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LEI MARIA DA PENHA – LEI 11.

340/2006
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER
DELEGACIA ESPECIALIZADA DE ATENDIMENTO A
MULHER MONTES CLAROS/MG

 O porquê dessa denominação:


No dia 29 de maio de 1983, na cidade de Fortaleza/CE, Maria da Penha Maia
Fernandes, enquanto dormia, foi atingida por tiro de espingarda desferido por seu
então marido, M.A.H.V., colombiano de origem e naturalizado brasileiro. Em razão
desse tiro, Maria da Penha ficou paraplégica. O réu foi levado a júri em 1991, mas,
em virtude do número excessivo de recursos, apenas em setembro de 2002, portanto,
mais de 19 anos da prática do crime, foi o autor finalmente preso (condenado a 10
anos e seis meses de prisão). O caso “Maria da Penha” chegou ao conhecimento da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da Organização dos Estados
Americanos (OEA), através de denúncia feita pela própria Maria da Penha e por
outros órgãos. Em virtude de tal provocação, a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos publicou o relatório 54/2001.
o Neste, realizou-se uma profunda análise do fato denunciado,
apontando-se as falhas cometidas pelo Estado Brasileiro.
Ressaltou-se que a ineficácia judicial refletia a falta de
compromisso do Brasil, em reagir adequadamente, ante a
violência doméstica. Este relatório serviu como incentivo para
que se restabelecessem as discussões sobre o tema,
culminando, passados pouco mais de cinco anos de sua
publicação, com o advento, finalmente, da Lei 11.340/06,
batizada como LEI MARIA DA PENHA.
LEI 11.340/06

 Esta lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência


doméstica e familiar CONTRA A MULHER. Possui caráter
repressivo, preventivo e assistencial.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: CONCEITO

 Agressão contra MULHER, num determinado ambiente


(doméstico, familiar ou de intimidade), com finalidade específica
de retirar dela direitos, aproveitando da sua hipossuficiência.
 - ARTIGO 5º (vide artigo)

 “BASEADA NO GÊNERO” - Violência de gênero – é


aquela praticada pelo homem contra a mulher que revele
uma concepção masculina de dominação social
(patriarcado: modo de organização social que aponta
para a dominação masculina), propiciada por relações
culturalmente desiguais entre os sexos, nas quais o
masculino define sua identidade social como superior à
feminina, estabelecendo uma relação de poder e
submissão.
 No patriarcado, a violência de gênero contra a mulher
não se restringe ao espaço doméstico ou familiar.
Também ocorre, por exemplo, no trabalho com o assédio
moral e sexual. Contudo, a Lei 11.340/06 (Maria da
Penha) tipificou apenas aquelas que ocorrem na
relação de afetividade, ou seja, no espaço privado das
relações de gênero.
 Concebida para tutelar a MULHER em uma situação de
VULNERABILIDADE, no âmbito de uma relação
DOMÉSTICA, FAMILIAR ou ÍNTIMA DE AFETO.
É nesse sentido que seus dispositivos deverão ser
interpretados.
– ART. 4º: Para sua interpretação serão considerados os
FINS SOCIAIS a que se destina.
- ART. 5º -
ÂMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA: espaço de
convívio permanente de pessoas (com ou sem vínculo
familiar), inclusive as esporadicamente agregadas;
ÂMBITO DA FAMÍLIA: indivíduos que são
aparentados por laços naturais, por afinidade ou vontade
expressa;
RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO: convivência (atual
ou passada), independente de coabitação.
 SUJEITO PASSIVO: MULHER, independentemente da
orientação sexual. A maior parte da jurisprudência e
doutrina entende que não se aplica a lei para HOMEM,
ainda que transexual, pois a lei fala “contra a mulher”.
Evitar analogia “in malan partem”.

