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Em princípio, duas eram as principais preocupações quando o assunto era violência contra a
mulher: retirar a apreciação desses casos pelos Juizados Especiais Cíveis, haja vista o tipo de
aplicação de penas (multas ou fornecimentos de cestas básicas); e implementar a aplicação de
normas e procedimentos próprios para investigação e punição dos crimes cometidos contra a
mulher no seio familiar.
Durante muitos anos a violência contra mulher foi considerada algo “normal” aos olhos da
sociedade. Para muitos, o marido, companheiro ou namorado, pelo simples fato de serem os
homens da relação, tinham direito de tratar suas companheiras da forma que quisessem, afinal,
“em briga de marido e mulher, não se deve meter a colher”.
Tivemos penas brandas e os agressores se sentiam livres para repetirem os delitos, o que causava
às vítimas a sensação de impunidade e medo que a violência voltasse a acontecer de forma ainda
pior.
O que muitos não sabem, no entanto, é a origem dessa lei e a sua importância à proteção de
milhares de mulheres.
Maria da Penha é o nome da uma mulher, cearense e farmacêutica, que foi vítima de violência
doméstica por seu marido durante anos.
Em 1983, seu marido tentou matá-la com um tiro de espingarda. Em que pese tenha sobrevivido,
Maria da Penha ficou paraplégica. Não suficiente, quando voltou para casa, ela sofreu nova
tentativa de assassinato, quando seu marido tentou eletrocutá-la.
Quando finalmente Maria da Penha criou coragem para denunciar seu agressor, se deparou com
uma situação que muitas mulheres enfrentavam neste tipo de caso: a incredulidade por parte da
Justiça e outras autoridades.
Durante o processo, a defesa do agressor alegava sempre alguma irregularidade processual e ele
aguardava o julgamento em liberdade.
Em 1994, Maria da Penha lançou o livro “Sobrevivi…posso contar”, onde expõe as violências
sofridas por ela e por suas três filhas.
Além disso, resolveu acionar o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê
Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), órgãos que
encaminharam o seu caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização
dos Estados Americanos (OEA), em 1998.
Somente em 2002 seu caso foi solucionado, quando o Estado brasileiro foi condenado por
omissão e negligência pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Por esse motivo, o Brasil teve que se comprometer em reformular suas leis e políticas em relação
à violência doméstica e familiar, sobrevindo, em 2006, a promulgação da Lei n° 11.340.
Conforme dispõe seu artigo 5º, a Lei nº 11.340 é aplicada aos casos em que for configurada
violência doméstica e familiar contra a mulher, baseada em gênero, que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Importante frisar que ao se falar em violência, não estamos tratando apenas dos casos em que
envolvam lesões físicas, sendo também abarcadas pela lei as seguintes formas (artigo 7º):
I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal;
II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;
III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou
anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria.”
De conhecimento de todas as formas de violência sofridas pelas mulheres, previstas na Lei Maria
da Penha, a nossa legislação, entretanto, prevê alguns requisitos para a configuração da violência
doméstica. São eles:
Que a violência seja cometida em âmbito familiar ou doméstico, ainda que por pessoas
esporadicamente agregadas;
Seja cometida por alguém que possua relação íntima de afeto, seja por laços naturais (biológicos),
por afinidade ou por vontade expressa;
Sendo então configurada a violência doméstica, a Lei Maria da Penha prevê em seus artigos 10 a
12 as medidas imediatas a serem tomadas pela autoridade policial:
Art. 11 – (…)
III – fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando
houver risco de vida;
V – informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive
os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de
separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável.”
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da
ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem
prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
III – remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da
ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;
VI – ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes
criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais
contra ele;
VI-A – verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição
responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte.
VII – remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.”
No que tange à aplicação das penas, será necessário verificar em cada caso o tipo penal cometido
pelo agressor, devendo-se aplicar às normas previstas no Código Penal, Código de Processo
Penal, e as legislações específicas sobre os direitos da criança, adolescente e idoso, se for o caso.
