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EDIÇÃO DE OUTUBRO DE 2023

KIKOSOFIA

Francisco Moreira
Número 15 OUTUBRO DE 2023

OUTUBRO
Por Francisco Moreira

A imaginação é uma das habilidades essenciais do


ser humano, em verdade, ela é em boa parte o que
nos faz sermos humanos. Sem a capacidade de
imaginar é bem provável que estivéssemos
reduzidos a seres irracionais e primitivos. Tudo
aquilo que criamos surge primeiro em nossa mente,
é imaginado antes de se concretizar.

Mas não criamos apenas ferramentas e métodos


que dão impulso a evolução. Somos capazes de
criar mundos e histórias assombrosas, fantásticas,
cheias de heroísmo e aventura, onde podemos viver
experiências únicas que só o lúdico pode
proporcionar.

Ler e escrever é compartilhar ideias, sonhos,


fantasias e aspirações. Por isso tão importante é
valorizar o hábito e fomentar nos mais jovens esse
prazer por contar e ouvir histórias. Foi assim que
chegamos as estrelas, que criamos o impossível e
guardamos nossos passados.

Boas leituras!

Kikosofia nº 15 © 2023 Este trabalho está licenciado por Francisco


Moreira sob CC BY-NC-ND 4.0. Para ver uma cópia desta licença, visite
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

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KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Câncer de
mama
O Câncer de mama é uma das principais preocupações
sobre a saúde da mulher, atingindo milhões delas no
mundo por ano, independente de cor ou classe social. A
maioria (4 em cada 5 mulheres) acometida pela doença
tem mais de 50 anos de idade. Embora o envelhecimento
seja um dos fatores de risco, não existe uma causa única
para o aparecimento do câncer, fatores como consumo de
álcool, fumo, obesidade, histórico familiar e até problemas
relacionados a vida sexual.

É preciso dizer que um em cada três casos de câncer pode


ser curado se for descoberto logo no início. Muitas pessoas,
por medo ou desinformação, ainda evitam o assunto e
acabam atrasando o diagnóstico. Por isso, é preciso falar
mais sobre o câncer, para que a doença deixe de ser vista
como uma sentença de morte ou um mal inevitável e
Embora raro,
incurável.
homens
Homens, embora raro, também podem ser acometidos por
também podem
câncer de mama, portanto é um assunto que também lhes
ser acometidos diz respeito e que deve ser compartilhado, assim como
pelo câncer de informações sobre o câncer de próstata que é mas comum
mama. na comunidade masculina.

Prevenção, que geralmente começa com o conhecimento


do próprio corpo, é fundamental para identificar possíveis
sinais e iniciar um diagnóstico cedo, de modo que o
tratamento possa garantir o melhor sucesso possível. O
autoexame das mamas e a realização do exame de
mamografias, recomendado para mulheres entre 50 e 69
anos ou antes, se houver predisposição familiar. É
importante entender que a ida regular ao médico é
fundamental para a prevenção e detecção de doenças,
apesar das dificuldades de acesso a serviços médicos que a
população em geral enfrenta, de modo que campanhas de
prevenção são essenciais e devem ser estimuladas e
acessadas o máximo possível.

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

Não há uma causa única para o câncer de mama. Diversos


fatores estão relacionados ao desenvolvimento da doença entre
as mulheres, como: envelhecimento, determinantes
relacionados à vida reprodutiva da mulher, histórico familiar de
câncer de mama, consumo de álcool, excesso de peso, atividade
física insuficiente e exposição à radiação ionizante. Os
principais fatores de risco são:

Comportamentais/Ambientais

Obesidade e sobrepeso, após a menopausa


Atividade física insuficiente (menos de 150 minutos de
atividade física moderada por semana)
Consumo de bebida alcoólica
Exposição frequente a radiações ionizantes (Raios-X,
tomografia computadorizada, mamografia etc.)
História de tratamento prévio com radioterapia no tórax

Aspectos da vida reprodutiva/hormonais


A mulher que
Primeira menstruação (menarca) antes de 12 anos possui esses
Não ter filhos
Primeira gravidez após os 30 anos fatores
Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos
Uso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona)
genéticos tem
Ter feito terapia de reposição hormonal (estrogênio- risco elevado
progesterona), principalmente por mais de cinco anos
para câncer de
Hereditários/Genéticos
mama.
Histórico familiar de câncer de ovário; de câncer de mama
em mulheres, principalmente antes dos 50 anos; e caso de
câncer de mama em homem
Alteração genética, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

Sinais e sintomas

Quando o câncer de mama já se encontra com manifestações clínicas, na maioria das vezes ele
se apresenta como nódulo, (um caroço) que pode ser apalpado, na mama. Mas existem outros
quatro sintomas que também podem indicar a presença da doença, sendo geralmente sinais
inflamatórios que não respondem a tratamentos tópicos (cremes dermatológicos, por
exemplo). São eles: retrações de pele e do mamilo que deixam a mama com aspecto de casca
de laranja; saída de secreção aquosa ou com sangue pelo mamilo, chegando até a sujar o sutiã;
vermelhidão da pele da mama; pequenos nódulos palpáveis nas axilas e/ou pescoço. Outros
sinais possíveis são a inversão do mamilo, inchaço da mama e dor local.

Fonte: Ministério da Saúde

É importante que as mulheres observem suas mamas sempre que possível (no banho, no
momento da troca de roupa, etc.), mesmo sem técnica específica, e sempre que detectarem tais
alterações por mais de um ciclo menstrual devem procurar os serviços de saúde para
avaliação diagnóstica. Acima de 50 anos qualquer alteração ou caroço deve levar a uma
consulta médica para avaliação. Lembre que quanto mais cedo descobrir um problema, maior
a chance de solução. Por isso que tanto homens quanto mulheres devem conhecer o próprio
corpo para saber o que é normal ou não, a maioria dos tumores é descoberta por acaso pelos
próprios pacientes em situações do dia a dia.

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

Diagnóstico e Tratamento
Se forem detectados nódulos ou outras alterações, após a
consulta médica, deverá haver a realização de exames que
confirmem se há a presença de um tumor e suas características,
Quando a
o que é feito através de uma biópsia realizada em laboratório. doença é
São retirados fragmentos do nódulo ou da lesão suspeita por
meio de punções (extração por agulha) ou de uma pequena diagnosticada
cirurgia. Esse material retirado é analisado pelo patologista para
no início, o
a definição do diagnóstico.

Se o diagnóstico for confirmado a pessoa será encaminhada a


tratamento
um serviço especializado, que vai avaliar se é um tumor inicial tem maior
ou avançado e irá definir o melhor tratamento para o caso. Esse
tratamento depende da fase em que a doença se encontra e do potencial
tipo do tumor. Podendo incluir cirurgia, radioterapia,
quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica (terapia
curativo.
alvo), e leva em conta também outros fatores como as
características biológicas do tumor, idade da paciente, se já
passou ou não pela menopausa, doenças preexistentes e
preferências de intervenção.

Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento tem


maior potencial curativo. Se a doença já tiver se espalhado para
outros órgãos (o que é chamado de metástase), o tratamento irá
buscar prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida da
pessoas.

Muitos avanços vêm ocorrendo no tratamento do câncer de


mama nas últimas décadas. Hoje há mais conhecimento sobre as
variadas formas da doença e dos vários subtipos de câncer de
mama existentes, sendo que cada deles requer tratamento
específico e individualizado.

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Prelúdios
T.S. Eliot

A tarde de inverno vai baixando


Com um cheiro de bifes nos cruzamentos.
Seis horas.
O fim queimado de dias nevoentos.
E agora uns chuvarais lestos
Prendem os horrendos restos
De folhas secas que envolvem nossos pés
E jornais nos espaços vagos;
As batidas dos chuvaréis
Nas chaminés e nos olhos-mágicos quebrados,
E numa esquina de corcéis
Uma montaria solitária bafeja, trota e avança.
E a lâmpada suas luzes lança.

II

A manhã toma consciência


Das vertigens do cheiro de cerveja
Que vem da rua de serragem batida
Com as pegadas de todos os pés enlameados
Até as primeiras cafeterias.
Junto dos outros mascarados
É que o tempo recomeça,
Pensa-se que todas essas mãos
São, numa centena de quartos mobiliados,
Emergentes tons sombrios.

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

III

Um cobertor da cama agitaste,


Caíste de costas, e aguardaste;
Adormeceste, e observaste a noite que revelava
Um milhar de imagens sórdidas
Do que tua alma foi formada;
Contra o teto eram arremessadas.
E quando todo mundo retornou
E entre as venezianas deslizou a claridade,
E você ouviu os pardais nas calhas da cidade,
Tiveste uma visão da rua
Como se frases por ela fossem compreendidas;
Sentado numa parte da cama, onde
Curvastes papéis que teu cabelo esconde,
Ou agarraste dos pés a amarela sola nua
Nas palmas de ambas as mãos encardidas.

