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KIKOSOFIA
Francisco Moreira
Número 13 AGOSTO DE 2023
AGOSTO
Por Francisco Moreira
Capa:
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
AGOSTO LILÁS
A violência continua a aumentar
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Não é possível
continuar
objetificando o
corpo feminino
como
propriedade a
ser disposta
pelo homem.
Denuncie!
disque 180
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
AGOSTO
Amamentar é ato de amor
Esse mês lembramos a importância da
amamentação para o recém-nascidos e para as
mães, já que o ato de amamentar ajuda a
fortalecer e solidificar o vínculo entre a mãe e a
criança, ajudando ainda a promover o
desenvolvimento desta nos seis primeiros meses
de vida, sendo capaz de suprir suas
necessidades nutricionais. Amamentar ajudar
também a garantir o melhor desenvolvimento do O mês de agosto
cérebro infantil, a melhorar a defesa do
é conhecido como
organismo e diminuir o risco de doenças, como a
obesidade e o diabetes. Sendo um importante Agosto Dourado
exercício para que a criança tenha dentes fortes,
por simbolizar a
desenvolva a fala e tenha uma boa respiração.
luta pelo
Amamentar traz também benefícios para a mãe, incentivo à
diminuindo o risco de desenvolvimento de câncer
amamentação –
de mama e o de ovário, bem como do risco de
morte por artrite reumatoide. Nos primeiros seis a cor dourada
meses, o ato de amamentar pode garantir uma está relacionada
proteção contra uma nova gestação e facilita na
ao padrão ouro
perda do excesso de peso ganho durante a
gravidez. de qualidade do
leite materno.
A OMS recomenda que nos primeiros 6 meses de
vida, o bebê seja alimentado exclusivamente com
leite materno. Entretanto, segundo dados do
Unicef, somente 4 entre 10 bebês no mundo
conseguem se alimentar dessa forma. É preciso
entender que é no leite materno que a criança
encontra as substâncias necessárias para a sua
nutrição, além de anticorpos fundamentais para
protegê-la no início da vida, evitando a
mortalidade por doenças infecciosas. O leite
materno também protege contra infecções do
trato respiratório, evita casos de diarreia e
diminui os riscos de alergia.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Para aquelas mulheres que por algum motivo não pode amamentar de
forma alguma, existem bancos de leite humano mantidos por diversas
entidades públicas e privadas, graças aquelas mães que produzem leite
em excesso. Para saber onde, tente contato com a secretaria municipal
de saúde de sua cidade.
A mãe que está amamentando deve ficar para se manter bem hidratada,
por isso deve aumentar a ingestão de líquidos, sendo recomendado
manter sempre uma garrafinha de água por perto. Quanto a alimentação,
não há restrições, mas é recomendado evitar alimentos muito
processados/, dando preferência a frutas, vegetais e alimentos ricos em
proteína como ovos, frango, além de peixes com a sardinha, o atum e o
salmão.
Vale aqui lembrar que a CLT em seu artigo 396 dita que a mulher
empregada tem direito a duas pausas diárias exclusivas de meia hora
cada, para amamentar durante a jornada de trabalho, ainda que seja
adotante, ate que seu filho complete 6 meses de idade. E que a lei
13.872/2019 dá direito as mães amamentarem seus filhos durante a
realização de concursos públicos na administração pública direta e
indireta dos Poderes da União.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Porque o
Senhor
Ser pai tem algo de divino. Tanto que o Criador se chamou de Pai
repreende
em inúmeras ocasiões e com tal analogia procurou demonstrar o
amor, a responsabilidade e o cuidado que são necessários ter. Em aquele a quem
José, temos o exemplo de um pai que voluntariamente assume a ama,
missão de amar de forma incondicional, de proteger e orientar no
assim como o
caminho a ser percorrido durante a vida.
pai, ao filho a
Paternidade é uma escolha do homem, que deve ser feita com quem quer
bastante reflexão e sabedoria. Não basta que o homem seja um bem.
provedor da casa, mas estar presente. É necessário que ele também
escolha ser protetor da família, o exemplo a ser seguido pelos
filhos, ele não precisa ser o "melhor amigo" mas deve estar presente Pv 3, 12
como último refúgio do filho, ser o elemento de confiança, dando
atenção e sobretudo amor.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
O ponto G – uma pequena parte da vagina que fica acima do osso púbico,
e que permanece oculta, surgindo só quando a mulher recebe estímulos no
corpo inteiro deixando-a previamente bem excitada. Para alcançar o
orgasmo no ponto G é preciso que o local seja bem estimulado.
Os seios – são uma das partes do corpo feminino mais sensíveis ao toque,
sendo extremamente importantes para aumentar a excitação da mulher.
Por isso caro leitor(a) na hora do sexo utilize das preliminares, relaxe a
mente use e abuse de vibramores e produtos eróticos e tenham orgasmos
felizes para sempre
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Estante
DICAS DE LEITURA PARA SEUS MOMENTOS
Pois o mundo é feito de histórias
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Número 13 AGOSTO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
As pessoas que têm um nível alto de senso de justiça podem seguir indignadas, mas jamais irão
parar por tempo indeterminado. Depois da indignação, vem o trabalho e as emoções do cotidiano, e
não tarda, aos que laboram com fé e resignação, ganhar novos impulsos, na direção daquilo que
compreendem como ideal. O momento agora é da esquerda, que tem as canetas e uma energia, em
que pese rarefeita. Eles bem sabem que é necessário esforço demasiado para sustentar o que
roubaram. Nunca será fácil, sobretudo após o surgimento de tantas lideranças de direita em apenas
quatro anos.
