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Filosofia

Filosofia da ciência:

A ciência possui um papel muito importante mas a sua sobrevalorização


conduzem por vezes a uma ideia errada e precipitada de que o
conhecimento científico é a única forma de conhecimento fiável,
seguro e rigoroso: cientismo. Leva o publico a depositar na ciência toda
a sua confiança e esperança mesmo sem compreender muitas das sua
teorias e características.
Isto leva à proliferação de informações que não são científicas mas que
passam por ser.

Pseudociência: tipo de teoria ou atividade sem qualquer base


científica, mas que procura passar por científica.

Do senso comum à ciência:


Senso comum ou conhecimento vulgar: tipo de conhecimento que
resulta da acumulação de informações, crenças e ideias dispersas que
retiramos diretamente das nossas experiências de vida e que nelas
encontram a sua justificação. É coletivamente partilhado e transmitido
de geração em geração.

Características do senso comum:


 Superficial/pouco aprofundado;
 Não é organizado;
 Utilização de linguagem corrente: imprecisa e sem rigor;
 Conhecimento prático;
 Assistemático;
 Ametódico;
 Subjetivo;
 Preditiva; (prevê a ocorrência de novos fenómenos)
 Dogmático; (é um conhecimento que é aceite sem
fundamentação racional)
 Transmite-se de geração em geração;
 Reflete crenças valores e preconceitos
 Acrítico (o que é aceito como conhecimento não é colocado em
questão nem é objeto de análise crítica)

É construído de forma imediata (espontâneo) e a partir da primeira


perceção da realidade o que se trata de uma precipitação pois toma-
se como conhecimento aquilo que pode ser apenas aparente.

 No entanto é eficaz na resposta a questões do dia-a-dia.

Nota: o senso comum é visto como o ponto de partida para a ciência,


na medida em que muitas das questões que os cientistas colocam
partem da tentativa de compreensão dos factos e fenómenos que
estão na origem de problemas do dia-a-dia.

 O senso comum alimenta-se de conhecimentos científicos como


documentários e livros.
 O conhecimento científico prolonga e complementa, o
conhecimento vulgar.

Características da ciência:
Nota: as teorias científicas são as respostas para os fenómenos que
ocorrem no mundo e na natureza.
A ciência é uma tentativa de compreender e explicar a realidade, o
mundo que nos rodeia, de forma organizada, rigorosa e fundamentada.
 Explicativa; (implica a construção de leis e teorias explicativas)
 Sistemáticas;
 Rigorosa;
 Crítica;
 Revisível; (os resultados são provisórios até melhor resposta ser
encontrada)
 Metódica; (baseia-se em pesquisas e investigações apoiadas em
métodos)
 Faz-se acompanhar de instrumentos de medida;
 Profunda;
 Organizada;
 Mediata; (as explicações da realidade baseiam-se em provas e
demonstrações rigorosas)
 Resulta da investigação crítica;
 Valor teórico e prático; (permite prever a ocorrência de
determinados fenómenos e permite resolver questões que surgem
diariamente)
 Utiliza linguagem rigorosa.
O problema da demarcação:
Trata-se de saber distinguir o que é ciência do que o que não é ciência,
ou o que separa a conhecimento científico de outros tipos de
conhecimento.

 É a dificuldade em estabelecer limites claros entre o que é


considerado ciência e o que não é.
Compreender o que é científico é crucial para distinguir entre
conhecimento confiável e especulações não fundamentadas.

Teorias não científicas: não atendem aos critérios da ciência, não são
fundamentadas.

Ex: os anjos têm asas.

Teorias científicas: conjunto organizado de leis, hipóteses e princípios


que explicam fenómenos observáveis e preveem resultados futuros. São
empiricamente fundamentadas e testáveis.
Ex: a Lua gira em torno da Terra.

Nota: as teorias serem sistemáticas e explicativas não é condição


suficiente para garantir a sua cientificidade.

