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Identificando o crime enquadrado na Lei Maria da

Penha
Precipuamente, os artigos 5 º, 6º e 7º da lei, são os que demonstram algumas formas
de violência contra mulher, ambos devem ser interpretados paralelamente.

A definição da violência doméstica contra a mulher é tratada no art. 5º, da seguinte


forma:

Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (…)

Assim também, no mesmo artigo, estabelece os ambientes e em que casos ocorrer:

– no âmbito da unidade doméstica (inciso I)

– no âmbito da família (inciso II)

– em decorrência de uma relação íntima de afeto (inciso III)

Isto posto, no âmbito da unidade doméstica, abrange o espaço de convívio


permanente de pessoas, o que inclui também a convivência com pessoas com as quais
a mulher não tem vínculo familiar e as esporadicamente agregadas ao seio da família.
Assim também, na esfera familiar, inclui os indivíduos com ou sem laços naturais,
podendo ser parentes por afinidade.

Tratando da relação íntima de afeto, pode ser qualquer sinal de troca de intimidade,
não precisando haver coabitação.

Ressalta-se que as expressões violência doméstica, intrafamiliar, contra a mulher e


violência de gênero são termos que podem ser referidos a perspectivas de análise
diferentes.

À vista disso, é necessário averiguar o predicado que a acompanha.

Salienta-se o modo como alguns autores exemplificam a expressão violência


doméstica:

Violência doméstica é a que ocorre dentro de casa, nas relações entre as pessoas da
família, entre homens e mulheres, pais/mães e filhos, entre jovens e pessoas idosas.
Podemos afirmar que, independentemente da faixa etária das pessoas que sofrem
espancamentos, humilhações e ofensas nas relações descritas, as mulheres são o alvo
principal. (Telles e Melo, 2003, p. 19).

As formas de violência tipificadas na Lei


A princípio, essa legislação específica define as formas de violência praticadas contra as
mulheres, sendo elas: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

O artigo 7º da Lei, assim determina:

Violência

• Física – entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou a


saúde corporal da mulher.

As infrações penais que configuram essa forma de violência são a lesão corporal e as
vias de fato. A ação penal é pública incondicionada.

• Psicológica – entendida como qualquer conduta que lhe cause dano


emocional e diminuição da autoestima.

A violência psicológica pode ser qualquer forma de controle de ações, crenças,


constrangimento, humilhação e etc.

• Sexual – é qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a


participar de relação sexual não desejada.
• Patrimonial – entendida como qualquer conduta que configure retenção,
subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens e etc.
• Moral – entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação
ou injúria.

A violência doméstica e familiar é um fenômeno extremamente complexo, enraizado


na desigualdade entre os sexos que acompanha a sociedade desde a sua origem.

Por esse motivo, o que traz expresso na Lei é apenas um parâmetro de exemplos para
identificar as agressões, podendo ocorrer de diversas formas, visto que, o conceito de
violência passa por diversas mutações, a depender do momento atual em que vive a
sociedade.

A propósito, assinala-se que o sujeito ativo da violência doméstica e familiar não


necessariamente é homem, podendo ser qualquer pessoa agregada a uma mulher por
vínculo afetivo, familiar ou doméstico.

Desta forma, mulher que agride outra mulher com quem tenha relação íntima,
também pode ser enquadrada na Lei Maria da Penha.

Sobre as medidas protetivas da Lei Maria da


Penha e suas inovações Legislativas
As medidas protetivas nada mais são que uma determinação do juiz para que a
mulher em situação de violência doméstica, familiar ou na relação de afeto, sinta-se
protegida.
Tais medidas são estabelecidas conforme a necessidade da solicitante.

A recente Lei nº 13.827/2019, foi designada para os casos em que a mulher corre risco
de morte, e a medida deve ser emitida com urgência.

Com isso, possibilitou a concessão de medida protetiva de urgência desde já pelo


Delegado de Polícia, quando o Município não for sede de comarca.

No caso de não haver Delegado de Polícia, e o Município não for sede de comarca, o
policial está autorizado a concessão de medidas.

Nessas duas situações, deverá ser comunicado ao juiz em até 24h, que decidirá em
igual prazo, da manutenção ou revogação da medida aplicada.

Todavia, as medidas que a autoridade policial pode conceder são: o afastamento do


agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida.