Na certeza de que a esperança é a última que morre, sugiro seguir a vida em paz e não levar tudo
para o coração, pois se esvazia suas energias de uma única vez, serás convidado e conduzido
sorrateiramente para o banco do desalento, do desemprego em massa, da fome estonteante e da
saúde abalada. Não se permita, respira e não pira. Afinal de contas, “Deus é brasileiro”.
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A LOTERIA
SHIRLEY JACKSON *
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
A parafernália original para a loteria fora perdida havia muito tempo, e a caixa preta que
agora estava apoiada no banco havia sido posta em uso mesmo antes do Velho Warner, o
homem mais velho da cidade, nascer. O Sr. Summers conversava com frequência com os
habitantes sobre fazer uma nova caixa, mas ninguém gostava de perturbar a tradição
representada pelo objeto preto. Havia uma história de que a caixa atual fora feita com
alguns pedaços da caixa que a precedera, que fora construída quando as primeiras pessoas
se instalaram para criar um vilarejo aqui. Todos os anos, após a loteria, o Sr. Summers
começava a falar mais uma vez sobre uma nova caixa, mas todos os anos deixavam que o
assunto morresse sem que coisa alguma fosse feita. A cada ano, a caixa preta ficava mais
danificada: agora nem era mais totalmente desta cor, mas, muito lascada em um dos lados,
mostrava a cor original da madeira e, em alguns locais estava desbotada ou manchada.
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O Sr. Martin e o filho mais velho, Baxter, seguraram a caixa preta com firmeza em cima do
banco até o Sr. Summers remexer totalmente os papéis com a mão. Como grande parte do
ritual fora esquecida ou descartada, o Sr. Summers conseguira substituir as lascas de
madeira, usadas durante gerações, por pedacinhos de papel. Lascas de madeira,
argumentara ele, tinham servido muito bem quando o vilarejo era minúsculo, mas agora
que a população era de mais de 300 habitantes, e provavelmente continuaria a crescer,
era necessário usar alguma coisa que coubesse mais facilmente na caixa preta. Na noite
anterior à loteria, o Sr. Summers e o Sr. Graves prepararam os pedacinhos de papel e os
guardaram na caixa, ela foi então levada para o cofre da companhia de carvão do Sr.
Summers e ficou trancada lá até que ele estivesse pronto para levá-la à praça na manhã
seguinte. No restante do ano, a caixa ficava guardada; às vezes, em um lugar, outras vezes,
em outro; ela passara um ano no celeiro do Sr. Graves e outro ano no chão dos correios.
E, algumas vezes, era colocada em uma prateleira na quitanda de Martin e deixada ali.
Ouvia-se um grande burburinho até que o Sr. Summers declarasse a loteria aberta. Havia
listas a serem preparadas: com os chefes de família, chefes dos moradores de cada casa,
moradores de cada casa em cada família. E o devido juramento feito pelo Sr. Summers ao
carteiro, enquanto oficial da loteria; antigamente, como se recordavam algumas pessoas,
ocorria um tipo de recital, cantado pelo oficial da loteria: um cântico pouco melódico e
monótono, que fora recitado apressadamente, como estava previsto, a cada ano; algumas
pessoas acreditavam que o oficial da loteria costumava ficar simplesmente parado quando
recitava ou cantava; outros julgavam que ele deveria caminhar entre as pessoas, mas havia
muitos anos que esta parte do ritual acabara caducando. Além disso, via-se um ritual de
saudação, que o oficial da loteria teria que usar ao se dirigir a cada pessoa que aparecia
para sortear da caixa, mas isso também mudara com o tempo, e agora somente era
necessário que o oficial cumprimentasse cada pessoa que se aproximava. O Sr. Summers
era muito bom nisso tudo; com a camisa branca limpa e a calça jeans azul, uma das mãos
apoiada negligentemente sobre a caixa preta, ele parecia muito decente e importante ao
conversar interminavelmente com o Sr. Graves e os Martin.
Assim que o Sr. Summers finalmente parou de falar e se voltou para os habitantes
reunidos, a Sra. Hutchinson veio apressadamente pelo caminho até a praça, com o suéter
jogado sobre os ombros, e se esgueirou até o local no fundo da multidão.
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— Esqueci completamente que dia era — falou à Sra. Delacroix, que estava de pé junto a
ela, e ambas esboçaram um sorriso. — Pensei que meu velho tivesse saído de novo para
empilhar lenha — emendou a Sra. Hutchinson — e então olhei pela janela, os garotos
tinham sumido; aí me lembrei de que era dia 27 e vim correndo.
Ela enxugou as mãos no avental, e a Sra. Delacroix falou:
— Mas você chegou a tempo. Eles ainda estão conversando por lá.
A Sra. Hutchinson esticou o pescoço para enxergar através da multidão, e viu o marido e
os filhos de pé quase na frente. Ela tocou o braço da Sra. Delacroix para se despedir e
começou a caminhar entre a multidão. As pessoas se afastavam de bom humor e a
deixavam passar: duas ou três disseram em voz alta o suficiente para serem ouvidas em
meio à aglomeração: “Lá vai a sua Sra. Hutchinson” e “Bill, ela conseguiu, no fim das
contas”. A Sra. Hutchinson se aproximou do marido, e o Sr. Summers, que estivera
esperando, falou alegremente:
— Pensei que nós íamos ter que continuar sem você, Tessie.
A mulher retrucou com um sorriso.
— Você não ia querer que eu deixasse a louça na pia, não é, Joe?
E uma risada baixa percorreu a multidão conforme as pessoas voltavam para suas posições
após a chegada da Sra. Hutchinson.
