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As Teorias Científicas são objetivamente verdadeiras

A Filosofia da Ciência é uma disciplina que investiga as bases teóricas, os


métodos e os pressupostos da ciência. Ela busca compreender os princípios que guiam
a atividade científica, analisando suas fundamentações lógicas, epistemológicas e
ontológicas.

A filosofia da Ciência aborda diferentes problemas tais como:


1. O problema da demarcação – o que distingue as teorias científicas 
das teorias não científicas?
2. O problema da evolução da ciência – há progresso científico?
3. O problema da objetividade da ciência – será a ciência objetiva?

 Para responder ao problema da demarcação, será analisado


o verificacionismo, associado a uma conceção indutivista do método
científico e ao falsificacionismo de Karl Popper. 
 Como resposta ao problema da evolução e da objetividade da ciência,
comparamos a perspetiva acerca do desenvolvimento científico de Thomas
Kuhn com a proposta metodológica de Popper.

Método científico segundo a perspetiva indutivista

O método indutivo é uma forma de raciocínio lógico que parte de observações particulares
ou exemplos específicos e, a partir deles, busca estabelecer generalizações ou princípios
gerais. Ele é baseado na ideia de que se um número suficiente de exemplos observados
possui uma certa característica, é porque todos os casos semelhantes também possuíam.

O método indutivo envolve os seguintes passos básicos:

1. Observação: Realizar observações ou coleta de dados sobre casos particulares ou


exemplos específicos.
2. Identificação de padrões: Identificar padrões, semelhanças ou regularidades nos
dados observados.
3. Formulação de uma hipótese geral: Com base nos padrões identificados, formular
uma hipótese geral que descreva uma tendência ou característica comum a todos
os casos observados.
4. Generalização: Estender a hipótese geral para além dos casos observados e afirmar
que ela se aplica a todos os casos semelhantes.
5. Previsão: Usar a hipótese generalizada para fazer previsões sobre casos futuros que
ainda não foram observados.
6. Verificação: Testar a hipótese por meio de novas observações ou experimentos para
verificar se as previsões se confirmam ou refutam.
O método indutivo é comumente usado em várias disciplinas, incluindo ciências naturais,
ciências sociais e até mesmo em nosso pensamento cotidiano. No entanto, é importante
ressaltar que o pensamento indutivo tem suas limitações. A conclusão geral alcançada por
meio do método indutivo não possui um grau absoluto de certeza, pois sempre há a
possibilidade de casos futuros contradizerem a generalização feita. Portanto, a indução não
fornece um conhecimento definitivo, mas sim uma inferência provável ou plausível.

Objeções ao indutivismo

 A observação não é o ponto de partida para a investigação científica A


observação não é imparcial ·
 Não há observação pura - o cientista já observa com expectativas e teorias ·
 O ponto de partida da investigação não é a observação mas o problema que
surge do confronto entre a observação e as expectativas ou teorias que se tem
Algumas teorias científicas referem-se a aspetos inobserváveis ·
 Em muitos casos as teorias não podem ser induzidas a partir de observações As
inferências dedutivas são racionalmente injustificáveis – problema da indução
 Não são dedutivamente demonstradas ·
 Não podemos recorrer à indução para justificar a indução

O FALSIFICACIONISMO DE POPPER – MÉTODO DAS CONJETURAS E


REFUTAÇÕES

O falsificacionismo de Popper, também conhecido como método das conjecturas e


refutações, é uma abordagem filosófica proposta por Karl Popper. Segundo essa
abordagem, a validade científica não pode ser estabelecida pela confirmação, mas sim
pela refutação das teorias. Popper defende que as teorias científicas devem ser
falsificáveis, ou seja, passíveis de serem refutadas por observações ou experimentos. Ele
argumenta que a ciência avança quando os cientistas buscam ativamente refutar suas
teorias. Popper também diferencia ciência de pseudociência com base na
falsificabilidade das teorias. No entanto, ele reconhece a importância das evidências na
ciência, enfatizando que a validade científica não é alcançada apenas pela confirmação,
mas sim pela capacidade de resistir à refutação.

1ª etapa: o problema – o ponto de partida para a


investigação científica não é a observação pura e
imparcial dos factos, mas sim um problema levantado por
uma observação, que entra em confronto com as teorias
e expectativas prévias de que já dispomos.
2ª etapa: a conjetura – perante o problema, o
investigador conjetura uma possível explicação (hipótese
ou teoria) para os factos observados, baseado na sua
experiência passada.
3ª etapa:  a refutação – resta ao cientista testar a sua
hipótese, recorrendo aos testes experimentais, não para
confirmar uma hipótese, mas para tentar provar a sua
falsidade, ou seja, para tentar refutá-la.

Objeções ao falsificacionismo de popper

Nem todas as teorias científicas podem ser falsificadas, pois algumas


se referem a objetos não diretamente observáveis. Isso significa que
pode não ser possível manifesta um teste experimental ou observação
direta que prova a falsidade da teoria. O falsificacionismo, que propõe
uma falsificação como justificável de demarcação entre ciência e não
ciência, não está de acordo com a prática científica. Na realidade, os
cientistas trabalham com o objetivo de confirmar suas teorias, em vez
de refutá-las. Portanto, encontrar um caso que contradiz a teoria não
necessariamente a falsifica. Isso torna a falsificação quase uma
perturbação da natureza da atividade científica, já que não se ajusta
bem à história real da ciência. Além disso, uma falsificação inconclusiva
pode ocorrer,
O falsificacionismo subestima a importância das confirmações no progresso científico.
Algumas teorias científicas possibilitaram grandes avanços tecnológicos, permitindo o
controle da natureza e a previsão confiável de seu comportamento. Isso sugere que
temos motivos para acreditar que essas teorias são verdadeiras, em vez de meras
conjecturas a serem refutadas.
A RACIONALIDADE CIENTÍFICA E A QUESTÃO DA OBJETIVIDADE – O PROBLEMA DA
EVOLUÇÃO E DA OBJETIVIDADE DA CIÊNCIA

