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LEI MARIA DA PENHA

Já existia previsão constitucional de proteção à mulher no art. 226, que


também ampara o idoso (ao amparar a família e cada um de seus membros):
Art. 226. (...) § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa
de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações.

Obs.: Há intenção de proteger as pessoas mais vulneráveis no seio familiar (as


normas de proteção abarcam mulheres, crianças, adolescentes, idosos, pessoas com
deficiência).
• Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a
Mulher (Convenção de Belém do Pará – Sistema ONU, global);
• Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher.
Trata-se de uma norma de competência mista, não é estritamente penal.
Embora não apresente isso de forma expressa, tal informação já tem indícios nas
próprias disposições transitórias:
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as
competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Compete ao juízo da vara especializada em violência doméstica e familiar a
apreciação do pedido de imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo
trabalhista, por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida
decorrente de violência doméstica e familiar. (STJ, REsp 1.757.775-SP, Rel. Min.
Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 20/08/2019, DJe
02/09/2019, Info 665).
Uma das medidas de proteção à ofendida é a possibilidade de a mulher poder
se afastar do emprego por estar sendo perseguida/sofrendo violência sem perder o
vínculo empregatício (ex.: em casos nos quais a mulher trabalha junto ao agressor). A
responsabilidade também é do Estado e da sociedade.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral ou patrimonial:
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive
as esporadicamente agregadas;
Obs.: Colegas de quarto também se enquadram, por exemplo.
II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;
Obs.: Válido para os parentes tidos como “de consideração”. O grau de
parentesco não é limitado.
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Obs.: Exemplos
de ex-companheiros. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste
artigo independem de orientação sexual.
Obs.: A violência doméstica também pode ocorrer dentro de casais
homoafetivos.
Enunciado 600 da Súmula do STJ: Para a configuração da violência doméstica e
familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a
coabitação entre autor e vítima.
Sujeito ativo: pode ser o homem ou a mulher. Para que haja a situação em que
a mulher é agressora, entretanto, é necessário que haja uma relação em que exista
algum grau de dominação. Ex.: em relacionamentos homoafetivos, pode existir uma
parceira dominante e uma parceira dominada; em uma situação de uma neta que
agride uma avó idosa.
Sujeito passivo: mulher. A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) é aplicável para
o caso da mulher transexual vítima de violência em ambiente doméstico. A proteção
conferida não pode ser limitada às pessoas que ostentam condição de mulher
biológica.
Com esse entendimento, a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça deu
provimento ao recurso especial para fixar medidas protetivas a uma mulher
transexual, vítima de agressões pelo próprio pai. O precedente é inédito na corte
2. A incidência da Lei n. 11.340/2006 reclama situação de violência praticada
contra a mulher, em contexto caracterizado por relação de poder e submissão,
praticada por homem ou mulher sobre mulher em situação de vulnerabilidade.
Precedentes. 3. No caso não se revela a presença dos requisitos cumulativos para a
incidência da Lei n. 11.340/06, a relação íntima de afeto, a motivação de gênero e a
situação de vulnerabilidade. Concessão da ordem. (STJ, HC 175.816/RS, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 28/06/2013)
Quando se fala em proteção especial de determinados grupos vulneráveis, toda
a proteção decorre de uma relação de poder e submissão. É necessária a existência do
elemento dolo (não há crime culposo de violência doméstica e familiar). No caso
acima, era uma situação de violência entre sogra e nora.
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Lei n. 13.772/18)
Obs.: Violação de intimidade = casos de exposição nas redes sociais.
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
Obs.: Mesmo que a mulher tenha consentido com o início da relação sexual,
caso tenha negado em seguida, trata-se de violência sexual.
IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure
retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
Obs.: A violência patrimonial só existe se o bem for exclusivo da mulher. Caso seja do
casal, não há crime de dano.
V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,
difamação ou injúria. Art. 9º (...) § 2º O juiz assegurará à mulher em situação de
violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e
psicológica: I – acesso prioritário à remoção quando servidora pública,
integrante da administração direta ou indireta;
Obs.: Trata-se de obrigação legal.
II – manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do
local de trabalho, por até seis meses.
III – encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para
eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação
de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente.
A Lei Maria da Penha tem competência mista e alterou dispositivos no Código
Penal. CP Art. 129.
(...) § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade.
O parágrafo acima não fala especificamente sobre mulher, apesar de ter sido
inserido pela Lei Maria da Penha. Houve dúvida se ele protegeria somente mulheres
apesar de não especificar, e a jurisprudência do STJ entendeu que não, aplicando-se a
qualquer pessoa vulnerável que estivesse diante das condições descritas. O art. 129
trata do crime de lesão corporal.
1. Não obstante a Lei n. 11.340/06 tenha sido editada com o escopo de tutelar
com mais rigor a violência perpetrada contra a mulher no âmbito doméstico, não se
verifica qualquer vício no acréscimo de pena operado pelo referido diploma legal no
preceito secundário do § 9º do artigo 129 do Código Penal, mormente porque não é a
