Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE DE PAULÍNIA

DIREITO – NOITE

ARTIGO ACADÊMICO

ANA BEATRYS CARREIRO GUIMARÃES


JULIANA CUSTÓDIO SIMÕES
KATRYNE MARTINS BERGAMASCO
MATHEUS PASSOS DE SOUZA
PENELOPE ROBERTA ABRANTES DA SILVA

ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA

PAULÍNIA - SP
2021
ANA BEATRYS CARREIRO GUIMARÃES
JULIANA CUSTÓDIO SIMÕES
KATRYNE MARTINS BERGAMASCO
MATHEUS PASSOS DE SOUZA
PENELOPE ROBERTA ABRANTES DA SILVA

ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA

Artigo acadêmico do curso de Direito da


Universidade de Paulínia para obtenção de nota
parcial para média.

ORIENTADORA: Prof° KARIME BUCHEDID ESTEVES

PAULÍNIA-SP
2021
Sumário
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 5
2. HISTORICIDADE DO ATIVISMO PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA As
MULHERES. .............................................................................................................. 6
3. SURGIMENTO DA LEGISÇÃO CONTRA OS CRIMES PTRATICADOS ÀS
MULHERES: LEI Nº 11.340 DE 7 DE AGOSTO. ....................................................... 8
4. ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA .................................................................. 9
5. MUDANÇAS PROMOVIDAS PELA LEI Nº 11.340 ............................................ 12
5.1. Assistência Especializados de Atendimento à Mulher .......................................................... 13
5.2. Serviços Especializados ......................................................................................................... 13
5.3. Centros Especializado de Atendimento à Mulher ................................................................. 14
5.4. Casas-Abrigo ......................................................................................................................... 14
5.5. Casas de Acolhimento Provisório ......................................................................................... 14
5.6. Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) ............................................ 14
5.7. 3Defensorias Públicas e Defensorias da Mulher (Especializadas) ......................................... 14
5.8. Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: ...................... 14
5.9. Assistência ao Homem ......................................................................................................... 15
5.10. Figura Típica ..................................................................................................................... 15
5.11. Mudanças nos procedimentos normativos ...................................................................... 15
5.12. Mudanças Culturais .......................................................................................................... 16
5.13. Indenização ao SUS ........................................................................................................... 17
5.14. ASPECTO NEGATIVO ......................................................................................................... 17
6. CONCLUSÃO .................................................................................................... 18
METODOLOGIA
A Metodologia aplicada para o desenvolvimento do presente trabalho foi ao método
de Pesquisa Bibliográfica, foi realizado pesquisa em artigos e sites que puderam
ajudar no desenvolvimento e enriquecimento de informações necessárias para que
pudéssemos identificar as problemáticas do tema escolhido.
5

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar de que forma a Lei para prevenir
e punir crimes praticados contra às mulheres se consolidou no Brasil. Quais
movimentos e mobilizações foram necessárias para finalmente houvesse disposição
do Estado para promover acima de tudo proteção para as mulheres.
6

2. HISTORICIDADE DO ATIVISMO PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS


MULHERES.

A violência contra as mulheres foi e continua sendo pauta de diversas discussões e


