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15/03/2024, 17:26 Jurisprudência - PJe

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA

0826315-72.2022.8.15.0000

Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO

Orgão Julgador: Câmara Criminal

Relator: Des. Ricardo Vital de Almeida

Origem: TJPB - Tribunal Pleno, Câmaras e Seções Especializadas

Tipo do documento: Acórdão

Data de juntada: 12/12/2023

Ementa EMENTA SEM FORMATAÇÃO

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA

GAB. DES. RICARDO VITAL DE ALMEIDA

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0826315-72.2022.8.15.0000

RELATOR: DES. RICARDO VITAL DE ALMEIDA

AGRAVANTE: POLLYANA PATRICIA CHAVES SILVA

ADVOGADOS: DIMITRE BRAGA SOARES DE CARVALHO (OAB/PB 12.753)

AGRAVADO: LUIZ ANDRÉ PEREIRA DA SILVA

ADVOGADO: JOSÉ ALVES TOMAZ NETO (OAB/PB 18.225).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.


RECURSO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU REQUERIMENTO DE MEDIDAS
PROTETIVAS DE URGÊNCIA. 1. PLEITO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA. SUPOSTA VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA PERPETRADA POR EX-CÔNJUGE.
DESENTENDIMENTO DE ORIGEM PATRIMONIAL. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE VIOLÊNCIA OU
AMEAÇA MOTIVADA POR QUESTÃO DE GÊNERO OU DE VULNERABILIDADE POR SER A VÍTIMA
DO SEXO FEMININO. INAPLICABILIDADE DA LEI N.º 11.340/2006. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO
DA CONFIANÇA DO JUIZ. MANUTENÇÃO DO DECISUM. 2. DESPROVIMENTO DO RECURSO, EM
HARMONIA COM O PARECER DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA.

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1. A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é taxativa, em seu art. 5º, no sentido de definir
que, para fins de aplicação da Lei n. 11.340/2006, configura violência doméstica contra mulher
somente a conduta baseada na relação de gênero, isto é, atos de agressão motivados não
apenas por questões pessoais, mas refletindo a posição cultural da subordinação da mulher
ao homem ou pretendida sobreposição do homem sobre a mulher. Em razão disso, para a
decretação de medidas protetivas de urgência, previstas na Lei nº 11.340/06, não basta a
simples alegação de suposta violência (física, moral ou psicológica), deve haver indícios
suficientes de violência ou de ameaça praticada em face da mulher e motivada por questões
de gênero.

– “Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de


pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação


sexual.”

– DO STJ. "A jurisprudência da Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça consolidou-se
no sentido de que, para a aplicação da Lei 11.340/2006, não é suficiente que a violência seja
praticada contra a mulher e numa relação familiar, doméstica ou de afetividade, mas também
há necessidade de demonstração da sua situação de vulnerabilidade ou hipossuficiência, numa
perspectiva de gênero" (AgRg no REsp 1430724/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 24/03/2015).”

(AgRg no AREsp 1022313/DF, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 6/6/2017, DJe 13/6/2017).

– No caso sub oculi não restou demonstrado violência motivada por questões de gênero e nem
tão pouco de relação de vulnerabilidade, na verdade trata-se de um desentendimento
familiar de origem patrimonial ocasionada pela separação do casal, cuja ação de divórcio
litigioso tramita na 4ª Vara de Família da Comarca de Campina Grande. A recorrente não
relatou a existência de violência física e psicológica em razão de sua condição de mulher, mas
a existência de supostas ameaças quanto ao patrimônio das empresas que o casal,
aparentemente, diante dos áudios e mensagens anexadas aos autos, administravam juntos.

– Decerto que, em situações de urgência relacionadas à violência doméstica e familiar contra


a mulher, deve o juízo da causa sopesar a necessidade de restrição de direitos do agressor em
vista da segurança da vítima, que sempre deve prevalecer. E o juízo primevo, por encontrar-
se próximo dos fatos, é o mais apto a realizar essa operação. É ele quem deve determinar
quais medidas protetivas devem ser aplicadas, seu prazo de duração e a possibilidade de
modificação ou revogação. À instância recursal cabe a alteração apenas em situações
excepcionalíssimas de flagrante ilegalidade ou indevido abuso na restrição de direitos do
agressor, o que não é a hipótese dos autos.

– Do TJSP. “O juízo a quo, por estar próximo dos fatos, é o mais apto a sopesar a necessidade de
restrição de direitos do agressor para a prevalência da segurança da vítima “.

