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DIREITO
TEMAS CRIMINAIS ENVOLVENDO VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONSOANTE A
JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA
Método: dedutivo
1. Introdução
5. Conclusão
LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº
11.340/2006
Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência Contra a Mulher
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher, também nominada de Convenção de Belém do Pará, foi adotada pela
Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos em 06 de junho de
1994, e ratificada pelo Estado brasileiro em 27 de novembro de 1995, pela qual este
se obrigou a incluir normas específicas para combater a violência doméstica no país.
Representou um grande avanço a fim de compreender e visualizar a questão de
violência, e, inclusive, ao ampliar a definição de violência contra a mulher.
LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº
11.340/2006
Definição de violência doméstica e
familiar
A própria Lei Maria da Penha conceitua a violência
doméstica e familiar como “qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial”, que ocorra no âmbito da unidade
doméstica, no âmbito da família, ou, ainda, em qualquer
relação íntima de afeto em que o agressor tenha
convivido com a ofendida (BRASIL, 2006).
LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº
11.340/2006
Formas de violência doméstica
Violência física;
Violência psicológica;
Violência sexual;
Violência patrimonial;
Violência moral;
LEI MARIA DA PENHA – LEI Nº
11.340/2006
Medidas protetivas de urgência
Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
Proibição de determinadas condutas, entre as quais: aproximação da ofendida, de seus
familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o
agressor; contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação; frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade
física e psicológica da ofendida;
Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe
atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
Prestação de alimentos provisionais ou provisórios;
Comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e
acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em
grupo de apoio.
CRIMES ENVOLVENDO VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER
Crime de descumprimento de medida protetiva
de urgência
Com a finalidade de assegurar uma maior efetividade às medidas protetivas
concedidas, a Lei nº 13.641/2018 incluiu na Lei nº 11.340/2006 o artigo 24-A,
tipificando e tornando delito penal o descumprimento das medidas protetivas de
urgência. Trata-se, portanto, do único crime expressamente previsto na
legislação
Ainda que seja um crime de menor potencial ofensivo, que prevê pena máxima
de 2 anos, o artigo 41 da Lei Maria da Penha veda que seja aplicado qualquer
benefício pertinente à Lei 9.099/95. Além disso, conforme o §2º do artigo 24-A,
é vedada a concessão de fiança perante a autoridade policial no caso de prisão
em flagrante, sendo, portanto, uma exceção ao artigo 322 do Código de
Processo Penal, que dispõe sobre a possibilidade de arbitramento de fiança
nos casos de crime com pena menor de 4 anos.
CRIMES ENVOLVENDO VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER
Crime de feminicídio
A Lei nº 13.104/2015, nomeada de Lei do Feminicídio foi criada com a
finalidade de asseverar a punição dos autores dos homicídios cuja sua
motivação seria o fato de a vítima ser mulher. Neste sentido, a legislação
alterou a redação do artigo 121, §2º do Código Penal, incluindo a qualificadora
do feminicídio no inciso VI: “Art. 121. Matar alguém: [...] § 2° Se o homicídio é
cometido: [...] VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;
A incidência da qualificadora ocorrerá quando restar caracterizada a relação de
poder e submissão, praticada pelo homem, em detrimento da mulher que se
encontra em situação vulnerável;
Ainda, com a Lei do Feminicídio foi incluído, no artigo 121 do Código Penal, o
§2º-A, com a finalidade de esclarecer que a qualificadora incidirá quando o
crime envolver violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à
condição de mulher;
OS PRINCIPAIS TEMAS CRIMINAIS ENVOLVENDO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER CONSOANTE A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – LEADING CASES
Inaplicabilidade da suspensão condicional do processo e transação
penal
Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.795.888/DF, de 2019
DIREITO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
CONTRAVENÇÃO PENAL EM AMBIENTE DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PLEITO DE
CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA TRANSAÇÃO PENAL E DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. NÃO CABIMENTO. SÚMULA N. 536/STJ. 1. A
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido da inaplicabilidade
da Lei n. 9.099/1995 às condutas delituosas praticadas em âmbito doméstico ou familiar,
inclusive as contravenções, em obediência ao disposto no art. 41 da Lei n. 11.340/2006,
que dita: "Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro
de 1995." 2. Agravo regimental desprovido. (BRASIL, 2019g).
