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Segunda-feira, 22 de maio de 2023

DIA INTERNACIONAL DE COMBATE À HOMOFOBIA

No último dia 17 de maio, comemorou-se o Dia Internacional de Combate à Homofobia. A data


é importante para conscientizar as pessoas sobre a importância da luta pelos direitos e pela
inclusão da comunidade LGBTQIA+. Infelizmente, ainda existem muitas formas de
discriminação e violência contra pessoas homossexuais, bissexuais, transexuais e outras
orientações sexuais e identidades de gênero. É importante lembrar que no Brasil, a homofobia
é considerada crime desde 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou a
homofobia e a transfobia ao crime de racismo. Isso significa que atos discriminatórios e
violentos contra pessoas LGBT+ são considerados crimes inafiançáveis e imprescritíveis,
sujeitos a pena de reclusão. Essa medida foi um importante avanço na luta pelos direitos da
comunidade LGBT+, e representa um passo fundamental para garantir a igualdade e a
proteção dessas pessoas contra a discriminação e a violência. É importante que todos sejam
conscientizados sobre a gravidade da homofobia e outras formas de preconceito, e que saibam
que esses atos não serão tolerados pela sociedade e pelo Estado.

Para saber mais sobre o tema, acesse nossos jogos abaixo!

Ilustração em desenho digital. A imagem retrata uma pessoa dando a mão para outra saindo
de dentro de um túnel colorido com as cores da bandeira trans. A imagem é uma referência à
expressão “sair do armário” que é comumente utilizada para quando pessoas trans se
assumem e se expressam publicamente como tal.

Descubra se você ainda é Transfóbico!

Ilustração em desenho digital. A imagem retrata uma pessoa dando a mão para outra saindo
de dentro de um túnel colorido com as cores da bandeira LGBTIQA+. A imagem é uma
referência à expressão “sair do armário” que é comumente utilizada para quando pessoas
LGBTIQA+ se assumem e se expressam publicamente como tal.

Descubra se você ainda é Homofóbico!

BEATRIZ BITENCOURT FALA SOBRE O COMBATE À HOMOFOBIA

Combater a homofobia é fundamental para a promoção da igualdade e do respeito às


diferenças. O preconceito contra a população LGBTQIA+ limita a liberdade individual e o
direito de cada pessoa expressar sua identidade de gênero e sua sexualidade de forma
autêntica e segura. Por isso, é necessário que sejam tomadas medidas para conscientizar e
educar a sociedade sobre a importância da diversidade e do respeito, bem como para punir
aqueles que cometem atos homofóbicos e garantir a proteção dos direitos das pessoas
LGBTQIA+. É sobre isso que vamos conversar com Beatriz Bitencourt, que tem 28 anos, é uma
mulher sapatão e nordestina. Formada em Administração de Empresas pela PUC São Paulo e
tem especialização em Comunicação, Diversidade e Inclusão nas Organizações pela PUC Minas.
Atualmente é Diretora Financeira no Projeto Transpor, ONG que trabalha pela
empregabilidade de pessoas trans, e atua como Consultora de DEI de forma autônoma, além
de ser Analista de processos e formalizações na Torres Contabilidade e Gestão para o 3º Setor.

Fotografia de Beatriz Bitencourt dos ombros pra cima, recortada em fundo cinza, com
contorno sombreado em cinza escuro. Beatriz tem a pele branca, cabelo castanho escuro curto
e liso. Ela usa óculos de armação arredondada, e uma jaqueta jeans com capuz cinza. Ela está
de frente e sorri para a foto.

1. Como você define homofobia e quais são suas principais manifestações na sociedade?

A homofobia é a violência, física ou verbal, velada ou expressa, contra quem se relaciona com
pessoas do mesmo gênero. É importante entender que a homofobia não se manifesta apenas
quando há agressão física ou quando são proferidas ofensas homofóbicas diretamente.
Entendo que este é um dos problemas que estruturam a nossa sociedade, e por isso está
presente em “piadas”, no controle que pais ou responsáveis e sociedade fazem sobre a
expressão de gênero de seus filhos e filhas para que se encaixem em um roteiro social pré-
estabelecido, na falta de acolhimento e opressão no ambiente educacional, no atendimento
médico não qualificado às demandas da população LGBTQIA+, nos padrões
heterocisnormativos reproduzidos nos espaços de trabalho. Enfim, a homofobia é a violência
presente em todas estas e outras esferas da vivência de uma pessoa LGBTQIA+.

2. Quais são as consequências da homofobia para as pessoas LGBTQIA+ e como ela afeta suas
vidas?

Por ser um problema que está em nossa estrutura social, a homofobia acaba afetando todas as
esferas da vida de uma pessoa LGBTQIA+. Há uma definição do que chamamos “ciclo de
exclusão”, que é o processo social através do qual uma pessoa da comunidade tem seus
direitos tolhidos. Esse ciclo se inicia na família (Por exemplo, segundo estimativas da ANTRA,
pessoas trans são expulsas de casa em média aos 13 anos de idade, o que também gera um
alto índice de evasão escolar) e segue em um “efeito cascata”, sem amparo familiar e
escolaridade adequada, a pessoa acaba não tendo acesso a outros direitos básicos como
trabalho, saúde, organização política, o que a coloca em uma situação de grande
vulnerabilidade. Não temos o mesmo dado para outras pessoas da comunidade LGBTQIAP+,
mas é sabido que infelizmente são muito comuns os casos de homofobia familiar, o que gera à
pessoa uma série de outras vulnerabilidades.

