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Senso comum: espontâneo; construído a partir das informações sensoriais;

permite-nos resolver os problemas comuns do quotidiano; não nos dá uma explicação,


porque não ultrapassa aquilo que é visível; dá-nos por vezes, informações erradas, pois
não vai até ao fundo da questão; ametódico – não segue determinadas
regras/métodos; assistemático – não é organizado; acrítico – muitas vezes é entendido
como dogmático (como verdade incontestável); subjetivo – não é rigoroso nem preciso
e depende de cada pessoa e da sua opinião;

Conhecimento científico/Ciência: sistematizado e metódico; utiliza a experiência, mas


também raciocínios, provas e demonstrações que permitem atingir conclusões
universais; pretende formular leis e teorias explicativas; explicação precisa e rigorosa;
hipóteses e teorias suscetíveis de verificação; objetivo - trata apenas da questão em si,
sem misturar ideias ou sentimentos pessoais; o cientista tem de ser imparcial.

INDUTIVISMO:
A perspetiva indutivista é uma perspetiva epistemológica que salienta a importância d
da indução para a ciência, quer ao nível das descobertas científicas, quer ao nível da
justificação das teorias.
- De acordo com esta perspetiva, o cientista começa a sua investigação com um grande
número de observações despersonalizadas, imparciais, rigorosas e isentas de
pressupostos teóricos dos fenómenos, por exemplo, observar que as barras de cobre
dilatam sempre que as aquecemos, algo que podemos apenas concluir após muitas o
observações da mesma situação, visto que se não o fizéssemos estaríamos a cometer
uma falácia de generalização precipitada.
- Posto isto, por meio da comparação e classificação dos casos observados, o
investigador procura aproximar os factos para descobrir a relação existente entre eles.
Assim, recorrendo à indução, parte para a formulação da hipótese ou teoria, por
exemplo: “todo o metal dilata quando é aquecido”. Teorias estas que explicam,
simultaneamente, o que acontece no presente bem como uma previsão do que é
provável que aconteça no futuro.
Deste modo, procura-se inferir um enunciado geral a partir de enunciados particulares
ou singulares.
Dá-se, posteriormente, a experimentação, o processo de confirmação da hipótese
explicativa enunciada que será testada a partir de casos particulares. Se se confirmar
em todos os casos observados é, por fim, estabelecida uma lei geral, a partir da
indução.
A experimentação é fundamental para que se possa verificar se as relações
estabelecidas são aplicáveis a todo o tipo de fenómenos semelhantes (nas mesmas
condições e natureza), mesmo sem que tenham sido observados individualmente.
Para os defensores da teoria indutivista, a ciência evolui de modo linear, por uma
aproximação progressiva e cumulativa à verdade.

Critério de verificabilidade: uma teoria só é científica se for constituída por


preposições empiricamente verificáveis, ou seja, só se o seu valor de verdade puder, à
partida, ser determinado a partir de observações.
OBJEÇÕES DE POPPER AO INDUTIVISMO:
1-A conceção indutivista do método científico pressupõe que os cientistas, para
chegarem a uma conclusão, começam por efetuar observações imparciais, rigorosas e
isentas de pressupostos teóricos, para, só depois, formularem as suas leis e teorias que
visam explicar essas mesmas observações. Isto, partindo do pressuposto de que as
observações feitas não são, de maneira alguma, afetadas pelo conhecimento prévio do
indivíduo.
É, no entanto, impossível ao ser humano fazer observações de forma totalmente
imparcial e objetiva, isenta de preconceitos, pelo que, quando partimos para a
observação, dispomos já de um vasto conjunto de expectativas prévias que vão
condicionar ou influenciar a interpretação dos factos que pensamos ter observado.
Para Popper, o cientista não é um observador indiferente ou descomprometido
com o mundo, mas sim um sujeito ativo, comprometido com ideias, valores e
princípios que funcionam como um quadro teórico de referência no seu trabalho, ou
seja, tudo aquilo que observamos é interpretado por nós de acordo com o nosso
“enquadramento mental”. Este inclui não só o nosso conhecimento e expectativas,
como também o meio cultural em que estamos inseridos. Todas a ideias formadas
acerca de tudo aquilo que nos rodeia.
Posto isto, conclui-se que a observação pura e imparcial de factos não existe e que a
observação não serve como ponto de partida para a investigação objetiva e imparcial
científica.
2- É feita uma segunda objeção ao indutivismo, visto que o seu método parte do
pressuposto de que as teorias científicas advêm de generalizações formadas a partir da
observação de casos particulares. No entanto, uma vez que existem entidades objetos
que não são observáveis, como os eletrões, moléculas de ADN, genes , entre outros,
muitas das melhores teorias científicas da atualidade baseadas nas entidades
referidas, por exemplo, deixariam de ser consideradas ciência, visto que não têm por
base generalizações indutivas a partir da observação de casos particulares.
3-É também feita uma objeção que se prende ao facto de a ciência se apoiar da
indução e não na dedução. Segundo o Popper, se a ciência se baseia na observação,
então só podem ser tiradas conclusões sobre o que foi observado, nunca sobre o que
não foi.
Assim, se um investigador observar milhares de cisnes, todos eles em lugares
diferentes, e verificar que todos são brancos, isto não lhe permite afirmar
cientificamente que todos os cisnes são brancos, porque não importa quantos cisnes
brancos tenham sido observados, basta o surgimento de um único cisne negro para
derrubar a afirmação de que eles não existiriam. Pelo que, por maior que seja o
número de casos em que foram observadas certas irregularidades, nunca teremos
justificação racional para acreditar que essas irregularidades se irão manter no futuro,
isto é, não teremos justificação para inferir uma lei geral.
Conjetura: Para resolver o problema da observação, compete ao cientista propor uma
primeira tentativa de solução avançar com uma teoria ou hipótese, à qual Popper dá o
nome de conjetura. Esta deve permitir explicar adequadamente os factos observados e
baseia-se apenas num palpite alicerçado nos conhecimentos prévios do cientista.
Posto isto, a conjetura pode descrever-se como uma suposição arrojada e imaginativa,
contudo devidamente fundamentada, concebida pelo profissional para explicar os
factos observados.