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(TJSP; Agravo de Instrumento 2230809-28.2018.8.26.0000; Relator (a): Gilberto Ferreira da


Cruz; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Criminal; Foro Regional VI - Penha de França -
Vara da Região Leste 1 de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; Data do
Julgamento: 21/11/2019; Data de Registro: 25/11/2019).

– Dessa feita, nenhuma censura merece o decisório ora recorrido, que deve ser mantido pelos
seus próprios e jurídicos fundamentos. Ressalto, outrossim, que nada impede que
posteriormente, caso surjam novos fatos, seja formulado outro pedido de imposição de
medidas protetivas ao juízo de primeiro grau.

2. Desprovimento do recurso, em harmonia com o parecer da Procuradoria de Justiça.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos.

ACORDA a Câmara Especializada Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar provimento
ao recurso, mantendo na íntegra a decisão de primeiro grau, nos termos do voto do relator, em harmonia com o parecer
da Procuradoria de Justiça .

Inteiro Teor INTEIRO TEOR SEM FORMATAÇÃO

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA

GAB. DES. RICARDO VITAL DE ALMEIDA

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0826315-72.2022.8.15.0000

RELATOR: DES. RICARDO VITAL DE ALMEIDA

AGRAVANTE: POLLYANA PATRICIA CHAVES SILVA

ADVOGADOS: DIMITRE BRAGA SOARES DE CARVALHO (OAB/PB 12.753)

AGRAVADO: LUIZ ANDRÉ PEREIRA DA SILVA

ADVOGADO: JOSÉ ALVES TOMAZ NETO (OAB/PB 18.225).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.


RECURSO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU REQUERIMENTO DE MEDIDAS
PROTETIVAS DE URGÊNCIA. 1. PLEITO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE
URGÊNCIA. SUPOSTA VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA PERPETRADA POR EX-CÔNJUGE.

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DESENTENDIMENTO DE ORIGEM PATRIMONIAL. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DE VIOLÊNCIA OU


AMEAÇA MOTIVADA POR QUESTÃO DE GÊNERO OU DE VULNERABILIDADE POR SER A VÍTIMA
DO SEXO FEMININO. INAPLICABILIDADE DA LEI N.º 11.340/2006. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO
DA CONFIANÇA DO JUIZ. MANUTENÇÃO DO DECISUM. 2. DESPROVIMENTO DO RECURSO, EM
HARMONIA COM O PARECER DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA.

1. A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) é taxativa, em seu art. 5º, no sentido de definir
que, para fins de aplicação da Lei n. 11.340/2006, configura violência doméstica contra mulher
somente a conduta baseada na relação de gênero, isto é, atos de agressão motivados não
apenas por questões pessoais, mas refletindo a posição cultural da subordinação da mulher
ao homem ou pretendida sobreposição do homem sobre a mulher. Em razão disso, para a
decretação de medidas protetivas de urgência, previstas na Lei nº 11.340/06, não basta a
simples alegação de suposta violência (física, moral ou psicológica), deve haver indícios
suficientes de violência ou de ameaça praticada em face da mulher e motivada por questões
de gênero.

– “Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de


pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação


sexual.”

– DO STJ. "A jurisprudência da Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça consolidou-se
no sentido de que, para a aplicação da Lei 11.340/2006, não é suficiente que a violência seja
praticada contra a mulher e numa relação familiar, doméstica ou de afetividade, mas também
há necessidade de demonstração da sua situação de vulnerabilidade ou hipossuficiência, numa
perspectiva de gênero" (AgRg no REsp 1430724/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 24/03/2015).”

(AgRg no AREsp 1022313/DF, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 6/6/2017, DJe 13/6/2017).

– No caso sub oculi não restou demonstrado violência motivada por questões de gênero e nem
tão pouco de relação de vulnerabilidade, na verdade trata-se de um desentendimento
familiar de origem patrimonial ocasionada pela separação do casal, cuja ação de divórcio
litigioso tramita na 4ª Vara de Família da Comarca de Campina Grande. A recorrente não
relatou a existência de violência física e psicológica em razão de sua condição de mulher, mas
a existência de supostas ameaças quanto ao patrimônio das empresas que o casal,
aparentemente, diante dos áudios e mensagens anexadas aos autos, administravam juntos.

