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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

THAIS RIBEIRO DO BOMFIM SOUZA

A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NO


COMBATE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA:

Rio de Janeiro
2023

CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA – UNISUAM


CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

THAIS RIBEIRO DO BOMFIM SOUZA

A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NO


COMBATE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA::

Artigo científico apresentado ao Curso de


Bacharelado em Direito do Centro de
Ciências Sociais e Aplicadas do Centro
Universitário Augusto Motta - UNISUAM
como requisito parcial para a aprovação na
disciplina Orientação em Monografia, sob a
orientação do professor. José Matheus
Antunes Ribeiro de Oliveira.
Rio de Janeiro

2023

Thais Ribeiro do Bomfim Souza

A EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NO COMBATE A VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA:

Artigo científico apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito do Centro de


Ciências Sociais e Aplicadas do Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM
como requisito parcial para a aprovação na disciplina Orientação em Monografia,
obtendo pela banca examinadora assim composta:

Prof. _____________________________________
Orientador: JOSÉ MATHEUS ANTUNES RIBEIRO DE OLIVEIRA

Prof. _____________________________________

Prof. _____________________________________
RESUMO
A violência doméstica e familiar contra a mulher é uma questão grave, que vem
tentando ser erradicada através de legislações específicas pela maioria dos países.
O objetivo geral deste artigo é analisar as medidas de proteção às mulheres em 3
diferentes países comparando-as com as medidas de proteção brasileiras e
consequentemente com a Lei Maria da Penha. Sendo a metodologia utilizada de caráter
exploratório através de pesquisas bibliográficas, artigos e dados quantitativos.
Será abordado as diversas formas de violência doméstica, a importância das medidas
cautelares e suas efetivas aplicabilidades para que sejam realmente eficazes, erradicando
a violência contra a mulher no Brasil e também, em todo contexto internacional.

Palavras-chave: violência; mulher; lei Maria da Penha; efetividade; lei 11.340/2006;


medidas de proteção; implementação.

ABSTRACT
Domestic and family violence against women is a serious issue that most countries have
been trying to eradicate through specific legislation.
The general aim of this article is to analyze women’s protection measures in three
different countries, comparing them with Brazilian protection measures and,
consequently, with the Maria da Penha Law. The methodology used is exploratory,
using bibliographical research, articles and quantitative data.
The various forms of domestic violence will be addressed, as well as the importance of
precautionary measures and their effectiveness in eradicating violence against women in
Brazil and internationally.

Keywords: violence; women; Maria da Penha law; effectiveness; law 11.340/2006;


protection measures; implementation.
4

INTRODUÇÃO

A violência doméstica é um problema mundial que atinge milhões de mulheres e


para combater esse crime, muitos países constituíram leis e convenções com o objetivo
de prevenir a violência doméstica e punir os praticantes desta.

A eficácia destas leis varia amplamente entre os países, levantando questões


fundamentais sobre a sua implementação, impacto e proteção das vítimas. Logo,
analisaremos a efetividade da legislação de combate à violência doméstica em
diferentes países e exploraremos a extensão da aplicação da lei, os mecanismos de
proteção das vítimas e os resultados alcançados.

No Brasil, os incidentes de violência doméstica eram julgados conforme a Lei no


9.099/1995, ou seja, como crimes de menor potencial ofensivo, em que nenhuma
medida protetiva era oferecida à vítima, ao passo que nos poucos casos em que o
perpetrador era condenado, sua pena se reduzia ao pagamento de cestas básicas.

A Lei Maria da Penha criada em 2006 no Brasil, foi um marco na legislação


destinada a proteger e combater a violência doméstica contra as mulheres. A lei leva o
nome de Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de violência doméstica que se tornou
um símbolo do combate a essa violência e trouxe consigo a promessa de mudar a
realidade das mulheres no país. Esta lei procura tratar de forma integral o problema da
violência doméstica, e não apenas da imputação de uma maior pena ao agressor.
Oferecendo um conjunto de medidas cautelares para possibilitar a proteção e o
acolhimento emergencial à vítima, isolando-a do agressor, ao mesmo tempo que criou
mecanismos para garantir o apoio social da ofendida. Contudo, a sua eficácia é uma
questão complexa e multifacetada que envolve aspectos jurídicos, culturais, sociais e
institucionais.

No primeiro capítulo iremos abordar as diferentes medidas de proteção na Índia,


na Colômbia e em Portugal, e como as manifestações culturais destes países
influenciam na efetividade das respectivas legislações vigentes. Já no segundo capítulo
irá tratar do surgimento da lei nº 11.340 de 2006, dos tipos de violência doméstica, tais
como: física, psicológica, sexual, moral e patrimonial; das medidas protetivas de
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urgência; das punições aos agressores; das alterações feitas na referida lei, com a
consequente efetividade para a sociedade brasileira.

