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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
1.1. Objectivos .......................................................................................................................... 1
1.1.1. Objectivo Geral ........................................................................................................... 1
1.1.2. Objectivos Específicos ................................................................................................ 1
2. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 2
3. IMPACTO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL NA ECONOMIA NACIONAL ............... 3
3.1. Comércio Internacional ...................................................................................................... 3
3.2. Principais conceitos e definições........................................................................................ 4
3.3. Produto Interno Bruto (PIB), PIB por habitante e taxa de câmbio ..................................... 4
3.4. Exportações e Importações................................................................................................. 5
3.4.1. Exportações ................................................................................................................. 6
3.4.2. Importações ................................................................................................................. 6
3.5. Défice da balança comercial e dívida externa .................................................................... 8
3.6. Instituições de comércio externo ........................................................................................ 9
3.7. Análise das relações comerciais externas ......................................................................... 10
3.8. Características da Economia Moçambicana que Precisam ser Dinamizadas ................... 11
3.9. Corredores e o Comércio Internacional............................................................................ 12
3.9.1. Corredores dos Transportes ....................................................................................... 12
3.9.2. Corredores de Desenvolvimento ............................................................................... 13
4. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 15
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 16

Índice de Gráficos
Gráfico 1: Evolução da taxa de câmbio…………………………………………………5
Gráfico 2: Principais exportações - Proporção do total das exportações………………..6
Gráfico 3: Principais importações - Proporção do total das importações……………….7
Gráfico 4: Dívida Externa/PIB, Exportações/Dívida Externa, em percentagem………...9
1. INTRODUÇÃO

Na presente pesquisa, pretende-se analisar o impacto das relações comerciais externas


na economia moçambicana. Considerando ser o comércio externo o reflexo da estrutura
económica, da competitividade e das políticas económicas e públicas, em geral, esta
análise tem ainda como objectivo estudar a evolução da economia e sobre quais as
variáveis de comércio externo mais influenciam o crescimento económico.

Por outro lado a localização estratégica de Moçambique dentro da região da África


Austral confere a este um papel de vital importância na rede de prestação de serviços de
transporte e comunicações na região. Como país fornecedor de serviços ferroviários e
rodoviários de trânsito na África Austral, Moçambique posiciona-se como uma porta
privilegiada de acesso ao mar, de entrada e saída de mercadorias de e para vários países
vizinhos, os chamados países do Hinterland.

O trabalho está organizado em 5 capítulos: sendo o primeiro a introdução, o segundo a


descrição da metodologia utilizada na pesquisa, no terceiro capítulo faz-se a
apresentação do referencial teórico sobre o impacto do comércio internacional sobre a
economia moçambicana, no quarto capítulo apresenta-se as conclusões resultantes das
análises da pesquisa e no quinto capítulo, são apresentadas todas obras usadas e
consultadas na pesquisa.

1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo Geral

 Analisar o impacto do Comércio internacional sobre a Economia Moçambicana

1.1.2. Objectivos Específicos

 Avaliar evolução da balança comercial e o peso do comércio externo para o PIB


nacional
 Descrever algumas características da economia moçambicana que precisam ser
aprimoradas face ao comércio Internacional
 Analisar a importância dos Corredores dos transportes e de desenvolvimento
para o comércio Internacional

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2. METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se em uma análise do impacto do Comércio Internacional


para a economia moçambicana, feita através de uma pesquisa documental
(bibliográfica), sobretudo recorrendo a documentos governamentais oficiais e na
utilização de gráficos para melhor ilustrar os índices relativos à contribuição económica
do Comércio Internacional.

A metodologia aplicada baseou-se na análise e interpretação de fenómenos das


actividades relativas ao Comércio Internacional em Moçambique, sem neles interferir
para modificá-los, o que nos remete a uma pesquisa de carácter descritiva e meramente
qualitativa. Portanto, o intuito foi buscar o entendimento dos autores para melhor
esclarecimento sobre a temática analisada.

