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1. Introdução
As políticas públicas voltadas ao enfrentamento da problemática sobre violência
doméstica não tem atingido a plenitude do texto legal da Lei Maria da Penha (nº. 11.340/06),
deixando de lado, em especial, o tema violência doméstica contra a mulher no âmbito
patrimonial. Sob essa ótica a crítica que se traz à tona neste trabalho diz respeito ao
desconhecimento ou a ausência da aplicação das medidas de enfrentamento por parte dos
juristas, a qual gera ineficiência ao combate e erradicação da violência desta espécie.
Destaca-se que o presente estudo busca a reflexão inicial, mas não exaustiva sobre a
temática, voltando os olhos dos operadores do direito para a persecução ao pleno
enfrentamento contra a violação dos direitos da mulher no âmbito doméstico e familiar bem
como a promoção de medidas de garantia aos direitos já conquistados.
2. A violência doméstica e familiar contra a mulher
O artigo 5º, caput, da Lei Maria da Penha (Lei nº. 11.340/06) considera como
violência doméstica e familiar contra mulher “qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial”.
A violência doméstica e familiar se caracteriza quando essas ações e omissões são
praticadas no âmbito da unidade doméstica, no âmbito familiar ou em qualquer relação íntima
de afeto. Segundo os incisos I, II e III do artigo 5º, esses ambientes se caracterizam pelo
espaço de convívio permanente, existindo ou não vínculo familiar, pela comunidade formada
por indivíduos que são ou se consideram aparentados, seja por laços naturais ou não e, por
fim, em relações íntimas de afeto, tenha o agressor convivido ou não com a vítima.1
1
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).
2
Segundo Maria Berenice Dias, somente o artigo acima mencionado não é suficiente
para chegar ao conceito adequado de violência doméstica e familiar, é necessário também
conjugá-lo ao artigo 7º da referida legislação. Isto porque, fazendo uma análise do artigo 7º e
seus incisos da Lei Maria da Penha (11.340/06), pode-se constatar que, ao contrário do que
muitos acreditam, a violência doméstica ou familiar contra a mulher não se apresenta apenas
na forma de violência física, mas também envolve a violência psicológica, sexual, moral ou
patrimonial, praticadas contra a mulher em razão do vínculo de natureza familiar ou afetiva.2
Para o desenvolvimento deste trabalho, far-se-á uma análise mais aprofundada da
violência patrimonial contra a mulher no âmbito doméstico ou familiar, prevista no artigo 7º,
inciso IV da Lei Maria da Penha (11.340/06).
3. Violência doméstica patrimonial contra a mulher
Embora o termo violência remeta a tradução popular de emprego de força física, ele
não se resume e tão pouco se limita a esta interpretação, uma vez que o constrangimento
exercido sobre a mulher para obrigá-la a submeter-se à vontade de seu coator atinge outras
esferas seja a moral ou patrimonial merecendo estudo e compreensão para o efetivo combate.
A dor moral já é conhecida na esfera civil abordando um caráter não econômico pois
a vítima é intimamente ofendida e devido as marcas intrínsecas e não visíveis a sociedade
acaba por vezes em não observar como algo grave e desaprovador.
Já a dor patrimonial é a confusão de dores tangíveis e intangíveis que ultrapassam o
âmbito econômico e “implica em perda de direitos, significando tristeza, dor, medo e
angústia”.3
Como comentado anteriormente, o artigo 7º inciso IV, da Lei Maria da Penha
(11.340/2006), vai além da definição consuetudinária da violência, definindo também a
violência patrimonial, como “qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valorese
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades”.4
Assim, podemos constatar que algumas condutas do agressor contra o conjunto dos bens,
direitos e obrigações da vítima mulher são tipificadas em diversos artigos previstos no Código
Penal.
2
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. A efetividade da Lei nº 11340/2006 de combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
3
PEREIRA, Rita de Cássia Bhering Ramos et al. O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA PATRIMONIAL CONTRA
A MULHER: PERCEPÇÕES DAS VÍTIMAS. Oikos: Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 24,
n.1, p.207-236, 2013.
4
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).
3
5
Brasil, DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.Vide Lei nº 13.964, de 2019.