Este estudo tem como objetivo analisar a efetividade da Lei Maria da Penha não
só como uma questão jurídica, mas também social e humanitária. É um tema complexo
que envolve não apenas a análise de estatísticas e a avaliação de casos jurídicos, mas
também a compreensão da dinâmica de poder, das atitudes culturais e das barreiras que
impactam aqueles que sofrem em silêncio. Neste estudo, buscaremos uma perspectiva
abrangente que considere todos esses aspectos.

A estrutura organizacional deste trabalho permite uma investigação aprofundada


da eficácia da Lei Maria da Penha, explorando os seus fundamentos teóricos e
forneceremos uma visão geral das questões relacionadas com a violência doméstica e a
legislação relevante. Ademais, iremos analisar estatísticas e pesquisas relacionadas à
aplicação da lei. Também discutiremos os desafios e limitações que prejudicam a
eficácia da lei, destacando áreas que impedem melhorias.

Para concluir, apresentaremos recomendações que podem contribuir para


reforçar a proteção das vítimas e aumentar a eficácia da legislação, documentaremos os
avanços alcançados e identificando caminhos a seguir para um Brasil onde a violência
doméstica passe a ter dados quantitativos cada vez mais baixos. Enfrentamos um
desafio complexo, mas só através de uma análise crítica e de um compromisso contínuo
poderemos lutar por uma sociedade mais justa, mais segura e mais igualitária para todos
os seus cidadãos.

1. MEDIDAS DE PROTEÇÃO ÀS MULHERES EM SITUAÇÃO DE


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO CONTEXTO INTERNACIONAL.
1.1 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ÀS MULHERES NA ÍNDIA
No cenário global de combate à violência doméstica, a Índia é um país que
apresenta grandes empecilhos, apesar de ter assinado convenções que garantem a
igualdade de gênero e a proteção da vida das mulheres, como por exemplo: A
convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres
(CEDAW) que foi criada em 1979; A plataforma de Pequim, adotada na quarta
conferência mundial sobre a mulher em 1995; A declaração do milênio das Nações
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Unidas em 2000; E por fim, de maneira mais objetiva a Lei de proteção das mulheres
contra a violência doméstica, criada em 2005.
A partir da criação da lei de proteção das mulheres contra a violência doméstica,
foi oferecida a possibilidade de implementar medidas mais rígidas em relação aos
agressores, que por motivos patriarcais, culturais e religiosos fazem cada vez mais
vítimas na índia.
A referida lei, foi objetiva ao definir violência doméstica como qualquer
ato/conduta que causar abuso físico, verbal, sexual, emocional, econômico ou pôr em
perigo a mulher para atender a qualquer demanda ilegal de qualquer dote ou garantia
valiosa; E foi ampla ao definir como relação doméstica, o convívio entre pessoas em
uma residência compartilhada, não só relacionadas pelo casamento, mas também pela
consanguinidade, adoção ou qualquer outro laço familiar.
Esta legislação obriga o governo indiano a garantir a eficácia da lei, por meio de
uma coordenação eficaz, ampla publicidade, treinamento periódico de funcionários para
abordarem as vítimas corretamente e implementação de protocolo nos tribunais para
prestações de serviços as mulheres.
Nesta perspectiva foram implementadas diversas medidas de proteção, como:
disponibilização de casa-abrigo; recebimento de assistência médica e jurídica gratuitas;
requerimento de tutela para expedir medidas cautelares de aproximação; direito a
permanência no domicílio da família, independentemente de ter título ou benefício
sobre o mesmo; compensação monetária em relação as despesas médicas
extraordinárias, as perdas de rendimentos e aos danos causados; assistência financeira
através do pagamento de alimentos do agressor para a vítima e os filhos, caso os tenha e
seja necessário; E prisão pelo período de até um ano e/ou multa de vinte mil rúpias, caso
o agressor viole as medidas descritas acima, proferidas pelo magistrado.
Mesmo com a elaboração de convenções internacionais e leis específicas para
proteger as mulheres, a índia segue com grande dificuldade para enfrentar a questão de
violência de gênero, visto que a cultura patriarcal indiana limita o papel da mulher
dentro da sociedade, causando a continuidade às violências estruturais que passam de
uma geração para outra.

Nesta mesma ótica de pensamento, segundo dados divulgados pela National


Commission for Women, foram recebidas 30.900 denúncias de vários crimes contra as
mulheres em 2022, sendo mais de 6.900 especificamente de violência doméstica contra
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as mulheres. Em comparação com 2021, houve aumento nas denúncias de estupro,


extorsão por dote e violência doméstica em 2022.

A lei de proibição do dote foi implementada há mais de 60 anos, no entanto, o


costume de pagamento de dote persiste e inclusive vem aumentando, já que a sociedade
indiana considera a mulher um fardo econômico, sendo assim, acreditam que suas
famílias devem compensar o noivo com algo valioso.

