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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DA TURMA DE

DIREITO PENAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ

Processo nº xxxxxxx

Apelante: XXXXXX XXXXXX XXXXXX

XXXXXX XXXXXX XXXXXX, já qualificado nos presentes


autos, vem, por seus advogados subscritos, a presença de Vossa Excelência,
em atenção ao r. despacho de fls. e no prazo do art. 600 do Código de
Processo Penal, apresentar as anexas RAZÕES DE APELAÇÃO, em
conformidade com os fatos e fundamentos a seguir delineados.

Nestes temos,

Requer e aguarda deferimento.

Belém – Pará, 28 de maio de 2019.

CLODOMIR ASSIS ARAÚJO JÚNIOR


OAB/PA 10.686

EMY MAFRA RENAN D. TRINDADE


OAB/PA 23.263 OAB/PA 24.417
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ

RAZÕES DE APELAÇÃO

APELAÇÃO
0003099-16.2016.8.14.0401
CRIMINAL Nº.

APELANTE: XXXXX XXXXXX XXXXXX

APELADO: JUSTIÇA PÚBLICA

Colenda Turma de Direito Penal

Eminentes Desembargadores

Excelentíssimo Desembargador Relator

1. SINTESE FÁTICO PROCESSUAL

O Ministério Público Estadual apresentou denúncia contra


Xxxxxx Xxxxxx Xxxxxx, onde narra que no dia 10/05/2015, por volta de 01h
00m, o Apelante teria cometido agressões contra a Sra. **********
********** **********.

Nos termos da inicial, a testemunha presencial foi a Sra.


+++++++ +++++++ Xxxxxx, que também teria intervindo na situação.

No mesmo dia, a Sra. ********** seguiu até a Delegacia


Especializada no Atendimento à Mulher, onde houve o registro de ocorrência
que originou a determinação de medidas protetivas nº 0008780-
98.2015.8.14.0401.

A denúncia foi recebida em 8 de junho de 2016 (p. 8).

Após a devida instrução, o Parquet requereu a condenação do


denunciado pelo cometimento do delito do art. 129, §9º, do CP, e o
Postulante apresentou suas alegações finais.

Em sentença publicada em 31/01/2019, o Juízo de Primeiro


Grau condenou XXXXXXX Xxxxxx à pena de 1 ano em regime aberto, tendo,
sucessivamente, aplicado o sursis da pena, previsto no art. 77 do CP.

Inconformado, o Apelante recorreu informando que


apresentaria suas razoes recursais em segunda instância.

2. PRELIMINAR: INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO ESPECIALIZADO NÃO


ANALISADA EM SENTENÇA

Em primeira vista, os atos narrados pelo Órgão Ministerial


aparentam ser de ordem da violência contra a mulher em ambiente
doméstico, alguns requisitos da lei nº 11.340/06, para que este feito fosse
julgado pela Vara Especializada de Violência Doméstica da Capital, não se
encontram presentes.

A referida lei, também conhecida popularmente como Lei


Maria da Penha, tem como objetivo responsabilizar quem pratica violência
doméstica e familiar em que a mulher encontra-se como vítima, como bem
expõe o art. 5º:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência


doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015)
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem
vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade
formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor
conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientação sexual.

Como se vê, se trata de uma lei que regula a violência


doméstica de gênero.

Traz-se inicialmente a doutrina posta por Guilherme Nucci1


que clarifica este sentido da norma:

Não é qualquer espécie de crime que ingressa no cenário


da violência doméstica e familiar, nem mesmo no campo
da discriminação da mulher. (...) Logo, há de se ter
prudência na análise da expressão violência doméstica e
familiar, verificando-se a situação do agente do crime e
da vítima e seus vínculos domésticos ou familiares.

Cumpre-se dizer que o Apelante e a Sra. ********** não


possuíam relacionamento afetivo íntimo, público e notório, mas tão somente
uma relação esporádica, sem qualquer interesse em firmar algo mais sério.

O depoimento da Sra. ********** também confirma isto ao


afirmar, em juízo, que não sabia ao certo quanto tempo supostamente teria
de relacionando com o Recorrente.

No entanto, em sede policial, a suposta vítima afirmou que o


relacionamento estaria perdurando por 6 meses. Percebe-se assim que não
era um relacionamento público e notório, mas algo tão somente casual.

