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Metodologia do Trabalho

Científico III
MÉTODOS CIENTÍFICOS

As ciências têm por característica principal a utilização de métodos científicos


para a busca da verdade, porem nem todos os estudos empregam métodos
científicos logo nem tudo é ciência. Por isso, conclui-se que a utilização dos
métodos científicos não é exclusividade da ciência. Por outro lado podemos
afirmar categoricamente que não há ciência sem a utilização de métodos
científicos. Segundo Marconi & Lakatos (2010, p. 65) o método é o conjunto
das atividades sistemáticas e racionais que com maior segurança e economia
permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando
um caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista.
Segundo Lakatos e Marconi (1995, p. 106), os métodos podem ser
subdivididos em métodos de abordagem e métodos de procedimentos. Para
Garcia (1998, p.44), o método representa um procedimento racional e
ordenado (forma de pensar), constituído por instrumentos básicos, que implica
utilizar a reflexão e a experimentação, para proceder ao longo do caminho
(significado etimológico de método) e alcançar os objetivos preestabelecidos no
planejamento da pesquisa (projeto).
3.1. MÉTODO INDUTIVO:
Idealizado por Francis Bacon no século XVII, o método estabelece que o
estudo dos fenômenos que segue de planos particulares já constatados para
planos cada vez mais abrangentes, inferindo-se uma verdade universal ou
geral; indo das propostas mais particulares às leis e teorias mais gerais, logo
este método estabelece que partindo de premissas particulares, inferimos uma
verdade geral. Uma característica fundamental deste método é sua
fundamentação em premissas.[1] Neste método presume-se que se suas
premissas são verdadeiras provavelmente sua conclusão também será
verdadeira.
Ex: Cobre conduz energia, ouro conduz energia, ferro conduz energia (...).
Cobre, ouro e ferro são metais. Logo o metal conduz energia.

Observações:
§ Quando da descoberta de uma relação constante entre duas ou mais
propriedades ou dois fenômenos, passamos deste particular para afirmação de
uma relação essencial e em consequência universal.
§ A extensão dos antecedentes é menos do que a conclusão que é
generalizada pela palavra “todo”.
§ O caminho parte do especial ao geral, do indivíduo á espécie dos fatos á lei
geral.
§ Passa-se dos indícios percebidos a uma realidade maior e revelados por
eles.
§ As informações a cerca dos eventos observados, casos ou fatos observados
para os casos ou acontecimentos não observados.

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Leis regras do método indutivo

Observação dos fenômenos: Observam-se os fenômenos com o objetivo de


descobrir as causas de sua manifestação.
Relação entre eles: Após a observação procura-se identificar por meio da
comparação, aproximar os fatos com o objetivo de encontrar uma relação
constante entre eles.

Generalização: A relação encontrada nos precedentes, fatos semelhantes,


comportamentos, características observadas passa a ser generalizada e
aplicada a todos.

Ex: O homem Pedro é mortal; O homem João é mortal; O homem José é


mortal.
Logo, Todo homem é mortal.

3.2. MÉTODO DEDUTIVO


Idealizado por Descartes no século XVII; parte de teorias e leis mais gerais
para a ocorrência de fenômenos particulares. É possível chegar à certeza
através da razão. Partindo das teorias, princípios reconhecidos como
verdadeiros e indiscutíveis é possível chegar à determinação ou previsão de
fenômenos através da lógica.
Ex: Todo homem é mortal. (premissa geral)
José é homem. (premissa particular)
Logo, José é mortal. (conclusão particular)

Observações:

§ No método dedutivo para que a conclusão fosse falsa uma das duas
premissas deveriam ser falsas.
§ Na conclusão confirmamos aquilo que na verdade já havia sido observado
nas premissas.
§ O método dedutivo reformula ou reafirma o que estava explicito nas
premissas.
§ Percebe-se que o método dedutivo busca explicar e dar veracidade às
premissas, enquanto que o indutivo tem o propósito de ampliar o alcance dos
conhecimentos.