Esta prática gera frequentemente disputas por propriedades conjugais, extorsões


feitas pelos noivos em busca de dotes de altos valores, agressões ou assassinato de
mulheres e até suicídio, pois algumas mulheres indianas não suportam a opressão/
violência e acabam retirando suas próprias vidas.

Para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,


Na Índia a violência direta ou as ameaças de violência por parte dos
maridos impedem muita das mulheres de participarem de reuniões
para autoajuda. Nota-se que além de atentados contra o físico da
mulher, a imposição cultural tem servido como meio de atentados à
sua personalidade e dignidade. Esses meios de violência vêm
infligindo às vítimas nas áreas de suas vidas e como consequência é
perceptível um reflexo em seu caráter sistêmico, no qual o relatório
afirma ser “uma forma de violência que não obedece a uma
distribuição aleatória entre a população, mas é dirigida a um grupo
específico em virtude de sua identidade enquanto grupo subordinado”
(PNUD, 2014, p. 75).

A violência de gênero e a misoginia seguem enraizadas através das


manifestações culturais e das tradições indianas. Assim, atos de violência diretos e
indiretos, feitos pela maior parte da sociedade que perpetuam entre gerações, precisam
ser revistos e combatidos para que ocorra de fato mudanças focadas no âmbito
doméstico e que estes atos de violência contra a mulher sejam severamente punidos e
deixem de ser considerados como parte da cultura no país.

1.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ÀS MULHERES EM


PORTUGAL
Na história portuguesa o primeiro marco importante para o enfrentamento da
desigualdade de gênero foi em 1975 com o surgimento da Comissão da Condição
Feminina (CCF), que atualmente vem a ser a Comissão para a Cidadania e Igualdade de
Gênero (CIG), institucionalizada pelo Decreto-Lei nº 485 em 1977. Após esta comissão,
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Portugal criou a Lei da Igualdade de Gênero (Lei n.º 59/2008), que embora não seja
exclusivamente sobre violência doméstica, eliminou a discriminação em razão do sexo,
assumiu o compromisso internacional com a agenda da igualdade e com as políticas de
ação positiva de gênero, promovendo a igualdade entre mulheres e homens.

E enfim, foi criada a Lei de Violência Doméstica (Lei n.º 112/2009), com o
objetivo de estabelecer medidas de proteção as vítimas e punições especificas para os
agressores. Deste modo, logo após a denúncia é gerada uma espécie de protocolo,
composto de medidas de proteção e de direitos que a vítima passa a ter, onde as
autoridades competentes entregam para a vítima documentos contendo a cópia dos autos
e uma cartilha com seus direitos, tais como: o patrocínio psicológico e jurídico a vítima,
não podendo ser limitado por razões financeiras da mesma, seminários e conferencias,
medidas cautelares que garantem a proteção da vítima para que não ocorra a
revitimização, através da teleassistência e estruturas de casas-abrigo, restituição dos
bens que lhe pertencem e indenização de até um salário mínimo concedida pelo governo
de Portugal, após avaliação da Comissão Nacional de Apoio às Vítimas de Crimes
(CNAVC), em casos de grave insuficiência econômica.

Nos últimos anos, houveram alterações feitas pela Lei n.°57/2021, que passou a:
considerar a vítima como pessoa que sofreu atentado a sua integridade psíquica, física,
sexual ou dano material, também sendo incluídas crianças e jovens de até 18 anos que
sofram maus tratos no âmbito doméstico, obrigar o governo a criar um plano nacional
contra a violência doméstica, apoiado pelas áreas de saúde e de trabalho, instituir
proteção policial individualizada para a vítima no âmbito judicial ou fora dele, restringir
o agressor de se aproximar da vítima e de sua família e de frequentar certos lugares,
proibir o agressor a usar ou portar armas e obriga-lo a frequentar programas
psicoeducacionais de prevenção a violência doméstica, com o objetivo de prevenir a
reincidência.

Entretanto, mesmo com vastas medidas cautelares, de acordo com o os


indicadores estatísticos da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Gênero, no 2°
trimestre deste ano de 2023, foram registradas 7.877 ocorrências no âmbito do crime de
violência doméstica e também, foi registrado que de 1450 vítimas que estão nas casas
de acolhimento neste 2° trimestre, 740 são mulheres, 693 são crianças e apenas 17 são
homens.
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Percebe-se que as vítimas de violência conjugal e de homicídio conjugal


continuam, na sua maioria, a serem as mulheres, e os denunciados, os homens. É
evidente que a violência conjugal é também uma forma de violência de gênero.

