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Considerações gerais da adopção do PGC-NIRF em Moçambique

As NIRFs no contexto internacional


Nos padrões globais de contabilidade encontramos 41 normas denominadas IAS (International Accounting Standards), que em
português significa, normas internacionais de contabilidade (NIC), desenvolvidas pela antiga IASC (International Accounting
Standards Committee) e as respectivas 32 interpretações denominadas SIC (Standard Interpretation Committee). O IASC foi
transformado em IASB (International Accounting Standards Board) e nesta nova versão, o organismo desenvolveu 17 normas
denominadas IFRS (International Financial Reporting Standards) que em português significa, normas internacionais de relato
financeiro (NIRF) e respectivas 23 interpretações denominada IFRIC (International Financial Reporting Interpretation
Committee).
As normas de contabilidade (IAS/IFRS) são as normas contabilísticas que definem os critérios de mensuração e as formas
de registar e classificar os eventos económicos e financeiros que ocorrem nas empresas, assim como apresentam os
requisitos mínimos de divulgação para a compreensão destes eventos e seus impactos sobre a posição patrimonial e
financeira das empresas, assim como o desempenho das operações e dos fluxos de caixa.
Normas internacionais são critérios objectivos de conceituações e procedimentos na tecnologia contabilísticas dos registos,
demonstrações e informações, emanados de entidades de representatividade internacional, visando a uniformidade de
procedimentos gerais António Lopes de Sá e Ana Maria Lopes de Sá (2009:327).
Quando o organismo produz uma norma de contabilidade, por vezes, pode haver dificuldade de percepção do seu
conteúdo, tornando-se assim difícil a sua aplicação prática. Por isso, o organismo é solicitado a emitir interpretações mais
específicas sobre alguns assuntos abordados nas normas. A estas interpretações dá-se, actualmente, o nome de IFIRC por
sucessão de SIC.
Em suma, as normas de contabilidade que foram desenvolvidas e publicadas pelo IASC são denominadas IAS e existem
41. As que estão sendo desenvolvidas e publicadas pelo IASB são denominadas IFRS e existem 17 até então (2021). Nas
nossas discussões e explicações, sempre que nos referimos a IFRS incluímos, também, as IAS.
O maior objectivo das normas internacionais de contabilidade é uniformizar as práticas contabilísticas entre países, de
modo que, os relatórios contabilísticos emitidos por diversas entidades em diferentes países sejam comparáveis.
As normas de contabilidade são usadas pelos Contabilistas Certificados e Auditores Certificados como fontes de consulta
no tratamento de várias matérias de contabilidade, de modo a aplicar procedimentos uniformizados em todo o mundo.

Momento de adopção do PGC-NIRF (calendarização) em Moçambique


História da contabilidade em Moçambique
Devido a escassez de informações mais ricas e retrospetivas, assume-se que, as práticas de contabilidade em Moçambique
datam de 1984 com o surgimento do Plano Geral de Contabilidade (PGC), aprovado pela Resolução do Conselho de
Ministros nº 13/84 de 14 de dezembro (comentado por DALVA BRITO na edição de 1999) o qual era de aplicação
obrigatória pelas empresas sediadas no país com exceção das que exerciam atividades nos ramos bancário e segurador que
dispõem até então, de planos de contabilidade próprios. É no PGC que estão contemplados os princípios de normalização
da contabilidade, existindo outra legislação que contempla o PGC, designadamente no que respeita a: amortizações,
provisões e reavaliação dos ativos fixos. O Código do Imposto Sobre os Rendimentos (CIRPC), também contempla
algumas disposições com impacto na contabilidade das empresas.
Por necessidade de uma crescente harmonização contabilística, Moçambique viu-se obrigado a reformular este PGC, seja
pelo crescimento da economia ou pela mudança da própria conjuntura político económica do país pois, já não fazia sentido
manter um plano de contas que para além de não ir ao encontro das normas internacionais de contabilidade, mostrava-se
fora do contexto empresarial do próprio país. Foi por isso que, em 2006 foi aprovado o novo PGC pelo Decreto nº
36/2006 de 25 de julho, que viria a entrar em vigor no dia 01 de janeiro de 2007, continuando com a mesma estrutura,
embora com algumas alterações e tendo como princípio básico as partidas dobradas.
A internacionalização da economia e a globalização dos negócios suscitam a necessidade de criação de uma linguagem
contabilística comum, de interface, que permita preparar, consolidar e interpretar, de forma padronizada e inequívoca,
conceitos, critérios valorimétricos e procedimentos que emergem das boas e tecnologicamente modernas práticas
internacionais de contabilidade e auditoria o que levou Moçambique a ter que adotar as Normas Internacionais de Relato
Financeiro Contabilidade (NCRF) baseadas em IFRS e IAS emitidas pelo IASB. A referida adoção significou a revisão do
Plano Geral de Contabilidade até então em uso, tendo sido concebido uma nova versão através do Decreto 70/2009.
Acredita-se que as NCRF permitirão maior transparência e comparabilidade da informação financeira, entre os diferentes
atores de negócio.
Resolução do Conselho de Decreto 70/2009 de 22 de
Decreto nº 36/2006 de 25 de
Ministros nº 13/84 de 14 de dezembro
julho
dezembro Entrada em vigor:

3ª Versão do Plano Geral de


1ª Versão do Plano Geral de 2ª Versão do Plano Geral de
Contabilidade (SCE) Baseado em
Contabilidade Contabilidade
Normas Internacionais

Entrada em vigor: 01 de janeiro Entrada em vigor: 01 de janeiro Entrada em vigor:


de 1985 de 2007 Empresas de grande dimensão: 01 de
janeiro de 2010;
Empresas de pequena e média
dimensão: 01 de janeiro de 2011

Em termos de modelos de demonstrações financeiras, na 1ª versão do PGC, no balanço, os elementos do primeiro


membro eram dispostos por ordem crescente de liquidez (do mais líquido para o menos líquido) e o segundo membro era
disposto em ordem decrescente de exigibilidade (do exigível a curto prazo para o exigível a médio e longo prazo).

Na 2ª versão, a situação foi alterada, os ativos eram dispostos em ordem decrescente de liquidez e os elementos do segundo
membro eram dispostos pela ordem crescente de exigibilidade. Este cenário prevalece até a na 3ª versão do PGC.

Diferenças em termos de codificação são notáveis, sendo a última versão muito mais bem detalhada relativamente as
precedentes. Em todas as versões advoga-se a escrituração seguindo o método de partidas dobradas.

O Sistema de Contabilidade para Setor Empresarial em Moçambique (SCE)


A 3ª versão do PGC integra dois planos de contabilidade, o PGC-PE destinado a pequenas empresas e o PGC-NIRF
destinado a empresas de grande e média dimensão.
A Tabela 9 a seguir apresenta os critérios de classificação de empresas segundo o SCE:
Nível de Subordinação
Indicador PGC-PE PGC - NIRF
Pequena Empresas Empresas Médias Grande Empresas
Menor que 500
Igual ou Superior a 500 Igual ou Superior a 1,275
milhões
Rendimentos/Receitas
milhões de MZN e inferior a 1,275 milhões de
de MZN milhões de MZN
MZN
Menor que 500 Igual ou Superior a 500 milhões de MZN e Igual ou Superior a 1,275
Activo Líquido
milhões de MZN inferior a 1,275 milhões de MZN milhões de MZN
Número de
Menor que 250 Igual ou Superior a 250 e inferior a 500 Igual ou Superior a 500
Empregados

Para que uma empresa seja classificada como pequena, média ou grande não necessita de reunir cumulativamente os
requisitos dos três indicadores apresentados na Tabela 09. Basta reunir as condições de dois dos três indicadores
apresentados. Assim, o PGC-PE é aplicado nas pequenas empresas que não ultrapassam dois dos três limites indicados.
Se uma pequena empresa, no ano n ultrapasse dois dos limites indicados, no ano n+1 passa para a categoria de média
empresa e será subordinada ao PGC-NIRF. Antes de iniciar com as operações de um determinado exercício económico,
a empresa deve analisar os indicadores do exercício anterior para determinar qual o plano deverá aplicar. Para empresas
que iniciam suas actividades, e que de facto não tiveram operações no ano anterior, devem analisar os indicadores patentes
nas suas previsões (plano de negócio) e assim poderão determinar o plano a aplicar.

O SCE é um modelo de normalização contabilística assente em princípios e regras baseadas nas Normas Internacionais
de Relato Financeiro (NIRF), subordinado a uma estrutura conceptual com vista à comparação e compreensão das
informações e dados recolhidos pelas entidades que adotem as normas quer estas entidades sejam nacionais ou estrangeiras.
A normalização contabilística tem objectivos bem definidos assentes na definição de regras de mensuração (formas de
quantificar os elementos das demonstrações financeiras) e de reconhecimento (determinação dos elementos que devem
constar das demonstrações financeiras), contribuindo para uma melhoria qualitativa e do nível de transparência da
contabilidade das empresas.

Plano Geral de Contabilidade para Pequenas Empresas (PGC-PE)


Para efeitos de consistência técnica, o PGC-PE é um normativo cuja estrutura se baseia nos conceitos contabilísticos
previstos no PGC-NIRF. Contudo, estabelece um conjunto de regras de reconhecimento, de mensuração e de
apresentação de muito mais fácil aplicação e de simples entendimento.
O PGC - PE não é aplicável às seguintes entidades:
• As empresas públicas ou empresas de capitais maioritariamente públicos;
• As sociedades cujos títulos estejam cotados na Bolsa de Valores de Moçambique ou aquelas cujos títulos
estejam cotados em qualquer outra bolsa de valores, desde que estas tenham a sua sede em Moçambique;
• Instituições e empresas dos setores bancários e de seguros sujeitas aos Planos de Contas para as actividades
bancárias e seguradora, nos termos da respectiva legislação.
O PGC-PE contém, o quadro conceptual que define os conceitos, objectivo, características e componentes das
demonstrações financeiras, bem como conceitos básicos de reconhecimento e mensuração desses elementos e as normas
de contabilização que definem as regras de contabilização dos factos patrimoniais (reconhecimento, mensuração e relato).
O PGC-PE é de aplicação obrigatória para todas as empresas que se encontram abrangidas pelo âmbito de aplicação do
Plano Geral de Contabilidade, aprovado pelo Decreto n.º 36/2006, de 25 de Julho, e que não se enquadrem em qualquer
das situações previstas nos números anteriores.

O PGC - PE entrou em vigor no exercício económico que iniciado em 1 de janeiro de 2011 e trouxe notáveis alterações
em codificação de contas, detalhes e apresentação da informação financeira.

Plano Geral de Contabilidade Baseado em Normas Internacionais (PGC-NIRF)


De acordo com as descrições emanadas no Decreto 70/2009, o novo Plano Geral de Contabilidade com base nas Normas
Internacionais de Relato Financeiro (doravante abreviadamente designado por PGC - NIRF), é um conjunto completo de
princípios, regras e procedimentos que passam a constituir o normativo contabilístico aplicável em Moçambique às
entidades que o Governo determine através de diploma legislativo. Conforme o nome indica, o PGC - NIRF é um
normativo baseado nas Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) e nas Normas Internacionais de Relato Financeiro
(NIRF) emitidas pelo IASB (International Accounting Standards Board). As NIC’s e NIRF’s, bem como o quadro
conceptual subjacente e todas as interpretações, são geralmente sujeitas a alterações ao longo do tempo fruto das
constantes alterações nas condições económicas e no aparecimento de novos negócios, circunstâncias que suscitam
processos de revisão de Normas já existentes ou de preparação de novas Normas. Para efeitos do PGC - NIRF o quadro
conceptual e as Normas internacionais que serviram de base à sua preparação são os que se encontravam em vigor até
outubro de 2008.
Os textos das Normas de Contabilidade e de Relato Financeiro (NCRF) que constam deste novo Plano foram preparados
para proporcionar aos seus utilizadores a mesma interpretação que é dada pelas NIC’s e NIRF’s emitidas pelo IASB que
lhes servem de base. Contudo, as NCRF’s não são uma tradução oficial nem integral das NIC’s e NIRF’s emitidas pelo
IASB e, consequentemente, a consulta e utilização das NCRF’s não dispensam, quando apropriado, que
complementarmente se faça a leitura das normas internacionais que lhe serviram de base, bem como as eventuais alterações
que, entretanto, possam ter sido efectuadas naquelas Normas Internacionais.
Diferente do PGC-PE e das versões precedentes, o PGC-NIRF inclui:
• Quadro conceptual;
• Regras para a primeira aplicação;
• Normas de Contabilidade e de Relato Financeiro (NCRF);
• Modelos de demonstrações financeiras.
O PGC-NIRF aplica-se a todas as empresas de grande e média dimensão (vide a Tabela 9 acima).

Regulamentação da profissão de contabilidade em Moçambique


A revisão, ajustamento, interpretação e actualização do Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial em
Moçambique é da responsabilidade de um Organismo Regulador da Normalização Contabilística.

OCAM - Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique (Lei nº 8/2012 de 08 de fevereiro)


A OCAM é uma pessoa colectiva de direito público, independente do Estado e de quaisquer organizações públicas e privadas, nelas
inscrita (nº 01, Art. 2 da Lei 08/2012 de 08 de fevereiro). A OCAM não tem fins lucrativos.
A OCAM está habilitada pela Lei n.º 8/2012 para regulamentar a profissão de contabilidade. A associação da OCAM é composta por
dois colégios, o colégio dos contabilistas certificados (CCs) e o dos auditores certificados (CAs). Todos os indivíduos que desejam ser
contabilistas ou auditores profissionais devem ter a designação de contabilista certificado (CC) ou auditor certificado (CA),
respetivamente. As designações de CC e CA são protegidas pela Lei n.º 08/2012, de forma que apenas os membros da OCAM podem
utilizá-las no momento do registo.
De acordo com a secção 6 da Lei 8, as responsabilidades da OCAM incluem:
(i) Promover os interesses da profissão contabilística;
(ii) Emitir certificados de prática para contabilistas certificados (CC) e auditores certificados (CA);
(iii) Manter um registo de seus membros;
(iv) Estabelecer requisitos de desenvolvimento profissional inicial e contínuo (IPD e CPD);
(v) Definir requisitos éticos;
(vi) Estabelecer e implementar um sistema investigativo e disciplinar (I&D);
(vii) Definir padrões técnicos levando em consideração as melhores práticas internacionais;
(viii) Propor medidas legislativas, regulamentares ou qualquer decreto de natureza semelhante relativos ao Sistema de
Contabilidade do Sector Empresarial (SCE) de acordo com as normas internacionais;
(ix) Estabelecer e implementar um sistema de revisão de garantia de qualidade (QA).
Além de ser um membro associado da IFAC (admitido em 2019), a OCAM é membro da Federação Pan-Africana de Contabilistas
(PAFA).

Em Moçambique, o primeiro plano de contabilidade de aplicação nacional foi aprovado pela Resolução nº 13/1984 de 14 de dezembro.
O segundo plano apareceu pelo Decreto nº 36/2006, de 25 de julho e o actual plano foi criado pelo Decreto nº 70/2009, de 22 de
dezembro. As revisões visam acomodar os novos desafios impostos pela evolução tecnológica, desenvolvimento económico e
globalização. Durante o tempo em que não havia a Ordem dos Contabilistas e Auditores, a emissão de carteiras profissionais
(certificação) assim como outros procedimentos básicos sobre a profissão estavam na competência do Ministério das Finanças. Este
órgão (Ministérios das Finanças) até então ainda tem papel activo em outros procedimentos da profissão, em paralelo com a OCAM.
Para serem admitidos a OCAM, os concorrentes são submetidos a exames de proficiência técnica. A carteira profissional confere ao
titular o título de Contabilista Certificado ou Auditor Certificado. Só depois da obtenção de certificação da OCAM, o concorrente torna-
se contabilista certificado ou auditor certificado, podendo, desde já, exercer a actividade legalmente.

Instituições de educação e treinamento em contabilidade

Em Moçambique existem instituições (públicas e privadas) que promovem o ensino e treinamento da profissão de contabilidade, que
vêm operando de alguns anos atras até ao presente momento. As tabelas apresentadas a seguir mostram as referidas instituições e o ano
da sua criação:
Tabela 208: Instituições públicas de ensino de contabilidade em Moçambique
Ordem Instituições Ano de criação
1 Universidade Eduardo Mondlane 1962
2 Universidade Pedagógica 1985
3 Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria 2005
4 Instituto Superior Politécnico de Gaza 2005
5 Instituto Superior Politécnico de Manica 2005
6 Instituto Superior Politécnico de Tete 2005
7 Universidade Zambeze (UniZambeze) 2006
Fonte: MINED e MCTES 2014
Tabela 209: Instituições privadas de ensino de contabilidade em Moçambique
Ordem Instituições Ano de criação
1 Instituto Superior de Ciência e Tecnologias de Moçambique (ISCTEM) 1996
2 Instituto Superior de Transportes e Comunicações de Moçambique (ISUTC) 1999
3 Universidade Politécnica (A Politécnica) 1995
4 Universidade Mussa Bim Bique (UMBB) 1988
5 Universidade Católica de Moçambique (UCM) 1995
6 Universidade Técnica de Moçambique (UDM) 2002
7 Universidade São Tomás de Moçambique (USTM) 2004
8 Escola Superior de Economia e Gestão (ESEG) 2004
9 Instituto Superior Dom Bosco (ISDB) 2006
10 Instituto Superior de Tecnologia e Gestão (ISTEG) 2008
11 Instituto Superior Monitor (ISM) 2008
12 Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique (ISCIM) 2008
13 Instituto Superior de Gestão, Comércio e Finanças (ISGECOF) 2009
14 Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Alberto Chipande (ISCTAC) 2009
15 Instituto Superior de Ciências e Gestão (INSCIG) 2011
16 Instituto Superior de Gestão e Negócios (ISGN) 2009
17 Instituto Superior de Estudos de Desenvolvimento Local (ISEDEL) 2012
18 Instituto Superior de Gestão, Administração e Educação (ISG) 2013
19 Escola Superior de Gestão Corporativa e Social (ESCS) 2013
20 Instituto Superior de Ciências de Educação a Distância (ISCED – UNISCED)

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