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EDIÇÃO DE MARÇO DE 2023

KIKOSOFIA

Francisco Moreira
Número 8 MARÇO DE 2023

MARÇO
Por Francisco Moreira

Antes do calendário juliano ser estabelecido (46


a.C), Março, o mês dedicado ao deus Marte, era o
primeiro mês do ano para os romanos e boa parte
do mundo, o que de certa forma confirma o dito
popular baiano de que o ano novo só começa
mesmo depois do Carnaval, como sempre estamos
corretos.

Nesse ano em que comemoramos o centenário da


morte de um de nossos mais influentes intelectuais,
o jurista Rui Barbosa (01/03), vamos relembrar
alguns de seus ditos tão importantes nesses tempo
em que nosso judiciário detém tanto poder e
importância e ainda assim consegue ser fonte de
inúmeras polêmicas em razão de decisões e
exposição midiática exagerada.

Apesar do dia das mulheres ser todo dia, março nos


traz esse momento de celebração e reflexão sobre
o papel da mulher e suas lutas pela igualdade de
tratamento, respeito e dignidade; sem contar que
ainda temos o desafio que a diversidade de gênero
nos traz. Apesar de tanta evolução social ainda
temos uma longa caminhada a frente.

Kikosofia nº 8. © 2023 Este trabalho está licenciado por Francisco


Moreira sob CC BY-NC-ND 4.0. Para ver uma cópia desta licença, visite
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KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

FICÇÕES CIENTÍFICAS
Acertos que nos levam ao fim?
Em livros e filmes sobre ficção científica costumamos
ver, modo geral, duas vertentes, aquela em que a
Humanidade conseguiu superar suas barreiras e
evoluiu de modo a explorar o espaço ou outras
dimensões, passando a respeitar as formas de vida
existente e viver em harmonia - nestes, o desafio
vilanesco costuma vir de fora, uma ameaça
alienígena, um monstro, etc. Aqui podemos citar Star
Trek (Jornada nas estrelas) ou Doutor Who e "Eu,
robô" de Isaac Assimov.

A outra vertente, mais pessimista e mais presente A necessidade


também, é aquela em que a humanidade mergulhou
em regimes autoritários, distópicos, no qual é de evoluirmos
necessário vencer ou se libertar de uma ameaça
como pessoas é
interna. Representantes aqui podemos colocar "1984"
(George Orwell), "Fahrenheit 451" (Ray vital para
Bradbury),"Admirável Mundo Novo"(Aldous Huxley) e
filmes como "O exterminador do futuro" ou "Distrito
sobrevivência
9". da espécie.
Certo é que, apesar das incertezas sobre o que virá,
a necessidade de evoluirmos como pessoas é vital
para sobrevivência da espécie. Infelizmente estamos
já no século 21, tão longe em algumas obras
ficcionais, e ainda não conseguimos superar sequer o
básico: Preconceito, Guerras, Fome, Discriminação,
Intolerância e Violência são cotidianamente
vivenciados por nós.

Sequer aprendemos a respeitar aquilo que é


diferente, se os valores são diferentes dos nossos
então está aberto o caminho para o desprezo, a
humilhação, o "cancelamento". Nossas opiniões tem
que ser homogeneizadas e estéreis. Estamos
perdendo a capacidade de nos importar com o outro,
independente do quão iguais nos tornem as nossas
diferenças. A observar certas obras ficcionais
podemos ver que, ou tomamos cuidado ou a distopia
em que viveremos será muito mais sombria que as
previsões.

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Número 8 MARÇO DE 2023

FORMAÇÃO DE LEITORES
Um desafio complicado, mas possível

Volta e meia alguém me fala algo do tipo “acho tão


bonito ver seus filhos lendo, como faço para fazer os
meus gostarem de ler?”. É uma pergunta que sempre
acho engraçada e geralmente respondo com outra
pergunta: Você gosta de ler? – Muita gente me
responde que não ou, que não tem o hábito, não lê há
muito tempo, etc. É preciso explicar que “não se faz
alguém gostar de ler”, o máximo que podemos fazer é
estimular a leitura, dar opções que possa causar
interesse na criança e justamente por isso a primeira
dica que sempre dou é tente descobrir algo no livros
que você goste, leia, procure algum tema que lhe
agrade e se dê a chance de também se auto estimular
a ler, vai ser mais natural pra criança se ela costuma
ver um adulto sempre com um livro na mão. Mas saiba,
não é tarefa fácil.

Pais costumam muitas vezes apenas “empurrar” livros


de que ouviram falar ou que leram em algum momento
e gostaram e, automaticamente, acham que seus filhos
também vão gostar. Esses dias descobri uma amiga
minha querendo criar o hábito da leitura numa afilhada
e deu pra ela alguns livros, a menina com dez anos de
idade e os livros que deveriam ser lidos e depois
resumidos para a madrinha: "Pai rico, pai pobre"; "O
futuro da humanidade" e "Terras do sem fim". Livros
maravilhosos, mas nenhum deles apropriado para
faixa etária da garota. Mas então como começar?

