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KIKOSOFIA
Francisco Moreira
Número 14 SETEMBRO DE 2023
SETEMBRO
Por Francisco Moreira
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
SETEMBRO
Cuidar uns dos outros
Segundo dados do Anuário Brasileiro de
Segurança Pública, o número de suicídios
no Brasil teria crescido 11,8% em 2022,
sendo registrados 16.262 casos, o que
significa uma média de 44 ocorrências por
dia, são 8 suicídios por 100 mil
habitantes. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) estima que anualmente
O consumo de
quase 1 milhão de pessoas no mundo
cometam suicídio. Embora esse número álcool e
venha diminuindo globalmente (cerca de substâncias
36%), nas Américas o fluxo, ao contrário,
psicoativas
segue aumentando, sendo hoje a 4ª causa
de mortes entre jovens de 15 a 29 anos de durante a
idade. O consumo de álcool e substâncias infância e
psicoativas durante a infância e adolescência
adolescência possuem relação direta com
possuem
casos de suicídio entre jovens.
relação direta
O suicídio é um fenômeno complexo, um com casos de
importante problema de saúde pública,
suicídio entre
com impactos diretos na sociedade e que
pode afetar indivíduos de diferentes jovens.
origens, sexos, culturas, classes sociais e
idades. Sabe-se que praticamente 100%
de todos os casos de suicídio estão
relacionados às doenças mentais,
principalmente aquelas não
diagnosticadas ou tratadas
incorretamente. Dessa forma, a maioria
dos casos poderia ter sido evitada se
esses pacientes tivessem acesso ao
tratamento psiquiátrico e informações de
qualidade.
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
O suicídio é
uma
emergência
médica, se
perceber
intenção ligue
para o SAMU
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FATORES DE RISCO E SINAIS DE ATENÇÃO
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Pablo Neruda
Escritor e político chileno considerado um dos maiores poetas da literatura latino-
americana e contemporânea mundial. ganhador do Nobel de Literatura de 1971.
Neruda faleceu em 23 de setembro de 1973
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MAFALDA
Francisco Moreira
KIKOSOFIA
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KIKOSOFIA
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No Brasil, Mafalda foi publicada pela Em 1971, Quino aceitou, ainda que
primeira vez na Revista Patota nº 1 a contragosto, uma proposta de
(julho de 1973), no Rio de Janeiro, uma produtora de desenhos
aparecendo em 27 volumes da animados para colocar as histórias
revista, em 89 tiras. Depois de a da Mafalda e sua turma na
revista ter sido extinta, as tiras foram televisão, sendo produzidos 260
publicadas no formato de livro pela curtas de cerca de um minuto e
Editora Global em 1982, editadas meio de duração.
pelo cartunista Henfil, que manteve
algumas expressões no original em Em 25 de março de 1973, Quino
espanhol (papá, mamá, dios mio), decide interromper a produção
para que os brasileiros a das tiras da Mafalda, afirmando
identificassem como estrangeira. que tinha medo de soar repetitivo
e que daria uma pausa de “um
Embora tenha sido criada num ano”. Entretanto, não voltaria mais
contexto argentino a menina a desenhar a personagem, exceto
contestadora foi bem recebida para algumas campanhas
internacionalmente por tratar de humanitárias a exemplo da
dramas universais numa época em UNICEF, para a qual fez alguns
que a América Latina vivia um cartazes e ilustrações sobre a
período marcado por golpes de Declaração Universal do Direitos
estado e repressão em plena vigência das Crianças em 1976.
da Guerra Fria. A tira ganhou
notoriedade internacional a partir de Em 1982 um filme de 75 minutos
sua publicação na Europa a partir de produzido por Daniel Mallo
1969 e acabou por ser traduzida para (“Mafalda, la película” na
mais de vinte países, incluindo Argentina ou “El mundo de
Finlândia e China. Sua edição italiana Mafalda” na Espanha); e
foi prefaciada pelo escritor Umberto finalmente em 1993, foram
Eco que definiu Mafalda como “uma produzidos mais de cem
heroína zangada que recusa o episódios mudos de cerca de um
mundo tal como ele é”. minuto de duração, dirigidos pelo
cubano Juan Padrón.