Súmula nº 536 do STJ - “A suspensão condicional do processo e a transação penal
não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”
OS PRINCIPAIS TEMAS CRIMINAIS ENVOLVENDO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER CONSOANTE A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – LEADING CASES
Desnecessidade de coabitação
Habeas Corpus nº 477.723/SP, de 2019
HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. LEI MARIA DA PENHA. MEDIDAS PROTETIVAS. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. LEI MARIA DA PENHA APLICÁVEL AO CASO. EX-CONSORTES. DESNECESSIDADE DE COABITAÇÃO. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA N.º 600/STJ. ALEGAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO E DE RISCO PARA A OFENDIDA.
EXAME FÁTICO PROBATÓRIO, INCABÍVEL EM HABEAS CORPUS. ORDEM DENEGADA. 1. Espécie em que o Juízo de
primeiro grau deferiu em desfavor do Paciente medidas protetivas de urgência consistentes na proibição de se aproximar das
vítimas, de seus familiares e testemunhas, devendo obedecer ao limite mínimo de 200m (duzentos metros) e de proibição de
contato com as ofendidas, seus familiares e testemunhas, por qualquer meio de comunicação. 2. Demonstrado pelas instâncias
ordinárias, com expressa menção à situação concreta – violência doméstica e familiar, nas espécies físicas e psicológicas (vias de
fato e ameaça) –, que a segurança da vítima está ameaçada, verifica-se idônea a fundamentação para imposição das medidas
protetivas dispostas no art. 22 da Lei n.º 11.343/2006, o que afasta o alegado constrangimento ilegal. 3. A Lei n.º 11.340/2006
aplica-se ao caso em questão, pois, conforme dispõe o inciso III do art. 5.º do referido Diploma Legal, configura violência
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Incidência da Súmula n.º 600/STJ. 4. Sendo o Paciente e a vítima
ex-consortes, pode-se concluir, em tese, que há entre eles relação íntima de afeto para fins de aplicação das normas contidas na
Lei Maria da Penha, não havendo necessidade de coabitação entre as partes. 5. A apreciação das alegações de que o delito
supostamente praticado pelo Paciente não foi perpetrado em contexto de relação íntima de afeto e de que em nenhum momento
houve indícios de que a integridade da vítima estava ameaçada, demandaria reexame aprofundado do conjunto probatório,
incabível na via estreita do habeas corpus. Precedentes. 6. Ordem de habeas corpus denegada. (BRASIL, 2019m).;
Súmula nº 600 do STJ - “Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei
Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima”
OS PRINCIPAIS TEMAS CRIMINAIS ENVOLVENDO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER CONSOANTE A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – LEADING CASES
(Im)possibilidade de retratação
Habeas Corpus nº 138.143/MG, de 2019
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. INADEQUAÇÃO. LESÃO CORPORAL NO CONTEXTO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E ESTUPRO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA PELA RETRATAÇÃO DA VÍTIMA. RESE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PROVIDO NA ORIGEM. INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ART. 16 DA LEI Nº 11.340/06 E
NOS ARTS. 25 DO CPP E 102 DO CP. IRRETOCÁVEL O ENTENDIMENTO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1.
Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do
recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a
existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado. 2. A Lei Maria da Penha disciplina procedimento próprio para
que a vítima possa eventualmente se retratar de representação já apresentada. Dessarte, dispõe o art. 16 da Lei n.
11.340/2006 que, "só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com
tal finalidade" (HC 371.470/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
17/11/2016, DJe 25/11/2016). 3. Considerando que, no caso em apreço, a retratação da suposta ofendida ocorreu somente
em cartório, sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação do ato, correto posicionamento da
Corte de origem ao elucidar tal ilegalidade e cassar a decisão que rejeitou a denúncia com base unicamente na retratação.
4. É uníssona a jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que, depois de oferecida a denúncia, a representação do
ofendido será irretratável, consoante o disposto nos arts. 102 do Código Penal e 25 do Código de Processo Penal. Assim,
imperiosa a manutenção do julgado também nesse ponto, acerca do crime previsto no art. 213 c/c art. 224, ambos vigentes
à época no Código Penal. 5. Considerando que o Tribunal Estadual não teceu qualquer consideração sobre a ausência de
justa causa quanto ao crime de estupro, em virtude da relação amorosa entre o paciente e a vítima, inviável a apreciação
direta por esta Corte Superior, sob pena de indevida supressão de instâncias. 6. Habeas corpus não conhecido. (HC n.
