca ansiedades e confusão,
estas podem ser entregues ao próprio Deus, que prometeu apoiar e ajudar.
A oração diária e a leitura bíblica nos mantém em comunicação ativa com
Aquele que é mentor e ajudador.

Através da Bíblia inteira, entretanto, vemos que Deus também opera


mediante outros seres humanos. Ele ajuda os conselheiros por meio de
outras pessoas com quem ele pode partilhar suas opiniões, manter
perspectiva, relaxar — e ocasionalmente chorar. Sem o apoio, o
encorajamento e opinião de um amigo cristão confiável, o trabalho do
conselheiro será provavelmente mais árduo e menos eficiente. Dois ou mais
conselheiros podem no geral encontrar-se regularmente para apoio mútuo e
oração conjunta. Se lhe falta tal relação, ore, pedindo a Deus que o faça
encontrar um companheiro com quem possa se abrir.

Dois pesquisadores pediram recentemente a um grupo de conselheiros que


respondessem à seguinte pergunta: Como você passaria o resto de sua vida
se tivesse os meios para fazer o que quisesse? Dentre os mais de 100
conselheiros avaliados, apenas três indicaram que passariam o resto de sua
vida no serviço de aconselhamento e uma delas afirmou preferir este
trabalho como uma atividade a ser realizada em seu tempo livre. O
aconselhamento pode trazer satisfação, mas não é um trabalho fácil. Quanto
mais cedo isto seja reconhecido e encarado honestamente, tanto mais
satisfatório será nosso ministério de ajuda e mais eficaz o nosso
aconselhamento.

68
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 13

AS CRISES NO ACONSELHAMENTO

A. EXPERIMENTANDO OS ALTOS E BAIXOS ESPIRITUAIS


À medida que avançamos na vida, a maioria de nós tem um comportamento
bastante consistente. Como é natural, todos experimentamos altos e baixos
espirituais e temos às vezes de aplicar um esforço extra para tratar de
emergências ou problemas inesperados, mas ao nos aproximarmos da idade
adulta, cada um de nós desenvolve um repertório de soluções de problemas
baseado em sua personalidade, treinamento e experiências passadas.
Usamos repetidamente essas técnicas e conseguimos assim enfrentar com
sucesso os desafios da vida.

Surgem, porém, às vezes, situações mais graves que ameaçam nosso


equilíbrio psicológico. Essas situações, ou acontecimentos da nossa
existência, são também chamados de crises. Elas podem ser esperadas ou
inesperadas, reais ou imaginárias, factuais (como quando um ente querido
morre) ou potenciais (como quando parece que um ente querido possa vir a
morrer logo).

Vários escritores comentaram que a palavra chinesa para "crise" inclui dois
símbolos. Um significa perigo e o outro oportunidade.

 Uma crise é um perigo porque ameaça vencer a pessoa ou pessoas


envolvidas. As crises envolvem a perda de alguém ou de algo
importante, a mudança brusca de nosso papel ou posição, ou o
aparecimento de pessoas ou acontecimentos novos ou ameaçadores.

69
CLÍNICA PASTORAL

Em vista de esta situação crítica ser tão intensa e única, descobrimos


que nossos hábitos costumeiros de tratar da tensão e de resolver
problemas não funcionam mais. Isto leva a um período de confusão e
espanto, geralmente acompanhado de comportamento negativo e
distúrbios emocionais inclusive ansiedade, ira, desanimo, tristeza ou
culpa. Embora este tumulto intelectual, comportamental e emocional
geralmente seja de curta duração, ele pode persistir por várias
semanas ou até mais.

 As crises, porém, dão às pessoas a oportunidade de mudar, crescer e


desenvolver meios melhores de superá-las. Desde que as pessoas em
crise quase sempre se sentem confusas, elas ficam mais abertas à ajuda
externa, inclusive o socorro de Deus e aquele proporcionado pelo
conselheiro.

O que o indivíduo faz com essa ajuda e como resolve a crise tem:

 ...considerável importância para a saúde mental futura do mesmo.


Seu novo equilíbrio pode ser melhor ou pior do que no passado...