E apesar do ordenamento jurídico de Portugal ter tido uma evolução


significativa, considerando a violência doméstica como um crime público e de
caráter urgente, para garantir medidas de uteis de proteção a vítima e prevenir a
revitimização, com a implementação dos Plano Nacional Contra a Violência Doméstica
(PNCVD), passando pelas campanhas nacionais de combate à violência doméstica da
Comissão para a Cidadania e Igualdade de Gênero (CIG) os indicadores estatísticos,
evidenciam que todas essas campanhas não tem sido suficientes, visto que o número de
ocorrências no âmbito doméstico permanece em grande quantidade, sendo necessário
que em conjunto exista uma mudança de mentalidade, não só nos membros do sistema
judiciário, como na sociedade em geral, que desconstrua ideais de gênero, de
família e de relacionamento transmitidos por várias gerações e que influenciam o
modo de como tratar a violência doméstica e suas vítimas.

1.3 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ÀS MULHERES NA


COLÔMBIA
A Colômbia já foi classificada como um dos países mais violentos do mundo,
devido a violência provocada pelo conflito armado. Devido a este conflito armado, a
disposição da polícia colombiana era extremamente militarizada e voltada apenas para
estes tipos de crime, logo, determinadas atitudes patriarcais eram vistas como problemas
sem relevância, as quais influenciavam nas providências contra a violência à mulher.

A criminalização da violência doméstica na Colômbia foi promulgada,


primeiramente através de tratados e convenções internacionais, motivado pelo aumento
da violência onde a maioria das vítimas eram as mulheres.
Entre os principais tratados internacionais, encontram-se a Convenção
Interamericana sobre a Concessão dos Direitos Políticos da Mulher
(1948, ratificada pela Colômbia em 1959), a Convenção sobre os
Direitos Políticos da Mulher (1952, ratificada em 1986), a Convenção
para a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a
Mulher (CEDAW, 1980, ratificada em 1982), a Convenção
Interamericana para prevenir, Sancionar e Erradicar a Violência contra
a Mulher (1994, ratificada em 1996) e a Declaração de Beijing (1995).
Ademais, é importante destacar que a Colômbia também aderiu ao
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mandato do Estatuto de Roma, que estabelece o Tribunal Penal


Internacional (1998, ratificado pela Colômbia em 2002). (GIANNINI,
ROSA e DIAZ, 2018, p.16)
Após pressão social, a lei 1.257 de 2008, foi criada para a erradicação da
violência contra a mulher, porém, somente em 2011 foram feitas as primeiras
regulamentações sobre os temas saúde (Decreto 4.796 de 2011), trabalho (Decreto 4.463
de 2011), educação (Decreto 4.798 de 2011) e justiça (decreto 4.799 de 2011). Isto
significa que durante mais de três anos a lei não teve aplicação real devido à falta de
procedimentos e responsabilidades específicas que permitissem a sua eficácia.

As alterações feitas por esses decretos, incluíram o reconhecimento da justiça a


partir de uma análise dos direitos das mulheres, que não se restringe apenas aos
processos judiciais, mas também as medidas que garantam imediatamente o seu direito
à vida e à integridade reconhecendo os riscos de denunciar a violência no contexto das
relações e permitindo as vítimas a enfrentarem os processos de restabelecimento dos
seus direitos com estas medidas de proteção.

A lei 1.257/2008 estabelece que violência doméstica poderá ser qualquer ação
ou omissão que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual, psicológico, econômico
ou patrimonial devido à sua condição de mulher, bem como ameaças de tais atos,
coerção ou privação arbitrária de direitos, podendo consolidar-se nas relações conjugais,
familiares ou laborais.

Também reconhece o direito das vítimas a: receber assistência técnica jurídica


médica, psicológica, psiquiátrica para si e para os seus filhos, a partir do momento em
que o ato de violência for levado ao conhecimento da autoridade, consentir a realização
de exames médicos legais em casos de violência sexual, podendo escolher o sexo do
profissional que vai realizá-los, confidencialidade de identidade e de seus descendentes.

Neste âmbito, como no caso brasileiro, contempla-se uma série de medidas de


proteção, a exemplo do afastamento do agressor, proteção policial da vítima ao retornar
à casa, proibição de que o agressor leve os filhos e/ou filhas do casal, terapia e
tratamento reeducativo ao agressor, proibição do porte de arma ao agressor, proibição
ao agressor de alienar os bens da companheira, a devolução imediata de objetos de uso
pessoal e documentos de identidade, entre outras medidas. Ao mesmo tempo, torna
obrigação do Estado levar a cabo um processo de restabelecimento dos direitos sociais e
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econômicos, como garantir habitação e alimentação à vítima e seus eventuais


dependentes, estruturar atividade laboral ou lúdica, prestar serviço de atenção médica,
psicossocial e psiquiátrica, entre outros.