IV

Pelos céus a alma se estendeu dando pequeninas


Voltas que passam por trás de um muro,
Ou esmagou-a uns pés insistentes
Quando marca quatro e cinco e seis o relógio duro;
E dedos curtos preenchendo os cachimbos,
E os jornais da tarde, e as retinas
Certos de certas certezas,
A consciência de uma rua decadente
Sem paciência para apropriar-se do mundo.
Sou movido por sonhos que se curvaram
Em volta dessas imagens, e prendendo:
A noção de algo infinitamente gentil
Algo infinitamente sofrendo.
Limpe a mão sobre a boca, e ria;
O mundo gira, em órbita, como anciãs
Juntando combustível em espaços vagos.

Trad: Raphael Soares

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

Preludes
T.S. Eliot
I

The winter evening settles down


With smell of steaks in passageways.
Six o’clock.
The burnt-out ends of smoky days.
And now a gusty shower wraps
The grimy scraps
Of withered leaves about your feet
And newspapers from vacant lots;
The showers beat
On broken blinds and chimney-pots,
And at the corner of the street
A lonely cab-horse steams and stamps.

And then the lighting of the lamps.

II

The morning comes to consciousness


Of faint stale smells of beer
From the sawdust-trampled street
With all its muddy feet that press
To early coffee-stands.

With the other masquerades


That time resumes,
One thinks of all the hands
That are raising dingy shades
In a thousand furnished rooms.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

III

You tossed a blanket from the bed,


You lay upon your back, and waited;
You dozed, and watched the night revealing
The thousand sordid images
Of which your soul was constituted;
They flickered against the ceiling.
And when all the world came back
And the light crept up between the shutters
And you heard the sparrows in the gutters,
You had such a vision of the street
As the street hardly understands;
Sitting along the bed’s edge, where
You curled the papers from your hair,
Or clasped the yellow soles of feet
In the palms of both soiled hands.

IV

His soul stretched tight across the skies


That fade behind a city block,
Or trampled by insistent feet
At four and five and six o’clock;
And short square fingers stuffing pipes,
And evening newspapers, and eyes
Assured of certain certainties,
The conscience of a blackened street
Impatient to assume the world.

I am moved by fancies that are curled


Around these images, and cling:
The notion of some infinitely gentle
Infinitely suffering thing.

Wipe your hand across your mouth, and laugh;


The worlds revolve like ancient women
Gathering fuel in vacant lots.

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

ÍCONES DA CULTURA OCIDENTAL

BRIGITTE
MONTFORT
Francisco Moreira

Nos anos 70 e 80 do século passado, uma jovem de 28 anos,


olhos hipnoticamente azuis, um corpo escultural e de uma
beleza estonteante e sensual, fazia sucesso nas bancas de
jornal em pequenos livretos da editora Monterey. Essa
beldade era Brigittte Montfort, uma espiã nascida na França
durante a segunda guerra mundial, filha de um oficial nazista
e de “Gisele, a espião nua que abalou Paris”. Enviada anda
bebê para os Estados Unidos pela resistência francesa, após a
morte de sua mãe, iria se tornar uma das mais importantes
agentes da CIA, sob o codinome “Baby”, Brigittte vivia
aventuras mirabolantes pelo mundo inteiro e fazia
adolescenes sonharem com suas belas curvas desenhadas
pelo gaúcho Benício.

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Giselle - O início de tudo

Tudo começou em 1952, no Rio de Janeiro. O jornal “Diário da


Noite” de Assis Chateubriand estava com as vendas em baixa e
com isso sofrendo uma enorme pressão dos acionistas. David
Nasser, um dos executivos do jornal saiu-se com uma ideia
inusitada, publicar em pequenos capítulos o que seria o diário
de uma espiã na França durante a 2ª Guerra mundial. E assim,
começou a escrever as aventuras de Giselle, descrevendo a
história de uma espiã da resistência francesa que usava e
abusa de sua beleza para tirar informações dos oficiais
nazistas. As supostas memórias teriam sido escritas pela
heroína enquanto estava presa na prisão à espera da
execução, e teriam chegado ao Brasil por intermédio de um
jornalista italiano.

A ideia deu tão certo que as vendas do jornal começaram a


subir grandemente, principalmente porque muitas pessoas
julgavam que a história fosse real, já que o jornal apresentava
a série como documental. Curiosamente, Nasser nunca tinha
estado na França e descrevia os cenários com informações do
fotógrafo francês Jean Manzon, que havia se mudado para o
Brasil antes da guerra e trabalhava com Nasser na revista “O
Cruzeiro”.

“Sua missão, Giselle, será a mais Convocada pela resistência francesa (os maquis), Giselle usa
perigosa de todas as que sua beleza para se tornar amante de vários oficiais nazistas de
nós temos. Você vai ficar com o
inimigo. Vai tocá-lo com suas unhas.
apetites sádicos, chegando até a ficar com Hitler, ao mesmo
Estará tão perto do fogo que ele tempo em que passava informações para a Resistência, até ser
pode, a qualquer momento, descoberta, presa, torturada e levada totalmente nua para
envolvê-la.”
finalmente ser fuzilada.

Em 1963 Nasser se torna um dos principais executivos da


Editora Monterrey, fundada sete anos antes pelos sócios
espanhóis Luís de Benito e Juan Fernandes Salmeron, e resolve
reeditar a história de Giselle, agora em forma de livreto de
bolso, consolidando a chegada desse tipo de publicação no
país. O jornalista pernambucano José Alberto Gueiros,
reescreveu parte da história dando sentido ao drama e
reorganizando a trama que fora escrita de forma confusa
anteriormente. Nasciam ali 4 livros que dariam início da
coleção ZZ7, lançada em março de 1964, 12 anos após a
publicação original da estória de Giselle. As capas com
ilustrações do desenhista gaúcho Benício, que deu formas e
beleza fenomenais a espiã, ajudaram a vender mais de 500 mil
exemplares dos livros

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

NASCE BRIGITTE DE MONTFORT

O sucesso de vendas dos livros fez


com que a distribuidora Fernando
Chinaglia, através de Domenico Leta,
pedisse mais edições, “A vaca leiteira
está dando muito leite, não pode
parar”. Mas havia dois problemas: ao
final da história Giselle é morta,
fuzilada pelos alemães e Nasser, no
auge da carreira na revista “O
Cruzeiro” não daria continuidade a
saga da personagem. A solução veio
de Gueiros, que criou uma filha para
Giselle que antes da morte da mãe
fora mandada para os EUA. Ele ainda
escreveria as primeiras aventuras de
Brigite Montfort, sob a alcunha de
J.F. Krakberg, mas aquilo tomava
muito de seu tempo, que não queria Mesmo não tendo sido o criador
ficar preso a escrita. da personagem, foi ele quem deu
a Brigittte sua personalidade e
Por sugestão de Salmeron, Gueiros caráter, explorando detalhes da
segue a Barcelona, em busca de sua vida, seus vícios e virtudes,
escritores de aventuras que atuavam dando-lhe um relacionamento
sob pseudônimos ingleses e que amoroso forte e cheio de
produziam histórias convincentes e complicações, dilemas morais e
ricas em detalhes. Lá, conheceu até mesmo filhos ao longo da
Antonio Vera Ramirez – Lou Carrigan série. Tratando-a com carinho e
– que após ouvir o argumento, se excelência magistrais que faziam
apaixonou pela personagem e os leitores acreditarem que ele
concordou em escrever suas era um agente aposentado da CIA
aventuras. As primeiras histórias - A Agência Central de
escritas por Carrigan foram Inteligência - dos Estados Unidos,
publicadas em 1965, tendo ele escrito ou pelo menos alguém que tinha
até 1992 exatos 482 livros da espiã acesso a informações privilegiadas
com cerca de 150 páginas cada. sobre intrigas internacionais.

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O CRIADOR DE MUSAS

Boa parte do sucesso da série ZZ7 se deve ao ilustrador Benício, cujas


capas cheias de sensualidade, mostravam toda a beleza voluptuosa de
Brigitte, que aparecia sempre seminua, com uma arma na mão ou sob a
mira de uma delas. Para criar a imagem da bela espiã, se inspirou na
socialite Maria de Fátima Monteiro (depois conhecida por Priolli),
considerada uma das mais belas mulheres do Brasil na época.

É possível que Benicio tenha ilustrado cerca de 460 diferentes capas para
os livretos, algumas delas utilizadas mais de uma vez durante a série. Ele
também desenhava para outros livros da editora, o que ajudou a alavancar
a sua popularidade e o ajudou a se tornar um dos principais e mais
influentes ilustradores do país,

Benício (falecido em 2021) é uma referência que por muitos anos ilustrou
campanhas publicitárias icônicas, cartazes de cinema, capas de discos. etc.
Seu traço e estilo são rapidamente reconhecidos, principalmente nas
representações femininas cheias de sensualidade e poder, e permanecem
um fabuloso legado que anda inspira gerações de artistas e profissionais.