Objetivo dos testes experimentais/refutação: Segundo a 3ª e última etapa do método


científico, o cientista deve, por fim , testar a sua hipótese, é confrontada com a
experiência. Contudo, Popper , ao contrário do método indutivo, não acreditava que a
verificação empírica de uma hipótese geral fosse possível, alegando que, uma vez que
correspondem a enunciados universais, as teorias científicas não são suscetíveis de
verificação, pelo contrário, são apenas suscetíveis de falsificação. Isto acontece
porque, por maior que seja o número de casos que confirmem uma hipótese, basta
apenas um que a contrarie para que esta seja posta em causa.
Deste modo, podemos concluir que existe uma grande discrepância entre as
observações que confirmam uma teoria, e as que provam a sua falsidade, visto que,
uma experiência que confirme uma hipótese é apenas mais um teste, não permite
concluir de modo definitivo a sua veracidade de acordo com a realidade. Já um teste
que prove a sua falsidade, fá-lo de modo conclusivo.
Ou seja, Popper propõe que se recorra a testes experimentais, não para confirmar uma
hipótese, mas para concluir a sua falsificabilidade, visto que a experiência é, então, o
juiz derradeiro.
Segundo Popper, é através da tentativa de provar a falsificabilidade das suas teorias
que a ciência avança, evolui. Uma vez provada a falsidade de uma conjetura esta terá
de ser abandonada ou melhorada. Isto acontece a menos que resista a todas as
tentativas de falsificação, e nesse caso continua válida.
Posto isto, o filósofo defende que a ciência evolui de modo irregular através da
aproximação progressiva à verdade que resulta do afastamento sucessivo do erro.
Isto é, nunca poderemos afirmar que uma conjetura é conclusivamente verdadeira,
nem que alcançámos a verdade, mas podemos, sim, saber que certas teorias científicas
são, de facto, falsas, pelo que nos aproximamos, de modo irregular, da verdade.

OBJEÇÕES AO FALSICACIONISMO DE POPPER:

Tal como todas as teorias, também a perspetiva de Popper está sujeita a críticas.
Primeiramente, a falsificabilidade não constitui uma condição necessária para que uma
dada teoria possa ser considerada científica, já que algumas teorias se referem a
objetos que não são diretamente observáveis, pelo que, pode não ser possível
conceber um teste experimental que seja capaz de mostrar a falsidade da teoria. Essa
teoria não tem, contudo, de ser considerada não científica visto que apresenta um
papel importante no desenvolvimento da ciência.
Sabemos também que a atividade científica não consiste em tentativas de refutação
das teorias aceites mas sim no trabalho guiado pelo objetivo de confirmar essas
teorias. Neste sentido, quando é realizado um teste experimental cujo resultado não
está de acordo com a teoria, os cientistas mais facilmente colocam em causa o teste
do que a teoria em si, pelo que não é por se encontrar um caso que contraria a teoria
que esta é falsificada.

Verosimilhança: Uma conjetura é mais verosímil do que outra quando implica um


menor número de falsidades e permite explicar um maior número de fenómenos do
que a sua antecessora ou concorrente.