— Bem, agora — falou o Sr. Summers gravemente —, acho melhor começar e acabar logo
com isso para podermos voltar ao trabalho. Falta alguém aqui?
— Dunbar — responderam algumas pessoas. — Dunbar, Dunbar.
O Sr. Summers consultou a lista.
— Clyde Dunbar — disse ele. — Está certo. Ele quebrou a perna, não foi? Quem vai sortear
por ele?
— Eu. Acho — falou uma mulher, e o Sr. Summers virou-se para fitá-la.
— A mulher sorteia pelo marido — respondeu ele. — Você não tem um rapazinho para fazer
isso por você, Janey? — Embora o Sr. Summers e todos os outros no vilarejo soubessem a
resposta perfeitamente bem, era tarefa do oficial da loteria fazer tais perguntas
formalmente. O Sr. Summers aguardou com uma expressão de interesse polido enquanto a
Sra. Dunbar respondia:
— O garoto dos Watson vai sortear este ano?
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Número 13 AGOSTO DE 2023
— Ora — emendou o Sr. Summers —, acho que estão todos aqui. Será que o Velho Warner
conseguiu?
— Aqui — falou uma voz, e o Sr. Summers acenou com a cabeça.
Um silêncio repentino desceu sobre a multidão quando o Sr. Summers limpou a garganta e
olhou a lista.
— Todos prontos? — gritou ele. — Agora vou ler os nomes — os chefes de família, primeiro
—, e os homens se aproximam e tiram um papel da caixa. Mantenham o papel dobrado na
mão sem olhar até que todos tenham tido a vez. Entendido?
As pessoas tinham feito isso tantas vezes que simplesmente nem prestavam atenção às
orientações: a maioria estava em silêncio e passava a língua pelos lábios, sem olhar em
volta. Depois, o Sr. Summers ergueu uma das mãos e chamou:
— Adams.
Um homem se separou da multidão e deu um passo à frente.
— Olá, Steve — disse o Sr. Summers, e o Sr. Adams respondeu:
— Olá, Joe.
Eles sorriram um para o outro sem senso de humor e com nervosismo. Depois, o Sr.
Adams enfiou a mão dentro da caixa e retirou um papel dobrado. Ele o segurou
firmemente por um dos cantos enquanto dava meiavolta e caminhava apressado até sua
posição na multidão, onde ficou parado a alguma distância da própria família, sem baixar
os olhos para a mão.
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— Somos os próximos — falou a Sra. Graves. Ela observou enquanto o Sr. Graves se
aproximava, vindo da lateral da caixa, cumprimentava o Sr. Summers com ar grave e
retirava uma tira de papel. Agora, por toda a multidão, havia homens segurando os
pequenos papéis dobrados nas mãos grandes, virando-os e revirando-os, nervosos. A Sra.
Dunbar e os dois filhos estavam parados, juntos, e a mulher segurava o pedaço de papel.
— Harburt…. Hutchinson.
— Levante-se e vá até lá, Bill — disse a Sra. Hutchinson, e as pessoas perto dela riram.
— Jones.
— Dizem que, lá no vilarejo ao norte, estão falando em abandonar a loteria — comentou o
Sr. Adams com o Velho Warner, que estava a seu lado.
O Velho Warner fez um muxoxo.
— Bando de malucos — disse ele. — Você dá ouvido aos jovens, e nada é bom o bastante
para eles. Da próxima vez, sabe, eles vão querer voltar a morar nas cavernas; ninguém
trabalha mais e vive desse jeito por um tempo. Costumava haver um ditado: “Loteria feita
garante a colheita.” Só o que sei é que todos comeríamos ervas daninhas e bolotas. Sempre
houve uma loteria — emendou com arrogância. — Já é ruim o bastante ver o jovem Joe
Summers ali zombando de todo mundo.
— Em alguns lugares, eles já abandonaram as loterias — observou a Sra. Adams.
— Nada além de confusão com isso — disse o Velho Warner, com teimosa. — Bando de
tolos.
— Martin.
E Bobby Martin observou o pai caminhar.
— Overdyke… Percy.
— Eu queria que eles se apressassem — falou a Sra. Dunbar para o filho mais velho. — Eu
queria que eles se apressassem.
— Estão quase terminando — disse o filho.
— Você tem que se preparar para correr e contar a seu pai — retrucou a Sra. Dunbar.
O Sr. Summers chamou o próprio nome, então deu um passo a frente com precisão e
retirou uma tira de papel da caixa. Depois, chamou:
— Warner.
— É o 77º ano no qual compareço à loteria — disse o Velho Warner ao passar pela multidão.
— Septuagésima sétima vez.
— Watson.
O garoto alto se aproximou, constrangido, em meio à multidão. Alguém falou:
— Não fique nervoso, Jack.
E o Sr. Summers emendou:
— Leve o tempo que precisar, filho.
— Zanini.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Depois disso, fez-se uma longa pausa, uma pausa tensa, até que o Sr. Summers segurou a
tira de papel no ar e falou:
— Muito bem, amigos.
Por um instante, ninguém se mexeu, e então as tiras de papel foram abertas. Subitamente,
todas as mulheres começaram a falar ao mesmo tempo e perguntavam: “Quem foi?”,
“Quem pegou?”, “Foram os Dunbar?”, “Foram os Watson?”. Depois, as vozes começaram a
dizer: “Foi Hutchinson. Foi o Bill”, “Foi Bill Hutchinson quem pegou.”
As pessoas começaram a olhar ao redor para ver os Hutchinson. Bill Hutchinson estava
parado, em silêncio, e fitava o papel em sua mão. No mesmo instante, Tessie Hutchinson
gritou para o Sr. Summers:
— Você não deu tempo suficiente para ele tirar o papel que queria. Eu vi você. Não foi
justo!