 SUJEITO ATIVO: Posição majoritária – pode-se aplicar


a lei para lésbicas, transexuais, transgêneros (de
identidade feminina); Posição minoritária – não se aplica
quando for MULHER X MULHER.
INFORMATIVOS DO STJ:
 Número 3 - “O sujeito passivo de violência doméstica objeto
da Lei Maria da Penha é a mulher, já o sujeito ativo pode ser
tanto o homem quanto a mulher, desde que fique
caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de
afetividade, além de convivência, com ou sem coabitação”;

 Número 5 – “Para a aplicação da Lei n. 11.340/206, há


necessidade de demonstração da situação de vulnerabilidade
ou hipossuficiência da mulher, numa perspectiva de gênero”;

 Número 6 – A vulnerabilidade, hipossuficiência ou


fragilidade da mulher têm-se como presumidas nas
circunstâncias descritas na Lei. 11.340/2006”.
 Independe da orientação sexual – não perde a proteção
especial a mulher que tiver orientação sexual diferente
da tradicional. Igualmente, não pode o homem agressor
eximir-se dos rigores da lei, invocando opção sexual
diferente. Entretanto, se o caso tratar-se de crime
praticado com violência doméstica, todavia, contra uma
vítima do sexo masculino, a Lei Maria da Penha não
pode ser aplicada, visto que a legislação especial trata
exclusivamente dos crimes cometidos contra a mulher
no âmbito doméstico e familiar (posição majoritária dos
Tribunais Superiores, mas há posições contrárias).
 Desde sua criação, a Lei Maria da Penha alcança não
apenas as mulheres que sofrem violência em
relacionamentos heterossexuais, mas também as
mulheres em relações homoafetivas que venham a passar
por algum tipo de violência e em que seja constatada a
situação de vulnerabilidade de uma das partes.
 Alguns juristas passaram a interpretar em suas decisões a
aplicação da lei também para outros gêneros que se
identifiquem como sexo feminino, conforme explica a
advogada Maria Berenice, vice-presidente do Instituto
Brasileiro de Direito de Família.
 “Em função dessa referência, também passou a se reconhecer
na Maria da Penha pessoas travestis e transexuais, já que as
que têm identidade de gênero do sexo feminino estariam ao
abrigo da lei. Esse alargamento ocorreu por parte da doutrina
e da jurisprudência”, pontua Maria Berenice.

 Atualmente, um projeto em tramitação na Câmara dos


Deputados quer tornar explícito essa aplicação no texto da
Lei. Trata-se do PL (8032/2014) que amplia a proteção para
pessoas transexuais e transgêneros.
OBSERVAÇÃO:

 HOMEM X MULHER – presunção absoluta de


vulnerabilidade.

 MULHER X MULHER – presunção relativa de


vulnerabilidade – a agressora tem que ocupar posição de
superioridade hierárquica, econômica, implicando
vulnerabilidade da outra parte (relação homoafetiva).
 ELEMENTO SUBJETIVO: Condutas dolosas e
culposas?
Art. 5º - “qualquer ação ou omissão baseada no gênero”
– implica: CONSCIÊNCIA + VONTADE de atingir uma
mulher em situação de vulnerabilidade – CRIMES
DOLOSOS .
 OS TRIBUNAIS SUPERIORES NÃO TÊM
ADMITIDO A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA PARA OS CRIMES CONTRA
A MULHER NO ÂMBITO DA LEI – EM RAZÃO
DA EXPRESSIVA REPROVABILIDADE,
PERICULOSIDADE SOCIAL. – Informativo n. 10
do STJ
FORMAS DE VIOLÊNCIA:
 Física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

“entre outras”
 1ª corrente: rol exemplificativo: fórmula
casuística + fórmula genérica;
 2ª corrente: taxativo: norma restritiva de direitos
– não pode ser interpretada extensivamente
TIPOS DE VIOLÊNCIA:
Física, psicológica, sexual, patrimonial, moral

 Física: uso da força, mediante socos, tapas, pontapés,


empurrões, arremesso de objetos, queimaduras, etc,
visando, desse modo, ofender a integridade ou a saúde
corporal da vítima, deixando ou não marcas aparentes;
 Psicológica: agressão emocional. Ocorre quando o
agente ameaça, humilha ou discrimina a vitima,
demonstrando prazer quando vê o outro se sentir
amedrontado, inferiorizado e diminuído;
 Sexual: qualquer conduta que constranja a vítima a
manter, presenciar ou participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso
da força;

