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Professora: Ms. Lara Sanábria Viana


Email: lara_sanabria@hotmail.com

DIREITO PENAL

Estudos Acerca da Violência Doméstica e Familiar.


Lei Maria Da Penha 11.340/2006

1) Contextualização e Problematização Acerca dos Direitos Humanos das


Mulheres Vítimas de Violência Doméstica ou Familiar:

O surgimento da Teoria do Feminismo, como fator de visibilidade do


problema. Pode ser estudado sob duas óticas o femininsmo da diferença, que
pro sua vez, busca tratar a mulher desigualmente, em virtude de suas diferenças
entre o gênero masculino. Já o feminismo da igualdade busca tratamento
igualitário independentemente da condição de gênero, ou seja, preocupa-se com
a ideia de igualdade formal e não substancial.1
No plano internacional várias Convenções são criadas, a fim de
disciplinarem o tema a luz do Direito Internacional, como por exemplo, a
Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher em 1979. Neste mesmo sentido, A ONU instituiu o dia 8 de março o dia
Internacional da Mulher, em 1975.2 Posteriormente, foi criado o Comitê sobre a
Eliminação da Discriminação contra a Mulher, combatendo a violência contra a
mulher na esfera pública ou privada, a partir da Recomendação n.º 19.3
Com efeito, Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher de 1994, conhecida como a Convenção de Belém do
Pará, fixou o conceito de violência contra a mulher e disciplinou direitos.4

1
É cabível tanto o controle de constitucionalidade e convencionaldiade, em face da Lei Maria da Penha.
Definição: é o controle exercido a fim de verificar a compatibilidade do direito interno frente aos
Tratados que versam acerca dos Direitos Humanos. Precedente Case Law: ARELLANO E OUTROS VS.
CHILE. CASO DOS TRABALHADORES DEMITIDOS DO CONGRESSO VS. PERU (2006), julgado
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos. Principais consequências: impor aos Estados o controle
de convencionalidade, o controle deverá ser ex officio, os Estados devem levar em consideração a
interpretação dada pela Corte ao Tratado em questão e a responsabilidade Internacional do Estado.
2
Foi criada a Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as
Mulheres e a Violência Doméstica, em 2011. No continente africano foi criada a Carta Africana sobre os
Direitos das Mulheres em 2003. E no Brasil, o case law Maria da Penha foi julgado pela Corte
Interamericana, que por sua vez, deu origem a criação da Lei que leva o nome da Maria da Penha que foi
vítima de violência doméstica pratica pelo seu cônjuge. A Corte condenou o Brasil e impôs a obrigação
de que fosse criada uma lei para punir e prevenir a violência doméstica no país. O brasil atendendo ao
mandamento da Corte criou a Lei 11.340/2006.
Criação da Lei n.º 11.340/2006
3
Artigo 1º – Para fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a mulher" significará
toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou
anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com
base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.
4
Artigo 1º - Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou
conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto na esfera pública como na esfera privada.

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Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e


prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal,
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados
pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e
proteção às mulheres em situação de violência doméstica
e familiar.

2) Finalidades Buscadas pelo Legislador: encontrando o espírito da Lei


Maria da Penha:

a) Punir e Prevenir a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.


b) Assistência à mulher vítima de violência doméstica e familiar.
c) Estabelecer medidas protetivas.
d) Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

3) Caracterizando a Violência:
A lei não especifica o que seria, propriamente dito, o conceito de
violência contra a mulher. Presume-se que o legislador faz referência a
qualquer sofrimento de origem física ou psicológica que ocorra em virtude de

Artigo 2º - Entende-se que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica: a)
ocorrido no âmbito da família ou unidade domestica ou em qualquer relação interpessoal, quer o agressor
compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo- se, entre outras formas, o estupro,
maus-tratos e abuso sexual; b) ocorrida na comunidade e comedida por qualquer pessoa, incluindo, entre
outras formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfego de mulheres, prostituição forçada, seqüestro e
assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, serviços de saúde ou
qualquer outro local; e c) perpetra ou tolerada pelo Estado ou seus agente, onde quer que ocorra. Direitos
Protegidos
Artigo 3º - Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto na esfera pública como na esfera
privada. Toda mulher tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de todos os direitos
humanos e liberdades consagradas em todos os instrumentos regionais e internacionais relativos aos
direitos humanos. Estes direitos abrangem, entre outros: a) direitos a que se respeite sua vida; b) direitos a
que se respeite sua integridade física, mental e moral; c) direitos à liberdade e a segurança pessoais; d)
direito a não ser submetida a tortura; e) direito a que se respeite a dignidade inerente à sua pessoa e a que

se proteja sua família f) direito a igual proteção perante a lei e da lei; g) direito a recurso simples e
rápido perante tribunal competente que a proteja contra atos que violem seus direitos; h) direito de livre
associação; i) direito à liberdade de professar a própria religião e as próprias crenças, de acordo com a lei;
e j) direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu próprio país e a participar nos assuntos
públicos, inclusive na tomada de decisões.