KUHN
Ciência normal:
Kuhn defende que, depois da instituição de um paradigma, se inicia um período de
ciência normal. Paradigma este, que deixa muitas questões em aberto, determinando
o trabalho dos cientistas durante este período e permitindo que se desenvolvam
investigações a partir dele.
A ciência normal não visa descobrir novos tipos de fenómenos ou novas teorias, nem
pôr em causa ou criticar o paradigma vigente, mas procura apenas aumentar o sucesso
do paradigma aceite, articulando-o de modo a torná-lo mais consistente, preciso e
melhorar a sua correspondência com a natureza.
Os investigadores envolvidos não têm interesse em grandes novos problemas, mas sim
em resolver enigmas específicos e detalhados, à luz de um paradigma.
Por isso, a investigação feita na ciência normal tem em vista a resolução de puzzles ou
enigmas, problemas sugeridos pelo paradigma, que desafiam a engenhosidade do
cientista em encontrar novas formas de aplicação do mesmo. Kuhn pensa, então, no
cientista como um “solucionador de puzzles” que manipula as peças indicadas pelo
paradigma, de acordo com as regras por este recomendadas, de modo a alcançar o
resultado, também por este, previamente estabelecido.
Eram puzzles para o paradigma newtoniano, por exemplo, conceber técnicas
matemáticas para aplicar as leis de Newton ao movimento dos fluidos ou a melhoria
da exatidão das observações astronómicas.
Na ciência normal, os cientistas assumem que o paradigma fornece os meios
necessários para a solução dos puzzles que coloca. Uma solução de um puzzle que
viole uma regra do paradigma não é, em princípio, aceitável e o fracasso na solução de
um puzzle é visto como um fracasso do cientista individual e não como uma deficiência
do paradigma. O filósofo considera que a aceitação dogmática e acrítica do paradigma
é crucial para o desenvolvimento científico, visto que só assim se pode avançar na
investigação sem se estar continuamente a rever os seus fundamentos.
Thomas Kuhn defende que “a natureza é demasiado complexa para ser explorada ao
acaso” e, por isso, “ a adequação do paradigma à natureza, nestas áreas, ocupa os
melhores talentos científicos de uma geração”. A visão do cientista está focada de tal
maneira que ele consegue fazer ajustes cada vez mais precisos entre o paradigma e a
realidade, alcançando uma maior compreensão de aspetos do funcionamento da
natureza que, de outro modo, jamais poderia ser alcançada.

Crise:
Surgem, contudo, por vezes, puzzles que, apesar dos seus esforços, os cientistas são
incapazes de resolver de acordo com o conjunto de regras e técnicas sugeridas pelo
paradigma aceite. Kuhn defende que, embora os cientistas não questionem ou
ponham em causa a solidez dos pressupostos do paradigma, “tropeçam”, por vezes,
em acontecimentos que o paradigma vigente não é capaz de explicar adequadamente,
algo totalmente incompatível com a imagem do funcionamento da natureza fornecida
pelo mesmo. Segundo Kuhn, este tipo de ocorrência tem o nome de anomalia.
Estas anomalias podem pôr em causa as leis, os instrumentos e as regras aceites por
uma comunidade científica, sugerindo que têm de ser modificados ou abandonados.
Kuhn dá como exemplos de anomalias os cometas para a cosmologia aristotélica, que
via o mundo para além da Lua como não estando sujeito à mudança, e a necessidade
de reforma do calendário, ocorrida no tempo de Copérnico.
A verdade é que nem todas as anomalias são igualmente graves. Qualquer paradigma
encontra dificuldades e existe sempre alguma discrepância entre as previsões das
teorias e os dados experimentais, sem que isso ponha em causa o paradigma vigente.
Por isso, algumas anomalias podem, pelo menos inicialmente, ser negligenciadas. Foi o
caso da previsão da lei da gravidade de Newton do movimento de Mercúrio, que
diferia dos dados observacionais, sem que isso levasse alguém a pôr em causa a teoria
de Newton. Outras podem encontrar uma solução de acordo com as expetativas.
Mas mesmo que as anomalias sejam graves, não falsificam o paradigma, como Popper
pensaria. Lembremos que, de acordo com Popper, o progresso da ciência faz-se por
um processo em que conjeturas arrojadas são submetidas a testes com o objetivo de
as refutar. Para Kuhn, no entanto, as anomalias não correspondem a estas instâncias
popperianas de falsificação das teorias. Ele duvida mesmo de que seja possível refutar
uma teoria, assim como também pensa que nenhuma anomalia, por mais grave que
seja, leva ao abandono de uma teoria. Para Kuhn, uma teoria científica é considerada
inválida apenas se existe uma alternativa disponível para ocupar o seu lugar. Assim, os
cientistas, quando fazem juízos acerca das teorias apenas as comparam, não as
refutam. Segundo Kuhn, o estudo histórico do desenvolvimento científico não revelou
nada que se aproxime do método das tentativas e erro proposto por Popper.
No entanto, o acumular de anomalias dentro de um paradigma e o fracasso
particularmente persistente que ponha em causa as convicções e amaneiras de
proceder aceites abalam, naturalmente, a confiança no paradigma vigente e a ciência
entra em crise.
A resposta habitual a um fracasso na resolução de um puzzle consiste em culpar o
investigador e avançar para o próximo problema, no entanto, quando essas mesmas
falhas acontecem repetidamente a comunidade científica entra, então, naquilo a que
se dá o nome de “crise”.