Alguns filósofos apresentaram critérios de cientificidade como resposta


ao problema da demarcação:

Critério da verificabilidade: segundo este critério, uma teoria só é


científica se aquilo que propõe puder ser verificado empiricamente.

Uma afirmação empiricamente verificável é aquela cujo valor de


verdade pode ser determinado através da observação ou da
experiência.

Uma teoria é científica apenas se consistir em afirmações


empiricamente verificáveis.

Afirmações verificáveis:
Algumas árvores têm mais de 3 metros de altura;
A Lua gira em torno da Terra;

Existem microplantas em Marte. (o valor de verdade desta ainda não foi


estabelecido mas é possível estabelecer um conjunto de observações
que o possam estabelecer).

Afirmações não verificáveis:


Certos anjos têm asas;

A porta do Céu é feita de ouro;


A essência da realidade é de carácter mental.

Estas afirmações não pode ser empiricamente verificáveis uma vez que
o seu conteúdo ultrapassa do domínio dos factos observáveis.

Objeções a este critério:


A maioria das teorias científicas expressa-se em enunciados universais,
que não são suscetíveis de verificação empírica. Para verificarmos
empiricamente o que esta lei define, teríamos de observar todos os
casos existentes o que não é possível: problema da indução
(generalização)

 Isto inviabiliza a justificação completa das hipóteses e das leis


científicas.

Os filósofos defensores do critério afirmam que basta apenas fazer


uma verificação empírica parcial desde que “o grau de
confirmação“ das teorias possa ser estabelecido.

Surge assim um novo critério:

Critério da falsificabilidade, criada por Karl Popper.


Popper foi cético relativamente ao poder preditivo da indução porque:
 É impossível verificar a universalidade de qualquer teoria
científica;
Para este:

Nunca se pode prever nem afirmar que uma teoria científica é


verdadeira. Quando muito, pode provar-se que é falsa.
Ex: nenhum número de observações que confirme a hipótese de que
“Todos os planetas possuem órbitas elípticas” bastará para nos mostrar
que a teoria é verdadeira. No entanto, uma única órbita planetária não
elíptica refutaria, de imediato, a hipótese.

Critério da falsificabilidade: uma teoria é científica apenas se for


empiricamente falsificável, ou seja, se e só se for possível conceber uma
observação ou uma experiencia capaz de a refutar.
Uma teoria é científica se podem ser concebidos testes que provem
que a teoria é falsa. Testar uma teoria é então encontrar casos que
sejam incompatíveis com ela (casos que, a serem observados, a
falsifiquem).

Ou seja, de acordo com Popper:


 A mecânica de Newton é um exemplo de teoria científica: é
falsificável, as suas previsões podem ser sujeitas a testes e
refutadas;
 A astrologia constitui um exemplo de teoria não científica: trata-se
de uma teoria não falsificável.

Afirmações falsificáveis:

Todo o ferro dilata quando é aquecido; o cometa Halley aparecerá no


ano de 2061; amanhã nevará na serra da Estrela: todos os nativos de
Peixes são mulheres
Todos estes exemplos podem ser falsificados.

Afirmações não falsificáveis:

Algum ferro dilata quando é aquecido; surgirá no céu uma bola de


fogo (como não é dita uma data, é impossível provar que é falsa);
amanha ou nevará na Guarda ou não nevará; o próximo ano trará
energias positivas aos nativos de Peixes. (afirmação vaga).

 Quanto mais conteúdo empírico uma teoria tiver, mais ousada


será e maior alcance explicativo terá e mais informativa será.
 Quanto maior o grau de falsificabilidade de uma afirmação, mais
interessante ela será para a ciência.
Se essa afirmação for falsificada, contribuirá para encorajar o
desenvolvimento de uma hipótese que não possa ser assim tao
facilmente refutada; se mostrar ser difícil de falsificar, fornecerá uma
teoria convincente, e quaisquer novas teorias serão ainda melhores.

1- O ferro da Torre Eiffel dilata quando é aquecido;


2- Todo o ferro dilata quando é aquecido;
3- Todo o metal dilata quando é aquecido.

O 3 é mais abrangente, estando mais exposto ao risco de ser refutado.


Se se observasse um pedaço de ferro da Torre Eiffel que não dilatasse
quando aquecido, 1, 2 e 3 estariam refutadas, mas se o metal
observado fosse outro que não ferro, só 3 era refutada. Conclui-se que é
mais fácil refutar 3 do que 1.
Nota: falsificabilidade ≠ falsificação

Todas as boas teorias científicas são falsificáveis mas não falsas.


Nota: a falsificabilidade é uma condição necessária para as teorias
serem científicas mas não é suficiente. É também necessário que
proporcionem boas explicações para problemas reais e ser capazes de
fazer previsões.

Método científico:
 Conjunto de procedimentos, orientados por um conjunto de
regras, que estabelecem a ordem das operações a realizar com
visto a atingir um determinado resultado.

O indutivismo e falsificacionismo são 2 perspetivas sobre qual o método


utilizado pelos cientistas.

Indutivismo:
Defendida por Francis Bacon e Stuart Mill.
Bacon considerava que o conhecimento científico se devia fundar na
indução, observação e na experimentação, sendo o único caminho
possível para o progresso da ciência.
Teorias científicas

Contexto de descoberta Contexto da justificação

Processo pelo qual o Processo pelo qual o


cientista formula (ou cientista testa, defende (ou
descobre) a hipótese ou justifica) a hipótese ou
teoria. teoria.

Contexto de descoberta:

1-observação dos factos ou fenómenos: parte da observação dos


factos e regista-os. Deve ser isenta, rigorosa, objetiva e imparcial.
2-formação de hipóteses: o investigador procura descobrir a relação
existente entre os factos, formulando uma hipótese, inferindo, através
da indução, um enunciado geral a partir de particulares.
Contexto da justificação:

3-experimentação/verificação experimental: deduzem-se


consequências para a formulação da hipótese, que usam para fazer
previsões. Se as consequências não se verificarem, a hipótese é
rejeitada, reformulando-se a hipótese original ou construindo uma nova
hipótese. Se se verificarem, é confirmada.

4-generalização dos resultados: recorrendo à indução, o cientista


generaliza a relação encontrada estabelecendo uma lei geral.

O raciocínio indutivo parte de observações particulares e atinge


conclusões gerais, aumentando o nosso conhecimento, tendo um
caracter amplificante que o raciocínio dedutivo não tem.

Criticas ao indutivismo:
 A observação não é necessariamente o ponto de partida da
ciência, mas sim os problemas que surgem.
 A observação não consegue ser pura, objetiva e imparcial,
ocorrendo sempre num determinado contexto sendo afetada por
teorias, expectativas do cientista…
 Há teorias científicas que têm por base factos que não são
observáveis, como a origem no Universo, pelo que estas não
resultaram de um processo de indução a partir de observações.
 O raciocino indutivo não confere o rigor lógico necessário às
teorias cientificas (como já disse David Hume).

Baseamo-nos em casos particulares para generalizar ou para prever,


efetuando um salto do conhecido para o desconhecido.

Confiamos na indução porque partimos do principio da uniformidade


da natureza, mas segundo Hume, como este principio é feito pela
generalização, não é racionalmente justificável, pelo que não há
justificação racional para as crenças obtidas por indução.

As premissas referemn-se a factos ou acontecimentos singulares e


experimem conhecimentos já adquiridos.
A conclusão remete para um facto ou acontecimento que nãop se
encontra contido nas premissas e do qual (ainda) não adquirimos o
conhecimento pela experiência.

Ao ir além das premissas, corremos o risco de erro. Mesmo que as


premissas sejam verdadeiras, nenhuma inferência indutiva, pode
garantir uma conclusão absolutamente certa.

