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No nosso dia a dia, estamos habituados a ver selos com uma frase que nos traz

segurança e confere credibilidade “Provado cientificamente”, isto pois valorizamos a


ciência crendo que esta é segura. A ciência é confiada pelas pessoas, pois
acreditamos que esta trabalha para o nosso bem e esperamos explicações para quase
tudo, desde os fenómenos e problemas mais simples aos mais elaborados. Mas será
que é bem assim?
A ciência evoluiu positivamente em muitas áreas como: na tecnologia que tanto
usamos todos os dias e na medicina, por ex as vacinas e antibióticos que nos ajudam
quando estamos doentes.
Contudo, não podemos ser ingénuos ao ponto de pensar que tudo o que a ciência diz
ou faz é para o nosso bem. O conhecimento científico traduz-se em poder, os países
mais desenvolvidos cientificamente são os mais poderosos, e este pode ser usado
para o bem e para o mal, como por exemplo a criação de bombas, que nos faz
questionar à cerca do valor, dos riscos e dos limites da ciência.
Devido a isto, criou se a filosofia das ciências ou a epistemologia que se vai debruçar
sobre os problemas do conhecimento científico e consequentemente obter respostas
para estes.
Muitas vezes a realidade pode ser explorada e compreendida de diferentes maneiras,
a maneira mais básica é comum em todos os seres humanos e designa-se por senso
comum ou conhecimento de vulgar.
Este é o que todas as pessoas adquirem na vida quotidiana, estamos mergulhados
neste conhecimento, baseado na experiência pessoal, nos testemunhos dos outros e
na popularização dos conhecimentos científicos: observa-se, comparam-se
observações, e delas elaboram-se intelectualmente os resultados sem cuidado
particular na sua formulação.

Em geral, resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação


metódica nem verificação sistemática de apreensão espontânea e imediata, por isso
carece de carácter científico. Pode também resultar de simples transmissão de
geração para geração.

De um modo geral, este tipo de conhecimento limita-se a constatar e a registar a


frequência de certos fenómenos, aceitando o que existe tal como existe, sem procurar
a explicação, confundindo simples relações de simultaneidade com relações de
causalidade.

Definido como o conjunto de crenças e opiniões subjetivas, suposições,


pressentimentos, preconceitos e ideias feitas cuja superficialidade é uma característica
pois está muito ligado à prática e ao imediato, não consegue atingir a universalidade
que iremos encontrar no conhecimento científico.

Dizemos que este é o conhecimento mais básico pois dá-nos respostas para diversas
situações da nossa vida e serve como base de construção para conhecimentos mais
elaborados e aprofundados, como o conhecimento científico.
Já o conhecimento científico resulta de investigação metódica, sistemática da
realidade, ou seja, é obtido através dos processos rigorosos de análise/observação,
reflexão e experimentação. Ele transcende os factos em si mesmos, analisa-os para
descobrir as suas causas e concluir as leis gerais que os regem.

Como o objeto da Ciência é o universo material, físico, naturalmente percetível pelos


órgãos dos sentidos ou mediante a ajuda de instrumentos de investigação, o
conhecimento científico é verificável na prática, por demonstração ou experimentação.

Além disso, tendo o firme propósito de desvendar os segredos da realidade, ele


explica e demonstra os fenómenos com clareza e precisão, descobre as suas relações
de predomínio, igualdade com outros factos ou fenómenos. De tudo isso conclui leis
gerais, universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie.

A linguagem utilizada para formular este conhecimento é precisa, com recurso a


termos específicos e, por vezes, a expressões matemáticas, de modo a eliminar as
ambiguidades (incertezas ou duvidas) da linguagem corrente.

Ora, como sabemos uma das caraterísticas do conhecimento científico é o seu caráter
metódico, caraterística esta que o distingue do conhecimento vulgar. Qual será então
a especificidade metodológica da ciência?
Há dois grandes modelos metodológicos: o indutivo e o hipotético-dedutivo.
O método indutivo, apoiado por Francis Bacon, Stuart Mill e David Hume, é a
perspetiva epistemológica que salienta a importãncia da indução para a ciência, sendo
o raciocínio indutivo a chave para a descoberta e justificação das teorias científicas.
Segundo este método, a ciência parte dos factos e da sua observação, sendo esta
objetiva, imparcial e rigorosa que permite encontrar padrões de comportamento,
relações de semelhança e de coexistência, e estabelecer enunciados observacionais;
Estes referem-se sempre a casos particulares: observando-se este ou aquele
particular fenómeno; constata-se, por exemplo, que o ferro é bom condutor de calor e
que o mesmo acontece com cobre ou com o estanho.
Por sua vez, a observação dos factos suscita uma hipótese, isto é, uma explicação
provisória para o problema que se está a investigar, estando sujeita a verificação, ou
seja, supõe análise e interpretação dos factos observados: todos os metais são bons
condutores de calor.

A hipótese tem de ser submetida à experimentação; esta já é uma observação


provocada em situação artificial, com a manipulação das diferentes variáveis por parte
do experimentador: verifica-se se a propriedade de boa condutibilidade ocorre com
outros metais, para alem dos inicialmente observados.

