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CALLINNE DA SILVA SANTOS

A (IN)EFICÁCIA DA LEI MARIA DA PENHA DIANTE DO


ALTO ÍNDICE DE FEMINCÍDIO NO BRASIL

SANTA INÊS/MA
2022

SANTA INÊS/MA
2022
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CALLINNE DA SILVA SANTOS

A (IN)EFICÁCIA DA LEI MARIA DA PENHA DIANTE DO


ALTO ÍNDICE DE FEMINICÍDIO NO BRASIL

Projeto apresentado ao Curso de Direito da


Instituição Faculdade Pitágoras

Orientador: Tácita Rios

SANTA INÊS/MA
2022
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 4
1.1 O PROBLEMA.................................................................................................................................. 5
2 OBJETIVOS........................................................................................................................................ 6
2.1 OBJETIVO GERAL OU PRIMÁRIO.................................................................................................. 6
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU SECUNDÁRIOS...........................................................................6
3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................................................. 7
4 A LEI Nº 11.340/2006 – LEI MARIA DA PENHA................................................................................8
4.1 A ORIGEM DA LEI...................................................................................................... 10
4.2 OS AVANÇOS E DESAFIOS DA LEI..............................................................................................13
4.3 AS ALTERAÇÕES NA LEI MARIA DA PENHA.................................................................. 14
5. O FEMINICÍDIO NO BRASIL............................................................................................................18
5.1 O QUE É O FEMINICÍDIO?............................................................................................................18
5.2 A LEI MARIA DA PENHA E O ÍNDICE DE FEMINICÍDIO NO BRASIL..........................................19
7 METODOLOGIA................................................................................................................................ 22
8 CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO.....................................................................................23
REFERÊNCIAS.................................................................................................................................... 24
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1 INTRODUÇÃO

É sabido que a violência contra a mulher é tão comum e tão banalizada em


meio a sociedade brasileira, que muitas acabam apresentando dificuldades para se
reconhecer como vítima dessa violência. A tendência das mulheres ainda é suportar
por um longo período dentro de casa, até que consigam pedir ajuda, e essa
realidade não se estende tão somente ao Brasil, é uma realidade mundial.

Entende- se que o rompimento desse silêncio é tardio devido a diversos


fatores, dentre eles está a dificuldade da própria compreensão dela, mulher, como
vítima, o temor de serem compreendidas, às vezes, por parte da própria Justiça, o
temor da incompreensão por parte dos familiares, o medo e/ou a vergonha de expor
a privacidade publicamente, sendo esse último um fator complicador, e por fim o
medo da incompreensão de ser desacreditada.

Foi com base nesse crescimento exacerbado da violência contra mulher,


que o Poder Legislativo criou o Projeto de Lei nº 37/2006, cuja aprovação foi por
unanimidade, tendo sido sancionado formalmente pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto
de 2006, a qual recebeu popularmente o nome de Lei Maria da Penha.

O presente artigo, busca debruçar-se sobre a referida Lei, a fim de


demonstrar sua (in) eficácia diante dos grandes números de feminicídios ocorridos
no Brasil. Sabendo que, a Lei Maria da Penha trouxe em seu bojo formas,
mecanismos, caminhos e instrumentos, sendo estes não só legislativos, mas
instrumentos de políticas públicas, para evitar que a violência venha a ocorrer, por
que o Brasil é o quinto país em que mais se matam mulheres no mundo? Que
fatores impossibilitam a eficácia desse dispositivo no combate a essa violência
contra a mulher?

É nesse diapasão que a presente pesquisa busca contribuir para a


percepção dos dados e números de violência, bem como demonstrar que, embora o

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ordenamento jurídico possua leis que regulamentam, criminalizam essa conduta, os


índices de violência e feminicídio continuam alarmantes.

Portanto, esse estudo tem iniciativa de expor soluções para a violência


contra mulher, construindo uma ponte de equilíbrio entre a análise e as critica das
medidas protetivas propostas pelo Estado, exclusivamente no que toca
aplicabilidade da Lei Maria da Penha diante dos crimes de Feminicídios.