Antigamente nossos estímulos, nossa diversão, nossos


anseios eram reais, palpáveis. Jogávamos gude, pião,
futebol, pique-esconde. A TV era restrita a algumas
famílias e programas infantis e desenhos animados
eram exibidos em horários definidos, nossa grade de
atrações era limitada por pouquíssimas atrações, a
imaginação era mais exigida, um simples pedaço de
madeira podia se transformar em uma espada, um
violão, um telescópio. Hoje as crianças tem
reproduções das inúmeras varinhas mágicas do
universo do Harry Potter a disposição nas lojas; tudo
vem pronto e bem embalado em um universo virtual de
jogos e seus mundos bem definidos, infinitas
possibilidades de canais e streamings com uma
variada e quase impossível miríade de animações,
filmes e programas.

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Número 8 MARÇO DE 2023

Se antes se exigia bastante de nossa imaginação e criávamos mundos


maravilhosos em nossas mentes, hoje esses mundos nos são mostrados em
detalhes hiper-realistas, sem espaço para que a nossa criatividade molde esses
mundos fantásticos. Assim, a descrição de cenários e personagens nos livros
pode parecer pouco atrativa para as novas gerações, mas lembre-se esses
mundos virtuais são frutos da imaginação de um grupo de pessoas e ai está a sua
limitação. Com nossa mente podemos criar mundos ainda mais maravilhosos e
exclusivamente nossos. Os livros possibilitam isso, mas pra isso precisamos
redescobrir esse segredo.

Uma pesquisa intitulada “retratos da leitura no Brasil” publicada em 2020 mostra


que perdemos mais de quatro milhões e meio de leitores nos 4 anos anteriores,
índice que vemos refletido no grande número de livrarias que fecharam
ultimamente. A pesquisa aponta que, entre os que leram, a Bíblia e livros
religiosos são os mais lidos e marcantes, o que embora seja bom, não é o
bastante para estimular um mercado literário, crítico, de leitores que leiam por
prazer. Redes sociais com o WhatsApp e a internet tem sido os preferidos dos
jovens para gastar seu tempo livre o que nos leva a dizer que esse tempo no
mundo virtual tem que ser controlado pelos pais que querem estimular seus filhos
com os livros. Vale lembrar que mais de um terço dos entrevistados na pesquisa
dizem que começaram a gostar de ler por terem sido incentivados por outras
pessoas, olha aí a importância.

Sempre que vou a uma das poucas livrarias que nos restam, vejo um grande
número de jovens iniciando a adolescência rodando as sessões de infanto juvenil
e alguns adultos nos livros técnicos, poucos na sessões de literatura. A pesquisa
citada mostra que a leitura por prazer diminui progressivamente com o avançar da
idade e aumenta a necessidade da leitura através de livros técnicos e
profissionais. Mas porque essa diminuição no prazer da leitura? Tenho uma teoria.

Os jovens buscam livros que tem a ver com séries, muitas delas reproduzidas no
cinema ou nos streamings, que tentam retratar de alguma forma as descobertas
da adolescência, com aventuras e fantasias que buscam replicar o fantástico
sucesso de J.K Rowling. Diversas sagas adolescentes surgiram a partir da
inovadora forma de contar histórias da escritora. Algumas dessas tentativas
foram também extremamente bem-sucedidas como a saga de Katniss Everdeen em
Jogos Vorazes, com filmes de grande sucesso; ou Percy Jackson, horrível no
cinema, mas bem sucedido nos livros. Muitas outras séries de livro acabaram
ganhando projeção assim, tendo maior ou menor repercussão e vendendo muito
para esse público. Fato é que muitas dessa sagas usam e abusam de uma fórmula
de êxito instantâneo, mas que também se tornam repetitivas e cansam. Desse
modo, vendem, viram jogos e filmes, colecionáveis, produtos comerciais de
relevância. Mas não criam leitores de longo prazo justamente por serem
repetitivos em suas propostas. A imaginação não flui como deveria. Entenda que
não tenho nada contra essas sagas literárias, muito pelo contrário, elas são
importantes no estímulo a leitura, mas deveriam ser mais autocontidas. Leitores
que deveriam ser apresentados a novas leituras, a novos escritores, a novos
estilos, ficam reféns de uma saga com dezenas de continuações e derivados (os
spin-offs) e quando crescem perdem o estímulo pela descoberta de novas
aventuras e vão aos poucos alimentando a alma apenas de livros técnicos e
prazeres superficiais ruminados pela mídia virtual.

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Número 8 MARÇO DE 2023

Portanto, responder a pergunta lá em cima é difícil. Já falei que é necessário ao


menos tentar descobrir sua própria fonte de inspiração e se mostrar um leitor
para seu filho. Logo cedo, comece a ler livros infantis para ele há várias opções
boas e baratas nas livrarias, compre livros com os quais a criança possa brincar,
ter contato. Depois introduza alguns quadrinhos na rotina, Turma da Mônica é
sempre uma excelente opção, mas há outras também. Quando a idade de ver TV e
navegar nas redes virtuais começar (e tá cada vez mais cedo), estabeleça limites
diários para a criança e negocie com ela horários para leitura e brincadeiras com
coisas reais (bolas, bonecas, jogos, etc.). Ofereça livros que tenham a ver com
os gostos e interesses da criança, com sua idade e que reflitam seus valores.
Sempre, sempre mesmo, leve a criança a uma livraria; apesar da venda de livros
também ter migrado para internet, nada substitui ver, cheirar e tocar os livros.
Além disso, dá para descobrir obras que nem sempre achamos na internet. Use as
redes sociais como uma aliada e veja resenhas e dicas de livros em blogs, sites e
canais de vídeo.