– Decerto que, em situações de urgência relacionadas à violência doméstica e familiar contra


a mulher, deve o juízo da causa sopesar a necessidade de restrição de direitos do agressor em
vista da segurança da vítima, que sempre deve prevalecer. E o juízo primevo, por encontrar-
se próximo dos fatos, é o mais apto a realizar essa operação. É ele quem deve determinar
quais medidas protetivas devem ser aplicadas, seu prazo de duração e a possibilidade de

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modificação ou revogação. À instância recursal cabe a alteração apenas em situações


excepcionalíssimas de flagrante ilegalidade ou indevido abuso na restrição de direitos do
agressor, o que não é a hipótese dos autos.

– Do TJSP. “O juízo a quo, por estar próximo dos fatos, é o mais apto a sopesar a necessidade de
restrição de direitos do agressor para a prevalência da segurança da vítima “.

(TJSP; Agravo de Instrumento 2230809-28.2018.8.26.0000; Relator (a): Gilberto Ferreira da


Cruz; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Criminal; Foro Regional VI - Penha de França -
Vara da Região Leste 1 de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; Data do
Julgamento: 21/11/2019; Data de Registro: 25/11/2019).

– Dessa feita, nenhuma censura merece o decisório ora recorrido, que deve ser mantido pelos
seus próprios e jurídicos fundamentos. Ressalto, outrossim, que nada impede que
posteriormente, caso surjam novos fatos, seja formulado outro pedido de imposição de
medidas protetivas ao juízo de primeiro grau.

2. Desprovimento do recurso, em harmonia com o parecer da Procuradoria de Justiça.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos.

ACORDA a Câmara Especializada Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar provimento
ao recurso, mantendo na íntegra a decisão de primeiro grau, nos termos do voto do relator, em harmonia com o parecer
da Procuradoria de Justiça .

RELATÓRIO

Cuida-se de Agravo de Instrumento, com pedido cautelar, interposto por Pollyana Patricia Chaves Silva contra a decisão
proferida pela MM. Juíza da Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de Campina Grande, que
indeferiu o pedido de medidas protetivas de urgência em favor da agravante.

Na peça de ingresso, a agravante narra que foi casada por 16 (dezesseis) anos com Luiz André Pereira da Silva, e que
desde a separação de fato do casal, há aproximadamente 06 (seis) meses, vem sofrendo diversos tipos de violência, como
patrimonial e psicológica.

Propugna que requereu medidas protetivas de urgência por se sentir amedrontada pelo agravado e temer que ele atente
contra a sua vida e de sua filha, mas que o Juízo a quo indeferiu o pleito aduzindo que não existem provas suficientes da
prática de alguma modalidade de violência contra a vítima.

Verbera que o requerido vem agindo de forma destemperada, ameaçando-a para que lhe dê parte de suas empresas,
invadindo-as, e que além de constranger funcionários e clientes, afirma que ela terá que pagar pensão, caso queira que
ele pare de frequentar o ambiente.

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Expõe que existem inúmeras provas nos autos de que a recorrente vem sofrendo violência psicológica, e que a questão
patrimonial é apenas uma das motivações, sendo inevitável “a intervenção do Estado no caso concreto para coibir mais
1
atitudes danosas advindas do réu contra a ofendida e suas funcionárias”

Ao final requer o “provimento do presente recurso para reformar a decisão atacada e determinar imediatamente a
2
concessão de medidas protetivas de urgência, a fim de proteger a integridade física e moral da vítima”

Os autos foram, inicialmente, distribuídos ao Des. Oswaldo Trigueiro do Valle Filho, o qual entendeu que a competência
para conhecer do recurso era da Câmara Criminal, por verificar que o processo trata de matéria de natureza jurídica
criminal (Num. 18343064). Em sequência o feito foi redistribuído a esta Relatoria (Num. 18370310 - Pág. 1).

Solicitadas informações ao Juízo de primeiro grau (Num. 19384746).

Informações prestadas (Num. 19648009 - Pág. 3).

Decisão indeferindo pleito de antecipação de tutela recursal (Num. 19659827).

Em contrarrazões, o agravado aduz que “inexiste elementos suficientes quanto à situação de violência doméstica que
venha a justificar a imposição das medidas protetivas em favor da Agravante”; que “os litigantes sequer residem na mesma
comarca, enquanto a Agravante reside em Campina Grande – PB, o Agravado reside na comarca de Monteiro – PB, uma
distância de quase 180 km”, bem como que “as conversas extraídas do aplicativo de mensagens WhatsApp e áudios
cortados e fora do real contexto”, não são hábeis a comprovar a existência de violência doméstica e sua relação direta com
a suposta autoria (Num. 22642374).