11
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais comentadas. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2007.
Isto se corrobora também a partir do depoimento da Sra.
+++++++ confirmou esta situação, pois a testemunha informara que a
Vítima não tinha a menor convivência com a família do Apelante, pois nunca
comparecer em qualquer reunião familiar, eventos festivos que alguém que
afirma ter um relacionamento sério geralmente se faz presente.

Ora, como é possível falar em relacionamento sério,


público e notório se: I) a vítima não sabe quanto tempo estava com o
Recorrente? II) se era um relacionamento de 6 meses, como a Sra.
********** não frequentara nenhuma data comemorativa na família
do Apelante neste período?

O Sr. Xxxxxx Xxxxxx Xxxxxx em seu interrogatório confirma


justamente estas questões, pois afirma que ele e a Sra. ********** se
encontravam casualmente, de vez em quando, não havendo qualquer
menção de relacionamento público e notório, de modo que ela não o
acompanhava nos eventos familiares.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já se fixou no


sentido de que relacionamento esporádico não encontra terreno na proteção
específica trazida pela Lei Maria da Penha:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE


LESÃO CORPORAL PRATICADOS CONTRA NAMORADA DO
RÉU E CONTRA SENHORA QUE A ACUDIU. NAMORO.
RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO. CARACTERIZAÇÃO.
INCIDÊNCIA DA LEI MARIA DA PENHA. ART. 5.º,
INCISO III, E ART. 14 DA LEI N.º 11.340/06.
PRECEDENTES DO STJ. VÍTIMA MULHER DE RENOME
DA CLASSE ARTÍSTICA. HIPOSSUFICIÊNCIA E
VULNERABILIDADE AFASTADA PELO TRIBUNAL A QUO
PARA JUSTIFICAR A NÃO-APLICAÇÃO DA LEI ESPECIAL.
FRAGILIDADE QUE É ÍNSITA À CONDIÇÃO DA MULHER
HODIERNA. DESNECESSIDADE DE PROVA.
COMPETÊNCIA DO I JUIZADO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA CAPITAL
FLUMINENSE. RECURSO PROVIDO. DECLARAÇÃO, DE
OFÍCIO, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, EM RELAÇÃO
AO CRIME COMETIDO CONTRA A PRIMEIRA VÍTIMA, EM
FACE DA SUPERVENIENTE PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA ESTATAL. 1. Hipótese em que, tanto o Juízo
singular quanto o Tribunal a quo, concluíram que havia,
à época dos fatos, uma relação de namoro entre o
agressor e a primeira vítima; e, ainda, que a agressão se
deu no contexto da relação íntima existente entre eles.
Trata-se, portanto, de fatos incontestes, já apurados
pelas instâncias ordinárias, razão pela qual não há falar
em incidência da Súmula n.º 07 desta Corte. 2. O
entendimento prevalente neste Superior Tribunal
de Justiça é de que "O namoro é uma relação
íntima de afeto que independe de coabitação;
portanto, a agressão do namorado contra a
namorada, ainda que tenha cessado o
relacionamento, mas que ocorra em decorrência
dele, caracteriza violência doméstica" (CC
96.532/MG, Rel. Ministra JANE **********-
Desembargadora Convocada do TJMG, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 05/12/2008, DJe
19/12/2008). No mesmo sentido: CC 100.654/MG,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 25/03/2009, DJe 13/05/2009; HC
181.217/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA
TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 04/11/2011;
AgRg no AREsp 59.208/DF, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 26/02/2013,
DJe 07/03/2013. [...]
(REsp 1416580/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 01/04/2014, DJe 15/04/2014)

[...] necessário se faz salientar que a aplicabilidade da


mencionada legislação a relações íntimas de afeto como
o namoro deve ser analisada em face do caso concreto.
Não se pode ampliar o termo – relação íntima de afeto –
para abarcar relacionamento passageiro, fugaz ou
esporádico (STJ; Terceira Seção; CC 100654/MG; Rel.
Ministra LAURITA VAZ; DJe: 13/05/2009).

Além disto, não há nos autos qualquer prova produzida de que


havia uma relação pública e notória entre as partes.

Ainda que se diga que a palavra da Vítima, nos casos de


violência doméstica, prevalecem se corroboradas com outras provas,
não é o caso em tela, pois a) a vítima se contradisse e não sabe dizer
quanto tempo estava junto; b) a Sra. +++++++ afirma, em seu
depoimento que ********** não frequentava sua casa e eventos
familiares; c) Xxxxxx Xxxxxx também afirma que o relacionamento
era casual.

