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O PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO

Formulação do problema:
O que distingue as teorias científicas das não científicas ou pseudocientíficas? Qual o critério de
cientificidade que nos permite distinguir as teorias científicas (como as da astronomia e da química),
daquelas que não são científicas (como as da astrologia ou a alquimia)

Relevância do problema da demarcação:


Reside no facto de haver na sociedade atividades que sabemos serem fraudulentas e que se pretendem
fazer passar por científicas quando, na realidade, não o são – a chamada pseudociência. Estas atividades
tiram dividendos em nome de uma suposta credibilidade científica. É com o objetivo de não sermos
enganados que existe a necessidade de um critério de demarcação que nos permita distinguir, de forma
relativamente segura, a ciência da não ciência.
Respostas ao problema da

Critério da
demarcação

verificabilidade
Critério da
falsificabilidade

Estes dois critérios de cientificidade, verificabilidade e falsificabilidade encontram-se associados a duas


perspetivas distintas do método científico: o indutivismo e o falsificacionismo, respetivamente.
Vamos estudar, portanto, essas duas perspetivas da ciência ou do método científico.

O MÉTODO CIENTÍFICO
Conjunto de procedimentos usados pelos cientistas para obter um conhecimento tão certo e seguro
quanto possível na sua área de investigação.

Formulação do problema:
• Em que consiste o método científico?
• O que caracteriza o método científico?

Respostas ao problema:
• Indutivismo -> Positivismo Lógico
• Falsificacionismo -> Karl Popper
Em que consiste o método científico de acordo com o indutivismo?
INDUTIVISMO - Perspetiva epistemológica que salienta a importância da indução para a ciência, tanto
na descoberta como na justificação de teorias.
O indutivista defende que uma teoria científica se desenvolve nos seguintes momentos fundamentais.
1. A observação é o ponto de partida da investigação científica.
2. As teorias científicas são elaboradas mediante um processo de generalização indutiva.
3. Depois da teoria ter sido elaborada faz-se o seguinte:
• Tenta-se encontrar confirmações adicionais para a teoria.
• Usa-se a teoria na procura de generalizações indutivas mais vastas.

RESPOSTA INDUTIVISTA
1. A observação é o ponto de partida da investigação científica.
A observação precede a teoria. Antes de conceber qualquer teoria, o cientista observa o mundo e
regista uma grande quantidade de factos observacionais. A sua observação deve ser totalmente pura ou
isenta. Os cientistas começam por observar os factos de forma imparcial, rigorosa e isenta de
pressupostos teóricos (ou seja, não partem de problemas, expectativas, hipóteses ou teorias).
TOMEMOS COMO EXEMPLO A SEGUINTE HIPÓTESE - “TODA A ÁGUA SOB PRESSÃO NORMAL FERVE A 100 C”.
O cientista começa por aquecer diversos recipientes com porções diferentes de água e regista a
temperatura a que cada uma dessas porções de água entrou em ebulição.

2. As teorias científicas são elaboradas mediante um processo de generalização indutiva.


A passagem da observação para a teoria dá-se mediante inferências indutivas. Da análise das
regularidades registadas nos casos particulares observados, os cientistas extraem conclusões teóricas
universais ou leis.
As proposições universais que captam leis da natureza são descobertas por indução.
EXEMPLO:
CADA UMA DAS PORÇÕES DE ÁGUA SOB PRESSÃO NORMAL QUE FORAM EXAMINADAS FERVEU AO ATINGIR 100 C. LOGO, TODA A ÁGUA
SOB PRESSÃO NORMAL FERVE A 100 C.

3. Depois da teoria ter sido elaborada faz-se o seguinte:


• tenta-se encontrar confirmações adicionais para a teoria, por meio da experimentação
(verificação experimental).
No momento 3 visa-se encontrar mais factos que confirmem a sua teoria. Com isso a teoria ficará
confirmada num grau mais elevado.
EXEMPLO:
SE TODA A ÁGUA QUE OBSERVOU ATÉ AO MOMENTO FOI FERVIDA EM RECIPIENTES DE BARRO, O CIENTISTA PODE QUERER SABER AGORA
SE A ÁGUA TAMBÉM FERVE A 100 C QUANDO É AQUECIDA NOUTROS RECIPIENTES.

• Usa-se a teoria na procura de generalizações indutivas mais vastas. Ou seja, pode apoiar-se nos
resultados alcançados, nas leis já descobertas, para fazer novas generalizações, esperando assim
descobrir leis mais abrangentes e profundas.
EXEMPLO:
O CIENTISTA, TAMBÉM POR INDUÇÃO, DESCOBRE QUE A ÁGUA FERVE A TEMPERATURAS DIFERENTES QUANDO ESTÁ SOB OUTRAS
PRESSÕES.