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Número 15 OUTUBRO DE 2023

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BRIGITTE...
Tendo sido enviada para os EUA ainda bebê,
Brigitte é criada por pais adotivos, ao crescer
se forma em jornalismo pela Universidade de
Columbia, em Nova York, Sua habilidade e
talento rapidamente a levaram ao auge do
jornalismo internacional, alcançando
importantes sucessos que a levaram a receber
o Prêmio Pulitzer. Muito jovem, ocupa o cargo
de chefe da Seção Internacional do poderoso O fim de Giselle
jornal nova-iorquino Morning News, e se
instala em um luxuoso apartamento no Giselle, nua, encostada ao muro de
vigésimo sétimo andar do Crystal Building, na execuções, parecia uma estátua grega de
Quinta Avenida. Praxiteles, tão pálida era sua cor... da
palidez do mármore. Os soldados
Miss Montfort é uma criatura requintada que abaixaram os fuzis para contemplá-la.
leva uma vida despreocupada, confortável, O coronel Weber ainda perguntou:
feliz e aparentemente egoísta. Mas Brigitte - Pretende, a condenada, manifestar sua
Montfort também é uma fabulosa espiã última vontade?
secreta que geralmente trabalha para a CIA, Giselle, com voz débil, mas segura, pediu:
com o codinome de Baby. Poliglota, - Se o coronel é um "gentleman", e um
grande soldado, entendido nas regras da
especialista em Artes Marciais e no uso de
guerra limpa, fará meu último desejo sem
diferentes armas e veículos.
constrangimentos.
Todos os espiões do mundo já ouviram falar - E qual é esse desejo?
da Agente Baby, mas poucos conhecem sua - Quero que o próprio coronel Weber
identidade. Durante sua longa carreira como cante a primeira estrofe da "Marselhesa",
para mim, antes de dar a ordem de fogo.
espiã, Baby criou inimigos terríveis, mas
Afinal, não há aqui ninguém mais que o
especialmente bons amigos em todas as
possa fazer.
partes do mundo: de simples aventureiros
O coronel engoliu em seco. Era um desafio
errantes a reis e presidentes que colocariam à sua condição de "gentleman" e soldado.
todos os recursos de seu país à sua disposição Com uma voz muito rouca, mas
assim que ela solicitasse. razoavelmente afinada, e num sotaque
bastante leve para um nazista que falasse
Número Um, um ex agente da CIA traído pela
francês, começou a cantar:
agência que agora trabalha por conta própria,
- Allons enfants de la Patrie...
é o grande amor de Brigitte com quem vive Le jour de gloire est arrivé!
aventuras emocionantes e intensas. Com
quem, ao fim da carreira ela irá ter filhos e Todos o olhavam estarrecidos. O coronel
encerrou a primeira estrofe, formalizou-se
buscar uma vida tranquila, longe das
e ordenou:
frenéticas intrigas de ação.
- Fogo!
KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

CURIOSIDADES

A Musa - Maria de Fátima ganhou


notoriedade por ter sido pré-candidata do
concurso Miss Guanabara aos 20 anos, mas
acabou não concorrendo por motivos
pessoais. A imprensa especializada e boa
parte do público a consideravam uma das
mulheres mais bonitas do Brasil naquela
época. A revista Manchete de 03/0667 assim a
Brigitte lado a lado com a musa que a
inspirou
descreve: “agressivamente bela,
ferozmente elegante, rosto desafiador,
assustadoramente bela”. Que preferia
continuar dando aulas no Leblon que estar
nas passarelas e cuja única queixa era não
poder seguir carreira miliar. Benício nunca a
encontrou pessoalmente, mas soube por
Alberto Gueiros que era amigo da musa que
“ela ficou muito orgulhosa de ter inspirado a
personagem.”

Espanha - Também por lá a espiã fez enorme


sucesso junto ao público, com grande
popularidade, sendo parcialmente publicada
por diversas editoras (Rollán, Bruguera,
Petronio e Dlorean)

Filme - Um projeto para transformar as


aventuras de Brigitte em filme chegou a ser
anunciado por Lou Carrigan em 2015, tempos
depois a jornalista Danela Kogut anunciou
que as histórias da espião seriam em verdade
transformadas em uma série de TV a ser
exibida pelo canal GNT. O projeto seria
desenvolvido pela Ocean filmes e ainda
consta no catalogo da produtora, porem sem
Capa de uma das publicações na mais nenhuma atualização.
Espanha
KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

CURIOSIDADES

Capas - As capas das primeiras edições da


Série Vermelha da Coleção ZZ7 com Brigitte,
Giselle e, eventualmente, outros personagens
foram desenhadas por um ilustrador
holandês radicado no Brasil e conhecido
apenas como Hack. Apesar de ser
considerado um grande ilustrador e de ter
colaborado em muitos outros livros da
Editora Monterrey, nunca foi creditado na
Coleção ZZ7 como Benicio foi
posteriormente. Os primeiros livros da Série
Vermelha continham, também, cinco
ilustrações internas cada, provavelmente
também desenhadas por Hack.

Ressureição - No ano de 2000, Lou Carrigan


foi desafiado por Juan Alberto Fernádez
Nunes, então proprietário da Monterey, a
escrever histórias de Giselle, que seriam
passadas depois da guerra. Carrigan teria que,
de forma verossímil, mostrar que ela não teria
sido executada na prisão em 1944 e vivera
anos na clandestinidade. A ideia era relançar
a série com novas aventuras. Os livros forma
escritos, mas devido a morte acidental de
Nunes, nunca foram publicados o Brasil.

Catuaba - Tenho certeza que você já viu essa


linda ilustração por aí, estampada na garrafa
de uma popular bebida que costuma evocar a
virilidade masculina. É um dos trabalhos mais
populares do Benício, selvageria,
sensualidade e beleza em plena sintonia com
o rótulo. Agora você pode brindar com uma
bela história para contar indo do bárbaro
guerreiro até uma certa espiã de olhos azuis.

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Estante
DICAS DE LEITURA PARA SEUS MOMENTOS
Pois o mundo é feito de histórias

O livro conta a biografia de José Luís Benicio da Fonseca, o


Benício (1936 - 2021), o famoso desenhista de cartazes de
cinema e pin-ups. Narrando a infância difícil de Benício em
Porto Alegre/RS, e sua chegada na editora carioca RGE, de
Roberto Marinho, onde se destacou como capista,
entrando para a publicidade, literatura e o cinema. Benicio
transpôs para o papel imagens de belíssimas e sedutoras
mulheres, em centenas de capas de pocket books e
cartazes de cinema, cujos traços ajudaram a moldar uma
nova estética, driblando momentos mais conturbados da
ditadura. O livro apresenta centenas de imagens coloridas
de suas criações, e mais centenas de outras em preto e
branco. Resultado da troca intensa de correspondência
entre ele e o jornalista Gonçalo Jr. é um documento
Gonçalo Júnior
histórico sobre a ilustração brasileira. 416 páginas
Editora Ópera Gráfica

Mané Garrincha é um quadrinho biográfico que promete


contar toda a história de uma das maiores lendas de nosso
futebol, desde a infância, passando por sua imprpovável
chegada ao Botafogo, até atingir a glória na seleção
brasileira e sua despedida dos gramados em 1973. A obra
está em pré-venda em: https://www.catarse.me/garrincha
com entrega prevista para novembro. A julgar pela qualidade
de outros trabalhos da editoras Universo do bacon,
Memorabília do esporte e Universo fantástico, esse será mais
um grande acerto. Um item indispensável para aqueles que
gostam de um bom futebol e de uma boa história de
superação. Garrincha, o anjo de pernas tortas que fazia
dribles impossíveis e criava jogada memoráveis que marcaram
a geração mais icônica de nosso futebol, fazendo deste o
Por Fabiano Santos e Samuel Bono mais admirado no mundo e serviu de inspiração a gerações de
92 páginas coloridas em offset 90 g /m2,
lombada quadrada e formato americano
jogadores.
17 x 25 cm,

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Morning at the window Manhã à janela

They are rattling breakfast plates Há um tinir de louças de café


in basement kitchens, Nas cozinhas que os porões
And along the trampled edges of abrigam,
the street
E ao longo das bordas pisoteadas
I am aware of the damp souls of
da rua
housemaids
Penso nas almas úmidas das
Sprouting despondently at area
domésticas
gates.
Brotando melancólicas nos
portões das áreas de serviço.

The brown waves of fog toss up to


As ondas castanhas da neblina me
me
Twisted faces from the bottom of arremessam
the street, Retorcidas faces do fundo da rua,
And tear from a passer-by with E arrancam de uma passante com
muddy skirts saias enlameadas
An aimless smile that hovers in the Um sorriso sem destino que no ar
air vacila
And vanishes along the level of the E se dissipa rente ao nível dos
roofs. telhados.

Trad: Ivan Junqueira

T.S. Eliot
Thomas Stearns Eliot, mais conhecido como T.S. Eliot (1888-
1965), foi um poeta, dramaturgo, crítico literário e editor norte-
americano. Considerado um dos mais importantes escritores do
movimento modernista. Por sua contribuição à poesia, recebeu o
Prêmio Nobel de Literatura em 1948.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Publique na Kikosofia
A Kikosofia é um espaço de vozes, consonantes,
dissonantes, de livre e respeitosa expressão e opinião. Um
local que se pretende divertido, reflexivo, por vezes louco,
mas sempre acolhendo o outro, independente de diferenças,
somos todos iguais, e isso é o que de mais belo existe no
viver, saber que não somos cópias de outro ser.
Colabore, discorde, concorde, opine. Boa jornada.