3.3. MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO:


A partir das hipóteses formuladas deduz-se a solução do problema. O processo
se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual
formula hipóteses e, pelo processo dedutivo, testa a ocorrência de fenômenos
abrangidos pela hipótese. As hipóteses serão verificadas posteriormente.
Estabelece suas conclusões baseado em fatos supostos, o que não garante a
veracidade da conclusão, mas uma possibilidade.

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Ex: Todos os estudantes que estudam passam nos exames.
Ora, se Henrique é estudante e estuda.
Logo, passará nos exames.

Segundo Karl R. Popper[2] (1935) a ciência deveria ser feita a nível hipotético-
dedutivo, em cujo contexto a experiência aparece como método de teste das
teorias e não mais como um critério de demarcação científica. Para ele a
ciência em momento algum consegue ir mais longe que suas hipóteses. Para
ele a ciência começa e termina com problemas. Então vejamos:
Partimos de um problema (P1), ao qual se oferece uma solução provisória –
uma teoria tentativa (TT), passando-se a criticar a solução com o objetivo de
eliminar o erro (EE); e assim criando outros problemas (P2, P3,...Pn).

Processo segundo Popper:


§ O problema surge de conflitos e expectativas e teorias existentes;
§ A solução proposta é uma conjectura (nova teoria) dedução de
consequências na forma de proposições passíveis de teste;
§ Os testes de falseamento: tentativas de refutação, entre outros meios, pela
observação e experimentação.
§ Se a hipótese não supera os testes será refutada e exigirá nova reformulação
do problema e da hipótese

Expectativas ou conhecimento prévio


Falseamento
Conjecturas
Problema

A necessidade de saber do homem precede suas vontades. A observação


como critério de seleção é inata. Qualquer observação tem como pressuposto
evidenciar alguma regularidade que foi vagamente vislumbrada. Os filhotes de
animais possuem um mecanismo inato para chegar a conclusões inabaláveis.
Segundo Popper o processo de aprendizagem consiste na formação de
expectativas por meio de tentativa e erro.

Expectativas:

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Segundo Popper todos nós temos com expectativas e no contexto destas é que
se dá a observação. Quando algo inesperado acontece, quando a expectativa
é frustrada a teoria caí em dificuldades, portanto a observação não é o ponto
de partida da pesquisa, mas o problema sim. O conhecimento vem sendo
construído por meio da evolução de velhos problemas para novos mediados
por conjecturas e refutações de coisas até então dadas como certas.

Problema:
O problema é o fato gerador que vai desencadear a pesquisa. Toda e qualquer
investigação nasce de um problema que pode ser teórico ou prático, e a partir
dele é que se estabelecerá que tipo de observações deva ser executado. Esta
proposta exige uma hipótese, conjectura e/ou suposição, que servirá de guia
ao pesquisador.

Conjecturas:
É uma proposta de solução do problema que deverá ser testada de forma
direta ou indireta, sempre dedutivamente do tipo: “Se.......então”. A conjectura é
lançada para explicar ou prever aquilo que despertou nossa necessidade
intelectual ou dificuldade/interesse no assunto, para tanto é essencial que
nesta conjectura (hipótese) seja possível fazer comparações (testes) e a
falseabilidade.

Falseabilidade:
A falseabilidade é a tentativa de eliminação dos erros. Uma das propostas
(dentre outras) consiste em falsear as consequências deduzidas ou derivadas
da hipótese (conjectura). Quanto mais falseável for uma conjectura mais
cientifica será mais falseável quanto mais informações e conteúdos empíricos
tiver.
Ex: O Sol brilhará amanhã no Brasil. (Pouca informação e difícil de falsear).
O Sol brilhara amanhã, as 06h25min em Porto Seguro com uma
temperatura será de 28º por 15 minutos, ou seja, até as 06h40min. (É
facilmente falseável; pois tem muita informação e conteúdo
empírico).

