A ciência permitiu o ser humano de prever e controlar de forma eficaz o
comportamento da natureza, por exemplo, doenças como a tuberculose, que
antigamente geram grandes crises e elevadas taxas de mortalidade, esta mais controlada devido ao poder da ciência e dos seus recursos. De modo á ciência ser fundamental para as nossas vidas, que critério de cientificidade permite nos distinguir as ciências das não ciências? Este problema ficou conhecido como o “problema da demarcação", sendo este definido como o problema de definir uma linha que separe a ciência genuína da pseudociencia.
A perspetiva indutivista argumenta que a validade do conhecimento é através da
observação empírica e enfatiza da importância dessa observação, da indução e experimentação. O raciocínio indutivista é algo que a maior parte de nós usa diariamente, por exemplo, ao tocar num fogão quente, esperamos que nos queime, pois já passamos por isso no passado ou, porque já observamos isso a acontecer a alguém. De acordo com esta perspetiva, o cientista começa com um amplo número de observações do mundo, de forma imparcial, rigorosa e isenta de pressupostos te´ricos. A partir dessas observações, recolhe dados e fórmula uma teoria que explique esses padrões. Por exemplo, Galileu Galilei, um importante astrónomo, observou o movimento dos corpos celestes através de um telescópio contribuindo significavamente par4a o desenvolvimento da astronomia. Com isto, conseguimos concluir que de acordo com a perspetivas indutivista, a ciência começa com a observação, mas isto levanta uma importante questão: como podemos partir de enunciados singulares e inferir enunciados gerais? A conceção indutivista da ciência responde a esta questão e diz que é legível generalizar enunciados gerais a partir de enunciados singulares. Porem, para que este raciocínio indutivo funcione, é necessário respeitar as seguintes condições: o número de enunciados singulares observados deve corresponder a uma amostra ampla, já que não seria legitimo concluir enunciados gerais tendo por base apenas um enunciado singular. As observações devem repetir se numa ampla variada de circunstâncias, por exemplo, ao observamos barras de cobre verificamos que estas dilatam sempre que as aquecemos, mas para isto ser cientifico, é preciso que seja verificado que o mesmo sucedo com outros tipos de metais de diferentes tamanhos e pressões. Por último, nenhum enunciado singular aceite deve entrar em contradição com uma lei universal.
Deste modo, conseguimos resumir a perspetiva indutivista em três etapas: a
observação que constitui o ponto de partida para a investigação cientifica. A formulação de teorias cientificas onde, a partir de observações os cientistas criam um enunciado geral e a explicação, previsão e confirmação que, a partir das teorias, os cientistas deduzem e tentam encontrar confirmações á teoria. De acordo com a perspetiva indutivista, o melhor critério para distinguir as teorias (cientificas) de não cientificas é o critério da verificabilidade que estabelece que uma proposição só pode ser considerada científica se atender aos seguintes critérios: á empiricidade isto é, a proposição deve ser passível de verificação empírica, ou seja, deve ser possível confirmá-la ou refutá-la com base em observações ou experimentos, a observerbalididade onde as afirmações científicas devem estar relacionadas a eventos ou fenômenos observáveis no mundo natural e a falsibilidde que, além de ser verificável, uma proposição científica também deve ser falsificável. Portanto, a ciência deve estar aberta à possibilidade de refutação.
Apesar de bastante popular e atrativa, a perspetiva indutivista também apresenta
objeções. A objeção á 1 etapa, onde se contradiz o papel da observação. De acordo com a conceção indutivista, a observação é a base para formular teorias e leis. Esta conceção parte do pressuposto que as nossas observações não são afetadas pelo conhecimento prévio, mas contudo, não existe uma observação pura e imparcial dos factos. Outra objeção é que algumas teorias científicas referem-se a objetos que não podem ser observados, ou seja, várias teorias científicas dizem respeito a objetos, como eletrões e moléculas de ADN, que não podem ser diretamente observados logo, muitas teorias científicas não podem ser concebidas com base em simples generalizações indutivas a partir da observação. . As inferências indutivas são injustificáveis é outra objeção que foi inicialmente levantada por David Hume que acreditava ter demonstrado que não há maneira de justificar racionalmente a nossa confiança nas inferências indutivas. Por último, a lógica subjacente à verificação experimental é falaciosa onde uma vez que os enunciados gerais que correspondem às teorias científicas não podem ser objeto de uma observação direta, pois incluem um número demasiado vasto de casos, a única forma de os testar é através da dedução de previsões particulares a partir deles e, posteriormente, procurar determinar se essa previsão se confirma ou não. Por exemplo “Se é verdade que todos os metais dilatam quando aquecidos, então o próximo pedaço de metal que eu aquecer irá dilatar”. A estrutura lógica desta inferência é : sendo T a teoria a ser testada e P uma previsão deduzida a partir dela, a estrutura da inferência pode ser apresentada do seguinte modo: (1) Se T é verdadeira, então P. (2) Ora, P. (3) Logo, T é verdadeira. No entanto, esta estrutura argumentativa é inválida. A primeira premissa diz-nos apenas que a verdade de T é uma condição suficiente para P, não nos diz que é uma condição necessária. Assim sendo, P pode ocorrer por qualquer outro motivo, sem que isso implique a verdade de T logo, esta forma lógica corresponde à falácia da afirmação da consequente. Concluindo, a perspetiva indutivista da ciência, embora tenha sido uma abordagem dominante ao longo da história da filosofia da ciência, enfrenta críticas significativas que questionam a sua validade e eficácia. No entanto, mesmo com essas críticas, a perspetiva indutivista ainda mantém a sua relevância como uma parte importante do reconhecimento da ciência. Ao integrar e perceber outras perspetivas filosóficas, como o falsificacionismo de Popper podemos desenvolver uma compreensão mais sofisticada da natureza da ciência e do processo científico.