Esta questão foi inclusive suscitada em oportunidade de


Resposta á Acusação e Alegações Finais por esta defesa. No entanto, o juízo
originário não tratou desta hipótese em sua sentença sobre a questão.

Este ponto é de crucial importância, pois viola o determinado


pela Súmula nº 5 do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, pois o caso em
comento não é abarcado pela Lei Maria da Penha:

SÚMULA Nº 05 CRIMES CONTRA A MULHER - LEI MARIA


DA PENHA - COMPETÊNCIA DAS VARAS
ESPECIALIZADAS. SÃO DE COMPETÊNCIA DAS VARAS
ESPECIALIZADAS TODAS AS AÇÕES QUE VERSEM
SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER PRATICADAS NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
11.340/2006.

Isto posto, faz-se necessário que se reconheça a nulidade por


incompetência do Juízo Originário em razão da matéria, conforme o art. 564,
I, do CPP, devendo os autos serem remetidos para o juízo competente.

3. DA AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PESSOAL DO


RECORRENTE PELOS FATOS DENUNCIADOS

Como já mencionado nas alegações finais, em seu


interrogatório, Xxxxxx Xxxxxx negou as acusações feitas contra ele;

“Que infelizmente conheceu uma pessoa com uma índole


não muito boa e que aconteceram fatos pelos quais não
pode ser acusado, porque não cometeu isso. Que
acredita que ela lhe acusou porque não quis continuar a
relação com ela. Que não tinham bem uma relação. Que
se encontravam de vez em quando, até porque ela não
era muito presente, que não se falavam tanto. Que
acredita que seja por isso, porque ele não quis continuar
a relação. Que nesse dia sua mãe estava no quarto ao
lado. Que não estava alcoolizado. Que conheceu ela em
julho de 2014, começaram a se encontrar, mas se viam
bem raramente, até porque ela evitava isso, não ia atrás
e se viam bem pouco. Que ela nunca frequentou eventos
de sua família. Que ele também não costumava
frequentar eventos na casa dela. Que no dia, por volta
de 1h da manhã, ela chegou na sua casa. Que antes
disso ele não queria mais essa situação. Que ela era
sustentada por um cara mais velho, que ela tinha
relacionamento com um cara mais velho e ela lhe
contou isso anteriormente. Que a partir disso ele
não quis mais a situação com ela. Que ela chegou
em sua casa por volta de 1h da manhã, disse que ia
mudar, que era só ele esperar mais um pouco que
ela iria resolver isso, essa situação desse cara que
sustentava ela, e ele falou que não, que eu não era
nenhum babaca, nenhum idiota pra aceitar isso.
Que foi quando ela falou assim: é melhor do que
ser corno. Ao que ele respondeu: É melhor do que
ser puta. E foi com isso que ela perdeu a cabeça,
foi para cima dele, falou um monte de coisas na
cara dele. Que ele começou a falar alto também,
que não tinha que aceitar isso, que não é trouxa
para aceitar essas coisas, e foi quando a mãe dele
chegou no quarto. Quando sua mãe chegou no quarto,
ela já estava revoltada, falou um monte de coisas, e ele
saiu do quarto, e sua mãe estava separando os dois. Que
quando saiu do quarto, ela desferiu vários socos na sua
costa, que ele não fez nada, apenas saiu de perto dela, e
ela foi lhe batendo no corredor até o banheiro, e ela foi
tomar banho. Que a sua mãe os separou porque estavam
falando alto”.

Também já mencionado neste recurso, a única pessoa que


presenciou a situação fora a Sra. +++++++ +++++++ de Xxxxxx, que
disse que:

“ouviu barulho no quarto de seu filho, e os dois estavam


falando alto, discutindo, e saiu afastando um do outro, a
moça saiu do quarto, foi tomar banho, no corredor.
Enquanto andava até o banheiro, a moça dava muitos
socos na costa dele, e ela foi desapartar [...]
Após tomar banho, a moça desceu e foi embora. Quando
ela desceu, o XXXXXXX ficou em casa e a declarante
desceu para conversar com ela. Tentou conversar,
acalmá-la, mas ela estava nervosa, gritando muito,
falando muito alto, então desceu, deixou ela descer para
a portaria. Na portaria elas conversaram, ela disse que
teria pedido para o porteiro chamar um táxi pra ela e que
ela iria para a Delegacia. A declarante tentou conversar
com ela, acalmá-la, mas como ela estava irredutível,
muito nervosa, esperou chegar o taxi e ela foi embora
[...]
Que ela não estava com nenhuma marca no pescoço,
com clareza, até porque ela é muito branca, então se
tivesse tentado asfixiar, teria ficado marcado, mas não
estava. Ao sair da casa da declarante, ela não estava
[...]
Que estava dormindo e, depois, conversou com seu filho
e ele disse que ela chegou à noite, mais ou menos
próximo desse horário (1:00 da manhã). Que só soube
que ela estava em casa quando acordou com o barulho”