Quando lidos, pergunte sobre os livros ou quadrinhos, mas sem fazer pressão por
resumos ou coisa do tipo, já basta a escola pra isso, e a leitura tem que ser
prazerosa e não uma obrigação. Peça pra sua criança lhe contar a história,
pergunte sobre o que fala, como ela imagina os personagens, os cenários, mas
conversando, não exigindo. Lembre que nem sempre você vai conseguir
transformar alguém em um leitor, mas seguir tentando sempre é um estímulo que
pode nos levar a lugares e descobertas incríveis, afinal a leitura é capaz de criar
sonhos, fazer a imaginação viajar e tornar alguns sonhos realidade.

Francisco Moreira

Sasin Tipchai - Pixabay

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

O Dia Internacional das Mulheres teve origem no


C I ONAL
movimento operário tendo suas sementes foram A

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I NT ERN
plantadas em 1908, quando em 26 de fevereiro, 15 mil

AM
mulheres marcharam pela cidade de Nova York

ULH
exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários
melhores e direito ao voto.

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E
D R
A proposta de anualmente reservar um dia de
convenções e movimento internacional para discutir
a situação dos direitos femininos veio da alemã 8 DE MARÇO
chamada Clara Zetkin, ativista comunista e defensora
dos direitos das mulheres, durante a 2ª convenção
internacional de mulheres socialistas. A proposta de
Clara de criar um Dia Internacional das Mulheres não
tinha uma data fixa.

Apesar de no Brasil, em geral relacionarmos a


comemoração ao incêndio ocorrido em Nova York no
dia 25 de março de 1911 na Triangle Shirtwaist
Company, uma das maiores fábricas têxteis do
Estados Unidos, no qual 146 trabalhadores morreram,
sendo 125 mulheres e 21 homens, trazendo à público
as más condições de trabalho a que eram
submetidos.

A data só foi mesmo formalizada após uma greve


ocorrida em 1917, quando as mulheres russas exigiram
em uma marcha "pão e paz" – a data era 23 de
fevereiro, do calendário russo – e marcou o início da
Revolução Russa, levando o Czar a abdicar quatro dias
após o início da greve o czar. Após a revolução, o
governo passou a adotar o calendário gregoriano e a
data se tornou o 8 de março, tendo sido oficializada
entre os soviéticos como celebração da "mulher
heroica e trabalhadora".

Em 1975 a ONU começou a comemorar a data,


oficializando o Dia Internacional das Mulheres como
uma ocasião para celebrar avanços e buscar
conscientizar sobre a desigualdade de gênero.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

Apesar dos avanços na luta pela igualdade de


gêneros, muitos retrocessos foram identificados nos
últimos anos, principalmente após a pandemia de
Covid-19 que teve impactos diretos sobre as mulheres
C I ONAL
com mais relatos de abusos e violências psicológicas, A

D
I NT ERN
econômicas e físicas. Um estudo da ONU em 13 países

AM
mostrou que quase metade das mulheres relatou ter

ULH
sofrido ou conhecer alguma mulher que sofreu
violência durante a pandemia.

IA

E
D R
Em todo o mundo o aumento de feminicídios vem
causando preocupações em organismos
internacionais. O recente ressurgimento do Talibã
8 DE MARÇO
retirou de mulheres mulçumanas o direito a escola e
a liberdade, acusações de bruxaria tem levado
mulheres a serem agredidas ou mortas em mais de
50 países, segundo levantamento recente da ONU.

Feminicídio é o assassinato de uma mulher por


questões de gênero; ou seja, quando a vítima é
mulher e quando o crime envolver (I) violência
doméstica e familiar ou (II) menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.

O Brasil registrou aumento de cerca de 11% de homicídios de mulheres nos últimos cinco
anos, destas a maioria da vítimas é negra (62%), e tem como principal algoz o próprio
esposo e/ou ex-companheiro. A violência contra a mulher entretanto não escolhe classe
social, estando presente mesmo em famílias abastadas e de bom nível educacional, o
que demonstra a urgência e necessidade de cada dia mais buscar a conscientização
sobre o assunto.

O crime de feminicídio foi definido no Brasil no ano de 2015. A lei nº 13.104/15 alterou o
Código Penal e tipificou a conduta. Além disso, o feminicídio é considerado um crime
hediondo (previsto na lei nº 8.072/90). Essa classificação faz com que a conduta seja
tratada pela Lei Penal de forma mais rigorosa. A pena é definida como prisão de 12 a 30
anos, podendo ser aumentada em até 1/3 se cometido em determinadas situações.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

O rapto das Sabinas


O Rapto das Sabinas é um episódio lendário da história de
origem da cidade Roma e está relacionado com os primeiros
momentos de sua expansão. As principais fontes da história
encontram-se em Plutarco e Tito Lívio.

À procura de esposas com quem seus seguidores pudessem


formar famílias, Rômulo, fundador da cidade, negociou, sem
sucesso, com os Sabinos, povo que havia povoado a região
anteriormente. Estes recusaram-se a permitir que suas
mulheres se casassem com os romanos.

