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Introdução ao curso

O foco dessa aula é mostrar que a ciência, o conhecimento científico, é uma


construção humana. Isto é, a ciência é fruto da cultura, da imagina, da curiosidade, da
resiliência, da sorte, da oportunidade, dos momentos de paz e dos momentos de guerra
enfim, a ciência não é a natureza e não é da natureza ela é humana, demasiadamente
humana.
A Física é um recorte da ciência. Vamos tentar focar na Física, mas é impossível
desmembrar a construção da Física da construção da ciência como um todo.
De início é possível pensar em uma era pré-histórica, na qual as explicações para
os fenômenos envolviam seres divinos e seus humores. Um hominídeo nas savanas
africanas a 15.000 anos atrás possivelmente atribuiria uma tempestade à irritação de
deuses, ainda mais se essa tempestade resultasse na morte de algum conhecido ou na
destruição de seus recursos.
Algumas teorias sugerem que, pode ter sido durante uma tempestade, que um raio
atingiu e incendiou uma árvore e se um desses hominídeos pré-históricos estivesse perto
e percebesse que aquele fogo tinha a capacidade de espantar animais, assar alimentos e
ferir inimigos, esse hominídeo pode ter utilizado o fogo em seu benefício. Essa
provavelmente não teria sido a primeira vez que um raio atingiu uma árvore, nem mesmo
teria sido a primeira vez que um hominídeo tinha visto esse acontecimento, mas ao invés
de fugir, esse hominídeo decidiu explorar, investigar e dominar o fogo e esse domínio
gerou uma revolução na espécie, mas não só isso, a revolução agrícola, também mudou
os modos de organização da espécie humana. Plantar e esperar crescer para colher,
permitiu que as comunidades se assentassem, deixando a prática do nomadismo, e da
coleta de alimentos.
A grande questão é que não só o domínio do fogo permitiu as revoluções
seguintes, mas também a maneira como a espécie se relacionava com a natureza. Os
homo sapiens, gradativamente, deixaram de ser tão passivos diante dos acontecimentos
da natureza e passaram a ser cada vez mais ativos, observando e descrevendo
fenômenos de maneira mais completa, reproduzindo processos e utilizando os resultados
como recurso para seu próprio benefício. São os primórdios da construção do que
chamamos hoje de ciência. Não é possível dizer que a humanidade pré-histórica
desenvolvia ciência, mas o que faz a ciência hoje se não apresentar explicações para
fenômenos naturais, reproduzir processos e utilizar os resultados para benefício da
espécie?
Para conseguir compreender esses processos e ensiná-los para as gerações
seguintes, era importante a criação dos mitos. Os mitos eram tentativas de explicar um
fenômeno, atribuindo significado e fornecendo uma narrativa que pudesse facilmente ser
passada para as próximas gerações. Os mitos são histórias que possuem uma lógica,
fazem algum sentido, mas devem ser entendidos no contexto dos povos que os criaram.
Os mitos eram muitas vezes cantados ou recitados como um grande poema. O
motivo para essa forma de construção do mito é que a recitação auxiliava na
memorização das histórias, já que se tratava de sociedades de cultura oral, sem utilização
da escrita.
Mas o surgimento da escrita permitiu o registro dessas histórias, não só isso,
permitiu o desenvolvimento de outros conhecimentos mais abstratos tais como, filosofia e
a matemática. Esse período é conhecido como Idade Antiga e é nesse contexto que se
desenvolve a filosofia grega. É verdade que outras filosofias eram desenvolvidas em
outras partes do mundo, mas a filosofia grega é fundamental para o que conhecemos hoje
como cultura ocidental.
Um dos principais objetos de estudo na Grécia antiga era a natureza, que em grego
é Physis. Homens como Tales de Mileto e Eratóstenes estudavam a natureza buscando
por regularidades e tentando compreender os seus comportamentos, buscando, sempre
que possível, abrir mão dos mitos e desenvolver algum tipo de racionalidade na tentativa
de atribuir relações de causas e efeitos aos fenômenos da natureza. Aristóteles, discípulo
de platão foi um dos maiores nomes dessa época. Attico Chassot em Ciência através
dos tempos (2003) vai dizer que “Não houve campo do conhecimento científico no qual
Aristóteles não tenha prestado alguma contribuição”. Ele foi capaz de desenvolver uma
lógica coerente para explicar diversos fenômenos naturais. Fez isso com pouquíssima
matemática, ainda assim, sua argumentação era tão sólida que sua visão sobre o mundo
atravessou séculos sendo considerada verdadeira. A capacidade explicativa do modelo
de Aristóteles era tão grande, que mesmo a igreja católica, que surgiria quase 1000 anos
após sua morte, defendeu muitas de suas ideias como verdadeiras até o fim do período
que conhecemos como Idade Média.
A idade média acaba dando lugar ao que se chama de Idade Moderna. Embora
seja impossível marcar uma data na qual a idade média termina e começa a idade
moderna, alguns nomes e acontecimentos são característicos desse período de mudança.
Galileu Galilei, é o nome, e seus trabalhos que deram origem à Ciência Moderna, são os
acontecimentos que marcam esse período.
No século XVI, Galileu enfrentou praticamente todas as ideias fundamentais de sua
época. Ele escreveu livros que confrontavam as ideias científicas de Aristóteles, além de
confrontar as ideias teológicas da igreja. Ao contrário de Aristóteles, Galileu utilizou muita