Quando foi perguntado a ela sobre o XXXXX levar namorada


em casa, a mesma respondeu:

“À época morava só nós dois (...) e poucas vezes ela ia


na minha casa. Sempre falei pro XXXXXXX arranjar uma
namorada, mas ela era só ficante, um relacionamento
fortuito”

Quando a pergunta foi sobre o desentendimento entre


********** e Xxxxxx, a Sra. Ana respondeu:

“Que ela confirmou o motivo quando desceu do prédio.


Que ela lhe disse que o motivo era que ela tinha um
relacionamento com uma pessoa mais velha,
anteriormente o XXXXXXX teria tentado terminar com
ela, pediu para ela se afastar, e ela depois insistiu em
ficar com ele, e o motivo foi exatamente esse. Quando a
declarante desceu, falou pra ela que realmente isso não
tinha condições de (...). Que ele não queria mais ficar
com ela, mas ela queria ficar com ele”.

Além disso, expôs que:

“Quando a declarante entrou no quarto, **********


saiu e foi tomar banho. Que o banheiro era bem ao lado
do quarto dele. Nesse caminho nesse corredor foi que ela
desferiu vários socos nas costas dele. Que afastou os
dois e empurrei eles, ficou no meio dos dois. Que ele só
pediu para ela parar de bater nele, e em seguida ela
entrou no banheiro”.

“Que após o fato houve um evento público, que não


recorda quando, pois já faz dois anos, em que soube que
ele foi e ela estava lá. Que ela tentou se aproximar dele
para falar com ele, mas ele se afastou”.

A partir dos do já exposto, há algumas contradições que


levam por confirmar a versão apresentada por Xxxxxx Xxxxxx:

a) Que o motivo das agressões teria sido o fato de que


o relacionamento havia terminado e o Apelante não
aceitava isto: Ora, se o Réu foi quem não aceitava mais o
término, como foi a suposta vítima que foi até a casa dele?
Afinal, se a mesma não tinha mais nenhum interesse em
continuar a hipotética relação, não haveria razão para ir
até a casa do Recorrente à 1h da madrugada.

b) ********** afirma que ligou do seu próprio celular


para a delegacia e para a sua irmã quando desceu do
apartamento: A irmã da vítima, Sra. Pâmella, expõe em
sua oitiva que recebeu uma ligação de **********, foi até
a casa do Recorrente com a sua mãe para buscar a bolsa,
o celular e dinheiro de ********** que haviam ficado no
apartamento. Ressalte-se que: a própria Vítima afirma que
pediu para o porteiro chamar um táxi para ela.

c) A denúncia afirma que a mãe e a irmã de


********** informaram na DEAM que a mesma se
encontrava “lesionada e sangrando e com marcas de
mordida no pescoço e na testa”: Em Juízo, o discurso
de ambas se altera para afirmar que a vítima estava com
marcas no olho. Perceba que não mencionam mais a testa.

d) Quanto ao motivo, na delegacia, afirmou-se que o


motivo teria sido ciúme sentido por Xxxxxx: No
entanto, em sua oitiva, ********** afirma que a agressão
teria se dado porque o Apelante não aceitava o término da
relação.

e) ********** afirma que o Recorrente, mesmo com


medidas protetivas, buscava manter aproximação
por meio de ligações: Quanto a isto, a vítima não busca
trazer aos autos qualquer prova que demonstre que ele
teria infringido as medidas protetivas. Ainda na medida
protetiva (proc. nº ----------- em apenso), **********
também afirma que houve descumprimento das medidas,
mas novamente sem juntar qualquer proa. Na referida
comunicação ainda, ficou registrado pela Autoridade
Policial que a Vítima se recusou em entregar seu celular
para ser periciado.

Como se vê, o depoimento da Sra. **********, e as


testemunhas de acusação (sua mãe e irmã) não possuem um eixo mínimo de
coerência para que se fundamente a condenação proferida pelo juízo.