Envie seu texto, poesia, conto, comentário


para

kikosofia@gmail.com
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Número 15 OUTUBRO DE 2023

1/4 da Vida
(Eu) Levei a vida a procurar
Virtude, felicidade é meu último patamar.
Agora que faço? Falta 1/4 para mim
Não quero ser bandolim
Para sofrer outro quinhão
Arrebentou-se todas as cordas do coração.
Agora lamento! Desperdicei 2/4 em todo momento.
Quando rapazola fugia-me o pensamento.
Para quê voltar ao passado nesse instante?
Ira, melancolia tudo de um pretérito gigante.
Agora é certeza! 3/4 de reflexão.
É o retorno ao pó.
toda vida tem um dó.
Agora que faço?
Espero completar 4/4.

SSilva

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

“Não se afoga por cair no rio, mas por


permanecer no fundo”
Muitos são os revezes da vida, as decepções, os fracassos, enfim, muitos são
os motivos para nos deixar tristes e deprimidos, porém, muitas também são as
oportunidades de nos saírmos bem. Chego a acreditar que as situações boas e
ruins se revezam equitativamente, mesmo levando-se em conta os fatores
intervenientes envolvidos. Todavia, nossa postura ao enfrentarmos as
situações difíceis é que determina o resultado. Sim, tudo depende da forma
como enfrentamos os problemas. Tem pessoas que, apesar de todas as
dificuldades, mantêm o otimismo e a fé de que, no final, tudo dará certo.
Outras, ao contrário, aos primeiros sinais de problemas, entregam-se às
lamúrias e negatividades. Há também aquelas que se demonstram tranquilas e
resignadas ante as situações, sejam elas boas ou ruins, enfrentando com
naturalidade todas.

Um fator importante nesta análise é o merecimento. Este, logicamente, baseia


todo o início de jornada e, impõe que não se pode agraciar quem não fez por
merecer. Um exemplo muito claro disso são as gratificações por
produtividade que se paga nas empresas, logicamente, quem produz menos,
recebe menos ou não recebe. Analogamente, o mesmo se dá na nossa vida
cotidiana, todavia, não necessariamente imediatamente, a curto ou médio
prazo, etc. Lembrem-se que estamos falando dos revezes e vitórias da vida,
ok? Mas, o que é revés e o que é vitória? O milionário e o paupérrimo tem os
mesmos revezes e vitórias? Precisamos entender que nossa situação é
exatamente a que podemos ter, essa é a nossa crença. Cremos que “Deus dá
o frio conforme o cobertor”, que não há injustiça na Lei de Deus, assim, não
podemos comparar nossas conquistas ou fracassos tomando por base outras
pessoas. O que temos é o que merecemos! Mas, voltemos àquela empresa
que paga por produtividade: um empregado que não tenha produzido no mês
anterior, se o fizer no seguinte, certamente receberá. O mesmo se dá em
nossas vidas. Deus com suas leis não tenciona nos punir, mas, nos instruir no
amor, todavia, “a semeadura é livre, mas, a colheita é obrigatória”. Não há que
se colher êxitos se plantarmos iniquidades.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Sabemos, pela lei da atração, que a negatividade ou positividade circundam nossas


vidas de acordo com a forma como as conduzimos, ou seja, como disse
anteriormente, semeamos nossas colheitas. Assim, nossa conduta com os outros
ou com a própria vida, é fator determinante para a prosperidade ou fracasso de
nossos planos e expectativas. Se nos dizemos cristãos, precisamos pautar nossa
conduta nos preceitos do cristianismo, por questão de lógica, confiantes de que
coisas boas virão destas atitudes. Fazer aos outros o que queremos que nos
façam, implica dizer que quanto mais nos enquadramos no respeito e amor ao
próximo, mais prósperas serão nossas vidas. Claro que, para tanto, necessário se
faz uma reengenharia da conduta moral, e, até que toda a negatividade seja
exaurira da nossa corrente de vibrações, demandará um certo tempo. É como um
copo com água suja que ao colocarmos água limpa constantemente, em algum
tempo a água suja sairá.

Somos imperfeitos, mas, podemos decidir sobre o bem e o mal, aliás, sabemos o
que é certo e errado (moralmente falando), portanto o erro é uma escolha. Certo é
que, quanto mais nos voltamos para o bem, mais teremos sucesso. Assim, a
alternância de situações boas e ruins, penderá, cada vez mais para as boas. Resta
saber: quanto tempo ainda permaneceremos no fundo do rio? Vamos começar a
emergir!

Josnei Castilho

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Imprevisibilidade
O quinto pacote entregue pelos Correios foi
parar no topo da pilha com os outros. Ela se
olhou no espelho, ajustou o vestido preto e saiu
para o encarar o velório. Os projetos dele
empilhados na cabeceira da cama.

reira
o Mo
Kik

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

ONDE ESTÁ O AMOR, ESTÁ DEUS


UM CONTO DE LEON TOLSTOI

O sapateiro Martin Avdeitch morava na cidade. Vivia num porão, num quarto com
uma janela. A janela dava para a rua. Pela janela, viam-se as pessoas passando;
embora só se vissem os pés, Martin Avdeitch reconhecia as pessoas pelas botas.
Fazia muito tempo que Martin Avdeitch morava no mesmo lugar e tinha muitos
conhecidos. Era raro o par de botas que já não tivesse parado em suas mãos uma ou
duas vezes. Em alguns, trocava a sola, em outros, punha remendos, em outros,
refazia a costura, em outros, fazia uma biqueira nova. E muitas vezes via pela janela o
fruto de seu trabalho.

Tinha muito trabalho, porque Avdeitch trabalhava com esmero, usava material bom,
não usava material inferior e cumpria sua palavra. Se podia fazer no prazo, fazia, se
não, ele não tentava enganar, dizia logo. E todos conheciam Avdeitch e nunca lhe
faltava trabalho. Avdeitch sempre foi um homem bom, mas na velhice passou a
pensar mais na própria alma e a se aproximar de Deus. Ainda no tempo em que
Martin morava na casa do patrão, sua esposa morreu. A mulher lhe deixou um filho
de três anos. Os filhos deles não sobreviveram. Os mais velhos tinham todos morrido
antes. No início, Martin quis dar o filhinho para uma irmã que vivia no campo, depois
teve pena. Pensou: “Vai ser difícil para o meu Kapitochka crescer no meio de outra
família, vou deixá-lo comigo mesmo”. E Avdeitch saiu da casa do patrão e foi morar
com o filho num quarto. Mas Deus não lhe deu sorte com os filhos. Assim que o
menino cresceu um pouco, passou a ajudar o pai e lhe deu mais alegria, uma doença
atacou Kapitochka, o menino caiu de cama, ardeu em febre uma semana e morreu.
Martin enterrou o filho e se desesperou. E tanto se desesperou que passou a se
queixar de Deus. O abatimento de Avdeitch era tamanho que mais de uma vez pediu
a Deus sua morte e censurou a Deus por não ter levado a ele, um velho, em lugar de
seu filho único e querido. Avdeitch parou de ir à igreja. E um dia um velho
conterrâneo de Avdeitch apareceu em sua casa - já estava peregrinando havia oito
anos. Avdeitch conversou com ele e começou a queixar-se de seu infortúnio:

- Nem tenho mais vontade de viver, homem de Deus - disse ele. - Quem me dera
morrer. É só isso que peço a Deus. Agora me tornei um homem sem esperança.

E o velhinho lhe disse:

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

- O que você diz não é bom, Martin, não podemos julgar os assuntos
de Deus. Não vivemos pela nossa razão, mas pelo juízo divino. Deus
julgou que seu filho devia morrer e você devia viver. Isso quer dizer
que assim é melhor. O motivo de você se desesperar tanto é porque
quer viver para sua própria alegria.
- Mas para que viver, então? - perguntou Martin.
E o velhinho disse:
- E preciso viver para Deus, Martin. Ele lhe deu a vida, é preciso viver
para Ele. Quando começar a viver para Ele, não terá nenhum motivo
para se afligir e tudo vai parecer mais fácil.
Martin ficou calado e depois disse:
- E como se faz para viver para Deus?
E o velhinho respondeu:
- Cristo nos mostrou como se faz para viver para Deus. Sabe ler?
ele foi comprar Compre o Evangelho e leia, e aprenda a viver para Deus. Lá está claro.
um Novo E aquelas palavras se gravaram no coração de Avdeitch. No mesmo
Testamento em dia, ele foi comprar um Novo Testamento em letras grandes e

letras grandes e começou a ler.

começou a ler. Avdeitch quis ler só nos feriados, mas, quando começou, sentiu-se tão
bem que passou a ler todo dia. Às vezes lia tanto que consumia todo o
querosene da lamparina e mesmo assim não conseguia largar o livro. E
desse modo Avdeitch lia toda noite. Quanto mais lia, mais claro
compreendia o que Deus queria e como se devia viver para Deus; e
seu coração ficava cada vez mais leve. Antes, acontecia de deitar-se
para dormir e ficar gemendo, soluçando, pensando o tempo todo em
Kapitochka, mas agora apenas dizia: “Glória a Ti, glória a Ti, Senhor!
Seja feita a Tua vontade!”. Desde então, toda a vida de Avdeitch se
transformou. Antes, ele costumava passar os feriados na taberna,
beber chá, e não recusava uma vodcazinha. Antigamente, bebia muito
com algum conhecido e, ainda que não se embebedasse, saía da
taberna alegre e falava bobagens: batia boca com os outros, xingava.
Agora tudo isso havia ficado para trás. Sua vida se tornou mais serena
e alegre. De manhã, sentava-se para trabalhar; uma vez terminado o
serviço, tirava a lamparina do gancho, colocava na mesa, pegava o
livro na estante, abria e ficava lendo. E quanto mais lia, mais entendia
e o coração ficava mais claro e alegre.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Certa vez, Martin leu até mais tarde. Lia o Evangelho de Lucas. Leu o capítulo VI e os
versículos: “A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te arrebatar o casaco, não
recuses a camisa. Dá a quem pedir e não peças de volta o que te for tirado. E como
quiseres que os outros te façam, assim também faz a eles”.