 Ele poderá vir a tratar dos problemas críticos desenvolvendo novas


técnicas para a solução de problemas, socialmente aceitáveis
baseadas na realidade, o que irá aumentar sua capacidade de tratar
da maneira sadia com futuras dificuldades.

 Por outro lado, durante a crise, ele talvez desenvolva novas


respostas socialmente inaceitáveis e que tratem das dificuldades
através da evasão, fantasia irracional, manipulações ou regressão e
alienação - sendo que tudo isso aumenta a probabilidade de ele vir
a tratar também desajustadamente as futuras dificuldades. Em
outras palavras, o novo padrão por ele desenvolvido para enfrentar
as crises torna-se daí por diante uma parte integral de seu

70
CLÍNICA PASTORAL

repertório de respostas à solução de problemas e aumenta a


possibilidade de vir a tratar dos riscos futuros com maior ou menor
objetividade.

Quando os médicos falam de uma crise clínica, com frequência referem-se a


esse momento crucial no tempo em que ocorre uma mudança, seja em
direção à recuperação ou ao declínio e morte. As crises emocionais e
espirituais, da mesma forma, são pontos críticos inevitáveis na vida. Viver é
passar por crises. Experimentar crises é enfrentar pontos críticos que trarão
seja crescimento e maturação, ou declínio e imaturidade contínua. O
conselheiro cristão está numa posição vital para influenciar a direção que as
soluções para a crise vão tomar.

B. A BÍBLIA E OS TIPOS DE CRISE


Grande parte da Bíblia trata de crises. Adão, Eva, Caim, Noé, Abraão, Isaque,
José, Moisés, Sansão, Jefté, Saul, Davi, Elias, Daniel e várias outras
personagens enfrentaram crises que o Velho Testamento descreve em
detalhe.

Jesus enfrentou crises (especialmente quando de sua crucificação) e o


mesmo aconteceu aos discípulos, Paulo, e muitos dos primeiros crentes.
Várias das Epístolas foram escritas a fim de ajudar os indivíduos ou igrejas a
enfrentarem crises, e Hebreus II resumiu tanto crises cujo final foi feliz como
aquelas que resultaram em tortura, incrível sofrimento e morte.

Os escritores contemporâneos identificaram três tipos de crise, cada uma das


quais contém exemplos tanto modernos quanto bíblicos.

1. CRISES ACIDENTAIS OU SITUACIONAIS


As crises acidentais ou situacionais ocorrem quando surge uma ameaça
repentina ou perda inesperada. A morte de um ente querido, uma doença
súbita, a descoberta de uma gravidez fora do casamento, distúrbios sociais

71
CLÍNICA PASTORAL

tais como guerra ou depressão econômica, perda da casa ou das


economias do indivíduo, perda súbita da reputação e posição — todas
essas são tensões situacionais, muitas das quais podem ser observadas em
um homem do Velho Testamento — Jó. Num período muito curto de
tempo ele perdeu sua família, riqueza, saúde e posição. Além disso, seu
casamento parece ter estado sob tensão e ele passou por um prolongado
período de incerteza, ira e tumulto íntimo.

2. CRISES DE DESENVOLVIMENTO
As crises de desenvolvimento surgem no curso do desenvolvimento
humano normal. Entrada na escola, ida para a faculdade, ajustes no
casamento e na paternidade, aceitação de críticas, enfrentar a
aposentadoria e o declínio da saúde, adaptação à morte de amigos, todas
essas podem ser crises que exigem novas abordagens para a solução de
problemas e de como superar dificuldades. Abraão e Sara, por exemplo,
tiveram de enfrentar mudanças, críticas, muitos anos de esterilidade,
tensões familiares e até a ordem de Deus de que o jovem Isaque fosse
sacrificado. Poderíamos ficar imaginando como um casal idoso como Za-
carias e Isabel trataram um filho tão peculiar como João Batista, ou como
Maria e José puderam criar alguém tão diferente e brilhante como o
menino Jesus. Houve com certeza crises de desenvolvimento — pontos
críticos que exigiram períodos prolongados de tomada de decisões sábias
mas que também proporcionaram crescimento progressivo.