1.1 O PROBLEMA

De que forma a Lei Maria da Penha busca cumprir o seu fim, tendo em vista o
alto índice de feminicídio?
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2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL OU PRIMÁRIO

Demonstrar fatores que dificultam a eficácia da aplicabilidade da Lei Maria da


Penha.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU SECUNDÁRIOS

 Mostrar os impasses que reduzem a efetividade da Lei e a proteção de


mulheres vítimas de violência;

 Proporcionar uma breve reflexão sobre os tipos de violência até a


chegada do feminicídio;

 Fazer um panorama sobre o cenário do crime de feminicídio,


mostrando com dados, a importância da proteção as mulheres;

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3 JUSTIFICATIVA

O tema “A (in) eficácia da lei maria da penha diante do alto índice de


feminicídio no Brasil’ foi escolhido devido a real necessidade de compreender qual o
impacto da Lei Maria da Penha na sociedade, já que a violência aumenta dia a dia, e
que as mulheres parecem ficar cada vez mais acuadas, mais medrosas em estar
denunciando, em estar buscando ajuda para sair dessa situação de violência.

O presente estudo possui grande relevância, uma vez que a violência


doméstica abrange um grande número de pessoas, dentre elas, as mulheres, de
forma silenciosa e dissimulada. Outro ponto importante, é a dificuldades dessas
mulheres se intitularem como vítimas, pois é fato que elas crescem culturalmente
acreditando que são as responsáveis pela manutenção da família, que esse é um
encargo unicamente delas, razão pela qual acredita-se que é árduo o rompimento
para com esse projeto de família unida, de filho próximo de Pai, e principalmente, a
dependência econômica.

Embora no Brasil existem leis que coíbem e previnem a violência contra


mulher, a simples punição não é suficiente para a desconstrução dessa noção
deturpada de masculinidade que muitas vezes, dizem os estudiosos, vem desde a
infância, é um comportamento aprendido. Portanto, este trabalho visa contribuir
tanto em meio acadêmico quanto para a sociedade, esclarecendo o porquê da
permanência desse crime, ainda que esteja amparado por lei.
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4 A LEI Nº 11.340/2006 – LEI MARIA DA PENHA

As leis que protegem as mulheres são uma forma de reconhecer que


historicamente, as mulheres tiveram que lutar por melhores condições de vida e pela
conquista da sua cidadania. Basicamente, quando se fala em direito das mulheres,
refere-se às leis que garantem os seus direitos fundamentais, como direito à vida, à
igualde, à liberdade, e aos direitos civis e políticos .

Após a segunda guerra mundial, a ONU elaborou a declaração universal de


direitos humanos, com o objetivo de proteger a dignidade de todos, sem exceção,
com base no princípio da igualdade. Desse momento em diante, o reconhecimento
das particularidades e necessidades dos grupos vulneráveis historicamente, como
no caso das mulheres, ganha destaque. Assim, na Conferência Mundial sobre a
mulher, organizada pela ONU, em 1975, ficou clara a importância da criação de
instrumentos que garantissem os Direitos das Mulheres em nível internacional.

No ano de 1983, a farmacêutica Maria da Penha Fernandes foi vítima de duas


tentativas de homicídio pelo seu próprio marido. E como resultado, Maria ficou
paraplégica aos 38 anos. Mesmo com as denúncias feitas por ela até 1998, ou seja,
15 anos depois, o caso ainda não possui desfecho.

Nesse mesmo ano de 1998, Maria conseguiu levar o seu caso para a
comissão interamericana de direitos humanos, na qual o Brasil possui compromissos
por ser membro da Organização dos Estados Americanos, a OEA. Assim, em 2001,
com base na Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência
contra mulher, o documento que o Brasil é signatário, a Corte Interamericana de
Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro por negligência e omissão em
relação a violência sofrida por Maria da Penha.

Seguindo as recomendações da corte, a Lei Maria da Penha foi elaborada no


Congresso Nacional, sendo vista como um marco legislação nacional por criar
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medidas mais efetivas no combate a violência baseada no gênero, propondo a


construção de uma política pública que pensa o enfrentamento da violência de forma
multidisciplinar e integral.

Assim, observando ao texto da lei, esta deixa claro que:

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra


a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de
Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. (BRASIL, 2006)

Compreende-se então que, a LMP é a mais importante do país na busca pela


eliminação da discriminação contra mulher, e na sua proteção em casos de
agressão física, sexual, psicológica e moral. Contudo, sabe-se que apesar dos
avanços e conquistas dos direitos das mulheres, a realidade está longe do ideal.
Significa que os fatos de possuir leis, direitos e outros instrumentos jurídicos não são
suficientes para acabar com essa desigualdade.

