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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÉNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE ECONÓMIA E GESTÃO

LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Tema: O Impacto da Violência Doméstica na Sociedade Moçambicana

Nome do estudante: 1º ano

Célio Agostinho Lopes da Silva

Quelimane, Junho de 2020


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÉNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE ECONÓMIA E GESTÃO

LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Tema: O Impacto da Violência Doméstica na Sociedade Moçambicana

Trabalho a ser entregue no Instituto


Superior de Ciências e Educação à
Nome do estudante: Distância, Departamento de Economia e
Gestão, no curso de Administração
Célio Agostinho Lopes da Silva Pública, disciplina de Introdução ao
Estudo de Direito, para efeitos de
avaliação.
Docente: Dr.

Quelimane, Junho de 2020


Índice

1. Introdução.....................................................................................................................................1

1.1. Objectivos do trabalho...............................................................................................................1

1.1.1. Objectivo geral.......................................................................................................................1

1.1.2. Objectivos específicos............................................................................................................1

2. Referencial teórico........................................................................................................................2

2.1. Conceptualizações (Violência e Violência doméstica).............................................................2

2.2. O Impacto da Violência Doméstica...........................................................................................3

2.2.1. Vida individual e familiar.......................................................................................................4

2.2.2. A comunidade e a sociedade..................................................................................................4

2.3. Tipos de Violência frequentes na sociedade moçambicana, segundo GdM (2018)..................5

2.4. O Impacto da Violência Doméstica na Sociedade Moçambicana.............................................6

2.4.1.Tendências de Casos de Violência Doméstica na sociedade Moçambicana...........................8

3. Conclusão...................................................................................................................................12

4. Referências bibliográficas..........................................................................................................14
1. Introdução

Como forma de iniciarmos as notas introdutórias do presente trabalho, importa antes de mais
referir que a Constituição da República de Moçambique (CRM) consagra a igualdade de direitos
para homens e mulheres, nas esferas económica, social, política e cultural do País. No entanto, a
violência doméstica é vista como toda acção de violação dos direitos fundamentais do Homem,
praticada entre os membros que habitam num determinado ambiente familiar e pode acontecer
entre pessoas com laços de sangue (pais e filhos), ou unidas de forma civil (marido e esposa ou
genro e sogra). Assim, os actos de violência doméstica podem ter impacto na saúde física e
psíquica daquela pessoa que é vítima no momento da ocorrência da violência, assim como ter
reflexos na vida futura do indivíduo, no caso de ser uma criança, o reflexo ainda será maior, pois
uma criança que sofre violência na sua tenra idade, há probabilidades de que esta seja violenta
quando adulta. Neste sentido, incluem no rol da violência doméstica, o abuso sexual de menores
de idade e maus tratos aos idosos. Portanto, este trabalho discorre em torno do tema sobre o
impacto da violência doméstica na Sociedade Moçambicana, onde são descritos muitos aspectos
relacionados a este tema. Importa referir que antes do desenvolvimento dos aspectos que fazem
parte deste tema, faz-se menção as principais conceptualizações, tendo por base concepções
vigentes em Moçambique sobre a violência doméstica.

Em termos metodológicos, o trabalho foi realizado na base de uma análise documental e


bibliográfica em relação aos contornos da violência doméstica na sociedade Moçambicana.

1.1. Objectivos do trabalho

1.1.1. Objectivo geral

 Compreender o impacto da violência doméstica na Sociedade Moçambicana

1.1.2. Objectivos específicos

 Definir violência e violência doméstica;


 Identificar os impactos da violência doméstica;
 Descrever o impacto da violência doméstica na sociedade Moçambicana.

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2. Referencial teórico

2.1. Conceptualizações (Violência e Violência doméstica)

a) Violência

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora, 2000), violência é a “acção
ou efeito de empregar força física ou de uma intimidação moral contra (alguém); acto violento,
crueldade, força”. No aspecto jurídico, define-se o termo como “constrangimento físico ou
moral exercido sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem, coacção”.

Segundo Cavalcanti (2005), diz que violência refere-se ao acto de utilizar a força física ou não,
para obrigar outra pessoa a realizar algo contra sua vontade.

A definição da violência, segundo a OMS (2000), abarca o seguinte: “Manifestações de violência


de natureza física, sexual e psicológica que ocorrem na família e na comunidade em geral,
incluindo a agressão física, o abuso sexual de crianças, violação, mutilação genital da mulher e
outras práticas tradicionais lesivas das mulheres, violência não conjugal e violência relacionada
com a exploração de mulheres, prostituição forçada e violência perpetrada ou condenada pelo
Estado”.