debates nos mais diferentes grupos da sociedade nas últimas décadas, grupos de
mulheres engajadas pela garantia de direitos e o fim da violência cometida contra as
mulheres foram responsáveis por muitas conquistas das quais hoje testemunhamos,
ao longo da evolução históricas das sociedades as mulheres sempre foram
reprimidas, ofuscadas e submetidas as mais terríveis formas de violência moral, física
e psicológica onde seu papel se resumia apenas em servir e obedecer.
Nesse sentido o ativismo como via para mobilizar pessoas e organizações a se
movimentarem pela defesa e proteção das mulheres resultou na conscientização de
muitas pessoas, com o crescimento exponencial das redes sociais a mobilização é
muito maior o que acaba convencendo uma massa de pessoas a cobrar e exigir pelo
da violência de gênero, pode ser um caminho para que um dia seja possível visualizar
uma sociedade que respeita o gênero feminino, sendo também uma forma de
expressão a dignidade da pessoa humana, máxima comtemplada na Declaração
Universal dos Direito Humanos, é importante destacar que a violência praticada às
mulheres é fruto de construção histórica, o que traz o entendimento de que esse
comportamento é estrutural e está arraigado em todos os níveis sociais e ainda que
seja passível de desconstrução os dados revelam que o processo não se dará de
forma homogênea pois ainda há países em que o comportamento hostil em relação
as mulheres é visto, de certa forma, como tradição cultural daquela sociedade deve
ser praticado e respeitado, desta forma atravessam por gerações porquê a mulher não
é dada liberdade para expressar o manifestar qualquer tipo de insatisfação que
contrarie o costume.
Na década de 1950 a ONU (Organização das Nações Unidas) criou a Comissão de
Status da Mulher como forma de unir esforços para combater essa forma de violência,
onde foi formulada até o ano 1962 uma série de acordos fundamentados em provisões
da Carta das Nações Unidas, em que afirma de forma contundente a igualdade entre
homens e mulheres. Em 1979, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a
Convenção para abolir todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW),
ficou reconhecida como a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Essa Convenção
aspirou o estímulo para a atenção aos direitos da mulher na busca da igualdade de
gênero, bem como, a repressão de quaisquer discriminações ou violência. No cenário
7

brasileiro o ativismo do movimento feminista fez surgir em 1981, na cidade do Rio De


Janeiro a organização SOS Mulher, com o propósito de construir um espaço para que
fosse realizado o atendimento a mulheres vítimas de violência, onde seria também um
local para auxiliar na mudança das condições de vida das mulheres atendidas. A
iniciativa ganhou força e foi aderida em São Paulo e Porto Alegre.
Devido aos esforços e mobilizações do ativismo feminista, em 1985, foi criado o
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) incialmente vinculado ao Ministério
da Justiça com objetivo de promover políticas que pudessem eliminar a descriminação
contra a mulher e garantir a sua participação no âmbito econômico, político e cultural.
Atualmente o conselho integra a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) medida
que trouxe funções e atribuições mais significativas o processo de implementação e
controle de políticas públicas destinadas às mulheres. Nesse mesmo ano o Estado de
São Paulo foi responsável pela criação da primeira Delegacia de Defesa da Mulher
(DDM) também fruto do movimento feminista, a advogada e militante que participou
do movimento de mulheres paulistas da década de 1980, Adriana Gragnani esclarece
que, “Se existe delegacia de defesa da mulher hoje, é porque existiu uma grande luta
do movimento de mulheres; mulheres que dedicaram tempo de suas vidas para isso”.
Rosimary Corrêa, primeira delegada de defesa da mulher, afirma que 500 mulheres
procuram a delegacia especializada no dia da inauguração e completa que “A gente
não tinha noção do que era a violência ocorrida dentro de casa antes da delegacia de
defesa da mulher. Na verdade, ninguém conhecia a dimensão do problema da
violência doméstica.” De acordo com dados do De acordo com os últimos dados da
Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em setembro de 2019, há delegacias de
atendimento à mulher em menos de 8% dos municípios. Em mais de 91% das cidades
não existe nenhuma Deam, a pesquisa também mostrou que em apenas 2,4% dos
municípios de 7 estados há o serviço de casas-abrigo para mulheres vítimas de
violência doméstica, ou dado importante é de que no ano de 2007 o Brasil dispunha
de 441 Deam entretanto no ano de 2019 esse número caiu, passando para apenas
417 unidades o que significa um retrocesso tendo em vista que no Brasil o problema
da violência em decorrência do gênero é um problema enraizando e infelizmente
comum, os índices revelados são extremamente preocupantes baixos para um
cenário que seja razoavelmente efetivo no combate e apoio a mulher vítima de
violência. A criação da Delegacia especializada nos crimes contra a mulher são uma
8

via de assegurar os compromissos assumidos pelo Brasil para tratar a problemática