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QUINO, O CRIADOR
Em entrevista a revista Efe, por ocasião dos 50 anos de sua criação, disse
que não pensou que Mafalda se tornaria a voz de tantas pessoas. "Em meu
trabalho, apelava para as notícias do dia, e escrevia sobre o que saía nos
jornais; o mundo era assim. Eu não disse, 'vou a fazer uma menina
contestadora'; não, saiu assim. Muitas vezes desenhava coisas pelas quais
me sentia impelido". Quino faleceu em 30 de setembro de 2020.
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MAFALDA E A EDUCAÇÃO
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Pablo Neruda
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Estante
DICAS DE LEITURA PARA SEUS MOMENTOS
Pois o mundo é feito de histórias
Roberto Bolaño
Escritor chileno (1953 – 2003), considerado um dos mais
importantes de sua geração. É autor dos romances Noturno do
Chile, Amuleto, Estrela Distante, Os Detetives Selvagens, 2666, A
Pista de Gelo e Antuérpia. Ganhou vários prêmios literários
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Se as câmeras resolvem...
Estrategista do silêncio
Vários estados brasileiros estão fomentando o uso de câmeras no peito dos policiais militares, como
forma de inibir desvios de conduta e melhorar o nível de segurança pública no país. Até o Ministério da
Justiça vem fomentando isso fortemente, algo deveras estranho, pois o Flávio Dino não conseguiu
preservar as imagens de seu próprio órgão (não somos otários!).
Então vamos lá. Se o uso de câmeras resolve, inibindo desvios de condutas, porque não colocar
também nos peitos dos professores? Saberemos se de fato estão indo à classe, em quanto tempo
permanecem, se aliciam os alunos e se de fato agem como professores ou doutrinadores.
Porque não câmeras nos peitos dos médicos? Daí será possível saber se é verdade ou não que alguns
estão mantendo relações sexuais com pacientes sedados, se atendem com presteza e se também
comparecem né?
Porque não câmeras nos peitos dos magistrados? Daí poderemos elucidar se as denúncias de venda de
sentenças procedem ou não. Inclusive......por esse mesmo argumento, porque não câmeras nos peitos
dos promotores, procuradores e defensores públicos?
Porque não câmeras nos peitos dos comissionados sem concurso público? Precisamos saber se de fato
comparecem ao trabalho ou se são fantasmas, ora bolas!
Porque não câmeras nos peitos dos presos? Será realmente que eles engendram crimes dentro dos
presídios? Difícil acreditar, mas não é impossível. E câmeras nos peitos dos traficantes contumazes?
Saber se eles dão propina mesmo a políticos, partidos, sindicatos e outras autoridades?
Porque não câmeras nos peitos dos deputados e senadores? Será que eles combinam crimes
financeiros, políticos, desvios de verbas? No mesmo gancho, porque não câmeras no peito da OAB?
Será que ela de fato chancela os abusos da justiça brasileira e faz apologia à destruição da constituição?
Pois é meu povo. Saibam todos que a insegurança pública que vivemos no Brasil não é causada apenas
pelo tipo de conduta do policial, ela é somatória de inúmeros desvios praticados na surdina dos
gabinetes e escritórios, formando uma nuvem densa de tristeza, desespero e desalento, ingredientes
adequados para o cometimento de crimes de diversas naturezas. Querer controlar os policiais militares
é fácil, pois a maioria é ordeira e cumpre com seus deveres. Está claro que o policial militar é o bode
expiatório, e sempre que possível, a culpa será despejada em seus ombros. A PM do Distrito Federal
que o diga!
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Eu poesia
Serei eu poesia que se desfaz ao leve toque,
que ao vento sofre o dissabor de ver partir
o leve encanto,
que em meio a bruma esvai-se em longas fibras
de contentamento,
que de tanto ver o seu tormento,
altera o músculo dormente
em meu peito e dilacera
a alma que vaga nua em pleno mar;
que jaz ao pé da amada lusa
e pérfida agonia, que treme
e geme e sofre e cria;
que corta os céus, muda e esguia,
que na tarde altera a leve poesia
e perde-se em espaços de
louca ironia...