Na sua visão, Felipe (1996), considera violência uma série de actos praticados de modo
progressivo com o intuito de forçar o outro a abandonar o seu espaço constituído e a preservação
da sua identidade como sujeita das relações económicas, políticas, éticas, religiosa e erótica
visando o controlo do outro, com aparente serviço da dominação.

A violência é um comportamento anti-social, cujas repercussões têm aumentado, sobretudo nas


comunidades mais jovens e entre pares, manifestando-se através de comportamentos
desajustados, com a pretensão de magoar, maltratar, humilhar ou causar dano a alguém física ou
psicologicamente (Ramírez, 2001). Apesar de todos termos uma ideia do que é a agressividade e
de como se manifesta, interessa sobretudo a este trabalho perceber quais as suas verdadeiras
causas. E nesta perspectiva, a violência é um modo específico de força, ou seja, exerce-se uma
coacção que se caracteriza frequentemente pelo emprego de meios físicos para afectar o outrem.

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b) Violência doméstica

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2017) violência doméstica é aquela que
ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou em uma relação de familiaridade, afectividade ou
coabitação.

Ainda de acordo com INE (2017) a violência doméstica é toda acção de violação dos direitos
fundamentais do Homem, praticada entre os membros que habitam num ambiente familiar e pode
acontecer entre pessoas com laços de sangue (pais e filhos), ou unidas de forma civil (marido e
esposa ou genro e sogra).

Assim, a nosso entender, a violência doméstica são acções que de certa forma tendem a ferir ao
outro, sendo actos que podem ser praticados por membro que habite na mesma casa ou não. Estes
actos de violência doméstica podem ter impacto na saúde física e psíquica da vítima no momento
da ocorrência, assim como ter reflexos na vida futura do indivíduo. Incluem no rol da violência
doméstica, o abuso sexual de menores de idade e maus tratos aos idosos.

2.2. O Impacto da Violência Doméstica

A violência doméstica causa um trauma de Tipo II, o chamado Distúrbio de Stress Pós-
traumático (DSPT), e as reacções podem durar por muito tempo, até anos. HERMAN (1992 cit
por Slegh, 2006) refere-se a mudanças complexas de personalidade que podem ser causadas por
experiências traumatizantes, duradouras ou contínuas, tal como o abuso sexual, o incesto e a
violência doméstica. Ela descreve várias categorias de sintomas tais como a somatização, as
mudanças na regulação do afecto e dos impulsos, a dissociação, mudanças na identidade,
mudanças na percepção do agressor, mudanças nas relações com os outros e mudanças na
percepção do sentido da vida. Finalmente, HERMAN (1992 cit por Slegh, 2006) afirma que a
depressão é a constatação mais comum em todos os estudos clínicos de pessoas cronicamente
traumatizadas.

Van der Kolk (2000 cit por Slegh, 2006) menciona que, nas crianças vítimas de abuso sexual e
nos casos de violação das mulheres por parceiros do sexo masculino, é frequente surgirem
reacções que se mantêm de forma duradoura. Uma mulher que é vítima de violência cometida
pelo seu marido ou parceiro íntimo está em alto risco de desenvolver problemas de saúde mental

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que a afectarão e atingirão também as suas crianças. Esses eventos perturbarão o seu
comportamento, a maneira como ela se relaciona com os outros, a percepção de si mesma e a sua
auto-estima, o seu espírito e o seu ser existencial.

2.2.1. Vida individual e familiar

O bem-estar e a saúde de uma mulher vítima de violência doméstica e/ou abuso sexual é
severamente afectado e perturbado por essas experiências. A sua saúde pessoal, o seu papel como
mãe, como esposa, como geradora de rendimentos ou como empregada, serão afectados. As suas
crianças estarão em alto risco de desenvolver um problema sério de saúde mental ou de se
tornarem vítimas ou perpetradoras na vida adulta. Isto cria um ciclo vicioso de violência.

Estudos feitos na área revelaram que crianças que vivem num ambiente doméstico em que há
abuso do cônjuge, correm um risco 1.500 vezes superior à média nacional de serem igualmente
vítimas de abuso (Van der Kolk, 2000 cit por Slegh, 2006). Segundo a OMS (2001 cit por Slegh,
2006) as crianças que são vítimas de violência ou de abuso sexual têm um risco elevado de elas
próprias se tornarem mais tarde perpetradoras de formas semelhantes de abuso em relação a
crianças mais novas. Testemunhar violência frequente na casa também pode contribuir para
desenvolver um comportamento agressivo: “Crianças jovens e agressivas, que chegaram ao ponto
de cometer um homicídio. Comprovou-se que o factor mais importante que contribuía para esses
actos de violência era ter um pai que se comportava de forma violenta e se revelava capaz de se
tornar um homicida” (Lewis et al, 1983 cit por Slegh, 2006).