Ciência extraordinária:
Uma crise pode abalar de tal forma a confiança no paradigma, que surgem, com
alguma regularidade, mais experiências ao acaso na área de crise, na esperança de
encontrar algum efeito que venha a corrigir a situação. Por isso, o filósofo pensa que,
excecionalmente neste tipo de circunstâncias, não só é inventada, como também
aceite, uma inovação fundamental da teoria científica. Por isso, a crise dá lugar a uma
nova fase, “ciência extraordinária”, período em que se confrontam propostas
explicativas novas e incompatíveis a com os procedimentos e crenças do paradigma
vigente.
A transição para a ciência extraordinária ocorre à medida que os cientistas dão cada
vez mais atenção à anomalia. As primeiras tentativas de a resolver seguem de perto o
paradigma aceite, mas à medida que o problema continua a resistir a uma solução, as
tentativas de resolvê-lo afastam-se cada vez mais das soluções-padrão sugeridas pelo
paradigma, e as regras da ciência normal tornam-se progressivamente mais difusas.
Os cientistas começam a entrar em discussões filosóficas e metafísicas e tentam
defender as suas soluções para a anomalia, que, geralmente, em nada contribuem
para a manutenção do paradigma.
Embora ainda exista um paradigma, poucos são os cientistas que estão de acordo
acerca da sua natureza, pondo também em causa as soluções dos problemas
anteriormente resolvidos, segundo o paradigma.
O consenso até aí existente relativamente às características fundamentais da atividade
científica começa a ser substituído por grandes divergências e os cientistas começam a
expressar abertamente a sua insatisfação com o paradigma vigente. Por consequência,
a comunidade científica divide-se em duas grandes fações: os conservadores, que
defendem o velho paradigma tentando solucionar as falhas encontradas nesse
modelo, e os revolucionários, defensores da adoção de um novo paradigma, de uma
nova e mais rígida definição do campo de investigação, de modo a traçar um novo
paradigma capaz de solucionar, pelo menos em grande parte, as anomalias
anteriormente detetadas.

Revolução científica:

De entre as várias propostas apresentadas, uma delas será suficientemente apelativa


para reunir novamente o consenso da comunidade científica e substituir o velho
paradigma. Assim, a atividade científica deixa de ser extraordinária para voltar a um
período de ciência normal. A esta substituição de um paradigma por outro, Kuhn dá o
nome de “revolução científica”.
Estas são entendidas como não cumulativas, na medida em que um paradigma antigo
é substituído por um novo, com ele incompatível.
Para os indutivistas, quando uma teoria é substituída por outra, a velha teoria é
incorporada na nova, que é mais abrangente. Contudo, para Kuhn, uma revolução
científica é a reconstrução de uma ciência a partir de bases novas, em que tanto as
generalizações elementares do campo como muitos dos seus métodos mudam
radicalmente. Por exemplo, o paradigma aristotélico via o mundo como estando
dividido em duas regiões distintas, uma supra-lunar, imutável e composta de esferas
em que os planetas eram arrastados em movimentos circulares, e outra, sub-lunar,
sujeita a toda a espécie de movimento e alterações. Os paradigmas eliminaram esta
distinção e viam o mundo como sendo constituído pelo mesmo tipo de substâncias.
Um novo paradigma só é, no entanto, adotado se for capaz de solucionar as anomalias
que o velho foi incapaz de solucionar.
Outro aspeto importante das revoluções científicas é que paradigmas rivais também
veem questões diferentes como legítimas e significativas.
A influência dos paradigmas é tal que a forma como os cientistas veem o mundo é
determinada pelo paradigma com o qual trabalham. Kuhn afirma que é como se os
proponentes de paradigmas rivais vivessem em mundos diferentes, visto que a
mudança de paradigma implica uma alteração substancial da maneira como
entendemos o que é “fazer ciência” numa determinada área. Por isso, não existe um
padrão neutro que permita, aos cientistas, julgar qual desses mundos distintos está
mais próximo da realidade.

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