Mais adiante leu os versículos em que o Senhor diz:

“Por que me chamais de Senhor, Senhor! mas não fazeis o que digo? Vou mostrar-vos a
quem é comparável todo aquele que vem a mim, escuta as minhas palavras e as põe em
prática. É comparável a um homem que, ao construir uma casa, cavou, aprofundou e
assentou o alicerce sobre a rocha. Veio a enchente, a torrente deu contra essa casa, mas
não conseguiu derrubá-la, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem escuta e não
pratica se parece com o homem que construiu sua casa ao rés do chão, sem alicerce. A
torrente deu contra ela, e logo desabou; e foi grande a sua ruína.”

Avdeitch leu essas palavras e sentiu alegria na alma. Tirou os óculos, colocou sobre o
livro, apoiou os cotovelos na mesa e pôs-se a pensar. E passou a avaliar sua vida segundo
aquelas palavras. E pensou: “Minha casa está assentada na rocha ou na areia? É boa, como
se estivesse na rocha. É fácil ficar nela sozinho, parece que fiz tudo como Deus manda,
mas se a gente se distrair, vai pecar de novo. Vou continuar sempre assim. É tão bom Que
Deus me ajude!”.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Pensou assim, quis deitar-se, mas teve pena de separar-se do livro. E começou a ler o
sétimo capítulo. Leu sobre o centurião, leu sobre o filho da viúva, leu sobre a resposta aos
discípulos de João e chegou à passagem em que o fariseu rico convidou o Senhor para ir à
sua casa e leu como a mulher pecadora passou óleo nos pés do Senhor, lavou-os com
lágrimas e como Ele a redimiu. E chegou ao versículo 44 e leu:

E, apontando para a mulher, disse a Simão: “Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me
derramaste água nos pés; mas ela regou meus pés com lágrimas e enxugou-os com os
cabelos. Tu não me beijaste, mas ela, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. Tu
não derramaste óleo na minha cabeça; mas ela ungiu meus pés com perfume”.

Leu esses versos e pensou: “Não derramou água nos pés, não deu beijos, não untou a
cabeça com óleo”.

E Avdeitch tirou os óculos de novo, colocou sobre o livro e pôs-se a pensar outra vez.
“Está bem claro que o fariseu era como eu. Também ele, me parece, só pensava em si
mesmo. Pensava em beber chá, ficar aquecido, no conforto, em vez de
pensar no seu hóspede. Pensava em si e não tinha cuidado com o hóspede. E quem é o
hóspede? O próprio Senhor. Se viesse à minha casa, será que eu faria o mesmo?” E apoiou
os cotovelos na mesa e nem notou quando adormeceu.

- Martin! - de repente, algo pareceu respirar bem junto de seu ouvido.


Martin teve um sobressalto em seu sono.
- Quem é?
Virou-se, olhou para a porta: ninguém. Cochilou de novo. De repente ouviu bem nítido:
- Martin, ei, Martin! Amanhã irei para a rua, preste atenção.

Martin acordou, levantou-se da cadeira, esfregou os olhos. Ele mesmo não sabia se tinha
ouvido aquela voz num sonho ou acordado. Apagou a lamparina e foi se deitar.

De manhã, Avdeitch levantou-se antes do raiar do sol, rezou, acendeu o fogo da estufa, fez
a sopa de repolho e o mingau, acendeu o samovar, vestiu o avental e sentou-se junto à
janela para trabalhar. Avdeitch ficou trabalhando, enquanto pensava o tempo todo no dia
anterior. E pensava duas coisas: ora pensava que tinha sido uma ilusão, ora pensava que
ouvira a voz de verdade. “Bem, essas coisas acontecem”, pensava.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Martin estava sentado junto à janela e ficava mais tempo olhando


pela janela do que trabalhando, e quando passava alguém com botas
desconhecidas, até se curvava para olhar pela janela e ver não só os
pés, mas também o rosto. Passou um porteiro de botas novas, de
feltro, passou um aguadeiro, depois um velho soldado do tempo do
tsar Nicolau surgiu bem na frente da janela, com velhas botas de
feltro forradas e com uma pá nas mãos. Pelas botas, Avdeitch o
reconheceu. O velho se chamava Stepánitch e morava por caridade
na casa de um comerciante vizinho. Sua obrigação era ajudar o
porteiro. Na frente da janela de Avdeitch, Stepánitch começou a
limpar a neve. Avdeitch olhou um pouco para ele e se ocupou de
novo com o trabalho.

“Pelo visto, a idade está me deixando de miolo mole”, riu Avdeitch de


si mesmo. “O Stepánitch vem retirar a neve e eu acho que é Cristo
que veio me ver. Está ficando ruim da cabeça, velho.” No entanto
Avdeitch deu uns dez pontos de costura e se esticou para olhar de
novo pela janela. Olhou mais uma vez, viu que Stepánitch tinha
encostado a pá na parede e estava se aquecendo ou descansando.

Era um homem velho, debilitado, era óbvio que não tinha forças para
retirar a neve. Avdeitch pensou: “Eu podia lhe dar um pouco de chá,
que bom que o samovar está pronto”. Avdeitch espetou a sovela,
levantou-se, colocou o samovar sobre a mesa, serviu o chá e bateu
Um Samovar
com o dedo no vidro. Stepánitch virou-se e se aproximou da janela.
Avdeitch chamou-o com a mão e foi abrir a porta.

- Entre, se aqueça - disse. - Tome um chá.


- Que Cristo o salve, meus ossos estão quebrados - disse Stepánitch.
Ele entrou, sacudiu a neve, pôs-se a limpar os pés para não deixar
marcas no chão e andou, claudicante.
- Não precisa limpar os pés. Eu limpo depois, é nosso trabalho,
venha cá, sente-se - disse Avdeitch. - Beba este chá aqui.

E Avdeitch encheu dois copos, serviu um para o hóspede e o outro


derramou num pires, para si mesmo, e soprou. Stepánitch bebeu seu
copo até o fim, virou-o de boca para baixo, colocou o resto do
açúcar sobre o fundo e começou a agradecer. Mas era evidente que
queria mais.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

- Tome mais - disse Avdeitch e serviu mais um copo para si e para o hóspede.
Avdeitch bebeu seu chá, mas não parava de espiar a rua.

- Está esperando alguém? - perguntou o hóspede.


- Se espero alguém? Tenho até vergonha de dizer quem estou esperando: não é que eu
esteja esperando de verdade, mas umas palavras ficaram gravadas no meu coração. Não sei
se foi uma visão ou o que foi. Veja só se compreende, meu irmão: ontem eu estava lendo o
Evangelho sobre o Paizinho Cristo, como Ele sofreu, como andou pela terra. Você já ouviu
falar, não é?
- Ouvi falar, sim - respondeu Stepánitch. - Mas sou ignorante, não sei ler.

- Pois acontece que estava lendo sobre como Ele andava pela terra, e lia sobre a hora em
que foi à casa do fariseu, sabe, e o fariseu não recebeu Cristo direito. Pois então, meu
irmão, eu estava lendo essas coisas ontem e pensei: como ele pôde não receber o Paizinho
Cristo com as honras devidas? Se fosse à casa de qualquer um ou à minha casa, por
exemplo, como não saber de que jeito precisa ser recebido? Mas ele não recebeu direito. Aí
fiquei pensando nisso e cochilei. Cochilei, meu irmão, e ouvi uma voz me chamando pelo
nome, levantei, alguém sussurrava: espere, disse a voz, vou chegar amanhã. E repetiu. Pois
então, acredite, isso entrou na minha cabeça, eu mesmo me censuro, mas continuo
esperando o Paizinho.

Stepánitch balançou a cabeça e não disse nada, bebeu seu copo até o fim e colocou-o de
lado, mas Avdeitch levantou o copo outra vez e encheu-o.
- Beba e recupere a saúde. Também penso que quando Ele, o Paizinho, veio à terra não
desdenhou ninguém e ficou mais com as pessoas simples. Sempre andava com gente
simples, escolheu os apóstolos entre nossos irmãos trabalhadores, pecadores como nós.
Quem se eleva, disse, será rebaixado, mas quem se rebaixa será elevado. Vocês me chamam
de Senhor, disse, mas eu lavo seus pés. Quem quer ser o primeiro, disse, será o servo de
todos. Porque, disse, abençoados são os pobres, os humildes, os mansos, os
misericordiosos.