A Procuradoria de Justiça, por meio de parecer do Procurador de Justiça Joaci Juvino da Costa Silva, opinou pelo
desprovimento do Agravo de Instrumento (Num. 22784856).

É o relatório.

1 Num. 18335651 - Pág. 12

2 Num. 18335651 - Pág. 12

VOTO: Desembargador Ricardo Vital de Almeida

Presentes os pressupostos de admissibilidade e processamento, conheço do recurso.

1. PLEITO DE CONCESSÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA.

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A recorrente insurge-se contra a decisão proferida pela MM. Juíza da Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a
Mulher da Comarca de Campina Grande, Dra. Rosimeire Ventura Leite, que indeferiu o pedido de medidas protetivas de
urgência em seu favor.

Após ponderar sobre a situação, vejo que razão não lhe assiste.

Pollyana Patrícia Chaves Silva requereu medidas protetivas alegando que que foi casada por 16 (dezesseis) anos com
Luiz André Pereira da Silva, e que desde a separação de fato do casal, há aproximadamente 06 (seis) meses, vem sofrendo
diversos tipos de violência, como patrimonial e psicológica.

Segundo a sua narrativa, o requerido vem agindo de forma destemperada, ameaçando-a para que lhe dê parte de suas
empresas, invadindo-as, e que além de constranger funcionários e clientes, afirma que ela terá que pagar pensão, caso
queira que ele pare de frequentar o ambiente.

Expõe que existem inúmeras provas nos autos de que a recorrente vem sofrendo violência psicológica, e que a questão
patrimonial é apenas uma das motivações, sendo inevitável “a intervenção do Estado no caso concreto para coibir mais
1
atitudes danosas advindas do réu contra a ofendida e suas funcionárias”

A ação de divórcio litigioso do casal tramita na 4ª Vara de Família da Comarca de Campina Grande.

Para melhor elucidação da questão, transcrevo a íntegra da decisão vergastada:

“Vistos.

POLLYANA PATRICIA CHAVES SILVA, já qualificada nos autos, compareceu à Delegacia


Especializada da Mulher e, através do expediente contido no Id. 63688123, requereu a
concessão de medidas protetivas de urgência, no sentido de que o agressor, LUIZ ANDRE
PEREIRA DA SILVA , seja impedido de aproximar-se dela e de com ela se comunicar, além de se
manter distante dos laboratórios que lhe pertence.

Em seu relato prestado em delegacia, a requerente informou que se encontra separada do


requerido desde o mês de junho do corrente ano, após manter um relacionamento por mais
de 16 (dezesseis) anos, com o nascimento de uma filha ainda menor de idade. Narrou que
vem se desentendendo com seu ex-marido em razão do término do relacionamento e o
acesso dele aos seus laboratórios (Polylab).

É o breve relato. Decido.

Com o advento da Lei nº 11.340/06, a violência contra a mulher passou a ser cuidada sob nova
ótica. A partir daí os crimes cometidos com violência física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral (art. 7º) contra a mulher recebem proteção especial.

As medidas protetivas que obrigam o agressor são meios de assegurar a integridade física e
mental da vítima de tais abusos. Estão elas previstas no art. 22 da Lei nº 11.340/06.

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Os elementos coligidos aos autos até o momento não comprovam, porém, a prática de
qualquer das modalidades de violência previstas no art. 7º da Lei 11.340/06, que tenha sido
efetivada pelo suposto agressor contra a requerente.

Ora, pela leitura das peças encaminhadas pela autoridade policial, extrai-se que a ocorrência
da prática imputada, em tese, foge da urgente e necessária proteção, por ora, quanto às
medidas protetivas, posto que as alegações da suposta vítima, neste momento, não são
suficientes para justificar a excepcionalidade do instituto cautelar.

No caso, a situação apresentada se assemelha com conflito de ordem patrimonial envolvendo


bens que supostamente fazem parte do patrimônio comum do casal.

Assim, não se evidenciando a prática de violência a integridade física ou psicológica da autora


por parte do apontado ofensor, sendo o caso de discussão cível nas vias ordinárias, incabível a
aplicação de medida protetiva de urgência, como requerido, ante a carência de embasamento
legal.

Por estas razões, INDEFIRO o requerimento, por não vislumbrar situação de violência
doméstica que enseje a aplicação de medida protetiva. Resguardada a possibilidade de
reapreciação em sendo apresentados novos elementos “.