única em situação de vulnerabilidade em tais relações, a exemplo dos portadores de
deficiência. 2. Embora as suas disposições específicas sejam voltadas à proteção da
mulher, não é correto afirmar que o apenamento mais gravoso dado ao delito previsto
no § 9º do artigo 129 do Código Penal seja aplicado apenas para vítimas de tal gênero
pelo simples fato desta alteração ter se dado pela Lei Maria da Penha, mormente
porque observada a pertinência temática e a adequação da espécie normativa
modificadora. (STJ, RHC 27.622, j. 07/08/2012)
DIREITOS ESPECIAIS DA MULHER (LEI N. 13.505/2017)
• Atendimento policial e pericial especializado (DEAM), ininterrupto e prestado
por servidores preferencialmente do sexo feminino; – O que faz toda a diferença no
processo de acolhimento e prosseguimento da denúncia.
• Inquirição salvaguardando a integridade física, psíquica e emocional da
depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência
doméstica e familiar;
• Garantia de não haver contato direto com investigados ou suspeitos e
pessoas a eles relacionadas; – Colocação em salas diferentes, evitar contato.
• Não revitimização da depoente;
• Proteção policial;
• Encaminhamento da ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao IML;
• Encaminhamento à assistência jurídica gratuita (Lei 13.894/2019).
LEI N. 13.894/2019
Art. 14-A. - A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de
dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher. § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens.
Obs.: A ideia é primeiramente separar o vínculo para, em seguida, a partilha de
bens ser julgada em juízo cível. § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e
familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a
ação terá preferência no juízo onde estiver.
LEI N. 13.871/2019
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou
psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir
todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS),
de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde
prestados para o total tratamento das vítimas em situação de violência
doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de
Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os
serviços.
Obs.: O acusado passa a ressarcir o erário pelo uso da tornozeleira eletrônica e
a vítima pelas despesas que teve em decorrência da violência doméstica.
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo
iminente e disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência
doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos
ressarcidos pelo agressor.
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá
importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus
dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de
substituição da pena aplicada.
Procedimento
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato,
os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de
Processo Penal:
I – ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a
termo, se apresentada;
II – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas
circunstâncias;
III – remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao
juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de
urgência;
IV – determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e
requisitar outros exames periciais necessários;
Obs.: Os registros, preferencialmente, devem conter fotografias.
V – ouvir o agressor e as testemunhas;
VI – ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou
registro de outras ocorrências policiais contra ele;
VI-A – verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo
e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como
notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da
emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003
(Estatuto do Desarmamento); (Lei 13.880/2019) Obs.: A ideia é a retenção da
arma em algum momento.
VII – remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao
Ministério Público.
ATENÇÃO - O pedido de medidas protetivas de urgência, a partir da Lei n.
13.836/2019, passará a conter a informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa
com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de
deficiência preexistente.
A autoridade policial deverá remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas
protetivas de urgência.
ATENÇÃO - A medida protetiva por ser deferida pela própria autoridade
policial, na modalidade afastamento do lar (Lei n. 13.827/2019).
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou
de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio
ou local de convivência com a ofendida:
I – pela autoridade judicial;
Obs.: A medida protetiva enseja uma restrição da liberdade do indivíduo em
algum grau, e para restringir direitos efetivamente, é preciso uma decisão judicial que
ampare essa decisão. É o equiparado à prisão em flagrante, que pode ser realizada por
qualquer cidadão, mas não pode perdurar para além da análise da autoridade judicial.
II – pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III – pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver
delegado disponível no momento da denúncia. Vedação à Liberdade Provisória
Art. 12-C. (...) § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à
efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade
provisória ao preso. (Lei n. 13.827/2019)
Obs.: Esse dispositivo é inconstitucional (veda o princípio da individualização).
Recurso extraordinário. 2. Constitucional. Processo Penal. Tráfico de drogas.
Vedação legal de liberdade provisória. Interpretação dos incisos XLIII e LXVI do
art. 5º da CF. 3. Reafirmação de jurisprudência. 4. Proposta de fixação da
seguinte tese: É inconstitucional a expressão e liberdade provisória, constante
do caput do artigo 44 da Lei 11.343/2006. 5. Negado provimento ao recurso
extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal. (STF, RE 1038925 RG,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 18/08/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-212 DIVULG 18-09-2017
PUBLIC 19-09-2017).
O exame de corpo de delito de vítima de violência doméstica será realizado
