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25/05/2022 17:23 Autoconhecimento Cultural, Consciência e Humanidade | by André Silva | NEW ORDER | Medium

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Apr 15, 2020 · 9 min read

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Autoconhecimento Cultural, Consciência e


Humanidade
A ida ao deserto como símbolo de uma quarentena particular e
social

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Muitas pessoas conhecem muito pouco sobre si mesmas. Conhecem pouco da própria
cultura, que se expressa na convivência. Consequentemente, exercem pouco a
“política” real. Agarram-se ultimamente, contudo, nos representantes e na
representação convencional da “política”,54a política1 profissional, porque é a parte que
dá a impressão de “segurança”. Isto é, o ponto em que se tem decisões típicas que
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interferem de amplo modo nos interesses do país e que podem afetar assim,Get
destarted
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imediata, todas as camadas de problemas sociais, como os problemas econômicos, do


emprego, do poder aquisitivo, dentre outros de grande sensibilidade ao bem estar
social.

Muita gente, portanto, acredita que estão nas decisões políticas toda a “segurança”. E
por esta razão travam constantemente verdadeira guerra, marcadas pela polarização,
ódios, adjetivações, criação de inimigos, extremismos em defesa daquilo que lhes
parece o bem, óbvio e certo mas que tantos outros insistem em não concordar. Esta
divisão de lados aponta a falta de consciência sobre si mesmo, que resulta
frequentemente na idolatria, na perseguição, verdadeiro veneno ao bom senso, e no
abandono da reflexão, exercício essencial para uma adaptação sensível às
necessidades provenientes das vivências sociais cotidianas. Adaptação, esta, que é
expressa todos os dias. Traduzida em gestos, ações e palavras por onde quer que se vá,
aonde quer que se esteja, esteja com quem se estiver, conhecidos ou desconhecidos.

Só a resultante de condutas realmente compreensivas e reflexivas de toda uma nação


pode cada vez mais alterar os resultados macroambientais a longo prazo de um país. E
isto não é só do interesse de cada um, como é condição inevitável. Não há opção sobre
este efeito. Ele está ocorrendo à todo momento, como um longo e interminável devir.
Estamos, quer queira, quer não, experimentando resultados de curto, médio e longo
prazo neste exato instante e vamos experimentar por todos os instantes que ainda
vivermos, mas o principal é que somos os protagonistas mais importantes destes
resultados. A escolha da sua conduta projeta o resultado melhor ou pior em termos de
bem estar social futuro. Isso reflete a maturidade de uma nação. Assim, é preciso
pensar sua convivência de modo mais atemporal, menos restrito aos seus dias de vida.
Mas vou voltar nisto mais à frente.

Como tem sido nos tempos atuais


A polarização tem marcado já por muito tempo o modo como muitas pessoas lidam
com a situação crítica, seja política, seja social. Conduta que não se reserva a estes
campos, mas que espelha a forma como tantos encaram os conflitos na vida. Com
pensamento binário e lógica linear, pessoas frequentemente nem sequer concebem
existir muitas situações em que não há apenas um ponto de vista correto, mas
simultaneamente vários pontos de vista muito distintos e mais adequados, sobretudo
se se considera o contexto em que cada um pessoalmente está vivenciando. Afinal, uma
sociedade e nação é um sistema complexo.
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Criar inimigos e dicotomizar os conflitos em benfeitores e malfeitores sem


compreender mais profundamente o que implica a distinção percebida entre bem e
mal, só promove destruição e demonização estéreis. Antes da condição de escolha a
que cada ser humano se submete há o fator “humano”. E ele é mais relevante do que
estão comumente tratando. Há naquela linha pessoal que discorda também uma
grande complexidade de eventos que não são nada determinantes. A condição de
qualquer sistema complexo é sua imprevisibilidade. O ser humano por si só é
imprevisível tanto quanto são os sistemas sociais.

Estar mais consciente tende a nos fazer mais cientes da interdependência uns dos
outros e mais independentes dos agentes exteriores. Saber quem se é promove
relevância à personalidade do sujeito que consegue enxergar para além das
orquestrações artificiais ou convenções, alcançando uma percepção mais realista e
internamente predisposta a atuação ativa em favor de um bem comum e não dirigida
por uma preferência. A compreensão adquirida permite ver que dividir em lados é um
reducionismo ineficaz de questões que, em verdade, se misturam em todos os lados.

O que se assiste no Brasil e que se ressalta quando estamos vivendo momentos mais
críticos é o pouco autoconhecimento cultural.