O problema da indução é saber se e como podemos, a partir do


conhecimento de factos singulares que retiramos diretamente da nossa
experiência, adquirir conhecimentos sobre actos ou coisas situadas fora
da área da nossa experi~encia.

Perspetiva falsificacionista:
Uma lei científica tem a forma de uma proposição universal.
Do critério da verificabilidade resultava a conclusão inaceitável de
excluir da ciências leis como estas, já que não são suscetíveis de ser
definitivamente verificadas pela experiencia.
 Popper concorda com Hume ao dizer que a indução não é
racionalmente justificável, não constituindo isto o que permite
distinguir ciência do que não é ciência.

Já que nenhuma lei científica universal é empiricamente verificável


pode ser dedutivamente falsificada.
Segundo Popper, a ciência procede não por indução, mas por
conjeturas e refutações. As teorias científicas são conjeturas que o
cientista procurará submeter a testes que visam a sua refutação ou
falsificação.

O indutivista afirma que a investigação científica começa pela


observação. Popper nega, dizendo que não há observações puras e
neutras, sendo estas medidas por pressupostos que já o “dizem”.

A observação é também seletiva pois, como não podemos observar


tudo em simultâneo, damos atenção a um objeto em particular
condicionado por algo que o antecedo: um problema, por exemplo.

O método científico começa por problemas.

Se não houver problema, a investigação científica não se inicia.


Problema

Tentativa de explicação: hipótese ou conjetura (explicação provisória)

Tentativa de refutação: observação e testes experimentais (a


observação e a experimentação desempenham aqui um papel
importante)

O cientista procura prever o que acontece se a teoria estiver correta e


a seguir procura observações e experiencias cujos resultados sejam
incompatíveis com as suas previsões.
A hipótese resiste aos testes; A hipótese não resiste aos testes;

Hipótese corroborada; Hipótese refutada;

Continuação dos testes, cada vez Reformulação da hipótese ou


mais severos (para a tentar refutar) formação de nova hipótese.

Nota: se uma nova hipótese for formulada, esta é também submetida a


testes severos.

 Não se pode afirmar que haja teorias científicas verdadeiras. Estas


são refutáveis e apenas conjeturas, cujo sucesso poderá ser mais
ou menos duradouro.
 Uma teoria preferível a outra não é uma teoria absolutamente
verdadeira, apenas uma teoria que ainda não é falsa.
 Enquanto resistir aos testes é aceite, quando não resistir é
rejeitada.

Este método baseia-se no raciocínio dedutivo. (modus tollens)


A verificação das teorias incorre na falácia da afirmação do
consequente.

 A ciência progride então por conjeturas e refutações.


Ver caderno esquema!

Críticas a Popper:
1- O critério de falsificação não corresponde à prática do cientista.
Este defende exaustivamente a sua teoria e não tem como
principal objetivo testá-la por falsificação.

2- Encontrarem uma rejeição da previsão não demove a previsão


dos cientistas, ao contrário do que Popper dizia. (além de que
este não teve em conta que a falsificação pode ser resultado de
um erro humano) A sua teoria não é descritiva (não diz como os
cientistas procedem) mas é apenas normativa (diz como os
cientistas deviam proceder)

Apresenta uma conceção idealizada da ciência.


3-considerando a história da ciência, esta não evolui por processos
assentes em refutações. Newton, por exemplo, não abandonou a sua
teoria na presença de factos que aparentemente as falsificavam.
4-desvaloriza o papel da confirmação das teorias. As previsões bem-
sucedidas têm um importante papel no desenvolvimento científico.

5-não dá conta do conhecimento útil da ciência. Confiar numa teoria


científica é ter boas razoes para acreditar que ela é verdadeiras e não
apenas aceitá-la só porque até agora nunca foi falsificada ou refutada.

Os problemas da evolução da ciência e da objetividade do


conhecimento científico:
É importante compreender como a ciência evolui e se essa evolução é
inteiramente racional ou não, se na origem dos avanços estão apenas
critérios estritamente racionais e objetivos.

