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O problema da demarcação - teorias científicas e não científicas

O problema da demarcação é um dos problemas filosóficos centrais da filosofia da


ciência. Trata-se de saber o que distingue a ciência do que não é ciência, ou o que separa o
conhecimento científico de outras formas de saber.
As teorias científicas são enunciados ou hipóteses explicativas sobre os fenómenos.
Para além de serem sistemáticas, também são explicativas. O facto de as teorias científicas
serem sistemáticas e explicativas é condição necessária para as podermos considerar
científicas, mas não é suficiente para garantir a sua cientificidade. Com isto, uma teoria
pode ser sistemática e explicativa e não ser científica.

O critério da verificabilidade

Segundo este critério, uma teoria é científica apenas se consistir em afirmações


empiricamente verificáveis, isto é, se apenas for possível verificar através da experiência
aquilo que ela afirma. Uma afirmação empiricamente verificável é aquela cujo valor de
verdade pode ser determinado através da observação ou da experiência.
Para que seja verificável não se exige que se possam realizar na prática as
observações necessárias para estabelecer o seu valor de verdade. Bastará que, em
princípio, este possa ser estabelecido pela observação.
EXEMPLOS DE AFIRMAÇÕES VERIFICÁVEIS:
● A Lua gira em torno da Terra.
● Existem microplantas em Marte.
EXEMPLOS DE AFIRMAÇÕES NÃO VERIFICÁVEIS:
● Certos anjos existem.
● A porta do Céu é feita de ouro.

Uma das objeções a este critério é o reconhecimento de que a maioria das teorias
científicas se expressa em enunciados universais e que esses enunciados não são
suscetíveis de verificação empírica
Esta limitação levanta problemas no processo de aprovação das teorias científicas,
já que inviabiliza a justificação completa das hipóteses e das leis científicas. Alguns filósofos
defendem que a confirmação das hipóteses científicas não exige necessariamente uma
verificação exaustiva de todos os casos observados. Sugerem que a verificação empírica
parcial é suficiente, desde que o “grau de confirmação” das teorias possa ser estabelecido e
a partir de uma base probabilística, possa ser escolhida aquela hipótese científica que
estiver em conformidade com o maior número de dados empíricos. Contudo, as hipóteses
científicas, embora não possam ser objeto de uma verificação conclusiva, podem ser
confirmadas.

Rudolf Carnap e outros filósofos consideram que o processo de confirmação das


teorias deve assentar nesta lógica probabilística que faz do maior número de dados
recolhidos pela observação a favor de uma teoria a forma mais correta de confirmar.
Contudo, de acordo com alguns críticos esta alternativa não resolve o problema da
verificação das hipóteses ou teorias científicas nem o problema da demarcação.
O critério da falsificabilidade

O filósofo Karl Popper (séc.XX) propõe este critério. É na possibilidade de falsificar


ou refutar as teorias científicas que se encontra a chave para demarcar as teorias científicas
das não científicas. De acordo com este critério, uma teoria é científica apenas se for
empiricamente falsificável, isto é, apenas se for possível falsificar pela experiência aquilo
que ela afirma. Uma teoria é empiricamente falsificável se for possível conceber uma
observação ou uma experiência capaz de a refutar. Testar uma teoria é tentar encontrar
casos que sejam incompatíveis com ela.
EXEMPLOS DE AFIRMAÇÕES FALSIFICÁVEIS:
● Todo o ferro dilata quando é aquecido
● Amanhã, nevará na Serra da Estrela
● O cometa Halley aparecerá no ano de 2061
EXEMPLOS DE AFIRMAÇÕES NÃO FALSIFICÁVEIS:
● Algum ferro dilata quando é aquecido
● Surgirá no céu uma bola de fogo
● Amanhã, ou nevará na Guarda, ou não nevará

Quanto mais conteúdo empírico uma teoria tiver, mais ousada será e maior alcance
explicativo terá.
Menos conteúdo empírico e menos grau de falsificabilidade
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Mais conteúdo empírico e maior grau de falsificabilidade

1. O ferro da Torre Eiffel dilata quando é aquecido


2. Todo o ferro dilata quando é aquecido
3. Todo o metal dilata quando é aquecido

O enunciado 3 é mais informativo do que o 1. É mais abrangente sendo falsificável


em maior grau, isto é, o 3 está mais exposto ao risco de ser refutado do que o 1.
Quanto maior for o grau de falsificabilidade de uma afirmação, mais interessante ela
será para a ciência.

Falsificabilidade: Característica que todas as teorias têm de ser para serem consideradas
científicas; têm de poder ser submetidas a testes empíricos que procuram refutá-las ou
falsificá-las.
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Uma teoria falsificável é uma teoria para a qual conseguimos, pelo menos em princípio,
fazer uma experiência cujos resultados sejam incompatíveis com o que nela se defende.

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