3. Como as políticas públicas podem ajudar a combater a homofobia e promover a inclusão da


comunidade LGBTQIA+?
Ouvi um tempo atrás uma frase de uma pessoa próxima que me marcou muito: “sem
diversidade, não há democracia”. Não há como pensar um sistema democrático de fato que
não passe por ouvir e atender as demandas dos diferentes setores da população, entre eles as
pessoas LGBTQIAP+.

Estamos no país que mais mata pessoas LGBTQIAP+, segundo dados do Grupo Gay da Bahia, e
também no país que mais mata pessoas trans, segundo dados da Antra, mas sequer temos
números oficiais que estimem nossa representatividade na população do país. Em 2022
tivemos uma grande perda com a exclusão de perguntas sobre identidade de gênero e
orientação sexual no Censo do IBGE.

Em 2019 tivemos a criminalização da homotransfobia no Brasil, um passo que considero


importante, mas que está longe de resolver o problema sozinho. Precisamos de políticas
públicas para proteger as crianças LGBTQIAP+, garantia de atendimento médico qualificado e
que não reproduza violências, estímulo do acesso ao emprego formal para pessoas em
situação de maior vulnerabilidade social.

Mas, para tudo isso, é importante reconhecer que existimos e trabalhar a partir de dados que
retratam nossa situação atual e onde desejamos chegar enquanto sociedade.

4. Qual é a relação entre homofobia e outras formas de preconceito, como racismo e sexismo?

Estamos em uma sociedade também estruturalmente racista e sexista, estes outros recortes
sociais trazem maior probabilidade de vulnerabilidade a uma pessoa LGBTQIAP+. Trago aqui
dados da Antra novamente, que no “Dossiê assassinatos e violências contra travestis e
transexuais brasileiras em 2022” apontou que ao menos 76% das vítimas eram
travestis/mulheres trans negras.

Ao pensar em políticas públicas para a população LGBTQIAP+ é importante também observar a


que outros marcadores sociais estas pessoas pertencem, pois, suas vivências vão ser
substancialmente diferentes a partir do nível de vulnerabilidade a que estão expostas.

5. Como podemos conscientizar a população sobre a importância de combater a homofobia e


outras formas de preconceito?

Assim como a homofobia está presente em todas as áreas da vivência social, as estratégias
contra esse tipo de preconceito precisam ser pensadas de forma abrangente.
O primeiro passo é reconhecer nossa existência, o discurso do Ministro dos Direitos Humanos
e Cidadania, Silvio de Almeida, é muito marcante neste sentido e tem grande peso partindo de
uma figura política responsável por pensar políticas públicas para grupos minorizados, ele diz:
“Pessoas LGBT, vocês existem e são importantes para nós”.

Um posicionamento expresso do Estado brasileiro é muito importante neste caminho de


conscientização, e a partir daí o debate e criação de políticas de educação, trabalho, saúde,
entre outros, que deem conta de abarcar as diferentes demandas impostas pela homofobia.
Entendo que é importante demarcar que a violência homofóbica é que impõe essas demandas,
e não a existência de pessoas LGBTQIAP+.

PARA CONTINUAR SE APROFUNDANDO

A celebração do Dia Internacional de Combate à Homofobia nos convida a refletir, para que
você possa se aprofundar na temática. Confira abaixo!

Ilustração em desenho digital. A imagem retrata uma pessoa de pele parda e cabelo castanho
com uma franja no canto inferior à direita. De seus olhos escorre um lágrima com as cores do
arcoíris. Com a mão próxima à boca, sopra corações revestidos com as cores das bandeiras de
de vários grupos de pessoas LGBTQIAPN+, tais como as bandeiras bissexual, trans, lésbica,
interssexual, assexual entre outras, e em três desses corações há casais homoafetivos se
beijando ou abraçando. Há um casal gay, outro lésbico e um casal trans.

Não sou LGBTfóbico, mas até tenho amigos que são

De autoria de Arthur Mesquita, Comunicólogo, especialista, mestre e doutorando em


Comunicação — sempre focado na relação entre reality shows e plataformas digitais.
Interessa-se pela organização de pessoas a partir de interesses em comum, com foco atual em
estudos de gênero, sexualidade, masculinidades, drag e estudos queer.

Ilustração em desenho digital. A imagem retrata quatro pessoas, cada uma representando uma
pessoa do grupo LGBTQIAPN+. À esquerda, há uma mulher de pele preta e cabelos amarelos,
ela passa a mão na cabeça, levantando a franja e mostrando um desenho com as cores da
bandeira lésbica. Ao seu lado, um homem trans de pele parda e cabelo preto faz o movimento
com a mão de cima para abaixo no rosto terminando no queixo, mostrando um desenho com
as cores da bandeira trans saindo da testa até o queixo. Ao seu lado, há um homem de pele
branca cabelo castanho claro e barba curta. Ele passa a mão no olho esquerdo, em sua
pálpebra, aparece as cores da bandeira LGBTQIAPN+. Ao lado, mais à direita da imagem, há
uma mulher de pele preta e cabelo castanho escuro. Ela faz o movimento com a mão
esquerda passando na bochecha de dentro para fora. Demonstrando o movimento, aparecem
as cores da bandeira bissexual.

Homofobia, um convite à reflexão

Mateus Greco, advogado, Mestrando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Pesquisador em Direito Penal e Processual penal pela FAPEMIG Biênio 206/2017,
Bolsista CAPES 2020/2021, Pós-Graduando em Direito Penal Econômico pelo IDPE -
Universidade de Coimbra. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa Redes de Direitos Humanos do
PPGD PUC Minas.

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