Kiko Moreira
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Publique na Kikosofia
A Kikosofia é um espaço de vozes, consonantes,
dissonantes, de livre e respeitosa expressão e opinião. Um
local que se pretende divertido, reflexivo, por vezes louco,
mas sempre acolhendo o outro, independente de diferenças,
somos todos iguais, e isso é o que de mais belo existe no
viver, saber que não somos cópias de outro ser.
Colabore, discorde, concorde, opine. Boa jornada.
kikosofia@gmail.com
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Beijo de mulher
Um beijo de mulher é uma honraria,
Que quando concedido lisonjeia,
Esplendoroso como a lua cheia,
Que entorpece o macho de alegria.
The Cast
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Wellington Bonnes
A administração, ao longo da história, experimentou uma série de
modelos tradicionais que moldaram o funcionamento das organizações.
Por décadas, esses modelos hierárquicos e centralizados
desempenharam um papel crucial no contexto dos negócios e das
instituições. No entanto, à medida que o mundo se tornava mais
interconectado, complexo e orientado pela informação, tornou-se cada
vez mais evidente que esses paradigmas tradicionais estavam se
tornando obsoletos. Eles não apenas enfrentaram problemas estruturais,
mas também falharam em se adaptar aos desafios emergentes. O A GOVERNANÇA,
resultado foi uma série de colapsos organizacionais, escândalos MUITO MAIS DO
financeiros e uma perda generalizada de confiança por parte dos QUE UMA SIMPLES
RESPOSTA A
investidores e do público.
PROBLEMAS
PREMENTES, É A
Esses fracassos deixaram uma marca indelével nas organizações,
EVOLUÇÃO
levantando questões sobre a sustentabilidade e a responsabilidade. À NECESSÁRIA DA
medida que os modelos sucumbiam devido a problemas estruturais e ADMINISTRAÇÃO.
disfuncionais, emergia uma nova abordagem - a Governança.
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Para compreender plenamente a importância desse novo viés, vamos fazer um tour histórico. Embarquemos
em uma viagem pelo tempo, revisitando a evolução da administração desde os primórdios da Revolução
Industrial até os desafios enfrentados pelas organizações contemporâneas. Nossa jornada começa com os
modelos tradicionais de administração, notáveis por sua influência nos setores público e privado.
Na intitulada “Era da Eficiência”, estabelecida no início do século XX, Frederick Taylor e Henri Fayol
desempenharam papéis fundamentais na definição dos modelos de administração. Taylor introduziu o
"Taylorismo" ou "Administração Científica", focado na busca pela eficiência e na divisão do trabalho,
enquanto Fayol delineou os princípios de gestão, enfatizando funções como planejamento, organização e
controle.
Nessa época, tanto no setor público quanto no privado, prevaleciam modelos puramente autoritários e
hierárquicos, herdados da primeira Revolução Industrial, entre os meados dos séculos XVIII e XIX. As
organizações eram comumente estruturadas de forma rígida e centralizada, o que, apesar de trazer uma
sensação de ordem, também resultava em lentidão na tomada de decisões, falta de estratégia e resistência
à inovação. De Efurt (Prússia/Alemanha) surge Max Weber, que introduz o conceito de burocracia, propondo
uma abordagem mais racionalizada e eficiente para a administração. O emergente modelo buscava
substituir práticas informais e nepotismo por regras e procedimentos claros. No entanto, essa abordagem
frequentemente levava a uma excessiva rigidez, falta de agilidade e uma cultura que privilegiava a
estabilidade em detrimento da inovação. Aliado a isso, a falta de vontade de implementar essas práticas,
por parte dos interessados à época (e que ainda perdura), gerava uma forte resistência devido aos conflitos
de interesses.