138.143/MG, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 3/9/2019, DJe de 10/9/2019.) (BRASIL, 2019h).
OS PRINCIPAIS TEMAS CRIMINAIS ENVOLVENDO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER CONSOANTE A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – LEADING CASES
(Im)possibilidade de requerimento de indenização por danos morais
Recurso especial nº 1643051/MS, de 2016
RECURSO ESPECIAL. RECURSO SUBMETIDO AO RITO DOS REPETITIVOS (ART. 1.036 DO CPC, C/C O ART. 256, I, DO RISTJ).
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO MÍNIMA. ART. 397, IV, DO CPP. PEDIDO
NECESSÁRIO. PRODUÇÃO DE PROVA ESPECÍFICA DISPENSÁVEL. DANO IN RE IPSA. FIXAÇÃO CONSOANTE PRUDENTE
ARBÍTRIO DO JUÍZO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. [...] Em tal situação, emerge a inarredável compreensão de que a fixação, na
sentença condenatória, de indenização, a título de danos morais, para a vítima de violência doméstica, independe de indicação de um valor
líquido e certo pelo postulante da reparação de danos, podendo o quantum ser fixado minimamente pelo Juiz sentenciante, de acordo com
seu prudente arbítrio. 6. No âmbito da reparação dos danos morais – visto que, por óbvio, os danos materiais dependem de comprovação
do prejuízo, como sói ocorrer em ações de similar natureza –, a Lei Maria da Penha, complementada pela reforma do Código de Processo
Penal já mencionada, passou a permitir que o juízo único – o criminal – possa decidir sobre um montante que, relacionado à dor, ao
sofrimento, à humilhação da vítima, de difícil mensuração, deriva da própria prática criminosa experimentada. 7. Não se mostra razoável, a
esse fim, a exigência de instrução probatória acerca do dano psíquico, do grau de humilhação, da diminuição da autoestima etc., se a
própria conduta criminosa empregada pelo agressor já está imbuída de desonra, descrédito e menosprezo à dignidade e ao valor da mulher
como pessoa. 8. Também justifica a não exigência de produção de prova dos danos morais sofridos com a violência doméstica a
necessidade de melhor concretizar, com o suporte processual já existente, o atendimento integral à mulher em situação de violência
doméstica, de sorte a reduzir sua revitimização e as possibilidades de violência institucional, consubstanciadas em sucessivas oitivas e
pleitos perante juízos diversos. 9. O que se há de exigir como prova, mediante o respeito ao devido processo penal, de que são expressão o
contraditório e a ampla defesa, é a própria imputação criminosa – sob a regra, derivada da presunção de inocência, de que o onus probandi
é integralmente do órgão de acusação –, porque, uma vez demonstrada a agressão à mulher, os danos psíquicos dela derivados são
evidentes e nem têm mesmo como ser demonstrados. 10. Recurso especial provido para restabelecer a indenização mínima fixada em
favor pelo Juízo de primeiro grau, a título de danos morais à vítima da violência doméstica. TESE: Nos casos de violência contra a
mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde
que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente de
instrução probatória. (BRASIL, 2018q).
CONCLUSÃO
Foram analisados 8 (oito) temas criminais, consolidados pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça acerca dos casos de violência doméstica e familiar, quais sejam:
inaplicabilidade da suspensão condicional do processo e da transação penal; a
aplicabilidade da ação penal pública incondicionada; a impossibilidade de substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos; a inaplicabilidade do princípio da
insignificância, a desnecessidade de coabitação entre as partes; a incidência da Lei
Maria da Penha nos casos de agressão ocasionada pelas filhas em detrimento da
genitora; a possibilidade de retratação nos termos do artigo 16 da Lei nº 11.340/2006; e
a possibilidade de requerimento de indenização por danos morais desde que efetuados
de forma expressa.
Conclui-se que o Superior Tribunal de Justiça, ao proferir decisões que versam sobre
casos de violência doméstica que tramitam sob o rito da Lei Maria da Penha, vem
adotando entendimentos benéficos às vítimas, garantindo-lhes segurança jurídica, além
de também punir de forma mais rigorosa os agressores, ao deixar de aplicar as
benesses despenalizadoras constantes no Código Penal e na Lei nº 9.099/95.
OBRIGADA!