dos crimes contra a mulher especialmente a doméstica, a partir dessa iniciativa o tema
ganhou mais visibilidade e possibilidade de favorecimento à conscientização e
discussão atos de natureza criminosa praticados sob a condição de gênero, nesse
caso o feminino.
No ano de 1993 a Declaração de Viena voltou a colocar em pauta a questão da
violência contra a mulher sob o panorama internacional, foi considerada um avanço
pois nela foi considerada vários níveis de violência e manifestações de discriminação,
inclusive aqueles que fossem praticados motivados pelo preconceito da herança
cultural. No dia 09 de junho de 1994 foi aprovada pela Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos (OEA) a Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida como Convenção
de Belém do Pará, seguindo o contexto da convenção há o marcante evento da
instituição na legislação brasileira da LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006,
conhecida popularmente com “Lei Maria da Penha.”

3. SURGIMENTO DA LEGISÇÃO CONTRA OS CRIMES PTRATICADOS ÀS


MULHERES: LEI Nº 11.340 DE 7 DE AGOSTO.

O movimento feminista realizou inúmeros esforços para promover igualdade e


dignidade para as mulheres, viabilizou a uma série de conquistas fundamentais para
que mulheres tivessem voz, apoio e segurança ainda que para muitos essas
conquistas sejam minimamente efetivas pois a ótica é de que nada mudou, a violência
contra a mulher continua sendo perpetrada na sociedade, no entanto é através de
pequenas conquistas que será possível algum dia avistar uma sociedade que de fato
seja igualitária e as mulheres não tenham que “gritar” exigindo direitos que na teoria
são inerentes a todos ser humano independente de gênero, desde os primórdios a
humanidade os homens foram ensinados que o poder, a voz e a força somente habita
no corpo masculino e à mulher cabe a fragilidade a doação e o serviço, essa “filosofia”
custou às mulheres a perda da sua dignidade, identidade e independência em
relações onde o homem se sobrepõe a mulher e a coloca em uma posição de
coadjuvante, infelizmente isso ocorre não só apenas nas relações pessoais acontece
em todas as esferas sociais, mulheres são menosprezadas apenas pela condição de
9

ser mulher, não há títulos ou diplomas que revertam situações de constrangimento e


humilhação das quais todas a mulheres em algum momento foram submetidas, por
isso é de suma importância que mulheres sejam defensoras e encorajadoras de outras
mulheres, se o que já foi conquistado até os dias atuais não tivesse acontecido,
certamente hoje muitas mulheres não estariam aqui, porque foram vítimas da pressão
familiar, social e profissional, vítimas de um agressor incorrigível, ou de um criminoso
qualquer cujo o alvo mais fácil sempre é a mulher.
Apesar dos direitos conquistados em favor das mulheres tenha ocorrido de maneira
lenta no Brasil, surgiu como forma de resposta ao esgotamento pela inércia do Estado
Brasileiro em ainda de certa forma consentir com as atrocidades que aqui ocorriam,
não havia nenhuma legislação tivesse como fundamento central punir os crimes
praticados contra a mulher, crimes esses que na maioria dos casos acontecem de
maneira silenciosa dentro do ambiente doméstico, agressão física, verbal e
psicológica, em alguns casos pode caracterizar-se crime de tortura, e tudo isso era
assistido pelo estado brasileiro de forma omissa, o que poderia reforçar o sentimento
de impunidade e autoconfiança do agressor. Nesse cenário o caso de uma Mulher,
Maria da Penha Fernandes Maia ganhou notoriedade e reforço com os esforços do
movimento feminista que desde 1970 já denunciava casos de violência cometidas
contra a mulher, anos depois a mobilização cresceu mais diante dos inúmeros casos
em que o assassino da companheira era absolvido alegando “legítima defesa da
honra”, apesar da primeira agressão ter ocorrido no ano de 1983, foi só em 1998 que
o caso ganhou dimensão internacional.