com prioridade, a partir da Lei n. 13.721/2018:
CPP Art. 158. (...) Parágrafo único.
Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar
de crime que envolva:
I – violência doméstica e familiar contra mulher;
II – violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.
Obs.: A ideia é proteger os vulneráveis.
Pedido de Protetivas
Obs.: Pode ser por parte da ofendida ou do MP.
• Decisão em 48h;
• Encaminhamento para o órgão de assistência judiciária (Defensoria Pública),
se for o caso;
• Encaminhamento ao MP.
– Pode pedir as protetivas? Sim.
Art. 19. (...)
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou
cumulativamente, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de
maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados
ou violados.
Obs.: Caráter rebus sic stantibus (só perduram enquanto perdurarem os
motivos). Ex.: a medida protetiva inicial pode ser de afastamento do lar, mas o réu
permanece indo ao local, então lhe é colocada uma tornozeleira eletrônica, para
garantir que ele não irá mais ao local. Nessa situação, duas protetivas foram agregadas
visando efetividade.
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
prisão preventiva: (...) III – se o crime envolver violência doméstica e familiar
contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
Obs.: São crimes dolosos.
Medidas Protetivas (para o Agressor)
• Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao
órgão competente;
• Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida (se a
casa é do réu, mas a ofendida habitava com ele, quem deve sair da casa é ele);
• Proibição de determinadas condutas, entre as quais: a. aproximação da
ofendida, de seus familiares e das testemunhas; b. contato com a ofendida, seus
familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação (inclusive whatsapp. No
caso de encontro com os filhos, outra pessoa deve buscá-los); c. frequentação de
determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
• Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe
de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
• Prestação de alimentos provisionais ou provisórios (inclusive para
dependentes).
• Comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; (Lei
n. 13.984/2020)
• Acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento
individual e/ou em grupo de apoio (Lei n. 13.984/2020).
Tais medidas visam a prevenção especial de novo delito. O rol é taxativo? Não,
é meramente exemplificativo.
Duração e Executoriedade da Medida Protetiva
2. Controverte-se no presente recurso ordinário em habeas corpus, se a decisão
proferida no processo penal que fixa alimentos provisórios ou provisionais em favor da
então companheira e de sua filha, em razão da prática de violência doméstica,
estribada no art. 22, V, da Lei n. 11.340/2006 e, no caso dos autos, ratificada em
acordo homologado judicialmente no bojo da correlata execução de alimentos
constitui título hábil para cobrança (e, em caso de inadimplemento, passível de
decretação de prisão civil) ou se, para tal propósito, seria necessário o ajuizamento, no
prazo de 30 (trinta) dias, de ação principal de alimentos (propriamente dita), sob pena
de decadência do direito.
Quando se tem uma ação de alimentos provisórios, posteriormente é preciso
entrar com uma ação de alimentos normais, pois é como uma espécie de ação
cautelar.
3. A medida protetiva de alimentos, fixada por Juízo materialmente
competente é, por si, válida e eficaz, não se encontrando, para esses efeitos,
condicionada à ratificação de qualquer outro Juízo, no bojo de outra ação, do que
decorre sua natureza satisfativa, e não cautelar. Tal decisão consubstancia, em si,
título judicial idôneo a autorizar a credora de alimentos a levar a efeito,
imediatamente, as providências judiciais para a sua cobrança, com os correspondentes
meios coercitivos que a lei dispõe. Compreensão diversa tornaria inócuo o propósito
de se conferir efetiva proteção à mulher, em situação de hipervulnerabilidade,
indiscutivelmente.
Ou seja, o título em questão é judicial e comporta execução de alimentos, não
precisa ir para Vara de Família. (...)
5.1 O dever de prestar alimentos, seja em relação à mulher, como decorrência
do dever de mútua assistência, seja em relação aos filhos, como corolário do dever de
sustento, afigura-se sensivelmente agravado nos casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher. Nesse contexto de violência, a mulher encontra-se em
situação de hipervulnerabilidade, na medida em que, não raras as vezes, por manter
dependência econômica com o seu agressor se não por si, mas, principalmente, pelos
filhos em comum, a sua subsistência, assim como a de seus filhos, apresenta-se
gravemente comprometida e ameaçada.
Se os alimentos forem retirados da mulher, ela corre o risco de voltar para o
agressor, por estar mais vulnerável ao depender economicamente dele.
5.2 A par da fixação de alimentos, destinados a garantir a subsistência da
mulher em situação de hipervulnerabilidade, o magistrado deve, impreterivelmente,
determinar outras medidas protetivas destinadas justamente a cessar, de modo eficaz,
a situação de violência doméstica imposta à mulher. Compreender que a interrupção
das agressões, por intermédio da intervenção judicial, seria suficiente para findar o
dever de prestação de alimentos (a essa altura, se reconhecido, sem nenhum efeito
prático) equivaleria a reconhecer a sua própria dispensabilidade, ou mesmo
inutilidade, o que, a toda evidência, não é o propósito da lei. A cessação da situação de
violência não importa, necessariamente, o fim da situação de hipervulnerabilidade em
que a mulher se encontra submetida, a qual os alimentos provisórios ou provisionais
visam, efetivamente, contemporizar. 5.3 A revogação da decisão que fixa a medida
protetiva de alimentos depende de decisão judicial que reconheça a cessação de tal
situação, cabendo, pois, ao devedor de alimentos promover as providências judiciais
para tal propósito, sem o que não há falar em exaurimento da obrigação alimentar.
(STJ, RHC 100.446/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/11/2018, DJe 05/12/2018, Info 640).
Não se deve presumir que, só porque a violência acabou, a pensão deve ser
retirada.