Stepánitch esqueceu o chá, era um homem velho e chorava à toa. Escutava quieto e as
lágrimas escorreram pelo rosto.
- Vamos, beba mais um pouco - disse Avdeitch.
Mas Stepánitch fez o sinal da cruz, agradeceu, afastou o copo e levantou-se.
- Obrigado, Martin Avdeitch - disse. - Você me serviu bem, saciou minha alma e meu
corpo.
- Seja bem-vindo, venha outra vez, vou ficar contente - disse Avdeitch.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Stepánitch saiu e Martin serviu o resto do chá, bebeu tudo, tirou a


louça e sentou-se de novo junto à janela para trabalhar - costurar a
parte de trás de uma bota. Costurava e não parava de olhar pela
janela - esperava Cristo, o tempo todo pensando Nele e em Suas
ações. E o tempo todo as palavras de Cristo estavam na cabeça de
Martin.
Passaram dois soldados, um com botas oficiais, outro com botas dele
mesmo, depois passou o dono de um prédio vizinho, de galochas
muito limpas, passou um padeiro com um cesto. Todos passavam e
então uma mulher de meias de lã e tamancos de madeira surgiu bem
na frente da janela. Passou e parou no espaço entre duas janelas.
Avdeitch olhou para ela por baixo da janela, viu uma mulher
desconhecida, malvestida, com um bebê, tinha parado junto à
parede, de costas para o vento, tentava agasalhar a criança, mas não
tinha com o que agasalhar. A roupa da mulher era de verão e ruim.
A mulher ficou Por trás da esquadria da janela, Avdeitch ouvia o bebê gritar e a
surpresa. Viu mulher queria acalmar a criança, mas não tinha como fazer isso.
um velho de Avdeitch levantou-se, saiu pela porta, foi até a escada e gritou:

avental e - Sabida! Ei, sabida!

óculos
A mulher ouviu e virou-se.
chamando por - Para que fica aí no frio com o bebê? Entre aqui, no calor é mais
ela. fácil cuidar dele. Venha para cá.
A mulher ficou surpresa. Viu um velho de avental e óculos chamando
por ela. Foi atrás dele.
Desceram pela escada, entraram no quarto, o velho conduziu a
mulher até a cama.
- Aqui - disse -, sente perto da estufa, mulher sabida... Se aqueça e
amamente o menino.
- Não tenho leite nos peitos, não como nada desde a manhã - disse
ela, e mesmo assim levou o bebê ao peito.
Avdeitch balançou a cabeça, foi até a mesa, pegou pão, chá, abriu a
tampa da estufa, pôs sopa de repolho numa tigela, pegou a panela de
mingau, mas ainda não estava pronto, pôs a sopa de repolho sobre a
mesa. Pegou o pão, tirou um pano do gancho e botou sobre a mesa.
- Sente - disse -, coma, sabida, enquanto eu fico com o menino, pois
também tive filhos, sei cuidar de crianças.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

A mulher fez o sinal da cruz, sentou-se à mesa e começou a comer, e Avdeitch sentou-se
na cama com o bebê. Avdeitch ficou estalando os lábios para a criança, mas não estalava
os lábios direito porque não tinha dentes. O bebê continuava a gritar. Avdeitch inventou
de assustá-lo com o dedo, brandia o dedo para ele, avançava na direção da boca e depois
recuava. Não deixava o menino pôr seu dedo na boca, porque estava preto, sujo de piche.
E o bebê olhou para o dedo, se calou e depois começou a rir. E Avdeitch também achou
graça. A mulher comia, enquanto contava quem era e o que estava fazendo.
- Sou esposa de um soldado - disse -, faz oito meses que levaram meu marido para longe e
não tive mais notícias dele. Eu ganhava a vida trabalhando como cozinheira, quando dei à
luz. Não quiseram que eu ficasse com a criança. Agora faz três meses que estou nessa luta,
sem ter onde ficar. Gastei tudo o que tinha. Queria trabalhar de ama de leite, não
aceitaram, sou magra, eles dizem. Aí fui à casa da mulher do comerciante, nossa avó mora
lá e por isso me prometeu que ia arranjar um lugar para mim. Achei que era para ir já. Mas
ela mandou ir só na semana que vem. E mora longe. Estou que não me aguento mais e meu
queridinho também. Ainda bem que nossa senhoria tem pena de nós e, com a graça de
Cristo, nos deixa ficar no quarto. Se não fosse isso, nem sei como ia sobreviver.

Avdeitch suspirou e disse:


- E não tem roupas quentes?
- Pois é, irmão, está na época de usar roupas quentes. Ontem penhorei meu último xale
por uma moeda de vinte copeques.
A mulher chegou perto da cama e pegou o bebê. Avdeitch levantou-se, foi até o armário,
remexeu, pegou um casaco velho.
- Tome aqui - disse -, é uma roupa meio ruim, mas pode servir para você se esquentar.
A mulher olhou para o casaco, olhou para o velho, pegou o casaco e começou a chorar.
Avdeitch desviou o olhar; se agachou ao lado da cama, apanhou uma arca pequena,
remexeu dentro dela por um tempo e sentou-se na frente da mulher. E a mulher disse:
- Que Cristo abençoe você, vovô, parece que foi Ele que me fez passar na frente da sua
janela. Meu filhinho estava morrendo de frio. Na hora em que saí estava quente, mas agora
ficou gelado. E foi Ele mesmo, o Paizinho, que fez você olhar pela janela e ter pena de
minha amargura.
Avdeitch sorriu e disse:
- Foi Ele mesmo que me guiou. Eu não estava olhando pela janela à toa, mulher sabida.
E Martin contou seu sonho à esposa do soldado, contou que ouviu uma voz que prometeu
que o Senhor viria à sua casa naquele dia.
- Tudo pode acontecer - disse a mulher. Levantou-se, vestiu o casaco, envolveu nele o
filhinho e então se curvou e agradeceu mais uma vez a Avdeitch.
- Tome aqui, em nome de Cristo - disse Avdeitch, e lhe deu uma moeda de vinte copeques.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

- Resgate o xale do penhor.

A mulher fez o sinal da cruz, Avdeitch fez o sinal da cruz e levou a mulher até a porta.
Ela saiu; Avdeitch tomou a sopa de repolho, arrumou a louça e sentou-se de novo para
trabalhar. Ficou trabalhando, mas pensava na janela, e toda vez que a janela escurecia, ele
logo espiava para ver quem estava passando. Passavam conhecidos, passavam
desconhecidos e não havia ninguém especial.
E então Avdeitch viu uma velha mascate parada bem na frente de sua janela. Levava um
cesto com maçãs. Restavam poucas, parecia ter vendido tudo, mas trazia pendurado no
ombro um saco de lascas de madeira. Na certa tinha pegado em alguma obra e ia levar
para casa. Mas o saco parecia pesar muito em seu ombro; quis passar o saco para o outro
ombro, baixou o saco na calçada, colocou o cesto de maçãs sobre uma pequena coluna e
começou a esvaziar um pouco o saco. Enquanto diminuía o peso do saco, do nada
apareceu um menino de chapéu rasgado, apanhou uma maçã do cesto e quis fugir
depressa, mas a velha percebeu, se virou e segurou o menino pela manga. O menino se
debateu, quis soltar-se, mas a velha o segurava com as duas mãos, arrancou seu capuz e
agarrou seu cabelo. O menino gritava, a velha xingava. Avdeitch não teve tempo para
espetar a sovela. Largou-a no chão mesmo, se precipitou para a porta, até tropeçou na
escada, e seus óculos caíram. Avdeitch correu às pressas para a rua: a velha segurava o
menino pelo cabelo e xingava, dizia que ia levar o menino para a polícia; o menino se
debatia e negava tudo:
- Não peguei nada - dizia. - Por que está me batendo? Me solte.
Avdeitch tratou de separá-los, segurou o menino pelo braço e disse:
- Solte o menino, vovó, perdoe, em nome de Cristo!
- Pois vou perdoar, sim, mas de um jeito que ele não vai esquecer, até as bétulas brotarem
de novo. Vou levar esse bandido para a polícia.
Avdeitch implorou para a velha:
- Solte, vovó, ele não vai mais fazer isso. Solte, pelo amor de Cristo!
A velha soltou, o menino quis correr, mas Avdeitch o conteve.
- Peça desculpa para a vovó. E não faça mais isso, eu vi que você pegou.
O menino começou a chorar, pediu desculpa.
- Pronto, aí está. Agora tome esta maçã para você. E Avdeitch pegou no cesto e deu para o
menino.
- Vou pagar, vovó - disse para a velha.
- Assim você estraga esses malandros - disse a velha. - Tem de recompensar esse moleque
de um jeito que ficasse uma semana sem poder sentar-se.
- Eh, vovó, vovó - disse Avdeitch. - Para nós é assim, mas para Deus, não é. Se é preciso
bater no menino com o chicote, o que será preciso fazer conosco por nossos pecados?

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

A velha ficou calada.