— Leve na esportiva, Tessie — gritou a Sra. Delacroix, e a Sra. Graves falou:
— Todos nós tivemos a mesma chance.
— Cale a boca, Tessie — disse Bill Hutchinson.
— Bem, pessoal — concluiu o Sr. Summers —, isso foi feito bem rápido, e agora temos que
nos apressar um pouco mais para terminarmos na hora. — Ele consultou a lista seguinte.
— Bill — chamou —, você sorteia pela família Hutchinson. Você tem outros parentes nos
Hutchinson?
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
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Número 13 AGOSTO DE 2023
— Não consigo correr de jeito nenhum. Você terá que ir na frente, e eu me encontro com
você.
As crianças já tinham pedras. E alguém deu uns seixos ao pequeno Davy Hutchinson.
Tessie Hutchinson estava no centro de um espaço vazio agora, e esticava as mãos em
desespero enquanto os habitantes se aproximavam dela.
— Não é justo — disse ela.
Uma pedra a atingiu na lateral da cabeça. O Velho Warner dizia:
— Vamos, vamos, pessoal.
Steve Adams estava na frente da multidão, com a Sra. Graves a seu lado.
— Não é justo. Não está certo! — gritou a Sra. Hutchinson, e, em seguida, eles estavam
sobre ela.
…………………………………..
Tradução de Ana Resende, publicada na Revista Literária em Tradução, nº 9 (set/2014),
Florianópolis/Brasil
http://www.notadotradutor.com/revista9.html
Todos os direitos reservados a tradutora
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Número 13 AGOSTO DE 2023
A felicidade possui um valor inestimável, que toda a humanidade anseia por alcançar.
Contudo, quem disse que a felicidade possui valor financeiro ou então, que esteja a
milhas de distância?
Não, irmãos! Está aí uma palavra com um endereço certo, revestido nas mais simples
ações ao nosso redor. Queres perceber a felicidade? Sinta o aroma do campo e perceba a
força fecunda que Deus nos presenteia a cada dia. Escuta o cantar dos pássaros e
sintonize com o amor dos animais, no ato de contemplação da sua própria existência.
Talvez aí esteja uma forma de se encontrar a felicidade.
Mas, há aqueles que não se sentem confortáveis diante de um cenário bucólico; então,
vos digo no lado oposto: escute o som das ondas quebrando com a força natural sobre o
solo. Sinta as águas batendo em suas pernas, como se algo grandioso estivesse aos seus
pés, com a graça e harmonia que somente o nosso Pai maravilhoso poderia proporcionar.
Tens mais um caminho para a tua felicidade.
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KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
No centro da razão - o cérebro - há uma força que emana a felicidade também. É nele que
habitam bilhões de células nervosas, números bem superiores ao dobro da população do
planeta Terra. É neste órgão sublime que podemos ter a ajuda necessária para perceber
tudo que circunda ao nosso redor, desde o primeiro momento em que saímos do ventre
materno. Ter a consciência plena destas palavras, será um importante alento no teu
caminhar rumo a felicidade.
Não busque no próximo aquilo que está dentro de ti. A felicidade está no amor que cada
um de nós pode nutrir, desde os mais simples gestos, ao mais complexo sacrifício de
renúncia. Ser feliz não é uma opção, mas sim, um dever nosso perante El Shaday.
A felicidade reside no âmago dos nossos corações afligidos. Percebam que o Apóstolo dos
gentios já havia dito aos Corintos que ainda que falasse a língua dos anjos e dos homens,
ele nada seria sem o amor. Este sentimento tão puro e nobre, tem com a grande foz a
mesma origem da felicidade: o nosso virtuoso coração. Amar representa a libertação das
vicissitudes para os caminhos da felicidade. Sem o amor, impossível será termos o
segredo tão almejado para a abertura das portas da nossa própria subconsciência.
Desta forma, a felicidade está em tudo que habita no cosmos. Tudo aquilo que é dirigido
pelo nosso amável Pai, tem um toque especial da felicidade, justamente pelo fato de que
em tudo que foi construído por Ele, houve amor. Se duvidas, pare, feche os seus olhos e
sinta que há algo em seu interior que não tem uma explicação palpável, mas que você
sente. É o amor Elohim na tua vida.
Faça o bem. Encontre a criança alegre dentro de você, que está a sua procura também.
Seja feliz!
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Publique na Kikosofia
A Kikosofia é um espaço de vozes, consonantes,
dissonantes, de livre e respeitosa expressão e opinião. Um
local que se pretende divertido, reflexivo, por vezes louco,
mas sempre acolhendo o outro, independente de diferenças,
somos todos iguais, e isso é o que de mais belo existe no
viver, saber que não somos cópias de outro ser.