A perspetiva de Popper sobre a evolução da ciência:

 A ciência progride por conjeturas e refutações.


 O erro é o motor do progresso científico. É a possibilidade de
as teorias seres falsificadas ou refutadas que permite à ciência
avançar progressivamente.
 Só com uma atitude crítica e não dogmática será possível ao
cientista avançar.
Analogia com a teoria da evolução por seleção natural de Darwin:
As teorias cientificas que mais vão resistindo aos testes são as mais fortes
e as que, mediante a eliminação de erros, se mantêm vigentes. As
teorias menos aptas, que não resistem aos testes experimentais, são
eliminadas e dadas como erros.

Problema Teoria (conjetura) Eliminação de erros (refutação) novo


problema

 A nova teoria, tem de ser melhor do que a anterior, explicar os


aspetos que a outra não explicava; elimina os erros da anterior e
resolve os problemas que a outra não conseguia, sendo mais
abrangente.

Nenhuma teoria científica é verdadeira, é apenas mais verosímil que a


anterior.
Para que se constitua uma descoberta ou um passo em frente, a nova
teoria deve entrar em confronto com a anterior, pelo que o progresso
da ciência é sempre revolucionário.
 Como a ciência é conjetural, não atinge a verdade, apenas se
aproxima dela, progredindo assim.

A perspetiva de Popper sobre a objetividade da ciência:


Acredita que a ciência evolui de acordo com critério racionais, lógicos
e objetivos, cujo conteúdo das teorias obedece a princípios lógicos que
garantem o rigor e a objetividade com que o conhecimento científico
explica e descreve a realidade.

Na escolha de teorias concorrentes, só intervêm critérios objetivos, sem


a interferência de quaisquer outros aspetos subjetivos, como crenças
religiosas ou preferências politicas.

A subjetividade é importante no contexto de descoberta mas não no


contexto de justificação da mesma.

Critérios objetivos para a avaliação das teorias científicas:


 Sucesso em testes independentes;
 Capacidade explicativa;
 Capacidade de prever novos fenómenos.
Thomas Kuhn:

A perspetiva de Thomas Kuhn sobre a evolução da


ciência:
Como se desenvolve a ciência?

Tese: há evolução, mas não há progresso em ciência: a ciência evolui


por uma sucessão de paradigmas, sem que haja uma aproximação à
verdade. A ciência não evoluiu segundo padrões estritamente
reacionais e objetivos.

 Diz que qualquer teoria surge num certo contexto.


 Rejeita a ideia de que a ciência progride por acumulação e sem
conflitos.
 Afirma que a evolução do conhecimento científico ocorre
através de solavancos e abalos sucessivos, isto é por meio de
revoluções científicas.

Kuhn rejeita a ideia defendida por Popper de que a ciência evolui em


relaçaõ à verdade.
Encontra longos períodos de estabilidade, períodos em que os cientistas
desenvolvem o seu trabalho e obtêm resultados que vão ao encontro
da suas expectativas e curtos períodos de instabilidade, períodos
revolucionárias, de transição radical de ideias e pressupostos.

Kuhn percebe que a aceitação das grandes teorias científicas se faz à


custa de tensões e implica a mudança de conceitos fundamentais no
interior da comunidade científica, para além de acarretar alterações
profundas na maneira de pensar das pessoas.

 Considera que o progresso da ciência depende essencialmente


do trabalho dos cientistas.
 Para o compreendermos é necessário ter em conta o contexto
histórico e sociológico:

Histórico pois a análise do problema da evolução da ciência é histórico,


pois valoriza o contributo da historia da ciência.

Sociológico, pois procura compreender o contexto em que a ciência se


faz, ou seja, como os cientistas pensam, técnicas e metodologias…
 Apenas se faz ciência na comunidade científica.