2.2.2. A comunidade e a sociedade

O estudo da OMS (2005 cit por Slegh, 2006) que temos vindo a referir demonstrou que a
violência contra as mulheres está disseminada e profundamente entranhada, e que provoca um
sério impacto na saúde e no bem-estar das mulheres. Tal como se afirma nas suas conclusões: “A
sua permanência é moralmente injustificável e não pode haver defesa: os seus custos são enormes
para os indivíduos, para os sistemas de saúde e para a sociedade em geral. Nenhum outro
problema maior de saúde pública foi – até recentemente – tão vastamente ignorado e tão pouco
entendido”.

Eis aqui um breve resumo das recomendações feitas:

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 Reforçar os compromissos e as acções ao nível nacional
 Promover a prevenção primária
 Reforçar a resposta do sector de saúde
 Apoiar as mulheres que vivem em relações violentas
 Sensibilizar os sistemas de justiça
 Apoiar pesquisas.

2.3. Tipos de Violência frequentes na sociedade moçambicana, segundo GdM (2018)

Os dados estatísticos providos pelo Inquérito Demográfico de Saúde (IDS) de 2011, do Instituto
Nacional de Estatística (INE) são elucidativos da prevalência da violência, e de forma crítica a
violência física e sexual entre cônjuges.

a) Violência física

De acordo com o IDS 2011, um terço das mulheres (33%) em idade adulta alguma vez sofreram
violência física, independentemente da idade, nível de escolaridade, tipo de emprego, nível de
rendimento e estado civil. Entre os homens, esta incidência baixa para 25%. Tendo como
referência os últimos 12 meses do Inquérito, a incidência da violência contra as mulheres é 2.3
vezes mais alta (25%) do que entre os homens (11%). Por estado civil, a incidência da violência
física para ambos, homens e mulheres, concentra-se nas pessoas que já tiveram uma vida
conjunta (viúvos, separados ou divorciados) do que os que se mantêm numa relação (casados de
facto ou de juri). A incidência entre os solteiros é a segunda maior.

De acordo com o GdM (2018) o perpetrador da violência física contra a mulher tende a ser
alguém com quem ela teve uma relação amorosa: 62% das mulheres indicaram ser o actual
esposo/parceiro e 21% indicaram ser o ex-esposo/parceiro. Cerca de 14.5% é perpetrada pelo
padrasto ou madrasta. Esta situação difere significativamente no caso dos homens, embora a
maioria (56%) tenha também mencionado que o perpetrador da violência foi a actual ou ex-
esposa ou parceira, existem mais casos praticados por outros membros da família alargada ou por
pessoas sem nenhuma relação familiar: cerca de 28% indicou ter sido o padrasto ou a madrasta,
17% pelo irmão/irmã, 9% pelo familiar da parceira e 12% pela professora.

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Como se pode observar a partir destes dados ilustrativos do GdM (2018) a violência doméstica
em Moçambique atinge muito mais as mulheres, em relação aos homens.

b) Violência sexual

A violência sexual é também uma realidade em Moçambique, mas a sua incidência difere entre
homens e mulheres. 12% das mulheres contra 7% dos homens indicaram terem sido, alguma vez
na vida, vítimas da violência sexual. Para a actualidade (últimos 12 meses do inquérito) esta
percentagem é de 7% para mulheres e 5% dos homens de 15 a 49 anos de idade. Ela tende a ser
mais alta entre as mulheres de 20 a 39 anos de idade. Entre os homens, ela é mais alta a partir dos
25 anos de idade. No que concerne os menores de idade, segundo o GdM (2018) seria necessário
ter acesso a informação sobre menores de 15 anos de idade para ter uma visão mais real da
situação de violência sexual. Por enquanto, a informação disponível indica que esta abrange 4.5%
das raparigas e somente 0.8% dos rapazes dos 15 à 19 anos de idade.