Autoconhecimento através do outro


Eis aí o ponto. Há muitos que se deixam levar pelas emoções e se tornam
desorientados, como barcos à deriva tocados pelos ventos que sopram nos mares de
problemas e desafios cotidianos de âmbito global ou pessoal. Existe uma grande
quantidade de pessoas que entendem muito pouco sobre si mesmos, quanto mais sobre
os outros. Desconhecem qualidades reais de suas personalidades relativas ao modo de
conduzir as coisas diante as relações, conhecem pouco suas próprias fragilidades, seus
medos, seus anseios e, portanto, seus defeitos. Estudam-se pouco. Mas sobretudo, não
enxergam valor e um “sentido maior” para se valorizar cada ser humano, mesmo o pior
deles. Para muitos, pensar nisso é absurdo, então realmente privilegiam aqueles que
pensam como eles pensam, aqueles que tem afinidade com seus interesses. E se
tornam, assim, mais insensíveis quanto mais contrários os outros demonstrem ser a
estes interesses.

Pessoalmente ainda poucos demonstram enxergar além do papel profissional que


possuem, pois ainda muitos parecem desconhecer ser relevante sua conduta para a
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influência de todas as outras pessoas. De uma visão individualista, certamente pode
parecer não fazer diferença viver também para os outros e não apenas
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in app só para si. Mas é

certo que durante toda nossa vida estaremos expostos a inúmeros contatos com
incontável quantidade de outras pessoas e nossa influência ainda repercutirá mesmo
para além destes contatos diretos, de modos que nem somos capazes de calcular.
Milhares de pessoas passarão por nós até o fim desta vida na carne.

Saber “quem se é” não é algo restrito a eruditos. É uma decisão estabelecida


diariamente, pois “você é”, todo dia e a cada dia. Então não é preciso efetivamente
chegar a uma resposta sobre quem se é, mas criar o interesse por se autoconhecer. E
isso envolve necessariamente valorizar o outro, seja quem for. Só nos “pessoalizamos”
através do outro, então a clareza sobre nosso próprio eu dependerá de se abrir para
“colher” nos outros, traços de conhecimento sobre si mesmo. Essa é a conquista da
“empatia”. E na prática, exige ser curioso e perceber que cada ser humano, por ser
complexo e imprevisível, carrega verdadeiro universo de conhecimentos em termos de
experiências a ser desvendado, inclusive por si mesmo. Eis aí o desafio maior:
persuadir os outros do tesouro intrínseco a si próprio, da grande valia dessa jornada de
autodescobrimento e de como fazer isso, sobretudo quando este outro é alguém que
não tem qualquer esperança sobre si mesmo por desprezar essa mesma condição
humana.

Jesus, homem do futuro, ensinou principalmente isso, o verdadeiro amor fazendo da


paz um caminho, como se pode ler especialmente nas Bem Aventuranças e em todo o
Sermão do Monte registrado no Evangelho de Mateus. Aquele homem nazareno abriu
a nós, em suas mensagens, este código de ventura.

O que faz diferença para saber por onde se está indo, se pela paz ou pela guerra,
mesmo sem isso significar um lugar físico demarcado num mapa ou um objetivo
traduzido em palavras, é se conhecer, como visto; e isto tem início com o saber o que se
quer e o que se está pessoalmente a construir como individualidade para a Existência.
Daí a perspectiva atemporal. Trata-se, portanto, de ver muito além do espaço curto de
tempo de sua vida física, mas desejar contribuir a uma Existência a que os meros 100
anos ou menos não são nada mais do que nada. Isso exige um desprendimento e
“encontrar” um sentido no externo muito maior, que não só supere o sentido interno,
mas que o engrandeça, pois não são coisas separadas. Aliás, voltando em Jesus, talvez
não por acaso ele falava em termos de “vida eterna”.

Assim, falta a condição de humildade que ao mesmo tempo dimensiona sua pequenez
diante da Existência mas qualifica mesmo aquele que mais erra como humano em
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diante da Existência mas qualifica, mesmo aquele que mais erra, como humano em
última instância. E essa predisposição não diz sobre nenhuma conduta
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apenas diz sobre o estado da consciência do ser. O quão consciente pode ser alguém
diante das vivências que se desdobram no dia a dia? O quão lúcido se manterá?

Carecemos assim de aprender a humildade. Carecemos de vivenciar a humanidade.


Por mais que possa ser perturbador enxergar a humanidade em alguém que tenha sido
extremamente perverso, é nessa valorização humana que conquista-se a consciência de
quem se é. Pois conseguir enxergar o valor da humanidade mesmo no pior dos seres
humanos, justamente por compreender que a perversão vem do ato de negar,
desprezar ou rejeitar continuamente a própria condição humana “desumanizando-se”,
aumenta a exposição íntima desse mesmo valor a partir de si mesmo. Sendo uma
condição comum à todos, por também estar presente em si acaba, cada vez mais,
crescendo em expressão e se manifestando mais naturalmente no sujeito. Afora o
exemplo extremo, essa postura cabe para lidar com toda forma de egoísmo e com
todos.

Então, onde está o sentido nisso tudo?