Colabore, discorde, concorde, opine. Boa jornada.
kikosofia@gmail.com
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
MINHA OPINIÃO
Josnei Castilho
Todos se apressam em emitir opiniões
sobre tudo. É inevitável, afinal, ter
opiniões é o que nos torna únicos. O
problema é que, a maioria das nossas
opiniões são baseadas apenas em nossas
convicções pessoais, nas experiências de
vida e, pesarosamente, nas crenças
limitantes que nos acompanham. Esses
três fatores, tornam nossas assertivas
muito particulares, transformando-as,
muitas vezes, em desnecessárias ou
cruéis. Exceto as colocações que fazemos
baseadas em estudos técnicos,
resultantes de pesquisa criteriosa ou de
larga experiência prática em determinado
assunto, todas as demais são, muitas das
vezes, apenas para reforçar nosso orgulho
em prevalecer sobre o outro ou tão
somente para polemizar, discriminar e
ofender. Não que precisemos nos calar,
porém, também não precisamos
menosprezar, vilipendiar ou humilhar.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
DIVERGÊNCIAS
Indo na contramão de certas "correntes" - Francisco Moreira
Determinar o motivo pelo qual uma pessoa comete um crime ainda é uma
incógnita que a ciência não conseguiu explicar muito bem. Claro, existem
inúmeras teorias que se debruçam sobre os fatores que levam ao aumento da
criminalidade e do recrudescimento da violência urbana. Predominam entre
estas aquelas que apontam as diferenças sociais e a ausência do Estado como
fatores principais, quando não essenciais para o desencadeamento de condutas
que firam a legalidade. Apontam a falta de estrutura, de urbanização, o déficit
de moradias, de serviços públicos, de escolarização, o desemprego e por aí vai.
NOTÍCIAS IMPORTANTES,
"Especialistas" em Segurança Pública formadosA Tem
U A L I bancos
Z A Ç Õ E S Eacadêmicos
IDEIAS com
base em pesquisas bibliográficas e revisionais, propagam extensamente tais
teorias, advindas de alguns estudos sociológicos,
2 - quase sempre
Tendências lastreados em
de Gestão
algum tipo de ideologia partidária. Não que eu3 acredite serdepossível
- Tendências 2022 qualquer
realização intelectual sem algum tipo de ideologia. Porém, o que vejo de
problemático nesse tipo de pesquisa é o foco direcionado quase que
especificamente nos fatores externos e periféricos que levam ao crime. Não
existe foco, e admito seria mais complicado realizar isso, no subjetivo dos
indivíduos que infringem a lei.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Não vou me deter nas fórmulas matemáticas desenvolvidas por Becker, mas o fato
dele excluir crimes com motivações sociais e psicológicos, transformando o
criminoso num agente econômico, motivado por fatores mercadológicos e evitando
estereótipos, nos faz entender que qualquer pessoa é capaz de atos ilícitos,
bastando para tal que as vantagens sejam maiores que as possíveis sanções.
Claro que com o tempo houveram revisões e avanços de novas teorias sobre o
comportamento criminoso. A Neurocriminologia, por exemplo, que busca entender
de maneira biopsicosocial se existe uma "propensão natural" de certas pessoas
para o crime. Cujas conclusões lastreadas nos avanços diagnósticos esbarram de
certo modo na teoria lombrosiana do "criminoso nato". Ainda que apontem que
alguns indivíduos podem sim ter essa propensão a determinados tipos de crime. O
que vai render ainda muitas reflexões e discussões por mostrar que Lombroso,
apesar dos métodos de pesquisa questionáveis, talvez não estivesse tão errado.
Nada disso entretanto, invalida o fato de que "o crime" é resultado de uma escolha
do indivíduo em aderir a esse mercado ilícito. O crime é um negócio, com regras
assimiladas do mercado comum, oferta e demanda por exemplo, mas que extrapola
e subverte os mecanismos de controle do Estado, levando a regulação das relações
entre os diversos "empreendedores", "concorrentes" e "clientes" para o campo da
força bruta.
A única forma de se opor a expansão desse mercado é o mesmo utilizado por eles
para se expandir, A força. Porém o Estado diferentemente dos grupos criminosos,
não pode usar da força inconsequente, pois seu interesse é o bem comum e não o
lucro a qualquer custo. Exatamente por ter limitações legais não pode, o Estado,
demonstrar fraqueza em suas resoluções, leis e determinação. Ao contrário, deve
deixar claro que o infringir da lei será punido de forma rápida, disciplinada e
rígida. Mas o que estamos vendo é justamente o contrário.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Sabemos que a vida nos presídios nacionais não é fácil. Privados de uma rotina
disciplinar e educativa não cumprem seu papel social de reconduzir o infrator de
volta a sociedade (Sim, esse é o objetivo da cadeia. Não a mera punição ou
afastamento social), e que se tornaram celeiro de novos crimes, centro de
recrutamento, gerencia de decisões e até conselho deliberativo do crime. Foi nos
presídios que alguns dos mais famosos grupos criminosos do país nasceram e
cresceram. Pensar que isso foi feito sob a tutela e os olhares estatais já seria
absurdamente distópico, se não fosse a mais pura e dura realidade.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Há sim, inúmeras situações de presos que poderiam muito bem estar cumprindo
outros regimes de reparação a sociedade, há ainda um forte fator "discriminatório"
em relação a quem permanece preso, mimetizando o retrato social que temos cá
fora. E sim, os olhos vendados da Justiça conseguem enxergar muitíssimo bem tais
diferenças e se comporta de modo diferente de acordo o cliente.
Nada disso invalida o fato de que julgamos mal, não temos um projeto de
ressocialização eficiente (ou melhor não temos nenhum). Nossas leis podem até ser
modernas, socialmente justas, levar em conta a dignidade humana, etc. Mas a
insegurança jurídica nascida da inconstância de recursos, decisões que são
reformadas, mudanças radicais de entendimentos das Cortes (geralmente após
muito pouco tempo de estabelecidos), protagonismo exagerado de certas
autoridades, interferências em outros poderes, autoritarismos desconexos, uma
opção pelo desencarceramento sem critérios claros, valores morais distorcidos que
exaltam a figura romantizada do criminoso e um excessivo foco em "direitos
humanos" ideologicamente direcionado. Trazem a sensação inequívoca de que
delinquir vale a pena e que até pode ser um estilo de vida.