As outras diversas protetivas, ainda continuam sendo exclusivas do juiz, nesses casos a
autoridade policial remete ao juiz em até 48 horas, o pedido da vítima para concessão
da medida protetiva.

Conforme o art. 22 da Lei Maria da Penha, o juiz(a) poderá definir:


• A proibição ou restrição do uso de arma por parte do agressor.
• O afastamento do agressor da casa.
• A proibição do agressor de se aproximar da mulher agredida.
• A restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores.
• A obrigatoriedade da prestação de alimentos provisórios.
• A restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor.
• A proibição de venda ou aluguel de imóvel da família sem autorização judicial.
• O depósito de valores correspondentes aos danos causados pelo agressor etc.
• Proibição de condutas como: frequentação de determinados lugares, visita de
familiares da vítima.

O que mudou nas medidas protetivas após a Lei 13.984


de 2020
A mais nova Lei trouxe significativas mudanças relativamente as medidas protetivas
urgentes, na Lei Maria da Penha.

Como resultado, acrescentou dois incisos no art. 22 da Lei Maria da Penha,


estabelecendo o seguinte:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e

VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento


individual e/ou em grupo de apoio.

Desta maneira, o acréscimo possibilitou certa segurança jurídica, contudo, a nova lei
deixa claro que a reeducação não livrará o cumprimento eventual da pena ao final do
processo.

Ademais, é imprescindível destacar que a Lei n. 13.641/2018, anterior a Lei


13.984/2020, alterou dispositivos da Lei n. 11.340/2006 , acrescendo o art.24-A:

Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas


nesta
Lei:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos

Em consequência disso, tornou crime o descumprimento de medidas protetivas de


urgência expedidas em razão de violência doméstica.
Além de responder pelo crime do art. 24-A da Lei 11.340/2006, caso o agressor
descumpra a decisão judicial, é possível:

– a execução da multa imposta;

– a decretação de sua prisão preventiva (art. 313, III, do CPP).

Direitos garantidos pela Lei Maria da Penha


No Título III da Lei, consta os direitos garantidos à mulher, com destaque para as
medidas integradas de prevenção, assistência e atendimento pela autoridade policial.

Resumidamente, as principais garantias às vítimas de violência doméstica são:

– uma vez acolhida, é ouvida pelos profissionais da rede de atendimento às


mulheres em situação de violência doméstica e familiar;

– sem pré-julgamentos, respeita-se o tempo de decisão sobre qual medida


deseja ser aplicada, sem culpabilização;

– medida protetiva de urgência que consiste na proibição de aproximação do


agressor;

– prioridade de acesso a programas habitacionais, sociais de emprego, e renda;

– manutenção do vínculo empregatício por até seis meses de afastamento do


trabalho;

– escolta policial para retirar bens da residência, quando necessário;


– atendimento de saúde e psicossocial especializado e continuado, quando
necessário;

– registro do boletim de ocorrência;

– registro detalhado do relato que fizer em qualquer órgão público (no intuito
de evitar a revitimização e a necessidade de contar a história repetidas vezes);

– atendimento na comarca de seu domicílio ou residência, no lugar onde


ocorreu a agressão (se este for diferente) ou no domicílio do agressor;

– independentemente de seu nível de renda, poderá ser assistida pela


Defensoria Pública,;

– acesso a casa abrigo e outros serviços de acolhimento especializado;

– notificação formal da violência sofrida ao Ministério da Saúde, para fins de


produção de dados estatísticos e políticas públicas;
– informações sobre direitos e todos os serviços disponíveis.

Tipos de ação dos crimes na Lei Maria da Penha


Um dos pontos que causam muitas dúvidas nos concurseiros, é sobre a natureza da
ação nos crimes que envolvem violência doméstica contra a mulher.

Convém esclarecer que, a Lei 9.099/1995, dos Juizados Especiais, atribuía a todos os
crimes de lesões corporais, independente do sexo da vítima, a necessidade de
manifestação de vontade para a propositura da ação penal.

Contudo, a Lei veio afastar essa delimitação, e nesse resumo da Lei Maria da Penha
elucidaremos a controvérsia.

Logo quando do surgimento da Lei, o entendimento majoritário era de que, nas lesões
corporais a ação penal seria de natureza condicionada a representação.

Desse modo, poder-se-ia depreender que se mantinha o disposto na lei dos juizados
especiais.