Mesmo após a criação da lei 1257/2008, ainda restaram algumas deficiências no


sistema penal colombiano no tratamento de alguns crimes relacionados a violência
doméstica, pois não havia prioridade para realização da devida investigação por parte do
Ministério Público, com o objetivo de prevenir a violência no âmbito familiar,
agravando as taxas de violência e motivando a revitimização e o feminicídio.

O instituto igarapé junto a Evidências sobre Violências e Alternativas para


mulheres e meninas (EVA), divulgaram os Dados coletados do órgão de Saúde Pública
de Gênero e Violência Intrafamiliar (INS) que entre os anos de 2012 e 2014, 3.684
mulheres foram assassinadas na Colômbia.

Entre esses dois anos, o caso de duas mulheres tomou grande notoriedade no
país: O primeiro foi de Rosa Elvira Cely, que aos seus 35 anos foi estuprada e
brutalmente assassinada no parque nacional de Bogotá por seu ex colega de turma (que
já havia sido condenado por matar uma mulher e também havia mandado de prisão por
abusar sexualmente de suas enteadas),a vítima chegou a ligar duas vezes para a
emergência, que demorou mais de 2 horas para chegar e localiza-la com sinais de
estrangulamento e com outros ferimentos, Rosa passou 4 dias na Unidade de Terapia
Intensiva e depois veio a falecer.

O segundo caso foi de Natalia Ponce de León, que tinha 34 anos quando teve o
seu rosto e parte do corpo atingidos por ácido sulfúrico que foi jogado por um homem
que possuía obsessão por ela, causando queimaduras de segundo e terceiro graus e a
realização de mais de 15 cirurgias, responsáveis por sua recuperação.

Diante da crueldade desses casos, grupos feministas protestaram e pediram por


leis eficientes que reforçassem as medidas de proteção as vítimas, surgindo a Lei 1761
de 2015, conhecida como Lei Rosa Elvira Cely, que criminalizou o feminicídio e o
caracterizou como crime específico na Colômbia. A partir deste momento, houve a
alteração do artigo 104ª do código penal, logo, quem causar a morte de uma mulher
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devido ao seu gênero, possuirá agravantes de pena e punição com prisão de 20 a 42


anos.

E a Lei 1.773 de 2016 ou Lei Natalia Ponce de León, promoveu a eficácia das
sanções e a tipificação do ato como delito autônomo, aumentando as penas privativas de
liberdade, que podem chegar a 50 anos de prisão para pessoas que agridam a outras com
ácido ou outros agentes químicos e proibindo benefícios judiciais ou administrativos
para os agressores, como a suspensão condicional da execução da pena e prisão
domiciliar.

É evidente que a violência contra a mulher na Colômbia apresenta características


semelhantes ao Brasil, pois há leis e locais nos dois países para defesa e proteção das
vítimas, mas ainda ocorre muita impunidade e falta de ações concretas no cotidiano para
condenação e intimidação dos agressores e redução do número de vítimas pela violência
e pelo feminicídio no país.

2. A (IN)EFETIVIDADE DA LEI MARIA DA PENHA NO BRASIL


No Brasil foi criado internacionalmente como defesa dos direitos da mulher,
expresso no Comitê para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres (CEDAW), a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher, realizada no Pará, em 1994 e também para atender a
promulgação constitucional do Brasil, no art. 226, que assegura assistência á família
criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

O crime de violência doméstica era tratado como crime de menor potencial


ofensivo e enquadrado na Lei n. 9.099/1995.Sendo a violência de gênero banalizada e as
penas geralmente se reduziam ao pagamento de cestas básicas ou trabalhos
comunitários. Logo, não havia dispositivo legal para punir, com mais rigor, o homem
autor de violência contra a mulher.

A mudança na legislação brasileira veio a partir do caso da Maria da Penha Maia


Fernandes. Durante o tempo que permaneceu casada com Heredia Viveiros, conviveu
com seu temperamento agressivo e hostil, entretanto, não se separou do marido temendo
por sua reação. No ano de 1983, Maria da Penha foi vítima de um disparo de arma de
fogo disparado por seu marido na tentativa de assassiná-la. Por sorte a conduta do
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agente não resultou em sua morte, vindo ela, porém, a ficar em estado de paraplegia
irreversível. Após esse evento, o marido ainda a eletrocutou durante um banho.

Tal brutalidade mostrou o que muitas mulheres sofrem em seus domicílios e a


fez lutar por seus direitos, buscando os direitos humanos. Durou cerca de 15 anos o
processo instaurado pelo Ministério Público, em 1984, sem que houvesse qualquer
posição da Justiça Brasileira quanto à condenação do acusado, que se encontrava em
liberdade. Inconformada, a vítima buscou os órgãos internacionais protetores dos
Direitos Humanos, que apresentaram o caso à Organização dos Estados Americanos
(OEA), pela omissão e negligência do Estado Brasileiro que, mesmo após todas as
denúncias ofertadas pela vítima, não havia deliberado, ao longo de tantos anos, medidas
contra o agressor.