É preciso haver uma total reformulação de princípios que atente para o fato de
que criminosos tem que ser tratados como tal. Não quer isso dizer que devam
sofrer qualquer tipo de ameaça ou desumanização, mas que devem sofrer
restrições rígidas, claras, objetivas. Seguir regras e disciplina que lhes possibilite a
reflexão sobre o crime cometido e sua consequente reabilitação, bem como possa
dissuadir em potenciais criminosos a vontade de delinquir. Não se pode ver
vantagem no crime. Como em qualquer mercado, é preciso que os custos de
produção (criminal) sejam absurdos, só assim para que o negócio deixe de valer a
pena. Ou vemos isso, ou o crime continuará sendo um mercado em ascensão.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Jim Graves está morto. A própria faca enterrada no peito. Quase não havia sangue no
ferimento mortal. O olhar incrédulo de quem sofreu um golpe que não esperava ainda
estampava o rosto barbado de Jim. As cadeiras e mesas quebradas no saloon eram sinais
inequívocos de que ali tinha havido uma luta brutal entre dois homens determinados.
Whisky e poções de comida sujavam o chão que o senhor Louis costumava manter
imaculadamente limpo para um estabelecimento daqueles. – Sangrem em meu chão e eu
os mato – Costumava bradar ele quando algum dos cowboys se excedia na bebida e
iniciava uma briga.
– O que aconteceu aqui Louis? – Perguntou o xerife, indicando o corpo inerte de Jim
Graves.
– O ferreiro aconteceu John. – Falou Louis com um certo alívio na voz. – O ferreiro
aconteceu. – Repetiu, com um leve sorriso nos lábios. – Você tem um enorme problema
nas mãos xerife.
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Número 13 AGOSTO DE 2023
Jim Graves estava morto. A comoção que se instalou entre a população nada tinha a ver
com carisma ou admiração por Jim. Quase todos ali gostariam de ter tido a coragem de
colocar uma bala entre os olhos daquele brutamontes. Jim era o líder de um grupo de
arruaceiros e assassinos que serviam ao senhor Bolton, o maior fazendeiro da região,
dono de uma riqueza incalculável, que como toda riqueza, foi feita a custo de sangue
inocente, exploração de pessoas, ameaças e roubos. Bolton era praticamente o dono de
metade das terras ali. E Jim Graves era o chefe de seus capangas. Um sádico com uma
veneração cega por seu patrão, que se orgulhava de quantas pessoas havia mandado ao
além, fosse por obrigação a seu empregador ou simples satisfação pessoal. Jim Graves
merecia estar morto. Disso ninguém duvidava, mas o que viria a seguir era o que
preocupava a todos.
– Uma hora atrás, Jim entrou no saloon. – Disse Louis. – Estava com aquele sorriso
malicioso de quem havia aprontado alguma maldade. Pediu uma dose dupla de Bourbon, o
que só confirmou que ele havia feito algo ruim para alguém. Sentou-se no lugar de
sempre, com o Colt em cima da mesa e resmungou algo sobre o “senhor Bolton se deliciar
essa noite”. Eu apenas servi e voltei para o balcão. Vi, pela janela, alguns dos homens de
Jim saindo a galope na direção do rancho, gritando como alucinados.
– Lewis veio em minha direção e olhando em meus olhos disse “Avise ao John para onde
estou indo Louis”. Pegou meu velho Spencer, que guardo embaixo do balcão e saiu com
fogo nos olhos.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Lewis cavalgava na direção do rancho Dalton, exigindo o máximo de seu cavalo. Sabia que
enfrentar de frente os capangas da fazenda era suicídio, ele precisaria ser furtivo e preciso,
teria que voltar a ser o assassino frio responsável pela perda de tantas vidas anos antes. O
treinamento ia aos poucos despertando os instintos dentro dele. Desviou da estrada
próximo ao rio largo e pegou uma velha trilha para as colinas, íngreme o suficiente para que
tivesse que abandonar o cavalo algumas milhas depois. Teria que seguir a pé, e descer por
um caminho rochoso e perigoso, mas que evitaria que sua chegada fosse percebida pelos
homens de Dalton. Em seus pensamentos, pedia perdão pelas mortes que causaria e orava
para que não fosse tarde demais.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
– Preciso de dez voluntários. – Gritou ele para os homens que o seguiam curiosos. –
Vamos até o rancho Dalton.
Os homens se entreolharam e, alguns recuaram de imediato, baixando a cabeça e
deixando a rua apressados.
– Eu vou. – Disse Louis. – Quero saber que vai pagar o prejuízo em meu estabelecimento.
E ver como essa tragédia acaba. Pago duas rodadas para quem seguir comigo.
O xerife sorriu, agradecido. Sabia que ninguém queria se envolver com Dalton e seus
comparsas. Aos poucos alguns corajosos se apresentaram e conseguiram reunir 6 homens
incluindo Louis e o xerife.
– Bem John, parece que somos só nós. – Constatou Louis.
– Sim, parece que sim. Areiem seus cavalos e vamos, já perdemos muito tempo aqui.
O rancho Dalton havia sido construído aos pés de uma colina rochosa e íngreme, o que
mantinha uma proteção natural do local. Só havia acesso por um lado, de modo que
qualquer aproximação era logo notada de longe. Era impossível a uma tropa montada
chegar sem que as sentinelas tivessem tempo para se organizar. A enorme rocha por trás
do casarão impossibilitava qualquer tentativa de ataque por ali. Mas Lewis estava
determinado a descer o paredão de pedra. A corda que trouxera não ajudaria muito, mas
era suficiente para baixar as armas e chegar até uma saliência na rocha, de onde poderia
observar o movimento na fazenda e checar um local que possibilitasse a descida.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Ayiana havia chegado à casa de Lewis seis meses atrás. Sua mãe havia morrido, mas antes
lhe falara do homem que a salvara muitos anos antes. Ayiana era fruto de um estupro e
seu destino deveria ter sido a morte, não fosse o homem que tirara sua mãe das mãos do
homem que a violentara e cuidara dela por um tempo. No leito de morte a mãe pediu que
ela fosse ficar com ele, dar um pouco de alegria a sua alma que era cheia de dor e culpa.