3. CRISES EXISTENCIAIS
As crises existenciais, que quase sempre se sobrepõem às acima, surgem
quando somos forçados a enfrentar verdades perturbadoras, tais como a
compreensão de que:

 Sou um fracasso;

72
CLÍNICA PASTORAL

 Sou velho demais para alcançar meus objetivos de vida;

 Fui "deixado para trás" numa promoção;

 Sou um viúvo agora — novamente solteiro;

 Minha vida não tem propósito;

 Minha doença é incurável;

 Não tenho nada em que acreditar;

 Minha casa e bens se foram por causa do incêndio;

 Estou aposentado;

 Fui rejeitado por causa da cor da minha pele.

Estes pensamentos e outros similares são difíceis de assimilar, exigindo


tempo e esforço. Trata-se de mudanças de auto percepção que podem
ser negadas temporariamente, mas que com o tempo devem ser aceitas
realisticamente.

Depois de uma grande vitória espiritual, Elias foi perseguido por Jezabel
e fugiu para o deserto aonde chegou à conclusão de que não passava de
um fracasso. Jonas teve esses mesmos pensamentos enquanto lutava
com Deus. Depois de seus infortúnios, Jó certamente debateu a pergunta:
"O que aconteceu comigo e o que mais ainda vai acontecer?"

A Bíblia se refere a essas três crises e dá orientação tanto ao aconselhado


como ao conselheiro interessado em intervir nas crises. Existem técnicas de
aconselhamento aplicáveis a cada situação crítica. Estas devem ser
compreendidas pelo conselheiro cristão, antes de nos voltarmos para áreas
problemáticas mais específicas.

73
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 14

INTERVENÇÃO NAS CRISES

A. O ACONSELHAMENTO EM SITUAÇÕES CRÍTICAS TEM VÁRIOS


OBJETIVOS
1. AJUDAR
Ajudar a pessoa a enfrentar eficazmente a situação difícil e voltar ao seu
nível comum de comportamento;

2. DIMINUIR A ANSIEDADE
Diminuir a ansiedade, apreensão e outros tipos de insegurança que
possam persistir depois de ter passado a crise;

3. ENSINAR
Ensinar técnicas para a solução de crises, a fim de que a pessoa fique mais
bem preparada para antecipar e tratar das crises futuras; e

4. CONSIDERAR
Considerar os ensinos bíblicos sobre as crises, a fim de que a pessoa
aprenda com as mesmas e cresça como resultado dessa experiência.

B. COMPREENDENDO A DIVERSIDADE NO ACONSELHAMENTO


Ao ajudar as pessoas a enfrentarem as suas crises, as diferenças entre os
indivíduos precisam ser reconhecidas. As pessoas diferem em sua
flexibilidade, maneiras de enfrentar as dificuldades, capacidade para
aprender novas técnicas para a solução de problemas, força física e
psicológica, assim como nível de maturidade espiritual e emocional. Ao
manter essas diferenças em mente, o conselheiro pode ajudar de diversos
modos.

74
CLÍNICA PASTORAL

1. FAZER CONTATO
As pessoas em crise nem sempre procuram a ajuda de um conselheiro. Na
maioria das vezes somos nós que devemos nos aproximar delas,
mostrando cordialidade, compreensão e interesse genuínos. E preciso
entender que o aconselhamento nas ocasiões de crise pode levar tempo,
e que o ponto de vista do aconselhado deve ser compreendido antes de
serem feitas quaisquer sugestões.

Às vezes a pessoa em crise entra num estado de devaneio, fantasia, ou


pensamentos profundos, devendo ser trazida de volta à realidade. Quer
isto aconteça ou não, é sempre útil fazer um contacto visual e procurar
dar-lhe segurança. Mesmo sem palavras, o toque e outras formas de
contato físico podem proporcionar grande conforto, embora alguns pa-
reçam considerar o toque como um tabu. E aceitável apertar as mãos, dar
uma "palmadinha" nas costas de um amigo, ou abraçar de leve os atletas
quando o seu time faz ponto, mas pegar as mãos de uma pessoa em crise
ou colocar os braços à sua volta é geralmente desencorajado no
aconselhamento. Isto se deve aos aconselhados algumas vezes interpre-
tarem mal o contato físico e o considerarem como uma insinuação de
caráter sexual.