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3. IMPACTO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL NA ECONOMIA
NACIONAL

3.1. Comércio Internacional

Quando se fala em comércio a ideia que temos no imediato é a troca de mercadorias


entre duas pessoas singulares ou colectivas. Assume-se que o comércio está apenas
circunscrito à troca de mercadorias entre habitantes de um determinado país. No entanto
é mais que sabido que são poucos os países que não dependem do exterior; as trocas
comerciais com outros países entram no domínio do comércio internacional que
desempenha um papel importantíssimo (muitas vezes vital) para certos países, e não
poucos no mundo. (Munguambe, 2003)

Mesmo países com recursos naturais variados e uma indústria nacional bastante
desenvolvida (v.g. Inglaterra, Rússia, Estados Unidos, China, França, República Federal
da Alemanha) dificilmente poderiam sobreviver se fechassem as suas fronteiras ao
comércio inter-países. Tomando casos extremos como o dos Países Menos
Desenvolvidos, dos quais faz parte a República de Moçambique, podemos afirmar que
as relações económicas internacionais são o sustentáculo dessas economias.

Moçambique por exemplo depende muito (e de forma determinante) das importações,


subsídios, donativos e empréstimos em divisas para abastecer as populações em bens
duradoiros e de consumo corrente e para adquirir "inputs" (Ex: matérias-primas,
matérias subsidiárias, peças sobressalentes, "Kits" e outras componentes mais ou menos
acabadas) para pôr em funcionamento as nossas empresas e fábricas instaladas pelo país
fora.

É sabido também que grande parte dos produtos que fabricamos ou colhemos em bruto
destinam-se aos mercados estrangeiros onde obtemos os recursos financeiros (em
divisas) para pagar as nossas importações e as dívidas que contraímos.

Por outro lado a situação geográfica privilegiada do nosso país, a proximidade do mar e
a existência de naturais e bons portos fazem com que tenhamos uma economia
naturalmente aberta à prestação de serviços (transporte, carga e descarga) em benefício
dos países do "hinterland", casos do Zimbabwe, Malawi, Suazilândia, Lesotho, Zâmbia
e a própria África do Sul. Em condições normais (inexistência de guerra e infra-
estruturais portuárias reabilitadas) as receitas provenientes da prestação de serviços
deste tipo são as que permitem um certo desafogo na situação cambial de Moçambique.

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3.2. Principais conceitos e definições

Os conceitos aqui listados foram extraídos de INE (2017), que por sua vez teve como
base o Manual de Conceitos e Definições Estatísticas de Moçambique na sua primeira
revisão do ano 2013.

1. Comércio Internacional/Exterior/Externo: Exportação de mercadorias do país


de origem para países terceiros e/ou importação pelo país de mercadorias com
origem em países terceiros.
2. Importação de bens e serviços: Transferências de propriedade de bens e ou
serviços dos não residentes de um País aos residentes.
3. As estatísticas das importações abrangem:
4. Importação definitiva, na qual são incluídas todas as mercadorias cujo destino
final é Moçambique.
5. Importação temporária, em que se registam as entradas no País de bens com
vista à sua reexportação futura.
6. Reimportação, que inclui as entradas no País de mercadorias que tenham sido
objecto de exportação temporária, ou depois de terem sido objecto de operações
pouco significativas, que não tenham originado alterações substanciais.
7. Exportação de bens e serviços: Transferências de propriedade de bens
e/serviços prestados por produtores residentes de um País para os não residentes.
8. As estatísticas das exportações abrangem:
9. Exportação definitiva na qual são incluídas todas as mercadorias que não se
destinam a regressar ao País.
10. Exportação temporária em que se registam as saídas de bens do País, com
vista à sua reimportação futura.
11. Reexportação que inclui a saída do País de mercadorias que tenham sido
objecto de importação temporária, ou depois de terem sido objecto de operações
pouco significativas, que não tenham originado alterações substanciais.
12. País de origem: País ou território estatístico onde os produtos naturais foram
extraídos ou produzidos ou, tratando-se de produtos em obra, onde foram
fabricados.

3.3. Produto Interno Bruto (PIB), PIB por habitante e taxa de câmbio

O PIB e o PIB por habitante aumentaram de forma significativa e consistente ao longo


dos últimos 20 anos, exceptuando-se em dois períodos curtos, de 2008 a 2010 e de 2014
4
a 2016, devido, principalmente, à conjugação de dois factores: crise internacional,
primeiro, e crise da dívida, depois, reforçados por depreciações significativas da taxa de
câmbio do metical.