Assim, Ayiana foi ter com Lewis.
Dalton era herdeiro de uma grande fortuna, seu pai e avô fizeram dinheiro às custas de
trabalho escravo, roubos e assassinatos. Tomaram terras de colonos e expulsaram algumas
pequenas tribos indígenas da região. Os poucos que se aventuraram a enfrentar a família
Dalton jaziam em alguma cova rasa ou secaram no deserto para os urubus. Dalton era um
homem mimado, que costumava acompanhar o pai em suas incursões e se divertia
torturando os cativos e estuprando as mulheres. Anos atrás ele havia capturado uma
indígena e se divertiu com ela por meses, violando-a diariamente, mesmo quando ela
engravidou. Ele teria se aproveitado mais da garota, mas uma patrulha dos republicanos
descobriu o acampamento do seu bando e atacou, afugentando os homens e libertando os
prisioneiros. Mais tarde ele soube que a índia havia tido uma menina, tão bonita quanto a
mãe. Desde então ficou obcecado em encontrar a criança.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Alguns meses antes descobriu o paradeiro da garota, sua mãe havia morrido, vítima da
febre que assolara a região no ano anterior e a menina foi mandada para casa de um velho
tenente que as acolhera antes. Por sorte, era o ferreiro da cidade, um pobre coitado que
havia sido dispensado sem honras. Tentou negociar a guria, mas o homem era teimoso e
lhe dissera não, algo impensável até então. Jim Graves, seu melhor capataz a essas horas já
deveria ter dado um jeito no ferreiro e ele poderia aproveitar de sua cria. A menina era
uma cópia mais jovem e mais saudável da mãe, ele poderia saciar seus desejos por muito
tempo. Não havia sentimento ali, apenas desejo e luxúria. A cria da indígena lhe serviria
como a mãe serviu.
Ayiana acordou e se viu amarrada, pés e mãos, a uma cama grande. Suas roupas haviam
sido rasgadas e ela estava totalmente nua, exposta ao desconhecido que lhe olhava com
um sorriso sádico nos lábios. – Minha semente fez aquela selvagem produzir um belo
fruto. – Disse o homem com maldade, e Ayiana entendeu quem estava diante dela e aquilo
que a esperava. Gritou em desespero e se debateu, o homem gargalhou. – Não adianta
grita pequenina, você será minha, assim como sua mãe foi e eu, com certeza irei gostar
muito. – Ayiana continuou gritando e chorando enquanto o homem se aproximava dela.
Ele tirou as próprias roupas e se sentou na cama, tocou os seios pequeninos da garota
indefesa e aproximou o rosto com a língua tocando sua pele. Ayiana desejou morrer
naquele momento, o homem ria. Foi quando ouviram os tiros.
Lewis havia descido a rocha e se posicionara num local que lhe dava visão de quase todo o
entorno do casarão. Preparou o Spencer e procurou as sentinelas, eram três localizados
próximos a entrada principal. A direita ficava o alojamento dos demais vaqueiros, ele
poderia eliminar os três e seguir rápido até a casa antes que os outros pudessem avistá-lo.
Mirou na cabeça do mais distante e atirou, provocando uma explosão rubra de sangue. Os
outros dois homens não viram de onde partira o tiro e correram para frente da casa, se
tornando alvo fácil para mira de Lewis. Um quarto homem que não tinha sido visto,
localizou o local dos tiros e devolveu o fogo, enquanto gritava para os alojados. Lewis
estava bem protegido e conseguiu acertar o capanga durante a corrida deste.
O xerife John e seu voluntários atiçavam os cavalos a toda velocidade. – John, o ferreiro
não tem chances contra os homens de Dalton, a essa altura deve estar morto. – Disse
Louis. – Não é com ele que estou preocupado, Louis. E sim com o Dalton. Conhecendo
Lewis, aquilo vai ser um massacre. – Respondeu o xerife e esporeou o cavalo mais uma
vez.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Dalton vestiu uma calça apressado e pegou um Colt 45. Foi até a janela e viu quando os
homens foram atingidos na saída do barracão. Como todo covarde acuado, resolveu se
proteger usando o corpo da jovem amarrada na cama. Desamarrou seus pulsos do estrado,
se posicionando por trás da moça apontando a arma para ela. Percebeu que os tiros
estavam mais próximos e ouviu a janela quebrando no andar de baixo. “Onde estaria Jim,
aquele desgraçado?”. Pensou.
Lewis estava entrincheirado por trás de uma mesa, respondendo aos tiros que vinham em
sua direção. Ele precisava chegar as escadas para ter acesso ao andar superior, mas ali
também havia ao menos dois homens protegendo os quartos. Um dos bandidos
percebendo uma pausa nos disparos de Lewis se aventurou em sua direção apenas para
ser atingindo por um tiro no meio dos olhos. “Esse homem é um demônio” gritou um dos
capangas enquanto disparava. Um impasse parecia ter se estabelecido, mas tiros e gritos
do lado de fora revelaram que o xerife havia chegado.