Para muitos existe também o medo da intimidade e isto faz o toque


parecer ameaçador. Ao compreender o valor e os riscos envolvidos no
toque, o conselheiro deve decidir em cada entrevista se o contato físico
irá realmente ajudar o aconselhado e se há probabilidade dele interpretá-
lo mal. Pergunte também qual a sua motivação para o contato. Será
provável que esteja satisfazendo mais as suas necessidades sexuais e de
aproximação do que as do aconselhado? O toque pode ser um meio
excelente de estabelecer contato e dar apoio, mas talvez deva ser

75
CLÍNICA PASTORAL

controlado. Pela regra: se estiver em dúvida — não faça!

2. REDUZIR A ANSIEDADE
Os modos calmos e descontraídos do conselheiro podem ajudar a reduzir
a ansiedade do aconselhado, especialmente quando esta calma é
acompanhada de segurança. Ouça com paciência e atentamente
enquanto o aconselhado descreve a sua situação, forneça fatos que lhe
dêem segurança ("Existem meios de tratar desse problema"), mostre
aprovação quando algo for feito eficientemente ("Penso que tomou uma
boa decisão - isso mostra que está no caminho certo"), e quando possível
ofereça um prognóstico do que vai acontecer ("Sei que é difícil, mas penso
que você vai resolver tudo muito bem").

Você pode querer sugerir às vezes uma pausa para tomar fôlego, a tensão
e relaxamento consciente dos músculos ou o uso periódico de outras
técnicas para reduzir a tensão muscular. O efeito calmante dos versículos
bíblicos, tais como I Coríntios 10.3 pode ser também útil. Cada um desses
métodos de redução de ansiedade é por vezes usado em excesso, fazendo
com que o aconselhado sinta-se preso numa armadilha ou sufocado, mas
eles podem igualmente reduzir os efeitos da tensão e tornar mais fácil
tratar construtivamente dos problemas envolvidos nas crises.

3. FOCALIZAR OS PROBLEMAS
Em épocas de crise é fácil ser vencido pelo que parece um amontoado de
fatos e problemas confusos. Ajude o aconselhado a decidir quais as
questões específicas que devem ser enfrentadas e os problemas a serem
resolvidos. Tente focalizar a situação como se apresenta no momento e
não naquilo que poderá acontecer no futuro.

4. AVALIAR OS RECURSOS
A disposição do conselheiro em prestar ajuda é um recurso importante

76
CLÍNICA PASTORAL

para o aconselhado em crise, mas existem outros.

 Os recursos espirituais incluem a presença interior e a orientação


do Espírito Santo, juntamente com palavras e promessas
consoladoras das Escrituras. Eles podem ser uma fonte de grande
força e orientação durante as crises. Alguns conselheiros se utilizam
das Escrituras como um instrumento para empurrar ou manipular
os aconselhados, a fim destes agirem do modo como eles acreditam
que devem agir. Isto não é proveitoso nem ético. Pelo contrário, a
Bíblia deve ser apresentada como a verdade, com a esperança de
que o Espírito Santo faça uso dela, atuando no aconselhando
segundo lhe aprouver.

 Os recursos pessoais incluem as habilidades e capacidade


intelectual do aconselhado, sua experiência passada e motivação.
Tenha novamente cuidado em ser realista, mas lembre-se de que
uma simples listagem dos pontos positivos do aconselhado e a
lembrança de como ele enfrentou com êxito seus problemas em
ocasiões anteriores, podem ser tanto confrontadoras como úteis.

 Os recursos interpessoais referem-se a pessoas — amigos, família,


comunidade e membros da igreja que queiram prestar serviço;
estes, no geral seriam realmente de auxílio caso tivessem
conhecimento da necessidade.

 Recursos adicionais podem incluir dinheiro e outros auxílios


tangíveis de que se possa dispor, período de tempo que resta antes
da tomada de decisões, assim como ajuda legal, médica,
psicológica, financeira, educacional e outras oferecidas pela
comunidade.