6
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. A efetividade da Lei nº 11340/2006 de combate à
violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
7
RÉGIS, Mario Luiz Delgado. Violência patrimonial contra a mulher nos litígios de família. Disponível em:
https://www.lex.com.br/doutrina_27138477_A_VIOLENCIA_PATRIMONIAL_CONTRA_A_MULHER_NOS
_LITIGIOS_DE_FAMILIA.aspx
4
Muito embora a Lei Maria da Penha esteja completando 14 anos no mês de agosto de
2020, a violência patrimonial ainda passa despercebida, muitas vezes pelos próprios membros
da justiça. Verifica-se esta inobservância nos inúmeros casos que tramitam nas varas de
família do nosso país, onde nos próprios autos dos processos advêm relatos de caracterização
clara e concisa deste tipo de violência, como por exemplo, quando o cônjuge ou companheiro,
para não partilhar o patrimônio com a mulher, acaba por omiti-lo.8
Por outro lado, a Lei Maria da Penha, em sua sessão III, dispõe sobre as medidas
protetivas de urgência, e separa em seus incisos do artigo 24, as medidas especificas para
tutelar a proteção patrimonial da mulher9:
Embora sejam pouco utilizadas, de maneira a trazer mais efetividade à Lei Maria da
Penha quanto à proteção patrimonial da vítima, estas medidas podem ser concedidas pelo
juízo em caráter liminar inaudita altera pars, desde que preencha os requisitos usuais de
perigo de dano e probabilidade do direito10.
As medidas são independentes da ação penal, e além da possibilidade de
requerimento no juízo cível, segundo o artigo 27 da Lei Maria da Penha, podem ser requeridas
pela própria vítima diretamente à autoridade policial, que deverá remeter expediente em
apartado ao juiz, no prazo de quarenta e oito horas, para a concessão das medidas, na forma
do artigo 12, do mesmo diploma legal.11
8
MOURA, Lenise Marinho Mendes et al., A violência patrimonial no âmbito da lei Maria da Penha. Em:
DUARTE JÚNIOR, Alonso Pereira ; LIMA, Alexandre Augusto Batista de; MACHADO, Joana de Moraes
Souza (Org.) Diálogos interdisciplinares no direito: volume 2 [recurso eletrônico] / Alonso Pereira Duarte
Júnior; Alexandre Augusto Batista de Lima; Joana de Moraes Souza Machado (Org.) -- Porto Alegre, RS:
Editora Fi, 2018.pag 17
9
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).
10
MOURA, Lenise Marinho Mendes et al., A violência patrimonial no âmbito da lei Maria da Penha. Em:
DUARTE JÚNIOR, Alonso Pereira ; LIMA, Alexandre Augusto Batista de; MACHADO, Joana de Moraes Souza
(Org.) Diálogos interdisciplinares no direito: volume 2 [recurso eletrônico] / Alonso Pereira Duarte Júnior;
Alexandre Augusto Batista de Lima; Joana de Moraes Souza Machado (Org.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi,
2018.pag 172.
11
BRASIL, Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006, (Lei Maria da Penha).
5
REFERENCIAS
BRASIL,LEI MARIA DA PENHA, LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
disponível em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm>
12
RÉGIS, Mario Luiz Delgado. Violência patrimonial contra a mulher nos litígios de família. Disponível em:
https://www.lex.com.br/doutrina_27138477_A_VIOLENCIA_PATRIMONIAL_CONTRA_A_MULHER_NOS
_LITIGIOS_DE_FAMILIA.aspx
6
DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. A efetividade da Lei nº 11340/2006
de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2007.
MOURA, Lenise Marinho Mendes et al., A violência patrimonial no âmbito da lei Maria da
Penha. Em: DUARTE JÚNIOR, Alonso Pereira ; LIMA, Alexandre Augusto Batista de;
MACHADO, Joana de Moraes Souza (Org.) Diálogos interdisciplinares no direito: volume 2
[recurso eletrônico] / Alonso Pereira Duarte Júnior; Alexandre Augusto Batista de Lima;
Joana de Moraes Souza Machado (Org.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018. pag 172.
RÉGIS, Mario Luiz Delgado. Violência patrimonial contra a mulher nos litígios de família.
Disponível
em:<https://www.lex.com.br/doutrina_27138477_A_VIOLENCIA_PATRIMONIAL_CONT
RA_A_MULHER_NOS_LITIGIOS_DE_FAMILIA.aspx>