Contudo, a Lei Maria da Penha prevê algumas penalidades disciplinadas como Medidas
Protetivas. São elas:
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade
particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
IV – prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II
e III deste artigo.”
Importante esclarecer que, em caso de descumprimento da Medida Protetiva Concedida, a Lei
Maria da Penha prevê pena de detenção de três meses a dois anos (artigo 24-A).
Com a pandemia do novo coronavírus, em 2020, muitos países apuraram aumento significativo
dos casos de violência doméstica.
No Brasil não foi diferente. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apurou
alta de quase 9% nas denúncias realizadas no Disque 180, destinado às denúncias de violência
doméstica. A Justiça do Rio de Janeiro divulgou que foram registrados 50% a mais de casos de
violência doméstica a partir do momento em que passou a ser aplicado o isolamento social.
No Brasil, as Delegacias de alguns estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal,
continuarão abertas 24h. Nas delegacias do Rio de Janeiro e de São Paulo, denúncias de violência
doméstica que não exigem colhimento de provas imediato (como exame de corpo de delito)
podem ser feitas virtualmente.
Além disso, em São Paulo foram criadas as Patrulhas Maria da Penha que irão monitorar
mulheres vítimas de violência doméstica. Pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, algumas
medidas estão sendo tomadas para aumentar a celeridade do atendimento destes casos, como
permitir a concessão de medidas protetivas em caráter de urgência sem a apresentação de Boletim
de Ocorrência por parte da vítima e a intimação por Whatsapp no caso de deferimento das
medidas.
No Rio, o atendimento nesses centros especializados será suspenso por 15 dias, exceto para casos
de urgência.
Há, ainda, alguns projetos de lei em tramitação, que visam buscar alterar a Lei Maria da Penha
para ampliar a divulgação do Disque 180 enquanto durar a pandemia.
O projeto propõe que, durante o período de estado de emergência pública decorrente do novo
coronavírus, toda informação exibida no rádio, televisão e internet que trate de episódios da
violência contra a mulher, seja incluído a menção expressa ao Disque 180.
Vale apontar também que muitas empresas do setor privado tem-se utilizado de suas imagens
para campanhas educativas e de denúncias dos agressores através das redes sociais.
A Lei 11.340, também conhecida como Lei Maria da Penha, foi sancionada em 2006 e seu
objetivo principal é coibir a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher e punir os
seus agressores.
A Lei 11.340 é aplicada aos casos em que for configurada violência doméstica e familiar contra a
mulher que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial.
Para a aplicação da Lei, a violência deve ter sido cometida em âmbito familiar ou doméstico; por
alguém que possua relação íntima de afeto, por laços naturais, afinidade ou vontade expressa; a
relação íntima de afeto seja independente de coabitação; e as relações pessoais independem de
orientação sexual.
CONCLUSÃO
Ditos tais pontos, pode-se concluir que a Lei Maria da Penha visa proteger as mulheres de todos
os tipos de violência sofrida em ambiente familiar, o que infelizmente acontece há muitos anos.
Observamos, ainda, que a Lei nº 11.340 prevê muitos mecanismos para sua efetiva aplicação. No
entanto, essa ainda não é a nossa realidade.
Considerando a situação de isolamento social, o aumento do convívio familiar fez com que
surgissem novos atritos entre os casais e o aumento do número de casos envolvendo violência
doméstica. Ainda assim, é sentida a sensação de impunidade aos agressores.
Por esse motivo, novas medidas estão sendo implantadas em alguns Estados brasileiros e,
novamente, há novos projetos de Lei para inclusão de pontos importantes à Lei Maria da Penha a
fim de atender a realidade.
Logo, podemos notar que, embora não 100% efetiva, estamos em constante busca para que, um
dia, esse assunto seja finalmente superado.