A implementação desses direitos está muito relacionada a cultura, a


sociedade e ao reconhecimento das mulheres como um grupo diverso em si. Ou
seja, a garantia desses direitos está literalmente ligada com os comportamentos e
estereótipos de gênero construídos por uma sociedade, na qual as mulheres não
tiveram sua voz respeitada. Esses estereótipos se somam a outras formas de
discriminação, em razão da classe, raça, orientação sexual, fazendo com que
algumas mulheres acessem menos direitos que outras.

Portanto, quando a lei menciona a palavra mulher, ela busca fazer a inclusão
de todas, independente de raça, cor e orientação sexual, conforme demonstra seu
art. 2º:

Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,


orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza
dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe

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asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência,


Revista Rumos da Pesquisa em Ciências Empresariais, Ciências do Estado
e Tecnologia Periódico de divulgação de produção científica nas áreas de
Ciências Humanas, Sociais Aplicadas e de Tecnologia Centro Universitário
do Cerrado Patrocínio – UNICERP 82 preservar sua saúde física e mental e
seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. (BRASIL, 2006)

Dessa forma, são necessárias políticas públicas voltadas para a proteção das
mulheres, a partir de sua diversidade e que a sociedade repense suas ações e
comportamentos enquanto indivíduos, assim, um dia poderá ser alcançado a
equidade de gênero.

4.1 A Origem da Lei

A lei é chamada “Maria da Penha” por ser fruto do esforço de Maria da Penha
Maia Fernandes, uma ativista que sofreu violência doméstica, teve duas tentativas
de assassinato e acabou paraplégica. Na década de 70, Maria da Penha casou-se
com o colombiano chamado Marcos Antônio, sendo concebido nesta união o
nascimento de três filhos.

Segundo ela, Marcos Antônio se estabeleceu profissionalmente e


financeiramente, o que o fez se sentir superior à sua esposa. Com o passar do
tempo, Marcos Antônio, apresentou mudanças comportamentais, passando a ser um
companheiro agressivo, cometendo vários tipos de violência contra a sua mulher.

Farta de tantas de agressões, a ativista decidiu realizar a denúncia, contudo,


o Estado brasileiro se manteve relapso quanto a esta. A partir daí, surgiram um
contexto de lutas dos movimentos sociais, mais especificamente de mulheres, em
busca de uma resposta punitiva ao caso de Maria da Penha.

A Lei Maria da Penha, é considerada uma lei revolucionária, não só por ter
mecanismos de combate à violência doméstica, mas também pela sua forma única
de ter sido feita: uma iniciativa da sociedade e do movimento de mulheres. Em 2001,
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o Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos por


omissão no caso da Maria da Penha, que tinha sofrido violência há quase 20 anos.

A respeito da análise do caso, a Comissão Interamericana de Direitos


Humanos se manifestou da seguinte maneira:

A Comissão recomenda ao Estado que proceda a uma investigação


séria, imparcial e exaustiva, para determinar a responsabilidade penal do
autor do delito de tentativa de homicídio em prejuízo da Sra. Fernandes e
para determinar se há outros fatos e ações de agentes estatais que tenham
impedido o processamento rápido e efetivo do responsável; também
recomenda a reparação efetiva e pronta da vítima e a adoção de medidas
no âmbito nacional para eliminar essa tolerância do Estado ante a violência
doméstica contra mulher.

Daí em diante, as Organizações Não Governamentais brasileiras e


estrangeiras iniciaram um pequeno debate a fim de que fosse elabora um projeto de
lei para o ordenamento jurídico incluísse em seu rol políticas públicas de medidas de
proteção para as mulheres vítimas de violência doméstica, sendo, o Brasil orientado
a criar uma lei para lidar sobre o assunto.

Na época, casos de violência doméstica eram julgados nos tribunais de


pequenas causas, o que significava apenas alternativas para o agressor, como o
pagamento de cestas básicas. Então em 2002, organizações que trabalhavam com
direito da mulher tomaram a frente do processo para construir uma lei especifica
sobre violência doméstica.

Foram quase dois anos de trabalho coletivo em que organizações e juristas


de todo o Brasil contribuíram para o projeto. A ideia era fazer uma lei que fosse
educativa, preventiva, de assistência à vítima e reeducação do agressor, sem ser
estritamente punitivista. No fim de 2003, o resultado de todo esse trabalho foi
apresentado ao governo, que abraçou a ideia, e depois de um ano de trabalho do

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Executivo, o PL foi para o Congresso, acontecendo ainda audiências em todo o


Brasil para ouvir sugestões da população sobre a Lei.