4. ORIGEM DA LEI MARIA DA PENHA

Em 29 de maio de 1983, Maria da Penha Maia Fernandes, de profissão farmacêutica,


foi vítima, em seu domicílio em Fortaleza, Estado do Ceará, de tentativa de homicídio
por parte de seu então esposo, Marco Antônio Heredia Viveiros, de profissão
economista, que disparou contra ela um revólver enquanto ela dormia, ato que
culminou uma série de agressões sofridas durante sua vida matrimonial. Em
decorrência dessa agressão Maria da penha sofreu várias lesões e teve de ser
submetida a inúmeras cirúrgicas. Em consequência da agressão de seu esposo, ela
sofre de paraplegia irreversível e outros traumas físicos e psicológicos. Sustenta Maria
10

da penha que o esposo procurou encobrir a agressão alegando ter havido uma
tentativa de roubo e agressão por parte de ladrões que teriam fugido. Duas semanas
depois de a Senhora Fernandes regressar do hospital, e estando ela em recuperação,
sofreu um segundo atentado contra sua vida por parte do Senhor Heredia Viveiros,
que teria procurado eletrocutá-la enquanto se tomava banho. Heredia Viveiros agiu
antes da agressão pois tentou convencer a esposa de fazer um seguro de vida a favor
dele e, cinco dias antes de agredi-la, procurou obrigá-la a assinar um documento de
venda do carro, de propriedade dela, sem que constasse do documento o nome do
comprador. Comprovava a autoria do atentado por parte do agressor apesar de este
sustentar que a agressão fora cometida por ladrões que pretendiam entrar na
residência comum. Durante a tramitação judicial foram apresentadas provas que
demonstram que tinha a intenção de matá-la, e foi encontrada na casa uma
espingarda de sua propriedade, o que contradiz sua declaração de que não possuía
armas de fogo. Análises posteriores indicaram que a arma encontrada foi a utilizada
no delito. A versão em que Marcos Antônio declarou a polícia foi posteriormente
desmentida pela perícia. Com base em tudo isso, o Ministério Público apresentou sua
denúncia em 28 de setembro de 1984, como ação penal pública perante a primeira
Vara Criminal de Fortaleza, Estado do Ceará. Maria da Penha voltou para casa de
sua recuperação quatro meses depois do fato, conseguiu dar seu depoimento; o
delegado chamou Marcos novamente para depor, assim ter o fechamento do caso.
Marcos não se lembrava do que havia dito há quatro meses antes em seu primeiro
depoimento entrou em contradição com a própria história. Marco Antônio Heredia
Viveros foi indiciado como autor de tentativa de homicídio. O primeiro julgamento de
marco Antônio aconteceu em 1991, oito anos após o crime, o caso tardou oito anos a
chegar a decisão por um Júri, que em quatro de maio de 1991, O juiz proferiu sentença
condenatória contra o Senhor Viveiros, aplicando-lhe, por seu grau de culpabilidade
na agressão e tentativa de homicídio. Sentenciou o agressor a 15 anos de prisão por
votos dos setes jurados que foram sorteados para formar o Conselho de Sentença,
seis votos “culpados” e um “inocente”, mas, a defesa apresentou um recurso de
apelação contra a decisão do júri. Esse recurso, segundo o art. 479 do Código
Processual Penal brasileiro.