Rômulo, fingindo resignação, organiza um festival em


homenagem ao deus Netuno, cujo templo teria sido encontrado
no subsolo da nova cidade. Os povos da região compareceram
aos festejos, porém, Rômulo havia combinado com seus homens
que a um sinal, deveriam raptar as mulheres.

Os convidados, injuriados, saíram da cidade, em razão da


violência sofrida e quebra de hospitalidade, tendo efetuados
diversas expedições militares para combater os romanos, porém
sendo derrotados em todas.

Rômulo teria então implorado as mulheres capturadas que ficassem na cidade e se casassem com seus
homens, alegando que tal ato acontecera em razão da recusa em permitir que os Romanos as desposassem.
Prometendo ainda que elas teriam casamentos dignos e partilhariam de todos os direitos civis, sendo mães
de homens livres. O historiador Tito é enfático ao afirmar que não houve nenhum abuso sexual e que às
mulheres foi dado o direito de escolha.

Os Sabinos no entanto, entraram em guerra contra Roma e após dois anos de batalhas, com a ajuda de uma
Sabina chamada Tarpeia, conseguiram entrar e dominar a cidade, esta após a traição foi esmagada pelos
próprios Sabinos e jogada do alto de uma rocha. Durante a batalha que se seguiu o inesperado aconteceu, as
mulheres que haviam sido raptadas e agora viviam entre os Romanos interviram, pedindo que as lutas
cessassem.

"entraram corajosamente no meio dos objetos que eram arremessados, com cabelos despenteados e roupas rasgadas. Correndo
por entre o espaço entre os dois exércitos, tentavam fazer com que os combates cessassem e acalmar as paixões exaltadas
apelando aos seus pais, num dos exércitos, e a seus maridos, no outro, para que não amaldiçoassem a si mesmos ao manchar
suas mãos com o sangue de um sogro ou de um genro, nem desse a seus descendentes a mancha do parricídio. "Se", gritaram,
"vocês estão cansados destes laços de parentesco, destes laços matrimoniais, voltem então sua ira para nós; somos nós o motivo
desta guerra, fomos nós quem ferimos e matamos nossos maridos e nossos pais. Melhor perecer do que viver sem um ou outro de
vocês, seja como viúvas ou órfãs." (LÍVIO)

Após tal intervenção, o conflito chegou ao fim e foi feito um tratado de paz em que os Sabinos passaram a
integrar a população romana, formando uma nação única, sendo governada em conjunto por seu rei Tito
Tácio e Rômulo.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

Intervenção das Sabinas -Jacques-Louis


David (1799)
óleo sobre tela, 385 x 522 cm
Museu do Louvre, Paris, França

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Número 8 MARÇO DE 2023

Transfobia
É PRECISO FALAR SOBRE ISSO
Francisco Moreira

Mês das mulheres e é impossível não falar homicídio doloso, constitui circunstância que
em mulheres e homens trans, o qualifica (aumentando a pena), por
principalmente diante do quadro de configurar motivo torpe. Entendendo que o
discriminação, preconceito e conceito de racismo ultrapassa aspectos
desconhecimento do que se trata e do que estritamente biológicos ou fenotípicos e
muitas vezes nos acostumamos a ver e alcança a negação da dignidade e da
tratar de forma jocosa, violenta ou humanidade de grupos vulneráveis.
negacionista.
Mas o porquê de haver tantos casos de
Pessoas transexuais e transgênero são transfobia? - Primeiro é necessário entender
aquelas que não se identificam com seu que a questão é estrutural, no qual a
sexo e gênero de nascença. Ser um homem sociedade vê como normal apenas as relações
ou mulher trans é o contrário de ser um heterossexuais, descartando todas as demais.
homem ou mulher cisgênero. Estes, por sua Questões religiosas que destoem daquilo que é
vez, se identificam com o sexo biológico e considerado correto e os estereótipos daquilo
gênero em que nasceram. que é considerado normal.

O Brasil permanece sendo o país em que A falta de conhecimentos que reproduz


mais acontecem assassinatos de pessoas preconceitos herdados das gerações
trans no mundo, o nordeste é a região onde anteriores, sem que haja questionamentos a
esses mais ocorrem e acometem mais esse respeito.
pessoas negras (76%), que geralmente
ocorrem em lugares públicos e envolvem Tudo isso precisa ser considerado, mas é vital
profissionais do sexo, opção de muitas lembrar que diferenças são uma das variantes
travestis e transgêneros para se mais comuns da humanidade e que o respeito
sustentarem visto a quase impossibilidade ao ser humano e suas escolhas é fundamental
de se colocarem no mercado de trabalho para a convivência pacífica, o progresso, o
formal, devido ao preconceito. desenvolvimento social e a evolução do ser
humano.
Vale lembrar que desde 2019 o Supremo
Tribunal Federal (STF) equiparou o crime de Ainda que não concorde com essa ou aquela
homofobia e transfobia ao crime de racismo opção, buscar conhecimento, entender e
previstos na Lei 7.716/2018 e, em caso de respeitar é essencial para vivência humana.

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Número 8 MARÇO DE 2023

Transfobia:
É necessário entender para vencer o
preconceito

SE INFORMAR TOME POSIÇÃO

Buscar conhecimento sobre o tema é Presenciou uma situação de opressão?


imprescindível para saber o que é Faça algo! Ouviu uma piada
diversidade de gêneros. Assim, você é capaz preconceituosa? Repreenda! Não se cale
de entender melhor a causa e não diante de situações assim, o preconceito
reproduzir atos transfóbicos. Pesquise em deve ser questionado e debatido sempre,
sites, pergunte a outras pessoas, leia sobre somente dessa forma poderemos buscar
o assunto. uma sociedade mais igualitária e justa.

NÃO SEJA INVASIVO DÊ OPORTUNIDADE

Quando interagir com indivíduos Uma das maiores dificuldades da


transgêneros, assuma uma postura população trans* é a falta de oportunidade
respeitosa e evite perguntas que possaam de emprego. Lembre que a opção sexual
gerar constrangimentos. Aprender a ou de gênero não afeta a capacidade
respeitar as diferenças é um importante produtiva e que essa dificuldade em se
passo para entender o que é transfobia e inserir no mercado de trabalho leva muitas
combatê-la. pessoas trans* a largar a escola ou se
prostituir.
EDUQUE AS CRIANÇAS CONVERSE

A educação é capaz de transformações Quando houver oportunidades converse


incríveis e necessárias. Ensinar crianças sobre o assunto, dê suas opiniões e ouça a
sobre a importância da diversidade é opinião dos outros, você não precisa
fundamental para a construção de uma aceitar tudo como verdade absoluta, mas
sociedade mais ética, respeitosa e deve respeitar a diferença de crenças,
harmônica. ideias e sexuais. A diversidade é uma
realidade cada vez mais presente em
nosso cotidiano.

SIGA A "REGRA DE OURO"

Jesus disse: “Todas as coisas que querem


que os homens façam a vocês, façam
também a eles.” (Mateus 7:12; Lucas 6:31)
A Regra de Ouro também pode ser dita
nestas palavras: “Tratem as outras
pessoas da mesma maneira que gostariam
de ser tratados por elas.”

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

REFULGIR URBANO
A ETERNA RAINHA AVENTUREIRA DO JORNALISMO

"Sobre escravidão e racismo, aprendi com a minha


própria família! Não no Google."

Para mim a Glória era imortal. Ela está presente nas memórias mais antigas que tenho sobre a
televisão. Era simplesmente fantástico assistir a Glória quando ela aparecia na telinha, uma mulher
negra, linda, com um sorriso enorme no rosto e a coragem de perguntar coisas que fariam qualquer
outro corar. Uma mulher sem travas na língua e na liberdade de ser quem era, de brigar por seu
espaço, de criar uma forma de informar que parecia ser só dela. Uma mulher que sempre se
reinventava, eu cresci, envelheci, a Glória não, nunca! Ela permaneceu a mesma menina sapeca
que aparecia na TV em aventuras malucas, desafiando o perigo quase como se ele não importasse
e não importava, a vida e a vontade de fazer o espectador vivenciar ainda que por meio dela
emoções era a missão de vida que a movia.

Glória Maria Matta da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 15 de agosto de 1949, aos 18 anos,
ingressou no curso de jornalismo da Universidade Católica (PUC – Rio) e em 1970 ingressou como
estagiária da TV Globo no Rio de Janeiro, em 1971 iniciou como repórter na cobertura do
desabamento do Elevado Paulo de Frontin e logo virou ancora do RJTV, em seguida fez
reportagens para o Jornal Hoje e o Jornal Nacional, passando ao Fantástico em 1986. Viajou o
mundo em reportagens especiais que mostraram mais de 100 países e entrevistou diversas
personalidades como Michael Jackson, Freddie Mercury, Harrison Ford, Leonardo Di Caprio e
Madona, entre outras, sempre com seu jeito simpático, curioso e firme.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

A ÁGUIA DO BRASIL
CEM ANOS DA MORTE DE RUI BARBOSA

Rui Barbosa de Oliveira, um dos mais importantes intelectuais brasileiros, nasceu


em Salvador, Bahia, em 5 de novembro de 1849. Formou-se 1870 pela Faculdade
de Direito de São Paulo. E já no início da carreira na Bahia, engajou-se numa
campanha em defesa das eleições diretas e da abolição da escravatura. Durante o
Império foi deputado provincial e deputado geral. Sendo um relevante político
durante os primeiros anos da República, ganhando projeção internacional
durante a Conferência internacional da Paz em 1907 na cidade de Haia (Holanda),
defendendo com brilho a teoria brasileira de igualdade entre as nações soberanas,
sendo sua participação louvada até hoje como uma das mais firmes, convincentes
e primorosas da diplomacia brasileira.