Diante disso, criou-se no Brasil um projeto de lei, baseado no artigo 226, §8 da


Constituição Federal de 1988, buscando mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, além dos tratados internacionais ratificados pelo Estado
Brasileiro. Assim, no dia 7 de agosto de 2006, foi sancionada pelo Presidente da
República a Lei n. 11.340/2006, passando a vigorar em 22 de setembro de 2006, como
um marco de grande relevância para as mulheres vítimas de violência, por finalmente
resguardar de forma eficaz sua integridade física, moral, e sua dignidade humana.

Observa-se que a violência é um ato extremamente cruel, que prejudica de


maneira silenciosa e fere a mulher, a violência de gênero, que também ocorre em
qualquer nível social ou econômico, representa um regresso ao desenvolvimento do
país, que deve ser amplamente combatido em nossa sociedade. É de fácil percepção a
verificação de existência de diferentes tipos de violência, cada qual com sua
particularidade, porém, todas são extremamente prejudiciais para a manutenção dos
direitos do cidadão.

A lei Maria da Penha estipulou cinco tipos de violência doméstica. São elas:
Física: entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal.
Suas formas mais comuns são agressões e lesões corporais; Psicológica: entendida
como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que
vise degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões. As formas mais
comuns são ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
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constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e


limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação; Sexual: entendida como qualquer conduta que
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada. Pode se
dar por meio de intimidação, ameaça, coação ou uso da força que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar
qualquer método contraceptivo ou que a force ao casamento, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição por meio de coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou
anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; Patrimonial: entendida como
qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; Moral:
entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injuria. Sua
forma mais comum inclui xingamentos diante dos amigos; acusação de algo que não
fez, falar coisas que não são verdadeiras sobre ela para terceiros.

Nos termos do artigo 22 da Lei nº 11.340/2006 são medidas protetivas que


obrigam o agressor:

a) Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao


órgão competente, nos termos da Lei no 10.826/2003:

A medida protetiva está relacionada à posse e porte regulares da arma de fogo.


Esta medida cautelar é muito importante para a efetividade da proteção da mulher. A
presença de arma de fogo no contexto da violência pode levar a um resultado mais
gravoso, tornando-se prudente evitar que o agressor tenha à sua disposição instrumento
capaz de matar a vítima. Assim, além de determinar a cautela o juiz deverá ordenar a
busca e apreensão da arma nos termos do artigo 240, § 1º, d, do Código de Processo
Penal.

b) Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:

A medida foi introduzida no ordenamento pela Lei nº 10.455/2002, que


modificou o artigo 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95 para possibilitar o
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afastamento do agressor do lar em procedimento criminal investigativo. Deste modo,


evita-se mal maior até a data da audiência.

c) Proibição de aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,


fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor:

A medida de proibição de aproximação da ofendida, familiares e testemunhas


tem grande efetividade na proteção da mulher. Em regra, esta medida evita novos
ataques pois a própria vítima fiscaliza seu cumprimento, noticiando a Delegacia de
Polícia caso o agressor se aproxime. A extensão da medida às testemunhas e aos
familiares é muito importante para a efetividade da medida, pois não raras vezes o
agressor tenta intimidar a vítima por interposta pessoa, mandando recados. Dentre as
pessoas protegidas, além dos familiares, podem ser incluídos amigos e o namorado da
vítima. Uma solução para assegurar o distanciamento é a monitoração eletrônica,
introduzida no Código de Processo Penal (art. 319, IX) pela Lei nº 12.403/2011.

d) Proibição de contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por


qualquer meio de comunicação:

Em conjunto com a medida de proibição de aproximação, a proibição de contato


é uma das mais comuns e eficazes para se proteger a mulher vítima de violência. O
contato diz respeito a qualquer conduta de interação e compreende a comunicação por
palavras, por gesto, escrito ou até mesmo em internet (e-mail, mensagem, redes de
relacionamento).

e) Proibição de frequentação de determinados lugares a fim de preservar a


integridade física e psicológica da ofendida:

A medida cautelar proíbe o acusado de frequentar lugares específicos, em que a


vítima exerce suas atividades. A proibição pode abranger a residência da vítima e seus
parentes, escola, faculdade e local de trabalho. Evita-se, assim, que por meio de
escândalos e novas agressões o agente impeça a vítima de prosseguir com sua vida.

f) Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe


de atendimento multidisciplinar ou serviço similar:
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A restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores tem como


condição um parecer da equipe multidisciplinar ou serviço similar (art. 22, IV c.c. o art.
29 da Lei nº 11.340/2006). Havendo a notícia de crimes mais graves como estupro,
emprego de armas ou instrumentos para a agressão, tortura, ou mesmo quando os filhos
também são vítimas do agressor, pode haver a restrição liminar às visitas, até que se
realize a avaliação pela equipe.

g) Prestação de alimentos provisionais ou provisórios:

A prestação de alimentos tem por finalidade assegurar a subsistência da mulher e


de seus filhos, em razão da necessidade econômica que surgiu ou se agravou com a
prática da violência. É uma medida cautelar, razão pela qual, não se destina a resolver a
questão alimentar dos envolvidos, mas permitir a mantença da vítima e dependentes
durante a persecução penal.