Popper argumenta que a ciência progride através do processo de afastamento


progressivo do erro e aproximação da verdade. Uma teoria científica é
considerada um avanço em relação às suas predecessoras se ela puder explicar
um maior número de fenômenos naturais e ao mesmo tempo implicar um
menor número de falsidades, ou seja, se por mais plausível.

Segundo Popper, a ciência é objetiva, pois quando falsificamos uma conjectura,


ampliamos nossa compreensão do que a realidade objetivamente não é e nos
aproximamos da maneira como ela objetivamente é.

Por outro lado, Kuhn argumenta que a ciência não é completamente objetiva,
uma vez que ela é influenciada não apenas por fatores objetivos, mas também
por fatores subjetivos inerentes aos próprios cidadãos. Isso impede que a
escolha entre paradigmas científicos seja suficientemente objetiva.

Segundo Kuhn, o desenvolvimento da ciência ocorre por meio de uma sucessão


descontínua e não cumulativa de períodos de relativa estabilidade interrompida
por processos revolucionários.

Os principais aspectos dessa concepção do desenvolvimento científico são os


seguintes:

Na pré-ciência, várias escolas e perspectivas diferentes coexistem, gerando


desencontros e conflitos no campo de investigação. Essa fase antecede o
reconhecimento do campo como uma ciência, e a herança para essa transição é a
emergência de um paradigma, que estabelece uma teoria amplamente aceita e com
poder explicativo para unificar os investigadores e criar uma base comum de trabalho.

Um paradigma é uma teoria que é amplamente aceita pela comunidade científica e


tem um poder explicativo significativo. Ele é capaz de superar os profundos desacordos
entre os pesquisadores e escolas de pensamento, favorecendo a formação de uma
comunidade científica coesa. Um paradigma inclui orientações teóricas fundamentais,
exemplos de aplicações práticas, princípios metafísicos, instruções técnicas e
metodológicas, e orientações gerais que guiam a pesquisa dentro desse campo
científico específico.

Após o estabelecimento de um paradigma, inicia-se uma fase chamada "ciência


normal" ou "ciência paradigmática". Durante esse período, os cientistas se dedicaram a
consolidar e aprofundar o paradigma estabelecido. Isso implica em seguir as diretrizes,
metodologias e princípios adotados pelo paradigma, realizando pesquisas dentro
desse quadro teórico e aplicando suas instruções técnicas. A ciência normal busca
desenvolver o conhecimento dentro dos limites e orçamentos do paradigma,
promovendo a estabilidade e o progresso contínuo dentro da comunidade científica.

A PERSPETIVA DE KUHN: A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

De acordo com Kuhn, o desenvolvimento científico ocorre em uma sequência


descontínua e não cumulativa, composta por períodos de estabilidade relativa
seguidos por processos revolucionários. Os principais aspectos dessa
concepção do desenvolvimento científico são os seguintes:

1. Crise: Um período de crise ocorre quando ocorrem eventos que o


paradigma vigente não consegue explicar. Isso leva a uma "anomalia", ou
seja, algo que é incompatível com a visão estabelecida sobre o
funcionamento da natureza, representando uma ameaça ameaçada a
todo o trabalho científico realizado até então.
2. A fase de "ciência extraordinária" ocorre quando o paradigma cientificamente
existente não consegue se adaptar para resolver as anomalias e a confiança
nele é seriamente abalada. Nesse período, os acordos intersubjetivos entre os
cientistas desapareceram e a comunidade científica se dividem em duas
facções: os conservadores, que defendem a manutenção do paradigma
existente, e os revolucionários, que buscam uma nova abordagem para superar
as anormais.

3.
Durante uma fase de ciência extraordinária, ocorre uma busca por novos
paradigmas que possam solucionar as anomalias existentes. Uma proposta de novo
paradigma será apresentada e ganhará consenso na comunidade científica. Esse
processo de transição de um paradigma antigo para um novo é chamado de
"revolução científica". No entanto, essas revoluções científicas não representam
uma evolução cumulativa em direção a uma compreensão mais profunda e objetiva
da realidade.
A definição do problema da objetividade das teorias científicas
O problema da objetividade da ciência consiste em saber se o
desenvolvimento científico nos fornece uma imagem cada vez mais
aproximada e mais completa da realidade tal como ela e em si mesma. Este
problema pode ser formulado da seguinte forma: A ciência é um conhecimento
verdadeiro?
Quando pensamos em conhecimento científico pensamos em rigor,
eficácia, verdade e, acima de tudo, cientistas neutros e imparciais que
trabalham com leis e regras metodológicas rigorosas de modo objetivo. A
tendência para usar o conceito de objetividade para separar o conhecimento da
ciência empíricas do conhecimento obtido em ciências humanas é comum.
Todavia, Kuhn e outros teóricos da ciência têm vindo a mostrar que a ciência
não é tão objetiva quanto se pensava, pelo menos não no sentido forte que
Popper defende – que nunca nenhum traço extra-epistémico poderá decidir a
escolha de uma teoria científica.

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