Só depois de viajar sobre o país, é que o texto final da lei foi fechado e
aprovado pelo Congresso e pelo presidente, e assim, a lei Maria da Penha entrou
em vigor no dia 7 de agosto de 2006. Há que se falar que esse processo todo não é
comum na criação de leis do Brasil, sendo a Lei Maria da Penha um exemplo de
como a sociedade pode fazer parte da política brasileira para além do voto, portanto,
não é à toa que a referida Lei é considerada pela ONU uma das três melhores leis
sobre o tema no mundo todo.

Um dos méritos da Lei Maria da Penha é a proposta de trabalho articulado


entre as esferas de governo e a sociedade civil, haja vista que a violência contra
mulher não é vista só como um problema de governo, mas sim como um problema
da sociedade. Acredita-se que somente a partir desse trabalho articulado em rede, é
que poderá propiciar não só a assistência adequada para as vítimas, como levar
também a sociedade a refletir qual relação se pretende alcançar entre homens e
mulheres.

É válido ressaltar também que, além do marco da Lei Maria da Penha, há que
se falar na criação da 1ª Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher no Brasil,
implantada na cidade de São Paulo. Logo, ao mesmo tempo que se comemora os
16 anos da LMP, essa tão importante ferramenta de proteção as mulheres, que é a
delegacia, também nasce em agosto, completando então seus 37 anos.

Têm-se conhecimento que denunciar crimes, principalmente contra as


mulheres, é de suma importância, pois o primeiro passo dado pela vítima é o registro
do boletim de ocorrência, dando rompimento ao ciclo de violência.
Consequentemente, a delegacia deve ser um local acolhedor, a fim de que fortaleça
essa mulher, levando-a entender que ao realizar a denúncia, terá todas as
providências necessárias da Polícia Judiciária, bem como o encaminhamento
necessário a rede de apoio.
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Lidar com violência a mulher, é lidar com as dificuldades sob o aspecto da


prova dessa violência, pois não há como exigir nesses crimes de violência contra
mulher um conjunto robusto de provas, como se encontra em outros crimes. Esse
tipo de violência pela sua própria natureza tende a acontecer na clandestinidade,
dentro de casa, longe do olhar de testemunhas, e aí importantíssimo o valor que
deverá ser atribuído a palavra dessas vítimas ao buscar uma delegacia.

Contudo, apesar desses 16 anos de LMP e dos avanços inegáveis que


obtivera nesse quesito, pouco ou quase nada foi avançado na questão da
credibilidade, da valoração da palavra dessas mulheres, pois o que se é visto no dia
a dia é que essas mulheres ainda são sempre desacreditadas, questionadas, vítimas
de oitivas muitas vezes exaustivas, com uma cobrança de coerência excessiva de
detalhes, muita veze, impossíveis de serem fornecidos, como se a palavra das
vitimas não pudessem ser digna de créditos.

4.2 Os avanços e desafios da Lei Maria da Penha

Conforme já mencionado, a Lei Maria da Penha está dentre a terceira melhor


lei do mundo, e todo esse avanço legislativo que se teve nos últimos tempos, como
o crime de stalking, como o crime de violência psicológica e outras modificações,
foram tornando-a melhor ainda, faltando somente a efevetidade, ou seja, cumprir o
que está no próprio texto de Lei.

Quando se refere ao cumprimento, não se direciona somente ao caráter da


Justiça. Daí então surge a dúvida: Qual é essa efetividade? Se trata da efetividade
das políticas públicas de proteção, de prevenção a Mulher. O LMP possui um
dispositivo pouco conhecido, que é o artigo 8º, o qual dispõe que:

“Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e


familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de
ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de
ações não-governamentais, tendo por diretrizes: [...]”

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É através desse artigo que a Lei estabelece medidas de educação, medidas


de conscientização, medidas de capacitação, e são essas políticas de
enfrentamento que vão mudar a consciência, a cultura. Segundo o Ministro do STJ,
Rogerio Schietti Cruz, a Lei Maria da Penha veio representar uma significativa
mudança, não apenas normativa, por ser uma lei que regula o combate a todo tipo
de violência doméstica familiar afetiva, mas como a mudança também de uma
necessária postura por parte de todos os agentes estatais que lidam esse tipo de
situação conflitiva. Foi um marco decisivo e importante devendo ser celebrado cada
vez mais como uma necessária mudança na sociedade brasileira.