O descumprimento dessas medidas protetivas de urgência é considerado crime, e


pode levar o agressor à prisão, onde a pena prevista para o crime de descumprimento de
medidas protetivas de urgência é de três meses a dois anos de detenção, além de multa
de acordo com o artigo 24-A.

A Lei Maria da Penha contém inúmeros dispositivos de proteção à mulher, a


legislação previu um rol de medidas protetivas destinadas à mulher vítima de violência
nos artigos 23 e 24, como:

a) Encaminhamento da ofendida e seus dependentes a programa oficial ou


comunitário de proteção ou de atendimento (art. 23, I, da Lei nº
11.340/2006)

O encaminhamento a programa oficial ou comunitário demonstra a preocupação


do legislador com a efetividade da lei sob o aspecto social, especialmente para a
proteção da mulher e sua família. Pode consistir em abrigamento ou mesmo inclusão em
programas da rede, com a finalidade de dar suporte psicológico, econômico ou social à
vítima e sua família.
17

b) Recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio,


após afastamento do agressor (art. 23, II, da Lei nº 11.340/2006)

Esta medida protetiva é correlata ao afastamento do agressor do lar, nos termos


do artigo 22, II, da Lei nº 11.340/2006. Pode ser deferida no contexto da mesma decisão
ou após concretizado o afastamento. Para se garantir efetividade à proteção da vítima,
além do afastamento e recondução.

c) Afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens,


guarda dos filhos e alimentos (art. 23, III, da Lei nº 11.340/2006)

A medida protetiva tem por finalidade resguardar os direitos da vítima caso esta
opte por sair do lar. Isto porque, nos termos do artigo 1.573, IV, do Código Civil, a
separação pode ser fundamentada no “abandono voluntário do lar conjugal, durante um
ano contínuo”.

d) Separação de corpos (art. 23, IV, da Lei nº 11.340/2006)

A separação de corpos tem previsão como medida cautelar na Lei Maria da


Penha, mas também está prevista no Código Civil, no artigo 1.562. Trata-se de uma
medida cautelar com finalidade eminentemente civil, que não deveria constar da Lei
Maria da Penha, já que o afastamento do agressor era suficiente para preservar a mulher.

e) Medidas de caráter patrimonial (art. 24 da Lei nº 11.340/2006)

Objetivando a proteção dos bens da mulher vítima de violência, o juiz pode


determinar as medidas protetivas de restituição de bens indevidamente subtraídos pelo
agressor à ofendida.

Com o passar dos anos a lei sofreu alterações, para tornar mais efetiva a proteção
das vítimas e impor penalidades mais severas aos agressores
18

Fonte: Blog gran cursos, 2023

Ademais, até o presente momento de 2023 foram implementadas mais duas leis:

Lei 14.550 Prevê que as medidas protetivas serão concedidas independente da


tipificação penal da violência e de forma imediata aos casos de violência contra a
mulher que lhe cause lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima
de afeto.

Lei 14.674 Alterou o artigo 23 da Lei Maria da Penha, para dispor sobre
auxílio-aluguel a ser concedido pelo juiz em decorrência de situação de vulnerabilidade
social e econômica da ofendida afastada do lar, para protege-la junto com seus
descendentes das agressões ou mesmo para retirá-la do ambiente das agressões, isso
19

porque alguma vítimas não possuem renda própria ou mesmo uma renda que seja
satisfatória para se manterem sozinhas ou com seus dependentes.

Após diversas alterações e inovações apresentadas pela Lei Maria da Penha,


vejamos sua efetiva aplicação:

• Tipifica e define a violência doméstica e familiar contra a mulher.

• Estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como física,


psicológica, sexual, patrimonial e moral.

• Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de sua


orientação sexual.

• Determina que a mulher somente poderá renunciar à denúncia perante o juiz.

• Ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas).

• Retira dos juizados especiais criminais (Lei n. 9.099/95) a competência para


julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher.

• Altera o Código de Processo Penal para possibilitar ao juiz a decretação da


prisão preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica da mulher.

• Altera a lei de execuções penais para permitir ao juiz que determine o


comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.

• Determina a criação de juizados especiais de violência doméstica e familiar


contra a mulher com competência cível e criminal para abranger as questões de família
decorrentes da violência contra a mulher.

