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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

DIREITO

2º Ano

Disciplina: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO


Código: ISCED21-CJURCFE005
TOTAL HORAS/1o SEMSTRE: 225
CRÉDITOS (SNATCA): 5
Número de Temas: 7

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED

1
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste
manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia
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A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em


vigor no País.

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Website: http://www.isced.ac.mz

i
Agradecimentos

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pela Coordenação Direcção Académica do ISCED

Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação


a Distancia (IAPED)

Alcides Malabone Alberto Nobela, Mestrado


Pela Revisão
em Direito Comercial Internacional .

Elaborado Por: MSc. Edmar Gerúsio Barreto Jorge – Mestre em Ciências Politicas e Relações
Internacionais pelo ISCTAC, Licenciado em Direito pela UEM, Licenciado em Historia pela UP.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Índice

Visão geral 1
Benvindo ao Módulo de Direito Internacional Publico .................................................... 1
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 3
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 3
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 6
Avaliação ........................................................................................................................... 6

Tema – I: Introdução ao Direito Internacional Publico 9


UNIDADE Temática 1.1: Generalidades sobre DIPu ................................................................... 9
Introdução .................................................................................................................................. 9
1.1.1. O conceito do Direito Internacional. ........................................ 9
1.1.2. Objecto do DIPu ...................................................................... 10
1.1.4. Evolução Histórica do Direito Internacional Publico. ............. 16
1.1.5. A relevância do Direito Internacional no Direito Interno: As
concepções doutrinárias: dualista e Monista...................................... 17
Sumário .................................................................................................................................... 20
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 20
Exercícios .................................................................................................................................. 21

TEMA – II: AS FONTES DO DIPu 22


UNIDADE Temática 2.1. O contributo do art. 38 do Estatuto do Tribunal Internacional de
Justica. ...................................................................................................................................... 22
Introdução ................................................................................................................................ 22
2.1.1. Os tratados Internacionais ...................................................... 23
2.1.2. O Costume internacional ........................................................ 23
2.1.3. Os princípios gerais do Direito ................................................ 25
2.1.4. A Jurisprudência...................................................................... 26
2.1.5. A doutrina. .............................................................................. 26
2.1.6. A equidade e analogia............................................................. 27
2.1.7. Actos Unilaterais ..................................................................... 28
2.1.7.1. Actos Unilaterais dos Estados e sua classificação ............... 29
Sumário .................................................................................................................................... 34
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 34
Exercícios .................................................................................................................................. 35
UNIDADE Temática 2.2. Os Tratados Internacionacionais em especial................................... 36
Introdução ................................................................................................................................ 36
2.2.2. O Procedimento geral de conclusão dos tratados internacionais.
............................................................................................................. 36

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

2.2.1.1. As fases da conclusão dos tratados (negociação, adopção do


texto, vinculação internacional entrada em vigor, registo e publicação)
............................................................................................................. 39
2.2.1.1. As fases da conclusão dos tratados (negociação, adopção do
texto, vinculação internacional entrada em vigor, registo e publicação)
............................................................................................................. 40
2.2.1.2. O regime das reservas em especial. ....................................... 49
Sumário .................................................................................................................................... 50
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 51
Exercícios .................................................................................................................................. 51

TEMA - III: Os Sujeitos Do Direito Internacional Publico 52


UNIDADE Temática 3.1. Generalidades sobre os Sujeitos do DIPu ......................................... 52
Introdução ................................................................................................................................ 52
3.1.1. O Estado..................................................................................... 53
3.1.1.1. Surgimento e desaparecimento dos Estados. ........................ 54
3.1.1.2. Reconhecimento dos Estados e dos Governos e sua
importância.......................................................................................... 55
3.1.2. O indivíduo como Sujeito do DIPU ............................................ 57
3.1.2.1. Situações jurídicas que contemplam o homem, indivíduo
particular.............................................................................................. 58
Sumário .................................................................................................................................... 62
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 63
Exercícios .................................................................................................................................. 63

TEMA - IV: As Organização Internacionais 64


UNIDADE Temática 4.1. As Organizacoes internacionais enquanto Sujeitos do DIPu ............ 64
Introdução ................................................................................................................................ 64
4.1.1. Conceito e Classificação das Organizações Internacionais (OI)
64
4.1.1.2. Classificação das Organizações internacionais ....................... 65
4.1.2. ONU ........................................................................................... 67
4.1.2.1. Organização ............................................................................ 68
4.2.1.1. Objectivos da ONU ................................................................. 72
4.2.1.2. Princípios gerais que regem a ONU ........................................ 72
4.1.3. SADC .......................................................................................... 72
Sumário .................................................................................................................................... 74
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 74
Exercícios .................................................................................................................................. 75

TEMA - V: Os Espaços: Marítimo, Aéreo e Terrestre. 76


UNIDADE Temática 5.1. O Direito do Mar. .............................................................................. 76
Introdução ................................................................................................................................ 76
5.1.1. Generalidade sobre Direito do Mar ........................................ 77
5.1.2. Delimitação do território e soberania. ................................... 78

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

5.1.2.1. O mar territorial, .................................................................. 78


5.1.2.2. Zona Contigua e Zona Economica Exclusiva ........................ 79
5.1.2.3. Plataforma continental ........................................................ 80
5.1.2.4. Alto mar ............................................................................... 80
Sumário .................................................................................................................................... 81
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 82
Exercícios .................................................................................................................................. 82

TEMA - VI: Os conflitos Internacionais 84


UNIDADE Temática 6.1. Metodos de Resolucao dos conflitos Internacionais. ....................... 84
Introdução ................................................................................................................................ 84
6.1.1. Conceito de métodos de Resolução, Pacifica de Conflitos. .... 85
6.1.2. Métodos Diplomáticos ou não Judiciais:........................................................................ 85
6.1.3. Métodos Políticos ........................................................................................................... 88
6.1.4. Métodos Jurisdicionais ........................................................... 88
Sumário .................................................................................................................................... 89
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 89
Exercícios .................................................................................................................................. 89

TEMA - VII: Responsabilidade Internacional 90


UNIDADE Temática 7.1Responsabilidade Internacional dos Estados. ..................................... 90
Introdução ................................................................................................................................ 90
7.1.1. Noções Históricas sobre a responsabilidade dos estados. ............................................ 91
7.1.2. Noções sobre responsabilidade Internacional ............................................................... 94
7.1.3. Formas de Responsabilidades ........................................................................................ 97
Sumário .................................................................................................................................... 99
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................... 99
Exercícios ................................................................................................................................ 100

TEMA - VIII: A Constituição da Republica de Moçambique de 2004 e o DIPu 100


UNIDADE Temática 4.1. A CRM de 2004 e o Direito Internacional........................................ 100
Introdução .............................................................................................................................. 100
8.1. A Constituição da República de Moçambique de 2004 e o Direito Internacional .......... 102
8.1.1. Considerações Gerais ................................................................................................... 102
8.1.2. A incorporação das fontes de Direito Internacional na ordem jurídica de Moçambique
................................................................................................................................................ 102
8.1.3. O procedimento de vinculação internacional do Estado moçambicano ..................... 102
8.1.4. Publicitação do Direito Internacional na ordem jurídica moçambicana ..................... 102
Sumário .................................................................................................................................. 103
Exercícios de Auto-Avaliação ................................................................................................. 103
Exercícios ................................................................................................................................ 103
Exercícios Finais ...................................................................................................................... 104

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Visão geral

Benvindo ao Módulo de Direito Internacional Publico

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Direito Internacional


Publico (DIPu) deverás ser capaz de: conhecer aspectos gerais
acerca da Comunidade Internacional, da origem e evolução do
Direito Internacional, da relação entre o direito internacional e
o direito interno, dos sujeitos de Direito Internacional, das
principais temáticas que versam as normas internacionais,
atendendo a que a evolução recente de intensificação da
cooperação internacional tem conduzido à regulação
internacional de novos domínios.

 Definir Comunidade Internacinal,


 Identificar as Fontes do DIPu
 Caracterizar os Sujeitos do DIPu
Objectivos  Explicar os métodos de resolucao pacifica de conflitos
Específicos internacionais.
 Caracterizar a comunidade internacional e sua organizacao
jurídica.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em Direito do ISCED e outros como Ciencias Politicas e
Relacoes Internacionais etc. Poderá ocorrer, contudo, que haja
leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Direito Internacional Público, para estudantes do


2º ano do curso de licenciatura em Direito, à semelhança dos
restantes do ISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes caracteristicas: Puros
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades
práticas algunas incluido estudo de casos.

Outros recursos

A equipa dos académicoa e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo o recóndido deste nosso vasto
Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de
aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos
adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED
disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material
de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou
módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elém deste material físico ou
electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma
digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresntam duas caracteristicas:
primeeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes.
Segundo, exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/doceentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exrcícios de avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-
Pedagógica, etc deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que
graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar, aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos
das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo,
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas
trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou admibistrativa.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um
autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e concistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

avaliação do estudante consta detalhada do regulamento da de


avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizaos, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Tema – I: Introdução ao Direito Internacional Publico


Unidade Temática 1: Generalidades do direito Internacional Publico
(DIPu)

UNIDADE Temática 1.1: Generalidades sobre DIPu

Introdução

Nesta unidade pretendemos fazer o estudo de matérias introdutórias


relativamente ao DIPu, pretendemos trazer a tona a noção, objecto de
estudos, as características e abordando de forma geral as fontes do
DIPu. Desta feita far-se-á o Estudo da relevância do DIPu e o seu
relacionamento com o Direito interna.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o direito internacional público segundo os vários


critérios.
Objectivos
 Caracterizar o DIPu

 Explicar as divisões do DIPu.

 Descrever a evolução histórica do DIPu e seus períodos.

 Descrever a relevância do DIPu no direito interno, com


base nas teorias dualista e monista

1.1.1. O conceito do Direito Internacional.

O Direito Internacional Público – pode ser tratado, como o conjunto


de princípios e normas, positivos e costumeiros, representativos dos
direitos e deveres aplicáveis no âmbito da sociedade internacional.

Denomina-se Direito Internacional o conjunto das normas


internacionais que se perfazem por
9
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

meio dos princípios e das regras, bem como pelos costumes


internacionais. Será público, quando se referir aos direitos e deveres
dos próprios Estados em suas relações; e privado, quando tratar da
aplicação, a particulares sujeitos a um determinado Estado, de leis
civis, comerciais ou penais emanadas de outro Estado.

O Direito Internacional nasce para regular as relações entre os Estados


– relações interestaduais. Esse é o conceito clássico.

O Direito Internacional moderno surgiu após a Segunda Guerra


Mundial – a partir de 1945. É a disciplina que regula as relações
interestaduais, bem como as condutas das organizações
internacionais, intergovernamentais e também dos indivíduos no
plano internacional, ainda que a actuação destes seja um pouco mais
limitada.

Segundo Quadros e Pereira2 podemos definir o Direito Internacional


segundo três critérios: o critério dos Sujeitos do Direito Internacional
(DI), o do objecto da norma internacional e o critério da forma de
produção da norma internacional.

Segundo o o critério dos Sujeitos do DI, Direito internacional Publico é


o conjunto de normas jurídicas reguladoras das relações entre os
estados. Criticas se fazem a este critério, pois este exclui os outros
sujeitos do DIPu.

Para o critério objecto da norma internacional DIPu é o conjunto de


normas jurídicas que regulam as matérias internacionais por natureza.
Também é criticável no sentido de que o Direito internacional pode
em princípio regular qualquer matéria e ser dirigida a qualquer
entidade susceptível de personalidade jurídica.

Finalmente o critério da forma de produção da norma internacional,


que é a posição adoptada cã entre nos, este não atende nem os
sujeitos do DI, nem o objecto da norma da norma internacional, mas
sim exclusivamente a sua forma de produção. Nesta perspectiva o
Direito internacional Publico será um conjunto de normas jurídicas
criadas pelos processos de produção jurídica próprios da comunidade
internacional, e que transcendem o âmbito estadual.

1.1.2. Objecto do DIPu

Num primeiro momento, o objecto do Direito Internacional são os


Estados, regendo a actividade inter-Estatal. Com o fim da 2ª Guerra
Mundial começam a surgir as Organizações Internacionais (ONU, OMC,

2
QUADROS Faustos & PEREIRA Gonsalves Adre. Manual de Direito Internacional.
Coimbra: Almedina, 1997.
10
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

FMI, etc.), e estas passaram a deter também personalidade Jurídica


Internacional, atribuindo aos indivíduos capacidades postulatórias.

Seitenfus e Ventura elucidam que há uma tríplice função do direito


internacional público:
(a) Repartição de competência entre os estados soberanos, cada qual
com sua delimitação territorial, ao qual exerce sua jurisdição.
(b) Fixa obrigações aos Estados soberanos, de modo que as suas
liberdades de actuação são limitadas;
(c) Rege as relações entre as organizações internacionais
O Direito Internacional Público (DIP) é composto pelos sujeitos ou
atores de direito internacional público5, que estão sujeitos às regras,
princípios e costumes internacionais.6 Entretanto, não apenas de
relações entre Estados cuida o DIP. Como ressalta Gustavo Bregalda, o
Estados tem sua personalidade jurídica internacional reconhecida
pelos outros Estados ou pelos organismos internacionais.

Organismos internacionais são pessoas ou colectividades criadas pelos


próprios sujeitos de direito internacional, reconhecendo-os como
pessoas internacionais, com capacidade de ter direitos e assumir
obrigações na ordem internacional. São exemplos a ONU, OEA. Podem
ainda ser criados por particulares, como a Cruz Vermelha
Internacional, a Ordem de Malta, por exemplo.

Portanto, actualmente, o objeto moderno do Direito Internacional é


os Estados, as Organizações Internacionais e os Indivíduos. Alguns
doutrinários salientam que as empresas são atores actuantes nas
relações internacionais, de modo que devem figurar como integrantes
do Relacionamento internacional. Quanto ao indivíduo, este tem
responsabilidade activa e passiva, podendo tanto postular quanto ser
demandado internacionalmente.

1.1.3. Sociedade Internacional vs Comunidade


Internacional.

A sociedade internacional é formada pelos Estados, pelos organismos


internacionais e pelo homem, apresentando as características em
relação às sociedades internas:

(a) Isonomia: deve haver igualdade entre os sujeitos;


(b) Descentralização: pois vários são os criadores e destinatários das
normas de direito internacional. Ainda permanece, mas não como
uma verdade absoluta, ja que existem hoje órgãos completamente

11
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

centralizados, como por exemplo, a União Européia;


(a) Universalidade: deve abranger o máximo possível de integrantes;
(b) É Aberta: como corolário lógico da característica anterior, é aberta
à novos integrantes.
(c) Com direito originário: visam criar um âmbito normativo novo.

Apresentando as seguintes características3:


(a) Multiplicidade de Estados, dotados de soberania;
(b) Relações comerciais internacionais
(c) Princípios jurídicos em comum.

São expressões que não se confundem, apesar de serem utilizados


como sinónimos. A sociedade internacional é formada pelos sujeitos
de direito internacional: Estados, Organizações Internacionais,
Empresas e Indivíduos. A comunidade internacional, por seu turno, é
marcada pela união natural (laço espontâneo), marcados por
afinidades de cunho social, cultural, familiar, religioso.4Ao se falar em
comunidade internacional, não há que se pensar em dominação de
uns perante os outros.

1.1.1.1. Ordem Jurídica da Sociedade Internacional

A ordem jurídica interna é centralizada e organizada verticalmente. No


âmbito do Direito Internacional, a ordem jurídica é descentralizada,
não existindo norma jurídica superior com capacidade para impor aos
Estados o cumprimento de suas decisões. A Carta da ONU não é uma
Constituição. O Direito Internacional ainda depende muito do
voluntarismo, ou seja, da vontade de cada Estado. Salienta Rezek que
“no plano internacional não existe autoridade superior nem milícia
permanente. Os Estados se organizam horizontalmente, e prontificam-
se a proceder de acordo com normas jurídicas na exacta medida em
que estas tenham constituído objecto de seu consentimento. A criação
de normas é, assim, obra directa de seus destinatários”.5

3
BREGALDA, Idem ibidem. Entretanto, há autores que não reconhecem o ser
humano como componente da sociedade internacional, não sendo, portanto, sujeito de
direito internacional.
4
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional..., p. 34.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Direito Internacional Público, p. 10.
5
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar – 9ª ed. –
São Paulo: Saraiva, 2002, p. 1.
12
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

1.1.1.2. Fundamento do Direito Internacional

Fundamento liga-se à obrigatoriedade da disciplina. Existem varias


correntes:

A tese Anarquista

Anarquistas e Voluntaristas negam a existência do Direito


Internacional Público.

Os primeiros fazem-no frontalmente. Dos acordos, actos livremente


revogáveis pelo Estado mais forte, não pode nascer Direito. Falar em
segurança colectiva é insistir numa utopia.

Embora frequentemente o panorama internacional se possa pintar


com cores tão negras, há um aspecto essencial à questão que urge pôr
em relevo: quando surge um litígio internacional, logo se tentam
utilizar métodos e fórmulas jurídicas na sua resolução, citam-se
precedentes judiciais, procura-se saber qual o sentido do Costume ou
do Tratado aplicável ao caso, que se trata como jurídico, como
relevante para uma certa ordem jurídica e que é exactamente a ordem
jurídica internacional. Quer dizer, o exagero dos Anarquistas está em
ligarem demasiado às violações espectaculares do Direito
Internacional e não ao cumprimento de que muitíssimas vezes é
objecto de uma forma espontânea. É certo que há violações
constantes do Direito Internacional. Mas então a metodologia
Anarquista peca pelo alvo que escolhe para sua crítica: o problema em
causa é mais de imperfeição de grau, do que de inexistência.

Corrigidas as proporções da Tese Anarquista, há todavia conceder o


que se segue. Por um lado, os Estados só se submetem à jurisdição
dum Tribunal Arbitral Internacional ou do Tribunal Internacional de
Justiça se quiserem.

Em segundo lugar, e embora o nascimento de normas jurídicas


internacionais não constitua um problema real, dado o seu contínuo
surgimento sobre tudo por meio de Tratados Bi e Multilaterais e para
não falar em competência “legislativa” das organizações de carácter
supranacional, é óbvio que a inexistência de órgãos
internacionalmente instituídos para a execução forçada de sanções
leva cada Estado a munir-se individualmente de medidas de auto
protecção que, para fazermos nossas as palavras de Truyul Y Serra,
pecam por “dois grandes defeitos: por um lado, há frequentes
desproporções entre o direito tutelado e a força que há-de aplicar-se
para a sua satisfação; por outro lado, o êxito depende, em última
análise, da distribuição de forças entre os respectivos Estados ou
outros sujeitos internacionais, pelo
13
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

que, de facto, a coacção será dificilmente operante contra grandes


potências”.

As doutrinas Voluntaristas

Também a Doutrina Voluntarista, em qualquer das suas variantes,


acaba por negar o Direito Internacional Público. Mas fá-lo duma forma
sub-reptícia. Afirmando o Estado como entidade soberana e
omnipotente, conclui muito logicamente que a obrigação
internacional só pode derivar da sua própria vontade. Ou seja, a
vinculação depende da vontade obrigada. Melhor dizendo, não existe
obrigação.

As doutrinas de Auto limitação e do Direito Estadual Externo:

O Estado, como poder independente e supremo, situa-se acima de


todo e qualquer princípio ou norma jurídica. De forma que qualquer
obrigação que surja só pode basear-se no seu consentimento, quer
dizer, só pode ser uma auto-obrigação, já que nenhum órgão
internacional nem nenhum outro Estado podem ditar leis que se
imponham a um outro ente supremo que para tal não manifestou o
seu consentimento;

A doutrina do Tratado-lei ou da Vontade Colectiva (“Vereinbarung”):

Quando se juntam duas ou mais vontades num acordo, pode ser para
satisfazerem interesses antagónicos ou para prosseguirem finalidades
comuns. Quando os Estados querem prosseguir um interesse comum,
manifestam um único feixe de vontades no mesmo sentido,
originando obrigações idênticas para todos, assim surge Verinbarung,
acordo colectivo ou Tratado-lei. Nesta figura não se distinguem partes
mas antes legisladores.

A teoria Marxista-leninista:

Para esta teoria, cada Estado é caracterizado por uma formação social,
de cuja super estrutura também faz parte o Direito Internacional,
condicionado e determinado pela infra-estrutura económica e
influenciando ainda pelo Direito Constitucional, pela moral, pela
filosofia, etc. O Direito Internacional não surge, portanto, dum vogo
comunitarismo, mas é antes o resultado de um complexo processo em
que actuam sistemas sociais opostos. De forma que, se são diferentes
as vontades dos Estados, por representarem interesses de classes
diferentes, o Direito Internacional deixa de ser um Direito Universal.

14
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Começa então a distinguir-se o Direito Internacional do Sistema


Capitalista e o Direito Internacional do Sistema Socialista.

Foi sobretudo a partir de 1958 que Tunkin, começou a desenvolver a


ideia e os princípios do Direito Internacional Socialista. Os Estados
Sociais estão ligados por relações diferentes das que os ligam os
Estado Capitalistas. A base económica dessas relações é a propriedade
social dos meios de produção; o regime político é dirigido pela classe
trabalhadora; a ideologia é o Marxismo-leninismo; e o interesse da
defesa das conquistas revolucionárias contra os ataques do
Capitalismo é o comum dos indivíduos de todos os Estados Socialistas:
o internacionalismo proletário torna-se o princípio fundamental do
Direito Internacional Socialista.

A teoria Marxista-leninista, leva a uma contradição no campo dos


princípios e a outras consequências práticas que apenas podem ser
justificadas pela legitimação do uso da força.

A teoria Objectivista de Kelsen

Conclui-se pois, que a obrigatoriedade do Direito Internacional


provém doutra fonte que não a vontade dos Estados. A vontade só
produz efeitos jurídicos na medida em que uma norma anterior e
superior a essa vontade determina qual o seu relevo jurídico.

Para o internacionalista Vienense, a validade de uma norma não


depende da vontade que a cria mas antes da norma que lhe é
imediatamente superior. Num sistema jurídico, as normas escalonar-
se-iam de tal forma que cada uma encontraria o seu fundamento
naquela de que procede e, no vértice da pirâmide, encontrar-se-ia a
“Grundnorm”, a norma fundamental, de carácter hipotético, na qual o
sistema encontraria a sua unidade

O Neojusnatoralismo

Fundamenta o Direito Internacional naquele conjunto de “normas que


resultam da natureza racional e social do homem”, isto é, naqueles
princípios objectivos que se sobrepõem à vontade humana e que são
inerentes à comunidade político-social a que se destinam.

Posição Adoptada

O fundamento do Direito Internacional Público não é diferente do


Direito em geral.

Portanto, a diferença entre o Direito Internacional e o Direito Interno

15
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

pode ser uma diferença de grau mas nunca de natureza. É que, tal
como para regular as relações entre indivíduos no quadro estadual há
normas de determinado conteúdo que se impõem naturalmente,
também as exigências da consciência pública impõem regras
adequadas, em cada época, à cooperação, ao progresso e ao
desenvolvimento dos povos.

Não há normas ou princípios necessários, a não ser os princípios


constitucionais da comunidade internacional, mas há um certo
conteúdo que é necessário em todas as normas e princípios. E só esse
conteúdo de justiça evitará que tais normas e tais princípios pequem
pela sua transitoriedade e sobretudo que sejam alvo de uma
contestação prematura.

1.1.4. Evolução Histórica do Direito Internacional Publico.


Sobre a evolução histórica do DIPu traremos aqui os grandes períodos
históricos e os principais acontecimentos em cada período por uma
questão de gestão de tempo.

1º Período: Pré-histórico
Antiguidade Clássica (pouca contribuição para o DIP)
 Influências Roma (Direito Romano) – Jus Civile (Direito Civil) e Jus
Gentium (Direito das Gentes, para os outros, estrangeiro).

Idade Média (após queda de Roma)


 Formação dos primeiros embriões dos Estados Europeus (os 1ºs
actores)
 Como os Estados eram fracos, surgiu o fenómeno do Feudalismo,
impedindo o crescimento de Estados fortes.
 Existência de poder do Papado / Imperador / Feudalismo.

Idade Moderna
 Conceito de Soberania (Jean Bodin);
 Os Descobrimentos;
 A Reforma (divisão religiosa);

2º Período Clássico
Idade Moderna
 Paz de Westphalia (surgimento do DI).
 Igualdade entre os Estados.

Idade Contemporâneo (XIX) (Congresso de Berlim)


 Restabelecimento de novas RI (ex. bilaterais e multilaterais);

16
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 Criação de normas Internacionais (ex. divisão dos rios e mares);


 1ºs Convenções humanitárias e novos actores (ex. Cruz Vermelha
Internacional proteger feridos/prisioneiros de guerra, Convenção
de Genebra)

3º Período Moderno
 Princípio da Solidariedade Internacional e justiça social entre os
povos
 Soberania vs Solidariedade Internacional

Surgimento das Org. Internacionais (início do Séc.XX) reflectem a


própria sociedade. OI Inter-Governamentais – ONU, Conselho da EU
OI Supra-nacional – UE (parlamento e comissão).

Surgimento de novos Estados


 Multiplicação de novos Estados, consequência das
descolonizações;
 Diferenças económicas entre Estados;
 Princípios de cooperação entre Estados mais pobres.

Protecção dos Direitos do Homem (surgiu Séc. XX, pós 2ªGM)


 Declaração Universal dos Direitos do Homem
 Surge o Homem, o individuo como parte do Direito e actor das RI
com uma série de Direitos face ao Estado, ultrapassando as
fronteiras do Estado protegido de Direitos Universais.

Proscrição / Proibição do uso da força


 Através da Carta das NU.

Exploração de novos espaços internacionais.


 Polo Sul – Antártida;
 Lua;
 Alto Mar (depois das 12 milhas aplica-se o DI);
 Espaço Aéreo Internacional

1.1.5. A relevância do Direito Internacional no Direito Interno: As


concepções doutrinárias: dualista e Monista.
Uma questão tormentosa é a relação entre conflitos entre as normas
de Direito Internacional e de Direito interno, “A questão em apreço é
polémica, e seu tratamento reveste-se de grande importância, em
função do relevo que o Direito Internacional vem adquirindo como
marco que visa a disciplinar o actual dinamismo das relações
internacionais, dentro de parâmetros que permitam que estas se

17
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

desenvolvam num quadro de estabilidade e de obediência a valores


aos quais a sociedade internacional atribui maior destaque”.6

Para tanto, há duas teorias explicativas do impasse entre conflito


entre direito internacional público e direito interno, quais sejam, as
teorias Monista e dualista.

a) Teoria dualista ou Dualismo:

Salienta que direito internacional e direito interno são realidades


distintas, ou seja, tem âmbito de incidência completamente diferente.
O Direito internacional rege as relações exteriores entre os Estado ao
passo que o Direito interno disciplina as relações internas do Estado.
Tendo em vista esta perspectiva, não há que se falar, para esta teoria,
em conflito de normas de direito interno e internacional, uma vez que
a ordem internacional não pode regular questões internas. “Os
tratados internacionais representam apenas compromissos exteriores,
assumidos por Governos na sua representação, sem que isso possa
influir no ordenamento interno desse Estado, gerando conflitos
insolúveis dentro dele”.7

aa) Teoria da incorporação, transformação ou mediatização


Para esta teoria, como as normas tem incidência distinta, apenas no
caso de o Estado incorporar internamente o preceito de direito
internacional, por meio de alteração de suas leis internas, ou seja, “a
norma internacional só vale quando recebida pelo direito interno”.8

ab) Dualismo moderado

Para o dualismo moderado “não é necessário que o conteúdo das


normas internacionais seja inserido em um projecto de lei interna,
bastando apenas a ratificação dos tratados por meio de procedimento
específico, que inclua a aprovação prévia do parlamento e a ratificação
do chefe de Estado”.9

b) Teoria Monista ou Monismo

Para os autores que defendem a escola Monista – O direito é um só. É


uma norma superior. Existe apenas uma ordem jurídica. Assim, um
tratado internacional seria também uma manifestação do povo
6
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público e Privado,
p. 51.
7
MAZZUOLI, Direito internacional. p. 72.
8
MAZZUOLI, op. Cit.
9
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público e Privado,
p. 53.
18
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Moçambicano. O Tratado estaria dentro da pirâmide de hierarquia e


conviveria a CRM com as leis ordinárias com actos etc.

O direito é um só. O Estado possui o Direito e o respeita, adopta o


direito internacional, porém não incorpora-o da forma como na teoria
dualista, que, inclusive, adopta a teoria da “incorporação”.

Existem duas formas de manifestação de Monismo:

Monismo com Primazia do Direito Internacional = Defende que o


tratado é compatível com a lei interna. Em caso de conflito haveria
prevalência do Tratado com primazia do Direito Internacional, ou seja,
primazia do direito internacional.

A principal crítica dirigida à esta Teoria é que ela não corresponde à


História, que nos ensina ser o Estado anterior ao DI. Os Monista
respondem que sua teoria é "lógica" e não histórica. Realmente, negar
a superioridade do DI é negar a sua existência, uma vez que os Estados
seriam soberanos absolutos e não estariam subordinados a qualquer
ordem jurídica que lhes fosse superior.

Embora seja o Estado sujeito de Direito Interno e de DI, ele é a mesma


pessoa e, assim, não se pode conceber que esteja submetido a duas
ordens jurídicas em choque. O direito, na sua essência, é um só e a
Ordem Internacional acarreta a responsabilidade do Estado, quando
ele viola um dos seus princípios. E o Estado aceita esta
responsabilidade. Por este motivo é que ocorre a primazia do DI sobre
o Direito Interno.

Monismo com primazia do Direito Interno = Defenda de que existe


apenas uma ordem jurídica – interna e externa. Num eventual conflito,
a prevalência seria da lei interna, do direito interno, ou seja, primazia
do direito interno.

Temos, pois, que: Teoria Monista, segundo a qual, o Direito


Internacional e o Direito Interno são dois ramos de um mesmo
sistema, emana de uma só fonte. Para os Monista, o Direito é um só,
com diferentes primazias.

São críticas levantadas a essa teoria:

A 1ª e mais importante de todas é que ela nega a existência do próprio


DI como um direito autónomo, independente. Ela o reduz a um
simples direito estatal;

- 2ª Crítica: alguns a classificam como pseudomonista, pois na verdade


ela é pluralista, tendo em vista a existência de várias ordens internas;

Finalmente, podemos apresentar uma 3ª crítica que é a de que se a


validade dos Tratados Internacionais repousasse nas normas
constitucionais que estabelecem o seu modo de conclusão, toda a
modificação na ordem constitucional
19
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

por um processo revolucionário deveria acarretar a caducidade de


todos os Tratados concluídos na vigência do regime anterior. Mas isso
não ocorre, porque em nome da continuidade e permanência do
Estado ele é ainda obrigado a cumprir os Tratados concluídos no
regime anterior. Assim é explicado porque um Tratado não pode ser
inovado se o direito interno muda. O Tratado é feito pelo Estado e não
pelo Governo, pois este muda.

Sumário

Nesta unidade abordamos a respeito das matérias introdutórias,


donde começamos por conceptualizar o Dipu, segundo vários autores,
mas que tomos como preferência as definições apresentadas pelo
professor Fausto Quadro, donde elencou 3 criterios para a definição
do Dipu, o critério dos Sujeitos do Direito Internacional (DI), o do
objecto da norma internacional e o critério da forma de produção da
norma internacional Dods quais a nossa posicao adoptada foi a do
ultimo criterio. No que diz respeito ao obejecto de estudo dissemos
que actualmente o objecto de estudo do DIPu sao os sujeito do DI. De
seguida vimos a dinamica da comunidade internacional, por fim
destacamos as teorias munistas e dualistas no que tange ao
relacionamento entre o DIPu e o direito Interno.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Quais os critérios de definicao do DIPu segundo Fausto


Quadro?
Resposta: o critério dos Sujeitos do Direito Internacional (DI), o do
objecto da norma internacional e o critério da forma de produção
da norma internacional Dods quais a nossa posicao adoptada foi a
do ultimo criterio.
2. Dos conceitos apresentados, qual a posicao adoptada, enuncie-
a.
Resposta: o critério da forma de produção da norma internacional,
que é a posição adoptada cã entre nos, este não atende nem os
sujeitos do DI, nem o objecto da norma da norma internacional,
mas sim exclusivamente a sua forma de produção. Nesta
perspectiva o Direito internacional Publico será um conjunto de
normas jurídicas criadas pelos processos de produção jurídica
próprios da comunidade internacional, e que transcendem o
âmbito estadual

20
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Exercícios

1. Formule as definições de DIPu de acordo com os critérios por si


estudados.

2. O Monismo apresenta duas perspectivas, identifique-as


estabelecendo a diferença entre si.

3. Qual o objecto do DIPu?

4. Apresente 4 característica da Comunidade internacional?

5. Qual o fundamento do DIPu Segundo a teoria de Kelsen

21
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

TEMA – II: AS FONTES DO DIPu


Unidade Temática 2.1. O contributo do art.38 do Estatuto do Tribunal
Internacional de Justiça.

Unidade Temática 2.2. Os Tratados Internacionais em Especial.

UNIDADE Temática 2.1. O contributo do art. 38 do


Estatuto do Tribunal Internacional de Justica.

Introdução
As fontes em Direito são as diversas maneiras de revelação do próprio
direito. Nesta unidade iremos nos dedicar ao estudo das fontes do
DIPu, começando por falar da importância do enunciado do art.º 38 do
ETIJ. Dentro das fontes iremos destacar as fontes principais e fontes
secundárias.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer as fontes do DIPu.

 Caracterizar as fontes do DIPu,

Objectivos  Explicar a importância do ETIJ na determinação das fontes


do DIPU.

Vamos agora ocupar-nos dos processos de produção jurídica através


dos quais surgem as normas do Direito internacional isto é suas
fontes. Excluímos neste ponto as fontes materiais. É conhecida a
distinção entre fontes materiais e fontes formais, bastando, em
grandes linhas que as fontes materiais são as razoes pelas quais
aparecem as normas e as formais o seu processo de revelação.

A comunidade internacional não é um estado conforme dissemos, por


conseguinte não existe uma constituição universal que determine
quais as fonte do DIPu, mas existe e figura um texto com valor para-
universal, pela sua importância política e pelo número de Estados que
a ele aderiram: è o Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça
(doravante designado por ETIJ). O art. 38 dispõe:

22
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

1. O Tribunal, cuja função é decidir em conformidade com o direito


internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará:
a. As convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados
litigantes;
b. O costume internacional, como prova de uma prática geral aceite
como direito;
c. Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações
civilizadas;
d. Com ressalva das disposições do artigo 59, as decisões judiciais e a
doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes nações, como
meio auxiliar para a determinação das regras de direito.
2. A presente disposição não prejudicará a faculdade do Tribunal (*)
de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes assim
convierem.

Este artigo é considerado unanimemente o rol mais concentrado das


fontes do Direito Internacional Público. Não traz um rol exaustivo, mas
sim exemplificativo. Existem outras fontes não elencadas nesse
dispositivo, mas reconhecidas pela doutrina internacional, falamos por
exemplo dos actos unilaterais, a equidade e anologia.

2.1.1. Os tratados Internacionais


Tratados e Convenções Internacionais – são as principais fontes do
Direito Internacional, por trazerem maior estabilidade, segurança e
certeza às relações internacionais, quer gerais, quer especiais
estabelecem regras expressamente reconhecidas pelos Estados.

Tratando-se de uma das principais fontes do DIPu, reservamos para


tratar da matéria dos Tratados internacionais no próximo ponto com
maior profundidade.

2.1.2. O Costume internacional


Segundo Prof. Castro Mendes Costume – é uma prática reiterada com
convicção de obrigatoriedade.

O Costume foi a principal fonte do DIP, em virtude de a sociedade


internacional ser descentralizada. Actualmente, embora a sociedade
internacional ainda permaneça descentralizada, o Costume começou a
regredir, tendo em vista a sua lentidão e incerteza.

Na sua origem, o Costume é uma regra de conduta observada


espontaneamente e não em execução a uma lei posta por um político
superior. Transforma-se em direito positivo quando é adoptado como
tal pelos Tribunais de Justiça e quando as decisões judiciárias

23
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

formadas com base nele são feitas valer através da força do poder do
Estado. Antes disso, é apenas uma regra de moralidade positiva cuja
força vem da reprovação geral que recai sobre aqueles que a
transgridem.

São dois os elementos do Costume:

a. Elemento material ou objectivo: é o uso, a repetição social;


b. Elemento subjectivo: é geralmente aceito como sendo exigível
para o comportamento dos Estados. É ele que dá o carácter
obrigatório ao Costume.
O elemento material apresenta duas características: o tempo e o
espaço.

Quanto ao tempo, podemos dizer que não existe um prazo


determinado para que surja um Costume internacional, sendo
suficiente apenas provar que tal regra é reconhecida como sendo
direito.

Quanto ao espaço, é que o Costume seja seguido por uma parcela da


sociedade internacional.

O elemento subjectivo, por sua vez, tem a vantagem de distinguir o


Costume do Uso e do Hábito.

O hábito tem características individuais, o uso é mera prática social,


não obrigatória.

O Costume tem o elemento social, mas além disso é exigível


juridicamente, além do uso, necessita do elemento subjectivo que
forma o costume. Há a prática social e num determinado momento
verifica-se que ela preenche a necessidade social e então passa a ser
obrigatória no Direito.

O fundamento do Costume é explicado por 3 teorias que podem ser


reduzidas às duas concepções presentes em todo o DI: o voluntarismo
e o objectivismo.

TEORIA VOLUNTARISTA sustenta que o fundamento do Costume se


encontra no consentimento tácito dos Estados.

São críticas ao voluntarismo:

 ele se esquece de que a vontade só produz efeitos jurídicos


quando existe uma norma anterior a ela lhe dando esse poder;
 não explica como um novo membro da sociedade internacional
se encontra obrigado a um costume formado antes de seu
ingresso nesta sociedade;
 é insuficiente para explicar o estabelecido no art. 38 do
Estatuto da CIJ, que manda este Tribunal aplicar um "costume
geral", ou seja, uma norma costumeira geral, mas sem ser
unânime e obrigatória para
24
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

todos os membros da sociedade internacional. Mesmo que um


Estado não a aceite, terá que cumprí-la. Então, como explicar
que a obrigatoriedade do Costume se encontra no
consentimento tácito? É o costume que dá ao DI a sua
verdadeira base universal e se fosse reduzido ao
consentimento, esta base acabaria por desaparecer;
 esta Teoria descaracteriza o Costume como uma prática que se
adapta espontaneamente às transformações sociais.

TEORIA OBJETIVISTA é representada por duas teorias: a da consciência


jurídica colectiva e a sociológica.

A Teoria da Consciência Jurídica Colectiva, sustenta que o fundamento


do Costume é a "consciência social do grupo", o que é na realidade
uma noção vaga e imprecisa, parecendo-nos inaceitável.

A Teoria Sociológica é a que melhor explica a obrigatoriedade do


Costume. Aqui, o Costume é um produto da vida social, que visa a
atender as necessidades sociais. Seu fundamento é exactamente as
necessidades sociais.

O Costume pode ser universal (geral) e particular (regional). O


Costume geral é o que oferece o carácter de universalidade ao DI. Há
necessidade de que esta prática seja aceita pelo Estado como Direito.
Quando o Costume é formado por um Estado que tem liderança ele
será obrigatório. Do contrário, não é aceito. No Costume regional, a
vontade do Estado é fundamental.

O art. 38 da CIJ elenca como fonte o Costume Internacional, como


comprovação de uma prática geral aceita como sendo o Direito.
Entretanto, isto não é correcto, por não ser o Costume Internacional a
prova de uma prática, mas a própria prática geral.

A prova do Costume é elemento externo do Costume, mas não se


confunde com o próprio Costume. O Costume termina:

 Por um Tratado mais recente que o codifica ou revoga;


 Pelo desuso;
 Pelo surgimento de um novo Costume.
Repetimos: o Costume deve ter uma sanção jurídica, caso contrário
tornar-se-á uma prática de uso.

2.1.3. Os princípios gerais do Direito


É diferente de Princípio Geral do Direito Internacional, Princípios
Gerais de Direito Internacional são aqueles encontrados na legislação
interna dos Estados e que passam a ser aplicados internacionalmente.
Ex: Princípio da boa-fé objectiva.

25
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Princípios Gerais do Direito Internacional não existem no âmbito


interno. Já nascem directamente no Direito Internacional.

Para alguns juristas os “princípios gerais do direito” seriam aqueles


aceitos pelos estados in foro domestico.

O juiz deve transpor as normas do direito interno para o direito


internacional. Nesse sentido, as normas do direito civil se aplicam às
normas do direito internacional ex.: princípio da boa-fé, existe, então a
observância da ordem jurídica comum e não somente da ordem
jurídica internacional.

Há juristas que informam que os princípios gerais do direito são os


costumes internacionais porque advêm da vontade e da manifestação
de todos os Estados, ou melhor, do “do foro domestico.” (solução
pacífica dos litígios, não-agressão, desarmamento, justa
indemnização, boa-fé, pacta sunt servanda, lex posterior derogat
priori, coexistência pacífica).

2.1.4. A Jurisprudência.

Chama-se jurisprudência o conjunto de decisões do Poder Judiciário


na mesma linha, julgamentos no mesmo sentido.

a) Jurisprudência de tribunais internacionais e árbitros


Como não há no Direito Internacional uma regra superior, existem
muitas lacunas no ordenamento jurídico, devido ao fato de ser
reduzida a quantidade de textos a tratar da matéria. Hoje, as decisões
judiciais das cortes internacionais (jurisprudência), ao lado da
doutrina, são fundamentais para suprimir tais lacunas.
Entretanto, o texto do Estatuto da Corte Internacional de Justiça
dispõe sobre essa fonte da seguinte maneira: “sob reserva da
disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas
mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a
determinação das regras de direito.” O referido art. 59 tem a seguinte
redação: “A decisão da Corte só será obrigatória para as partes
litigantes e a respeito do caso em questão.”
Dessa forma, temos que essa fonte não é autónoma, tendo sua
aplicabilidade em conjunto com as demais e não de forma isolada.
Buscou-se evitar que a sentença de um tribunal superior fosse
vinculante aos futuros litígios apresentados e aos demais tribunais,
além de conferir um papel de importância relativa e de relativo
equilíbrio em relação às outras fontes.

2.1.5. A doutrina.

Como fonte do direito a doutrina. Pelo uso da doutrina, no que nos é

26
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

colocado é que temos a capacidade de entender e estudar o Direito


profundamente, ou seja, pelo esforço e concretos de grandiosos
ensinadores podemos fazer novas e manter os antigos vocábulos e
entendimentos na actualidade.

A doutrina é a teoria desenvolvida pelos estudiosos do Direito,


materializada em livros, artigos, pareceres, congressos etc. Assim,
como a jurisprudência, a doutrina também é fonte secundária e
influencia no surgimento de novas leis e na solução de dúvidas no
cotidiano administrativo, além de complementar a legislação
existente, que muitas vezes é falha e de difícil interpretação.

a) Doutrina internacionalista

É a doutrina notoriamente reconhecida internacionalmente,


desenvolvida pelos publicistas, ou seja, a opinião dos juristas mais
qualificados das diferentes nações.
Ela deve ser considerada a partir de sua função de apresentação,
esclarecimento ou interpretação da norma jurídica internacional. Sua
eficácia advém da argumentação e poder de convencimento
demonstrativa de uma tese, quando há necessidade de se resolver um
conflito entre interpretações conflitantes.
Há também a idéia de doutrina coletiva; trata-se de resoluções de
caráter científico que são expedidas por organizações não-
governamentais (ONGs), existentes em vários setores sociais, com
destaque para duas, que se dedicam ao estudo e desenvolvimento do
Direito Internacional: Institut du Droit International e International
Law Association. São formadas por professores, advogados e
diplomatas de todo o mundo, tendo como principal atividade o estudo
científico de grandes temas do Direito Internacional.

2.1.6. A equidade e analogia


Não são propriamente fontes, os elementos subsidiários que a Corte
pode utilizar. Não constituem uma maneira pela qual se manifesta a
norma jurídica internacional, são apenas meios auxiliares na
constatação do Direito ou na sua interpretação, não sendo fontes do
DI, também não serão obrigatórios para os sujeitos do DI.

A Analogia não é uma fonte formal do DI, mas um meio de integração


deste direito. É utilizada para preencher lacunas.

Ela pode ser definida como a aplicação de uma norma já existente a


uma situação nova, quando esta é semelhante à que é aplicável a
norma já existente. Repousa na ideia de justiça de que casos iguais
devem ser tratados igualmente.

27
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

A Analogia se apresenta sob duas formas:

a. Analogia "legis": quando o assunto já se encontra


regulamentado, mas contém uma falha;
b. Analogia "juris": quando o caso é inteiramente novo e não
existe uma norma aplicável.
ROUSSEAU assinala três funções:

1. Confirmar as conclusões atingidas por outros métodos de


interpretação;
2. Como meio de esclarecer os textos obscuros;
3. Como meio de suprir lacunas dos textos constitucionais.
A Analogia ainda tem aplicação restrita no DI e não apresenta um
papel decisivo.

A Equidade (ex aequo et bono): segundo ROSSEAU, é "a aplicação dos


princípios da Justiça a um determinado caso". Portanto, não constitui
uma fonte formal do DI.
O Juiz internacional somente poderá decidir com base na Equidade
quando as partes litigantes assim o desejarem. Caso contrário, a
sentença será nula.

Nos dias de hoje, a equidade tem diminuído de importância na


jurisprudência internacional, por duas razões:

a) Das partes exige-se que tenham grande confiança no Juiz;


b) O desenvolvimento do DI Positivo.

A doutrina considera à equidade três funções:

1. Corrigir o Direito Positivo;


2. Suprir as lacunas do Direito Positivo;
3. Afastar o Direito Positivo.
A Corte Internacional da Justiça nunca deu uma decisão baseada
exclusivamente na Equidade. A Equidade apresenta o perigo de ser
uma noção imprecisa, bem como conduzir à arbitrariedade.

2.1.7. Actos Unilaterais


Actos unilaterais são manifestações ou declarações de vontade de um
único sujeito de Direito Internacional, que têm o condão de gerar
direitos e/ou deveres para si e para os outros. Ou seja, a manifestação
de vontade de um único sujeito de direito é suficiente para que se
produzam efeitos jurídicos. São obrigatórios para seu autor, e os
Estados que confiaram nele têm o direito de exigir seu cumprimento.
Segundo Von Liszt, trata-se de declaração de vontade, encaminhada a
produzir um efeito internacional, sendo este a criação, modificação ou
extinção de uma relação jurídica, devendo ser feita por um órgão
estatal que tenha reconhecimento para tal acto, e declarado de

28
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

maneira expressa ou tácita ou por meio de atos manifestos.


De acordo com Virally, devem ser atos jurídicos que tenham
significação internacional, ou seja, atos realizados com a intenção de
afetar as relações jurídicas em âmbito internacional.
São actos jurídicos que produzem conseqüências jurídicas e criam,
eventualmente, obrigações. Entretanto, deve-se observar que isso não
impede que haja concorrência de outra vontade, como, por exemplo,
um protesto que não seja aceito; porém, isso não terá força para
impedir a eficácia da vontade já manifestada.
Os actos unilaterais têm seu fundamento no costume, surgindo nos
espaços onde não há regulamentação do Direito. Os Estados podem
regulamentar através deles situações, mesmo que localizadas no
estrangeiro, mas que possam produzir efeitos no seu território, assim
como podem regular matéria a respeito da qual ele tenha interesse
especial, e que esse também exista para a sociedade internacional.
Como exemplo desse caso, temos a lei canadense de 1970, que regula
sobre a prevenção da poluição nas águas do Ártico até a distância de
100 milhas da costa.
Alguns doutrinadores de Direito Internacional não conferem aos atos
unilaterais caráter de fonte de Direito, considerando-os como direito
transitório surgido na ausência de tratado ou costume, com os Estados
exercendo livremente sua soberania desde que não atinja a de outro
Estado. Também entendem o ato unilateral como apenas um
instrumento de execução.
Contudo, não pode ser negado a tais atos o caráter de fonte do Direito
Internacional, pois normas jurídicas pelas quais os Estados devem
pautar a sua conduta, ou seja, são um dos modos pelo qual os Estados
se autolimitam.
Para que tenham eficácia, os atos unilaterais devem atender a duas
condições:
a) Deve ser público, ou seja, de conhecimento da comunidade
internacional
b) Deve haver intenção do Estado que o elabora de se obrigar, pois
não é possível fazer um ato unilateral que obrigue outro Estado.

2.1.7.1. Actos Unilaterais dos Estados e sua classificação


Os actos unilaterais dos Estados não são todos e quaisquer atos
isolados imputáveis a um Estado que têm o poder de produzir efeitos
jurídicos no Direito Internacional, mas unicamente aqueles que o
Direito Internacional reconhece com tais faculdades e dentro das
hipóteses que por este são previstas.

29
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Alguns atos, entretanto, podem ser considerados como sendo de pura


cortesia internacional – sugestão a outro Estado de adotar ou não um
comportamento, consultas recíprocas, convites para se iniciar uma
negociação internacional. Porém, se tais atos estiverem revestidos de
forma jurídica, ou seja, se têm previsão em tratados ou convenções
multilaterais, sendo obrigações, serão atos jurídicos unilaterais dos
Estados, com o reconhecimento do Direito Internacional dessa sua
posição.
Não existe um único critério para a classificação dos atos unilaterais,
havendo divergência entre os doutrinadores. Uma das classificações
mais aceitas é a formulada por Charles Rousseau:
a) Tácitos: silêncio
b) Expressos: protesto, notificação, renúncia, reconhecimento
e promessa.
Além desses atos, existe uma série de outros, tais como autorização,
advertência, oferta de bons ofícios, anexação, ruptura de relações
diplomáticas, aquiescência (atitude puramente passiva de um Estado
perante uma situação de fato determinada, em circunstâncias que
exigiriam em geral uma reação de sua parte), entre outros.
A principal característica dos atos unilaterais é sua atipicidade, e
podemos acrescentar a existência de outros atos unilaterais, tomados
no sentido amplo da expressão, como a adesão, as decisões das
organizações internacionais, entre outros.
Além da classificação entre tácitos e expressos, os atos unilaterais
também podem ser classificados como escritos (forma mais utilizada)
e orais (podem apresentar o problema de se verificar os termos em
que foram feitos).

a) Tácitos
O silêncio é o ato unilateral tácito por excelência, sendo assimilado à
aceitação. Ocorre quando um sujeito de Direito Internacional não se
manifesta em relação a um determinado ato unilateral, dessa forma,
acatando-o.
Para que isso ocorra, o ato unilateral deve obedecer a três condições:
 O Estado interessado (o que guarda o silêncio) deve conhecer o
ato
 O objeto do ato unilateral deve ser um interesse jurídico
 Deve ser concedido um prazo razoável para que o Estado
interessado tenha a possibilidade de se manifestar
Aplica-se a norma “qui tacet consentire videtur” (quem cala, quando
deveria falar, consente), do Direito Canônico, ao silêncio. Porém, seu
significado dependerá das circunstâncias, pois equivaleria a um
consentimento tácito, quando o Estado tivesse o dever de se
manifestar para evitar interpretações
30
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

que viessem a comprometer a existência ou as condições de exercício


de seu direito.
A regra canônica foi verificada em duas situações, a saber:
1. 1919: Nas razões da Dinamarca no caso da Groenlândia, que
interpretava o silêncio da Noruega como um consentimento implícito
à extensão da soberania dinamarquesa sobre a totalidade desse
território.
2. 1962: Caso do Templo de Préah Vihéar, com o silêncio da Tailândia
quando o Camboja lhe enviou um mapa com a delimitação que
colocava o referido templo no seu território. Foi uma reivindicação de
soberania sobre territórios onde se localizavam importantes templos
sagrados budistas, os quais foram julgados em favor do Camboja,
tendo em vista que provou que a Tailândia, mesmo tendo
conhecimento das fronteiras entre eles, traçadas pela França, e
herdadas quando se tornaram independentes, silenciara a respeito da
localização dos templos e, além disso, tinha permitido a confecção, em
oficinas gráficas em seu território, de mapas impressos nos quais os
templos constavam como situados no Camboja – a Corte Internacional
de Justiça entendeu que a Tailândia tinha dado seu consentimento
tácito à situação, além de não ter exercido seu direito de protesto, que
é um ato internacional que pode impedir qualquer preclusão.
Os atos unilaterais tácitos também podem ser denominados
aquiescência, que representa os efeitos de uma ausência de
manifestação de vontade, ou por um Estado não ter utilizado os meios
jurídicos para impedir a situação de constituição de um direito em
favor de outros Estados – preclusão– ou por haver silenciado numa
situação que isso pode produzir efeitos jurídicos.

b) Expressos
O protesto é o modo pelo qual um Estado procura evitar que se forme
uma norma costumeira ou uma situação que lhe seja prejudicial. É
sempre formal, público, e com efeito “erga omnes”. O Estado declara
sua intenção expressa de não reconhecimento de uma situação ou
direito, ou demonstra seu descontentamento com um fato gerado por
outro Estado. É um ato que visa produzir efeitos contrários aos do
reconhecimento, impedindo que o silêncio produza seus efeitos,
evitando que se configure um consentimento tácito.
Os requisitos de validade de um protesto são:
 Capacidade jurídica: deve emanar dos Estados e das
organizações internacionais – o homem não tem o direito
de formular protesto com efeitos internacionais
 Capacidade do órgão formulador do protesto: o Poder
Executivo é que tem competência para tratar de assuntos
referentes às relações internacionais

31
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 A vontade que o formulou não deve conter vícios


 Objeto lícito

O protesto pode ser escrito ou oral, podendo também se manifestar


por atos inequívocos que demonstrem a não concordância do Estado
com uma nova situação. É um ato facultativo e somente em situações
excepcionais um Estado é obrigado a protestar; um exemplo é nos
casos em que um Estado se obriga a defender os direitos de um outro
Estados, sendo que tais direitos estão sendo violados. Pelo protesto, a
nova situação não será oponível ao seu autor.
A eficácia de um protesto geralmente depende de sua continuidade
(ex: protestos da Argentina contra a ocupação inglesa nas Ilhas
Malvinas), e é endereçado a quem viola os direitos de seu autor, ou a
um terceiro que seja responsável pela manutenção desses direitos (ex:
protesto endereçado à ONU quando um Estado agride outro).
Apesar de evitar a criação de uma norma jurídica, o protesto também
não a cria. A notificação é o ato pelo qual um Estado leva ao
conhecimento de outro, ou de vários outros, um determinado fato
que pode produzir efeitos jurídicos.
A notificação pode atingir qualquer matéria, e sua finalidade é dar
uma certeza legal da informação.
O sujeito ativo da notificação pode ser os Estados, as organizações
internacionais e os indivíduos, se tiverem acesso aos órgãos ou
tribunais internacionais. O sujeito passivo é representado pelos órgãos
encarregados das relações internacionais do Estado a quem for
dirigida a notificação.
Podem ser classificadas em obrigatórias, facultativas, constitutivas
(produzem efeitos jurídicos) e declaratórias (visam apenas a
publicidade de determinado fato).
Promessa - É o ato unilateral de um Estado pelo qual este institui para
si próprio um dever de agir ou de abster-se de agir, ao mesmo tempo
em que se cria um direito subjetivo a outros Estados de exigir o
cumprimento das obrigações instituídas. É um compromisso assumido
por um Estado de que terá uma determinada atitude, conduta ou
postura no futuro.
Há a obrigatoriedade da promessa para quem a formulou, como pode
ser visto no caso da Groelândia, no qual foi considerado como
obrigatório para a Noruega a declaração de seu Ministro do Exterior
de que seu país não reivindicaria território na Groelândia.
Estão se tornando cada vez mais raros os casos de promessa, pois os
Estados não tem tido interesse em fazer concessões espontâneas e
gratuitas.
A promessa só produz efeitos jurídicos nas seguintes situações:

32
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 Quando é dirigida a Estados e organizações internacionais


 Quando o beneficiário da promessa age de boa-fé
 Quando é formulada por Estados ou organizações
internacionais.
A renúncia é um ato unilateral pelo qual um Estado expressa que ele
deixa de usufruir um direito que lhe é próprio, ou seja, o sujeito de
Direito Internacional voluntariamente abdica de seu direito.
Seus efeitos são os mesmo do silêncio: não mais se aplicam ao Estado
renunciante seus direitos devidos.
A renúncia tem que ser expressa, realizada por um ato inequívoco,
pois não é presumível. Deve-se fazer uma interpretação restritiva
deste ato unilateral, de forma que seja menos prejudicial ao seu autor.
A denúncia, em sua essência, não é um ato unilateral, visto que
deverá estar expressa em um tratado par que produza efeitos
jurídicos. Porém, pode ser admitida como tal quando produz efeitos
jurídicos mesmo que não esteja prevista em tratados, nos casos de:
a) Ser feita por represália
b) Ser admitida por meio de interpretação nos tratados perpétuos
c) Atuar como uma via de fato
Reconhecimento - É o mais importante dos atos unilaterais, podendo
ser definido como o ato pelo qual um sujeito de Direito Internacional
aceita uma determinada situação de fato ou de direito e,
eventualmente, declara que a considera como legítima. Esse
reconhecimento pode compreender dois momentos distintos: um de
simples constatação, e outro de considerar o objeto legítimo. Ele
transforma situações de fato em situações jurídicas. Muitos fatos
podem ser objeto de reconhecimento, tais como Estado, governo,
beligerantes, direito.
O reconhecimento pode se dar por via tácita e expressa. Fala-se de
reconhecimento tácito quando decorre de atos inequívocos, como,
por exemplo, a manutenção de agentes diplomáticos junto a um novo
governo. O reconhecimento será expresso quando um Estado, por
meio de manifestação de vontade, o declarar – por meio de uma nota
diplomática, por exemplo.
Quem concede o reconhecimento fixa seus efeitos, sendo que o
principal efeito do reconhecimento é que o objeto ou situação
reconhecida passar a ser oponível a quem o reconheceu. Após efetuar
o reconhecimento, um Estado não pode contestar o fato.
O reconhecimento tem natureza jurídica de ato declaratório, não
criando nem substituindo seu objeto. Utiliza-se também o não
reconhecimento para tentar impedir que uma situação de fato
produza efeitos jurídicos.
Há duas teses acerca do reconhecimento, a constitutiva e a
declaratória. A primeira sustenta que

33
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

o ato de reconhecimento é fundamental e decisivo até mesmo para o


surgimento da personalidade internacional de um novo estado e dos
direitos e deveres a ele pertinentes. Já a para a segunda, o ato de
reconhecimento é somente um ato político, formal, que via de regra
precede o estabelecimento de relações diplomáticas com um Estado
que já existe como tal. Atualmente, a tese declaratória é mais aceita,
visto que seria um equívoco vincular a existência de personalidade
internacional de um Estado à vontade de outros Estados.
Deve-se observar que um Estado pode existir mesmo que não tenha
relações internacionais como outros, assim como do mesmo modo
terá direitos e contrairá obrigações. Os Estados reconhecidos não
encaram os não reconhecidos como sendo isentos de normas do
Direito Internacional. Devido a isso, não é possível a aceitação da tese
constitutive.

Sumário
Nesta unidade abordamos a respeito das fontes, desde logo
enunciamos as fontes primárias ou imediatas e fontes
secundárias ou meditas, portanto vimos que o artigo 38 do
ETIJ, trás o título exemplificativo as fontes primariais e
secundárias, mas que estas não se esgotam nas elencas pois
existem outras fontes que não fazem parte das elencadas mas
são consideradas fontes do DIPu.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O que entendes por fontes de Direito?


Resposta – Fonte de Direito são as diversas formas de criacao e
revelacao do Direito.
2. O que entendes por Costume?
Resposta - é uma prática reiterada com convicção de obrigatoriedade.

3. O Proteste é um dos actos unilaterais dos Estados. Em que


consiste?
Resposta - O protesto é o modo pelo qual um Estado procura
evitar que se forme uma norma costumeira ou uma situação que
lhe seja prejudicial. É sempre formal, público, e com efeito “erga
omnes”. O Estado declara sua intenção expressa de não
reconhecimento de uma situação ou direito, ou demonstra seu
descontentamento com um fato gerado por outro Estado. É um
ato que visa produzir efeitos contrários aos do reconhecimento,
impedindo que o silêncio produza seus efeitos, evitando que se
configure um consentimento tácito.
4. Quais são os requisitos para a validade de um protesto?
Resposta – as condicoes para a validade de um protesto sao:
 Capacidade jurídica: deve emanar dos Estados e das
organizações internacionais – o homem não tem o direito de

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

formular protesto com efeitos internacionais


 Capacidade do órgão formulador do protesto: o Poder
Executivo é que tem competência para tratar de assuntos
referentes às relações internacionais
 A vontade que o formulou não deve conter vícios
 Objeto lícito

Exercícios

1. Identifique as fontes mediatas das fontes imediatas do DIPu.


2. O Artigo 38 do ETIJ não abarca todas as fontes do DIPu, mas apesar
disto é um instrumento importante na determinacao das suas
fontes. Comente.
3. Diferencie os actos expressos e tácitos dos Estados.
4. Diferentemente o qui acontece na ordem jurídica moçambicana
onde costume não é fonte imediata do Direito, no DIPu este ocupa
um lugar diferente na hierarquia das fontes. Caracterize o costume
como fonte do DIPu.
5. Ate que ponto a jurisprudência é considerada fonte do DIPu?
6. A analogia e equidade são também consoderadas fontes do DIPu.
Diferencie-as.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

UNIDADE Temática 2.2. Os Tratados Internacionacionais


em especial

Introdução
Os tratados internacionais são as principais fontes do Direito
Internacional, nesta unidade iremos tratar em especial como estes são
produzidos, olhando para o procedimento em Mocambique.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer os procedimentos de conclusão dos Tratados


Internacionais (TI),

 Caracterizar o processo de elaboração dos TI em


Objectivos Moçambique.

2.2.2. O Procedimento geral de conclusão dos tratados


internacionais.

Conceito = Tratado é o acordo internacional celebrado pro escrito


entre dois ou mais Estados ou outros sujeitos de Direito Internacional,
sob a égide do Direito Internacional, independentemente de sua
designação específica. Esse conceito deflui da conjungação entre o art.
2,1,a, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) e o
art. 2, 1,a, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre
Estados e Organizações Internacionais ou entre organizações
Internacionais (1986).

O Estatuto da Convenção de Viena assim definiu o tratado, em seu


artigo 2º, como sendo um “acordo internacional celebrado por escrito
entre Estados e regido pelo direito internacional, quer conste de um
instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos,
qualquer que seja sua denominação particular” (art. 2º, I, alínea “a”).
Além disso, em tal Convenção, o ato de firmar tratados deixou de ser
exclusividade dos Estados, acrescentando-se também as demais
pessoas internacionais. Ou seja, tratado é o ato jurídico pelo qual há a
manifestação de vontades de duas ou mais pessoas internacionais,
visando estabelecer um acordo.

Na definicao ora apresentada segundo o Estututo da Corte do Tribunal


Internacional de Justica, há varios elementos que importa trazer os

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

conceitos.

a. É acordo formal internacional: é acordo escrito devendo que ter


animus contraendi e sanção em caso de não cumprimento.
b. Celebrado por escrito: para ser válido, deve ser feito por escrito,
sendo vedada a forma oral.

c. É celebrado entre Estados ou Organizações Internacionais: que são


pessoas de direito internacional. A Convenção de Viena de 86 acresceu
as Organizações internacionais como sujeitos de Direito Internacional.
Excepcionalmente, por razões políticas, um ente que não estatal pode
celebrar tratado: ex. OMC, Taiwan e Hong Kong (são tigres asiáticos
que, por meio do Acordo de Mahakesch, permitiu que os territórios
aduaneiros autônomos, para dizer que podem participar os Não-
estados, mas que tenham autonomia comercial, como no caso de
Taiwan e Hong Kong).

d. Deve ser regido pelo Direito Internacional: se um compromisso for


regido pelo direito interno de uma das partes, não será um Tratado
Internacional, mas sim um Contrato Internacional.
e. Quer conste de um instrumento único, quer de mais ou dois
instrumentos conexos: permite os acordos por troca de notas
diplomáticas (acordos em forma simplificada/acordos executivos).
f. Deve produzir efeitos jurídicos: não se considera documentos
meramente políticos. Tratados devem produzir direitos e obrigações,
de modo que a inadimplência gere responsabilidade internacional.
g. Qualquer que seja a sua nomenclatura particular: os Tratados
Internacionais não têm denominação específica, podem ser
denominados de Tratado, Convenção, Protocolo, Acordo. Excepção:
Tratados celebrados pelo Vaticano com outros Estados denominam-se
Concordata, desde que versem sobre privilégios direccionados aos
católicos.

Importa ainda salientar que O termo tratado, é mais comum, mas que
a doutrina não difere tecnicamente dos demais: convenções, acordos,
pactos, ajustes etc.

 TRATADO A expressão Tratado foi escolhido pela Convenção


de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969, como termo para
designar, genericamente, um acordo internacional, qualquer que seja
sua denominação específica. Tratado seria o ato bilateral ou
multilateral ao qual se deseja atribuir especial relevância política.
Nessa categoria se destacam, por exemplo, os tratados de paz e
amizade, tratados de amizade e cooperação.

 CONVENÇÃO Normalmente reserva-se o termo Convenção a


actos multilaterais, oriundos de
37
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

conferências internacionais e versando assunto de interesse geral.


Exemplos: as convenções de Viena sobre relações diplomáticas,
relações consulares e direito dos tratados.

 ACORDO Entende-se por acordo, os actos bilaterais ou


multilaterais com reduzido número de participantes e importância
relativa, de natureza política, económica, comercial, cultural, científica
e técnica.

 AJUSTE OU ACORDO COMPLEMENTAR É o acto que dá


execução a outro, anterior, devidamente concluído. Em geral, são
colocados ao abrigo de um acordo-quadro ou acordo-básico.

 ACORDO POR TROCA DE NOTAS Emprega-se troca de notas


diplomáticas para assuntos de natureza administrativa, bem como
para alterar ou interpretar cláusulas de actos já concluídos.

 MEMORANDO DE ENTENDIMENTO Tem sido utilizado para


actos de forma bastante simplificada, destinados a registar princípios
gerais que orientarão as relações entre as Partes, seja nos planos
político, económico, cultural ou em outros.

 PROTOCOLO é um termo que tem sido usado nas mais diversas


acepções, tanto para acordos bilaterais, quanto para multilaterais.
Aparece designando acordos menos formais que os tratados, ou
acordos complementares ou interpretativos de tratados ou
convenções anteriores. É utilizado ainda para designar a ata final de
uma conferência internacional. Tem sido usado, na prática diplomática
brasileira, preferivelmente sob a forma de "protocolo de intenções".

 PROTOCOLO DE INTENÇÕES É um ato de menor hierarquia que


não encerra um acordo de vontades, mas apenas um início de
compromisso.

 CONCORDATA O termo concordata possui, no direito dos


tratados, significação singular. Esse nome é estritamente reservado ao
tratado bilateral em que uma das partes é a Santa Sé.
 ESTATUTO Empregado para os tratados colectivos geralmente
estabelecendo normas para os tribunais internacionais (Estatuto da
OEA).
 MODUS VIVENDI designa um acordo temporário (modus
vivendi de 1936 sobre a navegação do Reno)
 PACTO É um tratado solene, formal. Foi utilizado pela primeira
vez no Pacto da Liga das Nações (Pacto de Renúncia à Guerra de
1928).

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

2.2.1.1. As fases da conclusão dos tratados (negociação, adopção do


texto, vinculação internacional entrada em vigor, registo e
publicação)

Os tratados internacionais são classificados, de acordo com vários


critérios:
I. Quanto ao número de partes
a. Tratados bilaterais Matérias típicas: fronteira, dupla tributação,
extradição, cooperação judiciária.
b. Tratados multilaterais: podem ter aplicação universal, para todos.
Ex. Direitos humanos.
Nestes tratados aparecem questões referentes à adesão de outros
Estados ao tratado (regras para adesão): as vezes exige-se aprovação
dos demais membros integrantes, inclusive com cláusula de
unanimidade (Mercosul). Fixa-se regras para denúncia do tratado, em
regra, é fixada a comunicação prévia para sair. Quantos são
necessários para permanecer vigente é outra cláusula.
Uma cláusula muito importante é a de reserva, que é a possibilidade
de o Estado se vincular ao tratado, mas com reservas. Há tratados que
não permitem reservas (TPI – Estatuto de Roma). Nos tratados
multilaterais, as matérias atinentes às reservas aparecem ao fim do
tratado. Se um Estado soberano não concorda com os termos do novo
tratado, é perfeitamente possível que haja o engajamento parcial ou
condicional a determinados tratados. A limitação ao consentimento
acerca de parte do tratado recebe o nome de reserva ou declaração
interpretativa. A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de
1.969, no seu art. 2º, “d”, explica que: d) "reserva" significa uma
declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou
denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou
aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objectivo de excluir ou
modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua
aplicação a esse Estado;
O que os distingue é a possibilidade de alargamento do número de
partes. Havendo a hipótese de ingresso ou saída de Estados, será
multilateral. Nos bilaterais, se uma das partes denunciar, extingue-se o
tratado.

II. Quanto à abertura ou não


a. Abertos → são aqueles acessíveis a outros Estados; possuem
cláusula de adesão.
b. Fechados → são aqueles realizados somente entre as partes, não
são acessíveis a outros Estados;

39
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

c. Semi-abertos → abertos somente a alguns países específicos;

III. Quanto à solenidade


a. De forma solene → são aqueles que precisam de assinatura e
ratificação;
b. De forma simplificada → são aqueles que a mera assinatura já lhe
da validade;

IV. Tratados lei, contrato e Constituição


a. Tratados-lei → são aqueles normativos, ou seja, disciplinam com
força de lei; Todos os integrantes acordam com propósitos idênticos.
b. Tratados-contrato → são aqueles que se formam a partir da
vontade das partes, em geral disciplinando tratos comerciais. Todos os
integrantes acordam com propósitos diferentes. Ex. acordo nuclear
Brasil-Alemanha: o Brasil se comprometeu a fornecer urânio
enriquecido ao passo que a Alemanha se comprometeu a fornecer
tecnologia nuclear ao Brasil.
c. Tratados-Constituição: “são celebrados pelos sujeitos da SI que
visam a institucionalizar um processo internacional de criação de uma
entidade.

2.2.1.1. As fases da conclusão dos tratados (negociação, adopção do


texto, vinculação internacional entrada em vigor, registo e
publicação)

Os Tratados são considerados actualmente a fonte mais importante do


DI, não só devido à sua multiplicidade, mas também porque
geralmente as matérias mais importantes são reguladas por eles.

A Convenção sobre o direito dos Tratados concluída em Viena, em


1969, no seu art. 2º, § 1º, alínea a dá a seguinte definição: "tratado
significa um acordo internacional concluído entre Estados em forma
escrita e regulado pelo DI, consubstanciado em um único instrumento
ou em dois ou mais instrumentos conexos qualquer que seja a sua
designação específica".

Esta definição é de Tratado em sentido lato, significando que estão


abrangidos os acordos em forma simplificados. A forma escrita é a
mais comum, porém os acordos orais também têm obrigatoriedade.

A Convenção de Viena excluiu de sua regulamentação os Tratados


entre Organizações Internacionais ou outros sujeitos de DI.
Entretanto, tal fato não significa que tais Tratados percam a sua força
legal e por outro lado, nada impede que as normas desta Convenção
se apliquem a tais Tratados.

40
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

A. Condições De Validade Dos Tratados Internacionais

1ª Condição: Competências da s Partes Contratantes – a validade dos


tratados Depende da capacidade entre as partes. Quem tem direito à
Convenção?

A resposta a esta pergunta é que a capacidade de concluir Tratados é


reconhecida aos Estados Soberanos, às Organizações Internacionais,
aos Beligerantes, à Santa Sé e a Outros Entes Internacionais.

Quanto aos Estados Soberanos, o art. 6º da Convenção de Viena


determina que todos os Estados soberanos têm capacidade para
concluir Tratados. Esta é a regra geral e como tal, possui excepções.
Assim, os Estados Dependentes ou os membros de uma Federação
também podem concluir Tratados Internacionais em certos casos
especiais.

O Direito Interno (Constituição), pode dar aos Estados Federados o


direito de concluir Tratados.

O Governo Federal no Brasil não será responsável se um Estado


membro da Federação concluir um acordo sem que seja ouvido o
Poder Executivo Federal e nem seja aprovado pelo Senado.

Os Estados Vassalos e Protegidos possuem o direito de Convenção


quando autorizados pelos soberanos ou protectores.

A Santa Sé sempre teve o direito de Convenção. Os Tratados formados


pela Santa Sé são acerca de matéria religiosa e denominados
Concordatas.

As Organizações Internacionais têm sua capacidade limitada pelos


próprios fins para os quais foram criadas.

Os Beligerantes e Insurgentes também possuem direito de Convenção,


apesar de ser este um direito discutido. Para uns, eles só poderão
concluir Tratados referentes às operações de guerra; para outros,
poderão concluir Tratados sobre qualquer matéria, uma vez que eles
adquirem personalidade internacional após o reconhecimento.¬_

As Outras Entidades Internacionais também podem assinar Tratados,


como por exemplo, os territórios internacionalizados.

Muito difícil se torna estabelecer uma Teoria Geral sobre o direito de


Convenção. Tal capacidade deve ser analisada de acordo com cada
caso.

2ª Condição: Habilitação dos agentes

A habilitação dos agentes signatários de um Tratado Internacional é

41
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

feita pelos "plenos poderes" que dão aos negociadores o "poder de


negociar e concluir" o Tratado. As pessoas que o recebem são
denominadas de plenipotenciários.

Um ato de pessoa não habilitada, a respeito da conclusão do Tratado,


não tem efeito legal até que o Estado confirme tal ato.

Os "plenos poderes" surgiram da intensificação das relações


internacionais e, em consequência, da impossibilidade de os chefes de
Estado assinarem todos os Tratados, bem como do desejo de se dar
"maior liberdade" de acção ao chefe de Estado. Outra razão de suma
importância é a de evitar que os Tratados obriguem imediatamente os
Estados, como ocorreria se o Tratado fosse assinado directamente
pelo chefe de Estado, uma vez que estaria dispensada a ratificação.

O instituto dos plenos poderes se desenvolveu no Renascimento, por


influência do "Corpus Juris Civilis".

Normalmente estão dispensados dos plenos poderes para a


negociação e autenticação dos Tratados: os chefes de Estado e de
Governo, Ministro das Relações Exteriores, chefes de missão
diplomática e representantes acreditados pelos Estados. Em
Moçambique os poderes para a conclusão dos tratados estão
plasmado na CRM.

Nas Organizações Internacionais não se exigem "plenos poderes" dos


secretários-gerais adjuntos.

Nos Tratados bilaterais os plenos poderes são trocados pelos


negociadores e nos multilaterais a verificação dos instrumentos é feita
por uma comissão ou pelo Secretariado da ONU.

Os plenos poderes perderam muito de sua importância com o


desenvolvimento da ratificação. A ratificação passa a não ser
obrigatória, vez que o Poder Legislativo pode não concordar com o
Tratado.

3ª Condição: Objecto Licito e Possível

É nulo o Tratado que violar, que ferir a norma imperativa do DI Geral,


mesmo que esta norma seja posterior a ele, porque como esta norma
é aceita e reconhecida pela comunidade internacional, ela só poderá
ser modificada por uma outra norma imperativa do DI Geral.

Esta questão da norma imperativa do DI Geral foi colocada na


Convenção de Viena, em 1969, por insistência dos países
subdesenvolvidos, que alegavam ser desiguais os acordos celebrados
sem atender à igualdade jurídica.

Enfim, um Tratado não poderá ter um objecto que contrarie a moral


internacional nem a jus cogens. Não poderá também existir no
Tratado um objeto impossível de ser
42
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

executado. Se estes casos acontecerem, a parte poderá pôr fim ao


Tratado.

4ª Condição: Consentimento Mútuo

O acordo de vontade entre as partes não deve sofrer nenhum vício. O


erro, o dolo e a coação viciam os Tratados.

ERRO: A maioria dos autores admite o erro como vício do


consentimento nos Tratados Internacionais, mas alguns doutrinadores
negam o seu reconhecimento pelo DI.A orientação de admitir o erro
como vício do consentimento foi adoptada pela Convenção de Viena.
Entretanto, é necessário delimitar o assunto:

a) só anula o Tratado, o erro que tenha atingido a "base essencial do


consentimento para se submeter ao Tratado";

b) se o erro é de redacção, ele não atinge a validade do Tratado e


deverá ser feita a sua correcção;

c) o erro de fato é que constitui vício do consentimento. O erro de


direito deve ser afastado como vício;

o Estado que tenha contribuído para o erro não pode invocá-lo.

DOLO: O dolo ocorre sempre que um Estado se utiliza de qualquer


espécie de manobras ou de artifícios para induzir outro Estado na
conclusão de um Tratado, provocando o erro ou aproveitando o erro
existente.

Para existir o dolo são necessários dois requisitos:

a) Ter sido praticado por um a parte contratante;

b) Que o erro devido à fraude de outrem seja escusável para a vítima e


determinante para o seu consentimento.

O dolo acarreta a responsabilidade internacional do Estado que o


praticou.

COAÇÃO: A coação manifesta-se de duas maneiras: contra a pessoa do


representante do Estado ou contra o próprio Estado, com a ameaça ou
o emprego da força.

A ameaça contra a pessoa do representante do Estado anula o


Tratado. A coação contra um Estado pelo uso ou ameaça da força é
causa de nulidade do Tratado, uma vez que tal fato viola a Carta da
ONU.

Até o Pacto de Paris, em 1928, de renúncia à guerra, esta forma de


coação não anulava o Tratado, entretanto, ao ser a guerra considerada
um ilícito internacional, ela passou a ser considerada um dos vícios do

43
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

consentimento.

O DI só condena a violência ilícita, pois do contrário chegaríamos a um


contra-senso, pois que no caso de um agressor vencido por uma
"força" da ONU, o "Tratado de Paz" estaria inquinado de nulidade.

Não poderá ser invocada a nulidade se, depois de conhecer o fato, foi
aceito o vício de consentimento. A corrupção do representante do
Estado é outro vício do consentimento. O Estado cujo representante
foi corrupto pode invocar este fato para invalidar o seu consentimento
dado ao Tratado.

B. Processo De Conclusão Do Tratado

O Tratado Internacional no seu processo de conclusão atravessa


diversas fases:

 Negociação
 Assinatura:
 Ratificação:
 Registo:
 Promulgação:
 Publicação

As quatro primeiras fases pertencem à fase internacional de conclusão


de um Tratado, ao passo que as duas últimas fazem parte da fase
interna.

Cada uma dessas fases possui normas próprias e características


específicas.

1ª FASE: NEGOCIAÇÃO

A negociação é a fase inicial do processo de conclusão de um Tratado.


Dentro da ordem constitucional do Estado, sua competência é do
Poder Executivo.

Nesta fase os representantes do chefe do Estado, ou seja, os


negociadores, se reúnem com a intenção de concluir um Tratado.

A negociação de um Tratado bilateral se desenvolve, na maioria das


vezes, entre o Ministro do Exterior ou seu representante e o agente
diplomático estrangeiro que são assessorados por técnicos nos
assuntos em negociação...

Nessa fase serão analisados os "plenos poderes" dos representantes


no Tratado bilateral.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

A negociação de um Tratado multilateral se desenvolve nas grandes


conferências e congressos. Aqui, os negociadores depositam os
"plenos direitos" em uma urna, para serem analisados posteriormente
por uma comissão.

Esta fase termina com a elaboração de um texto escrito, que é o


Tratado.

Quando os negociadores estão munidos dos plenos poderes, ou deles


dispensados, o Tratado então é assinado. Se não possuem os plenos
poderes, permite-se que os negociadores rubriquem o texto até que
estes recebam os plenos poderes e possam assiná-lo. O lapso de
tempo entre a rubrica e a assinatura, neste caso, é de poucas semanas
em média. Entretanto, nada impede que seja acordado que a rubrica
constitua a assinatura do Tratado.

A regra estabelecida no art. 9º da Convenção de Viena é a apdoção do


texto por todos os Estados.

No caso do Tratado bilateral aplica-se o § 1º que preceitua a adopção


do texto por todos os Estados negociadores (neste caso, os dois
Estados contratantes). Já nos Tratados multilaterais, isto é, na
Conferência, aplica-se o disposto no § 2º que determina seja o texto
adoptado por 2/3 dos Estados presentes e votantes, a não ser que se
determine o contrário, como aconteceu no caso da Conferência do
Direito do Mar que foi tratado num consenso.

Não sendo atingido o número exigível nos Tratados bilaterais, acaba o


projeto. No caso do Tratado multilateral, atingido o número exigível,
os Estados que não adotaram o texto deixam de fazer parte do
Tratado, que então não gerará efeito para eles. Se não alcançar o
número exigível, acaba o projeto do Tratado e os Estados favoráveis
ao Tratado poderão marcar nova data para a votação, apenas entre
eles.

Às vezes não se chega nem à votação, com os Estados chegando a um


consenso. A vantagem do consenso é a possibilidade de eliminar o
confronto entre os Estados.

2ª FASE: ASSINATURA

A assinatura é a segunda fase de conclusão do Tratado. Após a fase de


negociação, com o texto do Tratado pronto, este deverá ser assinado.
Com a assinatura os Estados atestam que estão de acordo com o texto
produzido. Para a assinatura do Tratado os negociadores deverão
estar munidos dos "plenos poderes" ou deles estarem dispensados.
Em via de regra, a assinatura não torna o Tratado obrigatório, com
exceção do acordo executivo. Em resumo, a assinatura:

45
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Autentica o texto do Tratado;

Atesta que os negociadores estão de acordo com o texto do Tratado;


têm ou podem ter grande valor político, que afirma que uma vez
assinado o Tratado, o Estado não deverá apor nenhuma resistência à
sua entrada em vigor.

Diversos são os tipos de assinatura:

a. Assinatura ad-referendum as demais partes poderão deixar que


o Poder Executivo negocie o Tratado, assine o Tratado e o Estado
ratificará este Tratado. Assim, esta é a assinatura que precisa ser
confirmada pelo Estado, porque o negociador não estava munido
dos plenos poderes quando assinou o texto do Tratado;

b. Assinatura diferida: é a possibilidade oferecida a Estados que


não negociaram o Tratado, de virem a assiná-lo. O efeito é que o
Estado figura como membro originário do Tratado. Encontra o
Tratado pronto, assina-o e o manda ao Legislativo. Este aprecia o
Tratado, que volta ao Executivo, que o ratificará tornando-o
válido na Ordem Internacional.
A assinatura diferida pode ou não ter prazo determinado;

c. Adesão: quando no processo de conclusão o Poder Executivo não


negociou nem assinou o Tratado, de posse deste, o mandará para
o Legislativo explicando, na exposição de motivos, que o país não
participou da negociação nem da assinatura, mas que o Tratado
lhe interessa. O Legislativo então aprecia o Tratado, devolve ao
executivo e este adere ao Tratado. A adesão substitui a
negociação, a assinatura e a ratificação. Ela apenas passa pela
apreciação do Legislativo.

d. Adesão ad-referendum: é sobre a confirmação ou sobre reserva


de ratificação. Não produz efeitos jurídicos. É só manifestação de
intenção. O Estado comunica às demais partes contratantes que
tem interesse de fazer parte do Tratado, mas o colocará à
apreciação dos órgãos competentes.

Assinatura diferida é diferente de adesão. Assinatura diferida - é a


possibilidade oferecida ao Estado de assinar o Tratado figurando como
membro originário; adesão - não há assinatura nenhuma e o Estado
vai apenas aderir ao Tratado.

3ª FASE: RATIFICAÇÃO

A partir do século passado a Ratificação passa a ser um ato


discricionário do Estado.

A ratificação é o ato que torna o Tratado obrigatório na Ordem

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Internacional. Até a ratificação o Tratado é um mero projecto.

A ratificação vai depender da ordem constitucional interna de cada


Estado. Normalmente, é da competência do Poder Executivo, exigindo
ou não a prévia autorização do Poder Legislativo. Em Moçambique a
ratificação é feita pela Assembleia da república e em seguida segue
todo processualismo da elaboração das demais leis.

4ª FASE: REGISTRO

A Carta da ONU estabelece em seu art. 102 que todos os Tratados


concluídos deverão ser registados após entrarem em vigor.

A origem do Registo se dá com a Revolução Bolchevista, quando foram


publicados uma série de Tratados perigosos.

Esse Registo é feito no Secretariado da ONU e seu efeito é dar


publicidade ao Tratado na Ordem Internacional. Mesmo Estados que
não são membros podem registar Tratados, porque há um interesse
maior de que todos os Tratados sejam reconhecidos.

O Tratado sem registo é considerado um Tratado-secreto, que apesar


de não ser reconhecido pelos demais, será válido entre as partes
contratantes. A única sanção para o Tratado não registado é que não
poderá ser invocado perante qualquer órgão das Nações Únicas, como
está previsto no § 2º do art. 102 da Carta da ONU. Com o Registo
termina a fase internacional.

5ª FASE: PROMULGAÇÃO

A Promulgação é acto jurídico de natureza interna, pelo qual o


Governo de um Estado afirma ou atesta a existência de um Tratado
por ele celebrado e o preenchimento das formalidades exigidas para
sua conclusão. Além disso ordena sua execução dentro dos limites de
sua competência.

A razão da existência da promulgação é que o Tratado não é fonte de


direito interno e sendo assim a promulgação não atinge o Tratado no
plano internacional, mas apenas sua executoriedade no direito
interno.

São efeitos da promulgação:

- Tornar o Tratado executório no plano interno;

- Constatar através do Executivo, a existência de uma norma


obrigatória para o Estado.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Em Moçambique, a promulgação é feita pelo Presidente da Republica,


e o texto afigura e é publicado no Boletim da Republica.

6ª FASE: PUBLICAÇÃO

A Publicação é conduta essencial para o Tratado ser aplicado no


âmbito interno. É adoptada por todos os países. Através de publicação
se leva ao conhecimento de todos a existência desta norma
internacional. Uma vez publicado no Boletim da Republica pelo Poder
Executivo, o Tratado ganha executoriedade e eficácia.

Efeitos Dos Tratados

Em virtude do princípio da relatividade, o Tratado produz efeitos


apenas em relação às partes contratantes. Eles são uma res inter alios
acta, sem produzir efeitos em relação a terceiros.

Como se aplicam a todo território das partes contratantes geram, do


modo indirecto, obrigações para os poderes estatais, que não podem
descumprí-los, sob pena do descumprimento acarretar
responsabilidade internacional para o Estado. Assim, o Poder
Judiciário é obrigado a aplicar o Tratado, o Poder Executivo a cumpri-
lo e o Poder Legislativo deverá elaborar as leis necessárias à regular
sua execução.

A produção de efeitos apenas em relação às partes contratantes é a


regra geral. Entretanto, ela apresenta excepções, a saber:

a. Um Tratado pode criar obrigações para um terceiro Estado, se


este, expressamente, der seu consentimento. A partir daí, para
as partes contratantes ele é convencional e para o terceiro,
unilateral. Consequentemente, o ato da criação de um Tratado
será um ato misto. Neste caso, ele só poderá ser revogado com
o consentimento do terceiro Estado e dos contratantes;

b. Existe um tipo de Tratado chamado TRATADO DISPOSITIVO, o


qual cria obrigações para terceiro sem que este tenha dado seu
consentimento expresso. São Tratados que versam sobre
questões territoriais e devem ser obedecidos por todos, vez
que a integridade de um Estado deve ser respeitada por todos
os outros; Nos Tratados que outorgam direitos a terceiro
Estado, há necessidade do consentimento tácito ou expresso
deste. O terceiro Estado pode se opor a isto. Entretanto, se ele
exercer o direito que lhe foi outorgado, considerar-se-ão
também aceitas todas as implicações decorrentes dessa
decisão;

48
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

c. Pela Carta da ONU (art. 2º, alínea VI), são impostas


obrigações ao terceiro Estado, sem que este tenha dado seu
consentimento. Tal ocorre quando uma grande parcela da
sociedade internacional, visando ao bem comum, impõe
obrigações (respeitado o DI Geral) a terceiros Estados por meio
de um Tratado.

2.2.1.2. O regime das reservas em especial.

Preliminarmente, é preciso observar que a reserva só ocorre em


Tratados multilaterais (se ele admitir reserva).

Consoante o art. 2º, § 1º da Convenção de Viena, sempre que um


Estado não concordar com determinada cláusula de um Tratado, mas
ainda assim quiser fazer parte dele, poderá extraí-la, restringi-la,
ampliá-la ou modificá-la.

Portanto, a Reserva é uma declaração unilateral, qualquer que seja


sua redacção ou denominação, feita por um Estado, ao assinar,
ratificar, aceitar ou aprovar um Tratado, ou a ele aderir, com o
objectivo de excluir ou modificar os efeitos jurídicos de certas
disposições do Tratado em sua aplicação a esse Estado."

As reservas, para serem válidas, devem preencher uma condição de


forma e outra de fundo. A condição de forma é que ela deve ser
apresentada por escrito pelo Poder Executivo e, como condição de
fundo, ser aceita pelas outras partes contratantes. Excluem-se das
reservas as denominadas DECLARAÇÕES INTERPRETATIVAS.

A doutrina mais recente tem ressaltado que as reservas não têm


prejudicado muito a eficácia dos Tratados, tendo em vista que os
Estados não abusam de sua utilização. Apresentaria ainda a vantagem
de defender a igualdade dos Estados, vez que eles apresentam
reservas às cláusulas que lhes são nocivas.

As reservas deveriam estar sujeitas ao controle do Legislativo, nos


casos em que isto é exigido, vez que elas modificam os Tratados,
modificação essa que pode vir a não ser aceita pelo Executivo.
Entretanto, devido á lentidão do Congresso na apreciação dos actos
internacionais que necessitam de soluções rápidas, esta sujeição, na
prática, não ocorre.

Entretanto, em alguns Tratados que são submetidos ao Legislativo,


pode ocorrer que lá ele chegue sem nenhuma reserva para
apreciação. Em lá chegando, poderá o Legislativo estabelecer alguma
restrição ao Tratado, sob forma de reserva. O Executivo ao receber o
Tratado, poderá ratificá-lo ou não. Como é o Poder Executivo o
competente para a formulação de
49
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

reservas, não está obrigado a aceitar o que for proposto pelo


Legislativo. Entretanto, neste caso, se ele não ratificar, o Tratado não
entrará em vigor. Se for o caso, deverá remeter o Tratado outra vez ao
Legislativo para reapreciação.

A Convenção de Viena diz que a qualquer momento o Estado que


formulou a reserva poderá retirá-la, sem consultar aqueles Estados
que a apreciaram. Tanto a reserva, quanto a objecção à reserva
podem ser retiradas livremente, porque há um interesse da sociedade
internacional de que o Tratado seja aplicado uniformemente ao maior
número de Estados. A retirada de uma reserva ou de uma objecção só
começará a produzir efeitos quando o outro Estado receber a
comunicação disto. Se um Tratado é omisso quanto à possibilidade de
reserva, há que se verificar se ela é compatível ou incompatível com o
objecto do Tratado. São estas as situações estabelecidas pela ONU:

1º O Estado aceita a reserva. Há o Tratado com a reserva, isto é, a


reserva vigora entre o Estado que aceita e o que formulou a reserva;

2º O Estado não aceita a reserva, mas acha que ela é compatível com o
Tratado. Neste caso há o Tratado entre aquela que não aceita e o que
formulou a reserva. Não se aplicará somente à cláusula que foi tratada
com reserva (componente político: a reserva não fere a essência do
Tratado).

A crítica é que a reserva acaba fraccionando o Tratado em vários


Tratados.

O Estado que já ratificou ou aderiu ao Tratado tem o prazo de 12


meses para apreciar a reserva de outro Estado que adere com reserva.
Se ele já encontra a reserva, na hora que ratifica ou adere, já deve
manifestar-se sobre ela. O Estado pode se retirar do Tratado pela
denúncia. Em determinados casos a denúncia não é previamente
submetida ao Legislativo.

Sumário
Nesta unidade tratamos a respeito dos tratados Internacionais,
Tratado é o acordo internacional celebrado pro escrito entre
dois ou mais Estados ou outros sujeitos de Direito
Internacional, sob a égide do Direito Internacional,
independentemente de sua designação específica. Esse
conceito deflui da conjungação entre o art. 2,1,a, da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969) e o
art. 2, 1,a, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados
entre Estados e Organizações Internacionais ou entre
organizações Internacionais (1986).

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Classifique os tratados quanto ao critério do número das partes.


Resposta - Quanto ao número de partes os tratados Internacionais
podem ser: Tratados bilaterais Matérias típicas: fronteira, dupla
tributação, extradição, cooperação judiciária e Tratados multilaterais:
podem ter aplicação universal, para todos. Ex. Direitos humanos.

2. Quais são as condicoes de validade de um Tratado Internacional?


Resposta - Competências das Partes Contratantes, Habilitação
dos agentes, Objecto Licito e Possível, Consentimento Mútuo.
3. Quais são as fazes da conclusão de um tratado?
Resposta – as fazes da conclusão do tratado
InternacionalNegociação, Assinatura, Ratificação, Registo,
Promulgação.

Exercícios

1. Qual a diferença entre tratado-lei e Tratado-contrato?


2. Imagine um tratado internacional assinado pelo 1º Ministro
de Mocambique, sabendo que o governo norte-americano, esta
congindo o mesmo matendo seus familiares reféns em
Guantanamo. Será esse tratado valido? Justifique a sua resposta.
3. Em Mocambique que tem a competência para concluir um
Tratado Internacional?
4. Quais são as causas da invalidade de um tratado
Internacional?
5. O que entende por reserva, no âmbito de um tratado
Internacional?
6. Em termos de hierarquia os Tratados Internacionais tem o
mesmo valor que as demais leis infraconstitucional. Concorda?
Justifique com base legal.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

TEMA - III: Os Sujeitos Do Direito Internacional Publico


Unidade Temática 3.1. Generalidades Sobre os Sujeitos do DIPu

UNIDADE Temática 3.1. Generalidades sobre os Sujeitos


do DIPu

Introdução
Nesta Unidade pretende-se que o estudante conheça os diversos
sujeitos do Direito Internacional, desde logo é sujeito quem tem
capacidade e personalidade jurídica, a possibilidade de ser parte num
processo. Encontamos diversos sujeitos tais como: o Estado, Os
indivíduos, as organizacaoes Internacionais.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conceptializar os sujeitos do DIPu;


 Identificar os Sujeitos do DIPu;

Objectivos  Caracterizar os sujeitos do DIPu;


 Carcaterizar o Estado Enquando Sujeito do Dipu.

É sujeito do DIPu segundo o Prof. Quadros quem for susceptível de ser


titular de direitos ou suporte de obrigações resultantes directa e
imediatamente de uma norma do Direito internacional. Entretanto o
critério para aferir essa susceptibilidade é o mesmo utilizado noutros
ramos de direito interno. Desde logo o porque desta definição?
1. É o Direito Internacional (DI) que determina quais são os seus
sujeitos, não havendo sujeitos por direito próprio,
2. É o DI que estabelece a forma pela qual nasce a personalidade
jurídica,
3. Só são sujeitos do DI aqueles que estejam em relação directa com
a norma internacional,
4. A personalidade jurídica internacional pode não coincidir com o
direito interno.

52
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Desta feita podemos classificar os sujeitos do DI com capacidade


Jurídica plena e sujeitos com capacidade jurídica limitada. O primeiro
compreende apenas o Estado, única entidade em que se verifica ainda
a plenitude da capacidade jurídica internacional. No segundo grupo
integram-se, portanto os outros sujeitos e teremos de distinguir entre
os sujeitos com base territorial (beligerantes, Estados semi-soberanos
e associações de Estados) e os sujeitos sem base territorial (casos
especiais de sujeitos que prosseguem interesses espirituais como
Santa Sé e a Ordem de Malta, ou que prosseguem interesses políticos,
como os movimentos nacionais e os governos no exílio, o individuo e
as Organizações Internacionais).

3.1.1. O Estado
O Estado é sem dúvidas o principal sujeito do DIPu, o único que "
possui na sua totalidade os direitos e deveres internacionais
reconhecidos pelo Direito Internacional". A plenitude da capacidade
jurídica internacional segundo QUADROS (1997, p. 327) cabe assim ao
Estado soberano e não, a qualquer Estado como algumas doutrinas
afirmam. A título de exemplo nos estados federados ou nos mebros de
uma confederação mesmo tendo personalidade jurídica no Direito
Internacional, gozam de uma capacidade internacional limitada, por
isso, em certas circunstâncias são chamados semi-soberanos.

No âmbito do DIPu o estado nasce como uno novo sujeito do DIPu


quando reúne três elementos, com base na noção de estado10, a
doutrina tem vindo a enunciar como sendo os três elementos
constritivos do estado: um Povo, um Território e um poder político
soberano, ou seja teremos Estado soberano com personalidade
jurídica internacional quando um povo se estabelecer livremente num
território e ai criar e exercer o seu poder politico soberano.

Verificados esses três elementos ou requisitos, o estado soberano não


se torna automaticamente sujeito do Direito internacional é
necessário que este seja reconhecido, veremos mais adiante a matéria
do reconhecimento dos Estados e do governo. Da personalidade
internacional do estado soberano deriva sua unidade e sua
permanência no plano internacional.

A consequência da personalidade jurídica do estado a nível


internacional, este passa a gozar de duas prerrogativas essenciais:

A competência Interna – que pode ser analisado em dois planos: a


competência territorial, o estado soberano tem exclusividade no seu
território e pode recusar qualquer acto de autoridade por parte de
outro Estado no seu território. Competência Pessoal: que diz respeito

10
Sociedade politicamente organizada
53
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

a exclusividade de atribuir a sua nacionalidade a pessoas singulares e


colectivas, navios e aviões, satélites e engenhos especiais.

No domínio da competência internacional – o Direito Internacional


reconhece o estado soberano: ius legationis – o direito de enviar e
receber agentes diplomáticos; ius Tractum - o direito de celebrar
tratados internacionais; O direito de reclamação internacional; Ius belli
– o direito de fazer a guerra, ou seja usar a forca para proteger-se.

3.1.1.1. Surgimento e desaparecimento dos Estados.


As causas do aparecimento do Estado são necessariamente três11:

 Pela separação de um território colonial do estado metropolitano


– temos o fenómeno da descolonização
 Pelo desmembramento de um estado preexistente – a sucessão ou
a criacao concertada de um estado novo, como foi o que
aconteceu com a sucessão de quatro repúblicas da antiga
Federação Jugoslava (Croácia, Eslovenia, Bosnia e Mancedonia)
 Pela fusão de antigos Estados Soberanos – ocorre quando dois
estados juntam-se e fazem desaparecer os dois preexistentes
formando um so novo. Exemplo a RDA e a RFA, fundiram-se
formando apenas Alemanha.

Um aspecto importante a estudar é a respeito da transformação do


estado soberano, as categorias mais importantes de transformações
do estado soberano são: a transformação por mutação territorial
(perda ou anexação de um território ou parte de um território) e a
transformação política cujo caso principal é a mudança violenta de
governo.

A par do surgimento o Estado soberano também pode desaparecer,


este fenómeno dá-se quando desaparece um dos elementos
constitutivo; pode ser, ao menos teoricamente desaparecer um
território, por cataclismo físico, por genocídio, desaparecimento do
poder político por incorporação.

Entretanto qual o destino dos direitos e obrigações internacionais dos


Estados desaparecidos ou que recaiam sobre os territórios que
passaram de um estado a outro? Este o problema chamado sucessão
de Estados que ocorre quando há substituição de um estado por outro
na responsabilidade pelas relações internacionais de um território.

11
Segundo QUADROS Faustos & PEREIRA Gonsalves Adre. Manual de Direito
Internacional. Coimbra: Almedina, 1997.
54
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

3.1.1.2. Reconhecimento dos Estados e dos Governos e sua


importância.
O reconhecimento pode incidir sobre vários aspectos materiais do
DIPu, mas o de maior importância jurídica é o reconhecimento que
tem por objecto sujeitos do Direito Internacional (reconhecimento de
estado, governo, de nação de beligerantes, etc.).

É sobre esta matéria que a seguir iremos tratar sobretudo a questão


da natureza do reconhecimento, existindo basicamente duas teorias
em torno: a primeira é a teoria do reconhecimento constitutivo –
segundo esta tese a personalidade jurídica internacional inicia-se com
o reconhecimento, caso contrario só goza de personalidade em face
do Direito Interno, porque perante o Direito Internacional os Estados
não reconhecidos são simples realidades de facto reduzido a sua
capacidade jurídica a nível internacional a segunda é a teoria do
reconhecimento declarativo – segundo esta o estado já é sujeito do
Direito internacional assim que ele existe mesmo que nenhum estado
o reconheça. O estado nasce como sujeito do DI assim que reúne os
três elementos constitutivos (Território, povo, Poder politico), assim o
reconhecimento tem apenas o efeito de verificar ou declarar
existência de um novo sujeito do Direito internacional, o seu efeito
prático é de definir o momento exacto a partir do qual o Estado pode
iniciar a sua vida internacional normal.

A. Reconhecimento de Estado
Para VARELLA Reconhecimento do Estado É a manifestação unilateral
e discricionária de outros Estados ou Organizações internacionais no
sentido de aceitar a criação do novo sujeito de direito internacional,
portanto, com direitos e obrigações.
Por sua vez LUIZ SILVA define o reconhecimento como sendo o ato
pelo qual os Estados já existentes constatam a existência de um novo
membro na Sociedade Internacional.

Na visão de PORTELA12: é importante na medida em que ambos –


reconhecimento de Estado e Governo – se referem à capacidade de o
ente estatal manter vínculos com outros Estados e organismos
internacionais, inserindo-se na dinâmica das relações internacionais.
Para ele, reconhecimento de Estado é ato unilateral, discricionário,
meramente declaratório, que visa apenas atestar o surgimento do
Estado.

I. Requisitos13
(a) Possuir governo independente e autónomo na conduta dos
negócios estrangeiros;

12
VARELLA, Marcelo Dias. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva,
2009, p. 221 e ss.
13
SILVA, Direito internacional público, p. 207.
55
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

(b) Governo com autoridade efectiva sobre o território, congregando


forças.
(c) Possuir território delimitado.

Reconhecimento do Estado pode ser:


(i) Diplomático: envio de diplomatas ou com a acreditação dos
representantes diplomáticos no Estado
(ii) De jure: com a formalização de tratados com o novo Estado;
(iii) De facto ou formal: com a criação de projectos de cooperação
conjunta, envolvendo o Estado que se pretende reconhecer.

B. Reconhecimento Dos Governos

É acto em que se admite o novo governo de outro Estado como


representante deste nas relações internacionais.14

O regime de reconhecimento de governos obedece dois critérios:

A doutrina da efectividade – quando o reconhecimento do governo


baseia-se no facto de ele controlar a efectivamente o país e esteja em
condições de cumprir com os compromissos internacionais do estado;

A doutrina da Legitimidade – quando o reconhecimento do governo


obedece a legitimidade democrática da sua constituição (resultante da
expressão da vontade do povo).

O reconhecimento do governo em Direito Internacional é livre e é


apenas um marco constitutivo porque o governo não é sujeito do
Direito Internacional mas sim o estado, o reconhecimento dos
Governos nas relações entre os Estados permite determinar o
verdadeiro titular da função de representação internacional do estado
e da responsabilidade internacional do estado, na ordem interna dos
Estados permite a este e aos seus agentes diplomáticos e consulares
beneficiarem-se de imunidades reconhecidas pelo Direito
Internacional.

C. Os insurrectos e Beligerantes.

As figuras de insurrectos e Beligerantes encontram-se em desuso no


direito Internacional e por isso o seu reconhecimento tem vindo a
perder actualidade, não obstante algumas situações contemporâneas
ocorreram como é o caso da UNITA na Angola e RENAMO em
Moçambique, importa salientar que o reconhecimento de insurrectos
e beligerantes pressupõe a existência de rebelião organizada no

14
PORTELA, op. Cit., p. 160.
56
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

território em que põe em causa a unidade nacional e a capacidade ou


legitimidade do governo para exercer o seu poder sobre o território do
Estado com recurso a meios violentos que podem incluir actos contra
a segurança de pessoas e bens, com ou sem revindicação da
responsabilidade por tais actos, sendo esses rebeldes nessas
condições combatidos pelo governo legitimo do estado. "Essa situação
leva frequentemente a um terceiro estado a fim de proteger os seus
interesses, a reconhecerem os rebeldes seguindo uma prática que
nasceu no costume" parafraseando QUADROS (1997, p. 319).

O objectivo essencial, visa essencialmente distinguir os rebeldes dos


delinquentes comuns e assim coloca-los sub a protecção do Direito
Internacional Humanitário. Segundo QUADROS15:
"É atribuído a o reconhecimento como sujeitos do Direito
Internacional aos insurrectos e beligerantes quando estes já
controlam uma parte significativa do território do estado em
causa, possuem um comando organizado e responsável,
respeitam nas hostilidades o Direito Internacional de guerra
(tratamento dos civis e prisioneiros), então é lhes atribuído a
personalidade jurídica internacional, tornando-se assim
sujeitos do DIPu".

A atribuição de personalidade jurídica Internacional trás consigo


efeitos, desde logo a sujeição das partes em conflito as normas do
direito Internacional que rege os conflitos armados entre os Estados,
esse efeito são porem transitório, porque ou caduca com a vitória de
um grupo beligerante que toma o poder absoluto e o consequente
desmembramento do Estado anterior ou esse grupo é derrotado pelo
governo legítimo e nesse caso o reconhecimento de beligerantes
caduca de per si. Depois desta explanação podemos afirmar que o
reconhecimento dos Insurrectos e beligerantes é discricionário e não
vinculativo.

3.1.2. O indivíduo como Sujeito do DIPU


A disputa doutrinária acerca da personalidade jurídica do Direito
Internacional do indivíduo não diz respeito ao estado do Direito
positivo nem as disposições desde que se referem ao indivíduo: o que
sucede é que se defrontam aqui mais uma vez as grandes concepções
filosóficas, que agora divergem na interpretação a dar a situação do
indivíduo e na inserção do problema nas respectivas concepções
jurídicas globais.

Assim para a concepção positivista voluntarista, esta na base o


dualismo o direito internacional afecta apenas directamente aos
estados, seus autores e destinatários, da norma internacional não
resultam nunca modificações na esfera jurídica do indivíduo, que só

15
Idem
57
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

será afectada quando o Direito Internacional vigorar na ordem interna


através da acção do estado.

Para concepções Monista antivoluntaristas o indivíduo não só é sujeito


do Direito Internacional mas é, até o seu único sujeito, já que como
sabemos é características desta corrente a negação da personalidade
jurídica do Estado, que é considerado mero processo técnico de
gestão de interesses colectivos.

Kelsen sustenta que além do Estado também os indivíduos são sujeito


do DIPu na medida em que para ele derivam directamente obrigações
cuja sanção lhe é imputada.

Portanto ninguém nega hoje a norma internacional contempla muitas


vezes situações individuais, mas é necessário que decorra dela
directamente direitos e obrigações para o indivíduo.

3.1.2.1. Situações jurídicas que contemplam o homem, indivíduo


particular

Como dito anteriormente, existem inúmeras normas jurídicas que


contemplam o homem, pelo Direito Internacional. Passa-se agora a
analisar estas situações verificando-se a existência ou não da
subjetividade internacional do indivíduo, em cada uma delas, com
base nos requisitos acima expostos de titularidade de direitos e
obrigações, invocabilidade de jurisdição e possibilidade de estabelecer
relações.

A. Crimes internacionais

No plano dos deveres o indivíduo foi, há bastante tempo, abrangido


pela lei penal internacional. A pirataria foi o primeiro dos crimes
reprimidos por esta ordem jurídica internacional, principalmente em
decorrência de sua característica de possibilidade de ocorrer fora da
jurisdição de qualquer país.

Entretanto, sua contemplação normativa, atualmente prevista na


Convenção de Genebra sobre o alto mar, de 1958, dirige-se
diretamente aos Estados, possibilitando que um navio aprisione outro
suspeito de pirataria e posteriormente o Estado o julgue na forma do
Direito interno. Dessa forma, tais regras não têm projeção na esfera
jurídica individual.

Posteriormente, surgiu a responsabilização por crimes contra a


humanidade e crimes de guerra. Decorreu da necessidade de se punir

58
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

os agentes de tais delitos que, dentro da ordem jurídica interna


estivessem protegidos. A doutrina cita os casos conhecidos do Tribunal
de Nuremberg, de Tóquio e mais recentemente os Tribunais penais
internacionais para a ex-Iugulsávia e para Ruanda. Todos eles
constituíram-se em tribunais penais que ad hoc, criados ex post
facto, e nos quais houve a responsabilização do indivíduo pelos seus
atos diretamente da ordem internacional, ou seja, não eram os
Estados partes passivas nos litígios, mas sim os próprios indivíduos.

Entretanto, é bastante questionável utilização destes exemplos para a


análise da subjetividade internacional do indivíduo, principalmente em
decorrência do caráter meramente temporário destes tribunais. Não
há dúvida de que através deles ocorreu um avanço, com a
possibilidade de responsabilizar diretamente os indivíduos, contudo
não se pode dizer que, ordinariamente, ressalvados estes exemplos
excepcionais, ao indivíduo decorram obrigações diretamente da
ordem internacional.

É importante mencionar que esta realidade pode mudar dentro de


pouco tempo com a criação do Tribunal Penal Internacional que será
de caráter permanente. Este terá personalidade jurídica própria e
competência para julgar graves crimes que tenham transcendência
internacional, ligados aos direitos fundamentais. A partir de seu
funcionamento existirá a possibilidade de responsabilização penal de
forma internacional permanente, dos indivíduos, pessoas naturais.

Todavia, até o presente momento, não se pode dizer que exista a


possibilidade de, fora ocasiões excepcionais, o indivíduo ser
responsabilizado por atos delituosos diretamente pela ordem
internacional.

B. Proteção Internacional dos Direitos do Homem

Certamente este seja o campo mais fértil para a presente discussão e


que mais tem evoluído nos últimos anos. A proteção internacional dos
direitos humanos representa uma preocupação cada vez mais
presente no cenário internacional. Sua efetivação, que inicialmente
tinha por intuito a proteção meramente diplomática dos nacionais que
se encontrassem em território estrangeiro, atualmente tem mudado
de enfoque. Buscam-se meios mais eficazes de tutela, inclusive através
de atuação jurisdicional, e, o que é mais importante, tenta-se proteger
o homem independente do Estado ao qual esteja vinculado, apenas
em decorrência de sua condição de ser humano.

Inicialmente, vale mencionar que muitos são os tratados e acordos


internacionais que tem por objeto proteção dos direitos
fundamentais. Entretanto, a maioria
59
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

deles tem o indivíduo como mero objeto de direitos, afetado apenas


indiretamente, através dos Estados. Via de regra, são estes os
destinatários dos acordos, como entes responsáveis na realização dos
direitos daqueles.

Dentro desta sistemática, a Declaração Universal dos Direitos


Humanos constitui, sem dúvida, um marco no que tange a afirmação
dos direitos fundamentais do homem. Sua importância reside na
imposição de um código de atuação para os Estados, através do
reconhecimento universal dos direitos fundamentais que consolida um
parâmetro internacional para a proteção dos mesmos. Por outro lado,
o impacto desta Declaração fez com que os direitos nela previstos
fossem transportados para as Constituições nacionais, gerando
inclusive um efeito jurídico de tais direitos.

Todavia, sobre sua efetividade, vale mencionar que, no dizer de


Seitenfus e Ventura, trata-se de umadeclaração emanada na forma de
resolução da AG. Como já notado anteriormente,
tais recomendações possuem um peso político e moral descartada a
obrigatoriedade jurídica. Por sinal, não foi previsto instituto de
controle da aplicabilidade das normas, sugerindo uma escassa eficácia.

Assim, embora importante por seu peso político e moral, no que tange
a subjetividade internacional do indivíduo nada se acrescentou com a
DHDU. Ela apenas procurou garantir direitos dentro da ordem interna
de cada país. Tem como destinatário não os indivíduos, mas sim os
Estados, no sentido de que estes venham a garantir tais direitos aos
seus cidadãos. Além disto, não consubstancia meios de fazer valer
estes direitos senão através de seu próprio Estado. Sendo assim, ainda
aqui, permaneceu o indivíduo fora do DIP.

Esta regra não se restringe apenas à DHDU. Vale mencionar que


existem outras inúmeras declarações firmadas ao redor do mundo e
durante o decorrer da história que seguem a DHDU sobre a
subjetividade dos indivíduos, na forma acima descrita.

Neste ínterim, é importante ter presente que a Carta das Nações


Unidas, no art. 1º, § 3º de sua Carta, demonstra que um dos
propósitos da ONU consiste em promover e estimular o respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem
distinção de raça, sexo, língua ou religião. Com base nisto, uma
violação flagrante aos direitos fundamentais pode ensejar o infrator a
medidas de coerção, também previstas na referida Carta. Esta
possibilidade tem sido considerada uma grande exceção à cláusula de
jurisdição doméstica ou de domínio reservado dos Estados,
principalmente quando se tem presente que, até pouco tempo, a
relação entre os nacionais com seu país não era preocupação do
Direito Internacional.

60
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Este contexto enfrentou uma relativa transformação com o advento


de dois estatutos regionais que objetivavam a implementação dos
direitos humanos nos continentes respectivos. Em Roma, em 1950, os
Estados-membros do Conselho da Europa firmaram a Convenção
Européia dos Direitos do Homem (CEDH). Já em São José, na Costa
Rica, em 1969 seus participantes acordaram a Convenção Americana
dos Direitos do Homem, também conhecida como Pacto São José da
Costa Rica.

A inovação trazida por estes acordos é que através dele existe a


possibilidade de que o indivíduo actue directamente, junto a um
organismo internacional, na tutela de seus direitos.

No art. 44 da Convenção Americana está previsto que qualquer


pessoa, ou grupo de pessoa, ou qualquer entidade não governamental,
legalmente constituída dentro de um dos Estados membros da
Organização dos Estados Americanos, pode apresentar petições à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos contendo denúncias ou
queixas de violações da referida convenção por um Estado-Parte.

Através deste dispositivo se percebe a possibilidade de invocação da


jurisdição internacional por parte dos indivíduos, sem a necessidade
de intervenção de seu Estado – até porque é este que na maioria das
vezes é o principal violador dos direitos dos seus cidadãos. A principal
crítica que se faz é a atuação do indivíduo não se dá diretamente a
Corte Interamericana dos Direitos Humanos, com sede na Costa Rica.
A petição dos indivíduos deve ser encaminhada, primeiramente à
Comissão Interamericana, com sede em Washington. Esta faz uma
primeira análise, toma as medidas cabíveis dentro de sua competência
e apenas se pertinente a reclamação e não resolvida pelo Estado é que
a Comissão apresente a reclamação junto à Corte.

As outras críticas ao sistema residem na necessidade de esgotamento


dos meios jurídicos domésticos para apenas após fazer a reclamação
internacional, da previsão de longos prazos para a efetivação das
medidas e, principalmente, na existência de dez países membros da
Organização dos Estados Americanos que não assinaram a Convenção,
sendo que dentre as principais faltas podemos citar Canadá, Cuba e
Estados Unidos.

No que tange a atuação do indivíduo diretamente perante a Corte


Interamericana, vale mencionar que até o presente momento não
existe esta possibilidade. Apenas a Comissão e os Estados podem
litigar perante a Corte.

A sistemática baseada na Convenção Européia dos Direitos Humanos é


basicamente a mesma da acima descrita, até mesmo porque esta
desempenhou grande influência na edição do Convenção Americana.

61
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

O importante é ressaltar apenas uma peculiaridade.

Ao contrário do que ocorre no sistema americano, na Europa existe a


possibilidade do indivíduo atuar diretamente junto à Corte Européia.
Pouco tempo atrás ele deveria passar preliminarmente pelo crivo da
Comissão Européia, porém com o advento do Protocolo n. º 9 passou-
se a prescindir da intermediação desta Comissão. Posteriormente,
com a edição do Protocolo n. º 11, do ano 2.000, houve a extinção da
Corte e da Comissão, sendo criado o TribunalEuropeu de Direitos
Humanos. Neste, o indivíduo pode peticionar diretamente pela
garantia de seus direitos.

Ressalvada esta diferença, não é demais repetir que a possibilidade da


atuação direta pelo indivíduo é, também na Europa, bastante restrita,
com inúmeros requisitos e longos prazos de averiguação.

A importância destas convenções para o estudo ora realizado é que


elas nos trazem um elemento novo, de invocabilidade de jurisdição
internacional por parte do indivíduo.

Com a existência deste elemento, conjugado com a possibilidade de


criação do Tribunal Penal Internacional se percebe que dos três
requisitos mencionados no item “4” deste estudo, existe uma
significativa probabilidade da configuração dos dois primeiros destes
pressupostos, ou seja, dos direitos e deveres contemplados
diretamente da ordem internacional e da possibilidade de invocar a
jurisdição. Estaria então faltando, apenas o terceiro daqueles
requisitos, ou seja, a possibilidade de atuação do indivíduo na
formação e modificação do direito através do estabelecimento de
relações com os sujeitos internacionais tradicionais.

Sumário
Nesta unidade falamos de uma forma geral dos sujeitos do DIPu. São
sujeitos do Direito Internacional quem for susceptiveç de ser titular de
direito ou suporte de obrigacoes resultante da aplicacao de uma
norma internacional, existem sujeitos com capacidede plena e sujeito
com capacidade limitada existem ainda Sujeito com base territorial e
sujeitos sem base territorial. Os Estados são por excelência os sujeitos
do DIPu mas existem outros entes que são susceptível de direitos e
obrigacoes a nível internacional, tais como as Organizacoes
Internacionais, Os indivíduos, Os inssuretos e Beligerantes.

62
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Quem são os sujeitos de Direito Internacional?

Resposta: É sujeito do DIPu segundo o Prof. Quadros quem for


susceptível de ser titular de direitos ou suporte de obrigações
resultantes directa e imediatamente de uma norma do Direito
internacional.

2. Os Sujeitos de DIPu pode ser classificados como sendo: com


Capacidade Plena e Capacidade Limitada. Exemplifique cada
situacao.

Resposta: Sujeito com capacidade Juridica Plena – Estados


soberanos; com capacidade Juridica limitada – Estados em
Guerra, associacoes de Estados.

3. Os individuos em que grupo de Sujeito se enquadram?

Resposta: os individuos enquadram nos sujeitos de capacidade


Juridica Limitada sem base territorial.

4. Enucie as prerrogativas do estado a Luz do DIPu.

Resposta: A competência Interna – que pode ser analisado em dois


planos: a competência territorial, o estado soberano tem exclusividade
no seu território e pode recusar qualquer acto de autoridade por parte
de outro Estado no seu território. Competência Pessoal: que diz
respeito a exclusividade de atribuir a sua nacionalidade a pessoas
singulares e colectivas, navios e aviões, satélites e engenhos especiais.

No domínio da competência internacional – o Direito Internacional


reconhece o estado soberano: ius legationis – o direito de enviar e
receber agentes diplomáticos; ius Tractum - o direito de celebrar
tratados internacionais; O direito de reclamação internacional; Ius belli
– o direito de fazer a guerra, ou seja usar a forca para proteger-se.

Exercícios

1. Falar do Reconhecimento do Estado e falar de Reconhecimento


de Governo são duas figuras jurídicas distintas no âmbito do
DIPu. Comente.

2. Como surgem, tranformam-se e desaparecem os Estados?

3. Qual o Objectivo do reconhecimento do Governo?

4. Quais são os regimes de reconhecimento dos Governos?

5. Em que situacoes o Individuo pode ser considerado Sujeito do

63
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

DIPu.

6. O reconhecimento dos Beligerantes é discricionário não é


vinculativo. Comente.

TEMA - IV: As Organização Internacionais


Unidade Temática 4.1. As organizações Internacionais enquanto
Sujeitos do DIPu.

UNIDADE Temática 4.1. As Organizacoes internacionais


enquanto Sujeitos do DIPu

Introdução
Esta unidade pretende continuar falando dos Sujeitos do DIPu, mas
concretamente as Organizacoes internacionais (OI), far-se a
classificacao das OI segundo os vários critérios e por fim irá se tratar a
respeitos de duas importantes organizacoes Internacionais, a ONU e
SADC.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conceptualizar as OI
 Classificar as OI, segundo vários Criterios

Objectivos  Caracterizar a ONU;


 Caracterizar a SADC.

4.1.1. Conceito e Classificação das Organizações Internacionais


(OI)
Segundo Quadros (1997, p. 567) Organização Internacional" é uma
associação voluntaria de Estados ou sujeitos do Direito Internacional,
constituída mediante um tratada internacional, que prossegue
objectivos comuns aos membros e que possui órgãos próprios para a
satisfação das funções específicas para as quais foram criadas".

Desde logo ressaltam desta definitivas dois elementos da OI: o

64
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

elemento Organização (o que implica uma continuidade permanência


ou estabilidade, implicando haver uma sede e uma estrutura de
funcionamento e vontade própria que é distante da vontade de
qualquer dos seus membros) o segundo elemento é internacional
(para ser internacional deve ser criada por um instrumento do Direito
Internacional – O tratado Internacional e por sujeitos do Direito
internacional).

Uma OI não é um Estado, pois não possui território, nem povo e nem
exerce qualquer competência territorial e também possui poder
político em relação a outros Estados membros.

4.1.1.2. Classificação das Organizações internacionais


Dada a grande heterogeneidade das organizações internacionais (OI)
existentes e o seu grande número são naturalmente inúmeras
classificações das OI, segundo variadíssimos critérios. Nos
adoptaremos os critérios enunciados em QUADROS (1997:418), que
adopta três critérios de classificação: a) O objecto que prossegue, b)
Sua estrutura Jurídica e c) o seu âmbito territorial de acção ou de
participação.

a) Quanto ao Objecto

Esta classificação atende o domínio material, isto é ao objecto de cada


organização, aferido pelos respectivos fins. Podemos distinguir
organizações com fins gerais, em regra predominantemente politica,
em virtude de a sua finalidade política consistir normalmente a cúpula
de tosa uma multiplicidade de fins especiais englobando todas estas.
Exemplo a ONU, OEA, EU; e Organizações Internacionais com fins
especiais visam um objecto determinado podendo elas subdividirem-
se, consoante as finalidades predominantemente prosseguidas nas
seguintes espécies (Cooperação politica, cooperação económica,
Cooperação militar, cooperação social humanitária e cultural).

b) Sua estrutura Jurídica

Este critério atende a estrutura jurídica da Organização internacional


concretamente a coesão interna de que se revestem, e está
estritamente dependente da medida em que a soberania dos Estados
membros é limitada pelos poderes atribuídos a OI. Segundo este
critério consideram-se duas espécies fundamentais: organizações
Inter-governamentais e organizações Supranacionais; as primeiras os
representantes são escolhidos pelos respectivos governos e que se
vinculam as instruções destes. As suas decisões e deliberações, não
são obrigatórias e tem alvo os próprios Estados e não os seus sujeitos
internos. (Exemplo ONU, NATO, OEA), a segunda caracterizam-se pela
limitação da soberania dos Estados membros mediante a transferência
de poderes soberanos dos estados membros da OI, geralmente tem

65
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

estrutura jurídico-política de tipo estadual, órgãos deliberativos com


competência legislativa e executiva (Exemplo EU, CEE, EUROTOM).

c) O seu âmbito territorial de acção ou de participação.

Este critério assenta esta ultima classificação resulta quer do numero


de Estados de que as OI podem vir a ser compostas ou seja o numero
de estados que poderão em principio ser membro dessas
Organizações, quer da maior ou menor dimensão do seu âmbito de
actuação. Desta forma temos as organizações para-universais, aquelas
que em princípios podem abarcar todos os Estados da comunidade
Internacional e tem vocação universal (ONU, BIRD, FMI, GATT) e temos
as Organização Regionais com âmbito territorial restrito composto por
Estados membros geograficamente definidos. (SADC, União Africana,
União Europeia, etc.)

Normalmente as Organizações Internacionais são compostas por


Estados. Mas podem conter no seu seio sujeitos tais como canta Sé e
outras Organizações internacionais, os seus componentes são:
membros de pleno direito (que podem ser membros originários ou
fundadores e membros admitidos); membros associados (gozam dos
mesmos estatutos dos membro de pleno direito mas não tem direito
ao voto); observadores (tem estatuto limitado pela Organização). Uma
vez concedida a admissão numa OI esta condicionada ao
preenchimento dos requisitos de natureza da própria organização
internacional, a permanência dum membro depende da sua vontade e
também do continuado respeito e prossecução dos deveres e
obrigações dos seus estatutos.

Toda a competência duma Organização internacional atende ao


desenvolvimento da cooperação internacional e nos mais diversos
planos tendentes a facilitar a cooperação entre Estados e diminuir ou
mesmo eliminar divergência entre eles.

A estrutura das Organizações Internacionais é essencialmente


constituída pelos órgãos internos que em geral são:

Órgãos deliberativos – formado pelos representantes dos estados


membros formando uma assembleia-geral com funções deliberativas
gerais, fiscalização das actividades doutros órgãos e exercício dos
poderes financeiros.

Órgãos executivos – formado por um número reduzido e elementos da


Organização que asseguram o governo da mesma que se chama de
conselho

O secretariado - é o órgão propriamente internacional da OI, pois é


formado por funcionários internacionais que só dependem dos
próprios órgãos da OI e não dos Estados membros, é normalmente
dirigido por um Secretario Geral.

66
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Órgão Jurisdicional – é um órgão privativo destinado a resolver


conflitos jurídicos entre os estados membros.

Os órgãos singulares ou colegiais das OI tem como titulares os


indivíduos, cuja vontade é imputável a Organização temos assim
Representantes dos Estados membros e agentes internacionais que
subdividem-se em funcionários internacionais e agentes
internacionais.

São atribuídos como poderes das Organizações Internacionais: O


poder de debater, de decidir (decisões de ordem interna e decisões de
ordem internacional)

Em seguida a título exemplificativo traremos duas organizações.


Internacionais para um estudo de forma generalizada.

4.1.2. ONU

Organização das Nações Unidas (ONU), ou simplesmente Nações


Unidas (NU), é uma organização internacional cujo objectivo declarado
é facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança
internacional, desenvolvimento económico, progresso social, direitos
humanos e a realização da paz mundial.
A ONU foi fundada em 1945 após a Segunda Guerra Mundial para
substituir a Liga das Nações (dissolvida em Abril de 1946), com o
objectivo de deter guerra entre países e para fornecer uma plataforma
para o diálogo. Ela contém várias organizações subsidiárias para
realizar suas missões
Existem actualmente 193 países-membros, incluindo quase todos
os Estados soberanos do mundo. De seus escritórios em todo o
mundo, a ONU e suas agências especializadas decidem sobre questões
administrativas em reuniões regulares ao longo do ano. A organização
está dividida em instâncias administrativas, principalmente:
a Assembleia Geral (assembleia deliberativa principal); o Conselho de
Segurança (para decidir determinadas resoluções de paz e segurança);
o Conselho Económico e Social (para auxiliar na promoção da
cooperação económica e social internacional e desenvolvimento); o
Conselho de Direitos Humanos (para promover e fiscalizar a protecção
dos direitos humanos e propor tratados internacionais sobre esse
tema); o Secretariado (para fornecimento de estudos, informações e
facilidades necessárias para a ONU), o Tribunal (o órgão judicial
principal). Além de órgãos complementares de todas as outras
agências do Sistema das Nações Unidas, como a Organização Mundial
de Saúde (OMS), o Programa Alimentar Mundial (PAM) e o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
A figura mais publicamente visível da ONU é o Secretário-Geral, cargo
ocupado desde 2007 por Ban Ki-moon,
67
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

da Coreia do Sul. A organização é financiada por contribuições


voluntárias dos Estados-membros, e tem seis línguas oficiais: árabe,
chinês, inglês, francês, russo e espanhol.
Imagem 1: Harry Truman na conferência de fundação da ONU em São Francisco,Estados
Unidos, em 1945.

Fonte: Wikpedia

4.1.2.1. Organização
a) Assembleia Geral

A Assembleia Geral é a assembleia deliberativa principal das Nações


Unidas. Composta por todos os Estados membros das Nações Unidas,
um presidente eleito entre os Estados-Membros. Ao longo de um
período de duas semanas, no início de cada sessão, todos os membros
têm a oportunidade de dirigir a montagem. Tradicionalmente,
o secretário-geral faz a primeira declaração, seguido pelo presidente
da assembleia. A primeira sessão foi convocada em 10 de Janeiro de
1946 no Westminster Central Hall, em Londres, e contou com
representantes de 51 nações".
Para a aprovação da Assembleia Geral sobre questões importantes, é
necessária a maioria de dois terços dos presentes e votantes.
Exemplos de questões importantes incluem: recomendações sobre a
paz e segurança, eleição de membros de órgãos, admissão, suspensão
e expulsão de membros e questões orçamentais. Todas as outras
questões são decididas por maioria de votos. Cada país membro tem
um voto. Além da aprovação da matéria orçamental, as resoluções
não são vinculativas para os membros. A Assembleia pode fazer
recomendações sobre quaisquer matérias no âmbito da ONU,
excetuando as questões de paz e segurança que estão sob
consideração do Conselho de Segurança.

68
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

b) Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança é o responsável por manter a paz e a


segurança entre os países do mundo. Enquanto outros órgãos das
Nações Unidas só podem fazer "recomendações" para os governos
membros, o Conselho de Segurança tem o poder de tomar decisões
vinculativas que os governos-membros acordaram em realizar, nos
termos do artigo 25 da Carta. As decisões do Conselho são conhecidas
como Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O Conselho de Segurança é composto por 15 Estados-membros, sendo
5 membros permanentes - China, França, Rússia, Reino Unido e
Estados Unidos - e por 10 membros temporários, actualmente a
Áustria, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Gabão, Japão, Líbano, México,
Nigéria, Turquia e Uganda. Os cinco membros permanentes têm o
poder de veto sobre as resoluções do Conselho, mas não processual,
permitindo que um membro permanente impeça a adopção, mas não
bloqueie o debate de uma resolução inaceitável por ele. Os dez
membros temporários são mantidos em mandatos de dois anos
conforme votado na Assembleia Geral sobre uma base regional. A
Presidência do Conselho de Segurança é girada em ordem alfabética
de cada mês e foi realizada pela Áustria em 2011.

c) Secretariado

O Secretariado das Nações Unidas é chefiado pelo Secretário-Geral,


auxiliado por uma equipe de funcionários internacionais no mundo
inteiro. Ele fornece estudos, informações e facilidades necessárias
para que os organismos das Nações Unidas façam suas reuniões.
Também realiza tarefas como dirigir Conselho de Segurança das
Nações Unidas, a Assembleia Geral da ONU, o Conselho Econômico e
Social das Nações Unidas e outros organismos da ONU. A Carta das
Nações Unidas prevê que os funcionários do Secretariado sejam
escolhidos pela aplicação das normas mais elevadas "de eficiência,
competência e integridade", tendo na devida conta a importância do
recrutamento numa base geográfica ampla.
A Carta prevê também que os funcionários não solicitarão nem
receberão instruções de qualquer autoridade que não seja a ONU.
Cada país membro da ONU é convocado a respeitar o carácter
internacional do Secretariado e não procurar influenciar a instituição.
O secretário-geral é o único responsável pela selecção dos
funcionários.
Os direitos do Secretário-Geral incluem a resolução de disputas
internacionais, gestão de operações de paz, organização de
conferências internacionais, recolhimento de informação sobre a
aplicação das decisões do Conselho de Segurança e consulta com os
governos membros a respeito de diversas iniciativas. Escritórios do

69
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Secretariado nesta área incluem o Escritório do Coordenador de


Assuntos Humanitários e o Departamento de Operações de
Manutenção. O Secretário-Geral poderá levar à atenção do Conselho
de Segurança qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a
paz e a segurança internacionais.
O Secretariado é chefiado pelo secretário-geral, que atua como porta-
voz de facto e líder da ONU. O atual secretário-geral é Ban Ki-moon,
que assumiu no lugar de Kofi Annan, em 2007, e será substituído
quando o seu segundo mandato expirar em 2016.
Previsto por Franklin D. Roosevelt como o "moderador do mundo", a
posição é definido na Carta das Nações Unidas como "chefe
administrativo oficial" da organização, mas a Carta também afirma que
o secretário-geral pode chamar a atenção do Conselho de
Segurança sobre "qualquer assunto que, em sua opinião, possa
ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais",dando a
posição de maior capacidade de ação na cena mundial. A situação
evoluiu em um duplo papel de um administrador da organização das
Nações Unidas e de um diplomata e mediador para resolver disputas
entre os Estados-Membros e chegar a um consenso sobre questões
globais.
O secretário-geral é nomeado pela Assembleia Geral, depois de ter
sido recomendado pelo Conselho de Segurança. A seleção pode ser
vetada por qualquer membro do Conselho de Segurança, e a
Assembleia Geral pode, teoricamente, substituir a recomendação do
Conselho de Segurança se uma maioria de votos não for atingida,
embora isso não tenha acontecido até agora. Não há nenhum critério
específico para o cargo, mas ao longo dos anos, admitiu-se que o cargo
será realizado por um ou dois mandatos de cinco anos, que o cargo
deve ser nomeado com base no sistema de rotação geográfica e que o
secretário-geral não deve ser originário de um dos cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança.
Imagem 2: O atual secretário-geral, Ban Ki-moon da Coreia do Sul.

Fonte: Wikpedia

70
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

d) Tribunal Internacional de Justiça

O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), localizado em Haia, Países


Baixos, é o principal órgão judicial das Nações Unidas. Fundado
em1945 pela Organização das Nações Unidas, o Tribunal começou a
trabalhar em 1946 como sucessor da Corte Permanente de Justiça
Internacional. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça,
semelhante ao do seu antecessor, é o principal documento
constitucional, constituindo e regulando o Tribunal de Justiça.
Baseia-se no Palácio da Paz, em Haia, Países Baixos, partilha o edifício
com a Academia de Direito Internacional de Haia, um centro privado
para o estudo do direito internacional. Vários dos atuais juízes do
Tribunal de Justiça são alunos ou ex-membros do corpo docente da
Academia. Sua finalidade é dirimir litígios entre os Estados. O tribunal
ouve casos relacionados a crimes de guerra, a interferência estatal
ilegal, casos de limpeza étnica, entre outros.
Um tribunal relacionado, o Tribunal Penal Internacional (TPI), iniciou a
sua atividade em 2002 através de discussões internacionais iniciada
pela Assembleia Geral. É o primeiro tribunal internacional
permanente, encarregado de tentar aqueles que cometem os crimes
mais graves do direito internacional, incluindo os crimes de guerra
e genocídio. O TPI é funcionalmente independente das Nações Unidas,
em termos de pessoal e financiamento, mas algumas reuniões do
organismo que rege o TPI, a Assembleia dos Estados Partes do
Estatuto de Roma, são realizadas na ONU. Existe um "acordo de
relacionamento" entre o TPI e a ONU que determina como as duas
instituições em relacionam-se entre si juridicamente.

e) Conselho Económico e Social

O Conselho Económico e Social (ECOSOC) assiste à Assembleia Geral


na promoção da cooperação económica e social e do desenvolvimento
internacional. O ECOSOC possui 54 membros, os quais são eleitos
pela Assembleia Geral para um mandato de três anos. O presidente é
eleito para um mandato de um ano e é escolhido entre os poderes
pequenos ou médios representados no ECOSOC. O ECOSOC se reúne
uma vez por ano, em Julho, por um período de quatro semanas.
Desde 1998, ele realiza uma outra reunião em Abril, com os principais
Ministros das Finanças do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Criada para separar os organismos especializados
que coordena, as funções do ECOSOC incluem a recolha de informação
e o aconselhando e recomendações aos países membros. Além disso,
o ECOSOC está bem posicionado para fornecer coerência de políticas e
coordenar as funções de sobreposição de organismos subsidiários da
ONU e é nesse papel que é mais activo.

71
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

4.2.1.1. Objectivos da ONU


 A paz e a segurança
 Desenvolvimento das relações cordiais e amistosas entre os
Estados como condição indispensável para a manutenção da paz.
 O incremento de uma estreita cooperação internacional. Com vista
a resolução de problemas económicos. Sociais, culturais e
humanitários, comuns aos vários estados, bem como o
estabelecimento de um respeito efectivo pelos direitos da pessoa
humana.
 Funciona como ponto de encontro de todos estados da
comunidade internacional visando a orientação e harmonização
das suas actividades particulares para a prossecução, dos
objectivos comuns antes indicados.

4.2.1.2. Princípios gerais que regem a ONU


 Igualdade soberana dos estados;
 Boa fé
 Renúncia do recurso a forca
 Manutenção da paz e da segurança internacional

4.1.3. SADC

SADC: organização regional criada inicialmente, a 1 de Abril de 1980,


como Conferência para a Coordenação do Desenvolvimento da África
Austral (SADCC), (com o objectivo principal de coordenação de
projectos de desenvolvimento como forma de reduzir a dependência
económica em relação à então África do Sul do apartheid.

Países fundadores: Angola, Botswana, Lesotho, Malawi, Moçambique,


Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Mais tarde se juntaram os
seguintes países: Maurícias, Namíbia, Àfrica do Sul, República
Democrática do Congo, Madagáscar e Seychelles).
SADCC: formada em Lusaka, Zâmbia, após a adopção da Declaração de
Lusaka – África Austral: Rumo à Libertação Económica.

Transformação da SADCC em SADC: para promover maior cooperação


e integração económica, uma necessidade premente para os governos
dos Estados Membros da SADC de transformar e reestruturar as suas
economias. A independência da Namíbia em 1990 e o fim do apartheid
na África do Sul levaram a redefinir a base de cooperação entre os
Estados Membros, de uma associação voluntária, para uma instituição
juridicamente vinculativa. Assim, na sua reunião Cimeira, em
Windhoek, a 17 de Agosto de 1992, os Chefes de Estado e Governo
assinaram um Tratado que
72
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

transformava a “SADCC”, de Conferência de Coordenação, em SADC.

OBJECTIVOS DA SADC
Desenvolver valores políticos comuns, sistemas e instituições;
 Promover e defender a paz e segurança;
 Promover o desenvolvimento auto-sustentado na base da
auto-suficiência colectiva, e da interdependência entre os Estados
Membros;
 Conseguir a complementaridade entre as estratégias e os
programas nacionais e regionais;
 Promover e optimizar o emprego produtivo e a utilização dos
recursos da Região.
 Conseguir a utilização sustentável dos recursos naturais e a
protecção efectiva do meio ambiente;
 Reforçar e consolidar as afinidades e laços históricos, sociais e
culturais desde há muito existentes entre os povos da Região;
 Promover o crescimento económico e o desenvolvimento
socioeconómico sustentáveis e equitativos que garantam o alívio da
pobreza com o objectivo final da sua erradicação, melhorar o padrão e
a qualidade de vida dos povos da África Austral e apoiar os
socialmente desfavorecidos, através da integração regional;
 Desenvolver valores, sistemas políticos e instituições comuns

INSTITUIÇÕES DA SADC
 Cimeira dos Chefes de Estado ou de Governo
 Órgão de Cooperação nas Áreas de Política, Defesa e Segurança
 Conselho de Ministros
 Comité Sectorial de Ministros
 Comité Permanente de Altos Funcionários
 Secretariado
 Tribunal
 Comissões Nacionais da SADC

DESAFIOS
 Operacionalização dos Comités Nacionais da SADC;
 Mobilização de fundos para o funcionamento da Organização e
Implementação dos programas regionais – os Estados Membros
deixam de financiar a Organização em espécie (através da
Coordenação Sectorial);
 Apropriação pelos Estados Membros depois da transferência
de coordenação sectorial para Gaberone

73
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Sumário
Nesta Unidade tratamos das Organizacaoes Internacionais enquanto
Sujeito de DIP. Organização Internacional" é uma associação
voluntaria de Estados ou sujeitos do Direito Internacional, constituída
mediante um tratada internacional, que prossegue objectivos comuns
aos membros e que possui órgãos próprios para a satisfação das
funções especificas para as quais foram criadas". As OI podem ser
classificadas Segundo seu objecto, sua estrutura, O seu âmbito
territorial de acção ou de participação.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O que entendes por Organizacao Internacional?

Resposta: é uma associação voluntaria de Estados ou sujeitos do


Direito Internacional, constituída mediante um tratada internacional,
que prossegue objectivos comuns aos membros e que possui órgãos
próprios para a satisfação das funções especificas para as quais foram
criadas.

2. Classifique as Organizacoes Internacionais quanto ao seu


objecto e de exemplos.

Resposta: Esta classificação atende o domínio material, isto é ao


objecto de cada organização, aferido pelos respectivos fins. Podemos
distinguir organizações com fins gerais, em regra predominantemente
politica, em virtude de a sua finalidade política consistir normalmente
a cúpula de tosa uma multiplicidade de fins especiais englobando
todas estas. Exemplo a ONU, OEA, EU; e Organizações Internacionais
com fins especiais visam um objecto determinado podendo elas
subdividirem-se, consoante as finalidade predominantemente
prosseguidas nas seguintes espécies (Cooperação politica, cooperação
económica, Cooperação militar, cooperação social humanitária e
cultural).

3. Qual a estrutura normal das OI?

Resposta: as OI normalmente sao formadas por Órgãos deliberativos –


formado pelos representantes dos estados membros formando uma
assembleia-geral com funções deliberativas gerais, fiscalização das
actividades doutros órgãos e exercício dos poderes financeiros, Órgãos
executivos – formado por um numero reduzido e elementos da
Organização que asseguram o governo da mesma que se chama de
conselho, O secretariado - é o órgão propriamente internacional da OI,
pois é formado por funcionários internacionais que só dependem dos
próprios órgãos da OI e não dos Estados membros, é normalmente
dirigido por um Secretario Geral, Órgão Jurisdicional – é um órgão

74
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

privativo destinado a resolver conflitos jurídicos entre os estados


membros.

Exercícios

1. Classifique as organizes Internacionais Segundo O seu âmbito


territorial de acção ou de participação?

2. Quais os objectives da SADC?

3. Quais os Principais objectives da ONU?

4. De uma forma breve faca uma exposicao a respeita da estrutura


organica da ONU.

5. Quanto ao Objecto a Uniao Africa que tipo de OI é?

6. No ambito dos componetes das OI, qual a diferenca entre os


membros de pleno direito e Associados?

75
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

TEMA - V: Os Espaços: Marítimo, Aéreo e Terrestre.


UNIDADE 5.1. Direito do Mar

UNIDADE Temática 5.1. O Direito do Mar.

Introdução
Esta unidade pretende dotar os estudantes de conhecimentos a
respeito do Direito do mar, explicando sobretudo a questão saberania
dos Estados sobre as Aguas marítimas, é importante ate onde vai a
soberania dos estados ao nível do Mar. A humanidade sempre buscou
o mar; muitos povos surgiram diante dos mares e ainda subsistem em
razão de seus recursos. Diante de inegável importância e
essencialidade para a toda a sociedade, foi sendo desenvolvida
legislação específica para cada assunto veiculado no ramo do Direito
do Mar. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar que é
importante conjunto de normas que regula exaustivamente o
território marítimo. O que se pretende nesta unidade é verificar sua
influência no ordenamento jurídico interno.
Ao completar esta unidade, você será capaz de:

76
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 Caracterizar caracterizar o Direito do mar.


 Descrever as divisões do espaço maritimo

Objectivos

5.1.1. Generalidade sobre Direito do Mar

Desde as epocas mais remotas da história, o mar sempre foi element da


natureza que mais influenciou no desenvolvimento, na sobrevivencia e no
poder dos povos e nacoes. Assim, é natural que a disputa pelo seu
dominiotenha tido o seu inicio com o aparecimento dos primeiros Estados
organizados e que o estabelecimento do que hoje chamos Direito do Mar date
tambem desse tempo.
É durante a idade antiga, no imperio Romano, que surge as primeiras
pretensoes de dominio maritime atraves do direito, com a declaração do Mare
Nostrum referindo-se ao mediterreneo, e que reflitia a vontade do poder
military romano.
Em fins da idade Media e durante a idade moderna, o desenvolvimento do
comércio e o esplendor das cidades italianas proporcionaram o aparecimento
de novas concepcoes refentes ao Direito do Mar; marca o inicio de
estabelecimento de direito sobre mares adjacentes a seus territories. Assim
aparecem Veneza, ploclamando-se dona do mar adriatico a suecia e a
dinamarca do Mar Baltico e a Inglaterra dona do Mar Norte. Na epoco das
Grandes navegações, essa tentaivas de dominio de mar foram estabelecidas.
Foi em 1610 que Hugo Grottio16 fixou, pela 1º vez, a largura do Mar territorial
fezendo uso de um element com origem no lexico beligerante, mas iria
merecer a delimitacao das águas territoriais 250 anos depois, o tiro do
canhao17. O limite do tiro do canhão encontrava a sua razão de ser profunda
na ideia de que o Estado devia proteger os seus interesses materiais.
Somente em 1782 é que Galiane veio a fixar o criterio do tiro do canhão
proconizando que o seu alcanse maximo, na sua epoca fosse de 3 milhas
admitindo a largura de 2 leguas (6 milhas) em material de neutralidade. Desde
então os autores comecaram a identificar o tiro do canhão com o limite
maximo das 3 milhas.
A acelerada evolucao tecnologica, observada trouxe novas prespectivas as
nacoes, que passaram a considerer o mar seu leito e subsolo, nao só como via
de transporte como fonte de alimento, ams e principalmente como grande
gerador de riquezas e de consideravel importancia estratetegica como supridor
de materia-prima. Assim comeca a crescer junto dos Estados, o desejo de
incorporar maior parcel do espaco maritime a seu dominios o exercer maior

16
Considerado pai do Direito maritimo
17
Diogo Luis Manuel G. da Costa e Januario Rui M. Justino. Direito Internacional do
Mar e temas de direito Maritimo. Lisboa: áreas editora, 2000. Pp34
77
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

jurisdicao a esses espacos.


O Estabelecido nas Conveções adoptada na primeira conferencia da Nacoes
Unidas que teve lugar em 1958, embora represetasse um progresso
substancial impondo ordem nalgumas reclamações excessivas dos Estados
Costeiros e actividades relacionadas com o Mar, não em fazer parar os
movimentos de declaração unilateral dos Estados, na medida em que os
estados que acabavam de receber as suas independencies nao tinham
participado nas negociações.
Jaulgamos que foi neste context que moçambique, 1976 definiu os direitos
sobre os recursos economicos do mar adjacent á costa da Republica Popular de
Mocambique, atraves do Decreto- lei nº 31/76, declarando assim a largura do
Mar territorial 12 milhas e da Zona economica exclusive 200 Milhas.
Aquelas convecoes foram consideradas pela maior parte dos estados em via de
desenvolvimento como estando a prosseguir interesses dos Estados
desenvolvidos, mas nos finais da decada 60 ficou clara a necessidade de se
ordenar as questoes relactivas aos oceanos e a promocao de estabilidade
internacional.
Assim era necessario retomar esforcos nas negociações a nivel global com vista
a incorporar numa unica e compreensiva convecao todas as questoes sobre
direito do mar. Foi assim que em face dessa necessidade fora realizada em
1973 mais uma conferência sobre direito de mar.

5.1.2. Delimitação do território e soberania.


Definido pela convecao das Nacoes Unidas Sobre Direito do Mar no art. 2,
Regime juridico do mar territorial, seu espaco aereo, leito e subsolo:
1. A soberania do estado Costeiro estende-se além do seu territorio e
das suas águas interiors e no caso de Estado Arquipelago, das suas
águas aqrquipelagicas, a uma zona de mar adjacent designada pelo
nome de mar territorial.
2. Esta soberania estende-se ao especo aereo sobjacente ao mar
territorial, bem como ao leito e ao subsolo deste mar.
3. A soberania sobre o mar territorial é exercida de conformidade com
a presente conveção e as demais normas do Direito Internacional.

5.1.2.1. O mar territorial,

A convenção fixou que todos os Estado tem o direito de fixar a largura de seu
mar territorial até o limite de 12 milhas a partir da linha baixa-mar ao longo da
cota e que a soberania do estado será exercida nao so sobre o mar como vimos
do artigo supra citado mas tambem sobre o espaco aereo o leiri e subsolo
desse mar.
No entano a soberania do Estado costeiro só nao é absuluta, como no caso do

78
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

territorio ou das aguas interios, porque sofre um restricao ditada pela norma
interncaional a passage inofenciva, reconhecida aos navios de quealquer
bandeira (mercante ou guerra), que poderão atravessar as aguas territoriais
desde que façam de maneira rapida e initerrupta (continua), seja em direccao
ao seu atracamento na costa seja em direccao as aguas interiores para atracar
num porto seja simplismente para sair delas.18
O limite exterior do mar territorial é definido por uma linha em que cada um
dos pontos fica a uma distância do ponto mais proximo da linha de base á
largura do mar territorial.19

5.1.2.2. Zona Contigua e Zona Economica Exclusiva


A Zona Contigua20, é o espaco maritime que compreende ate 24 milhas
contadas a partir da linha de bases. Na zona contígua ao seu mar territorial o
Estado pode tomar medidas de fiscalizacao com vista evitar as infracoes as leis
aduaneiras, fiscais de imigracao ou sanitarios no seu territorio ou no seu mar
territorial.
Zona Economica Exclusiva (ZEE)21 é uma zona situada alem do mar territorial e
a este adjacent, sujeita ao regime jurido especifico estabelecido nos art. 55 e ss
da convenção das Naçoes Unidas sobre direito do Mar, Segundo o qual os
direitos e a jurisdiçao do estado costeiro e os Direitos e liberdades dos demais
Estados sao regidos pelas disposicoes da conveção. Nessa are o Estado costeiro
tem direito de: navegação, sobrevôo, libererdade de intalacao de cabos e
dutos submarines.
Nela o Estado costeiro tem o direito de exercer sua soberania para fins de
exploraçaõ e aproveitamento dos recursos biologicos e minerais, existents no
leito e subsolo do mar e nas aguas sobrejacentes, devendo a pesca ser pratica
dentro dos limites de captura exigido para a preservacao das especieis, cuja
reproducao esteja gravemente ameacada, cabendo-lhe a autorizacao mediante
licence, para que outros paises completem, estabelencendo as quotas, o
period de tempo em que a pesca correra e as species que poderam ser
capturadas.
Caberá ainda o direito dos mineiros encontrados no solo e no subsola marinho.
A zona economica exclusive nao se estende alem da 200 milhas da linha de
base a partir das quais se mede a largura do mar territorial. Outros direitos e
deveres encontram-se plasmado na convencao. (recomendamos a leitura dos
artigos indicados).

18
O Principio da passagem inofensiva pode ser encontrado plasmado no art.17 e
seguintes da Conveção
19
O regime do mar Terriotorial encontramos nos artigos 2 e seguintes da Convecao
sobre direito do Mar.
20
Regime Juridico previsto nos artigos 33 e seguintes da convecao.
21
Regime Juridico previsto nos artigos 55 e seguintes da Conveção
79
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

5.1.2.3. Plataforma continental


Plataforma continental de um Estado compreende o leito
submarinas que se estendem além do seu mar territorial
do prolongamento natural do seu territorio terreste, ate
margem continental ou ate uma distância de 200 milhas
de base a partir das quais se mede uma largura do mar
em que o bordo exterior da margem continental nao atinja
A margem continental compreende o prolongamento
terrestre do Estado costeiro e é constituida pelo leito e s
continental pelo talude e pela elevçao continental. Nao
grandes fundos oceanicos, com as suas cristas oceanecas.
O estado costeiro exerce direito de soberania sobre a pl
para efeitos de exploracao e aproveitamento dos seus rec
esses de natureza exclusive Segundo o plasmado no nº 2
Convenção. Mesmo que o estado costeiro nao explore
platform continental niguem o poderá fazer sem seu conc
Os restantes direitos e obrigações dos Estados costeiros
seguintes da Convenção.

5.1.2.4. Alto mar.

O regime jurídico do alto mar encontramos plasmad


seguintes da Conveção das Nações Unidas sobre direito
este espaço é caracterizado por compreender todas as
incluídas na ZEE, no mar territorial ou nas águas
aqrqupelagicas quando se trate de um Estado arquipélago

A convencao estabeleceu o princípio da liberdade de nave


de todos estados tenham ou não litoral. A amp
Internacional, sobretudo por via marítima esta na origem
compreende para todos os estados indiscriminadame
navegaçaõ de sobrevoo de colocacao de cabos e du
construcao de ilhas artificiais, de pescas e de investiga
inaceitável nos termos da convencao que este ou aqu
qualquer parte do alto-mas a sua soberania.

Figura 1. Esquema de representacao da divisão do espaço

80
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Fonte: O Autor.

Figura 2 : Esquema 2 de representacao dos Limites do mar

Fonte: O Autor (Adptado)

Sumário
Nesta unidade falamos de forma geral a respeito do Direito do
Mar. Vimos que as duas primeiras Convenções sobre o mar, de
1958 e 1960, inauguraram a tentativa de positivar as relações
que tinham por objeto o mar, o que se solidificou mesmo,
somente em 1982, com a Convenção sobre o mar III. Por falta
de consenso só alcançamos a limitação universal do espaço
marítimo em 1982; antes disto, cada país declarava
unilateralmente qual era seu território. O presidente Harry
Truman, por exemplo, em 1945 proclamou a soberania dos
EUA sobre seu mar territorial – que media 3 milhas, de acordo
com a Teoria da bala de canhão – e
81
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

sobre a Plataforma Continental (profundidade de cerca de 100


braças, ou 200 metros).
Mocambique por via do Decreto-Lei 31/76 de 19 de Agosto,
apresentou a primeira tentiva de regular o mar, e mais tarde
plea lei 4/96, que mais tarde ratificara a Conveção Sobre
Direito do mar da Nações Unidas. Estudamos os limites dos
espaco maritimo e ate aonde vai a soberania de cada estado.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Quais os poderes dos Estados Costeiros na ZEE?


Resposta: os poderes dos estados costeiros sobre a ZEE consistem no
seguinte no direito de exercer sua soberania para fins de exploraçaõ e
aproveitamento dos recursos biologicos e minerais, existents no leito e
subsolo do mar e nas aguas sobrejacentes, devendo a pesca ser
pratica dentro dos limites de captura exigido para a preservacao das
especieis, cuja reproducao esteja gravemente ameacada, cabendo-lhe
a autorizacao mediante licence, para que outros paises completem,
estabelencendo as quotas, o period de tempo em que a pesca correra
e as species que poderam ser capturadas. Caberá ainda o direito dos
mineiros encontrados no solo e no subsola marinho
2. Ate que ponto vai a ZEE do território marítimo moçambicano?
Resposta: a ZEE do território Mocambicano vai ate as 200 milhas
contadas a partir da linha de base.
3. É sabido que o alto-mar é de ninguém. Qual o princípio
fundamental que norteia a navegabilidade nesse espaço marítimo?
Resposta: o Principio que norteia a navegabilidade do Alto-mar é o
da liberdade da navegacao, segundo o qual nenhum estado exerce
a soberania sobre o alto mar todos podem navegar sendo que os
direitos e obrigacoes são fixados nos termos do art. 88 da
conveçao da ONU sobre os direitos do mar.

Exercícios

1. O que entende por platforma continental?


2. Quais são os espaços marítimos e os seus limentes, não se esqueça
de fazer referencia a base legal.
3. A Imagem representa uma vista a costa do território
moçambicano. A luz dos conhecimentos adquiridos em DIPu, faça
a respectiva legenda.

82
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

4.

83
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

TEMA - VI: Os conflitos Internacionais


Unidade Temática 6.1. Métodos de Resolução dos Conflitos
Internacionais

UNIDADE Temática 6.1. Metodos de Resolucao dos


conflitos Internacionais.

Introdução
Nas relacoes entre os Estados e eventualmente entre outros Sujeitos
do DIPu podem-se apresentar com alguma frequência situacoes de
crises que enturvam as relacoes pacíficas. Criam-se tensões cujo
prolongamento pode por em causa ou mesmo em perigo a
manutencao da paz, surgem assim as necessidades de resolver esses
diferendos de forma pacífica. Matéria que será objecto de anlise nesta
unidade.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

84
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 Conceptualizar diferendo Internacional;


 Caracterizar os diversos métodos de resolucao pacifica de
Objectivos comflitos;

6.1.1. Conceito de métodos de Resolução, Pacifica de Conflitos.


Nas relações entre os Estados e eventualmente entre outros
sujeitos do DIPu podem-se apresentar com alguma frequência
situações de crises que enturvam as relações pacíficas. Criam-se
tensões cujo prolongamento pode por em causa ou mesmo em
perigo a manutenção da paz.

As causas que estão na origem das crises internacionais podem ser


de várias índoles, económica, social, politica, etc. as crises
internacionais que se criam por acções ou omissões dos sujeitos
do DI, distinguem-se por trás momentos principais:

1º O momento inicial conhecido por Situação (em que a crise


ainda esta produzida mas esta em estado latente);

2º O momento de conflito (que é uma discrepância entre sujeitos


do DI que haja induzido ou pode induzir contra outros);

3º Momentos de Controvérsia (em que uma das partes faz valer


frente a outra pretensões opostas e quando uma das referidas
partes pretende da outra uma posição a que esta se recusa).

O Tribunal internacional de Justiça define diferendo como sendo


um desacordo sobre uma questão de direito ou de facto, uma
contradição de teses jurídicas ou de interesses entre pessoas.

6.1.2. Métodos Diplomáticos ou não Judiciais:


Os meios diplomáticos são as formas mais simples de solução de
litígios internacionais, caracterizando-se pela discussão directa
entre duas nações acerca do litígio enfrentado. Essa conversação
pode ocorrer oralmente, com o encontro de duas ou mais missões
diplomáticas, ou com a troca de notas entre a chancelaria e
embaixada, o que é mais comum. O contacto directo,
actualmente, é o método de solução mais escolhido para dirimir
pequenos desentendimentos entre países. Os conflitos de menor
monta, sem grande notoriedade são os que melhor resolvem-se

85
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

através meios diplomáticos. Eles dividem-se em negociação, Bons


Ofícios, Sistema de Consulta, Mediação, Conciliação e Inquérito. É
importante frisar que entre os meios pacíficos não há um
escalonamento hierárquico, com excepção do inquérito, cuja
função é apenas apurar os fatos e propor soluções para os
conflitos.

a) Negociação

A negociação directa é a primeira forma de solução dos conflitos


internacionais, e geralmente põe fim à maioria dos desacordos.
Consiste na busca da composição dos desencontros através do
diálogo, sem a participação de terceiros a qualquer título. Por sua
simplicidade, a grande maioria dos conflitos entre os Estados é
resolvida pela negociação feita através dos representantes
diplomáticos de cada nação.

As negociações chegam ao fim de três formas: quando uma das


partes desiste do objecto litigado, quando um dos Estados
reconhece os termos defendidos pela parte oposta ou quando os
países transaccionam entre si, fazendo concessões múltiplas. Em
todos os casos as negociações encerram-se com a assinatura de
um Tratado, especificando o objecto da negociação.

b) Bons Ofícios

Quando as negociações indirectas mostram-se ineficazes as partes


podem tentar solucionar seus conflitos através dos Bons Ofícios.
Este meio corresponde à acção de uma terceira pessoa – ou
pessoas – que agem junto aos países litigantes como uma espécie
de mediadores. Podem ser oferecidos ou solicitados.

Se recusado, sua dispensa não é vista como atitude inamistosa do


Estado ou Organização Internacional que a ofereceu. Desta forma,
os Bons Ofícios podem ser considerados uma forma de negociação
directa entre as partes tendo a presença de um terceiro pólo
neutro facilitador.

O terceiro, prestador de Bons Ofícios, geralmente é um sujeito de


Direito Internacional, Estado ou Organização Internacional neutro
que oferece apoio instrumental para a solução da querela. Diz-se
que o apoio é instrumental porque o prestador de Bons Ofícios
não se envolve no mérito das questões discutidas, não propondo
soluções para o conflito. Na realidade ele sequer toma
conhecimento das razões de uma e outra das partes: limita-se a
aproximá-las, a proporcionar-lhes campo neutro para a
negociação, sabendo que a desconfiança ou o ressentimento

86
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

reinantes impedirão o diálogo espontâneo entre os países


querelantes.

c) Mediação

A mediação apresenta muitas semelhanças com os Bons Ofícios,


distinguindo-se dele pela participação mais activa do mediador,
que além de aproximar os litigantes, sugere soluções para as
controvérsias.

Assim como nos Bons Ofícios, o mediador, requisitado pelos


Estados em litígio ou oferecido livremente por outras nações,
aproxima os países em conflito oferecendo instrumentos para que
seja possível dirimir os conflitos entre as partes.

A tênue diferença que os separa é que neste último a figura do


mediador é mais activa, participando livremente dos debates e até
oferecendo soluções que agradem ambas as partes. Os Estados
aceitam livremente, seja por estipulação de Tratados anteriores
ou não a figura de um intermediário oficial para resolver as
controvérsias surgidas. De acordo com Hee Moon (2001) “A
terceira parte é chamada para assistir as partes em conflito a
solucionar a disputa através de uma negociação dirigida por ela
mesma”.

Como bem assevera o autor, em alguns casos, a distinção entre a


mediação e os bons ofícios é extremamente difícil, porque, não
raras vezes, suas funções acabam misturando-se.

d) Inquérito

O inquérito, ou fact finding22, é o meio diplomático para solução


decontrovérsias caracterizado por um procedimento preliminar
que visa estabelecer antecipadamente a materialidade dos fatos
em disputa

e) Conciliação.

Hee Moon (2001) e Rezek (1998) apontam a Conciliação como


meio diplomático para solução pacífica dos conflitos
internacionais. Neste método, os Estados solicitam que uma
comissão internacional de conciliação actue para dirimir os litígios
surgidos, quando houver previsão em Tratado ratificado
anteriormente entre as partes. A função desta comissão
conciliatória é de investigar os fatos em disputa e sugerir uma

22
Procura de fatos. Traduzido pela própria autora.
87
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

solução que melhor aproveite os interesses de am


se um pouco com a mediação. A aceitação dos pó
meramente opcional. Assim, não sendo aceita a
pela comissão conciliatória, os trabalhos serão
obrigações recíprocas entre as partes tornam
Diante disso os fatos investigados e opiniões lega
partes e pela Comissão Conciliatória não têm
perante Cortes Arbitrais ou Judiciais. De outra ma
teriam acordado anteriormente.

Os conciliadores podem ser nomeados de acord


exercida (ex. Ministro das Relações Exteriores
capacidade pessoal.

Geralmente os Estados nomeiam um ou dois de


convencionam escolher um certo número
independentes neutros, oriundos de outros pa
(2001) assevera que um dos factores que fazem
internacional um sucesso é a confidencialidad
“característica importante quando se lida
independentes”. A conciliação é menos flexível e m
mediação. Nesta, quando a proposta feita pelo
aceita ele pode continuar a formular outros me
conflito; naquele, o conciliador costuma emi
solução.

Geralmente é conduzido por uma comissã


composta por nacionais dos países em litígio e n
de outras nações; mas nada impede que os Estad
Entidade Internacional para presidi-lo.

Sua missão é unicamente fazer uma pesquisa im


fatos em disputa para servir de base quando do
outra via de solução diplomática. Não são propo
solucionar a controvérsia. As partes, assim co
meios diplomáticos estudados, não estão obriga
fatos dispostos no inquérito, mas quase se
voluntariamente.

A Convenção de Haia, em 1907 (REZEK, 1998


inquérito como solução de litígios quando houves
de esclarecimento de fatos.

6.1.3. Métodos Políticos


As Organizações Internacionais detêm o pape
meio para solução de conflitos. Assim, tanto a A
como o Conselho de Segurança da ONU são as
políticas por excelência que solucionam a
88 internacionais surgidas entre os países.

Este meio só deve ser utilizado quando houver c


ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Sumário
Nesta unidade abordamos questões relactivas a resolucao
pacifica de controversas internacionail, as causas que estão na
origem das crises Internacionais podem ser influenciadas por
diversos factores de índole económico, politico, social,
territorial, etc. Entretanto para amanutencao da paz a carta
das NU apela para a resolucao pacifica dos conflitos que
podem ser por via Diplomatica, via Politica bem como por via
Judiciaria.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O que entendes por Diferendo Internacional?

Resposta: O Tribunal internacional de Justiça define diferendo


como sendo um desacordo sobre uma questão de direito ou de
facto, uma contradição de teses jurídicas ou de interesses
entre pessoas.

2. Quais sao os meios Diplimaticos de resolucao de conflitos


Internacionais?

Resposta: Diplimaticos de resolucao de conflitos Internacionais


dividem-se em: negociação, Bons Ofícios, Sistema de Consulta,
Mediação, Conciliação e Inquérito

Exercícios

1. Quais são os momentos da controvérsia Internacional?


2. Diferencie Bons Oficios da Mediacao.
3. Qual o papel da nacoes unidas no processo de resolucao
pacifica dos conflitos Internacionais?
4. Meio jurisdicional para solução de conflitos internacionais
caracteriza-se pela existência de uma jurisdição, com foro
especializado e independente, que tem por função proferir
decisões de executoriedade obrigatória. Comente.

89
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

TEMA - VII: Responsabilidade Internacional


Unidade Temática 7.1. Responsabilidade Internacional dos Estados

UNIDADE Temática 7.1Responsabilidade Internacional


dos Estados.

Introdução
O comportamento dos Sujeitos Internacionais podem ser avaliados
subponto de vista da sua conformidade com o ordenamento jurídico
internacional. Há certas praticas que lesão interesses de terceiro neste
caso o Estado deve ser chamado a responsabilizacao pelos actos
ilícitos. Nesta unidade iremos tratar a respeito dessa actitude do
Sujeito do DIPu e aferirmos de que forma esta pode ser
responsabilizado.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

90
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 Explicar a evolucao histórica sobre a responsabilidade dos


Estados.
 Conceptualizar a Responsabilidade Internacional;
Objectivos
 Descrever os elementos do ilícito Internacional;
 Explicar o regime de obrigacao de reparar o dano e a suas
modalidades
 Explicar as causas da exclusão da Ilicitude.

7.1.1. Noções Históricas sobre a responsabilidade dos estados.


A Responsabilidade Internacional tem como principal objectivo
garantir o respeito à igualdade soberana dos Estados, quando há
violação a um direito subjectivo de outro Estado ou da
comunidade internacional. Tal tema acaba de ser codificado pela
CDI com o Projecto de Artigos da ONU sobre a Responsabilidade
Internacional dos Estados por Actos Internacionalmente Ilícitos,
que teve início em 1955, sob o comando do Professor García
Amador, mas só foi concluído em 2001.

Até atingir sua almejada codificação, a responsabilidade


internacional passou por um lento e gradual processo de
evolução, que teve início no final do século XIX, quando surgiu a
expressão como é conhecida hoje. No entanto, antes disso já
existiam discussões acerca da violação dos direitos dos Estados.
Ao final da Idade Média, durante o feudalismo, os Senhores de
terras já faziam justiça quando tinham seus domínios, ou seus
súditos tinham seus direitos violados. Nesses casos era utilizado o
instituto da represália, direito que exigia uma forma de
ressarcimento pela violação praticada pelo alienígena, sem que
com esta atitude fosse declarada qualquer guerra.

Emerich Vatel, último dos grandes jus naturalistas representou um


marco decisivo na Responsabilidade Internacional ao argüir em
1758 que “ao oferecer represália contra uma nação em prol de
uma terceira, os Estados estariam desempenhando o papel de
juízes entre tais nações, o que nenhum soberano tinha direito de
fazer”23. No decorrer do século XIX, a concepção bilateral foi
adotada pela maioria dos autores. Estes se contentaram em dizer
que os Estados devem reparar os danos causados por sua violação
ao direito de outro Estado; e como não havia responsabilidade
criminal, a responsabilidade só podia ser invocada pelo próprio

23
VATTEL, 1758 apud NOLTE, Georg. From Dionisio Anzilotti to Robert Ago: The
Classical International Law of State Responsibility and the Traditional Primacy of a
Bilateral Conception of Inter-state Relations. EJIL, vol. 13, n. 5, 2002, p. 1085.
Disponível em: < http://www.ejil.org/pdfs/13/5/1576.pdf>. Acesso em: 13 out. 2009.
91
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Estado cujo direito fora infringido.

Anzilotti, no final deste Século teorizou que a violação de uma


regra de direito internacional enseja a reparação como conteúdo
primário da responsabilidade dos estados, o que é bem diferente
do direito a represálias. Além disso, apenas a violação de um
direito verdadeiramente subjetivo de outro Estado ensejaria a
responsabilidade, e não a mera violação de um interesse, seja este
geral ou específico. Não obstante, apenas atos praticados por
Estados poderiam responsabilizá-los no âmbito do direito
internacional, e não atos praticados por particulares. A autor
trouxe importantes contribuições ao Direito internacional
moderno, entre elas a aceitação coletiva ou individual dos
interesses da comunidade internacional por meio da intervenção e
suas exposições sobre a lei da responsabilidade internacional
faziam inúmeras referências à comunidade internacional.

No período entre guerras, mais precisamente em 1920, o autor


alemão Karl Strupp escreveu que era teoricamente possível
conceber a violação de qualquer tratado como uma violação ao
pacta sunt servanda, o que por sua vez implicaria numa violação à
comunidade internacional, e estimou que tal concepção do direito
internacional poderia ser desejável do ponto de vista da justiça
universal, da solidariedade internacional e da moral24. No entanto,
sustentou que o direito internacional ainda não se havia dado
conta dessas idéias. Sua principal contribuição ao direito
internacional foi reconhecer interesses comunitários como legais,
mesmo não aceitando que qualquer matéria desejável pela
comunidade se tornasse lei.

Nos anos após a primeira guerra, os autores tentaram tirar


conclusões daquela experiência, e definir particularmente as
sérias violações ao direito internacional que pudessem ensejar
sanções especiais e responsabilidade erga omnes. No entanto,
todas essas iniciativas tiveram em comum o fato de terem sido
baseadas em tratados ou orientadas por estes, como por exemplo
o Tratado de Versalhes. Além disso, foram tomadas iniciativas
para se desenvolver o conceito de “crime de estado”, e para se
estabelecer a responsabilidade internacional criminal dos
indivíduos.

Foram inúmeras as novas teorias que enfatizavam o caráter


objetivo ou comunitário do direito internacional, e que reduziram
o foco central sobre a soberania. Praticamente a maioria dos
juristas à época não reinterpretaram as normas da
responsabilidade internacional à luz das novas iniciativas, pois
acreditavam que tal mudança de paradigmas requereria uma nova
positivação do direito internacional, sendo uma mera nova re-

24
STRUPP, 1920 apud Ibid., p. 1089.
92
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

interpretação insuficiente. Na década de 1920, portanto, os


movimentos para codificação do direito internacional atingiram
seu ápice. Daí a primeira tentativa de codificação da
responsabilidade internacional na Conferência de Haia, em 1930, a
qual praticamente apenas tratou das ofensas aos estrangeiros, e
não atingiu a problemática concernente aos diferentes graus de
violação ao direito internacional, e a responsabilidade sobre os
estados imediatamente ofendidos.

Apenas no início da década de 30, quando a esperança de que a


codificação e construção do direito internacional tivesse êxito
diminuiu, que a opinião dominante foi questionada por alguns
autores, que se perguntaram se o direito positivo internacional já
permitia uma distinção qualitativa entre os diferentes tipos de
violação ao direito internacional, e uma expansão do conceito de
estado ofendido, para além daquele de Estado imediatamente
ofendido.

Após a 2ª Guerra, com as violações aos direitos humanos


realizadas pelos nazistas, de dimensões sem precedentes, ficou
clara a necessidade de se proceder a um avanço na área da
responsabilidade, particularmente no que diz respeito a
mecanismos mais efetivos à repressão de violações graves ao
direito internacional. Assim, nesse período, o desenvolvimento
das normas de responsabilidade internacional do modelo clássico
unidimensional e bilateral para um modelo progressivo
multilateral e multidimensional, no qual diferentes tipos de
violação levariam a diferentes regimes de responsabilidade, teve
maior impulso.25

Em 1950 veio a primeira tentativa da CDI de codificar a


responsabilidade internacional, sob a liderança do Professor
Cubano F. García Amador, relator da Comissão. Um dos principais
pontos abordados pelo relator foi a fato de que a responsabilidade
internacional não podia mais ser vista apenas como uma
possibilidade de reparação civil; até porque as violações mais
graves não poderiam ficar impunes, devendo ser tratadas como
crimes, ensejando não apenas o dever de reparação, mas também
a responsabilidade criminal pelo ato. No entanto, apesar de seus
esforços, a Comissão não aceitou a aproximação proposta por
Amador entre a responsabilidade internacional civil e criminal,
incluindo no draft apenas a reparação stricto sensu. As primeiras
tentativas de codificação trataram apenas da responsabilidade
interancional dos estados por danos causados em seu território a
estrangeiros ou a seus bens.

Entre 1956 e 1999 passaram pelo Projeto de Codificação diversos


relatores, entre eles o Professor Roberto Ago, sob liderança do

25
Ibid., p. 1094.
93
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

qual a Comissão começou a considerar como base fundamental da


responsabilidade internacional por um Estado de seus deveres
com respeito aos demais Estados e com respeito à Comunidade
Internacional em seu conjunto, sendo adotada aí a
responsabilidade objetiva. Lideraram ainda a Comissão os
Professores Willem Riphagem e o italano Arangio-Ruiz, até que em
1999 foi nomeado como Relator Especial o Prifessor J. Crawford,
responsável pela elaboração do Projecto de Artigos de 2001, tema
central deste trabalho.

7.1.2. Noções sobre responsabilidade Internacional


A Responsabilidade Internacional dos Estados é o instituto jurídico
em virtude do qual “o Estado a que é imputado um ato ilícito
segundo o direito internacional deve uma reparação ao Estado
contra o qual este ato foi cometido”.26 Dessa forma, caso um
Estado pratique ato ou fato ilícito contra uma Norma jurídica ou
Obrigação internacional, afectando assim um outro Estado ou
súbditos deste, ou ainda a comunidade internacional como um
todo, incorrerá na Responsabilidade internacional.

A reparação é, portanto, obrigação subsidiária originada da


violação de uma norma primária (ou ainda de uma obrigação
internacional). Nesse sentido:
A restauração é o objecto e objectivo da
responsabilidade internacional do Estado,
que engloba o restabelecimento da ordem
jurídica anterior ao fato ou ato contrários a
uma norma tida e aceita como de Direito
Internacional, com o fim de garantir a
integridade do Direito ferido e a reparação
dos prejuízos sofridos (ou não),
salvaguardando, assim, o interesse da
vítima.

De acordo com Celso D. A. Mello, a responsabilidade internacional


apresenta 3 elementos: (1) ato ilícito, (2) imputabilidade e (3)
prejuízo ou dano. Para ser chamada essa responsabilidade, o acto
deve ser ilícito perante o direito internacional. A norma ou
obrigação violada, portanto, deve pertencer a esta esfera,
independente do tratamento no direito interno. Assim, uma
norma que é lícita no direito interno de um determinado Estado
pode ser ilícita internacionalmente, e seu descumprimento invocar
a responsabilidade internacional, não podendo o Estado argüir a
legalidade do ato no direito interno para escapar da

26
MELLO, Celso Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. 15ª ed.
Rio de Janeiro: Renovar, 2004, v. I, p. 523.
94
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

responsabilização. O ato ilícito pode ser positivo ou negativo.


“Ressalta-se que as obrigações ou normas não resultam apenas de
tratados ou convenções; podem decorrer também do costume ou
dos princípios gerais do direito”27.

A imputabilidade é o nexo causal, ligando o ato ilícito ao


responsável pela violação. A responsabilidade poderá ser indireta,
hipótese na qual o Estado será responsável pelos atos praticados
por seus funcionários, por exemplo. Nesses casos, os atos serão
imputáveis ao Estado porque vinculados à sua soberania, ou
porque ocorreram em seu nome. A imputabilidade, portanto, não
se confunde com a autoria. No entanto, “como a imputabilidade
exige certo nexo jurídico entre o agente do dano e o Estado, é
preciso que aquele tenha praticado o ato na qualidade de órgão
do Estado ou com os meios de que dispõe em virtude de tal
qualidade”28. Destaca-se que mais de um Estado pode ser
responsável pelo ato ilícito, hipótese na qual todos os
responsáveis serão imputáveis, já que todo Estado é responsável
por sua própria conduta.

O principal objetivo da responsabilidade internacional, como já


dito acima é a reparação do dano. Portanto, este se configura
como elemento essencial à responsabilização. O dano pode ser
moral ou patrimonial, e pode ter sido causado a um Estado, a um
particular ou à Comunidade internacional (nos casos de violações
ao jus cogens). O dano é, portanto, fato gerador da
responsabilidade. Atualmente, dado o caráter multilateral e
multidimensional da responsabilidade, todos os Estados têm o
direito de ver o Direito Internacional respeitado, e em razão da
violação deste, qualquer Estado atingindo, mesmo que não tenha
havido nenhum prejuízo, pode apresentar uma reclamação. Isso
porque, conforme frisado nos comentários ao Projeto de Artigos,
todos os Estados, em virtude da sua adesão à Comunidade
Internacional, tem interesse na proteção de certos direitos básicos
e essenciais, e no cumprimento de determinadas obrigações.

A CDI prefere falar em atribuição, ao invés de imputabilidade,


como se vê no artigo 2º do Projeto de Artigos da CDI:

Artigo 2. Elementos do ato


internacionalmente ilícito de um Estado.
Um Estado pratica um ato
internacionalmente ilícito quando sua
conduta consistindo em ação ou omissão:
(a) É atribuível ao Estado no âmbito do
Direito Internacional; e

27
SILVA, G. E. do Nascimento; ACCIOLLY, Hildebrando. Manual de Direito
Internacional Público. 15ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002, p. 149.
28
Ibid., p. 150.
95
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

(b) Constitui a violação de uma obrigação


internacional do Estado.

De acordo com o dispositivo, dois elementos são identificados, a


atribuição do ato ao Estado, e que o ato ilícito constitua a violação
de uma obrigação internacional em vigor nesse período. A
atribuição (imputabilidade) pode ser objetiva ou subjetiva, a
depender das circunstâncias, incluído ai o conteúdo da obrigação
primária em questão (norma ou obrigação violada). Quanto à
obrigação violada, esta pode ou não ser originada de Tratado.

O artigo em questão não comporta exceções. Um Estado só


pratica ato ilícito quando este é atribuível a ele, e constitui
violação de norma internacional. A questão é se essas duas
condições são também suficientes. Isso porque se costuma dizer
que a responsabilidade não está atrelada à conduta de um Estado
que viole suas obrigações, a menos que haja outro elemento em
particular, o dano causado a outro Estado; mas a necessidade
deste elemento dependerá do conteúdo da obrigação primária, e
não existe regra geral a esse respeito. A CDI cita como exemplo a
violação de uma obrigação advinda de Tratado para promulgar
uma Lei uniforme; nesse caso, há a violação de uma obrigação, e
não há a necessidade de nenhum Estado apontar um dano
específico advindo desta. Quanto ao elemento culpa, entende a
Comissão que só importa o ato praticado pelo Estado,
independente de qualquer intenção em causar prejuízo ou dano.

A violação de uma obrigação internacional consiste na


desconformidade entre o comportamento exigido do Estado por
esta obrigação e a conduta efetivamente adotada por ele. A
violação existe mesmo que a conduta do Estado seja apenas
parcialmente contrária à obrigação que incumbe a ele. A redação
do artigo 12 do Projeto traz em seu bojo a frase "está em
desconformidade com o", sendo assim flexível o suficiente para
abranger as diversas maneiras que uma obrigação pode ser
expressa, bem como as diversas formas que a violação pode
tomar. Senão vejamos:

Artigo 12. Existência da violação de uma


obrigação internacional
Há a violação de uma obrigação
internacional por um Estado quando um
ato deste Estado está em desconformidade
com o que lhe é exigido por esta obrigação,
independentemente de sua origem ou
caráter.

Não há espaço no Direito Internacional para distinção entre a

96
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

violação de uma norma positivada (proveniente de Tratado) e a


violação de uma outra norma; assim como não há distinção entre
responsabilidade civil e criminal, como no direito interno. Além
disso, a violação por um Estado de uma obrigação internacional
constitui um ato internacionalmente ilícito, independentemente
da matéria ou do conteúdo da obrigação violada, e
independentemente da narração que possa ser dada para conduta
desconforme.

O artigo 16 trata da situação em que um Estado fornece ajuda ou


assistência para outro, com o objetivo de facilitar o cometimento
de um ato internacionalmente ilícito por este último. O Estado
primariamente responsável, nesses casos, é o Estado atuante,
enquanto o Estado assistente tem apenas papel de apoio. Tal
papel de auxílio não pode ser confundido com a responsabilidade
do Estado atuante. O Estado assistente somente será responsável
na medida em que seu próprio comportamento tenha causado ou
contribuído para o ato ilícito.

7.1.3. Formas de Responsabilidades


Em material de responsabilidade internacional de um estado,
existem normas primarias (as que impoem o Estado determinadas
obrigações) e as normas secundarias (que determinam as
consequencias juridicas do incuprimento das obrigacoes
estabelecidas pelas normas primarias).
Existe assim uma relação que consiste na responsabilidade
internacional supondo a ocorrencia de duas situações subjectivas:
a) Uma Activa – representada por um direito subjective lesado
que leva o sejeito passive a reclamar.
b) Outra passive – representada por novas obrigacoes do sujeito
responsavel derivadas da violacao duma obrigacao imposta
pelas normas primárias.
Tendo em conta que o estado é um sujeito por excelencia das
relacoes de responsabilidade internacional, actua atraves de
individuos ou conjunto de individuos, entao o problema da
atribuição da atribuicao da responsabilidade a um estado por um
ilicito internacional, está intrisecamente ligado a qualidade dos
orgãos de Estado prevaricador e das personalidades, autores do
acto ilicito internacional, bem as condicoes em que tais
personalidades actuam. Assim podemos encontrar: primeiro a
responsabilidade do estado por actos dos seus órgãos – é um
princípio basico de que regra geral se atribuem ao Estado os actos
dos seus agents e orgaos que integram a organizacao estatal.
Significa que só se consideram actos do Estado do ponto de vista
do direito internacional os realizados por agents do Estado que

97
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

actuam na qualidade de Orgaos de estado, excluindo-se deste


modo todos os actos realizados por esses agentes a título privado.
Nestes termos o Estado responderá:
a) Pela conduta das entidades públicas territoriais ou outras
entidades que tem a faculdade no Direito interno para
exercer atribuicoes de poder politico;
b) Pela conduta de orgão posto a disposição de um Estado a
outros Estados ou Organização Internacional;
c) Pela conduta dos órgãos de Estado, dos agentes ou
entidaes com faculdade para exercer atribuições de
poderes publicos e que actuem exercendo-se nas suas
competencias.
Segundo responsabilidade do Estado pelos Actos de
particulares – Os comportamentos dos particulars nao se
consideram como actos de estado Segundo declara o TIJ. Mais
isso nao significa que o estado nao possa ser responsabilizado
internacionalmente por omissao ou passividade na prevencao
de tais actos ou sua repressão.
Terceiro responsabiloidade por actos realizados por
inssurectos ou rebeldes – se dissemos que os actos dos
particulars nao sao responsbilizaveis ao estado, o mesmo
sucede com os inssurectos e rebeldes, pois estes sao doutados
dum aparato institucional proprio, distinto e paralelo do
estado em cujo territorio estao estabelicidos, pelo que sao
capazes de assumer por si mesmo a responsabilidade
internacional.
O prejuizo resultante para um ou varios sujeitos do Direito
Internacional, por um ilicito internacional dá lugar a uma
obrigação de reparacao, esta reparacao lacto sensu abarca:
compensação do prejuizo (reparação lacto sensu), a cessação
da situação ilicita e o restabelicimento da legalidade e oferecer
seguras garantias de não repetição do acto ilicito.
A obrigação de reparação compreende três modalidades29:
4. A Satisfação – é a forma adequada da reparação
dos prejuizos materiais e danos morais;
5. A Restituição – a compensação por equivalencia
ou seja restabelecimento só stutus quo ante que
pode ser restituição em dinheiro, documentos,
bens de distinta natureza libertação e devolução
de bens capturados, etc.
6. Indimnização ou ressarcimento – que consiste
essencialmente no campo dos danos patrimoniais

29
Quadros (1997, p. 568)
98
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

causados ao estado ou particulars estrageiros. É o


acto de cobrir quantitativamente os danos
sofridos que não hajam reparados por um
pagamento efectivo.
A responsabilidade Internacional resulta da violacao por um
sujeito do Direito Internacional de uma obrigação internacional
a seu cargo em virtude de uma regra internacional. Ha situacao
que mesmo que hajam praticas ilicitas essa responsabilidade é
afastada como resultado de operar um clausula de exclusao da
ilicitude, que sao elas: a legítima defesa, o consetimento do
estado prejudicado, Força maior, perigo extremo e estado de
necessidade. A partida sao as causas que afastam a ilicitude e
consequentemente excluem a responsabilidade Internacional.

Sumário
Nesta unidade falamos da responsabilidade internacional,
desde logo definimos esta como sendo um comportamento
ilícito resultante da violacao de uma obrigacao Internacional
por parte de um Estado, portanto a questão da
responsabilidade esta ligada ao ilícito internacional, que é a
violacao ou infraccao das normas do direito Internacional. O
comportamento ilícito pode ser por accao ou omissão, bem
como a participacao de um Estado no comportamento ilícito de
outro Estado. O estado é chamado a responsabilizacao dos
actos dos seus orgaos e agentes, quanto aos particulares,
insurretos e beligerantes, estes respondem por seus actos.
Situações há em que os estados apesar de ter praticado um
acto ilícito este não é responsabilizado, fala-se aqui das
cláusulas de exclusão da ilicitude.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Diferencie acto ilícito do acto nulo.

Resposta: a diferença existente ente o acto ilícito e nulo é que o


primeiro gera responsabilidade para o sujeito contraventor, o
segundo revela a falta de condicoes requeridas para que produza
efeitos jurídicos.

2. Qual o objectivo da responsabilizacao internacional?

Resposta: O principal objetivo da responsabilidade internacional,


como já dito acima é a reparação do dano. Portanto, este se
configura como elemento essencial à responsabilização. O dano
pode ser moral ou patrimonial, e pode ter sido causado a um

99
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Estado, a um particular ou à Comunidade internacional (nos casos


de violações ao jus cogens). O dano é, portanto, fato gerador da
responsabilidade

Exercícios

1. A origem da responsabilidade Internacional está ligada a ideia de


ilícito Internacional. Comente.
2. Quais os actos que o estado responde internacionalmente pela
conduta dos seus agentes e Orgaos?
3. Será que podemos responsabilizar os estados pela conduta dos
Beligerantes. Justifique.
4. Quais as modalidades de reparacao dos danos derivados de uma
accao ilícita.
5. No âmbito das cláusulas da exclusão de Ilicitude diferencia a
legítima defesa do Estado de necessidade.
6. Em que termos podemos responsabilizar os indivíduos
internacionalmente?

TEMA - VIII: A Constituição da Republica de Moçambique de 2004 e o DIPu


Unidade Temática 4.1. A Constituição da República de Moçambique
de 2004 e o Direito Internacional

UNIDADE Temática 4.1. A CRM de 2004 e o Direito


Internacional

Introdução
Depois de termos visto ao longo das unidades anteriores as matérias
do DIPu cabe neste unidade fazer o enquadramento destas no
ordenamento jurídico Mocambicano, por via da CRM sendo muito
extensa, com 306 artigos, divididos em dezassete títulos.

A sua estrutura trata sucessivamente, dos princípios fundamentais,


dos direitos fundamentais, da organização económica, da organização
do poder político, e da garantia da Constituição. A específica

100
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

indagação na presente Unidade é o apuramento do modo como a


Constituição moçambicana de 2004 cuida das questões relativas ao
Direito Internacional.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

101
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

 Explicar o sentido e alcance do art. 18 da C


 Caracterizar o modo de recepção e in
normas internacionais (NI), no orden
Objectivos Moçambicano
 Descrever o Processo de vinculaç
Moçambicano as NI;

8.1. A Constituição da República de Moçambique


Direito Internacional

8.1.1. Considerações Gerais

A Constituição da República de Moçambique d


Constituição do Estado moçambicano desde a
integra-se na família constitucional dos Estados
portuguesa. Na base deste direito constitucion
sedimentação e consolidação desde a década
século passado, está a Constituição da Repúblic
1976. A influência da experiência constitucio
importa sublinhá-lo, torna-se particularmente no
procede a um confronto do texto constitucion
com as constituições dos Estados africanos filia
francófona20 ou estruturadas de acordo com o si
common law.

A disposição central para a apreciação da


Constituição moçambicana de 2004 lida com
Direito Internacional é o artigo 18, com a e
internacional”.

O número 1 do artigo citado prevê que “[o]s tra


internacionais, validamente aprovados e ratifica
ordem jurídica moçambicana após a sua pub
enquanto vincularem internacionalmente
Moçambique”. O número 2, por seu turno, es
normas de direito internacional têm na ordem j
mesmo valor que assumem os act
infraconstitucionais emanados da Assembleia da
Governo, consoante a sua respectiva forma de rec

As estipulações constantes do artigo 18 podem


nos seguintes aspectos:

- Distinção entre tratados e acordos internacionai


- Método de incorporação das vinculações interna
102 em sentido amplo) na ordem jurídica moçambican
- Exigência da publicação interna dos compromiss
(tratados em sentido amplo) assumidos
ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

Sumário
Nesta unidade falamos do enquadramendo do DIPu na CRM, desde
logo a disposição central para a apreciação da forma como a
Constituição moçambicana de 2004 lida com as questões do Direito
Internacional é o artigo 18, com a epígrafe “Direito internacional”.
O número 1 do artigo citado prevê que “[o]s tratados e acordos
internacionais, validamente aprovados e ratificados, vigoram na
ordem jurídica moçambicana após a sua publicação oficial e enquanto
vincularem internacionalmente o Estado de Moçambique”. O número
2, por seu turno, estipula que “[a]s normas de direito internacional
têm na ordem jurídica interna o mesmo valor que assumem os actos
normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República
e do Governo, consoante a sua respectiva forma de recepção”

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Que entendimento podemos retirar do art. 18 da CRM.

Resposta: As estipulações constantes do artigo 18 podem ser


desdobradas nos seguintes aspectos: Distinção entre tratados e
acordos internacionais; Método de incorporação das vinculações
internacionais (tratados em sentido amplo) na ordem jurídica
moçambicana; Exigência da publicação interna dos compromissos
internacionais (tratados em sentido amplo) assumidos pelo Estado
moçambicano; Previsão da produção de efeitos jurídicos na ordem
jurídica moçambicana de outras fontes de Direito Internacional além
das vinculações internacionais (tratados em sentido amplo); Método
de incorporação das outras fontes de Direito Internacional além das
vinculações internacionais (tratados em sentido amplo) na ordem
jurídica moçambicana; e posição hierárquica das fontes de Direito
Internacional no âmbito da ordem jurídica moçambicana.

2. Nas fontes do Direito Internacional, entre acordo Internacional e a


CRM Em termos de valores hierárquico qual é relactivamente
superior?

Resposta: a CRM, em termos de valor hierárquico é superior aos


Acordos Internacionais, pois segundo o Art. 18º da CRM, os tratados
validamente assinados vigoram na ordem jurídica Mocambicana com
mesmo valor das demais normas infraconstitucionais.

Exercícios

1. Número 2 do artº 18 determina que “[a]s normas de direito

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

internacional” podem produzir efeitos “consoante a sua respectiva


forma de recepção”. Embora a redacção não seja imediatamente
esclarecedora do seu sentido, o recurso a uma interpretação
conforme ao Direito Internacional permite extrair duas opções
constitucionais de alcance muito significativo. Comente.
2. Segundo o disposto na CRM, qual a diferença entre Tratado
Internacional e a convecao internacional.
3. Qual a condicao essencial para o estado Mocambicano se vincular
a uma norma internacional (Tratado Internacional)?
4. A quem esta adestrito a competência de celebrar os Acordos
Internacionais?
5. Pode um acordo Internacional conter normas que violem a CRM?
6. Os acordos internacionais a sua vinculacao na ordem jurídica
interna esta intimamente ligada a princípio da publicidade.
Explique.

Exercícios Finais

1. Se o conceito de DIPu se pode considerar estabelecido desde o


Sec. XVII, a sua expressão em termos de definicao tem contudo
sido formulada de forma diversa nos vários sectores da
doutrina. Porém traduz alguma fidelidade da doutrina se disser
que têm sido utilizados para a definicao da norma
internacional sobretudo critérios que atendem os sujeitos
deste ramo de direito, ao objecto da norma e a sua producao.
QUADROS (1997, pp.26). Formule três definicoes com base em
cada um dos critérios referidos da afirmação.
2. Motivado pelos desmandos e atrocidades que vinham sendo
cometidos pelo presidente da Guine Bissau, um grupo de
rebeldes levantam-se contra o governo e perpetuam um Golpe
de Estado, Deposto o antigo governo e instalou-se o novo
governo, que de imediato enviou seus representantes para
iniciarem relações diplomáticas com o estado moçambicano.
Mas Moçambique recusa-se a reconhecer o novo governo
instaurado. A luz dos conhecimentos adquiridos em matéria de
reconhecimento justifica-se o posicionamento de Moçambique.
3. Classifique as organizações internacionais.
4. A aceitação dos indevidos como sujeitos do DIPu é bastante
controvertida. Fale do indivíduo como sujeito do DIPu.
5. O reconhecimento dos estados e do governo é uma questão
muito importante no Direito Internacional. Diga qual a
importância do reconhecimento de um governo.
6. O uso da forca no direito internacional é uma prática proibida.
Diga quando é permitido o uso da forca. Não se esquecendo de
falar meios de resolução pacifica de conflitos.

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ISCED CURSO: DIREITO; Disciplina: Direito Internacional Público i

7. O que entendes por um ilícito internacional. E quais são as


causas da exclusão da responsabilidade Internacional de um
Estado.
8. Com a onda do terrorismo, tem-se adoptado medidas de
segurança que afectam os princípios do Direito e do Direito
Internacional. Comente.
9. Qual a forma de recepcao das Normas internacionais adoptado
por Mocambique?
10. O Principio Mare liberum, tem como consequência que um
navio em alto mar é assimilado ao território do estado do qual
alvora o Pavilhão, porque tal como no território, esse Estado
pode fazer valer a sua soberania sobre os outros. Analise e
comente sub ponto de vista de:

a) Regime jurídico do alto mar. (2 valores)


b) Liberdade do alto mar. (2 valores)
c) Estatuto dos navios. (2 valores)

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Referencias Bibliográficas

 BAPTISTA, Eduardo Correia; S/D - Direito Internacional Público –


Conceito e Fontes, Volumes 1 e 2, S/ Ed., Coimbra
 CUNHA, Silva (1991) - Direito Internacional Público, 5ª edição,
Almedina
 Diogo Luis Manuel G. da Costa e Januario Rui M. Justino. Direito
Internacional do Mar e temas de direito Maritimo. Lisboa: áreas
editora, 2000.
 GOUVEIA, Jorge Bacelar. Manual de Direito internacional Publico.
Coimbra: Almedina, 2008.
 MARTINS, Afonso d'Oliveira (1992) - O Direito do Mar na Recente
Jurisprudência Internacional, 1ª Edição, S/ Ed., Lisboa
 MELLO, Celso Albuquerque. Curso de Direito Internacional
Público. 15ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, v. I, p. 523
 MIRANDA, Jorge (2004) - Curso de Directo internacional Público I,
2ª Edição, S/ Ed., Cascais
 MOREIRA, Adriano (1982) - Direito Internacional Público, Separata
da Revista Estudos Políticos e Sociais do ISCSP, Vol. X, números, 1 a
4, ISCP
 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público
e Privado, Coimbra: Almedina, 2002, p. 51.
 QUADROS Faustos & PEREIRA Gonsalves Adre. Manual de Direito
Internacional. Coimbra: Almedina, 1997.
 REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso
elementar – 9ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002, p. 1.
 VATTEL, 1758 apud NOLTE, Georg. From Dionisio Anzilotti to
Robert Ago: The Classical International Law of State Responsibility
and the Traditional Primacy of a Bilateral Conception of Inter-state
Relations. EJIL, vol. 13, n. 5, 2002, p. 1085. Disponível em: <
http://www.ejil.org/pdfs/13/5/1576.pdf>. Acesso em: 13 out. 2009

Legislação

Constituicao Da Republica de Mocambique, de 2004.

Lei 4/96, de 4 de Janeiro aprova a Lei de Mar.

Decreto-Lei nº 31/76 de 19 de Agosto define os direitos sobre os


recursos economicos do mar adjacent á costa da Republica Popular de
Moçambique.

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