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relações familiares e domésticas, em face do gênero, ou seja, pela simples


condição humana de ser mulher. Incorporado ao conceito de violência
doméstica temos a ideia representada pela unidade doméstica que, na
verdade, representa o núcleo privado de convívio permanente entre pessoas
marcadas por laços sanguíneos ou afetivos.
Importante destacar, que atualmente os Tribunais Superiores admitem
que a lei seja aplicada em favor de homens que sejam vítimas de violência
doméstica ou familiar, pois o que se leva em consideração é a situação de
vulnerabilidade da pessoa humana, independentemente do gênero. A mesma
orientação vale para os transexuais e casais heterossexuais e homossexuais.

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência


doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como
o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a
comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.

4) Das Formas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher:

Artigo 7º da LEI:

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar


contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta
que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da
auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz,
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação;

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III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta


que a constranja a presenciar, a manter ou a participar
de relação sexual não desejada, mediante intimidação,
ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez,
ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o
exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer
conduta que configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta
que configure calúnia, difamação ou injúria.

Inciso I - A violência física pode ir desde vias de fato, homicídio etc.


Inciso II – crime de ameaça, ou seja, a promessa de causar-lhe um mal injusto.
Inciso III – crime de estupro, obter relações sexuais contra a vontade da vítima.
Inciso IV – delapidação de patrimônio, inclusive a vítima poderá judicializar
ações na esfera civil.
Inciso V – Moral, atingir a dignidade da pessoa humana e condições inerente aos
direitos a personalidade da vítima, gerando o direito a indenizações.

5) Das Formas de Prevenção na Lei Maria da Penha:

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência


doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
um conjunto articulado de ações da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
governamentais, tendo por diretrizes:
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas
de segurança pública, assistência social, saúde,
educação, trabalho e habitação;
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
outras informações relevantes, com a perspectiva de
gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às
conseqüências e à freqüência da violência doméstica e
familiar contra a mulher, para a sistematização de dados,
a serem unificados nacionalmente, e a avaliação
periódica dos resultados das medidas adotadas;
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a
coibir os papéis estereotipados que legitimem ou
exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo

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com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do


art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal;
Já tem MP instaurando ACP contra programas de TV que
violam este dispositivo.
IV - a implementação de atendimento policial
especializado para as mulheres, em particular nas
Delegacias de Atendimento à Mulher;
V - a promoção e a realização de campanhas educativas
de prevenção da violência doméstica e familiar contra a
mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em
geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de
proteção aos direitos humanos das mulheres;
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes,
termos ou outros instrumentos de promoção de parceria
entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades
não-governamentais, tendo por objetivo a implementação
de programas de erradicação da violência doméstica e
familiar contra a mulher;
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e
dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas
enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de
raça ou etnia;
VIII - a promoção de programas educacionais que
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à
dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero
e de raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os
níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos
humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao
problema da violência doméstica e familiar contra a
mulher.

6) Das Formas de Assistência à Mulher em Condição de Vulnerabildiade:

Artigo 9º da Lei.

Art. 9o A assistência à mulher em situação de violência


doméstica e familiar será prestada de forma articulada e
conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei
Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre
outras normas e políticas públicas de proteção, e
emergencialmente quando for o caso.
§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da
mulher em situação de violência doméstica e familiar no
cadastro de programas assistenciais do governo federal,
estadual e municipal.

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§ 2o O juiz assegurará à mulher em situação de violência


doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica (aqui incluída a moral, sexual etc):
I - acesso prioritário à remoção quando servidora
pública, integrante da administração direta ou indireta;
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário
o afastamento do local de trabalho, por até seis meses.
§ 3o A assistência à mulher em situação de violência
doméstica e familiar compreenderá o acesso aos
benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e
tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de
emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos
necessários e cabíveis nos casos de violência sexual.

O atendimento a mulher vítima de violência doméstica ou familiar é


garantido frente ao Sistema Único de Saúde (SUS). Na esfera administrativa é garantida
a remoção da servidora pública federal vítima, ademais no âmbito celetista a
manutenção do vínculo, por até 6 (seis) meses. Medida muito questionada, tendo em
vista o gasto suportado pelo empregador durante esse período.