5. PLANEJAR A INTERVENÇÃO

77
CLÍNICA PASTORAL

Depois de avaliar o problema e considerar os recursos disponíveis, é


interessante decidir sobre um curso de ação que pergunte
especificamente: "O que faremos agora?" O conselheiro e o aconselhado
devem examinar juntos os fatos apresentados e fazer uma lista dos vários
cursos de ação alternativos. Quão realista é cada um deles? O que deve
ser feito em primeiro lugar, em segundo e assim por diante?

Alguns aconselhados terão dificuldade em tomar essas decisões. Nosso


alvo não é colocar mais pressão sobre eles, forçando-os a isso, embora
também não queiramos encorajar a dependência, deixando que outra
pessoa resolva os seus problemas. Com gentileza, mas firmemente, o
conselheiro deve ajudar o aconselhado a fazer planos e, se necessário,
pensar em melhores alternativas quando um plano anterior tiver falhado.
Certo escritor sugeriu que "a regra de ouro para o terapeuta envolvido
numa intervenção em período de crise, é fazer pelos outros aquilo que
eles não podem fazer por si mesmos e nada mais!"

6. ENCORAJAR AÇÃO
Certas pessoas são capazes de decidir qual a melhor atitude a tomar e
depois ficam com medo de prosseguir com o plano. O conselheiro deve,
portanto, encorajar o aconselhado a agir, avaliar o seu progresso, e
modificar os planos e atos sempre que a experiência indicar a sabedoria
desta atitude.

A ação quase sempre envolve pelo menos algum risco. Existe a


possibilidade de fracasso ou arrependimento posterior, especialmente se
a ação acarretar modificações importantes na vida da pessoa, tais como
uma mudança de casa ou de emprego.

É preciso reconhecer também que em algumas situações, a crise jamais


pode ser completamente resolvida, mesmo agindo. Quando a pessoa

78
CLÍNICA PASTORAL

perde um ente querido através da morte, descobre a existência de uma


moléstia incurável, ou deixa de obter uma promoção importante, a crise
pode trazer uma modificação permanente. O aconselhado precisa ser en-
tão ajudado a enfrentar a situação com honestidade, reconhecer e
expressar sentimentos, reajustar seu estilo de vida, planejar
realisticamente seu futuro, e apoiar-se no conhecimento de que Deus, em
sua soberania, sabe o que estamos sofrendo e se preocupa conosco. Em
todas as crises, mas especialmente em tempos de mudança permanente,
ajuda muito quando as pessoas são rodeadas por amigos sinceros,
interessados, úteis, com espírito de oração, prontos para prestar auxílio
quando e da forma necessária.

7. INSTILAR ESPERANÇA
Em todo aconselhamento é mais provável haver melhora quando é
transmitido ao aconselhado um senso realista de esperança para o futuro.
A esperança traz alívio ao sofrimento, baseado numa crença de que as
coisas serão melhores no futuro. A esperança nos ajuda a evitar o
desespero e liberta a energia para enfrentar a situação de crise. O
conselheiro cristão instila esperança de três maneiras (que não são citadas
aqui necessariamente na ordem em que devem ser usadas).

 Primeiro, transmissão das verdades bíblicas que podem


proporcionar segurança e esperança, baseadas na Palavra e
natureza imutáveis de Deus. Esta é uma abordagem que instila
esperança estimulando a fé em Deus.

 Segundo, podemos ajudar os aconselhados a examinarem sua


lógica derrotista. Ideias como "Jamais vou me curar" ou "Nada
poderia ser pior", geralmente entram nos pensamentos do
aconselhado em períodos de crise. Tais ideias deveriam ser

79
CLÍNICA PASTORAL

contrariadas com brandura. Qual a evidência para a conclusão:


"Jamais vou me curar?" Qual a evidência para um resultado mais
auspicioso?

 Terceiro, os conselheiros podem convencer os aconselhados a se


moverem e fazerem algo. Um mínimo de atividade basta para
proporcionar a sensação de que alguma coisa está sendo feita e que
o aconselhado não é inútil. Isto, por sua vez, pode despertar a
esperança — especialmente se a atividade realiza algo que valha a
pena.

8. INTERFERIR NO AMBIENTE
Às vezes é necessário modificar o ambiente do aconselhado —
encorajando outros a orar, dar dinheiro ou suprimentos, fornecer ajuda
prática, ou assistir de qualquer outra forma a pessoa em crise.