Consoante a isso, o STF, no julgamento da ADI nº 4424, modificou o entendimento


majoritário, assentando a natureza incondicionada da ação penal.

Sendo assim, quando o delito for de lesão corporal praticada contra a mulher no
âmbito doméstico e familiar, a ação penal será sempre PÚBLICA INCONDICIONADA.

Portanto, não importa a extensão da lesão, seja ela leve, grave ou gravíssima, dolosa
ou culposa.

Nessa sequência, trata a Súmula nº 542 do STJ:

“A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica


contra a mulher é pública incondicionada.”

Em todos os crimes da Lei Maria da Penha a natureza da ação será pública e


incondicionada?

A resposta é NÃO!

Uma vez que a necessidade de representação foi afastada apenas nos casos de lesão
corporal.

Não obstante, nos outros crimes permaneceu a condição de procedibilidade de ação


penal pública condicionada à representação, como é o caso dos crimes de ameaça, etc.

A despeito, tem-se o art. 16 da Lei 11.340/2006 que trata sobre a renúncia à


representação nas ações que permanecerão sendo de ação pública condicionada.
Consequentemente, nos casos em que dependerão da vontade da mulher, a renúncia
deverá ser realizada perante a presença do juiz e ouvido o Ministério Público.

A abordagem da Lei Maria da Penha nas provas


de concursos
A saber, existem alguns pontos que são necessários destacar, pois recorrentemente
têm sido cobrados em provas de concursos públicos.

No tocante a aplicabilidade da Lei 9.099/95 e seus institutos despenalizadores, estes


não incidem nos crimes contidos na Lei Maria da Penha.

Para isso, temos a Súmula nº 536 do STJ:

“a suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese


de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”.

O tema acima já foi cobrado em prova discursiva para cargo de Promotor de Justiça
Substituto, aplicada pela Cespe.

No mesmo sentido, prevê o art. 41, da Lei Maria da Penha:

Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,


independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995.

Outro ponto a destacar, neste resumo da Lei Maria da Penha, é em relação ao art. 20,
que tem a seguinte redação:

Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão


preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
Público ou mediante representação da autoridade policial.

Com o advento do Pacote Anticrime, o qual alterou o art. 311 do CPP, passou a vedar
a decretação da prisão preventiva de ofício na fase pré-processual.

Em virtude disso, podemos dizer que o art. 20 da Lei Maria da Penha é uma exceção
expressa ao art. 311 do CPP.

Isso se dá em razão do princípio da especialidade, e também por não haver um


posicionamento jurisprudencial e doutrinário em sentido contrário.

Como complemento, é indispensável mencionar um recente entendimento do STJ:

“Em caso de ameaça por redes sociais ou pelo Whatsapp, o juízo competente para
deferir as medidas protetivas é aquele no qual a mulher tomou conhecimento das
intimidações”
Conclusão – Resumo Lei Maria da Penha
Sem dúvida, desde o seu surgimento, a Lei Maria da Penha tem cumprido seu papel,
apesar de ser necessário ações mais positivas pelos órgãos públicos.

Assim sendo, a Lei 11.340/2006, também abriu caminho para que fosse criada a Lei do
Feminicídio (Lei 13.104/15), e vem gradativamente sofrendo alterações.

Com o presente estudo, sabemos que a Lei veio para combater esse tipo de violência
contra a mulher, tendo como base a história de Maria da Penha Maia Fernandes.

Maria da Penha, juntamente com movimentos feministas e Convenções Internacionais,


ensejaram a iniciativa da criação de uma lei especifica que regulasse e punisse os
agressores.

A Lei Maria da Penha foi tão bem recebida que é considerada uma das melhores
legislações protetivas do mundo.

Porém, isso gera uma falsa sensação de dever cumprido pelo Estado.

Por fim, a verdade é que os altos índices de violência contra a mulher ainda resistem
até hoje.

Atualmente, a Lei Maria da Penha é ainda o melhor recurso de proteção à mulher


vítima de violência doméstica e familiar.

Como fica a guarda compartilhada com medida protetiva?


A guarda compartilhada é a regra, porém nem sempre ela é viável de ser aplicada. Nos
casos em que há medida protetiva deferida em favor da mãe em razão de violência
doméstica (agressão física, verbal, psicológica, moral ou sexual) praticada pelo pai dos
seus filhos a guarda compartilhada fica inviabilizada. Sendo possível nesses casos
solicitar a guarda unilatreal.

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