Se na fase de experimentação a hipótese for verificada e confirmada, então pode


formular-se uma lei científica: “os metais são bons condutores de calor”. Através da
generalização, típica do raciocínio indutivo, a lei que explica os dados observados
passa a ser considerada uma lei universal, aplicável a todos os fenómenos deste tipo
até os não observados. Deste modo, podemos prever o que irá acontecer no futuro.
Na linha do indutivismo, é habitual defender-se como critério legitimador da
cientificidade o critério da verificabilidade. Considera-se que uma proposição é
empiricamente verificável se for possível determinar, através da observação, o valor
de verdade dessa proposição. Na maioria dos casos, a atividade científica propõe
enunciados gerais que não podem ser garantidos a partir de uma estrita verificação
universal e, por essa razão, é suficiente considerar que aquilo que se verifica ser
verdadeiro para os casos observados garante, em princípio, a probabilidade de ser
verdadeiro para todos os casos (conhecidos e desconhecidos), logo quanto maior for o
número de casos maior a probabilidade de esta ser verdadeira.

Contudo, o indutivismo tem sido alvo de inúmeras críticas, a primeira coloca-se devido
ao papel da observação como um ponto de partida para a investigação científica.A
observação dos factos não é o ponto de partida da Ciência nem é imparcial nem
isenta, como já temos alguns conhecimentos prévios e expetativas do que
provavelmente vamos encontrar, então estas vão afetar o que vemos de facto.

A observação, principalmente num contexto científico, é sempre seletiva, para que


haja observação é necessário que haja um objeto escolhido, um interesse prévio, um
ponto de vista, um problema que se pretende resolver. Na investigação científica, os
cientistas não se limitam a “observar” uma vez que é impossível observar e registar
todas as medições de todos os fenómenos. Por isso, estes escolhem apenas os
aspetos da situação que lhes interessam para o seu estudo.

A segunda critica tem haver com o procedimento utilizado, indutivo, para obtenção de
proposições gerais a partir de proposições particulares. Este problema foi levantado
por Hume e denomina-se como o problema da indução, apercebemos-nos de que
existe uma regularidade no modo como os fenómenos acontecem, obedecendo ao
princípio da uniformidade. Porém, este princípio não constitui uma verdade necessária,
não o podemos justificar racionalmente e empiricamente, para além de que a indução
só se justifica se nos apoiarmos noutro raciocínio indutivo, isto é uma falácia da
petição de princípio, usamos como prova o que queremos provar. Sendo assim, este
principio decorre do hábito de ver um fenómeno decorrer ao outro o que nos faz crer e
esperar que estes se repitam do mesmo modo no futuro, o rigor e a verdade do
conhecimento cientifico ficam, assim, comprometidos.

Em oposição a este primeiro método, Karl Popper, apoiou um segundo método, o


hipotético-dedutivo, ou conjetural. Popper considera que a ciência não pode assentar
na indução e rejeita o critério da verificabilidade.
Para Popper a ciência faz-se por um processo de construção criativa de hipóteses, as
conjeturas, e o critério que garante a cientificidade das teorias é o da falsificabilidade.
Ao contrário do que é proposto pelo indutivismo, a observação não é, para Popper, o
ponto de partida do cientista, nem das teorias científicas.

A ciência parte de um facto-problema, que decorre das expectativas do investigador


ou das teorias científicas já existentes provocando no cientista a vontade de decifrar e
resolvê-los. Este através de um momento criativo e inovador, recorrendo á indução e
imaginação, formula uma hipótese/conjeturas explicativa para o problema.
Depois de formulada a hipótese o cientista tenta inferir as consequências da conjetura
proposta e transforma assim uma explicação inventada em uma explicação que pode
ser testada empiricamente.
Através da experimentação estas hipóteses são submetidas a testes rigorosos. Se a
experimentação atestar a hipótese, esta passa a servir de base ao trabalho científico,
teoria corroborada, porém se a experimentação refutar as consequências deduzidas, o
cientista terá de abandonar ou reformular a sua teoria.

Para garantir a validade das hipóteses é preciso criticá-las, tentar refutá-las e procurar
os seus pontos fracos. Só assim é possível o progresso científico, avançar de velhos
problemas para novos problemas por meio de conjeturas.
Ao contrário dos indutivistas, os dedutivistas utilizam o critério de falsificabilidade pois
acreditam que as teorias científicas não são empiricamente verificáveis, mas sim que
uma hipótese será científica, se e só se, for falsificável.

O único objetivo dos testes a que se submete uma hipótese é o de falsificá-la e não o
de verificá-la, pois basta um facto contrário para a refutar e nenhum número de factos
favoráveis é suficiente para a confirmar. A falsificabilidade é, para Popper, o critério de
demarcação entre o que é ciência e o que não é ciência (pseudociência) e, deste
modo, as teorias só são científicas se forem falsificáveis. Uma teoria científica deixa de
poder ser considerada verdadeira e só pode ser considerada corroborada, se resistiu a
refutação e ainda não é falsa, e verosímil, aproxima-se da verdade. Têm esta noção
porque a ciência é propensa ao erro, fator de progresso, certos acontecimentos ainda
não foram observados e quando forem a teoria pode eventualmente ser refutada o que
nos leva a abandoná-la ou a construir outra com os novos dados.

Contudo, a filosofia de Popper também não esta isenta de críticas e a primeira decorre
do facto de o processo de refutação e falsificação não ser o processo mais comum
entre os cientistas, o falsificacionismo não corresponde á pratica científica, não
descreve de forma adequada o modo como a ciência progride. Geralmente os
cientistas procuram factos confirmativos e não o contrário. Acrescenta-se que não é o
facto de existirem dados que contrariam uma dada teoria que faz com que o cientista
abandone tal teoria.

A segunda critica a este método decorre de o falsificacionismo não corresponde aos


exemplos daa história da ciência, esta desmente o falsificacionismo. Como Nigel
Warburton referiu na obra “Elementos básicos de filosofia” grandes teorias como
Newton e Copérnico não correspondem ao critério apresentado por Popper

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