Rui Barbosa foi também jornalista, tendo escrito para diversos jornais tais como
“A Imprensa”, “Jornal do Brasil” e o “Diário de Notícias” do qual era presidente.
Escreveu vários textos, artigos, discursos, etc. que reunidos representam mais de
100 volumes. Sócio fundador da Academia Brasileira de Letras onde ocupava a
cadeira de número 10, sucedeu a Machado de Assis na presidência da casa. Foi,
durante 32 anos, Senador pela Bahia, em cinco mandatos; foi ainda eleito (1921)
Juiz da Corte Internacional de Justiça, recebendo as mais altas homenagens
mundiais. Sua vasta biblioteca, com mais de 50.000 títulos pertence à Fundação
Casa de Rui Barbosa, localizada em sua própria antiga residência no Rio de
Janeiro. Rui Barbosa faleceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em 01 de março de
1923.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

O pensamento de Rui Barbosa


"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de
tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas
xxxxxxxxxxx
mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da
honra e a ter vergonha de ser honesto."

"A justiça, cega para um dos dois lados, já não é justiça. Cumpre que
enxergue por igual à direita e à esquerda."

"As leis que não protegem nossos adversários não podem proteger-nos."

“Rejeito doutrinas de poder


arbitrário. Abomino ditaduras
de todo o tipo, militares ou
científicas, coroadas ou
populares. Detesto estados de
sítio, suspensões de garantias,
razões de Estado e leis de
segurança pública”

"A acusação é sempre um


infortúnio enquanto não
verificada pela prova."

"Uma inconstitucionalidade não


deixa de sê-lo, não se revalida,
pelo fato de que a legislatura a
subscreva." Caricatura por Mendes

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

Queixa ou agradecimento?

Vejo muita gente reclamando da vida, que as coisas andam ruins, que nada dá
certo, etc. Esta semana, resolvi analisar a mim mesmo e, percebi que tenho mais
motivos para agradecer do que reclamar. Mesmo tendo sido preterido em
situações que fogem ao meu controle, a indignação, mais rapidamente que de
outras vezes, cedeu ao entendimento de que tudo tem seu tempo e, tudo vem por
consequências de nossas atitudes para com os outros.

Sempre penso na lei do retorno ou lei de causa e efeito, na qual acredito


piamente. E não esperando que as pessoas maledicentes e covardes que nos
rodeiam tenham o seu retorno, que aliás é inexorável, mas, confiando que
mantendo minhas atitudes dentro da linha da correção e honestidade obterei tudo
aquilo que almejo e, no momento certo, serei agraciado por aquilo que mereço.
Ou seja, nossa vida não é melhor ou pior em face do que as outras pessoas fazem,
mas, por aquilo que nós mesmos fazemos ou pensamos.

A sociedade está cheia de pessoas que se orgulham em dizer que “não levam
desaforo pra casa” ou que “não abaixam a cabeça pra ninguém”, achando elas
que o orgulho é mais satisfatório que a humildade, olvidando totalmente que o
paradigma da humanidade transitou por este orbe mostrando exatamente o
contrário. Há um contrassenso vigente na sociedade brasileira, que se diz, em sua
maioria, cristã e, demonstra exatamente o inverso. O que esperam essas pessoas?
Que as benesses divinas recaiam sobre eles, que praticam iniquidades e
maledicências? O que esperam aqueles que valorizam o “jeitinho brasileiro” para
justificar sua preguiça e desonestidade? O que esperam os adeptos do jargão
“farinha pouca meu pirão primeiro”? E aqueles que acham ser possível praticar
erros porque “todos o fazem”? Essas pessoas são capazes de se queixar da vida
quando alguma dificuldade se apresenta, sem sequer imaginar que foram elas
mesmas que atraíram para si toda sorte de infortúnios, através de seus atos.
Somos os construtores do nosso destino. De fato, temos mais a agradecer do
que nos queixar.
Josnei Castilho

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

CINEOLHAR
Em 1986, o eletricista texano Ron Woodroof
(Matthew McConaughey) é diagnosticado com AIDS e
logo começa uma batalha contra a indústria
farmacêutica, após perceber que os medicamentos
usados nos EUA, além de caros eram ineficazes
contra a síndrome. Procurando tratamentos
alternativos, ele passa a contrabandear drogas
ilegais do México e aproveitando-se de uma brecha
legal cria o "clube de compras" para vender a
pacientes infectados. Com direção de Jean-Marc
Vallée o filme de 2013, baseado em fatos reais,
mostra a luta pela sobrevivência numa época em que
pouco se conhecia sobre a AIDS e o preconceito
dominava aqueles que se contaminavam. Uma
oportunidade para conhecer e refletir sobre temas
como diversidade, machismo, discriminação,
redenção e protecionismo estatal descabido.

Billy Elliot (Jamie Bell) é um garoto de 11 anos que


vive numa pequena cidade da Inglaterra, filho de um
mineiro, é obrigado pelo pai a treinar boxe, um dia por
acidente tem contato com o balé aulas de dança que
são realizadas na mesma academia onde pratica boxe
e fica fascinado. Incentivado pela professora de balé
(Julie Walters), que vê em Billy um talento nato para a
dança, ele resolve se dedicar de corpo e alma dança,
mesmo tendo que enfrentar o preconceito de todos a
sua volta. Filme de 2001, dirigido por Stephen Daldry é
um filme que discute de forma sensível, cativante e
emocionante temas como discriminação e ignorância.
Ambos os filmes estão disponíveis para aluguel no Apple TV e Google vídeo