Para Bunge o método hipotético-dedutivo é um procedimento regular, explícito


e passível de ser repetido para conseguir algo material ou conceitual. Método
científico é um conjunto de procedimentos por meio dos quais são propostos os
problemas científicos e, a seguir, são colocadas à prova as hipóteses
científicas. As etapas do método hipotético-dedutivo segundo Bunge consistem
em:

1- Colocação do problema:
§ Reconhecimento dos fatos – exame, classificação preliminar e seleção dos
fatos.
§ Descoberta do problema – encontro de lacunas.

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§ Formulação do problema – colocação de uma questão que tenha alguma
probabilidade de ser correta.

2- Construção de um modelo teórico:


§ Seleção dos fatores pertinentes – invenção de suposições que se relacionem
as variáveis supostamente pertinentes:
§ Invenção das hipóteses centrais e das suposições auxiliares – proposta de
um conjunto de suposições que sejam concernentes a supostos nexos entre as
variáveis.

3 - Dedução de consequências particulares:

§ Procura de suportes racionais – dedução de consequências particulares que,


no mesmo campo possam ter sido verificadas.
§ Procura de suportes empíricos – tendo em vista as verificações disponíveis,
tendo por base o modelo teórico e dados empíricos.

4 - Teste das hipóteses:


§ Esboço da prova – planejamento dos meios para pôr à prova as predições e
retrodições[3].
§ Execução da prova – realização das operações planejadas e nova coleta de
dados.
§ Elaboração dos dados – procedimentos de classificação, análise, redução e
outros, referentes aos dados empíricos coletivos;
§ Inferência da conclusão – à luz do modelo teórico, interpretação dos dados já
elaborados.

5- Adição ou introdução das conclusões na teoria:


§ Comparação das conclusões com as predições e retrodições – contraste dos
resultados da prova com as consequências deduzidas do modelo teórico;
§ Reajuste do modelo – eventual correção ou reajuste do modelo;
§ Sugestões para trabalhos posteriores – confirmação ou reprovação.

3.4 - MÉTODO DIALÉTICO


Observa o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da
contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na
natureza e na sociedade. Na concepção de Hegel, o método dialético tem
como pressuposto, que toda determinação traz em si sua própria negação, o
crescimento das ocorrências desta contradição provoca uma mudança
qualitativa, gerando uma nova determinação.
A proposta é estudar a Tese comparar com a Antítese e a partir deste estudo
elaborar a Síntese. Mesmo que baseado em muita divergência entre os
diversos filósofos desde a Grécia Antiga com Platão, passando por Fitche,
Hegel, no século XVIII; Karl Marx e Engels no século XIX; não há um consenso
sobre as leis fundamentais para o método dialético, cada filósofo possui uma
linha de raciocínio, mesmo porque está o método baseia-se na discussão. De
forma geral em quase todas as discussões as leis abaixo estão presentes; as
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três primeiras observadas na ciência e lógica de Engels e as duas últimas
observadas na dialética do materialismo dialético de Marx.
1- A lei da unidade e do conflito dos contrários, contradição que parte do
principio que os objetos e fenômenos da natureza se contrapõem, pois tem um
lado positivo e um negativo, e isso leva ao desenvolvimento das coisas. A luta
do velho com o novo, da morte com a vida.
Ex: a planta surge da semente, e seu aparecimento implica no
desaparecimento da semente, a criança desaparece com o surgimento do
adolescente.
2- A lei da passagem das mudanças quantitativas em mudanças qualitativas,
neste contexto analisa-se a mudança contínua, lenta, e/ou a descontínua por
meio de “saltos”.
Ex: a água a partir de 20º vai aumentando de temperatura.... 21º, 22º... 98º,
durante esse tempo a mudança é contínua. Ao alcançar 99º e 100º a mudança
é brusca e aí temos uma mudança qualitativa, vapor. O contrário também é
verdadeiro, porém a 0º a água congela. Assim, de 1º a 99º temos mudanças
quantitativas, abaixo e acima deste limite temos mudanças qualitativas.
3- A lei da negação da negação, tudo se transforma, mudança dialética. Todas
as coisas estão em constante movimento em constante transformação. Para a
dialética o desenvolvimento se dá por meio de contradições ou negação de
uma coisa – essa negação refere-se à transformação das coisas. Podemos
concluir então que a negação de uma coisa é o ponto de transformação das
coisas em seu contrário, a negação por sua vez é negada, logo a mudança
dialética é a negação da negação. A negação pode ser entendida como a como
a afirmação de coisas polares, a negação da afirmação implica na negação,
mas a negação da negação implica em afirmação. Uma dupla negação na
dialética não significa o restabelecimento da afirmação primitiva, que conduziria
ao ponto de partida, mas sim em outra coisa.