Vide:

§2º, inciso II – manutenção do vínculo trabalhista, por até 06 meses.

7) Das Medidas Protetivas da Lei Maria da Penha:

Artigos 22, 23, e 24 (IMPORTANTE):

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e


familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas,
com comunicação ao órgão competente, nos termos da
Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência
com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre
estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas
por qualquer meio de comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de
preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

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IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes


menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
§ 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a
aplicação de outras previstas na legislação em vigor,
sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias
o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao
Ministério Público.
§ 2o Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se
o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos
do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o
juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou
instituição as medidas protetivas de urgência concedidas
e determinará a restrição do porte de armas, ficando o
superior imediato do agressor responsável pelo
cumprimento da determinação judicial, sob pena de
incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência,
conforme o caso.
§ 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas de
urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
auxílio da força policial.
§ 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que
couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da
Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
Processo Civil).
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de
outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa
oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus
dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do
agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e
alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da
sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular
da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as
seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo
agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e
contratos de compra, venda e locação de propriedade em
comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida
ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito
judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da

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prática de violência doméstica e familiar contra a


ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório
competente para os fins previstos nos incisos II e III deste
artigo.

As medidas elencadas nos artigos 22, 23 e 24, ambas são caracterizadas pela
urgência. Sendo assim, devem preencher o binômio perigo da demora e aparência do
bom direito.
As medidas protetivas podem ser concedidas de ofício ou a requerimento
da vítima, sem a audiência do agressor que será posteriormente comunicado. É possível
a substituição das medidas,quando ineficazes.
A inobservância das medidas pelo agressor não gera o crime de
desobediência, entretanto, existe posição doutrinária diversa. Para Guilherme Nucci,
pode configurar o crime. Em cada caso concreto vai depender da posição de cada
Tribunal.
Segundo o STJ, configura o crime do artigo 359, bem como seria
possível o pedido da prisão preventiva. A prisão preventiva só poderá ser decretada se o
descumprimento da medida volta-se para a prática de novo crime contra a vítima.

8) Da Organização Judiciária e a Necessidade de Criação dos Juizados


Especiais:

A lei impõe a criação dos Juizados Especiais como uma diretriz. É uma
tendência no âmbito do poder judiciário, entende-se que uma justiça especializada julga
melhor, tende a ter entendimentos uniformizados e, tecnicamente, seria mais célere,
além de todos os atuantes estarem sensibilidades e familiarizados com a problemática.

Nos Estados onde não foram criados os juizados especiais, o juiz julgará
a infração penal e a concessão ou não das medidas protetivas de caráter cível.
Outras ações de natureza civil poderão ser propostas na própria vara civil
competente.

9) Aspectos Processuais da Lei Maria da Penha:

Importante lembrar, que a lei proibiu expressamente a aplicação do


Juizado Especial Criminal, mesmo se o crime praticado pelo
agressor for considerado de pequeno potencial ofensivo. O conceito
de crime deve ser ampliado e, por essa razão, contempla as
contravenções penais.

Art 41º da Lei:

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e


familiar contra a mulher, independentemente da pena

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prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro


de 1995.

10) Abordagem Jurisprudencial: comentário extraído do site dizer o direito:

A Lei Maria da Penha pode ser aplicada para violência praticada contra a
cunhada?

A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 226, § 8º:


§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
No mesmo sentido deste comando constitucional, o Estado Brasileiro, com o intuito de
coibir a violência contra a mulher, assinou dois importantes tratados internacionais:
 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a
Mulher;
 Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher (“Convenção de Belém do Pará).

A fim de regulamentar o §8º do art. 226 da CF/88 e dar maior efetividade aos
compromissos internacionais assumidos em defesa da mulher, foi editada a Lei n.°
11.340/2006, conhecida como “Lei Maria da Penha”.

A referida Lei cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher.

Indaga-se então:
Qual é o conceito legal de violência doméstica?

Quais os casos em que é possível configurar-se violência doméstica?

Violência doméstica e I - no âmbito da unidade doméstica; ou


familiar contra a mulher é: Unidade doméstica é o espaço de convívio
qualquer ação ou omissão permanente de pessoas, com ou sem vínculo
baseada no gênero familiar, inclusive as esporadicamente agregadas.
que cause II - no âmbito da família; ou
morte, Família aqui deve ser compreendida como a
lesão, comunidade formada por indivíduos que são ou se
sofrimento físico, consideram aparentados, unidos por laços naturais,
sofrimento sexual ou por afinidade ou por vontade expressa.
sofrimento psicológico e
dano moral ou III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual
dano patrimonial o agressor conviva ou tenha convivido com a
à mulher ofendida, independentemente de coabitação.
e que ocorra:

Algumas perguntas decorrentes deste conceito, que está previsto no art. 5º da Lei:

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1) É possível a aplicação da Lei Maria da Penha para a violência praticada por


irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto?
SIM, é possível, com base no inciso III acima exposto.
Ressalte-se, mais uma vez, que, para a configuração de violência doméstica não precisa,
necessariamente, que haja coabitação (Quinta Turma. REsp 1.239.850-DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 16/2/2012).