Os valores do PIB, em termos de USD, não são concordantes com os valores do PIB
calculado em meticais, sobretudo devido às valorizações dos bens e serviços em dólares
ou em meticais (comparação das fontes do Banco Mundial e do INE). As variações da
taxa de câmbio (gráfico 1), revelam a competitividade e a vulnerabilidade da economia
aos factores externos e seus efeitos sobre o mercado interno de divisas. A relação entre
o Metical e o Rand está também influenciada pelas situações de instabilidade e crises
internas da economia sul-africana, afectando o câmbio do Rand com outras moedas,
com as quais o Metical mantém paridade.

Gráfico 1: Evolução da taxa de câmbio

Fonte: Extraído de OMR (2021)

3.4. Exportações e Importações

No período entre 2001 e 2019, houve agravamento sistemático do défice da balança


comercial, portanto, apenas houve uma recuperação do défice em três anos (entre 2015
e 2017). Em relação ao PIB, tem existido um maior crescimento das importações que
das exportações. Em 2011 e 2014 houve um período de queda acentuada do défice com
recuperação até 2017 e uma nova queda depois de 2017. A demanda e a redução dos
preços internacionais dos principais bens exportados (carvão e alumínio) foram as
razões principais.

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3.4.1. Exportações

As principais exportações de bens agrícolas são: tabaco, algodão e castanha de caju.


Somente o primeiro produto revela um aumento das exportações. O aumento da
produção de tabaco resulta da ampliação do investimento das empresas (alargamento
das áreas em sistema de contratação com os camponeses) e primeira industrialização
local. Os principais bens exportados são o carvão mineral, o alumínio, o gás e a energia.
Todos apresentam crescimento, excepto o alumínio, que possui variações significativas,
o que é justificado pela volatilidade dos preços-

Os quatro principais bens exportados (alumínio, carvão, gás e tabaco) representaram,


cumulativamente, entre 2011 e 2019, cerca de 61% do total das exportações desse
período.

Gráfico 2: Principais exportações - Proporção do total das exportações

Fonte: Extraído de OMR (2021)

De notar que, dos cinco bens com maior peso na balança comercial, nenhum pertence ao
chamado grupo de bens tradicionais de exportação. A importância desses bens, resulta
de grandes investimentos recentes (“mega projectos”) que alteraram, de forma
significativa, a estrutura económica e as balanças comercial e de pagamentos.

3.4.2. Importações

As principais importações de bens de consumo alimentar são: o arroz, o trigo e óleos


alimentares, todos eles com tendência para aumentar.

As principais importações de bens não alimentares são: maquinaria para grandes


investimentos e construção civil em infra-estruturas públicas, combustíveis, materiais de
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construção, alumino bruto e automóveis, também com tendências crescentes, excepto os
automóveis. Os cinco bens mais importados representam aproximadamente 59% do
total das importações do total exportado entre 2001 e 2019.

As importações principais são bens de consumo final (arroz, trigo, óleos alimentares,
combustíveis e automóveis, e de consumo intermédio (alumínio bruto e materiais de
construção.

Gráfico 3: Principais importações - Proporção do total das importações

Fonte: Extraído de OMR (2021)

Os países com quem Moçambique possui mais comércio externo tiveram alguma
mudança durante o período analisado, ao que se pode designar de parceiros tradicionais
de comércio externo (África do Sul, que mantém a posição cimeira, Portugal e Estados
Unido). Surgem os Países Baixos (sobretudo devido ao alumínio), a China e a Índia.
Portugal perdeu a sua importância histórica natural, tendo ainda um ligeiro significado
nas importações (4,5% do total das importações entre 2011 e 2019). À excepção da
África do Sul, as relações externas de Moçambique são aparentemente diversificadas,
embora, tanto a origem, como o destino, dos principais bens transaccionados sejam
concentrados (por exemplo, alumínio, carvão, energia, tabaco, madeira, bens
alimentares perecíveis).