Tal mobilização da comunidade está além do escopo do aconselhamento


tradicional, mas alguns ajudadores cristãos podem desejar interferir neste
sentido. Ao agir assim, procure descobrir os sentimentos do aconselhado
a respeito de tal ajuda. Algumas pessoas podem ter dificuldade em aceitar
auxílio externo. Elas talvez se sintam embaraçadas com a atenção,
ameaçadas pela implicação de sua necessidade de ajuda e ficam zangadas
com o conselheiro que tentou fazer algo agradável. Outras vezes, o
socorro externo encoraja a dependência e uma atitude "inerte", do tipo
"não preciso fazer nada", por parte do aconselhado. É importante discutir
tudo isto com ele, sempre que possível, pois deve ser encorajado a buscar
ajuda de outros sem o auxílio do conselheiro.

9. ACOMPANHAMENTO
O aconselhamento em tempos de crise é, no geral, de curta duração.
Depois de uma ou duas sessões o aconselhado volta à rotina da vida e não

80
CLÍNICA PASTORAL

continua com a terapia. Mas, será que alguma coisa foi aprendida? A
próxima crise será enfrentada com mais eficiência? A pessoa está vivendo
satisfatoriamente agora, depois de passado o ponto crítico? Essas
questões devem preocupar o conselheiro, que quase sempre pode
acompanhar o caso com um telefonema ou visita. Mesmo quando o
aconselhamento não é mais necessário, tal interesse de
"acompanhamento" pode encorajar o aconselhado e fazê-lo lembrar-se
de que alguém ainda se importa com ele.

C. ENCAMINHAMENTO
Algumas vezes podemos ajudar melhor os aconselhados encaminhando-os
para outra pessoa cujo treinamento, perícia e disponibilidade talvez os
assistam melhor. O encaminhamento não significa necessariamente que o
conselheiro seja incompetente ou que deseje livrar-se do aconselhado. Pelo
contrário, pode refletir o interesse do conselheiro pelo seu paciente e
mostrar a compreensão por parte dele de que ninguém é suficientemente
hábil para aconselhar todo tipo de pessoas.

Os pacientes devem ser encaminhados quando não mostram sinais de


melhora depois de várias sessões, têm necessidades financeiras graves,
precisam de atenção médica ou assistência jurídica, estejam severamente
deprimidos ou com intenções suicidas, mostrem um comportamento
extremamente agressivo, despertem sentimentos fortes de antipatia ou atra-
ção sexual no conselheiro, ou tenham problemas que se achem fora da área
da especialização do conselheiro.

Os conselheiros devem estar familiarizados com os recursos da comunidade


e pessoas a quem os aconselhados possam ser encaminhados. Isto inclui
profissionais como:

 Médicos, advogados, psiquiatras, psicólogos e outros conselheiros;

81
CLÍNICA PASTORAL

 Pastores-conselheiros e outros líderes da igreja;

 Agências beneficentes, tais como as Sociedades de Ajuda aos


Excepcionais ou aos Cegos;

 Agências governamentais como o Departamento de Bem-Estar Social


ou de Desemprego;

 Clínicas ou hospitais de aconselhamento particulares e públicos;

 Agências particulares de emprego;

 Centros de prevenção do suicídio; e

 Grupos como os Alcoólicos Anônimos.

Ao considerar o encaminhamento, não deixe de considerar a importância dos


grupos da igreja que, com frequência, podem dar apoio e ajuda prática em
momentos de necessidade.

Antes de sugerir a transferência, pode ser útil comunicar-se com a fonte


pretendida, a fim de certificar-se de que o paciente será recebido. Ao sugerir
a transferência ao aconselhado, não deixe de contar-lhe as suas razões para
a recomendação. Tente fazer com que o aconselhado participe da decisão da
transferência, mostrando-lhe ser esta uma maneira positiva de obter mais
ajuda e não por acreditar que o aconselhado esteja excessivamente
perturbado, ou seja, um problema grande demais para você.