2) A Lei Maria da Penha pode ser aplicada para namorados?


SIM. A Terceira Seção do STJ vem firmando entendimento jurisprudencial de que é
possível a aplicação da Lei nº 11.340/2006 à agressão cometida por ex-namorado.
Em tais circunstâncias, há o pressuposto de uma relação íntima de afeto a ser protegida,
por ocasião do anterior convívio do agressor com a vítima, ainda que não tenham
coabitado.
(HC 181.217/RS, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 20/10/2011)

Esta Lei pode ser aplicada a agressor que não se conforma com o término do namoro:
Incide a aplicação da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) uma vez que a vítima
grávida mantinha íntima relação com o agressor, que vinha praticando agressões físicas
por não se conformar com o término do namoro, sendo ele o suposto pai. Assim,
competente a Justiça comum para processar e julgar a questão.
CC 92.591-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 5/12/2008.

Mas cuidado: não é qualquer namoro que se enquadra na Lei Maria da Penha:
Como o art. 5º da Lei n.° 11.340/2006 dispõe que a “violência doméstica” abrange
qualquer relação íntima de afeto e dispensa a coabitação, cada demanda deve ter uma
análise cuidadosa, caso a caso. Deve-se comprovar se a convivência é duradoura ou se o
vínculo entre as partes é eventual, efêmero, uma vez que não incide a lei em comento
nas relações de namoro eventuais.
(CC 91.979-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/2/2009)

3) Por fim, a Lei Maria da Penha pode ser aplicada para a agressão perpetrada
por um homem contra a sua cunhada?
SIM. Trata-se da hipótese prevista no inciso II, considerando que a cunhada é parente
por afinidade do agressor.
Assim, já decidiu o STJ:
(...)
2. Na espécie, apurou-se que a Vítima, irmã da companheira do Acusado, vivendo há
mais de um ano com o casal sob o mesmo teto, foi agredida por ele.
3. Nesse contexto, inarredável concluir pela incidência da Lei n.º 11.343/06 (rectius:
Lei n.° 11.340/2006), tendo em vista a ocorrência de ação baseada no gênero
causadora de sofrimento físico no âmbito da família, nos termos expressos do art. 5.º,
inciso II, da mencionada legislação.
4. "Para a configuração de violência doméstica, basta que estejam presentes as
hipóteses previstas no artigo 5º da Lei 11.343/2006 (Lei Maria da Penha) [...]" (HC
115.857/MG, 6.ª Turma, Rel. Min. JANE SILVA (Desembargadora Convocada do
TJ/MG), DJe de 02/02/2009). (...)
(HC 172634/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 06/03/2012)

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Algumas situações nas quais o STJ já reconheceu ser possível a aplicação da Lei Maria
da Penha

Um dos temas que é enfrentado com frequência pelo STJ diz respeito às hipóteses em
que é cabível a aplicação da Lei Maria da Penha.

Pensando nisso, preparei uma breve pesquisa sobre alguns casos concretos já
enfrentados pela Corte.

Antes disso, vejamos algumas regras básicas:

Quem pode ser sujeito ativo e sujeito passivo da violência doméstica?


• O sujeito passivo da violência doméstica obrigatoriamente deve ser uma pessoa do
sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino).
• O sujeito ativo pode ser pessoa do sexo masculino ou feminino.

Quais são os requisitos para que haja violência doméstica?


a) Sujeito passivo (vítima) deve ser pessoa do sexo feminino (não importa se criança,
adulta ou idosa, desde que seja do sexo feminino);
b) Sujeito ativo pode ser pessoa do sexo masculino ou feminino;
c) Violência baseada em relação íntima de afeto, motivação de gênero ou situação de
vulnerabilidade, nos termos do art. 5º da Lei.

É possível a aplicação da Lei Maria da Penha mesmo que agressor e vítima não
vivam sob o mesmo teto?
SIM. É possível que haja violência doméstica mesmo que agressor e vítima não
convivam sob o mesmo teto (não morem juntos). Isso porque o art. 5º, III, da Lei afirma
que há violência doméstica em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor
conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Finalmente, confira alguns casos já analisados pelo STJ envolvendo a Lei Maria da
Penha:

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