Neste interim, a sentença ainda expõe que:

Em que pese o denunciado ter negado os fatos narrados


na denúncia, vale ressaltar que a jurisprudência pátria,
ao tratar da valoração da prova consistente no
depoimento da ofendida, já se firmou no sentido de que
a palavra da vítima, nos crimes que envolvem violência
de gênero no âmbito doméstico e familiar, merece
credibilidade, mormente quando amparada por outros
elementos probatórios trazidos aos autos.

No entanto, como já demonstrado acima, e como irá se


expor também mais adiante, as informações prestadas pela Vítima
não se coadunam com as informações das demais testemunhas,
inclusive o próprio lapso temporal e de fatos narrados pela sua mãe e
irmã no presente feito.
Isto ocorre porque provavelmente a vítima criou as condições
do fato principal, ficando demonstrado que quanto aos pontos secundários há
várias contradições: como a mãe e irmã foram pegar seu telefone na casa de
Xxxxxx se estas foram buscar o aparelho e outros objetos no apartamento do
Recorrente? Como a vítima ligou para a DEAM se esqueceu o telefone no
apartamento do Apelante?

Por isso, é verificável que ********** não estava lesionada


quando saiu do prédio onde Xxxxxx mora. O que se confirma inclusive pelo
depoimento de $$$$$$$$, porteiro do condomínio à época, e que foi a
primeira pessoa a ver ********** após os fatos narrados pela exordial.

Neste sentido, $$$$$$$$ relata que a vítima estava apenas


chorando, pediu que ele chamasse um táxi, porque ela iria à delegacia. A
testemunha afirma ainda que não viu machucados no rosto e nem no pescoço
de **********, tendo percebido apenas um leve inchaço no lábio superior.

Desta maneira, apenas a prova testemunhal da vítima, da sua


irmã e sua mãe apresentam contradições. Por outro ponto, as informações
prestadas pelo Postulante se encaixam perfeitamente no exposto pelo Sr.
$$$$$$$$ que foi testemunha quase que imediata dos fatos e que não possui
qualquer animus em relação ao contexto aqui exposto.

Lembremos que Xxxxxx e a Sra. +++++++ também narram


que ele teria sofrido agressões por parte da Vítima, o que fica demonstrado a
partir do laudo nº 7777777777-TRA, presente nas fl. 17 dos autos e fl. 23 do
IPL – quesito 01.

Outrossim, reitere-se que na audiência referente à medida


protetiva, ********** relatou que após a suposta agressão, encontrou com
Xxxxxx Xxxxxx em uma festa, onde falou com ele e disse que se ele lhe
pedisse desculpas, ela abriria mão do processo contra o Apelante.
Acrescentou também que eles “ficaram” novamente, o que demonstra
novamente a narrativa apresentada por ela de que o término do
relacionamento teria sido o motivo das supostas agressões.

Isto também comprova que é ********** que, em mais de


uma vez, procurou o Apelante, sem apresentar qualquer elemento sem
contradição que demonstre que fora ele quem deu viés aos fatos aqui
expostos.

Ainda neste contexto, não há possibilidade de esclarecer o que


ocorreu com a vítima após ela ter saído do prédio e até ela ter chegado à
DEAM. O que se sabe é que ela não estava lesionada como narra a exordial,
justamente porque as únicas testemunhas oculares comprovaram que a
mesma não estava lesionada como a própria, sua mãe e sua irmã tentam
evidenciar de forma contraditória.

Assim, não pairam dúvidas de que a sentença apenas analisou


o depoimento da vítima e a exordial, deixando de analisar de forma
pormenorizada fatos secundários, que demonstram a contradição entre
depoimento de todas as testemunhas de acusação e **********.

Por outro lado, a narrativa de $$$$$$$$, Xxxxxx e


+++++++ são os únicos se mantém uma linha lógica linear cronológica dos
fatos.

Isto posto, a sentença deve ser reformada para absolver


Xxxxxx Xxxxxx com fundamento no art. art. 386, V do CPP, pois o mesmo
não fora o autor da infração penal aqui capitulada.

4. DEPOIMENTO DA VÍTIMA NÃO ENCONTRA ÂMPARO NO


DEPOIMENTO DAS TESTEMUNHAS E INFORMANTES;
CONTRADIÇÃO DE INFORMAÇÕES.