Por província, para os últimos 12 meses, Sofala é que apresenta maior percentagem de casos de
violência sexual (13%) para as mulheres. Para os homens, a Província de Cabo Delgado é que
tem a maior incidência (26%). Tal como nos casos de violência física, a sexual tende a ser maior
entre os divorciados, separados ou viúvos (10% mulheres e 8% homens), e, entre os casados (7%
mulheres e 6% homens). O nível de escolaridade parece não ter relevância para a violência sexual
sofrida pelas mulheres, uma vez que a diferença de incidência entre as mulheres por grau de
escolaridade é muito pequena. Para os homens, a situação é um tanto ou quanto diferente uma
vez que ela tende a ser mais alta entre os homens que não atingiram nenhum nível de educação
(11%) do que os que alcançaram os níveis primário (3%) e o pós secundário (6%). Os tipos de
violência presentes em Moçambique não terminam aqui, mas veremos o real impacto da
violência doméstica na sociedade moçambicana com mais detalhes no tópico que se segue.

2.4. O Impacto da Violência Doméstica na Sociedade Moçambicana

Em termos gerais, na maioria dos países africanos a prática de violência doméstica é comum, e
Moçambique não é excepção, pois conta com mais de 25 mil casos de violência doméstica
reportados, com destaque violência doméstica contra mulheres e crianças. Este número de casos
reportados pode não corresponder a realidade, pois, muitas vítimas ainda preferem manterem-se

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em silêncio para proteger o agressor, ou por considerar a violência doméstica como uma situação
normal (INE, 2017).

O aumento de casos de violência doméstica reportados pode ser considerado como resultado das
intervenções que o Governo e a sociedade civil vêm realizando na consciencialização da
população sobre a denúncia de casos de violência doméstica.

Em Moçambique a prática de violência doméstica é crime e é punível por Lei nº 29/2009. A Lei
dá oportunidade ao Governo para assegurar a protecção das mulheres e das crianças contra a
violência em casa e nas comunidades. A lei exige maiores sanções para os transgressores e
confere ao Estado a obrigação de prestar assistência às vítimas (com serviços como o inquérito
policial e tratamento médico entre outros).

Na actualidade, as autoridades policiais são a principal fonte de dados sobre a violência


doméstica pois as vitimas têm-se dirigido para denunciar as ocorrências. Os serviços de saúde
também captam a informação, quando vítimas se dirigem para os cuidados e tratamento pós-
violência, que são posteriormente denunciados as autoridades policiais. O Instituto Nacional de
Estatística, através de inquéritos por amostragem, tem fornecido também informação sobre
violência doméstica (por exemplo: O Inquérito Demográfico e de Saúde (IDS) e o Inquérito de
Indicadores Múltiplos (MICS)).

A aceitação cultural da violência é uma das principais causas de violência doméstica. Algumas
formas de violência estão enraizadas em dinâmicas sociais discriminatórias e desigualdades de
género e práticas nocivas contra as mulheres e crianças. E segundo o Inquérito de Indicadores
Múltiplos (MICS, 2008), as atitudes de aceitação de violência doméstica são mais frequentes nas
áreas rurais que nas áreas urbanas. Nas áreas urbanas, muitas vezes persiste o princípio de que o
homem é o chefe da família, sendo portanto, o indivíduo que detém maior poder sobre a mulher,
e acima de tudo, sobre toda família (grifos do estudante). A mulher é assim muitas vezes
submissa ao seu marido ou ao homem, porque ela é nalgumas vezes educada como aquela que
deve fazer todas as vontades do marido.

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2.4.1.Tendências de Casos de Violência Doméstica na sociedade Moçambicana

De acordo com INE (2017) no período de 2014 a 2016, Moçambique apresentou aumento de
casos de violência doméstica reportados, ao passar de mais de 23 mil para 25 mil, o que resultou
também no aumento do rácio em cada 10000 pessoas (Gráfico 1).

Gráfico 1. Rácio de vítimas de violência reportados em cada 10 mil pessoas, Moçambique 2014-
2016

Fonte: Comando Geral da PRM – Departamento de Atendimento a Família e Menores Vitimas de Violência, 2014-2016

No geral, mais de 60 % de casos de violência doméstica foram reportados em adultos e 40 % em


crianças.

Segundo o Gráfico 2 o número de casos de vítimas de violência doméstica aumentou em 3% em


adultos e 15% em crianças.