Em suma o indutivista vê a ciência como um corpo de conhecimento solidamente assente na


observação. Todas as teorias científicas resultam de generalizações indutivas feitas a partir da
experiência e, à medida que a ciência avança, essas generalizações vão sendo cade vez mais numerosas
e abrangentes. Tanto no contexto da descoberta como no contexto da justificação das teorias a
indução tem um papel central.

1.
Descoberta INDUÇÃO 2. hipótese
observação

3.
...Justificação INDUÇÃO 4. lei
experimentação

O critério de cientificidade:
Critério da verificabilidade – a confirmação de teorias
De acordo com a conceção indutivista da ciência, o melhor critério para distinguir teorias científicas de
teorias não científicas é o critério da verificabilidade.

O CRITÉRIO DA VERIFICABILIDADE pode ser assim enunciado: uma teoria é científica se é composta por
proposições empiricamente verificáveis, isto é, proposições cujo valor de verdade possa ser
estabelecido, provado ou verificado, através da observação.

É empiricamente verificável qualquer proposição para a qual possamos indicar condições empíricas para
determinar o seu valor de verdade, na prática ou em princípio, ainda que possa suceder que, por
limitações tecnológicas, não a consigamos verificar.
EXEMPLOS DE PROPOSIÇÕES EMPIRICAMENTE OBSERVÁVEIS
1. CERTAS ALGAS SÃO VERDES.
2. JÚPITER TEM SATÉLITES.
3. HÁ ALGAS NOUTROS PLANETAS.
• A PRIMEIRA AFIRMAÇÃO PODE SER VERIFICADA ATRAVÉS DA OBSERVAÇÃO QUOTIDIANA.
• A SEGUNDA FOI VERIFICADA POR GALILEU ATRAVÉS DAS SUAS OBSERVAÇÕES COM O TELESCÓPIO.
• O VALOR DE VERDADE DA TERCEIRA PROPOSIÇÃO AINDA NÃO FOI ESTABELECIDO PELA OBSERVAÇÃO, MAS ESTA NÃO DEIXA DE
SER VERIFICÁVEL, POIS UM DIA UMA SONDA PODE REVELAR A EXISTÊNCIA DE ALGAS NOUTROS PLANETAS.
A verificação das hipóteses científicas coloca um problema
Objeção ao critério da verificabilidade (objeção das leis da natureza)
1. As leis da natureza exprimem-se em proposições universais, como “ Todo o cobre dilata quando
é aquecido”. Proposições universais não são empiricamente verificáveis.
2. Não se pode realizar todas as observações necessárias para se verificar uma lei da natureza.
Por ex., no caso da lei da dilatação fazer isso implicaria observar como se comporta todo o cobre
do universo quando é aquecido. (Por muito cobre que tenhamos observado não podemos excluir
a possibilidade de haver um ou mais que não dilate sob a ação do calor).
CONSEQUÊNCIA
Assim, o critério da verificabilidade implica que as leis da natureza não são científicas. O que é um
absurdo, já que um dos grandes objetivos da ciência é a descoberta das leis da natureza.
Para contornar este problema, alguns filósofos consideram que apesar de ser impossível a verificação
das hipóteses (enunciados universais), esta pode ser considerada verdadeira e tomada como lei
científica se for possível a sua confirmação a partir de um número significativo de casos observados
(confirmação forte).
Mas, os falsificacionistas, como Karl Popper, rejeitam quer a verificação, quer a confirmação para
distinguir a ciência da não ciência.

OBJEÇÕES AO INDUTIVISMO
Não existe observação pura, imparcial, neutra
O indutivista diz que a investigação científica assenta na observação pura (isto é na observação que é
conduzida sem influência de quaisquer teorias.)
• Contudo a observação pura é impossível. Os cientistas são influenciados de diversas formas por
teorias (têm certas expectativas teóricas, aceitam certos pressupostos teóricos, confiam em
certas teorias). O cientista é um ser contextualizado; os seus valores, ideologias, desejos
condicionam o modo como observam os fenómenos.
• A observação científica envolve o recurso a muitos instrumentos, como termómetros,
telescópios e microscópios. Estes instrumentos são um fruto da própria investigação científica e,
portanto, quem os utiliza está a confiar nas teorias que os tornaram possíveis.
• A observação é seletiva. Os cientistas escolhem os aspetos específicos sobre os quais se
concentram e essa seleção implica já as expetativas do cientista.
A este propósito Karl Popper (1963) escreve o seguinte:

Há vinte e cinco anos tentei trazer esta questão a um grupo de estudantes de Física, em Viena,
iniciando uma conferência com as seguintes instruções: peguem no lápis e no papel; observem
cuidadosamente e anotem o que observarem! Eles perguntaram, como é óbvio, o que é que eu
queria que eles observassem. Manifestamente a instrução “Observem!” é absurda. (...) A
observação é sempre seletiva. Requer um objeto determinado, uma tarefa definida, um
interesse, um ponto de vista, um problema.
As teorias científicas referem objetos que não são observáveis. Em ciência, nem sempre se
parte da observação.
O indutivista diz que as teorias científicas são generalizações formadas a partir da observação de casos
particulares.
• Contudo, muitas teorias científicas referem objetos como neutrinos e eletrões, genes e
moléculas de ADN.
• Esses objetos não são observáveis (ou, pelo menos, não eram observáveis na altura em que
foram concebidas as teorias que os referem).
• Por isso, essas teorias não podem ter sido desenvolvidas mediante simples generalizações
indutivas baseadas na observação.
• Portanto, não é aparentemente verdadeiro que, em ciência, se parta sempre da observação do
que se pretende explicar, ao contrário do que os indutivistas defendem.