matemática para fundamentar suas ideias. Ele costumava dizer que a Natureza é um livro
escrito por Deus e que a linguagem escolhida para escrever esse livro teria sido a
matemática. Ou seja, de maneira geral, Galileu revolucionou a maneira como se
enxergava o Universo.
Como se já não bastasse, Galileu, de certa forma inaugura uma nova maneira de
encarar a natureza, uma maneira estruturada uma maneira que tenta alcançar a verdade
da natureza, sem mitologia, sem filosofia, quem sabe até, sem sentimentos envolvidos,
uma maneira objetiva de lidar com os problemas da natureza; o método científico.
Mesmo que Galileu não tenha sido o único responsável, a elaboração e o uso do
método científico são constantemente associadas a seu nome. O Método científico, de
maneira muito simplificada, está baseado em alguns pilares, são eles: OBSERVAÇÃO;
PERGUNTA, HIPÓTESE, TESTE, ANÁLISE E REFUTAÇÃO ou não.
A OBSERVAÇÃO é o que o próprio nome diz, o cientista observa algum fenômeno
específico na natureza e entra em um processo de descrição atenta desse fenômeno.
Aquela observação cuidadosa deve despertar dúvidas e gerar no cientista uma
PERGUNTA e esse passo é de extrema importância, são as boas perguntas que colocam
a ciência em movimento. O cientista elabora então uma tentativa de resposta à sua
própria pergunta, a HIPÓTESE tenta dar sentido àquilo que o deixou em dúvida. Mas ele
entende que a hipótese é uma ideia e que essa ideia precisa de um TESTE, e é aí que
entram os experimentos, os registros e a organização de resultados encontrados. Depois
o cientista faz uma ANÁLISE cuidadosa desses dados e tenta perceber relações
matemáticas tentativa fazer previsão de comportamento,a determinar de leis e
regularidades relacionadas ao fenômeno. Por fim, existem duas possibilidades. Ou o
cientista REFUTA sua hipótese inicial e volta ao início para elaborar novas hipóteses, ou
ele confirma sua hipótese inicial o que em geral levanta novas perguntas, que geram
novas hipóteses e que dão origem a outros experimentos... e assim a ciência se
desenvolve.
O aprimoramento do método científico permitiu uma estruturação cada vez mais
sólida e impessoal da ciência, o que começou a dar origem a um número cada vez maior
de TEORIAS. Uma teoria é o ponto alto da investigação científica, depois de muitas
hipóteses, muitos testes, muitas análises e muitas confirmações é possível organizar um
corpo de conhecimentos que são capazes de dar sustentação teórica a um modelo que
explica a natureza e capazes também de prever novos fenômenos ainda não observados.
Embora as teorias tenham um alto poder explicativo, é importante dizer que elas não são
uma verdade absoluta. O questionamento e a revisão fazem parte do processo de
desenvolvimento da ciência.
Até o século XVI os cientistas eram conhecidos como filósofos naturais. Eram
homens dedicados ao conhecimento, por isso era comum que esses cientistas cobrissem
um grande números de campos de conhecimento. Eles poderiam ser químicos, físicos,
astrônomos, economistas e eventualmente teólogos, tudo isso ao mesmo tempo. Mas a
especialização cada vez maior deu início ao processo de separação dos campos de
conhecimento da maneira como conhecemos hoje. E nos séculos seguintes ao XVI,
tivemos o desenvolvimento da Teoria da Gravitação Universal de Newton, Teoria da
Evolução de Darwin, Teoria Eletromagnética de Maxwell… até que chega o século XX, e
ai, as conquistas científicas invadem o mundo.
A primeira metade do século XX experimentou duas grandes guerras mundiais, a
segunda metade desse século precisou lidar com o medo constante de uma aniquilação
mundial, produzido pela guerra fria entre EUA e URSS. Foi no século XX que se inventou
o avião e o tanque de guerra, a bomba atômica, o computador e a transmissão via
satélite, foi nesse século que a humanidade chegou à Lua e lançou naves para Marte e
para fora do nosso sistema solar. Inventamos computadores, internet, celulares, cinema e
muito muito mais. Se por um lado o desenvolvimento científico produziu formas cada vez
mais eficientes de provocar a morte de pessoas, por outro permitiu a criação de
maravilhas tecnológicas cuja existência não havia sido imaginada por quase ninguém.
Nos últimos 100 anos, a humanidade e o próprio planeta sofreram mais mudanças do que
nos 1000 anos anteriores.
Dentro do campo da Física, a Teoria da Relatividade de Albert Einstein e a Teoria
Quântica, na qual o Einstein e diversos outros cientistas se envolveram, surgem e se
desenvolvem nesse contexto, sendo as teorias responsáveis pelas transformações
tecnológicas, filosóficas e sociológicas mais profundas. Até hoje, as pesquisas em
Relatividade e Quântica estão em uma região conhecida como Fronteira do
Conhecimento. O que pode ser produzido de novo em Física deve se apoiar nessas
teorias.
E o que virá depois? Bom, isso é impossível de dizer. Não sabemos onde o
conhecimento científico pode nos levar, mas podemos torcer para que a humanidade
tenha aprendido com os erros do passado e que os novos conhecimentos possam ser
utilizados com sabedoria, para um desenvolvimento sustentável e saudável da
humanidade.

Para aprofundar:
- Documentário: "Documentário: Galileu Galilei”.

Bibliografia:
- CHASSOT, A. A Ciência Através dos Tempos. Ed. Moderna

- ZANETIC, J - Evolução dos conceitos da Física, Notas de Aula.

- KUHN, T. A Estrutura das Revoluções Científicas. Ed. Perspectiva.


- HARARI, Y. Sapiens. Ed. L&PM.

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