A construção das teorias científicas está sempre dependente de um


paradigma, isto é, de um modo de perceber, abordar e resolver
problemas que se institui no interior da comunidade científica.

Paradigma científico: matriz disciplinar, ou uma visão do mundo que os


membros de uma comunidade científica partilham e que fornece
princípios teóricos e práticos para se fazer ciência numa determinada
domínio de investigação durante um certo período.
 Funciona como um modelo de referência reconhecido por todos
os cientistas, a partir do qual desenvolvem o seu trabalho.
É constituído pelas teorias fundamentais que a comunidade científica
aceita, incluindo instrumentos, valores, objetivos….

É ele que fornece as regras, objetivos, métodos, princípios, problemas e


soluções modelares para uma comunidade científica.

 É dentro do paradigma que se faz ciência e é dentro dele que a


atividade cientifica se organiza.
 Sem paradigma não haveria ciência.

Nota:

Aquilo que distingue ciência de não ciência - critério de demarcação –


não é, como pensam os indutivistas, o facto de as teorias científicas
poderem ser verificadas ou, como pensa Popper, o facto de poderem
ser falsificadas, mas o facto de existir ou não, num determinado campo
de investigação, um paradigma aceite pela generalidade dos seus
praticantes.
Como se chega ao paradigma?
1. Pré-ciência: (ausência de paradigma)

Ainda não há ciência propriedade dita, investigadores de diferentes


grupos com diferentes visões. Exploram possíveis explicações para
determinados fenómenos, não havendo uma solução suficientemente
forte que permita a definição de um conjunto consensual de conceitos
fundamentais
Não existe então um modelo (paradigma) capaz de fornecer o quadro
de referência teórico e prático necessário ao desenvolvimento de um
campo da ciência.
Ex:

As diferentes perspetivas que, no século XVIII, se apresentaram para


explicar a natureza dos fenómenos elétricos.

2. Ciência normal: (sob um paradigma)

Após o paradigma, o trabalho dos cientistas traduz-se numa atividade


de resolução de problemas de acordo com esse mesmo paradigma,
concentrando-se na obtenção de soluções para os factos e problemas.

Trata-se de uma investigação orientada pelo paradigma em vigor (em


relação ao qual existe consenso na comunidade cientifica), e de um
trabalho de consolidação desse paradigma, e de alargamento do seu
âmbito e alcance, sem o pôr em causa, aplicando na resolução de
problemas previstos.

 Consiste na resolução de problemas (puzzles) de acordo com a


aplicação de princípios, regras e conceitos do paradigma
vigente.
Kuhn considera que, contrariamente ao que Popper dizia, admite que
os cientistas durante o período de ciência normal, não procuram
falsificar teorias ou hipóteses, nem detetar erros ou falhas, manifestando
antes uma atitude dogmática e acrítica em relação ao paradigma que
os orienta e que eles procuram manter e defender.
 O paradigma adotado dita as regras do que será considerado
científico.
Nesta fase, desenvolve-se um estudo cada vez mais específico e
aprofundado dos fenómenos. O conhecimento científico vai-se
acumulando e reforçando.

Neste sentido, nesta fase, o desenvolvimento ou progresso da ciência é


comutativo, uma vez que a resolução de enigmas permite ampliar a
aplicação do paradigma e acrescentar novos conhecimentos ao
conhecimento já existente.
Mas, por vezes, existem dados observados ou resultados experimentais
que não são explicáveis à luz do paradigma vigente (anomalias), ou
que não parecem confirmar a teoria dominante.

3. Crise científica: (por acumulação de anomalias persistentes)


Anomalias: problemas ou enigmas que os cientistas não conseguem
resolver a partir dos pressupostos teóricos fundamentais de um
paradigma, dentro do qual era suposto serem resolvidos.
Os cientistas, no entanto, não abandonam o paradigma imediatamente
após surgir uma anomalia.