Ex: Toma-se de partida um grão de milho. Para inicio do processo coloca-se na


terra. O grão de milho desaparece para dar lugar a planta e a espiga. (primeira
negação – o grão desapareceu transformando-se em planta). A planta nasce,
cresce produz e por sua vez morre, deixando os grãos de milho que a originou,
mas também deixa uma série de outros que possuem outras características,
em maior ou em menor grau, que segundo a Teoria de Darwin podem originar
novas espécies. A engenharia genética é um ramo da ciência que se preocupa
em aplicar essa proposta de forma cientifica.
4- A lei da unidade polar, ação recíproca, tudo se relaciona, interdependentes.
Para a dialética nenhum fenômeno da natureza pode ser entendido e analisado
isoladamente, considerado fora das condições que o cercam; pois estes
fenômenos possuem uma ligação com o ambiente que o circundam que por
sua vez condicionam seu comportamento.

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Ex: A planta toma o ar como elemento da vida, que a rodeia, em contra partida
libera o gás carbônico e vapor d’água, e essa interação ao mesmo tempo
modifica a planta e o ar.
5- A lei da Natureza – o cosmos - está em um estado de constante movimento.
A dialética entende que as coisas não estão estáticas, mas sim fazem parte de
um processo em constante mudança. O processo não produz coisas acabadas,
mas coisas em constante transformação – em processo – nada fixo, mas em
movimento, sendo que nada é imutável, tudo é um processo ininterrupto e
transitório.
Ex: Tomamos como exemplo um fruto e uma cadeira. Um fruto planta resulta
de uma flor, que resulta de uma árvore, que de fruto verde amadurece, caí,
apodrece, liberta sementes e se transforma em nova árvore, flor, fruto etc; se
nada interromper a sequência. A cadeira para existir precisa que uma árvore
seja cortada transformada em tábuas e/ou pranchas e submetida à ação do
homem para um processo mecânico e não dialético. A transformação não foi
proveniente da natureza e sim da ação de agentes externos.

[1] Cada uma das hipóteses que baseiam um estudo ou pesquisa, cuja qual
poderá redundar em conclusões.
[2] Karl Raimund Popper, austríaco naturalizado britânico foi um dos mis
influentes filósofos do século XX. Nascido em 1902 sua obra e contribuição
para ciência centra-se na proposta do falseamento da hipótese no estudo
científico. Suas concepções se afastam da proposta de F. Bacon no que se
refere ao empirismo quanto a verificação. Enquanto bacon propõe a verificação
da veracidade Popper supõe o falseamento da proposta.
[3] Termo traduzido do inglês “postdiction” que significa fazer previsões sobre
algo que tenha acontecido no passado. È uma especulação do passado
baseado em fatos/dados observados no presente. É uma proposta amplamente
utilizada na arqueologia, climatologia, análise financeira, investigação e ciência
forense.

- Texto adaptado de Texto de autoria do Professor Doutor Almir Volpi

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