A tendência das últimas duas décadas mostra relações de troca desfavoráveis no


intercâmbio comercial externo (calculadas como a média ponderada dos preços dos
produtos exportados e importados ao longo do tempo), o que significa perda do poder

7
de compra real da economia moçambicana, confirmando a teoria da troca desigual de
Arghiri Emmanuel1.

Existem dois indicadores importantes de comércio externo. O primeiro, a taxa de


cobertura é o que traduz a relação entre as exportações e importações, isto é, em que
medida as receitas das exportações cobrem os gastos em importações. Este indicador
nunca foi, nas últimas duas décadas, igual ou superior a 100%, o que significa que as
exportações foram sempre inferiores às importações e a linha de tendência revela
decrescimento. O segundo indicador, a taxa de abertura da economia, representa o peso
das exportações mais as importações sobre o PIB. O valor deste indicador aumentou
entre 2011 e 2019. Esta proporção tem aumentado, com principal incidência sobre as
importações que representaram, nos últimos anos do período estudado, cerca de metade
do PIB.

Em síntese, a economia moçambicana está cada vez mais virada para o exterior,
reforçando a reconfiguração ou a continuidade da estrutura económica do país adiante
analisada.

3.5. Défice da balança comercial e dívida externa

O défice aumentou de forma sistemática durante as últimas duas décadas e possui níveis
elevados (cerca de 11% em 2019), o que significa o volume da dívida externa
relativamente à riqueza criada no país.

A dívida externa decresceu na primeira fase do período analisado e, a partir de 2011,


iniciou uma subida rápida, alcançando cerca de 70% do PIB nos últimos anos, o que é
considerado elevado. A relação entre exportações e a dívida externa revela, em parte, a
capacidade de pagamento da dívida. Nos últimos anos, depois da “crise das dívidas
ocultas”, a dívida externa é de cerca de 2,5 vezes superior às exportações.

De outra forma, embora as dívidas não sejam pagas no curto prazo, seriam necessários
2,5 anos de alocação de todo o valor das exportações para pagar a dívida externa.
Refere-se que a dívida externa possui três momentos distintos: de 2001 a 2010 com
decréscimo do valor, seguido de um aumento rápido até 2017, resultante dos grandes
investimentos privados (grandes projectos) e públicos (infra-estruturas), e, depois de
2017, uma diminuição como consequência da retracção de financiamentos externos,

1
Emmanuel, Arghiri (1973). Unequal Exchange: A Study of the Imperialism of Trade. 2nd ed. New York and London:
Monthly Review Press

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devido às dívidas ocultas e perda de credibilidade do país, quanto à sua capacidade de
assegurar os compromissos de pagamento e dos níveis de risco que colocaram o país na
categoria de “lixo” pelas agências de rating.

Gráfico 4: Dívida Externa/PIB, Exportações/Dívida Externa, em percentagem

Fonte: Extraído de OMR (2021)

3.6. Instituições de comércio externo

Vários são os aspectos que dificultam ainda mais os equilíbrios e as contas do comércio
externo e, consequentemente, da economia. Destaca-se apenas a
transparência/corrupção e actividades ilegais de bens exportados. O gráfico 18 revela a
diferença do volume de madeira exportada declarada e registada pelo Banco de
Moçambique e o que consta de importações da China de madeira de Moçambique,
estatísticas da FAO. (OMR, 2021)

Entre 2000 e 2017 o valor acumulado das exportações de madeira corresponde a cerca
de 39%, isto é, as receitas em divisas pela exportação da madeira correspondem a 39%
do valor exportado, segundo a FAO. Vários casos de contrabando e de exportação ilegal
de madeira são frequentemente apreendidas pelas autoridades moçambicanas, o que
indica a existência de redes de tráfico que podem, fundamentar as diferenças
observadas.

Se a esta realidade forem adicionados os valores do tráfico de marfim e cornos de


rinocerontes, da exportação de bens e serviços com qualidade declarada inferior
(traduzindo-se em menores receitas em divisas e de impostos), dos contratos com preços
abaixo do mercado internacional (caso do gás e de energia de Cahora Bassa exportada
para a África do Sul), das comissões e exportação ilegal de divisas, designadamente

9
para fins de financiamento do terrorismo, entre outras fugas de divisas, pode-se
depreender que o volume de divisas não arrecadadas pelo país é substancial. Estes e
outros aspectos revelam a importância de profundas reformas institucionais e do
combate à fraude e corrupção, que é mais profundo que as más práticas dos funcionários
das alfândegas e dos agentes da polícia.