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

DIVERGÊNCIAS
Indo na contramão de certas "correntes" - Francisco Moreira

Revisões para apagar quem


somos
Lembro com clareza de, há alguns anos, ver na TV
quando o Talibã dinamitou as estátuas e Buda que
ficavam no vale de Bamiyan, Afeganistão, com 38 e
55 metros de altura respectivamente, eram
consideradas as maiores representações do
iluminado no mundo e há mais de mil anos se
erguiam incólumes naquele local. O extremismo
cego e desrespeitoso nos retirou esse legado
histórico. Também há alguns anos vejo nas mídias
sociais movimentos que buscam, na literatura, por
acusações e revisões sob acusações diversas de
racismo, discriminação, preconceito, etc. Acabo de
NOTÍCIAS IMPORTANTES,
ler que na Inglaterra os livros de Roald Dahl, autor ATUALIZAÇÕES E IDEIAS
entre outra obras de “A fantástica fábrica de
chocolate” e “Matilda” irão passar por modificações
2 - Tendências de Gestão
a fim de retirar ou modificar “termos que possam
ser considerados ofensivos”, visando atender ao 3 - Tendências de 2022
que é “politicamente correto”. Assim palavras como
“gordo” serão substituídas por “enorme” (que não
são sinônimos e modificam o sentido do texto),
entre outras com maior ou menor mudança de
sentido, até a cor de um casaco será modificado na
capa, deixando de ser preto (hum? Casaco não pode
ser preto?). Aqui no Brasil já passamos por isso com
um de nossos principais escritores infantis, na
verdade o cara que criou esse gênero aqui no país,
Monteiro Lobato, que no centenário de criação de
“Reinações de Narizinho” (2020), se viu cercado de
polêmicas sobre racismo em razão de expressões
usadas em seus livros, deixando de lado todo e
qualquer contexto histórico-social no qual estava Um dos Budas dinamitados em Bamiyan em 2001
inserido o autor e a sociedade da época. Decidiram durante dominação do Talibã no Afeganistão.
intolerância e extremismo a serviço da exclusão
que os livros deveriam ser abolidos e pronto. revisionista.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

A comparação com a atitude do Talibã não é feita por mim à toa. Claro
que há expressões e representações que hoje podem ser consideradas
racistas, homofóbicas, gordofóbicas, machistas, religiosamente
preconceituosas, etc. Então vamos queimar todos esses livros na
fogueira e deixar apenas aqueles que atendam aos critérios de correção
ditados por nossa “inclusiva e moralmente correta sociedade atual”.
Comecemos a queimar um dos livros mais tudo isso que eu conheço: A
Bíblia. Passemos depois ao Alcorão, sigamos adiante pela Ilíada, O
Inferno de Dante, As obras completas de Shakespeare, Grande sertão
veredas, Os sertões, Capitães de areia, etc. Vamos destruir toda
literatura escrita nos séculos anteriores, pois em todos encontraremos
com maior ou menor grau algum tipo de preconceito ou discriminação.

No caso de Lobato, a própria Bisneta Cleo, foi responsável pela


adaptação do texto, buscando “uma reformulação da obra, com
exclusões e alterações de texto e personagens sendo representados de
maneiras diferentes, menos problemáticas”. Isso em matéria publicada
na Folha de São Paulo em 2020, na qual também temos a opinião do
professor de ciências sociais da Unicamp, Mário Augusto de Medeiros
Silva, para o qual deveria haver “no máximo, alterações ortográficas, em Emília no traço de Manoel Victor
Filho, responsável por ilustrar
relação a língua, e manter a obra em si tal como ela está”, devendo a
várias obras de Lobato
editora prefaciar os livros, contextualizando e analisando as expressões
de forma que o público leitor pudesse tirar suas próprias conclusões.

Livros são fruto de uma época, de uma opinião ou pensamento vigente,


de uma cultura estabelecida ou de uma tentativa de rompimento disso.
Têm que ser lidos com essa consciência, com esse parâmetro bem
estabelecido. A leitura incomoda as vezes, nos faz refletir, repensar,
modificar nosso modo de ver as coisas, aprender como eram as
sociedades no passado, seu medos, seu defeitos e qualidades. Buscar
sanear livros, retirando expressões porque são ofensivas é um
desserviço à cultura, um desrespeito ao escritor, às suas ideias e
pensamentos, a forma como construiu sua obra. No fim é um
desrespeito a própria inteligência do leitor. Em minha cabeça só
consigo acreditar que editores e “militantes” que exigem ou formulam
tais acusações e propostas de revisão não são leitores, no máximo
leram alguns capítulos de alguns poucos e restritivos livros e saem
propagando o apagamento do passado porque esse os incomoda,
preferem virar as costas. Dizem com isso estar lutando contra o
preconceito e racismo, mas na verdade apenas querem uma nova versão
do que aqui no Brasil se costumou chamar de “democracia racial”, eu
Essa coisa terrível que parece ter
finjo que todos são iguais e fazemos de conta que tudo bem. Eu apago
saído de uma daquelas antigas
dos livros as ofensas e discriminação e modifico o passado, a minha séries japonesas é a Cuca,
história, a minha luta, a minha memória e crio um modelo utópico em arquivilã numa das adaptações
televisivas do Sítio numa
que apenas a versão correta e asséptica da humanidade existe. modernização que deixou o
personagem com essa aparência
ridícula.
KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