E Avdeitch contou para a velha a parábola do patrão que perdoou todas as dívidas grandes
de um servo camponês e o servo saiu dali e foi estrangular um devedor seu. A velha ouviu
e o menino também ficou ouvindo.
- Deus mandou perdoar - disse Avdeitch. - Senão, nós também não seremos perdoados.
Temos de perdoar todos, e mais ainda os que não têm noção do que fazem.
A velha balançou a cabeça e suspirou. - É isso mesmo - disse ela. - Mas eles já estão muito
estragados.
- Por isso nós, os velhos, temos de ensinar a eles - disse Avdeitch.
- É o que eu digo também - respondeu a velha. - Eu mesma tive sete, só sobrou uma filha.
E a velha começou a contar onde e como ela e a filha viviam e quantos netos tinha. - Veja,
minhas forças se foram - disse ela -, mas trabalho sempre. Tenho pena dos netos, das
crianças, e que netinhos bons eu tenho; ninguém me recebe como eles. A Aksiutka não me
larga, não quer saber de mais ninguém, Vozinha, querida vozinha, meu coração... - E a
velha amoleceu toda de ternura. - É claro que foi coisa de criança. Deus o proteja - disse a
velha para o garoto.
E quando ela quis levantar o saco do chão e pôr no ombro, o menino deu um pulo para a
frente e disse:
- Deixe que eu carrego, vovó, é meu caminho.
A velha balançou a cabeça e entregou o saco ao menino.
E foram os dois, lado a lado pela rua. A velha até se esqueceu de pedir a Avdeitch o
dinheiro para pagar a maçã. Avdeitch ficou olhando para eles e ouviu como conversavam
sem parar, enquanto caminhavam.

Avdeitch observou os dois e voltou para casa, encontrou seus óculos na escada e não
tinham quebrado, pegou no chão a sovela e sentou-se de novo para trabalhar. Trabalhou
um pouco e começou a não conseguir enfiar a linha no lugar certo. “Parece que está na
hora de acender a lamparina”, pensou, abasteceu a lamparina, pendurou e voltou a
trabalhar. Terminou uma bota; virou, examinou: estava boa. Juntou as ferramentas, varreu
os retalhos, guardou as linhas, o alicate e as sovelas, pegou a lamparina, colocou sobre a
mesa e tirou o Evangelho da estante. Queria abrir o livro no lugar que marcara na véspera
com uma tira de couro de cabra, mas abriu em outro lugar. E quando Avdeitch abriu o
Evangelho, lembrou-se do sonho da véspera. E assim que lembrou, teve a impressão de
que alguém se movia e dava um passo a seu lado. Virou-se e viu: num canto escuro,
parecia haver pessoas paradas - pessoas, mas ele não conseguia distinguir quem era. E
uma voz sussurrou em seu ouvido:

- Martin! Ah, Martin. Será que você não me reconheceu?

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

- Quem é? - perguntou Avdeitch.


- Sou Eu - respondeu a voz. - Veja, sou Eu.
E do canto escuro saiu Stepánitch, sorriu, se dissipou como uma nuvem e sumiu...
- E esse também sou eu - disse a voz.
E do canto escuro saíram a mulher e o bebê, ela sorriu, o bebê também sorriu, e se foram.
- E esse também sou eu - disse a voz.
E vieram a velha e o menino com a maçã e os dois sorriram e também se foram.
E Avdeitch ficou alegre, fez o sinal da cruz, pôs os óculos e leu o Evangelho, no lugar onde
havia aberto o livro. E no alto da página leu:

“Eu tive fome e tu me deste o que comer, eu tive sede, e tu me deste o que beber, eu era
um forasteiro, e tu me deste abrigo.
E embaixo da página, leu também:

“Cada vez que fizeste isso a um de meus irmãos mais pequeninos, o fizeste também a
mim” (Mateus 25,38).

E Avdeitch entendeu que o sonho não o havia enganado, que tinha sido exatamente o
Salvador que o visitara naquele dia e que ele o havia acolhido.

Leon Tolstói ou Liev Nikoláievitch Tolstói nasceu na Rússia, no dia 09 de setembro de 1828. Autor de
“Guerra e Paz", uma obra-prima que descreve a invasão da Rússia pelo exército francês e sua retirada,
compreendendo o período de 1805 a 1820. e o tornou célebre. Profundo pensador social e moral é
considerado um dos mais importantes autores da narrativa realista de todos os tempos Trabalhou em
várias áreas: jornalismo, iluminação, filosofia, religião. E autor também de “Ana Karenina” e do conto
“A Morte de Iván Ilitch”, considerado pelos críticos como a mais perfeita novela já escrita.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

REFULGIR URBANO
O Dragão que ainda vive

“Seja água, meu amigo!


Se você deita água num copo, ela se torna o copo.
Se você deita água numa garrafa, ela se torna a garrafa.
A água pode fluir ou pode colidir.”

Em julho completaram 50 anos do falecimento de Lee Jun-Fan, mundialmente conhecido por Bruce
Lee, o chinês nascido nos Estados Unidos durante uma turnê de seus pais com uma companhia
chinesa de ópera, permanece até os dias de hoje como uma lenda que se renova a cada novo filme
de artes marciais. Novos atores e lutadores estrelam o gênero que ele ajudou a popularizar, mas
nenhum conseguiu superar o seu legado. As comparações com seu estilo de luta, sua rapidez e
mesmo seu empenho em levar ao mundo não apenas uma modalidade de luta, mas também a sua
filosofia, continuam fazendo de Lee um desses ícones que nunca se apagam na memória coletiva e
afetiva da humanidade.

Imagino quantas crianças se tornaram campeões de artes marciais inspirados em Lee. Seus filmes
praticamente definiram um gênero que se tornaria perene e cada vez mais lucrativo, cineastas,
atores e produtores de conteúdo ainda buscam nele a energia, o formato e a qualidade fluida de
seu estilo, seja como ponto de partida, homenagem ou busca de um novo ícone. De minha parte
fica a lembrança dos filmes vistos na TV e das brincadeiras que buscavam imitar seus gestos, sua
marra e competência únicas.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Revolução

O rato, perseguido, escondeu se na biblioteca,


entre livros de sociologia. Semanas depois saiu
cheio de ideologia, gritando por libertação,
pregando fim a tanta perseguição e exigindo
histórica restituição. O gato ouviu atento a
reivindicação, ponderou e, por solução, o
comeu apenas por tradição.

Kiko Moreira

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

CINEOLHAR
O filme que levou Bruce Lee ao estrelato
mundial estreou poucos dias depois de sua
morte (1973), na história ele eérecrutado
para investigar um torneio organizado por
Han (Kieh Shih), que serve de fachada para
a venda de ópio. Roper (John Saxon) e
Williams (Jim Kelly) resolvem competir no
torneio devido a problemas distintos.
Enquanto Roper está fugindo da máfia,
devido a dívidas de jogo, Williams está
cansado de ser atormentado por policiais
racistas. Lee entra no torneio e, além de
desmascarar Han, tem que retirar Roper e Operação Dragão
1973 - 1h 40 min
Williams do local com vida. Direção de Robert Clouse
Com Bruce Lee, John Saxon, Jim Kelly

Som da liberdade é um filme baseado em fatos reais,


que toca num assunto bastante incômodo e sensível,
ao retratar a exploração sexual de crianças. Envolto
em polêmicas que atrasaram em mais de cinco anos
a sua chegada ao cinema, foi acusado de fomentar
teorias conspiratórias e idealizar heroicamente a
figura de Tim Balard, fundador da Operation
Underground Railroad, uma organização dedicada à
luta contra o tráfico sexual. Apesar de não
aprofundar o tema, é ponto de partida para a
reflexão, para perceber que fatos assim ocorrem
diariamente próximo a nós e para sabermos que
segundo a ONU 1,2 milhões de crianças desaparecem
Som da Liberdade
2023 - 2h 11 min anualmente no mundo, vítimas de tais crimes.
Direção Alejandro Monteverde
Com Jim Caviezel, Bill Camp, Javier Gordino, KIKOSOFIA
Cristal Aparicio
Número 15 OUTUBRO DE 2023

SEÇÃO HQ
O Brasil é um pioneiro na produção de quadrinhos, tendo iniciado ainda no século XX com a
publicação de “As Aventuras de Nhô Quim” do ítalo brasileiro Ângelo Agostini. Tendo por
passado por diversas fases de produção com material vindo diretamente dos norte-americanos,
mas também ricamente escritos e trabalhados aqui por autores nacionais. Comercialmente, no
entanto, poucos quadrinistas conseguem viver de seus trabalhos ou mesmo obter reconhecimento,
tendo muitas vezes que recorrer ao mercado fora do Brasil. Uma alternativa para produzir com
qualidade tem sido recorrer a plataformas de financiamento coletivo, no qual artistas ou mesmo
pequenas editoras apostam em projetos, massivamente divulgados no boca-a-boca das redes
sociais e assim, conseguido furar a bolha e serem vistos pelo público. O engajamento dos leitores,
aliás é fundamental para que um projeto seja bem-sucedido e é pensando nisso que resolvemos
divulgar alguns projetos conclusos ou em andamento.