Portanto, as conquistas da Lei são inúmeras, pois ela possui um caráter bem
inovador, justamente, por agregar três dimensões, quais sejam: Ter o caráter de
prover a assistência e o acesso a essa mulher em situação de violência, para que
ela consiga acessar os dispositivos e equipamentos do Estado que estão disponíveis
para ajudá-la; por sua vez, a lei também possui um caráter punitivo ao agressor; e o
terceiro ponto são as medidas integradas de prevenção que a lei prevê, visto que
punir o agressor e prestar assistência a vítima não é suficiente para que consiga
fazer uma mudança de mentalidade de valores sociais.

Sendo assim, o que se pretende alcançar com a Lei Maria da Penha não é
somente prestar assistência sem que esse agressor fique impune, mas que sirva de
conscientização para que as pessoas repensem a forma de tratar um ao outro,
atingindo ainda uma mudança efetivamente cultural no que se refere às relações de
gênero. Desse modo, a LMP é de alguma forma conquistas, ao passo que foi dando
direção a igualdade de gênero.

Desta maneira entendeu, Stella Valéria Soares Farias, ao afirmar em sua obra
Violência Doméstica (2007, p.176) que não havia dúvida de que o texto aprovado
constituiu um avanço para a sociedade brasileira, representando um marco
considerável na história da proteção legal conferida às mulheres. Entretanto, ao
longo da história a mulher sempre foi muito diminuída, e por essa razão a sociedade
está se desacostumando a normalizar essa diminuição da mulher.
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4.3 Alterações na Lei nº 11.340/2006

A LMP foi editada em agosto de 2006 e desde então vem sofrendo diversas
alterações. É bem sabido que o direito é dinâmico, se transformando de acordo com
as necessidades e transformações da sociedade, porém a lei maria da penha possui
uma particularidade, pois ela vem sendo alterada conforme vai encontrando
empecilhos para sua aplicabilidade.

As recentes alterações são referentes principalmente a aplicação das


medidas protetivas. A Lei nº 13.827, incluiu o artigo 12-C a Lei Maria da Penha, esse
artigo dá maiores poderes ao judiciário e também à autoridade policial para aplicar
medidas de afastamento imediato do agressor. Consequentemente, esse
afastamento será aplicado quando houver um risco iminente à vida e integridade
física da ofendida.

Essa lei também traz a inclusão do artigo 38 A que determina que o juiz
deverá incluir essas medidas protetivas no banco de dados que será regulamentado
e fiscalizado pelo CNJ, conforme se demonstra abaixo.

Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida


protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019)
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão, após sua
concessão, imediatamente registradas em banco de dados mantido e
regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso
instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de
segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à
efetividade das medidas protetivas. (Redação dada Lei nº 14.310, de 2022)

No entanto, essa nova permissão a autoridade judicial e policial aplicar


imediatamente o afastamento do agressor, pode significar o divisor entre a vida e a
morte das vítimas. Em regra, a autoridade policial tem 48 horas para comunicar o
juiz sobre o pedido das medidas protetivas, e o juiz por sua vez terá mais 48 horas
para impedir essas medidas, porém na prática esse tempo deve ser acrescentado a

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tramitação da medida, as diligências da vara e isso tudo somado a efetiva


comunicação dessas medidas podem demorar semanas ou até mesmo meses.

Destarte, essa autorização imediata de afastamento traz um benefício para as


mulheres em situação de violência, porém ela foi fruto de controvérsias, porquê o
inciso III, do art. 12C dá esse poder também ao policial, na ausência da figura do
delegado. Diante disso, depara-se com uma flexibilização da lei para atuar onde o
Estado não estar atuando.

Destaca-se também, a alteração que atribui poder ao delegado para decretar


uma medida protetiva a vítima, quando as cidades não possuírem as Comarcas
Judiciais, ainda que a delegacia não seja um ambiente tão acolhedor, e até
culpabilizador em relação as mulheres. A intenção com essa alteração é dar mais
celeridade, porém acabando dando mais poder a um delegado que muitas vezes se
recusa a lavrar o boletim de ocorrência da violência doméstica.

Vale ressaltar também a alteração sofrida através da Lei nº 13.836, que


incluiu o inciso IV ao § 1º, do artigo 12:

Art. 12 (...)
IV - Informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com
deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de
deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)

Compreende-se então, que o juiz deverá deixar expresso que a ofendida é


portadora de alguma deficiência, ou também deverá deixar expresso que essa
deficiência pode ter sido decorrida ou tenha sido agravada pela violência sofrida.