3.7. Análise das relações comerciais externas

Dos dados apresentados (combinação da análise descritiva e dos resultados do modelo


econométrico), pode-se concluir os seguintes aspectos principais:

a) A economia cresce, mas, simultaneamente, aumenta o défice da balança


comercial, a dívida externa, diminui a taxa de cobertura e aumenta a abertura da
economia. Esta realidade significa que a economia está crescentemente virada
para o exterior (extroversão da economia – medida pela taxa de abertura, o que é
confirmado no modelo de regressão), tornando-se mais dependente, não só
devido a esta relação, como devido à natureza dos bens comercializados, que
reflectem uma economia importadora de alimentos e de bens de consumo não
alimentares e de matérias-primas, e exportadora de recursos naturais e de
commodities agrícolas com poucos efeitos multiplicadores internos (valor
acrescentado nacional).
b) Existem sinais de reestruturação da economia com o aumento da importação de
bens alimentares essenciais (sobretudo para o meio urbano) e com um crescente
défice na oferta interna (excepto o trigo, que sempre foi importado), o que traduz
uma menor oferta nacional comparativamente com a oferta interna total, sendo o
défice suprido pelas importações. No período analisado, surgem novos bens
exportados (alumínio, carvão, gás e tabaco); isto é, o extrativismo de recursos
naturais (minerais, energia, terra e trabalho) constitui uma das características
principais da economia, crescentemente especializada no sector primário;
c) O comércio externo está diversificado em termos de países de origem e de
destino, mas concentrado em termos de produtos, o que reflecte o investimento
externo, também concentrado no sector extrativo e na produção de commodities.
A economia está crescentemente afunilada em sectores intensivos em capital
(transformação do alumínio, carvão, gás e energia), pouco geradores de
emprego, com escasso valor acrescentado interno e, portanto, com poucas

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relações intersectoriais, e territorialmente concentrado e sem efeitos positivos na
vida dos cidadãos.
d) Em consequência desta evolução estrutural, a economia está assente numa base
social muito restrita, isto é, o crescimento não é inclusivo, gera mais pobreza,
produz crescentes desigualdades sociais e espaciais, e é atrofiador das pequenas
e médias empresas. A desindustrialização e a persistência da agricultura de baixa
produtividade (excepto em alguns produtos de exportação e de vegetais para o
abastecimento rural, produzidos por médias e grandes empresas) são
consequências directas do modelo de desenvolvimento e de crescimento.
e) Pelos resultados do modelo, constata-se que o tabaco e o algodão são as
produções exportadas com maiores efeitos sobre o PIB, o que pode ser
compreendido pelas seguintes razões: (1) milhares de camponeses estão
envolvidos na produção destas mercadorias aumentando os seus rendimentos
monetários e, com isso, os efeitos multiplicadores nas economias locais por
aumento gerado pela procura de bens e serviços; (2) são produtos que sofrem
alguma transformação interna para facilitar as exportações.
f) A evolução da economia moçambicana revela a forte sensibilidade a choques da
economia e do comércio internacional (reflexo das crises internacionais e da
volatilidade dos preços), particularmente com influência sobre a taxa de câmbio,
o investimento externo, a ajuda da cooperação internacional e as receitas das
exportações, o orçamento geral do Estado, entre outros aspectos.

3.8. Características da Economia Moçambicana que Precisam ser Dinamizadas

As principais características da economia moçambicana que necessitam ser ajustadas


são as seguintes:

a) A estrutura produtiva sectorial, social e espacialmente concentrada, com


investimentos intensivos em capital e com limitados efeitos sobre a pobreza e a
vida dos cidadãos, em particular daqueles que vivem nas zonas de intervenção
do capital, torna necessário que a transformação estrutural incida na agricultura,
na industrialização (principalmente da indústria alimentar), na indústria de
construção, na energia e no turismo, com produção de bens e serviços
principalmente para o mercado interno (substituição de importações), o que
contribuiria para a redução da pobreza, a criação de emprego e o
desenvolvimento de pequenas e médias empresas.