Brakan
Aqui temos o primeiro “omnibus” de um personagem
brasileiro. Brakan do mestre Mozart Couto que vem em
duas opções de formato, capa dura e papel especial que
valorizam a lindíssima arte do mestre. Um bárbaro que
vive da guerra, mas que luta internamente em busca de
paz e renúncia à violência.

https://editorauniversofantastico.com.br/

Ilha dos Condenados


Eric Peleias e Ligia Zanella trazem uma HQ de
suspense inquietante. Uma Ilha que promete trabalho
e novos começos para os desesperançados, mas
diante de desaparecimentos inexplicáveis, mesmo
sob eterna vigilância, qualquer um é suspeito em uma
trama que se torna mais sombria a cada página.
Com previsão de entrega para novembro de 2023,
projeto já financiado pode ser adquirido em:

https://www.catarse.me/ilhadoscondenados

Como fazer amigos e...


Leo e seus amigos vivem as mais estranhas aventuras
enquanto enfrentam o desafio de descobrir coisas novas,
conhecer novas pessoas, descobrindo o mundo, suas
magias e decepções. Gustavo Borges e Eric Peleias os
trazem uma sequencia de histórias sobre memórias,
família, amizade, diferenças, semelhanças e mais., nesta
série que até o momento conta com três livros em
quadrinhos.

https://www.comix.com.br/como-fazer-amigos-e-enfrentar-alienigenas.html

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Conto dos orixás (1 e 2)


Um importante resgate da cultura afro que vendo feito
pelo baiano Hugo Canuto através da produção de
quadrinhos que recontam lendas da cultura yoruba
emulando as histórias de super-heróis, bem vistas na
influência de mestres como Jack Kirby e John Buscema.
A obra que é também distribuída em escolas ajudam a
conhecer e fortalecer vínculos essenciais com nossa
ancestralidade.

https://hugocanuto.com/store

Os poucos e amaldiçoados
Série que vem sendo publicada desde 2015 (no Brasil e
EUA) por Felipe Cagno e Fabiano Neves. Num mundo
onde os oceanos secaram, monstros, fantasmas,
maldições e bandidos cruéis cruzam o caminho da
Ruiva, uma mulher destemida em busca de
sobrevivência, que vaga pelos desertos de um mundo
sem esperanças.

http://www.loja-timberwolf.com.br/

O monstro debaixo da minha cama


O Monstro Debaixo da Minha Cama de Luckas Iohanathan
acompanha a trágica infância de Lucy, uma garota
solitária que, dia após dia, precisa suportar os abusos do
próprio pai e a omissão da mãe. Obra vencedora do 2º
Prêmio Geek e indicada em duas categorias do HQmix. A
inocência perdida de uma garota a leva para um mundo
em que todos os homens e até meninos de sua escola são
monstros amedrontadores.
https://pipocaenanquim.com.br/

Leão Negro
Esse projeto que ainda se encontra em campanha de
financiamento busca publicar as primeiras aventuras
dp Leão Negro e seu universo de felinos guerreiros
mercenários. Personagens de Cynthia Carvalho e
Ofeliano de Almeida que surgiram em 1987 no caderno
“O GLOBINHO” do jornal carioca e que possuem uma
legião de fãs devido a qualidade de roteiro e desenho.
Você pode apoiar em:

https://www.catarse.me/leaonegro

Lex Talionis
A HQ conta com arte de Mozart Couto, cores de Gui Martino, artista
brasileiro com mais de 40 anos de carreira e roteiro de Roberto
DeCastro. Um bandido sem escrúpulos irá se deparar com uma
maldição que desencadeará um confronto onde a lei que vigora é
“olho por olho, dente por dente”. a gente paga pelo mal que faz? A
história pode ser lida acompanhada da trilha sonora da banda
Attractha, disponível em todas as plataformas digitais.

https://editorauniversofantastico.com.br/

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

A IRA E A VINGANÇA: AS DUAS COVAS!


DAVID MONTE NERO

O cavalo, em seu cavalgar, por vezes acaba machucando com as suas patas as flores que
se encontram pelo seu trajeto. Claro que reside nisso o ato involuntário do animal, e
mesmo assim, a flor não deixa de exalar o seu perfume mais belo, representando o
esplendor da natureza.

No mundo dos oceanos, bendito é o grão de areia que surge no caminho das ostras! Sem
ele, como teríamos a formação das pérolas?

Mas nada disso representa a ira e o sentimento de desforra, afinal, trata-se de valores
humanos, mesquinhos e pequenos, que quando abarcam o ser ferido e exaltado, encontra
nele um grande depósito para estocar um veneno que nada mais fará que o mal ao
próprio ser vilipendiado.

Então, nobres humanos, é bem possível que o compositor Guilherme de Sá, ex vocalista
da banda Rosa de Saron esteja certo ao afirmar na canção "Vendetta ! Vendetta!", que "da
força à injustiça há somente um passo", ou então, que antes de adentrar no sombrio
caminho da vingança, "que cave duas covas". Isso mesmo: para todo o mal que é praticado
contra um ser, fácil é a (des)medida da vingança. Porque fazer o mal a quem nos busca o
mal, é o caminho largo e doloroso, tão citado por Jesus na passagem bíblica. O difícil é
compreender que a Lei da Semeadura estabelece um decreto celestial: que todo aquele
que busca macular, deturpar e machucar a reputação do próximo, por exemplo, seja por
inveja, despeito ou até mesmo incapacidade de gerir a felicidade alheia em detrimento à
desgraça moral na qual está submergido, acabou assinando o seu próprio destino. É a
cova moral cavada com as próprias mãos !

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Deus constituiu o homem conforme a sua imagem espiritual. Deu o


privilégio de pensar e desta forma, agir com o senso da razão sobre todos
os seus atos. Não seria diferente com a prática do mal ao irmão.
Entretanto, Adhonai, em contrapartida, oferece ao ser humano o livre
arbítrio, de maneira que sob cada ação praticada, haverá sempre
consequências, e todas elas terão o seu mérito de acordo com as obras
praticadas.

Dito isto, é notório que o "plantio" da conspiração, da busca pela


maledicência, da fofoca, intriga, desejo de comprazer-se perante a queda
moral do próximo, é algo facultativo. Mas, que também não esqueça os que
assim procedem, que a "colheita" não tardará acontecer, diretamente
proporcional ao mal causado.

E nesse amálgama de sentimentos hostis, o homem, ao fazer o mal ao


semelhante, acaba escolhendo a sua respectiva sentença, comportando-se
como um ser irracível, enceguecido, e que nada mais fez do que trazer para
si, todos os miasmas negativos das energias que distribuiu para a ação
maléfica.

Quanto ao que sofreu a ação, nada precisa fazer a não ser orar pelo destino
daqueles que foram seus algozes. E é até mesmo compreensível certos
comportamentos tóxicos, ao entender que cada um oferece ao outro aquilo
que possui de melhor no âmago do coração. Esta aí a segunda cova
escavada, muito mais profunda que a primeira que tu mesmo cavastes com
as tuas próprias ações...

E é desta forma que Deus utiliza os seres humanos na prática de ações


maléficas ao próximo, como uma espécie de professor, que nos surge para
aprendermos alguma lição.

Aos hipócritas, que bajulam e conspiram, há um aprendizado fundamental


deles para com o ser bajulado - *o de que não se pode acreditar em
quaisquer pessoas e de que por detrás dos variados sorrisos, pode
esconder-se a adaga da ingratidão, o punhal do puro rancor e morte moral
que vive, e que por melhor e mais belas que tenham sido as ações
realizadas por parte do semelhante - o (s) ser (es) atingido (s), tais
criaturas comportam-se como os escorpiões, que em seu habitat, inoculam
o veneno para buscar paralisar suas vítimas, pela simples e natural "arte"
de predar e buscar fazer a caminhada do outro ser abreviada.

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

Mas, como foi dito desde o começo, entre os animais e o homem, um importante salto
quântico se faz operar, que a racionalidade. E é em nome dela que não se pode retribuir a
toxicidade dos medíocres com a desforra, já que duas seriam as covas abertas para a
vingança: uma para o ser que o ofendeu e a outra, para o que praticou a ira e vingança.

Acredite tão somente que as imutáveis leis de Causa e Efeito atuantes sobre os atos
praticados, estão sob os auspícios da Suprema Criação Divina, e desta forma, nenhuma só
folha cai sem uma causa e consequência.

Siga em paz. Se alguém prática um mal contra você, o problema não é seu, mas sim da
pessoa que assim o perpetra. Tal é a Lei.

Muita paz !

KIKOSOFIA
Número 15 OUTUBRO DE 2023

"E QUALQUER QUE RECEBER EM MEU


NOME UMA CRIANÇA TAL COMO
ESTA A MIM ME RECEBE. MAS
QUALQUER QUE ESCANDALIZAR UM
DESTES PEQUENINOS QUE CREEM
EM MIM, MELHOR LHE FORA QUE SE
LHE PENDURASSE AO PESCOÇO UMA
MÓ DE AZENHA, E SE SUBMERGISSE
NA PROFUNDEZA DO MAR.”

MATEUS 18:5-6.

Gustave Dore
Jesus Abençoando as crianças
(1866)

KIKOSOFIA

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