A atitude da comunidade científica é de conservadorismo e de


resistência à mudança: a maioria dos cientistas tudo faz para resolver as
anomalias inesperadas. Antes de avançarem para uma rutura com o
paradigma, os cientistas procuram uma maneira de assimilar o novo
facto (problema).

Quando já não é possível responder às exigências dos factos e há uma


acumulação de anomalias persistentes, é que a ciência entra em crise,
vivendo um período de insatisfação, desorientação e instabilidade, num
clima de desconfiança e insegurança face às fragilidades detetadas no
velho paradigma.
 Da crise pode resultar o aprofundamento do paradigma ou a sua
deteorização definitiva.

A crise instalada leva à ciência extraordinária ou revolucionária.

4. Ciência extraordinária: (divergências na comunidade científica)


A comunidade científica vê-se envolvida em desacordos, divergências
e no debate sobre quais as melhores teorias, que novos conceitos e
princípios devem ou não ser adotados, procurando definir os alicerces
de um novo paradigma, que permita explicar aquilo que não é
explicável à luz do paradigma anterior.
 Fase de questionamento dos pressupostos e fundamentos do
paradigma vigente. Gera-se o debate sobre a manutenção do
paradigma (velho) ou a escolha de um novo paradigma.
Para resolver o paradigma, temos que encontrar solução dentro do
paradigma, mas nem sempre isso é possível.

Existem grupos conservadores que persistem na defesa de velho


paradigma e os inovadores e revolucionários que argumentam a favor
de um novo paradigma.

Findo o debate, e existindo condições para tal, opera-se a revolução


científica.

5. Revolução científica: (mudança de paradigma)


Os episódios revolucionários são muito raros no desenvolvimento da
ciência, pois já passamos por uma evolução muito grande.

A revolução científica impõe uma mudança de paradigma.


Logo que o consenso em torno do novo paradigma se estabeleça, tem
início um novo período de ciência normal.
Contrariamente ao período de ciência normal, a mudança de um velho
paradigma para um outro não é um processo cumulativo mas antes um
processo revolucionário, que acarreta uma alteração profunda na
forma como os cientistas olham para a realidade, concebem os
problemas e os resolvem.
 As revoluções científicas são episódios de desenvolvimento não-
cumulativo.
Esta mudança radical, profunda e abrupta leva Kuhn a defender a tese:

Incomensurabilidade dos paradigmas:


 Não sendo cumulativa, a mudança de paradigma significa
apenas um modo diferente de entender o real.

Perspetiva segundo a qual não existem, entre os paradigmas, pontos


comuns a partir dos quais eles possam ser objetivamente comparados.

Não podemos avaliar ou comparar objetivamente, isto é, pelo mesmo


parâmetro ou por critérios neutros e independentes, aquilo que dois
paradigmas diferentes defendem, pis eles correspondem a formas
totalmente distintas de explicar e prever os fenómenos.
 Não é possível, então, afirmar a superioridade de um paradigma
relativamente a outro. A verdade das teorias científicas depende
do paradigma no qual elas se inserem e aquilo que é verdadeiro
num paradigma pode não ser no outro.
 No novo paradigma impõem-se novos métodos, problemas,
soluções e diferentes significados para termos científicos.
 A verdade é sempre relativa ao paradigma vigente; só pode ser
entendida dentro dos limites que ele impõe.
 Os paradigmas que se confrontam possuem diferentes visões do
mundo.
 Cientistas que defendem paradigmas rivais usam diferentes
critérios e definições científicas.
 Os defensores de cada um dos paradigmas atribuem importância
diferente a diversos aspetos dos fenómenos.

 Os paradigmas não são comparáveis, e não há um melhor que o


outro, depende apenas do contexto.

Ex:
Os próprios conceitos que vigoram no interior dos paradigmas não são
os mesmos ou não têm o mesmo significado.

Os conceitos de “terra” e “movimento” do modelo geocêntrico não são


os mesmos do modelo heliocêntrico. Na verdade, não podemos dizer
que uns estão corretos e outros não, apenas que não existem critérios
objetivos que permitam uma avaliação dos mesmos.