Crítica à Indução
Para a perspetiva indutivista, as teorias científicas são elaboradas mediante um processo de
generalização indutiva.
• Mas, do facto de as premissas poderem ser verdadeiras não decorre, necessariamente, que a
conclusão também o seja.
POR EX: POR MUITOS E MUITOS METAIS QUE DILATEM AO SEREM AQUECIDOS, NADA GARANTE QUE NÃO HAJA UM QUE AO SER
AQUECIDO SE CONTRAIA.

• O raciocínio indutivo apenas nos permite construir verdades prováveis. O facto de uma
hipótese ter sido confirmada por todas as experiências realizadas até ao momento não permite
concluir que, essa hipótese é, necessariamente verdadeira.
• Para David Hume o raciocínio que usamos para justificar a nossa confiança na indução é
falacioso, é circular: justificamos a confiança na indução com base no princípio da uniformidade
da natureza, ele próprio obtido por raciocínio indutivo.

RESPOSTA FALSIFICACIONISTA
Em que consiste o método científico de acordo com o falsificacionismo?

Karl Popper, ao defender uma resposta falsificacionista, sustenta que uma teoria científica se
desenvolve nos seguintes momentos fundamentais:
1. Formulação de um problema.
2. Apresentação da teoria como hipótese ou conjetura.
3. Tentativas de refutação da teoria através de testes experimentais.
Este método é conhecido como o método das conjeturas e refutações.

1.Formulação de um problema
• Uma teoria científica parte sempre de um problema. Um problema é algo que precisa de uma
explicação. Se não houver problema, a investigação nem sequer arranca.
• Ao formular o problema o cientista é influenciado por suposições e teorias que ele já aceita ou
que são aceites na sua época e que geram expectativas. O problema surge, regra geral, de
conflitos diante de expetativas e teorias existentes.
• A observação nem é o ponto de partida da ciência nem é pura – não existe uma observação
imparcial dos factos.
EXEMPLO: PROBLEMA
UM MÉDICO DO PASSADO QUER SABER COMO EVITAR QUE OS MARINHEIROS MORRAM DE ESCORBUTO NAS SUAS LONGAS VIAGENS. O
PONTO DE PARTIDA DA SUA INVESTIGAÇÃO É O PROBLEMA “QUAL É A CAUSA DO ESCORBUTO?”

2. Apresentação da teoria como hipótese ou conjetura


• As teorias são tentativas de solucionar problemas. A teoria tem o carácter de uma conjetura ou
hipótese, isto é, de um mero palpite ou suposição que talvez seja verdadeiro. São explicações
provisórias.
• As teorias não partem da observação, mas resultam do espírito inventivo dos cientistas. Tal
como a criação de uma obra de arte, a conceção de uma teoria científica não obedece a uma
“lógica” determinada. Este é o momento criativo da atividade científica, associado à intuição, à
imaginação, ao raciocínio abdutivo (raciocínio criativo) e não à indução.
EXEMPLO: CONJETURA
O MÉDICO VISITA UM PACIENTE QUE SOFRE DE ESCORBUTO E CONSTATA QUE ESTÁ MELHOR. UNS DIAS DEPOIS, INESPERADAMENTE,
RECORDA-SE DE TER REPARADO QUE ELE COMIA MUITA FRUTA, SOBRETUDO LARANJAS. ACABA POR CONCEBER ESTA CONJETURA: “O
ESCORBUTO É PROVOCADO POR UMA ALIMENTAÇÃO POBRE EM FRUTA E PODE SER EVITADO COM A INGESTÃO DE LARANJAS.”