Nas esferas públicas, as ideias marxistas começaram a desafiar os tais modelos patrimonialistas e
autocráticos que dominavam. No entanto, as teorias marxistas também resultavam em sistemas de
administração que mantinham um status quo de privilégios para alguns, em vez de promover a igualdade.
Logo, apesar das diferenças entre esses modelos, todos enfrentaram problemas estruturais compartilhados:
falta de agilidade, opacidade na tomada de decisões, ineficiência e resistência à mudança. Esses problemas
não eram apenas sinais de dificuldades temporárias, mas indicações claras de que um novo paradigma de
administração era imperativo.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
NA Governança não surge apenas como uma solução, mas como uma revolução. Ela
representa uma resposta ágil e abrangente aos desafios sistêmicos que afligiam e se
enraizaram na administração tradicional. Essa nova abordagem não se limita a uma
correção de erros, mas sim a uma transformação profunda da maneira como as
organizações são geridas.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Trata-se de uma revolução para o futuro. A Governança não é apenas uma correção de curso; é uma
revolução que redefine o propósito e a função das empresas, organizações e do Estado. Ela oferece uma
visão supervisória que não só resolve os problemas do passado, mas abre portas para um futuro promissor,
onde a eficiência, a responsabilidade e a transparência não são apenas princípios, mas a base de uma
administração verdadeiramente inovadora e sustentável. É a promessa de um caminho sem volta para um
modelo de gestão eficaz e responsável.
A Governança é mais do que uma simples alternativa; é o caminho para as empresas, organizações e
governos modernos. Neste momento crucial da evolução da administração, ela emerge como um farol de
transformação que nos guia a um futuro mais legítimo, coeso e resiliente. Ademais, ela é um catalisador
poderoso para a tomada de decisão participativa, o engajamento da comunidade (interna e externa), a
interdisciplinaridade e a transversalidade tão almejada e necessária entre os setores. Ao envolver uma
variedade de stakeholders, desde acionistas até colaboradores, de comunidades ao meio ambiente, a
Governança cria uma base sólida para o sucesso sustentável.
O seu poder transformador se manifesta na forma como fortalece a alta administração, permitindo que
líderes tomem decisões informadas e éticas que transcendem as preocupações de curto prazo. Ela enfatiza
o foco nos resultados, promovendo uma cultura de responsabilidade que não apenas evita colapsos, mas
fortemente impulsiona o crescimento.
Este é o momento de abraçar o modelo, não apenas nas empresas, mas em todos os setores públicos e
Estado. É um instrumento essencial para o fortalecimento organizacional, uma força que extrapola fronteiras
e setores. É a promessa de um futuro onde a administração se torna mais que uma função empresarial, uma
ferramenta vital para moldar um mundo mais justo, responsável e próspero.
Por tudo isso e muito mais que, com toda convicção enxergamos que a Governança não é apenas um
caminho, um modismo, mas a highway to success, ou a estrada para o sucesso duradouro das Instituições.
É uma bússola que orienta o nosso rumo a um futuro melhor, onde a administração não é apenas “eficiente”,
mas alinhada com os valores mais nobres da sociedade.
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FELICIDADE
SSILVA
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Com rima
The Cast
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
DAGON
H.P LOVECRAFT
Escrevo essa história sob uma pressão mental considerável, uma vez que hoje à noite me
apago.
Sem dinheiro, com o estoque da droga que torna a vida suportável próximo do fim, não
aguento mais essa tortura; estou prestes a me atirar pela janela da água-furtada na
desolação da rua lá embaixo. Não entenda minha dependência da morfina como uma
fraqueza ou uma perversão. Quando o senhor ler essas páginas rabiscadas às pressas
poderá entender, ainda que não por completo, a minha ânsia pelo esquecimento ou pela
morte.
Foi numa das regiões mais abertas e menos frequentadas do enorme Pacífico que o
paquete em que eu era supervisor de carga caiu vítima das forças alemãs. Era o início da
grande guerra, e as forças oceânicas dos teutos ainda não haviam afundado ao nível da
degradação posterior; de modo que nossa embarcação foi capturada como um troféu
legítimo, enquanto nós, da tripulação, fomos tratados com toda a justeza e consideração
devida aos prisioneiros navais. A postura de nossos captores, a bem dizer, era tão
tolerante que cinco dias após a abordagem consegui escapar sozinho em um pequeno
barco, levando comigo água e provisões suficientes para um período considerável.