Artigo 479 do Decreto Lei nº 3.689 de 03 de outubro de 1941

CPP - Decreto Lei nº 3.689 de 03 de outubro de 1941


11

Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a


exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima
de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte. (Redação dada pela Lei nº
11.689, de 2008)
Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de jornais ou
qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, gravações, fotografias, laudos,
quadros, croqui ou qualquer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a
matéria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados. (Incluído pela Lei
nº 11.689, de 2008) Era extemporâneo, pois somente podia ser instaurado durante a
tramitação do juízo, mas não posteriormente. Essa impossibilidade legal é
reiteradamente sustentada pela jurisprudência brasileira e pelo próprio Ministério
Público. A recursos de “habeas corpus” solicitado pela defesa, saiu do fórum em
liberdade. Mesmo fragilizada, Maria da Penha continuou a lutar por justiça, e foi nesse
momento em que escreveu o livro Sobrevivi... posso contar (publicado em 1994 e
reeditado em 2010) com o relato de sua história e os andamentos do processo contra
Marco Antônio. Em 4 de maio de 1995, o Tribunal de Alçada decidiu da apelação.
Nessa decisão, aceitou a alegação apresentada extemporaneamente e, baseando-se
no argumento da defesa de que houve vícios na formulação de perguntas aos jurados,
anulou a decisão do Júri. Alegam que paralelamente se desenvolvia outro incidente
judicial pela apelação contra a sentença de pronúncia (primeira decisão judicial pela
qual o Juiz decide que há indícios de autoria que justificam levar o caso ao Júri),
apelação que teria sido também extemporânea e que foi declarada como tal pelo Juiz.
Para o exame dessa decisão, também interposto recurso de apelação perante o
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, que aceitou considerar a apelação e a
rejeitou, confirmando em 3 de abril de 1995 a sentença de pronúncia, uma vez mais
reinstituindo que havia indícios suficientes de autoria. Em 1996, foi submetido a novo
julgamento, em razão da anulação do primeiro, sendo Marco Antônio condenado a 10
anos e 6 meses de prisão. o agressor saiu do tribunal em liberdade, devido a
apelações de sua defesa sob a alegação de irregularidades processuais por parte dos
advogados. O ano de 1998 foi muito importante para o caso, que ganhou uma
dimensão internacional. Maria da Penha, o Centro para a Justiça e o Direito
Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos
Direitos da Mulher (CLADEM) denunciaram o caso para a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). Mesmo
12

diante de um litígio internacional, o qual trazia uma questão grave de violação de


direitos humanos e deveres protegidos por documentos que o próprio Estado assinou.
O Estado brasileiro permaneceu omisso e não se pronunciou em nenhum momento
durante o processo. Somente em 1999 o agressor Marco Antônio Heredia Viveiro
iniciou o cumprimento de sua pena, sendo preso por apenas dois anos em regime
fechado. Em 2001, o Estado brasileiro foi condenado pela Comissão por negligência,
omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres. Foi
recomendada a finalização do processo penal do agressor de Maria da Penha; a
realização de investigações sobre as irregularidades e atrasos no processo; a
reparação simbólica e material à vítima pela falha do Estado em oferecê-la um recurso
adequado; e a adoção de políticas públicas voltadas à prevenção, punição e
erradicação da violência contra a mulher. Foi assim que o governo brasileiro se viu
obrigado a criar um dispositivo legal que trouxesse maior eficácia na prevenção e
punição da violência doméstica no Brasil. Em 2006, o Congresso aprovou por
unanimidade a Lei Maria da Penha.

5. MUDANÇAS PROMOVIDAS PELA LEI Nº 11.340

A criação da Lei Maria da Penha veio como uma maneira de difundir princípios
constitucionais como a igualdade de gêneros e dignidade humana, que apesar de
constitucionais não tinham o alcance ou a utilização precisa sob o enfoque feminino,
sem dúvidas, simbolizou um dos marcos mais importantes para uma das pautas
femininas mais relevantes do nosso país, além de assegurar Direitos e garantias para
a proteção da mulher, em teoria este seria umas das Leis mais benéficas para
resguardar a integridade física, moral e social da mulher frente a violência.
A forma de punir os agressores mudou, além de mudanças na tipificação. A violência
parou de ser vista como mera desavença familiar e ganhou sustentação e relevância,
anteriormente existia um total retrocesso penal sobre o combate à violência contra a
mulher, a impunidade era efetivamente notória, os agressores não sentiam o peso de
suas atitudes e quase sempre respondiam em liberdade.
Mudanças na legislação possibilitaram criação de redes de atendimento às vítimas.
Além disso é possível se aplicar medidas protetivas que afasta o agressor do lar e até
mesmo fica proibido de se aproximar da vítima. O grupo busca frisar que não entrara
13

no mérito das medidas protetivas e sua efetividade, cabendo dizer que está é mais
uma das diversas mudanças influenciadas pela presente Lei.
É importante citar mais uma vez que, a Lei trouxe mudanças legais, mas houve
também impactos culturais, sociais, seja com a implantação de políticas públicas,
serviços especializados, tipificação penal por meio de penas seja de multa, privativas
de liberdade ou restritivas de direitos, todas essas modalidades citadas iremos tratas
abaixo.