Em informações, a magistrada primeva aduziu:

“Em atendimento ao pedido contido no Agravo de Instrumento nº 0826315-72.2022.8.15.0000,


venho informar o que ora se segue.

A decisão agravada se trata de indeferimento de pedido de medidas protetivas de urgência


formulado pela agravante.

No caso em exame, este juízo indeferiu o pleito por não vislumbrar, até o momento, a
prática de qualquer das modalidades de violência previstas no art. 7º da Lei 11.340/06. A
narrativa do pedido se refere unicamente aos problemas envolvendo o negócio que o ex-
casal possui e não de ameaças concretas à integridade física da agravante.

Ademais, ressalto que o pedido de reapreciação da decisão formulado pela agravante já foi
analisado e mantido o indeferimento, sendo este o entendimento do juízo.

Vislumbrando serem estas as informações que me cumpre prestar, coloco-me à inteira


disposição de Vossa Excelência para quaisquer outras informações que porventura sejam
necessárias, e, aproveito a oportunidade para apresentar meus respeitosos cumprimentos”
(Num. 19648009 - Pág. 3).

Pois bem (!), conforme exposto no decisum impugnado, a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) criou mecanismos para
coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo em seu art. 5º as hipóteses que
configuram violência doméstica e familiar contra a mulher, in verbis:

“Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

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I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de


pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou
se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a
ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação


sexual.”

Constata-se, da simples leitura do referido dispositivo, que este é taxativo no sentido de definir que, para fins de aplicação
da Lei n. 11.340/2006, configura violência doméstica contra mulher somente a conduta baseada na relação de gênero,
isto é, atos de agressão motivados não apenas por questões pessoais, mas refletindo a posição cultural da subordinação
da mulher ao homem ou pretendida sobreposição do homem sobre a mulher.

Em razão disso, para a decretação de medidas protetivas de urgência, previstas na Lei nº 11.340/06, não basta a simples
alegação de suposta violência (física, moral ou psicológica), deve haver indícios suficientes de violência ou de ameaça
praticada em face da mulher e motivada por questões de gênero.

Neste sentir, consolidou-se a jurisprudência das Quinta e Sexta Turmas do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA CONTRA MULHER. COMPETÊNCIA


DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. AUSÊNCIA DE
VIOLÊNCIA POR MOTIVO DE GÊNERO OU DA VULNERABILIDADE DA VÍTIMA DECORRENTE
DA SUA CONDIÇÃO DE MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. "A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça orienta-se no sentido de que para que a
competência dos Juizados Especiais de Violência Doméstica seja firmada, não basta que o
crime seja praticado contra mulher no âmbito doméstico ou familiar, exigindo-se que a
motivação do acusado seja de gênero, ou que a vulnerabilidade da ofendida seja
decorrente da sua condição de mulher. Precedentes" (AgRg no AREsp 1020280/DF, Rel.
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 31/8/2018).

2. Diante da conclusão da instância ordinária de que o delito não foi motivado por questões
de gênero ou em face da situação de vulnerabilidade da vítima por ser do sexo feminino, para
se chegar a conclusão diversa do julgado seria necessário o revolvimento do acervo fático-
probatório, procedimento sabidamente inviável na instância especial. A referida vedação
encontra respaldo no enunciado n. 7 da Súmula desta Corte, verbis: "A pretensão de simples
reexame de prova não enseja recurso especial".

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1858438/GO, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
18/08/2020, DJe 24/08/2020)

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA.


RELAÇÃO FAMILIAR. LEI MARIA DA PENHA. MOTIVAÇÃO DE GÊNERO. AUSÊNCIA. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.

1. "A jurisprudência da Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça consolidou-se


no sentido de que, para a aplicação da Lei 11.340/2006, não é suficiente que a violência
seja praticada contra a mulher e numa relação familiar, doméstica ou de afetividade, mas
também há necessidade de demonstração da sua situação de vulnerabilidade ou
hipossuficiência, numa perspectiva de gênero" (AgRg no REsp 1430724/RJ, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 24/03/2015).

2. No caso dos autos, o Tribunal de origem, soberano na análise dos elementos fático-
probatórios da lide, entendeu que não haveria elementos suficientes para configuração da
motivação de gênero nos atos do agravado, e que não teria ficado caracterizado o estado de
vulnerabilidade do sexo oposto.

3. Desse modo, para que fosse possível a análise das pretensões recursais, seria
imprescindível o reexame das provas constantes dos autos, o que é vedado ante o que
preceitua a Súmula 7/STJ.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 1022313/DF, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 6/6/2017, DJe 13/6/2017).