Ao contrário de Popper, Kuhn não entende a evolução da ciência


como um processo de contínua aproximação à verdade, mas como um
processo descontínuo, sem um fim predeterminado.

 A mudança para um novo paradigma apresenta um certo


progresso para os membros da comunidade científica, mas a
ciência não tem de progredir em direção a uma meta ou um fim
preestabelecido.
 Recusa a ideia de que a ciência progride em direção á verdade.

O paradigma em vigor não está mais próximo da verdade do que o


paradigma que o substituiu.
 Não nos aproximamos da verdade uma vez que os paradigmas
têm verdade própria.
Críticas a Kuhn:
 A tese da incomensurabilidade é desajustada e pouco plausível:
Muitas teorias científicas são melhores do que as que as antecederam,
no sentido em que resolvem as anomalias que as outras não resolviam e
permitem fazer previsões mais rigorosas.

Em pelo menos alguns aspetos, os paradigmas são comparáveis, caso


contrário, a resolução das anomalias que estão na origem das
revoluções científicas não seria possível.

 Posição relativista da ciência:

Ao conceber os paradigmas como formas diferentes de perceber a


realidade marcadas por fatores de ordem psicológica, ideológica. Kuhn
acaba por colocar as explicações que a ciência fornece num plano
idêntico ao de outras explicações, como os mitos ou as lendas, por
exemplo.

 A conversão a um novo paradigma implica a irracionalidade na


atividade científica:

Kuhn comparava, por vezes, a adesão da comunidade científica a um


paradigma, em detrimento de outro, a uma conversão religiosa, como
se se tratasse de uma questão de fé. Tal facto traduz a ideia de que a
atividade cientifica é irracional, o que entra em contradição com a
ideia que temos da ciência e põe em causa o seu valor enquanto
conhecimento fiável e rigoroso.

Perspetiva de Kuhn sobre a objetividade da ciência


A ciência é objetiva?

A verdade e a objetividade são relativas ao paradigma em que se


inserem: o que é verdadeiro num paradigma pode não ser verdadeiro
noutro paradigma.
Face à necessidade de escolher entre dois paradigmas rivais, o que
fazem, então, os cientistas?
A avaliação e a escolha das teorias científicas obedecem a
determinados critérios partilhados na comunidade cientifica.

Exemplos dos critérios:


 Exatidão: Refere-se às previsões que a teoria permite fazer;
 Consistência: coerência interna da teoria e compatibilidade com
outras teorias ceitas dentro do paradigma vigente;
 Alcance: abrangência da teoria, quantos fenómenos é capaz de
explicar. Devem ir além do observado-
 Simplicidade: refere-se à quantidade de leis que ela necessita
para explicar os fenómenos. Uma teoria mais simples e elegante é
preferível a outras mais complexas. Devem unificar os fenómenos.
Uma teoria é tanto melhor quanto maior for a sua capacidade de
recorrer a meios simples para a explicarão dos fenómenos.
 Fecundidade: ela deve desvendar novos fenómenos ou relações
anteriormente não verificadas entre fenómenos já conhecidos.

Apesar de os critérios objetivos servirem a comunidade científica, em


situações de escolha, os cientistas não são imunes à influência de outro
tipo de fatores: “fatores idiossincráticos”. Dependentes de aspetos
biográficos e da personalidade dos cientistas.
Interferem então fatores objetivos e subjetivos, que são individuais e
relativos ao que o cientista sente e pensa.

Exemplos de fatores subjetivos: prestígio pessoal, experiência anterior,


personalidade, crenças, valores e preferências, apoios fora da
comunidade científica.

Aquilo que faz com que determinado paradigma seja aceite pela
comunidade científica é, muitas vezes, a qualidade da argumentação
utilizada pelos seus defensores (subjetividade).

A ciência não é, então totalmente objetiva!


Ver página 143.

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