 Patrimonial: qualquer conduta que configure retenção,


subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores;

 Moral: qualquer conduta que consista em calúnia,


difamação ou injúria.
EXAME DE CORPO DE DELITO
 A lei admite, em clara MITIGAÇÃO À PROVA (artigo
158 CPP), comprovação da materialidade da violência
física, através exclusivamente de laudos ou prontuários
médicos.
 RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO: Somente em
audiência especialmente designada pelo Juiz com tal
finalidade; necessidade de oitiva do MP; até o recebimento da
denúncia OBS: Em crimes de ação privada ou condicionada à
representação.

 *PROIBIDA A APLICAÇÃO DE PENAS PECUNIÁRIAS.

 *A LEI ALTERA O CPP PARA PERMITIR QUE O JUIZ


DECRETE A PRISÃO PREVENTIVA –
DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DAS MEDIDAS
PROTETIVAS.

 *PERMITE PRISÃO EM FLAGRANTE.


MEDIDAS PROTETIVAS – NATUREZA
JURÍDICA:
 Medidas cautelares.
 Não há contraditório: A lei dispõe expressamente que as
medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas
de imediato, independentemente de audiência das partes
e de audiência do MP, devendo este ser prontamente
comunicado.
 Polêmica: Lei n. 12.403/2011 inseriu o contraditório
prévio como regra no CPP. Portanto, não mais haveria
justificativa para tratamento desigual pela Lei Maria da
Penha.
 *CRIAÇÃO DOS JUIZADOS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER –
COMPETÊNCIA CRIMINAL E QUESTÕES DE
FAMÍLIA.

 *STF – ADIN 4.424 – LESÃO LEVE OU CULPOSA


NO ÂMBITO DOMÉSTICO OU FAMILIAR – AÇÃO
PÚBLICA INCONDICIONADA – POLÊMICA:
LESÃO CULPOSA – NÃO APLICABILIDADE DA
LEI 11.340/2006.
FEMINICÍDIO – LEI 13.104/2015
ART. 121, §2º, VI, do CP
O QUE É FEMINICÍDIO?

Feminicídio é o homicídio doloso praticado


contra mulher por “razões da condição do sexo
feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando,
desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher,
como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos
direitos do que as do sexo masculino.
 A Lei nº13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu,
expressamente, que o feminicídio deve agora ser punido como
homicídio qualificado.

 Foi acrescentado o inciso VI ao §2º do art.121 do CP.

 A Lei nº 13.104/2015 acrescentou um sexto inciso ao rol do §2º


para tratar do feminicídio:
Homicídio qualificado

§2º Se o homicídio é cometido:

VI – contra a mulher por razões da condição do sexo feminino:


Pena – reclusão, de doze a trinta anos.
 Sujeito Ativo
Pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum).
O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um
homem, mas também pode ser mulher.

 Sujeito Passivo
Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino
(criança, adulta idosa, desde que do sexo feminino).
RAZÕES DE CONDIÇÃO DO SEXO
FEMININO
O legislador previu, no § 2º - A do art.121, uma norma
penal interpretativa, ou seja, um dispositivo para
esclarecer o significado dessa expressão.

§2º-A Considera-se que há “razões de condição do sexo


feminino” quando o crime envolve:
 I- violência doméstica e familiar;

 II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR (INCISO I)
 Haverá feminicídio quando o homicídio for praticado contra
mulher em situação de violência doméstica e familiar. Lei
11.340/06.

Menosprezo ou discriminação à condição de mulher (inciso


II)
 Para ser enquadrado neste inciso é necessário que, além de a
vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi
motivado ou está relacionado com o menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.
Ex.: funcionário de uma empresa que mata sua colega de
trabalho em virtude dela ter conseguido a promoção em
detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não
estaria capacitada para a função.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
A Lei nº13.104/2015 previu também três causas de
aumento de pena exclusivas para o feminicídio:

§7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um


terço) até a metade se o crime for praticado:
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores
ao parto;
II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de
60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III – na presença de descendente ou ascendente da
vítima.
FUNCIONAMENTO DA DEAM:

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