Assim, no caso sub oculi, entendo que agiu com acerto a magistrada primeva ao indeferir o requerimento de medidas
protetivas de urgência, porquanto não restou demonstrado violência motivada por questões de gênero e nem tão pouco
de relação de vulnerabilidade, em verdade trata-se de um desentendimento familiar de origem patrimonial ocasionada
pela separação do casal, cuja ação de divórcio litigioso tramita na 4ª Vara de Família da Comarca de Campina Grande.

A recorrente não relatou a existência de violência física e psicológica em razão de sua condição de mulher, mas a
existência de supostas ameaças quanto ao patrimônio das empresas que o casal, aparentemente, diante dos áudios e
mensagens anexadas aos autos, administravam juntos.

Decerto que, em situações de urgência relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mulher, deve o juízo da
causa sopesar a necessidade de restrição de direitos do agressor em vista da segurança da vítima, que sempre deve
prevalecer.

E o juízo primevo, por encontrar-se próximo dos fatos, é o mais apto a realizar essa operação. É ele quem deve determinar
quais medidas protetivas devem ser aplicadas, seu prazo de duração e a possibilidade de modificação ou revogação.

À instância recursal cabe a alteração apenas em situações excepcionalíssimas de flagrante ilegalidade ou indevido abuso
na restrição de direitos do agressor, o que não é a hipótese dos autos.

Neste sentido aponta a jurisprudência:

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15/03/2024, 17:26 Jurisprudência - PJe

AGRAVO DE INSTRUMENTO – Lei Maria da Penha. Medidas protetivas (art. 22 da Lei nº


11.340/06) – O juízo a quo, por estar próximo dos fatos, é o mais apto a sopesar a necessidade
de restrição de direitos do agressor para a prevalência da segurança da vítima – Recurso
desprovido.

(TJSP; Agravo de Instrumento 2230809-28.2018.8.26.0000; Relator (a): Gilberto Ferreira da


Cruz; Órgão Julgador: 15ª Câmara de Direito Criminal; Foro Regional VI - Penha de França -
Vara da Região Leste 1 de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; Data do
Julgamento: 21/11/2019; Data de Registro: 25/11/2019)

PETIÇÃO DE RECLAMAÇÃO NO PROCESSO PENAL. (RITJDFT, ART. 232). VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


E FAMILIAR CONTRA A MULHER. INDEFERIMENTO DE PRORROGAÇÃO DA MEDIDA PROTETIVA.
DECISÃO MANTIDA. 1. Se o juiz, dentro do seu poder geral de cautela, e diante da situação em
exame, houve por bem indeferir o pedido de medida protetiva de urgência, não há qualquer
motivo para desconstituir a decisão, porquanto inexistente elemento concreto que justifique
sua necessidade. 2. Reclamação julgada improcedente. (TJDF; Proc 07095.22-
77.2019.8.07.0000; Ac. 120.5541; Terceira Turma Criminal; Rel. Des. Jesuíno Rissato; Julg.
03/10/2019; DJDFTE 11/10/2019)

Dessa feita, nenhuma censura merece o decisório ora recorrido, que deve ser mantido pelos seus próprios e jurídicos
fundamentos.

Ressalto, outrossim, que nada impede que posteriormente, caso surjam novos fatos, seja formulado outro pedido de
imposição de medidas protetivas ao juízo de primeiro grau.

2. DISPOSITIVO

Ante o exposto, nego provimento ao recurso, mantendo íntegra a decisão de primeiro grau, em harmonia com o parecer
da Procuradoria de Justiça.

É como voto.

Presidiu a sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Ricardo Vital de Almeida, Presidente da Câmara Criminal.
Participaram do julgamento os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Ricardo Vital de Almeida, relator, Joás de
Brito Pereira Filho (1º vogal) e Márcio Murilo da Cunha Ramos (2º vogal).

Acompanhou a sessão virtual o Excelentíssimo Senhor Amadeus Lopes Ferreira, Promotor de Justiça convocado.

Sessão Virtual da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, iniciada em 04 de dezembro de 2023 e
encerrada em 05 de dezembro de 2023.

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15/03/2024, 17:26 Jurisprudência - PJe

Des. Ricardo Vital de Almeida

RELATOR

1 Num. 18335651 - Pág. 12

Desenvolvido e cedido pelo TJRN (http://www.tjrn.jus.br/).

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