3. Tentativas de refutação da teoria ou conjetura através de testes experimentais


• Nesta fase realizam-se testes empíricos que permitam confrontar o conteúdo da teoria ou
conjetura com os factos.
• Popper considera que os testes experimentais são tentativas de refutação (e não de verificação
ou confirmação). Tentar refutar uma conjetura é confrontá-la com potenciais casos que provem
a sua falsidade.
• Para testar as teorias, deduzem-se consequências (previsões) empíricas da teoria, ou seja, na
prática o cientista procura prever o que pode acontecer se a sua hipótese ou conjetura for
verdadeira.
• Estas previsões são submetidas a testes experimentais: se se revelarem incorretas a teoria será
refutada ou falsificada; se as previsões forem corretas, não podemos dizer que a teoria é
verdadeira. Tudo o que podemos dizer é, que até ao momento, a teoria não foi refutada. Ou
seja, a teoria é corroborada (fortalecida).
• As teorias falsificadas são aquelas que não resistem às tentativas de falsificação, já que os
fenómenos previstos não acontecem. Terão de ser substituídas por outras.
• Uma teoria corroborada é aquela que, até ao momento, resistiu às tentativas de refutação.
Todavia, nunca deixam de ser meras conjeturas, aceites apenas provisoriamente, pois testes
futuros podem vir a evidenciar a sua falsidade. Não se pode dizer que é verdadeira, mas é
verosímil. Uma teoria é tanto mais verosímil quanto está mais próxima da verdade.
EXEMPLO: TESTES EXPERIMENTAIS E TENTATIVA DE REFUTAÇÃO
CONJETURA: “O ESCORBUTO É PROVOCADO POR UMA ALIMENTAÇÃO POBRE EM FRUTA E PODE SER EVITADO COM A INGESTÃO DE
LARANJAS.”

1º DEDUZEM-SE PREVISÕES EMPÍRICAS DA CONJETURA : “SE A TRIPULAÇÃO DE UM NAVIO COMER LARANJAS COM FREQUÊNCIA,
EXISTIRÃO MUITO MENOS CASOS DE ESCORBUTO DO QUE O NORMAL”

2º CRIAM-SE CONDIÇÕES PARA OBSERVAR SE AS PREVISÕES OCORREM (EXPERIMENTAÇÃO) – INCLUEM-SE LARANJAS NA DIETA DOS
MARINHEIROS DE UMA CERTA EMBARCAÇÃO.

A previsão revelou-se correta


Teoria corroborada -> Teoria verosímil
A previsão revelou-se incorreta: a doença, o escorbuto, mantém-se
mesmo depois dos pacientes terem comido laranjas.
Teoria refutada -> Nova Teoria

Apenas neste momento a observação desempenha um papel crucial. Contrariamente ao que supõem
os defensores do indutivismo a observação surge depois da hipótese, e a sua finalidade é encontrar
contraexemplos, e não suportá-la.
Analogamente, a finalidade da experimentação é tentar mostrar que não ocorre aquilo que a hipótese
prevê, visando a sua falsificação, e não a sua verificação.

O critério de cientificidade:
O Critério da Falsificabilidade
Foi proposto pelo filósofo da ciência Karl Popper, que foi um dos críticos do positivismo lógico.
Esforçou-se, assim, por resolver o problema da demarcação tentando encontrar um critério de
cientificidade satisfatório.
Podemos formular assim a sua proposta:

O CRITÉRIO DA FALSIFICABILIDADE pode ser assim enunciado:


Uma teoria é científica somente se for empiricamente falsificável (refutável), ou seja, se e só se for
possível conceber um teste experimental que seja capaz de mostrar que a teoria é falsa.

• Se não pudermos conceber uma observação para refutar uma dada teoria, então não é
falsificável – e, portanto, não é científica.
• Teoria falsificável ≠ Teoria falsificada.

 Popper não defende que uma teoria tem de estar falsificada (refutada pela observação);
 Mas sim tem de ser falsificável, ou seja, tem de ser possível mostrar que é falsa (refutá-la pela
observação.)
Teoria falsificada: É uma teoria que se provou ser falsa. Foi sujeita a testes e não resistiu.
Teoria falsificável: É uma teoria que tem a propriedade de poder ser sujeita a testes e de ser falsa ou
não.
EXEMPLOS DE AFIRMAÇÕES NÃO FALSIFICÁVEIS E FALSIFICÁVEIS:
1. AMANHÃ VAI CHOVER OU NÃO VAI CHOVER.
A AFIRMAÇÃO É UMA SIMPLES VERDADE LÓGICA. É NECESSARIAMENTE VERDADEIRA, INDEPENDENTEMENTE DO QUE ACONTEÇA NO DIA
SEGUINTE. NÃO PODE SER VERDADEIRAMENTE POSTA À PROVA PELA EXPERIÊNCIA.

2. HÁ PEDAÇOS DE COBRE QUE DILATAM QUANDO AQUECIDOS.


A AFIRMAÇÃO NÃO É FALSIFICÁVEL. NÃO PODE SER REFUTADA SE OBSERVARMOS ALGUM COBRE QUE NÃO DILATA. NENHUMA
AFIRMAÇÃO PARTICULAR É FALSIFICÁVEL.

3. OS NATIVOS DE BALANÇA TÊM TENDÊNCIA A ADIAR DECISÕES IMPORTANTES.


A AFIRMAÇÃO TEM UMA FORMULAÇÃO IMPRECISA QUE A TORNA IMUNE À REFUTAÇÃO. NÃO É POSSÍVEL CONCEBER NENHUM TESTE
EMPÍRICO PARA A AVALIAR.

4. TODOS OS METAIS DILATAM QUANDO SÃO AQUECIDOS.


A AFIRMAÇÃO É FALSIFICÁVEL. SERÁ REFUTADA QUANDO SURGIR UMA EXCEÇÃO. TODAS AS AFIRMAÇÕES UNIVERSAIS SÃO
FALSIFICÁVEIS.

A vantagem do critério da Falsificabilidade


O critério da falsificabilidade tem, em relação ao critério da verificabilidade, a grande vantagem de não
excluir as leis da natureza. Como vimos não é possível verificar as leis da natureza, mas é possível
refutá-las.
POR EXEMPLO:
A OBSERVAÇÃO DE MUITOS CORVOS NEGROS NÃO PROVA QUE TODOS OS CORVOS SÃO NEGROS; NO ENTANTO, A OBSERVAÇÃO DE UM
ÚNICO CORVO DE OUTRA COR SERIA SUFICIENTE PARA PROVAR QUE É FALSO QUE TODOS OS CORVOS SEJAM NEGROS.

Popper propôs a falsificabilidade como critério de demarcação, porque este critério não exclui as
afirmações que captam as leis da natureza, dado que uma afirmação estritamente universal é
falsificável.

Graus de falsificabilidade
1. Amanhã ou vai chover ou não vai chover.
2. Amanhã vai chover.
3. Amanhã vai chover à tarde.
4. Amanhã vai chover entre as 3 e as 5 da tarde.
• A afirmação 1 não é falsificável.
• Todas as restantes são falsificáveis, mas cada uma delas é mais falsificável do que a anterior,
pois envolve mais riscos de se vir a revelar falsa, dado que contém mais informação ou
conteúdo empírico sobre o mundo.
• Quanto mais conteúdo empírico ela tem, maior é o seu grau de falsificabilidade.

 As teorias mais informativas ou com mais conteúdo empírico, são as que correm maiores riscos
de serem refutadas pela observação – são falsificáveis em grau elevado.
 Para Popper, não basta que uma teoria seja falsificável para ser uma teoria interessante. É
necessário que o seja em grau elevado, contendo o maior conteúdo empírico possível.
Por que é que a astrologia não é uma ciência?
Segundo Popper não é por ter falhado nas previsões que o astrólogo não merece ser considerado
cientista.
A razão é esta: as hipóteses astrológicas não são formuladas com clareza e precisão (são tão vagas,
pobres em conteúdo empírico, que permitem encontrar posteriormente alguns acontecimentos que,
eventualmente, ‘encaixem’ na previsão feita) e não indicam quais as circunstâncias em que se pode
provar que são falsas; como não se conhecem os factos capazes de as refutar, não é possível testá-las;
como não são suscetíveis de testes, as hipóteses da astrologia não são científicas.
POR EXEMPLO, SE UM ASTRÓLOGO PREVIR, PARA O PRÓXIMO ANO, QUE VÃO ACONTECER DESGRAÇAS NUM PAÍS EUROPEU, QUASE DE
CERTEZA QUE ACERTA. MAS SE ELE DISSESSE EXATAMENTE QUE DESGRAÇA SERIA E QUAL O PAÍS ONDE ELA SE IRIA VERIFICAR, ENTÃO
SERIA FACÍLIMO SABER SE A PREVISÃO ERA OU NÃO VERDADEIRA.

Resumindo, as teorias que não são falsificáveis nada dizem sobre o mundo que observamos e, portanto,
não são científicas, pois uma teoria científica tem de nos dar alguma informação empírica. E as boas
teorias científicas, além de serem falsificáveis, são-no num grau elevado, pois isso significa que são
ricas em conteúdo empírico, que contêm informação vasta e rigorosa sobre o mundo da experiência.

OBJEÇÕES À RESPOSTA FALSIFICACIONISTA


Não é razoável abandonar uma hipóteses ou teoria apenas porque foi refutada por um teste
experimental.
• Os cientistas não devem abandonar imediatamente uma teoria apenas porque ela é refutada
num teste, porque a probabilidade de a teoria falhar nos testes por motivos alheios à teoria é
muito grande (falhas nos instrumentos utilizados, fatores pessoais e sociais, etc.).

A perspetiva de Popper não corresponde ao que realmente se passa na prática


Muitos milhares de cientistas que fazem todos os dias investigação não procuram refutar teorias,
tratando antes de lhes encontrar novas aplicações. Além disso, há variadíssimos exemplos de teorias
cujas previsões não se confirmaram e que nem por isso foram abandonadas.
Tudo o que aconteceu foi os cientistas procederem apenas a alguns ajustes na teoria, conservando-a
em vez de a considerarem falsificada.
Mesmo que fosse desejável que os cientistas se comportassem como diz Popper, a história da ciência
parece mostrar que isso só raramente ocorre. Assim, a teoria de Popper não descreve a realidade,
antes se limitando a dizer como os cientistas deveriam proceder. Quer isto dizer que a sua teoria
acerca do método não é descritiva, mas antes normativa.