5.1. Assistência Especializados de Atendimento à Mulher

A assistência à mulher é algo a se ressaltar, ponderando hoje existem assistências


familiares, tanto para a vítima de violência como de seus dependentes, através de
programas de serviços de proteção e assistência social. Em geral, esse dispositivo
legal influenciou a criação de delegacias, juizados especializados de violência
doméstica e diversos outros programas que iremos tratar adiante, como uma maneira
de resguardar a integridade física e moral da mulher. Sobre essa questão nota-se que
por mais atrasado que fora a criação destes institutos, eles são de suma importância
sem entrar no mérito da sua efetiva qualidade, muitas mulheres necessitam desses
serviços de assistência, além disso, é possível verificar que enquanto a violência
contra o homem muitas vezes se dá em espaços públicos as mulheres são vítimas
em suas próprios casas por seus maridos ou companheiros e muitas das vezes na
presença dos seus filhos, sendo assim é de suma importância a manutenção e criação
de novos serviços especializados na assistência e apoio à violência doméstica contra
a mulher.

5.2. Serviços Especializados

Abaixo buscamos dar ênfase em alguns serviços especializados, lembrando que não
podemos averiguar se estes seriam serviços diretamente ligados a lei maria da penha,
porém é notório que a lei alavancou e influenciou muitos dos presentes, além disso,
por força legal a própria lei cria a possibilidade de se existir alguns destes serviços,
segundo a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), permite a criação dos Juizados com
profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e da saúde.
14

5.3. Centros Especializado de Atendimento à Mulher

Estes centros têm um papel nobre a fim de resgatar a cidadania feminina, através de
atendimentos psicológico e social, com orientação jurídica, trataremos também mais
abaixo sobre a assistência masculina, porém esta seria uma maneira de ajudar a
sanar a reincidência masculina na prática de violência doméstica.

5.4. Casas-Abrigo

As Casas-Abrigo são locais seguros que oferecem moradia protegida e atendimento


integral a mulheres em risco de morte iminente em razão da violência doméstica. É
um serviço de caráter sigiloso e temporário, no qual as usuárias permanecem por um
período determinado, durante o qual deverão reunir condições necessárias para
retomar o curso de suas vidas.

5.5. Casas de Acolhimento Provisório

Esta são abrigos temporários com curta duração, não-sigilosos, para as vítimas
acompanhadas ou não de seus dependentes, além disso a casa de acolhimento busca
prestar assessoria física e mental.

5.6. Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)

Unidades da Polícia Civil especializadas para atender às mulheres em situação de


violência. tendo caráter preventivo e repressivo, com a promulgação da Lei Maria da
Penha, as DEAMs passam a desempenhar novas funções que incluem, por exemplo,
a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no prazo máximo de 48 horas.

5.7. 3Defensorias Públicas e Defensorias da Mulher (Especializadas)

Órgão responsável por dar assistência jurídica, com finalidade gratuita aos cidadãos
sem condições econômicas de ter advogado, além de garantir às mulheres orientação
jurídica especializada.

5.8. Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar contra a


Mulher:

Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher são órgãos da Justiça


Ordinária com competência cível e criminal que poderão ser criados pela União (no
Distrito Federal e nos Territórios) e pelos Estados para o processo, julgamento e a
15

execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra


a mulher.