Outra alteração significativa foi o declínio aos Juizados de Violência


Doméstica e Familiar contra a Mulher para tratar questões relativas a divórcio,
separação, anulação de casamento ou dissolução de união estável, nas quais as
mulheres vítimas de violência integrem o polo ativo da ação. Assim, o art. 9º, da Lei
nº 11.340/2006, passou a dispor do inciso III, onde prevê que:
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Art. 9º (...)
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica
e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:
(...)
III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso,
inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de
divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável
perante o juízo competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)

Nesse sentido, entende-se que a Lei nº 13.894/19 estabeleceu que, todas as


vítimas de violência tenham acesso as informações necessárias, seja para um
encaminhamento de uma ação de divórcio ou dissolução de união, encaminhando,
se for o caso, a assistência judiciária gratuita, bem como a prioridade nestes
processos. Além disso, o Ministério Público passa a intervir em ações de divórcio ou
dissolução de união estável que tenham violência doméstica.

Foi sancionada também o acréscimo ao dispositivo da Maria da Penha, onde


o porte de arma será cassado de acusados, só que esse dispositivo já existia na Lei,
sendo interessante ver que o governo a utilizou como uma ferramenta midiática.
Portanto, a única alteração sofrida neste ponto, foi imputar ao delegado averiguar se
o acusado tem ou não porte de armas, então na verdade não se teve aqui uma
grande alteração.

Outra mudança, que é vista como bastante perigosa, é o regulamento para


que o agressor tenha que ressarcir o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS,
devido as despesas hospitalares e das despesas com as medidas protetivas das
mulheres. Aqui é visto perigo por poder estimular a revitimização e a regressão
dessa mulher, pensando que a medida protetiva não é 100% eficaz, quando o
agressor ainda é responsabilizado pelo Estado a pagar os custos que ele, Estado,
tem a pagar por conta dessa agressão, assim, poderá ocorrer uma intensa
reincidência dos casos de violência doméstica.

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Então todas essas alterações vieram, principalmente a facilitar e/ou auxiliar a


vida dessas vítimas, embora tenha tantas críticas à lei, não se pode deixar de
lembrar que ela é um recurso muito importante para a proteção das mulheres.

5 O FEMINICÍDIO

Todos os dias muitas mulheres, jovens e meninas sofrem algum tipo de


violência no Brasil. Assédio, exploração sexual, estupros, agressões, perseguições e
assassinatos, por parte dos parceiros ou familiares. É um ato contínuo de violência,
pois a cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas; a cada 11 minutos, uma
mulher é estuprada; e a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil
apenas por ser Mulher.

E essa etapa final da violência contra mulher, infelizmente, se tornou tão


comum no mundo que acabou ganhando uma definição específica. O homicídio
praticado contra as mulheres é chamado de Feminicídio, mas o que exatamente é
Feminicídio?

5.1 O que é o Feminicídio?

A violência contra mulher no mundo é tão antiga quanto a própria história, está
relacionada a uma visão de que a mulher deve ser obediente ao homem, que
segundo a ONU não há alguma região no mundo, nenhum país ou nenhuma cultura
onde esse tipo de violência de gênero não exista.

O crime de feminicídio é definido pelo assassinato de mulheres pela sua


condição de ser mulher e o seu principal contexto, é no contexto da violência
doméstica das relações afetivas conjugais. O assassinato de uma mulher que
aconteça dentro desse cenário, a desqualificação dessas mulheres por uma
expressão de misoginia, ou seja, assassinar pela sua própria presença, por ser
mulher e trazer essa identidade, é também considerado feminicídio.
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O conceito de feminicídio vem de uma abordagem feminista, de uma


criminologia que vem se desenvolvendo a partir da visibilidade aos assassinatos de
mulheres. No Brasil, sobretudo, a qualificadora do crime de feminicídio surgiu com
muita força a partir da Comissão Parlamentar Mista de inquérito que aconteceu no
entre os anos de 2012 e 2013, do Congresso Nacional para apurar os crimes de
violência contra a mulher no país. Então, foi uma recomendação para que o país
qualificasse os assassinatos sistemáticos de mulheres no contexto de violência
afetiva conjugal

Para Rogério Sanches Cunha (2015), a expressão feminicídio não pode ser
confundida com o termo “feminicide”, uma vez que está primeira se refere ao
assassinato de mulheres em razão do gênero feminino. Enquanto o último diz
respeito ao assassinato de mulher sem especificar seus motivos, o que por sua vez
não incidirá a qualificadora.