Quando por fim me vi livre, à deriva, eu tinha pouca ideia das minhas coordenadas. Sendo
um navegador de poucas habilidades, eu só conseguia ter uma vaga noção, graças ao sol e
às estrelas, de que estava ao sul do Equador. Quanto à longitude eu não fazia a menor
ideia, e não havia nenhuma ilha ou litoral à vista. O tempo manteve-se bom e, por dias
incontáveis, fiquei à deriva sob o sol escaldante; esperando que algum navio passasse ou
que as ondas me conduzissem à orla de um lugar habitável. Mas nem o navio, nem a costa
apareceram; e comecei a entrar em desespero com a solidão em meio à grandeza
opressiva do infinito panorama azul.
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Mesmo que se possa imaginar a minha reação de surpresa ante uma transformação tão
prodigiosa e súbita no cenário, a verdade é que eu sentia mais terror do que espanto; pois
no ar e no solo putrescente havia algo de sinistro que me enregelava até o âmago. O lugar
fedia a restos pútridos de peixes em decomposição e de outras coisas indescritíveis que
eu via erguerem-se do lodo asqueroso que recobria a infindável planície. Talvez eu não
devesse tentar pôr em meras palavras o horror indescritível que o silêncio absoluto e a
imensidão estéril podem encerrar. Não se ouvia nada, não se via nada afora a vastíssima
extensão de lodo negro; mas era a perfeição do silêncio e a constância do cenário o que
me oprimia com um terror nauseante.
O sol ardia em um céu que parecia quase negro em sua crueldade límpida; como se a
refletir o palude escuro como nanquim sob os meus pés. Enquanto eu retornava ao barco,
percebi que só havia uma teoria para explicar a minha situação. Por obra de alguma
erupção vulcânica sem precedentes, uma parte do solo marítimo fora arremessada em
direção à superfície, expondo regiões que por incontáveis milhões de anos haviam
repousado em silêncio nas insondáveis profundezas oceânicas. Tamanha era a extensão de
terra assim surgida que eu não conseguia ouvir o rumor do mar, por mais que tentasse.
Tampouco se viam aves marítimas a procurar comida entre as carcaças.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Não sei porque meus sonhos foram tão fantásticos naquela noite; mas
antes que a formidável lua gibosa subisse às alturas celestes, acordei,
suando frio, determinado a não mais dormir. Eu não seria capaz de
aguentar mais uma vez aquelas visões. O luar mostrou-me o quão tolo eu
fora ao viajar durante o dia. Sem o brilho do sol escaldante, minha jornada
teria consumido menos energia; em verdade, naquele instante eu sentia-
me apto a empreender a escalada que me vencera ao pôr do sol. De posse
dos meus suprimentos, parti em direção ao pico daquela eminência.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Era o estilo pictórico, no entanto, o que mais me hipnotizava. Claramente visível na água,
graças a suas enormes proporções, havia um conjunto de baixos-relevos cujos temas
teriam despertado a inveja de um Doré. Acho que as figuras representadas eram homens
— ou pelo menos um certo tipo de homem; no entanto, as criaturas apareciam divertindo-
se como peixes na água de alguma gruta marinha ou rendendo homenagens em um templo
monolítico que também parecia estar sob as ondas. Os rostos e as formas eu não ouso
descrever em detalhe, pois a simples lembrança faz-me fraquejar. Grotesco além da
imaginação de um Poe ou de um Bulwer, o contorno geral das figuras era muito humano,
apesar das mãos e pés com membranas natatórias, dos impressionantes lábios carnudos e
molengos, dos olhos vidrados, arregalados, e de outros traços de lembrança desagradável.