5.9. Assistência ao Homem

Um fato é sobre a igualdade de gênero através da lei 13.984/20 que alterou o artigo
22(lei maria da penha) visando prestar assistência também ao agressor, não como
uma maneira de afirmar que ele seria uma vítima, deixando de ser sujeito ativo e
passando a ser sujeito passivo da agressão, longe disso, a alteração foi feita de forma
técnica, segundo qual foi constatado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública,
entre os anos de 2019 e 2020, percebeu que houve aumento de participação de
agressores à grupos reflexivos, sendo assim, a título de medida protetiva de urgência,
o comparecimento obrigatório do agressor para atendimento psicossocial e
pedagógico como prática de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a
mulher, algo que permite o homem refletir e se colocar em pé de igualdade com o
gênero feminino, isso porque muitos dos agressores são reincidentes específicos, ou
seja, a aplicação da pena não é suficiente para sanar tais transgressões violentas.

5.10. Figura Típica

Hoje se tem uma figura típica sobre a violência contra a mulher, o bem jurídico
protegido não se limita à integridade corporal e à saúde da pessoa humana, mas
também abrangem, a harmonia, a solidariedade, o respeito, a dignidade, aspectos
esses que fundamentam a célula familiar.

5.11. Mudanças nos procedimentos normativos

Além de novos artigos a Lei Maria da Penha, ganhou reforço de outras normas, uma
das mais importantes é a Lei do feminicídio. De forma sucinta ela mudou o Código
Penal, incluindo como qualificador do crime de homicídio o feminicídio.
Vale lembrar que não basta a vítima ser mulher esta deve se enquadrar nos quesitos
estipulados pela lei, sendo preciso verifica-se se a motivação ou as circunstâncias do
fato se envolvem com violência doméstica, familiar, ou discriminação contra a
condição de ser mulher. Não fica configura feminicídio, se a vítima morre em assalto,
brigas generalizadas entre desconhecidos, ou se é vítima de outra mulher.
Antes da Lei maria da Penha a violência doméstica era punida de forma pejorativa,
como exemplo, a Lei 9.099/95 via muitos crimes domésticos como crimes de menor
potencial ofensivo. em total desacordo com as previsões legais da própria constituição
16

federal quando em seu artigo Art. 226 disponha em seu. § 8º “O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos
para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Aí se faz a pergunta, como
assegurar assistência minimamente efetiva à mulher se o próprio poder jurídico se
omitia e não dava a real importância ao assunto. Com o novo diploma legal a Lei maria
da penha afastou a utilização da Lei 9.099/95 nos casos de violência doméstica em
que a mesma via a violência doméstica como crime de leve potencial ofensivo.
Anteriormente o agressor era “presenteado” com penas pecuniárias, medidas
alternativas, ou seja, bastaria o pagamento de uma simples contia e a covardia poderia
sair “empune”, alguns artigos da Lei maria da penha como já mencionado tiveram que
ser alterados, levando em conta a evolução da sociedade, buscando assim garantir
ainda mais proteção as vítimas um exemplo é a Lei 13.505/17, que promove o
atendimento por policiais e outros especialistas do sexo feminino. Algo ainda mais
importante é o fato que mulheres com deficiência ganharam relevância, sendo assim,
o agressor que agride vítima com deficiência fica passível de aumento da pena.
Outra conquista é o fato que a lei também proíbe a aplicação de penas pecuniárias
aos agressores, ampliando a pena de um para até três anos de prisão, e
descumprimento de medidas protetivas configura crime variando de 3 messes a 2
anos de prisão. Conteúdos pornográficos que dizem respeito ao íntimo e postados
sem autorização também ganharam relevância e são passiveis de punição.

5.12. Mudanças Culturais

Segundo Aparecida Gonçalves consultora em políticas públicas a Lei Maria da Penha


trouxe mudanças de comportamento na sociedade. “Se você pegar as pesquisas
antes e depois da Lei, você vê alterações nessas culturas do ‘meter a colher’, além de
ter trazido visibilidade ao real problema que ela combate. Ela estrutura e tipifica a
violência doméstica e vai além, reestrutura todo o Estado Brasileiro, criando
promotorias, defensorias, juizados e delegacias especializadas para investigar e punir
o crime”, pontua, também por influência desta, hoje não existe mais a Tese da
Legítima defesa da honra, que era muito usada como argumento para tentar justificar
o feminicídio realizados por namorados, companheiros ou maridos, afirmando que
estavam agindo para defender sua honra.
17

5.13. Indenização ao SUS

Hoje existe a possibilidade do agressor ser responsabilizado financeiramente,


mesmo antes do final do processo, além de ter que arcar com as despesas decorrente
da sua conduta frente ao Sistema Único de Saúde, os recursos arrecadados são
destinados a Fundos Municipais ou Estaduais de saúde, porém no presente momento
não existe pena privativa de liberdade em caso de descumprimento de tal
responsabilização.