Dalton percebeu que mais homens haviam se juntado ao tiroteio, ouviu os cavalos
chegando a galope e a salva de tiros em seguida. Aproveitou o momento, para tentar
entender o que estava acontecendo e saiu para corredor, viu seus homens no topo da
escada protegendo o andar e se perguntou mais uma vez por Jim. Resolveu voltar ao
quarto e usar a selvagem como escudo, ela era o motivo daquela invasão, ela o ajudaria a
sair dali.
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
Lewis abriu a porta devagar e foi recebido com um tiro, que atingiu a porta. Não revidou.
Ouvia o choro entrecortado de Ayiana e percebeu que Dalton a usava para se proteger.
– Largue a arma ferreiro. A selvagem é minha cria. Ela me pertence. – gritou Dalton.
– Você está morto, Dalton. Solte a menina. Talvez eu apenas deixe o xerife levar você.
– Nunca ferreiro, eu sou... – O tiro atingiu Dalton no centro da testa, calando-o para
sempre. Lewis havia calculado a sua posição e com segurança arriscou o tiro fatal, no
instante em que John chegava ao andar superior. Ayiana, vendo o corpo desabar, se livrou
do abraço do cadáver do pai e correu a abraçar Lewis. O xerife se aproximou e notando
que a garota ainda estava nua, a cobriu com um lençol. Em silêncio o ferreiro agradeceu e
carregou a garota, descendo as escadas.
– Você precisa ir embora Tenente, não vão deixar isso barato. – Lewis olhou nos olhos do
xerife e respondeu com respeito. – Sim senhor, meu Capitão. – Pegou um dos cavalos ali
próximos e montando, cavalgou em direção ao horizonte com a garota nos braços.
– Você vai ter um trabalhão para explicar aos federais esse massacre, John.
– Vou sim Louis e você vai comigo, afinal é lá em seu saloon que Jim Graves está morto.
KIKOSOFIA
Número 12
JULHO DE 2023
REFULGIR URBANO
A METAMORFOSE QUE PERDURA
"A coisa mais penosa do nosso tempo é que os tolos possuem convicção e os que possuem imaginação e
raciocínio vivem cheios de dúvida e indecisão."
O "pai do rock brasileiro" foi uma das mais importantes influências musicais de nossos tempos,
chamado de "maluco beleza", Raul Seixas criou ao redor de si uma aura de misticismo, loucura e
espiritualismo que combinados a uma energia contagiante, deixou um legado poderosíssimo para a
música brasileira. Suas letras cheias de elementos etéreos e sua crença numa "Sociedade
alternativa" baseada nos ensinamentos do ocultista Aleister Crowley chegaram a lhe render (e ao
escritor Paulo Coelho, seu parceiro em diversas letras) problemas com os militares durante a
ditadura, que os levaram ao exílio. "Fazes o que tu queres, há de ser o todo da Lei. O amor é a lei,
amor sob vontade." gritavam em suas músicas que marcavam uma estranheza difícil de ignorar e
criaram uma legião de fãs que seguem até hoje gritando a quantos se arvorem a cantores
populares "Toca Raul!"
É quase impossível não ser arrebatado por frases icônicas como "Tenha fé em Deus, tenha fé na
vida, tente outra vez", "Eu não posso entender tanta gente aceitando a mentira", "ou "Eu
prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre
tudo" e "Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz" tantas vezes apropriadas por
religiosos, políticos e movimentos sociais totalmente divergentes, mas que provam que a
genialidade desse baiano de Salvador reflete muito mais do que uma geração marcada pela
contestação e pluralidade.
KIKOSOFIA
Número 13
AGOSTO DE 2023
OURO DE TOLO
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros É você olhar no espelho
Por mês Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Eu devia agradecer ao Senhor Saber que é humano
Por ter tido sucesso Ridículo, limitado
Na vida como artista Que só usa dez por cento
Eu devia estar feliz De sua cabeça animal
Porque consegui comprar
Um Corcel 73 E você ainda acredita
Que é um doutor
Eu devia estar alegre Padre ou policial
E satisfeito Que está contribuindo
Por morar em Ipanema Com sua parte
Depois de ter passado fome Para o nosso belo
Por dois anos Quadro social
Aqui na Cidade Maravilhosa
Eu é que não me sento
Ah! No trono de um apartamento
Eu devia estar sorrindo Com a boca escancarada
E orgulhoso Cheia de dentes
Por ter finalmente vencido na vida Esperando a morte chegar
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa Porque longe das cercas
Embandeiradas
Eu devia estar contente Que separam quintais
Por ter conseguido No cume calmo
Tudo o que eu quis Do meu olho que vê
Mas confesso abestalhado Assenta a sombra sonora
Que eu estou decepcionado De um disco voador
KIKOSOFIA
Número 13 AGOSTO DE 2023
CINEOLHAR
Sarah Tobias (Jodie Foster), garçonete de um bar
é estuprada por três homens, incentivados por
outros clientes, ao denunciar a agressão,
defronta-se com dois problemas: seus
agressores e o sistema penal, no qual as vítimas
de estupro são suspeitas em seus próprios casos.
História inspirada por um caso real de estrupo. A
magistral interpretação de Foster a fez ganhar
seu primeiro Oscar de melhor atriz. O filme
apresenta uma representação crua da violação e
de suas consequências sociais e psicológicas,
trazendo a discussão, ainda bem atual, da
cultura que busca colocar a vítima como culpada
pela própria agressão que sofreu.
Acusados
1988 - 1h 51 min
Direção de Jonathan Kaplan
Com Jodie Foster, Kelly McGillis
Rembrandt
O regresso do filho pródigo
óleo sobre tela - 1669
262 x 206 cm
The State Hermitage Museum - Russia
KIKOSOFIA