A perspetiva de Popper subestima a importância das confirmações no progresso científico


Segundo Popper, nunca temos uma justificação racional para aceitar que uma dada teoria científica é
verdadeira, pois, por muito que uma teoria seja corroborada pela experiência, ela nunca deixa de ser
uma conjetura que pode vir a ser refutada. No entanto, não podemos ignorar que algumas teorias
científicas possibilitaram avanços tecnológicos e permitiram controlar a natureza e prever o seu
comportamento de modo relativamente fiável, o que pode significar que temos justificação para
acreditar que elas são verdadeiras e não apenas conjeturas por refutar. E é por isso, que confiamos nas
teorias científicas. Confiar numa teoria é ter boas razões para acreditar que é verdadeira; não é apenas
aceitá-la só porque nunca foi refutada.
POR EXEMPLO, CONFIÁVAMOS NA EFICÁCIA DAS VACINAS PARA PREVENIR DOENÇAS, SE NÃO ACREDITÁSSEMOS QUE ELAS SÃO O
RESULTADO DE TEORIAS CIENTÍFICAS VERDADEIRAS, CONFIRMADAS PELA EXPERIÊNCIA?

Problema da Evolução da Ciência


Formulação do problema:
• Como progride a ciência?
• Como evolui o conhecimento científico?
• As teorias científicas atuais são melhores que as anteriores?

Respostas ao problema:
• A perspetiva de Popper - a ciência progride por aproximação à verdade.
• A perspetiva de Kuhn - a ciência progride sem um fim definido.

A perspetiva de Popper
De acordo com Popper nunca podemos garantir que uma teoria científica é verdadeira.
Mas como podemos pensar que há progresso se não temos qualquer garantia de que as teorias atuais
são verdadeiras?
Resposta de Popper:
• Não precisamos de saber que as teorias são verdadeiras para haver progresso.
• Basta que as teorias atuais sejam melhores do que anteriores.
Uma teoria é melhor do que a anterior se resistir aos testes de falsificabilidade a que a anterior não
resistiu.
• As novas teorias, ao ocuparem o lugar das velhas, preservam alguns dos seus melhores aspetos,
ao mesmo tempo que desfazem os seus defeitos.
• Mas isto é só possível porque se procuram ativamente os erros.

Analogia com a Evolução das Espécies


Podemos dizer que o crescimento do nosso conhecimento é o resultado de um processo muito
parecido com aquilo a que Darwin chamou «seleção natural», ou seja, da seleção natural de
hipóteses: o nosso conhecimento consiste, em cada momento, naquelas hipóteses que
mostraram a sua aptidão (comparativa) ao sobreviver até agora na sua luta pela existência,
uma luta competitiva que elimina as hipóteses inaptas.

- Karl Popper, Conhecimento Objetivo, 1972.

Na perspetiva de Popper, a ciência avança por um processo racional de eliminação de erros, que
consiste na substituição de más teorias por teorias cada vez melhores.
• Inspiração em Darwin: tal como na luta contra as adversidades do ambiente só os indivíduos
mais resistentes e adaptados sobrevivem, o mesmo acontece com as teorias científicas.
• A evolução científica é caraterizada como um processo de contínua aproximação da verdade.
Embora a verdade última seja inalcançável.

A perspetiva de Kuhn
Thomas Kuhn defende que a ciência não tem de progredir em direção a um fim previamente
estabelecido, rejeitando a ideia de que a ciência progride em direção à verdade.
Para Kuhn, história da ciência é uma sucessão de paradigmas.
O que é um paradigma?
Um paradigma é uma estrutura teórica que oferece uma visão do mundo e uma forma específica de
fazer ciência numa dada área.
Um paradigma estabelece:
 Pressupostos teóricos fundamentais.
 Regras para aplicar a teoria à realidade.
 Princípios metafísicos.

Como se dá a mudança de paradigma?


Segundo Kuhn, o que se passa ao longo da história da ciência é o seguinte:

1 - Período de Pré-Ciência:
• Ausência de paradigma.
• Sem paradigma não há comunidade científica (pois é o paradigma que une todos os praticantes
de uma dada área nos mesmos objetivos, valores, regras, metodologias).
• Sem paradigma não há ciência: há apenas tentativas avulsas de explicar e de resolver problemas
acerca da natureza.