5.14. ASPECTO NEGATIVO

Entretanto não há em que se falar em igualdade entre os gêneros pois depois de


quinze anos da entrada em vigor da Lei, números nos mostram que nossa sociedade
está longe de melhorar quando o assunto é violência contra a mulher, segundo
pesquisas feitas pelo instituto de pesquisa econômica aplicada “IPEA” entre os anos
de 2006 e 2011 houve pouquíssimas mudanças na taxa de mortalidade entre as
mulheres, que no ano de 2015 este crime passou a ser considerado crime hediondo.
A pesquisa analisou a antecessora da presente Lei, mostrando que anos de 2001
até 2006 a mortalidade era de 5,28% se dividirmos entre os por 100 mil mulheres, já
após a lei entrar em vigor mais precisamente entre 2007 e 2011 houve uma diminuição
de apenas 0,06% sendo este de 5,22 e aumento nos anos seguintes conforme o
gráfico abaixo.
A Lei sem dúvidas foi de grande avanço tanto em aspectos socais e culturais como
na estrutura normativa do País. Porém, vencer a batalha contra a violência doméstica
é uma missão difícil e levará muitos anos para que a sociedade consiga desfrutar de
princípios constitucionais como o da igualdade que hoje é totalmente esquecido.
18

6. CONCLUSÃO

A pesquisa e estudo realizadas no presente trabalho possibilitou o conhecimento a


aprofundamento de uma causa tão necessária de atenção como é o combate,
prevenção e punição dos crimes praticados contra as mulheres. Sabendo que no
Brasil esse tipo de crime ainda é tão comum, realizar um trabalho como este fortalece
o senso de combater qualquer tipo de violência contra a mulher, apenas desta já ser
uma luta de anos ainda se faz necessário que mulheres e homens se unam para punir
agressores.
19

BIBLIOGRAFIA

https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/121937941/violencia-contra-a-mulher-
legislacao-nacional-e-internacional-por-amanda-espindola-barbosa
https://jus.com.br/artigos/80954/lei-n-13-984-20-as-novas-medidas-protetivas-da-lei-
maria-da-
penha#:~:text=Com%20o%20advento%20da%20Lei,e%3B%20b)%20acompanham
ento%20psicossocial%20do
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13984.htm
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/08/06/com-87-casos-sp-fecha-1o-
semestre-de-2020-com-maior-numero-de-feminicidios-desde-criacao-da-lei.ghtml
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atl
as_da_violencia_2019.pdf
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/09/lei-maria-da-penha-nao-reduziu-morte-de-
mulheres-por-violencia-diz-ipea.html
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/09/18/nova-lei-obriga-agressor-
domestico-a-ressarcir-sus-por-atendimento-a-vitimas
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-
especializados-de-atendimento-a-mulher
https://correiodoestado.com.br/cidades/o-que-mudou-com-a-lei-maria-da-penha-nos-
ultimos-14-anos/376429
https://app.uff.br/riuff/bitstream/1/2497/1/MONOGRAFIA%20CECILIA%20BRUNO%2
0FICHA%20FINAL.pdf
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/acoes-contra-violencia/servicos-
especializados-de-atendimento-a-mulher
http://www.cresspr.org.br/site/01-01-1984-brasil-ratifica-convencao-de-eliminacao-
de-discriminacao-contra-a-mulher/
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia03
/
http://www.onumulheres.org.br/planeta5050-2030/csw/
http://qualidadedevida.mma.gov.br/conselho-nacional-dos-direitos-das-mulheres/

Você também pode gostar