Gráfico 2. Número de casos reportados de adultos e crianças vítimas de violência, Moçambique


2014-2016

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Fonte: Comando Geral da PRM – Departamento de Atendimento a Família e Menores Vitimas de Violência, 2014-2016

A seguir o Gráfico 3, mostra o número acumulado de casos de adultos e crianças vítimas de


violência doméstica de 2014 a 2016 por província, onde Nampula registou mais casos de crianças
vítimas de violência doméstica com um total de 5534, enquanto a Província de Tete registou
menos casos com 902 registos. As províncias de Sofala, Maputo e Cidade de Maputo, foram as
que registaram mais casos de violência doméstica em adultos com 6136, 5939 e 5583
respectivamente (INE, 2017).

Gráfico 3. Número acumulado de casos reportados de adultos e crianças vítimas de violência


segundo província, Moçambique 2014-2016

Fonte: Comando Geral da PRM – Departamento de Atendimento a Família e Menores Vitimas de Violência, 2014-2016

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A Constituição da República de Moçambique consagra a igualdade de direitos para homens e
mulheres, nas esferas económica, social, política e cultural do País. Muita literatura tem apontado
que na sociedade moçambicana, a mulher é uma das principais vítimas da violência doméstica,
por esta razão, o Estado Moçambicano aderiu à Convenção das Nações Unidas para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação Contra Mulheres (CEDAW), adoptou a Plataforma de
Acção de Beijing e ainda as Declarações relativas à Igualdade de Género e Promoção do Estatuto
das Mulheres, a nível do Continente e da Região, respectivamente na União Africana e na SADC.

De acordo com GdM (2018) um dos Objectivos Estratégicos da Declaração e Plataforma de


Acção de Beijing (DPBA) é adoptar medidas integradas para prevenir e eliminar a violência
contra as Mulheres, estudar as causas e as consequências da violência e a eficácia das medidas
preventivas, eliminar o tráfico de Mulheres e providenciar assistência às vítimas de violência
resultante da prostituição e tráfico.

Visto a violência doméstica ter impactos negativos na sociedade moçambicana, o GdM (2018)
decretou que a prevenção e combate a violência baseada no género constitui uma das prioridades
do Governo. Neste contexto, foi elaborado, o Plano Nacional para o Combate e Prevenção da
Violência contra a Mulher (2008-2012), cujas acções foram implementadas por instituições do
Estado, sociedade civil, instituições religiosas e parceiros de cooperação.

A título de exemplo, de acordo com o GdM (2018) a violência baseada no género é um obstáculo
à concretização dos objectivos da promoção da igualdade de género e autonomia das mulheres,
impede o desenvolvimento de uma sociedade harmoniosa, dificulta e anula o gozo dos direitos
humanos e liberdades fundamentais.

A nosso ver, em Moçambique, a violência contra mulher está associada aos estereótipos ainda
prevalecentes na sociedade, as assimetrias de poder, de cultura do patriarcado que condicionam
atitudes e identidades de masculinidade e feminidade que conduzem a perpétua desigualdade
entre homens e mulheres, como resultado de processos de socialização de mulheres e homens.
Esta situação exige uma profunda mudança de atitudes dos pais, mães, família, das lideranças
locais e da sociedade, a todos os níveis, com vista a cultivar uma educação e cultura de paz e
respeito para com as pessoas. Os casamentos prematuros constituem uma violação dos Direitos

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Humanos e perpetuam a pobreza, violência baseada no género, problemas de saúde reprodutiva e
perda de oportunidades de empoderamento das mulheres e raparigas.

Como pode-se observar, a violência na sociedade moçambicana tem um impacto negativo, as


evidências já foram apresentadas acima, mas é fundamental acrescentar que autores como Teles e
Minayo (2011) relatam que em Moçambique, a violência doméstica é indicada, como sendo um
dos principais agravantes das taxas de homicídio.

A sociedade civil moçambicana, representada por várias associações e organizações não-


governamentais como a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH), o Fórum Mulher,
Mulher Lei e Desenvolvimento, a Women and Law in Southern Africa (WLSA), a Associação das
Mulheres de Carreira Jurídica, só para citar referenciar, conscientes da realidade trazida pela
violência doméstica em Moçambique, conjuntamente envidam esforços para que oficialmente a
violência doméstica seja combatida.

Sendo a violência doméstica, uma prática com consequências ou impactos negativos, foi
elaborada a Lei 29/2009, uma vez que foi num longo processo de campanhas e debates
promovidos a nível nacional sobre o combate á violência doméstica contra a mulher que foi
elaborado um dispositivo legal exclusivamente virado para a luta contra a violência doméstica
praticada contra a mulher.