• Caso a violência doméstica seja cometida contra mulher com deficiência, a


pena será aumentada em um terço.
20

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça junto com a Base Nacional de


Dados do Poder Judiciário, no ano de 2022 foram concedidas 381.450 decisões de
medidas protetivas nos casos de violência contra a mulher no Brasil e no ano de 2023
até o mês de outubro 305.556 medidas foram concedidas. Nota-se que provavelmente
até o final do ano, a quantidade de medidas de 2023 ultrapassará a quantidade de
medidas protetivas concedidas em 2022.

Verifica-se através do relatório abaixo que o percentual das mulheres que


disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência ou agressão, teve redução de 2019
a 2021, porém vem aumentando de 2021 até a época atual.

A Lei Maria da Penha representa avanços importantes no combate à violência


doméstica contra a mulher. Mas há que reconhecer que a sua eficácia depende também
da compreensão que a sociedade tem do problema. Da mesma forma, a comunicação
social é um dos importantes meios de prevenção enfatizados na lei, que recomenda a
promoção de valores morais e sociais para coibir estereótipos que legitimam ou
agravam a violência doméstica.

Do ponto de vista educacional, o foco está na realização de atividades educativas


para prevenir a violência doméstica contra as mulheres e na divulgação de leis e
instrumentos que protegem os direitos humanos das mulheres.
21

A intenção é que as mulheres possam ter acesso às informações, inclusive sobre


a não interferência de crenças religiosas nas questões que dizem respeito às mulheres
em situação de violência, que elas possam conhecer o ciclo da violência, bem como
entender que o responsável pela violência é quem a perpetra.

Os espaços mais propícios para assegurar as medidas de prevenção da violência


contra a mulher e demais violências de gênero são as escolas e universidades, incluindo
em seus currículos conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de
raça ou etnia e ao fenômeno da violência doméstica e familiar contra a mulher. É na
escola/universidade que ocorre o processo de socialização de crianças, jovens e adultos,
durante a aprendizagem de saberes e de valores éticos e morais. Por esse motivo, os
espaços de formação se constituem como propícios para a abordagem dos processos de
construção da violência, e da socialização de meninos e meninas na produção de
situações de violência doméstica contra mulheres.

Nesse mesmo raciocínio, é pertinente destacar a questão da estrutura cultural


brasileira, por meio da própria história é possível verificar a constante submissão
feminina, o que caracteriza um problema de origem cultural. Não é fácil mudar uma
cultura enraizada, mas com bastante empenho é possível. Nesta vertente seria
interessante a criação de projetos que tenham a finalidade de trabalhar desde cedo com
as crianças essas questões de violência contra a mulher, buscando formar cidadãos com
uma mentalidade diferenciada, voltada para a paz e harmonia.

CONCLUSÃO
Conclui-se que a Lei Maria da Penha teve um impacto significativo no
enfrentamento e no combate à violência contra a mulher no Brasil ao longo de sua
existência. As suas conquistas são notáveis, destacando-se a sensibilização da sociedade
para a questão da violência baseada no género, o fortalecimento da rede de apoio às
vítimas e a imposição de penas mais rigorosas aos agressores.

No que diz respeito ao acesso à justiça, a Lei Maria da Penha distribuiu medidas
protetivas que permitem às vítimas buscar ajuda legal e policial de forma mais eficaz.
Além disso, a criação das Delegacias da Mulher e dos Juizados Especiais de Violência
22

Doméstica e Familiar contra a Mulher proporcionou um ambiente mais adequado para


lidar com casos de violência do gênero, oferecendo atendimento especializado.

A tolerância dos agressores também é um aspecto fundamental da efetividade da


lei. A Lei Maria da Penha passou a ter penas dinâmicas e mais severas para os
agressores e possibilitou a decretação de prisões preventivas em casos de risco iminente
às vítimas.

No entanto, este estudo também destaca que a eficácia da Lei Maria da Penha
não é uniforme em todo o país e enfrenta desafios significativos. Estas incluem a falta
de recursos para a plena implementação, a lentidão do sistema judicial, a necessidade de
melhorar a formação dos profissionais envolvidos e a persistência de uma cultura de
género que perpetua estereótipos e preconceitos.

Nesse sentido, o estudo reforça a importância de se aprofundar na análise da


efetividade da Lei Maria da Penha e de adotar uma abordagem multidisciplinar no
enfrentamento da violência de gênero. Enfatiza ainda a necessidade de continuar a
promover a sensibilização, a educação e o debate público sobre a igualdade de género
como pilares fundamentais na busca de uma sociedade mais justa e segura para todas as
mulheres. Este artigo afirma que a melhoria contínua da lei e da sua implementação é
necessária para garantir uma proteção eficaz às vítimas de violência doméstica, e que
esta é uma responsabilidade coletiva que envolve o governo, a sociedade civil e as
instituições como um todo.
23

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