POESIEU
Kiko Moreira
Eu não me quero verso métrico
medido como Alexandrino
prefiro essa louca arrumagem
essa travessura de menino.
Eu não me quero nítido e
linear, quero-me antes turvo,
água barrenta de enchente,
sem trova com lua crescente,
sem estar lavado em água corrente.
Eu sou livre!
Sou Eu liberdade...Andorinha no ar:
“ mais vale um pássaro voando
do que dois nas mãos”.
Mais quero um verso na lua
que um preso ao chão...
Eu não me quero poesia
sem paixão (digo adeus a
toda essa Razão).
Quero- me sim Oswald de Andrade,
correndo livre sobre o mar.
Na lua o vento no rosto,
no peito a dor de amar.
Quero-me rima nordestina
do coração popular,
ser cancioneiro de estima,
sem prestar vestibular.
Quero seu Eu Poesia,
Poesieu, isso sim!
ser mestre nesta magia
e ser o encanto em você.
Eu não me quero coado
em dicionário,
quero apenas, dessa gente,
todo meu vocabulário.
Poesieu, nada mais!
Isso me basta e sustenta,
tal qual palafita no mar.
Isso sim é que é vida,
sem correntes cultistas,
somente esse meu verso:
Andorinha no ar !
É assim que Eu vivo,
é assim que Eu morro,
não quero choro ou fala
vindo em meu socorro.
Sou livre ! Isto basta !
Meu caminho ?
Eu mesmo percorro.
Poesieu no meu verso,
este é meu senso liberto.
Apenas isso no sangue:
Poesieu e já basta!

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

Estante
DICAS DE LEITURA PARA SEUS MOMENTOS
Pois ler nos faz entender quem
somos no mundo

A guerra sempre esteve presente na história da


humanidade, ainda hoje em vários lugares do mundo há
uma em curso. As armas nucleares em algum momento
foram celebradas como um elemento que poderia por fim a
todas as guerras, a certeza de destruição total do ser
humano faria isso. Mas na prática isso nunca ocorreu, ao
contrário o desenvolvimento da "Bomba" só serviu para
criar ainda mais tensões e medo no mundo. Contar de
maneira lúdica e respeitosa a jornada que levou a
confecção da 1ª bomba nuclear durante a II Guerra é uma
tarefa incrível, que durou 5 longos anos de trabalho e
resultou nesse belíssimo quadrinho, cheio de informações,
reflexões e detalhes que iluminarão aquilo que vemos
rapidamente nos livros escolares. Uma obra magistral, com
Por Denis Rodier, Didier Alcante e Laurent-
um roteiro do nos fazer prender o fôlego e desenhos
Frédéric Bollée
fantásticos. Formato 21 x 28 cm • 476 páginas em
preto e branco • Capa dura
Editora Pipoca e Nanquim

A saga do "garoto que sobreviveu" é um dos maiiores


sucessos editoriais de todos os tempos, tendo
influenciado outras sagas e ajudado a formar milhões de
novos leitores. Difícil alguém não conhecer ao menos
alguma coisa de Harry Potter, a leitura é fascinante e
acompanha a vida do garoto desde a perda de seus pais,
sua descoberta do mundo mágico e a luta contra o pior
dos magos, "aquele que não deve ser nomeado". Isso tudo
passando por todos os problemas de um jovem em idade
escolar tendo que lidar com todos os problemas que o
amadurecimento trás, novas amizades, medo, dúvidas,
mudanças corporais, amor e morte. Temas que são
tratados com imenso carisma e sensibilidade, sem nunca
Por J.K. Rowling desrespeitar o leitor seja ele um adolescente que vá
São 7 livros, cujo box pode ser encontrado crescer com Harry ou um adulto que teve nele um
em diversas edições e preços
Rocco editora excelente amigo.

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

A Kikosofia é um espaço de vozes, consonantes, dissonantes, de livre e


respeitosa expressão e opinião. Um local que se pretende divertido, reflexivo,
por vezes louco, mas sempre acolhendo o outro, independente de diferenças,
somos todos iguais, e isso é o que de mais belo existe no viver, saber que não
somos cópias de outro ser. Quando a Criação do homem é expressa na Bíblia é
dito "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança..." e como bem sabemos
se assemelhar não é ser cópia, portanto, celebremos a diversidade de sermos
humanos. E não esqueça colabore, discorde, concorde, opine. Boa jornada.

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kikomoreira@hotmail.com
coloque no assunto: Kikosofia

KIKOSOFIA
Número 8 MARÇO DE 2023

“É UM MITO A CRENÇA DE QUE AS


UNIVERSIDADES SÃO O BERÇO DA
RAZÃO. SÃO O ABRIGO DE TODO
TIPO DE EXTREMISMO,
IRRACIONALIDADE, INTOLERÂNCIA E
PRECONCEITO; UM LUGAR ONDE O
ESNOBISMO INTELECTUAL E SOCIAL
É PROPOSITADAMENTE INSTILADO E
ONDE PROFESSORES PASSAM PARA
OS ESTUDANTES OS SEUS PRÓPRIOS
PECADOS DE ORGULHO.”
PAUL JOHNSON

KIKOSOFIA

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