2 - Período de Ciência Normal:


• Período em que se estabelece consensualmente um paradigma.
• Refere-se aos longos períodos de ciência que decorrem ao abrigo de um paradigma (como p.e. o
geocentrismo de Ptolomeu).
• A função do cientista normal é alargar o âmbito e alcance do paradigma, ao resolver enigmas
ou puzzles, sem pôr em causa paradigma.
• Há uma atitude dogmática em relação às hipóteses.
• Há um progresso cumulativo no interior do paradigma.
3 - Período de Crise Científica:
• Por vezes os cientistas descobrem que os pressupostos do paradigma não estão de acordo com
aquilo que se observa na natureza.
• Quando as tentativas de resolver um enigma fracassam, surge uma anomalia (considerada
como falha da investigação, não do paradigma). Se as anomalias forem resolvidas à luz do
paradigma, este é reforçado.
• Mas se as anomalias permanecerem sem uma solução satisfatória, começa-se a perder
confiança no paradigma.
4 - Período de Ciência extraordinária:
• Ao perder-se a confiança no paradigma, dá lugar à crise (i.e., o paradigma vigente deixa de ser o
modelo consensual de fazer ciência).
• Uma vez instalada a crise, inicia-se a ciência extraordinária.
• É um período de competição e escolha de teorias, acabando por surgir uma teoria alternativa
que proporciona um novo paradigma.
• A comunidade científica divide-se entre os conservadores (que defendem o velho paradigma) e
os revolucionários (que defendem o novo).
5 - Período de Ciência normal (novo paradigma):
• Quando os partidários do novo paradigma triunfam sobre o antigo opera-se uma revolução
científica (i.e. ocorre uma mudança de paradigma).
• As revoluções científicas não representam uma evolução, num sentido cumulativo, em direção
a uma compreensão mais profunda da realidade tal como ela objetivamente é.
• Estabelecido o consenso em torno do novo paradigma, inicia-se um novo período de ciência
normal.

Na teoria de Kuhn faz sentido falar de progresso científico?


Para Kuhn, só faz sentido falar de progresso dentro de um paradigma.
Mas não se poderá dizer que um paradigma é melhor do que outro?
• Não!
• Pois, não existe um padrão neutro que permita comparar objetivamente dois paradigmas entre
si e com a realidade no sentido de detetar qual deles é o melhor.

Esta ideia é a "Tese da Incomensurabilidade": impossibilidade de comparação de paradigmas, em


virtude de não haver entre eles pontos em comum.
• Assim, quando ocorre uma revolução científica o novo paradigma não é melhor nem pior do que
o antigo. Eles são simplesmente incomensuráveis.

Por que razão pensa Kuhn que os paradigmas são incomensuráveis?


Argumento baseado na impossibilidade de tradução entre paradigmas:
1. Se os paradigmas são comensuráveis, então não são demasiado diferentes entre si para
poderem ser comparados objetivamente.
2. Mas os paradigmas são demasiado diferentes entre si para poderem ser comparados
objetivamente.
3. Logo, os paradigmas são incomensuráveis.
Justificação de (2):
• Para Kuhn, cada paradigma tem os seus próprios conceitos, os seus próprios problemas e os
seus próprios procedimentos para observar o mundo.
• É isto que torna impossível compará-los objetivamente.

Argumento baseado na insuficiência dos critérios objetivos:


1. Se os paradigmas são comensuráveis, então é possível justificar a preferência por um
paradigma através de critérios puramente objetivos.
2. Mas não é possível justificar a preferência por um paradigma através de critérios puramente
objetivos.
3. Logo, os paradigmas são incomensuráveis.
Justificação de (2):
• A escolha de teorias/paradigmas envolve, além de fatores objetivos (como a exatidão,
consistência, simplicidade, alcance, fecundidade), também fatores subjetivos importantes.
• Os critérios de escolha de teorias/paradigmas são vagos e, portanto, a sua aplicação é muito
subjetiva.
• Assim, não é possível, por exemplo, determinar com rigor o nível de simplicidade de uma teoria.

Com base na Tese da Incomensurabilidade pode-se argumentar que não há uma aproximação à
verdade nas mudanças de paradigma:
1. Os paradigmas são incomensuráveis.
2. Se os paradigmas são incomensuráveis, então não podemos saber se as teorias científicas
atuais estão mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
3. Logo, não podemos saber se as teorias científicas atuais estão mais próximas da verdade do
que as suas antecessoras.
Assim, durante a ciência normal, o desenvolvimento da ciência é cumulativo. Mas as revoluções
científicas, que resultam na mudança de paradigma, são episódios de desenvolvimento não
cumulativo.

Dicionário de Kuhn
Pré-ciência - o que se passa antes de haver paradigma.
Ciência normal - os longos período de ciência que decorrem ao abrigo de um paradigma.
Paradigma - Matriz teórica e prática que estrutura e organiza toda a atividade científica numa dada
área disciplinar.
Crise científica - acumulação de anomalias que o paradigma é incapaz de resolver satisfatoriamente.
Ciência extraordinária - período de grande discussão científica que surge na sequência de uma crise e
que termina com uma revolução científica.
Revolução científica - abandono e substituição de um velho paradigma por um novo paradigma.
Incomensurabilidade - impossibilidade de comparação de paradigmas, em virtude de não haver entre
eles pontos em comum.

Problema da Objetividade da Ciência


Formulação do problema:
• A ciência é objetiva?
Para que a ciência seja objetiva exige-se que a avaliação e escolha de teorias seja feita com base em
critérios imparciais, i.e., em critérios que não sejam baseados em razões ou preferências de caráter
pessoal.