Tive a curiosa impressão de que os desenhos estavam bastante fora de proporção com o
cenário ao redor; uma das criaturas aparecia matando uma baleia, representada em
tamanho só um pouco maior do que ela própria. Como eu disse, reparei no aspecto
grotesco e no tamanho exagerado das figuras; mas no instante seguinte pensei que
aqueles seriam apenas os deuses imaginários de alguma tribo primitiva de pescadores ou
navegadores; uma tribo cujos últimos descendentes haviam perecido eras antes que o
primeiro ancestral do Homem de Piltdown ou do Homem de Neandertal nascesse.
Estupefato com o vislumbre de um passado que extrapolava a imaginação do mais ousado
antropólogo, pus-me a meditar enquanto a lua lançava reflexos singulares sobre o
silencioso canal à minha frente.
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Número 14 SETEMBRO DE 2023
Então, de repente eu vi. Com um leve rumor que marcou sua chegada à superfície, a coisa
apareceu acima das águas escuras. Vasto como um Polifemo, horrendo, aquilo dardejava
como um pavoroso monstro saído de algum pesadelo em direção ao monolito, ao redor do
qual agitava os braços escamosos ao mesmo tempo que inclinava a cabeça hedionda e
emitia sons compassados. Acho que foi naquele instante que perdi a razão.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Quando emergi das trevas eu estava num hospital em São Francisco; quem me levou até lá
foi o capitão do navio americano que resgatou meu barco, à deriva no oceano. Falei muito
em meu delírio, mas descobri que haviam dado pouca atenção às minhas palavras. Meus
benfeitores não sabiam nada a respeito de terras imersas no Pacífico; e não julguei
apropriado insistir em algo que eu sabia ser inacreditável. Certa vez falei com um
etnólogo famoso e diverti-o com perguntas um tanto peculiares sobre a antiga lenda
filistina de Dagon, o Deus-Peixe; mas logo, ao perceber que o estudioso era
irremediavelmente ordinário, desisti das minhas perguntas.
É à noite, em especial quando a lua está gibosa e minguante, que vejo a coisa. Tentei
morfina; mas a droga mostrou-se um alívio apenas temporário e prendeu-me em suas
garras como a um escravo desesperançado. Agora, tendo escrito um relato completo para
a informação ou para o deleite zombeteiro de meus semelhantes, pretendo pôr um fim a
tudo. Muitas vezes pergunto-me se tudo não seria a mais pura ilusão — um simples delírio
enquanto eu jazia vociferando durante uma insolação no barco exposto aos elementos,
logo após escapar da belonave alemã. Eis o que me pergunto, mas sempre tenho uma visão
nítida do terror em resposta. Não consigo pensar nas profundezas oceânicas sem
estremecer ao imaginar as coisas inomináveis que neste exato momento podem estar
deslizando e arrastando-se pelo fundo viscoso, rendendo homenagens a antigos ídolos de
pedra e esculpindo sua execranda imagem em obeliscos submarinos de granito úmido.
Sonho com o dia em que possam erguer-se acima das ondas para arrastar ao fundo, em
suas garras fétidas, os resquícios dessa humanidade pífia e devastada pela guerra — com o
dia em que à terra há de afundar, e o fundo escuro do oceano erguer-se em meio ao
pandemônio universal.
O fim está próximo. Ouço um barulho na porta, como o de um enorme corpo escorregadio
batendo contra a madeira. Jamais vão me encontrar. Meu Deus, aquela mão! A janela! A
janela!
Howard Phillips Lovecraft, ou H.P. Lovecraft, foi um escritor norte-americano que revolucionou o
gênero de terror, atribuindo-lhe elementos fantásticos típicos da fantasia e ficção científica.
Criando um gênero depois chamado de Terror Cósmico. Suas histórias expressam indiferença às
crenças e atividades humanas e uma atitude profundamente pessimista. Seu legado até hoje
influencia várias gerações de escritores de ficção de horror.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
REFULGIR URBANO
voz de vel
Muito antes do senhor Bonner quem liderava a bancada do jornal mais popular do país era o Cid
Moreira, com sua inconfundível voz grave, o paulista de Taubaté, narrava com uma versatilidade e
precisão que emocionava, as notícias mais importantes do dia. É o jornalista detentor do recorde de
apresentação ininterrupta de um telejornal, cuja bancada foi inaugurada em 1969.