Percebe-se então que o feminicídio é a culminância de uma situação de


violência que é progressiva, se iniciando com a violência doméstica, violência
psicológica, patrimonial, uma série de ataques a essência dessa mulher. A violência
contra essas mulheres no Brasil de herança colonial, racista, se expressa como um
castigo, pois basta ter uma presença patriarcal dominante no arranjo familiar para
que essa figura possa se colocar como o grande detentor dessa punição que,
supostamente, as mulheres mereceram por descumprir algum código imposto por
eles.
A partir de 2018, o Brasil viu explodir o aumento de feminicídio e com isso
entendeu-se que, por ser um crime pautado em cima de uma condição das mulheres
estarem presentes em meio a sociedade, e talvez por estarem vivenciando um
avanço muito grande de uma ofensiva conservadora de direito. No entanto, isso
acaba despertando aos homens uma visão de ataque a estrutura machista, se
sentindo ao mesmo tempo ameaçados pelas conquistas das mulheres.

5.2 A Lei Maria da Penha e os índices de Feminicídio no Brasil

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Em agosto do ano vigente, comemorou-se os 16 anos da LMP, a qual prevê


coibir a violência contra mulher. Entretanto, as estatísticas mostram que apesar de
muitos avanços, o País continua com índices assustadores de feminicídios. O
estudo mais recente do Fórum de Segurança Pública sobre esse tipo de homicídio
aponta que em 2021, uma mulher era assassinada em média a cada sete horas no
Brasil, só pelo fato de ser mulher.

Urge salientar que, o maior avanço que a Lei nº 11.340/2006 trouxe, é o fato
de que as brigas que eram resolvidas no seio familiar, atualmente é questão de
saúde pública, é questão de policia e por fim, é responsabilidade do Estado. Além
desse benefício, os conflitos e tudo aquilo que orbita em torno das violências
familiares e domésticas, o Estado é obrigado a fornecer serviços bastantes e
suficientes para livrar a mulher do ciclo da violência.

Contudo, em face da proximidade coercitividade que se teve devido a


pandemia, aquelas mulheres que já viviam em uma situação vulnerável, tóxica,
abusiva por seu companheiro, foi ocorrido o fortalecimento dos laços de violência e
essa abusividade. A pandemia sem sobre de dúvidas, aumentou de forma
exponencial a violência contra as mulheres no país.

Segundo a diretora de gênero do Fórum Brasileiro de Mulheres do Mercosul,


Lúcia Bessa, em uma entrevista cedida a TV Senado, afirma que atualmente alguns
estados da federação preocupam, pois lideram um ranking altíssimo de violência e
de feminicídio, e dentre eles está o Estado de Minas Gerais, Pernambuco, Rio de
Janeiro, tendo este último um aumento de 73% por cento de violência contra
mulheres, e de modo particular, o feminicídio. Para ela, são dados alarmantes, são
dados que apontam que alguém está falhando; que o Estado está falhando e a
sociedade também.

O Instituto de Segurança Pública (ISP) também através de pesquisa, na qual


aponta dados do crescimento assustador de feminicídio, onde indicam que nos
22

primeiros cinco meses deste ano foram 128 casos, crescendo em 73% somente no
Estado do Rio de Janeiro.

Diante disso, Scarance (2019, p.25) relata que:

O Brasil conquistou leis proclamadas dentre as melhores do mundo


para a defesa das mulheres, mas ao mesmo tempo permanece recordista
em índices de violência. Apesar dos esforços e da maior conscientização da
sociedade, a violência se mantém estável e crônica. (SCARANCE, 2019,
P.25)

Vale citar, que o Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulgou no mês


atual o balanço extraído da segunda edição da operação Maria da Penha, que visa
combater a violência contra as mulheres. Segundo o Ministério, as prisões por
agressões domésticas e feminicídios chegaram 12.396 em um mês, sendo sido
registrados 72.525 boletins de ocorrência e concedidas, requeridas ou expedidas
41.600 medidas protetivas. ³

O feminicídio é o nível mais alto da violência doméstica, é visto como um


crime de ódio, é o desfecho trágico de um relacionamento abusivo. Mais assustador
que os números que apontam as pesquisas, é saber que o Brasil desde 2013 ocupa
no ranking, o 5º país em que mais se matam mulheres devido ao gênero.