Segundo INE (2017) a elaboração da proposta de Lei contra a violência doméstica foi baseada
nos princípios defendidos na Constituição da República de Moçambique e na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, pois tanto a Constituição da República assim como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos defendem o princípio de igualdade de direitos entre
os homens e as mulheres.

Diz Andrade (2009), que várias pesquisas foram feitas tanto nas áreas urbanas assim como nas
áreas rurais de quase todo o país onde incluíram três dimensões de análise a saber: o direito
positivo, o direito consuetudinário e as práticas. E, dessas pesquisas foi possível constatar que:
“A informação obtida sobre violência contra as mulheres demonstrou tratar-se de um fenómeno
estruturante da manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e

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homens, que tem conduzido à dominação contra as mulheres e à interposição de obstáculos
contra o seu pleno desenvolvimento” (ANDRADE, 2009, p.14).

3. Conclusão

Este trabalho discorreu em volta da temática relacionada a violência doméstica, um tema muito
discutido na área académica, por ser uma temática que de certa forma tem impactos muito fortes
no mundo inteiro. Em busca de elementos factuais que nos pudessem ajudar a responder as
questões fazem parte do tema fez-se uma pesquisa documental e bibliográfica na qual diversas
consultas foram realizadas. Com o trabalho realizado, que tinha como objectivo central
compreender o impacto da violência doméstica na sociedade moçambicana, foi possível constatar
que as mulheres, crianças e idosos são as principais vítimas, especialmente a mulher, por ser uma
pessoa que dentro da família é submissa ao homem, fazendo com que seu papel como mãe não
seja valorizado.

O trabalho trouxe alguns dados relevantes que permitem compreender a violência doméstica na
sociedade moçambicana tem um impacto negativo, uma vez os dados apresentados neste
documento mostram as veracidades de situações que acontecem em todo o país. E sendo a mulher
uma das vítimas mais abordadas durante este trabalho, resta dizer que violência contra as
mulheres é uma violação básica dos direitos humanos e tem um poder extremamente destrutivo
para a comunidade e para a sociedade moçambicana. Não existe nada de natural na violência. E
como se pode ver, a violência não tem nada a ver com as normas culturais aceites. O aumento de

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violência nas famílias e nas comunidades pode ser sintoma de perda de controlo, de lutas contra
as mudanças dos papéis de género, de lacunas nos sistemas jurídico, económico e de saúde que
falham em estabelecer limites, de processos de aculturação, etc. Assim, enquanto a sociedade
moçambicana mantiver os olhos fechados para a violência contra as mulheres e as crianças, será
difícil a sua redução.

Terminamos o presente trabalho referindo que é fundamental que cada vez mais o Governo de
Moçambique invista esforços que essa problemática seja reduzida, porque cada dia tem muita
mulher que vê seus direitos fundamentais serem violados pelos homens.

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4. Referências bibliográficas

ANDRADE, X. (2009). Proposta de Lei Contra a Violência Doméstica: Processo e


Fundamentos. In: Outras Vozes, Maputo, nº 26, Abril de 2009. pp. 14-17.

CAVALCANTI, S. T. V. S. F. A Violência Doméstica como Violação dos Direitos Humanos.


2005. Disponível em <http://jus.uol.com.br/revista/texto/7753/a-violencia-domestica-como-
violacao-dosdireitos-humanos> Acesso em 10 Junho./2020

Dicionário Básico da Língua Portuguesa, 6.ª edição. Porto Editora, Porto, 2000.

FELIPE, S. Violência, agressão e força. In: FELIPE, S. & PHILIPI, J. N. O corpo violentado:
estupro e atentado violento ao pudor. Florianópolis, SC: UFSC, 1996.

GdM. (2018). Plano Nacional de Prevenção e Combate à Violência Baseada no Género, 2018-
2021. Maputo, Agosto de 2018.

INE. (2017). Estatísticas de Violência Doméstica 2014-2016. Editor: Instituto Nacional de


Estatística Direcção de Estatísticas Demográficas, Vitais e Sociais. Maputo.

TELES, N. & MINAYO, M. Alguns elementos de Contextualização da violência em


Moçambique (Cap. I). In: ASSIS, Simone (Org) et al. Impactos da Violência: Moçambique e
Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ensp/Claves, 2011. pp. 19-37.

RAMÍREZ, F. C. (2001). Condutas agressivas na idade escolar. Amadora: McGraw-Hill, Lda.


Tradução de Jorge Ávila de Lima.

SLEGH, H. (2006). Impacto psicológico da Violência contra as mulheres. Publicado em “Outras


Vozes”, nº 15, Maio de 2006.

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