Cid iniciou a carreira como contador de histórias na rádio Difusora, passando a narrador esportivo e
jornalístico nos cinemas, antes da popularização da TV. Cid noticiou momentos marcantes para a
história do país, como a Constituição Brasileira de 1988, os 100 anos da abolição da escravatura e
a morte de Carlos Drummond de Andrade, quando recitou, ao vivo, o poema "E agora, José?".
Desde 1991 iniciou uma série de gravações de passagens bíblicas que alcançaram grande sucesso
e levaram a outras gravações como a “A Bíblia Sagrada”– O Novo Testamento” (2002), “Coleção
Novo Testamento” (2004), “A Bíblia Sagrada em texto integral" (2004 a 2009).
Criador de alguns bordões famosos da TV, como o “Jabulaaaanii”, nome oficial da bola da copa de
2010 e que provocava erros dos jogadores, levando ao bordão. No Fantástico, narrava as
apresentações do mágico Mister M, “O senhor de todos os segredos”, outro bordão que se tornou
famoso, assim como o aguardado “boa noite” ao final do jornal. Cid faz 96 anos em 29 de setembro.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
AS LÁGRIMAS D'ALMA
DAVID MONTE NERO
A humanidade vive o pulsar das aparências, como se tudo fosse uma simples questão do
ter. Dos carros mais bonitos aos apartamentos mais caros e os sorrisos nas mídias
sociais, tudo apenas remonta a lacuna abismal que cada ser humano possui lá no âmago
da essência: é o conter das lágrimas d'alma que clamam por um momento de paz, uma
fração infinitesimal de amar e ser amado, o pulsar da luz divina dentro de si.
Nas incessantes jornadas exercidas pelos seres que aqui habitam temporariamente, por
vezes o caminho é solitário, árido e assaz pedregoso. É nesse interim que mais lágrimas
surgem nos bastidores do vasto campo do coração. Mas, em contrapartida, este processo
gera feridas que com o decorrer do tempo cicatrizam e são cicatrizadas. A dor é
necessária para a evolução do ser, da mesma forma que cada gota de orvalho que cai
sobre as folhas no amanhecer. E é naquela cicatrização que o fortalecimento se faz
mister, e de caráter imperioso.
O enxugar das lágrimas d'alma não se faz com lenços ou tecidos, até mesmo porque o
chorar é intrínseco, onde somente o ser que é provado para ser aprovado e a Entidade
Celestial são as testemunhas sentimentais de tais processos evolutivos. Da mesma
maneira que o organismo atua no processo de uma cicatrização física, o espírito tem a
seu encargo a importante viagem rumo ao abrir os olhos do intangível, com a plena
consciência de que o amanhã é tão possível quanto o agora; que nesta vida, tudo passa,
exceto a imortalidade da alma, que está bem ali, intacta, pronta para alçar voos cada vez
maiores, rumo à luz do conhecimento e da maturidade moral.
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
Muita luz !
KIKOSOFIA
Número 14 SETEMBRO DE 2023
CINEOLHAR
Baseado no livro de mesmo nome da
autora Susanna Kaysen, Garota,
Interrompida é autobiográfico. Após uma
tentativa de suicídio, Susanna (Winona
Ryder) é internada em um hospital para se
recuperar. Lá, a garota faz amizade com
outras pacientes com transtornos
psíquicos e acaba se descobrindo uma
outra pessoa dentro daquele mundo
particular. O filme trata da rotina de
pacientes com distúrbios mentais —
principal causa dos suicídios — em um
hospital psiquiátrico. Uma narrativa sobre
Garota Interrompida
a loucura, a solidão e, sobretudo a amizade 2000 - 2h 07 min
e como tudo isso impacta nossas vidas. Direção de James Mangold
Com Winona Ryder, Angelina Jolie
MATEUS 6:28-30.
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