Respostas ao problema:
• Popper sobre a objetividade: a ciência é objetiva.
• Kuhn sobre a objetividade: a ciência não é totalmente objetiva.

Popper sobre a objetividade


Popper defende uma perspetiva racionalista da ciência, considerando que esta proporciona
conhecimento objetivo.
Mas se para Popper as teorias científicas são sempre provisórias, como pode a ciência ser objetiva?
A ciência é objetiva porque:
• A teoria é avaliada por meio de testes cada vez mais severos de falsificação.
• Neste caso, uma teoria só se mantém como científica se passar testes rigorosos e objetivos, os
quais podem ser levados a cabo por qualquer cientista, independentemente das suas convicções
pessoais.
• Neste processo não intervém qualquer aspeto subjetivo.
O conhecimento científico é objetivo porque a sua lógica de justificação é independente de quaisquer
sujeitos, dado que nenhum elementos subjetivo intervém no modo como ele é testado.

Kuhn sobre a objetividade


Tese de Kuhn: Se a escolha entre teorias propostas por paradigmas que competem entre si depende
em grande parte de critérios subjetivos, então a ciência não é totalmente objetiva.
Kuhn reconhece que há critério objetivos, mas são insuficientes, tais como:
1. Exatidão: quanto mais exatas forem as previsões, melhor é a teoria.
2. Consistência: quanto mais uma teoria estiver de acordo com outras amplamente aceites,
melhor é.
3. Simplicidade: quanto mais simples for uma teoria, melhor ela é.
4. Alcance: quanto mais coisas uma teoria conseguir explicar, melhor é.
5. Fecundidade: quanto maior for a capacidade para conduzir a novas descobertas científicas,
melhor é a teoria.
Apesar de tais critérios serem partilhados pelos cientistas, frequentemente estes divergem na sua
aplicação.

Kuhn reconhece que há critério objetivos, mas são insuficientes.


Apesar de tais critérios serem partilhados pelos cientistas, frequentemente estes divergem na sua
aplicação. Porquê?
• Pois uns cientistas podem dar mais importância a um critério, ao passo que outros valorizam
mais um critério diferente.
• Dada que os critérios não estabelecem com rigor qual o grau de simplicidade, de fecundidade,
etc., são de algum modo vagos.
• Assim, diferentes cientistas podem interpretá-los de modo diferente e chegar a conclusões
diferentes.
Assim, para Kuhn, a ciência não é totalmente objetiva. Pois, há outros fatores subjetivos (históricos,
pessoais e sociais) que a influenciam.

Críticas à teoria de Kuhn


A ideia de que os paradigmas são incomensuráveis é implausível.
• Essa ideia é contrariada pela própria história da ciência.
POR EXEMPLO, A TEORIA HELIOCÊNTRICA FOI INICIALMENTE PROPOSTA POR COPÉRNICO PORQUE PERMITIA EXPLICAR
PRECISAMENTE OS MESMOS FENÓMENOS OBSERVADOS (MOVIMENTO APARENTE DE CERTOS PLANETAS, ECLIPSES, ESTAÇÕES
DO ANO, FASES DA LUA, ETC.) À LUZ DA TEORIA GEOCÊNTRICA, MAS DE MODO MAIS SIMPLES, EXATO E EFICAZ.

• Foi essa vantagem comparativa que levou Copérnico a abandonar a teoria geocêntrica.
De um modo geral, as teorias científicas atuais permitem fazer previsões mais rigorosas e exatas do
que as teorias do passado.

A objeção pode ser formulada nos seguintes termos:


1. Se um paradigma resolve as anomalias de outro, então é falso que os paradigmas são
incomensuráveis.
2. Frequentemente um paradigma resolve as anomalias do seu antecessor.
3. Logo, é falso que os paradigmas são incomensuráveis.
Kuhn propõe uma conceção relativista da ciência, colocando-a a par de outro tipo de explicações,
como os mitos e lendas (que também oferecem respostas satisfatórias àqueles que a eles aderem).
• Se tudo não passar de conceções do mundo inconciliáveis às quais se adere pelas mais variadas
razões (incluindo motivações psicológica, ideológicas, religiosas ou políticas), então elas não são
diretamente confrontadas com o mundo, sendo antes construções sociais tão justificáveis como
os mitos e lendas.
• Nesse caso, não se entende como pode a ciência ter o prestígio que tem e nem se entende o
crescente sucesso da ciência.

Esta última objeção pode ser formulada nos seguintes termos:


1. Se os paradigmas são incomensuráveis, então não podemos dizer que as teorias científicas
atuais estão mais próximas da verdade do que as suas antecessoras.
2. Mas uma vez que as teorias científicas atuais têm uma maior capacidade de prever o
comportamento da Natureza do que as suas antecessoras, podemos considerar que estão mais
próximas da verdade do que as suas antecessoras.
3. Logo, os paradigmas não são incomensuráveis.

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