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ABSTRACT: The aim of this paper is to discuss penal reform focusing on the
mitigation of the fundamental right to the protection of women against violence to the
design view of New Criminal Code (PLS 236) that eliminates / obscures the concept
of violence against women.
INTRODUÇÃO
Ocorre que, em que pese o avanço representado pela Lei Maria da Penha e os passos
largos dados na jurisprudência de nossa Corte Constitucional no sentido de consolidar
a necessidade de compreender-se a violência doméstica contra a mulher como objeto
de especial atenção estatal, encontra-se em tramitação no Senado Federal o PLS
236/2012 (ou Projeto de Reforma do Código Penal - como é conhecido), de cujo texto
a concepção de violência contra a mulher é simplesmente eliminada. Como ver-se-á
logo adiante, se aprovado como está, o Novo Código Penal representará um enorme
retrocesso ao direito à proteção das mulheres.
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proteção dos indivíduos, não somente contra ingerências indevidas de parte dos
poderes públicos, assim como também contra agressões provenientes de particulares.
Essa esfera protetiva toma especial relevo quando se trata de definir o que se deve
exigir do Estado para que proteja a mulher vítima de violência de gênero.
É dever estatal proteger todo/a aquele/a que está sob sua guarda. E tal dever de
proteção também se concretiza com a edição de normas penais e/ou processuais
penais, como se deu com a Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006.
Como ensina Heleieth Saffioti (1995), as mulheres recebem desde o nascimento um
treinamento específico para conviver com a impotência. Ou seja, a mulher aprende a
suportar a violência específica que lhe é dirigida, principalmente no lar. As mulheres
são educadas para ter um papel fundamental na manutenção da vida familiar. Em
suma, como ressalta Glaucia Starling Diniz (2006, p. 238), as mulheres são:
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Fica evidente que o objetivo de tal conduta é a de introduzir o
controle, o medo e, até mesmo, o terror na companheira, caso
ela não siga as regras de conduta e dos mandatos que lhe são
impostos pelo marido/companheiro. Em tais situações o fiel
da balança centra-se nas ameaças constantes para manter o
equilíbrio da situação de controle na conjugalidade. As
consequências são imediatas e visíveis, com sofrimentos
físicos e psíquicos (...)
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Não se garante direitos à família, desconsiderando os direitos das mulheres. A
proteção há de ser ampla, plena, mas também específica em respeito à desigualdade
que ainda impera nas relações entre homens e mulheres.
Uma outra questão é que, em decorrência desta “desorientação político criminal”
sobre o significado da violência contra a mulher, aprovado como está o Projeto de
Reforma do Código Penal, eliminar-se-á também a redação dada pela Lei Maria da
Penha ao parágrafo 9o do art. 129 do atual Código Penal, que trata as lesões corporais
ocorridas no seio das relações domésticas.
Segundo este dispositivo a pena atualmente prevista para o crime de lesões corporais
varia de três meses a três anos de detenção. Entretanto, segundo a proposta mesmo
com a causa de aumento, prevista no art. 129, parágrafo 7 o, II, a pena será inferior ao
que previa a Lei Maria da Penha, chegando a um máximo de 1 ano e 8 meses de pena
privativa de liberdade.
Por fim, note-se que, ainda conforme o projeto de lei, o homicídio cometido em
contexto violência doméstica ou familiar tomará a forma qualificada, com pena de
prisão de 12 a 30 anos. Neste caso, contudo, condicionado à “situação de especial
reprovabilidade ou perversidade do agente”. Uma condicionante que (além de
imprópria, visto que reprovabilidade e/ou perversidade são elementos a serem tratados
na esfera da culpabilidade) poderá provocar no Tribunal do Júri a discussão sobre “o
que é “reprovável” ou “perverso” quando um marido, companheiro, namorado (ou
qualquer um “ex”, inconformado com o término da relação) cometer um feminicídio 3.
Isto é, mais um retrocesso em um país que ainda carrega em sua cultura a ideia de que
o “amor” pode justificar um crime.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O crime de feminicídio não foi incluído no PLS 236 embora, como já registrou a Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher, entre 2000 e 2010, tenha
ocorrido o assassinato de 43,7 mil mulheres no país, 41% delas mortas em suas próprias casas, muitas
por companheiros ou ex-companheiros. O aumento de 2,3 para 4,6 assassinatos por 100 mil mulheres
entre 1980 e 2010 colocou o Brasil na sétima posição mundial de assassinatos de mulheres.
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dentre os quais está o Estado, mas não somente este. Perder direitos é perder poder e,
consequentemente, proteção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS