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Índice
1. Introdução............................................................................................................................ 1
1. Objectivos............................................................................................................................ 1
2.3. Tipos de Violência frequentes na sociedade moçambicana, segundo GdM (2018) ........ 5
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1. Introdução
A violência doméstica é vista como toda acção de violação dos direitos fundamentais do
Homem, praticada entre os membros que habitam num determinado ambiente familiar e pode
acontecer entre pessoas com laços de sangue (pais e filhos), ou unidas de forma civil (marido
e esposa ou genro e sogra).
Assim, os actos de violência doméstica podem ter impacto na saúde física e psíquica daquela
pessoa que é vítima no momento da ocorrência da violência, assim como ter reflexos na vida
futura do indivíduo, no caso de ser uma criança, o reflexo ainda será maior, pois uma criança
que sofre violência na sua tenra idade, há probabilidades de que esta seja violenta quando
adulta.
Neste sentido, incluem no rol da violência doméstica, o abuso sexual de menores de idade e
maus tratos aos idosos. Portanto, este trabalho discorre em torno do tema sobre o impacto da
violência doméstica na Sociedade Moçambicana, onde são descritos muitos aspectos
relacionados a este tema.
1. Objectivos
1.2. Metodologia
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2. Impacto da violência doméstica na Sociedade Moçambicana
2.1.1. Violência
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora, 2000), violência é a “acção
ou efeito de empregar força física ou de uma intimidação moral contra (alguém); acto violento,
crueldade, força”.
No aspecto jurídico, define-se o termo como “constrangimento físico ou moral exercido sobre
alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem, coacção”.
Segundo Cavalcanti (2005), diz que violência refere-se ao acto de utilizar a força física ou não,
para obrigar outra pessoa a realizar algo contra sua vontade.
Na sua visão, Felipe (1996), considera violência uma série de actos praticados de modo
progressivo com o intuito de forçar o outro a abandonar o seu espaço constituído e a
preservação da sua identidade como sujeita das relações económicas, políticas, éticas,
religiosa e erótica visando o controlo do outro, com aparente serviço da dominação.
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2.1.2. Violência doméstica
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2017) violência doméstica é aquela
que ocorre em casa, no ambiente doméstico, ou em uma relação de familiaridade, afectividade
ou coabitação.
Ainda de acordo com INE (2017) a violência doméstica é toda acção de violação dos direitos
fundamentais do Homem, praticada entre os membros que habitam num ambiente familiar e
pode acontecer entre pessoas com laços de sangue (pais e filhos), ou unidas de forma civil
(marido e esposa ou genro e sogra).
Assim, a nosso entender, a violência doméstica são acções que de certa forma tendem a ferir
ao outro, sendo actos que podem ser praticados por membro que habite na mesma casa ou não.
Estes actos de violência doméstica podem ter impacto na saúde física e psíquica da vítima no
momento da ocorrência, assim como ter reflexos na vida futura do indivíduo. Incluem no rol
da violência doméstica, o abuso sexual de menores de idade e maus tratos aos idosos.
A violência doméstica causa um trauma de Tipo II, o chamado Distúrbio de Stress Pós-
traumático (DSPT), e as reacções podem durar por muito tempo, até anos.
Herman (1992 cit por Slegh, 2006, refere-se a mudanças complexas de personalidade que
podem ser causadas por experiências traumatizantes, duradouras ou contínuas, tal como o
abuso sexual, o incesto e a violência doméstica. Ela descreve várias categorias de sintomas
tais como a somatização, as mudanças na regulação do afecto e dos impulsos, a dissociação,
mudanças na identidade, mudanças na percepção do agressor, mudanças nas relações com os
outros e mudanças na percepção do sentido da vida.
Finalmente, Herman (1992 cit por Slegh, 2006) afirma que a depressão é a constatação mais
comum em todos os estudos clínicos de pessoas cronicamente traumatizadas.
Van der Kolk (2000 cit por Slegh, 2006) menciona que, nas crianças vítimas de abuso sexual
e nos casos de violação das mulheres por parceiros do sexo masculino, é frequente surgirem
reacções que se mantêm de forma duradoura. Uma mulher que é vítima de violência cometida
pelo seu marido ou parceiro íntimo está em alto risco de desenvolver problemas de saúde
mental" "que a afectarão e atingirão também as suas crianças. Esses eventos perturbarão o seu
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comportamento, a maneira como ela se relaciona com os outros, a percepção de si mesma e a
sua auto-estima, o seu espírito e o seu ser existencial.
O bem-estar e a saúde de uma mulher vítima de violência doméstica e/ou abuso sexual é
severamente afectado e perturbado por essas experiências. A sua saúde pessoal, o seu papel
como mãe, como esposa, como geradora de rendimentos ou como empregada, serão afectados.
As suas crianças estarão em alto risco de desenvolver um problema sério de saúde mental ou
de se tornarem vítimas ou perpetradoras na vida adulta. Isto cria um ciclo vicioso de violência.
Estudos feitos na área revelaram que crianças que vivem num ambiente doméstico em que há
abuso do cônjuge correm um risco 1.500 vezes superior à média nacional de serem
igualmente vítimas de abuso (Van der Kolk, 2000 cit por Slegh, 2006).
Segundo a OMS (2001 cit por Slegh, 2006) as crianças que são vítimas de violência ou de
abuso sexual têm um risco elevado de elas próprias se tornarem mais tarde perpetradoras de
formas semelhantes de abuso em relação a crianças mais novas.
O estudo da OMS (2005 cit por Slegh, 2006) que temos vindo a referir demonstrou que a
violência contra as mulheres está disseminada e profundamente entranhada, e que provoca um
sério impacto na saúde e no bem-estar das mulheres. Tal como se afirma nas suas conclusões:
“A sua permanência é moralmente injustificável e não pode haver defesa: os seus custos são
enormes para os indivíduos, para os sistemas de saúde e para a sociedade em geral. Nenhum
outro problema maior de saúde pública foi – até recentemente – tão vastamente ignorado e tão
pouco entendido”.
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2.3. Tipos de Violência frequentes na sociedade moçambicana, segundo GdM
(2018)
De acordo com o IDS 2011, um terço das mulheres (33%) em idade adulta alguma vez
sofreram violência física, independentemente da idade, nível de escolaridade, tipo de emprego,
nível de rendimento e estado civil. Entre os homens, esta incidência baixa para 25%. Tendo
como referência os últimos 12 meses do Inquérito, a incidência da violência contra as
mulheres é 2.3 vezes mais alta (25%) do que entre os homens (11%). Por estado civil, a
incidência da violência física para ambos, homens e mulheres, concentra-se nas pessoas que já
tiveram uma vida conjunta (viúvos, separados ou divorciados) do que os que se mantêm numa
relação (casados de facto ou de juri). A incidência entre os solteiros é a segunda maior.
De acordo com o GdM (2018) o perpetrador da violência física contra a mulher tende a ser
alguém com quem ela teve uma relação amorosa: 62% das mulheres indicaram ser o actual
esposo/parceiro e 21% indicaram ser o ex-esposo/parceiro. Cerca de 14.5% é perpetrada pelo
padrasto ou madrasta. Esta situação difere significativamente no caso dos homens, embora a
maioria (56%) tenha também mencionado que o perpetrador da violência foi a actual ou ex-
esposa ou parceira, existem mais casos praticados por outros membros da família alargada ou
por pessoas sem nenhuma relação familiar: cerca de 28% indicou ter sido o padrasto ou a
madrasta, 17% pelo irmão/irmã, 9% pelo familiar da parceira e 12% pela professora."
"Como se pode observar a partir destes dados ilustrativos do GdM (2018) a violência
doméstica em Moçambique atinge muito mais as mulheres, em relação aos homens.
A violência sexual é também uma realidade em Moçambique, mas a sua incidência difere
entre homens e mulheres. 12% das mulheres contra 7% dos homens indicaram terem sido,
alguma vez na vida, vítimas da violência sexual. Para a actualidade (últimos 12 meses do
inquérito) esta percentagem é de 7% para mulheres e 5% dos homens de 15 a 49 anos de
idade. Ela tende a ser mais alta entre as mulheres de 20 a 39 anos de idade. Entre os homens,
ela é mais alta a partir dos 25 anos de idade. No que concerne os menores de idade, segundo o
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GdM (2018) seria necessário ter acesso a informação sobre menores de 15 anos de idade para
ter uma visão mais real da situação de violência sexual. Por enquanto, a informação
disponível indica que esta abrange 4.5% das raparigas e somente 0.8% dos rapazes dos 15 à
19 anos de idade.
Por província, para os últimos 12 meses, Sofala é que apresenta maior percentagem de casos
de violência sexual (13%) para as mulheres. Para os homens, a Província de Cabo Delgado é
que tem a maior incidência (26%). Tal como nos casos de violência física, a sexual tende a ser
maior entre os divorciados, separados ou viúvos (10% mulheres e 8% homens), e, entre os
casados (7%mulheres e 6% homens). O nível de escolaridade parece não ter relevância para a
violência sexual sofrida pelas mulheres, uma vez que a diferença de incidência entre as
mulheres por grau de escolaridade é muito pequena. Para os homens, a situação é um tanto ou
quanto diferente uma vez que ela tende a ser mais alta entre os homens que não atingiram
nenhum nível de educação (11%) do que os que alcançaram os níveis primário (3%) e o pós
secundário (6%). Os tipos de violência presentes em Moçambique não terminam aqui, mas
veremos o real impacto da violência doméstica na sociedade moçambicana com mais detalhes
no tópico que se segue.
De acordo com INE (2017) no período de 2014 a 2016, Moçambique apresentou aumento de
casos de violência doméstica reportados, ao passar de mais de 23 mil para 25 mil, o que
resultou também no aumento do rácio em cada 10000 pessoas.
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preventivas, eliminar o tráfico de Mulheres e providenciar assistência às vítimas de violência
resultante da prostituição e tráfico.
Visto a violência doméstica ter impactos negativos na sociedade moçambicana, o GdM (2018)
decretou que a prevenção e combate a violência baseada no género constitui uma das
prioridades do Governo. Neste contexto, foi elaborado, o Plano Nacional para o Combate e
Prevenção da Violência contra a Mulher (2008-2012), cujas acções foram implementadas por
instituições do Estado, sociedade civil, instituições religiosas e parceiros de cooperação.
Esta situação exige uma profunda mudança de atitudes dos pais, mães, família, das lideranças
locais e da sociedade, a todos os níveis, com vista a cultivar uma educação e cultura de paz e
respeito para com as pessoas. Os casamentos prematuros constituem uma violação dos
Direitos" "Humanos e perpetuam a pobreza, violência baseada no género, problemas de saúde
reprodutiva e perda de oportunidades de empoderamento das mulheres e raparigas.
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Sendo a violência doméstica, uma prática com consequências ou impactos negativos, foi
elaborada a Lei 29/2009, uma vez que foi num longo processo de campanhas e debates
promovidos a nível nacional sobre o combate á violência doméstica contra a mulher que foi
elaborado um dispositivo legal exclusivamente virado para a luta contra a violência doméstica
praticada contra a mulher.
Segundo INE (2017) a elaboração da proposta de Lei contra a violência doméstica foi baseada
nos princípios defendidos na Constituição da República de Moçambique e na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, pois tanto a Constituição da República assim como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos defendem o princípio de igualdade de direitos
entre os homens e as mulheres.
Diz Andrade (2009), que várias pesquisas foram feitas tanto nas áreas urbanas assim como
nas áreas rurais de quase todo o país onde incluíram três dimensões de análise a saber: o
direito positivo, o direito consuetudinário e as práticas. E, dessas pesquisas foi possível
constatar que:
“A informação obtida sobre violência contra as mulheres demonstrou tratar-se de um
fenómeno estruturante da manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre
mulheres e "homens, que tem conduzido à dominação contra as mulheres e à interposição de
obstáculos contra o seu pleno desenvolvimento” (Andrade, 2009, p.14).
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3. Considerações Finais
Com o trabalho realizado, que tinha como objectivo central compreender o impacto da
violência doméstica na sociedade moçambicana, foi possível constatar que as mulheres,
crianças e idosos são as principais vítimas, especialmente a mulher, por ser uma pessoa que
dentro da família é submissa ao homem, fazendo com que seu papel como mãe não seja
valorizado.
O trabalho trouxe alguns dados relevantes que permitem compreender a violência doméstica
na sociedade moçambicana tem um impacto negativo, uma vez os dados apresentados neste
documento mostram as veracidades de situações que acontecem em todo o país. E sendo a
mulher uma das vítimas mais abordadas durante este trabalho, resta dizer que violência contra
as mulheres é uma violação básica dos direitos humanos e tem um poder extremamente
destrutivo para a comunidade e para a sociedade moçambicana. Não existe nada de natural na
violência. E como se pode ver, a violência não tem nada a ver com as normas culturais aceites.
O aumento de" "violência nas famílias e nas comunidades pode ser sintoma de perda de
controlo, de lutas contra as mudanças dos papéis de género, de lacunas nos sistemas jurídico,
económico e de saúde que falham em estabelecer limites, de processos de aculturação, etc.
Assim, enquanto a sociedade moçambicana mantiver os olhos fechados para a violência
contra as mulheres e as crianças, será difícil a sua redução.
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4. Referências bibliográficas
Felipe, S. (1996). Violência, agressão e força. In: FELIPE, S. & PHILIPI, J. N. O corpo
violentado: estupro e atentado violento ao pudor. Florianópolis, SC: UFSC.
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