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b) O aprofundamento de um padrão de acumulação centrado no exterior em
consequência da extroversão da economia, o predomínio do investimento
externo em fases primárias de cadeias de valor verticalizadas, sem criação de
relações intersectoriais e não promotoras de pequenas e médias empresas e de
emprego, significa que apenas a criação de um tecido empresarial de pequena e
média dimensão nos sectores referidos pode gerar um padrão de acumulação e
cadeias de valores endógenas, criando poupanças e capacidade de investimento
interno.
c) A forte dependência externa e limitada capacidade de resistência a choques da
economia e comércio internacional, bem como a mudanças climáticas, implica
que a alteração desta realidade só será possível com a priorização dos sectores
mencionados, a emergência do tecido empresarial que substitua importações, os
incentivos às exportações e internalização das cadeias de valor.

3.9. Corredores e o Comércio Internacional

3.9.1. Corredores dos Transportes

De acordo com Chichava (2005)2, os corredores de transportes, são as rotas e infra-


estruturas de transporte ligando um ponto a outro através de vários tipos de transportes
de carga ou de passageiros, para o hinterland e vice-versa, por via ferroviária e
rodoviária. Esses corredores apresentam um grande potencial em termos de arrecadação
de receitas e atracção de investimentos. O transporte ferroviário é o que maior peso
arrecada na avaliação integrada dos factores e actividades que constituem um Corredor
de Transportes mas, podem ocorrer casos em que o transporte de maior preponderância
seja o rodoviário ou marítimo.

Nos anos 80, com a formação da Comissão de Transportes e Comunicação da África


Austral (SATCC) e com o consequente acesso ao financiamento internacional,
Moçambique tinha ao seu dispor os meios económicos necessários para a reconstrução
dos sistemas de transportes e comunicação. Assim surgiram no país os corredores de
transportes de Maputo, Limpopo, Beira e Nacala.

Neste contexto, foi dada à SATCC a responsabilidade principal a de desenvolver as


actividades e projectos no âmbito dos transportes e comunicações em particular,
nomeadamente a reabilitação de todas as infra-estruturas de transportes, a reabilitação

2
Doutor José Chichava do capítulo sobre sector de transportes em Moçambique.

12
das frotas dos vários modos de transportes, a modernização e expansão das redes de
telecomunicações e a formação técnico-profissional. No entanto, os investimentos
realizados nos corredores de transportes nos anos 80 na época da SADCC foram
subutilizados e as receitas de transportes que se prognosticaram não ocorreram devido à
situação de desestabilização militar e económica provocada no nosso país pelo regime
do apartheid da África do Sul (Chichava, 2005:7).

Como forma de dar continuidade aos projectos em curso, em situação de paz


preconizada a partir de 1992, os corredores de transportes, dentro das Iniciativas de
Desenvolvimento Espacial, foram transformados em corredores do desenvolvimento
como principais artérias de expansão do desenvolvimento económico e de atracção do
investimento privado em parceria com o sector público.

3.9.2. Corredores de Desenvolvimento

Os Corredores de Desenvolvimento foram concebidos na perspectiva de, não só


permanecerem unicamente como facilitadores do comércio internacional dos países do
hinterland, mas também contribuírem no desenvolvimento do país a partir de dentro
com a criação de novos empregos, equilíbrio da Balança de Pagamentos, etc.

Os corredores de desenvolvimento não são apenas as vias de comunicação como as


linhas férreas e as estradas que ligam os nossos portos do Índico aos países do
hinterland. São sobretudo as Iniciativas de Desenvolvimento Espacial que, como o
nome indica, inspiram o desenvolvimento integrado e harmonioso de todos os espaços
ao longo de tais linhas de comunicação numa largura de dezenas de quilómetros de cada
lado delas e vão muito para além da fronteira chegando a unir três países como são os
casos dos corredores de Nacala e de Mtwara no norte de Moçambique.

