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Filosofia da Ciência - Semana 2 - Método Científico e Critério de Demarcação

Texto 2 - pág. 197


Exercícios
1. Faça o levantamento das características da ciência referidas no texto.
As características das ciências referidas no texto são:
● Antiautoritária - o conhecimento não é aceite porque existe uma autoridade que
o afirma. Todo o conhecimento científico para sê-lo verdadeiramente terá de ser
verificado a partir de uma experiência.
● Autocorrige-se - Na possibilidade da aceitação de pseudo conhecimento
científico, este é revisto por outros cientistas da altura ou de outras gerações, de
tal forma que embora tenham sido tidos como certos “é pouco provável que assim
permaneçam durante muito tempo”.
● Tem de valer-se de todos os recursos intelectuais à disposição
● A ciência é poderosa - saber coisas é, em si mesmo, emancipador/libertador e
também o efeito que teve na tecnologia e na alteração da vida humana.
● uma atividade social - porque já está tão avançada, é cada vez mais necessário
trabalhar em conjunto, aglomerando os conhecimentos de todos. Também por
isso é necessário valer-se de todos os recursos intelectuais à disposição.

2. O texto afirma que a ciência se autocorrige. Concorda com esta afirmação? Justifique.
Não. Apesar de algumas vezes isso ter acontecido, não temos conhecimento total para
dizer que não existem coisas que não permanecem incorretas ou não corrigidas. Vejamos
quanto tempo ficamos a pensar que o sol girava à volta da terra.

Sim. Os cientistas devem adoptar um ponto de vista crítico e não antidogmático, isto é,
não acreditar em tudo mas confirmar por si os conhecimentos ditos verdadeiros. Acontece
também que “cada nova geração de cientistas procura construir a sua reputação expondo as
fraquezas das teorias” ajudando à correção do conhecimento científico.

Revolução Científica e o método científico

Considera-se que o processo da revolução científica deu-se desde o sec. XVI até ao sec.
XVIII. Foram os séculos de Galileu Galilei (descobriu a Lei dos corpos, melhoramentos no
telescópio, etc.), Johannes Kepler (Leis sobre os movimentos celestes); Nicolau Copérnico
(teoria Heliocêntrica); Francis Bacon (definiu a importância do método indutivo e crítica à
ciência feita sem método, chamadas antecipações da mente) e Isaac Newton (Leis Físicas).
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Parte daquilo que causou a revolução científica foi a aceitação da importância do método
e a descoberta de novas técnicas e tecnologias de investigação que garantiam resultados cada
vez mais precisos e objetivos.

Método Científico

Já sabemos que um método é um conjunto de procedimentos orientados por um


conjunto de regras, que estabelecem “uma sequência de operações a executar, com vista a
atingir certo resultado”1. O método científico visa estabelecer as condições necessárias à
obtenção de resultados cientificamente válidos. É o “garante da fiabilidade e da universalidade
dos resultados da ciência, pois resulta de um trabalho organizado, rigoroso e eficaz”2.
Apesar de não podermos estudar os corpos da física com os mesmos métodos concretos
que a medicina estuda corpos humanos, estas e todas as outras ciências utilizam o método com
o mesmo princípio fundamental “a necessidade de validar devidamente os modelos testando a
sua correspondência à realidade”3.
Para o filósofo da ciência é importante perceber quais os pressupostos metodológicos
que estão na base do trabalho do cientista, porque são estes que legitimam a veracidade do
processo e do próprio conhecimento científico. “Perguntar pelas metodologias científicas é
colocar a questão de saber como se estabelecem as verdades (ou leis) em ciência.”4

Método Indutivo (Francis Bacon e Galileo Galilei)

O método científico que agora vamos estudar é o método indutivo. Sistematizado5 por
Francis Bacon (1561-1626), o método indutivo funda-se na observação, de tal forma que “o
conhecimento científico é adquirido e confirmado por um processo de indução” 6. Pelo contrário,
rejeita não só as antecipações da mente, como os conhecimentos sustentados pela metafísica
e/ou especulação. Sabemos já que indução é uma forma de raciocínio que procura, a partir de
verificações de alguns casos (particulares), formular uma lei (universal) que explique todos os
casos da mesma espécie.

Os procedimentos/passos do método indutivo são:

1 in infopedia.pt, método, consultado a 13/01/2022


2 Manual, pág. 204
3 Manual, Texto 4, pág. 204
4 Manual, pág. 204. Negrito do original
5 No sentido em que foi ele que explicou de forma completa e aturada as razões e passos de utilização do
método indutivo. Foi essa sistematização que tornou a indução científica. Isto é, a diferença é que foi feita
utilizada a indução de forma metódica.
6 Manual, pág. 205
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1. Observação - mediante certo fenómeno que se quer estudar, deve-se observar e


registrar os dados das diversas observações. Esta deverá ser:
○ neutra e imparcial, i.e., objetiva. Não pode incluir ilusões da perceção,
inclinações pessoais, ambiguidades linguísticas ou dogmas.
○ feita com rigor e método, proporcionando uma medição, análise e leitura
precisas.