É essa capacidade de empatia que resgata os que persistem e se comprazem no mal,
apresentando a eles o valor de uma esperança em si mesmos, o que é algo diferente do
que estão muito habituados a vivenciar. Progressivamente a empatia contribui a uma
moralização da sociedade (que é diferente de moralismo). Essa moral vai sendo
forjada prevalecendo pela característica transgeracional da cultura, que é transmitida e
reapropriada pelas novas gerações que por sua vez tendem a reutilizá-las,
transformando-as e transmitindo-as à frente novamente. Diante disso, é notável que
nossas intervenções afetem em maior ou menor grau os sujeitos, mas o seu potencial de
influência acentua-se quanto mais “consciente” o sujeito se fizer. E eis aí a relação
direta com esse “sentido maior”, que é o de se realizar “realizando a existência”, ao
atuar direta e conjuntamente com a Inteligência da Vida.

Vale ressaltar que o “sentido” é uma vivência. Não é algo a que a linguagem falada dê
conta, ou seja suficiente para expressar. Mas você se encontra no “sentido” já por
buscar criar sentido. O sentido da vida é encontrado e criado na ação. Ser um agente
da paz é modo certo de criar sentido. Granjear amigos e posicionar-se como um amigo
no mundo é caminho certo pra “consciencialização”. Fazer o bem aos outros
gratuitamente, pagar o mal com o bem é um ótimo meio. Assim educava e
exemplificava aquele que foi muito estudado pelos homens (mas ainda não o
suficiente) Jesus filho de José.
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Aliás, toda a história bíblica, muito peculiar quanto é, retrata com exuberância a vida
tratando-se os contos de verdadeiro manual “sobre vivências”. A peculiaridade judaica
de trazer linguagem que mescla simbologias à realidade já nos dá aí grandes lições. A
começar pela existência de outro tipo de lógica, como a de que duas coisas podem ser
simultaneamente a mesma coisa. Do judeu, os ocidentais poderiam dizer que as
narrativas, sempre poéticas e estéticas, são só simbólicas, ou que são só reais. São, no
entanto, as duas coisas ao mesmo tempo. São simbólicas e são reais. Jesus muito
provavelmente não fora uma única vez ao deserto, mas inúmeras vezes, afinal, tratava-
se de uma região desértica. Logo, os 40 dias que se narram sobre sua estada lá é uma
referência aos 40 anos do deserto do povo Hebreu em que narra o escritor que Jesus
sofrera as mesmas tentações que eles, mas, diferentemente, para cada uma teve ele
uma resposta, sendo sobre elas vitorioso, ao passo em que sucumbiam os Hebreus à
sua própria fraqueza. Este “atalho” literário com alguns simbolismos utilizando
elementos reais aponta ao leitor contextualizado o sinal da condição de “Messias
espiritual” de Jesus. Em nosso caso ocidental, este atalho não só “aponta” como
“poupa” esse leitor, visto que nosso modo linear e sustentado por cadeias de detalhes
em lógica teceriam volumes e mais volumes de relatos excedendo a quantidade de
livros e o tamanho dos mesmos para muito além do conveniente.

Não se pode dissociar a vida da Inteligência Suprema da Vida. Esta que guia a natureza
na sua persuasão e persistência imutáveis. Não por acaso, vivemos o necessário tempo
de ir a um deserto. Trazendo para os dias de hoje, estamos vivenciando a necessária
simbólica ida ao deserto, que ganha a literalidade de uma quarentena particular e
social em tempos de Coronavírus. O deserto implica em privações e impõe um vazio.
Essas privações fazem emergir mais claramente as forças e fraquezas de cada um e
revelam nossa incapacidade de controlar a vida sendo este justamente o ponto mais
difícil ao egoísta. Essas privações revelam aos olhos a incerteza do que se é e a certeza
do que se está se tornando. E por uma condição externa isso força o sujeito, justamente
muito influenciável pelo externo, a se reconhecer, ainda que isto não represente para
muitos alcançar uma “terra prometida”, ou noutra palavra, tornar-se diferente.

Como na história bíblica, somos representados pela aspereza de um Jacó (cujo nome
significa “trapaceiro”), gêmeo de Esaú, que já no princípio nasce a trapacear seu irmão
segurando-o pelo calcanhar e que vê progressivamente a vida ‘voltar’ trazendo
amargas experiências que lhe amadurecem pouco a pouco o caráter. No desfecho, tem-
se um Jacó que batalha com si mesmo pelos outros e que prevalece. Eis que,
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deslocando-se a junta da coxa, ponta do nervo ciático que tem terminação, não por
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acaso, no calcanhar, o ponto da primeira “trapaça”, agora um ponto final, muda-se aí o


seu nome de Jacó para Israel que significa: “Homem Batalha Deus”, homem que
batalha com Deus. Talvez justamente: o que batalha para fazer revelar o deus que há
em sua humanidade.

A história de Jacó é a história humana!

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