Medidas Protetivas
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Pena
– detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (...) § 2º Na hipótese de
prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder
fiança.

ATENÇÃO - Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência


doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência
Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante
atendimento específico e humanizado.
Atuação pela Vítima de Violência Doméstica
• Ministério Público;
• Defensoria Pública;
• Equipe multidisciplinar nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Ação Penal Pública Condicionada à Representação
Os crimes sujeitos à representação do ofendido também admitem uma
retratação.
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da
ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à
representação perante o juiz, em audiência especialmente designada
com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público.
Obs.: Audiência de justificação. A ideia dessa audiência é conferir a
voluntariedade da mulher.
A lesão corporal leve e a lesão corporal culposa são de ação penal pública
condicionada à representação? Não. A Lei n. 9.099 transforma as relações que eram de
ação penal pública incondicionada em ações penais públicas condicionadas à
representação. A Lei Maria da Penha, no art. 41, afasta a incidência da Lei n. 9.099 em
sua integralidade:
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra
a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº
9.099, de 26 de setembro de 1995.
Obs.: Entretanto, na prática, essa aplicação é vista.
Enunciado 542 da Súmula do STJ – A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – REGÊNCIA – LEI N. 9.099/95
– AFASTAMENTO. O artigo 41 da Lei n. 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência
doméstica contra a mulher, a Lei n. 9.099/95, mostra-se em consonância com o
disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o
Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares.
(STF, ADC 19, Relator o Ministro Marco Aurélio de Mello, Tribunal Pleno, julgado em
09/02/20121, DJe 080, publicado em 29/04/2014).
Enunciado 536 da Súmula do STJ – A suspensão condicional do processo e a
transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da
Penha.
II – Nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica, a palavra da vítima
possui especial relevância, uma vez que são cometidos, em sua grande maioria, às
escondidas, sem a presença de testemunhas. Precedentes. (RHC 115.554/RS, Rel.
Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE),
QUINTA TURMA, julgado em 01/10/2019, DJe 16/10/2019)
O entendimento acima prevê que a palavra da vítima tem uma relevância maior
do que em outros crimes, tendo em vista que esses fatos acontecem geralmente
dentro do lar, onde normalmente não se têm testemunhas. Trata-se de um
entendimento arriscado, por dar margem a pessoas de má-fé que podem se aproveitar
dessa situação para incriminar falsamente o companheiro.
Enunciado 589 da Súmula STJ – É inaplicável o princípio da insignificância nos
crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar
contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação
pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o
pagamento isolado de multa.
Obs.: É necessária alguma atividade que faça a pena ser percebida, que tenha
algum impacto mais prolongado que o financeiro.
Enunciado 588 da Súmula do STJ – A prática de crime ou contravenção penal
contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Agravante do Art. 61, II, f, e Bis in Idem
Art. 61, II, f. com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra
a mulher na forma da lei específica.
Obs.: Há bis in idem se aplicado junto com a qualificadora do feminicídio.
RECURSO ESPECIAL. RECURSO SUBMETIDO AO RITO DOS REPETITIVOS (ART. 1.036 DO
CPC, C/C O ART. 256, I, DO RISTJ). VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER. DANOS MORAIS. INDENIZAÇÃO MÍNIMA. ART. 397, IV, DO CPP. PEDIDO
NECESSÁRIO. PRODUÇÃO DE PROVA ESPECÍFICA DISPENSÁVEL. DANO IN RE IPSA.
FIXAÇÃO CONSOANTE PRUDENTE ARBÍTRIO DO JUÍZO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(STJ, Tema 983 dos Recursos Repetitivos)
Obs.: Dano presumido. O pedido pode ser tanto pelo MP quanto pela ofendida.
A reconciliação entre a vítima e o agressor, no âmbito da violência doméstica e
familiar contra a mulher, não é fundamento suficiente para afastar a necessidade de
fixação do valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração penal. (STJ,
REsp 1.819.504- MS, Rel. Min. Laurita Vaz, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
10/09/2019, DJe 30/09/2019, Info 657)

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