2. Formulação da hipótese - a partir dos dados previamente observados e


registados, é pensada a relação que poderá existir entre eles. Tem como objetivo
explicar os dados que foram previamente observados.

3. Experimentação - é feita quando queremos pôr à prova a hipótese com o intuito


de verificá-la/confirmá-la. Quantos mais vezes e mais casos confirmarem a nossa
hipótese mais verosímil será.

4. Generalização da relação - após a hipótese estar verificada, através da


experimentação é feita uma generalização dos casos particulares e, no limite,
formula-se uma lei científica7.

Por outro lado, também Galileu se interessou pelo método científico. O seu método tem
algumas semelhanças com o método de Francis Bacon mas introduz algo diferente, o
pensamento dedutivo. Vamos chamá-lo de Método hipotético-dedutivo que ao contrário de
começar pela observação (experiência), como o método de Bacon, começa pela criação de uma
hipótese e dedução de consequências (pensamento).

A criação de hipóteses pressupõe algum conhecimento anterior mas exclui a observação.


A partir dos conhecimentos que já temos, criamos a hipótese, fazemos deduções dessa primeira
hipótese e depois resolvemos da mesma maneira que o método indutivo de Bacon, isto é,
visamos a verificação da hipótese a partir de experiências e, se se confirmar, induzi-se uma
teoria ou lei universal.

7 Como vimos, o método indutivo por natureza não é capaz de garantir afirmações universais. Logo, uma
lei formada a partir do método indutivo é algo problemático. No mais das vezes o conhecimento das
ciências naturais é verosímil ou então o conhecimento que têm não são leis mas sim teorias que foram
confirmadas.
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Por exemplo:
1. Formulação de hipótese
a. A Terra gira sobre si 15 graus por hora.
2. Dedução de conclusões
a. Deduzir quer dizer pensar as conclusões necessárias que se seguem da primeira
afirmação (princípio).
b. Se é verdade que a Terra gira a 15 graus hora. Se passar 10 horas, terá rodado
150 graus.

Ambas teorias visam a verificação/confirmação do conhecimento mas distinguem-se


quanto ao ponto de partida.

Críticas ao método indutivo

Relativas à natureza da observação


A observação, no método indutivista, deverá ser neutra e/ou imparcial e "garante,
afirmavam os positivistas, a verificação através do método experimental e, por consequência, a
objetividade". Serão os enunciados observacionais infalíveis?

Crítica 1 - A observação não é o ponto de partida da ciência.


Crítica 2 - A observação nunca é completamente neutra e objetiva.

Um designer gráfico olha para um manual de maneira diferente do aluno. O


conhecimento que cada um possui irá influenciar aquilo que vai ver. Também as expectativas
sobre um qualquer país faz com seja selecionada a informação que aceitamos ou procuramos
sobre esse país. Em conclusão, a observação está sempre afetada por conhecimentos e
expectativas que invalidam a possibilidade de uma observação neutra e imparcial, ou por outras
palavras, “a nossa subjetividade interfere com o juízo que fazemos acerca do que vemos”8.

Crítica 3 - A observação é seletiva.


Os cientistas quando fazem certas investigações, têm já algo em vista que querem
encontrar. Isto é, poderão fazer com que coisas também importantes que apareçam sejam
ignoradas, pois não era o que desejavam encontrar. Os cientistas “selecionam os aspetos
específicos sobre os quais se concentram”9 e ignoram outros. “Esta seleção envolve uma
decisão que revela um enquadramento mental” e, por isso, uma limitação da amplitude da
totalidade do observável.
8 Manual, pág. 212
9 Ibidem
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Relativa à natureza dos argumentos indutivos

Como sabemos, desde o estudo de David Hume, a verificação particular de alguns casos
nunca permite, de forma fidedigna ou com propriedade, afirmar de forma universal. Se virmos o
exemplo do manual (pág.213), percebemos que fizemos algumas experiências onde metal foi
aquecido e todas aquelas vezes o metal dilatou. No entanto, a partir do método indutivo, não
podemos nunca ter a certeza de que uma das vezes o metal não dilate.

Como tal, o problema dos argumentos indutivos é o salto lógico que dão do particular
para o universal. Podemos apenas afirmar a verosimilidade ou probabilidade do nosso
conhecimento.

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