É melhor deixar que os aconselhados marquem sozinhos as entrevistas com


o novo conselheiro. Algumas vezes estes desejam informações a respeito do
aconselhado, mas isto só pode ser feito se ele der autorização. Depois de
encaminhá-lo, é bom continuar interessado no paciente, mas lembre-se de
que outra pessoa é agora responsável pelo aconselhamento.

82
CLÍNICA PASTORAL

CAPÍTULO 15

O FUTURO DO ACONSELHAMENTO

A. A DIVISÃO DO ACONSELHAMENTO
O aconselhamento foi classificado em três áreas: terapêutica, preventiva e
educativa.

1. ACONSELHAMENTO TERAPÊUTICO
O aconselhamento terapêutico envolve a ajuda ao indivíduo, a fim de que
ele trate dos problemas existentes na vida.

2. ACONSELHAMENTO PREVENTIVO
O preventivo procura impedir que os problemas se agravem ou evitar
completamente a sua ocorrência.

3. ACONSELHAMENTO EDUCATIVO
O aconselhamento educativo envolve a iniciativa por parte do
conselheiro, no sentido de ensinar princípios de saúde mental a grupos
maiores.

É impossível calcular a porcentagem de aconselhamento envolvida em cada


uma dessas três áreas, mas é provável que a terapêutica exija a maior parte
do tempo e energia do conselheiro. Os programas de treinamento em pós-
graduação têm contribuído para esta ênfase assimétrica e os profissionais
descobriram que é muito mais fácil ganhar a vida com o aconselhamento de
reabilitação do que com o preventivo e educativo. A maioria das pessoas paga
para serem ajudadas com um problema; mas poucas pagarão para evitar o
problema.

83
CLÍNICA PASTORAL

B. A INVERSÃO DOS PAPEIS DO ACONSELHAMENTO


Há algum tempo atrás, um comitê da Associação Americana de Psicologia
recomendou a inversão dos três papéis do aconselhamento.

Devemos dar mais ênfase ao aconselhamento educativo, concluiu o comitê,


ênfase secundária à prevenção, e menor ênfase à ajuda terapêutica clássica,
de reabilitação.

Tal mudança iria ampliar e alterar grandemente o campo do aconselhamento.


Em lugar de concentrar-se nos indivíduos com problemas, haveria maior
ênfase nos grupos de pessoas da comunidade. Em lugar de esperar que os
aconselhados procurassem os conselheiros, a ajuda se daria mais
frequentemente onde as pessoas se encontram.

Além da ênfase nas técnicas de aconselhamento, haveria também um


destaque para o uso de livros, instrução programada, CDs de Áudio e outros
métodos educativos. Nada disto pressupõe que o aconselhamento
terapêutico irá desaparecer de cena, pois ele provavelmente será sempre
necessário e estará presente. Mas o campo do aconselhamento está
mudando e os conselheiros cristãos começam a sentir essas mudanças.

Num sentido muito real, porém, os cristãos acham-se à frente dessas


tendências. Desde a época de Cristo, a igreja se preocupou com a prevenção
e educação. Quando surgiu o movimento de aconselhamento pastoral, a
igreja aumentou sua ênfase na ajuda individual, mas o papel mais amplo de
educar as pessoas e fazê-las encontrar a saúde mental e espiritual jamais foi
abandonado. Nossos esforços educativos e preventivos nem sempre foram
eficazes, nem os nossos objetivos sempre claros, mas já existe dentro da
igreja uma corrente de pensamento que dá à educação um lugar de
proeminência, que supera frequentemente o aconselhamento terapêutico.

O aconselhamento cristão é uma tarefa difícil, mas desafiadora. Ela envolve

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o desenvolvimento de traços terapêuticos de personalidade, o aprendizado


de habilidades, sensibilidade às pessoas, compreensão do processo de
aconselhamento, percepção dos perigos envolvidos, familiaridade a nível
profundo com as Escrituras, e sensibilidade à orientação do Espírito Santo. O
aconselhamento pode ser assunto para um livro, mas não pode ser aprendido
completamente num livro. Nós nos tornamos bons conselheiros cristãos
mediante uma entrega a Cristo, através do treinamento e da experiência de
ajudar as pessoas com os seus problemas.

Não esgotamos aqui o assunto e nem pretendemos fazê-lo.

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