Logo, faz-se necessário compreender que, o meio social que se vive é


concordantemente patriarcal e classista. E dentro de uma sociedade patriarcal,
padrões de comportamentos, pensamentos e formas de agir nessa própria foram
estabelecidos para homens e mulheres. Enquanto a socialização do homem está
completamente relacionada ao poder, a dominação; a socialização da mulher está
relacionada a subvenção, passividade e a tantos outros signos que as colocam
“abaixo” do homem.

Nesse sentindo, é possível percebe-se que um dos maiores fatores que


despertam o excessivo número de feminicídio, é a falta de uma prestação de serviço
público capaz de abranger as grandes áreas atingidas pela desigualdade.

22
23

5 METODOLOGIA

No presente trabalho a metodologia utilizada para desenvolver o tema


abordado, consistirá em pesquisas bibliográficas, pesquisas realizadas nos últimos
anos, publicações acadêmicas e científicas. O caminho metodológico consistirá em
apresentar dados, a fim de demonstrar a verdadeira realidade da violência contra
mulher no país, bem como elencar no intuito de que percebam, que embora o Brasil
tenha leis especificas que amparam esse tipo de violência, o problema persiste.

O estudo beneficiará com o método dedutivo, o qual se mostra mais útil para
indicar as falhas existentes na eficácia da LMP. No que se refere ao vasto universo
de pesquisa, serão utilizadas pesquisas feitas por institutos, entrevistas, noticiário de
jornais, dentre outras.

Assim, por se tratar de um tema visto como um grande problema social,


diversos são os artigos acadêmicos encontrados, dos quais apresentam como
palavra-chave: Lei Maria da Penha, Violência, Ineficácia.
24

6 CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

2022/2 2023/1
ATIVIDADES
AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN

Escolha do tema. Definição do problema


X
de pesquisa

Definição dos objetivos, justificativa. X X

Pesquisa bibliográfica e elaboração da


X X
fundamentação teórica.

Definição da metodologia. X X

Entrega da primeira versão do projeto.


X

Entrega da versão final do projeto. X

Revisão das referências para elaboração


X X X X X
do TCC.

Elaboração da Introdução X X X X X

Revisão e reestruturação da Introdução e


X X X X X
elaboração do Desenvolvimento
Revisão e reestruturação do
X X X X X
Desenvolvimento

Elaboração das considerações finais, X X X X X

Reestruturação e revisão de todo o texto.


X X X X X
Verificação das referências utilizadas.
Elaboração de todos os elementos pré e
X X X X X
pós-textuais.

Entrega do TCC X

Defesa do TCC X

Fonte: Callinne da Silva Santos (2022).

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25

REFERÊNCIAS

BENTES, Vianey. Mais de 12 mil pessoas são presas por violência doméstica e
feminicídio em 1 mês. Brasília, 2022. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/mais-de-12-mil-pessoas-sao-presas-por-
violencia-domestica-e-feminicidio-em-1-mes/. Acesso em: 10.out.2022

BESSA, Lúcia. Índice de feminicídios no Brasil continua alto, aponta Fórum


Brasileiro de Segurança Pública. Brasília, 2022, Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/tv/programas/cidadania-1/2022/09/indice-de-
feminicidios-no-brasil-continua-alto-mesmo-apos-16-anos-dia-lei-maria-da-penha.
Acesso em: 15.out.2022.

BRASIL, Decreto nº 1973/1996. Promulga a Convenção Interamericana para


Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra Mulher, concluída em Belém do Pará,
em 9 de junho de 1994. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/d1973.htm. Acesso em 11.out.
2022

BRASIL, Lei 11340/2006. Lei Maria da Penha. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em
10. out. 2022

CAVALCANTI, Valéria Soares de Farias. Violência Doméstica. Salvador: Ed.


PODIVM.2007

CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Violência Doméstica – Lei


Maria da Penha (Lei 11340/2006) Comentada artigo por artigo. São Paulo: Revista
dos Tribunais.

CRUZ, Rogério Schietti. TV Senado Live debate os avanços de 16 anos da Lei


Maria da Penha. Disponível em https://www12.senado.leg.br/tv/programas/tv-
senado-live/2022/08/tv-senado-live-debate-os-avancos-de-16-anos-da-lei-maria-da-
penha. Acesso em 12. out. 2022

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