O conceito de Corredor de Desenvolvimento (CD) não é algo novo. As questões


regionais no planeamento e desenvolvimento económico, conduziram a que vários
governos perseguissem estratégias que ligassem áreas geográficas com interesses
comuns (o exemplo de governos da Comunidade Para o Desenvolvimento da África
Austral, COMESA).

Ngwenya, citado por Abdulremane (2006), o Corredor de Desenvolvimento não é algo


físico, é um conceito económico, é toda a ligação de infra-estruturas, isto é, linhas
férreas e telecomunicações que estão conectadas ao porto.

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No sentido restrito, os Corredores de Desenvolvimento, representam as linhas de
caminhos-de-ferro, estradas, que através das ligações com os portos, tornam possível a
saída para o mar (normalmente também consideram-se as estradas que ocorrem ao
longo dos caminhos de ferro).

No sentido lato, um Corredor de Desenvolvimento é uma ligação geográfica


estabelecida com base numa política específica com o propósito expresso de propiciar o
desenvolvimento económico em determinadas zonas. Os Corredores de
Desenvolvimento são muito abrangentes não só pela sua área física mas também pelo
número de actividades económicas aí desempenhadas e são extremamente importantes
para a economia moçambicana pois permitem tirar proveito da localização estratégica
do país arrecadando receitas dos serviços de transportes provenientes dos países sem
acesso ao mar. Além disso, o grande número de projectos a volta da linha de transportes
contribui directamente para a rápida industrialização do país, aumento dos postos de
emprego e dinamização da economia em geral.

O impulso ao crescimento e desenvolvimento de qualquer economia passa pela abertura


ao mercado global, de forma a permitir a aquisição de tecnologia, bens de capital e
ideias que os suportem. É por esta via que os governos das diferentes nações procuram
encontrar políticas económicas que impulsionem a geração de divisas, emprego,
competitividade industrial, bem como a atracção de investimento directo estrangeiro e o
estímulo de sectores estratégicos (tais como industrial, incluindo a dos transportes).

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4. CONCLUSÃO

A análise do comércio externo revela a importância deste sector na economia devido ao


peso que possui, sobretudo das importações (bens de consumo final e bens intermédios)
e na formação e evolução do PIB.

A economia nacional possui uma poupança interna muito baixa, o investimento depende
principalmente de capitais externos que se dedicam às produções para exportações
integradas em cadeias de valor verticalizadas e externalizadas, concentrado na extracção
de recursos naturais e na exploração da terra e do factor trabalho para a produção de
commodities, aumentando a natureza extrovertida da economia com aprofundamento da
especialização produtiva no sector primário, o que constitui característica das
economias subdesenvolvidas.

Nas últimas duas décadas, e por consequência do investimento estrangeiro, assiste-se a


mudanças na estrutura económica e do comércio externo, com afunilamento sectorial e
espacial do crescimento, concentração do comércio externo por países de origem e
destino dos principais bens e serviços, gerando mais pobreza e desigualdades sociais.

Em síntese, o comércio externo contribui para o afunilamento sectorial e espacial da


economia e para a especialização produtiva no sector primário, configurando uma
economia extractiva e extrovertida, e, portanto, dependente. O padrão não inclusivo
aprofunda-se com geração de mais pobreza e de desigualdades sociais e territoriais.

Os resultados do modelo, combinados com a análise descritiva, suportada pelos


gráficos, podem indicar os focos sectoriais a incentivar de modo a se gerar um
crescimento mais endógeno (menos dependente, crescentemente assente na poupança e
no investimento interno, mais inclusivo e com efeitos na redução da pobreza).

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Abdulremane, N. A (2005). Avaliação Socio-Económico do Porto de Nacala. Nacala

2. Chichava, José (2005), Caderno de apontamentos da Disciplina de Economia de


Moçambique: Capítulo sobre o sector de transportes em Moçambique. Maputo

3. INE (2017), Estatísticas do Comércio Externo de Bens – Moçambique. INE, Maputo.

4. INE (2013- 2014), Estatísticas do Comércio Externo de Bens – Moçambique. INE,


Maputo.

5. OMR (2021). Comércio Externo e Crescimento Económico em Moçambique.


Observador Rural Nº 106. Extraído

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