Já demonstramos aqui a total falta de responsabilidade penal


do Sr. Xxxxxx Xxxxxx no tocante aos fatos sustentados pelo Ministério
Público. De mesmo modo, também há outras questões no caso que leva a
esta conclusão pela reforma da sentença e consequente absolvição do
Recorrente.

Perante a autoridade policial, ********** informou que no


dia do ocorrido, teve uma discussão entre as partes e que o Apelante teria
lhe agredido por motivos banais.

A vítima também confirmou que a Sra. +++++++ era a única


pessoa além deles no apartamento e que ela teria ouvido barulhos vindos do
quarto, entrado e separado os dois e que mais tarde “sua mãe e familiares
que a trouxeram para esta DEAM, onde registrou o ocorrido”.

No entanto, na instrução processual, a ordem dos fatos


narrados por ********** foi: pegou um taxi para a Delegacia Especializada
da Mulher, ligou para sua irmã e mãe, que foram até o apartamento de
Xxxxxx, e depois a encontraram na DEAM.

A Sra. &&&&&&&&&, mãe de **********, informou à


Autoridade Policial que: “********** não estava mais no local, pois já havia
vindo denunciar XXXXXXX nesta especializada; QUE a declarante entrou no
táxi juntamente com XXXXXXX e direcionaram-se para esta especializada”. O
que foi confirmado em seu depoimento em juízo.

A Sra. XXXXXXX, irmã da vítima, também contraria a irmã ao


dizer que apenas a encontrou na delegacia.

A única testemunha ocular, Sr. $$$$$$$$, que não possui


animus no presente caso, expôs na delegacia: “QUE, ********** foi até a
portaria, e pediu para o declarante chamar um táxi, pois disse ao declarante
que iria até a delegacia; QUE ressalta o declarante que após 30 minutos da
saída de ********** do prédio, chegou em um táxi, a mãe e a irmã dela
(...)”. Tendo confirmado este depoimento do mesmo foi confirmado em
juízo.
O que se nota é que a contradição apresentada por
********** não se tratam de meros detalhes ou confusão causada pela
situação, afinal: como ela não lembraria se tinha ido com a mãe e irmã para
a delegacia? Isto só demonstra que há má fé no depoimento da suposta
vítima.

A contradição também se faz presente na narrativa das


hipotéticas agressões sofridas pela vítima, que na delegacia, não disse qual
era seu estado físico após os fatos. Porém, em audiência de instrução,
informou que após +++++++ ter entrado no quarto, a vítima se dirigiu até a
sala para verificar seu estado. E seguiu dizendo que, após isso, agrediu o
Apelante.

Posteriormente então teria descido e indo para a portaria do


prédio, se sentado, cuspido sangue em razão das agressões.

No entanto, o depoimento da Sra. +++++++ afirma que


********** não apresentava as lesões narradas por ela, até mesmo porque
ela é uma mulher de pele muito clara, o que tornariam os hematomas bem
evidentes.

O Sr. $$$$$$$$, porteiro do prédio à época, disse em juízo


que ********** não estava com os lábios sangrando como ela mencionava,
tampouco com algum hematoma nos olhos ou pescoço.

Ainda neste sentido, o depoimento da mãe do Recorrente e


em juízo é no sentido de que **********, antes de ir até a delegacia, tomou
banho e então desceu, tendo permanecido no hall do prédio por um tempo,
onde trocou palavras com o Sr. $$$$$$$$ e com a Sra. +++++++.

Explanar estas contradições se faz necessário, porque a


sentença aponta que “a vítima narrou com exatidão os fatos ocorridos no dia
do crime” e que:
Em que pese o denunciado ter negado os fatos narrados
na denúncia, vale ressaltar que a jurisprudência pátria, ao
tratar da valoração da prova consistente no depoimento
da ofendida, já se firmou no sentido de que a palavra da
vítima, nos crimes que envolvem violência de gênero no
âmbito doméstico e familiar, merece credibilidade,
mormente quando amparada por outros elementos
probatórios trazidos aos autos.

Portanto, não está presente a consistência no depoimento de


********** que por vezes muda fatos secundários ocorridos no dia, além do
desencontro das informações entre ela e a própria mãe e irmã, seja perante a
autoridade policial, seja perante o juízo.

Tanto isto é verdade, que não há o cotejo entre o que foi dito
no depoimento da vítima com o que foi dito pelas testemunhas, até mesmo
para demonstrar que, embora a palavra da vítima tenha sido relevante a
mais, havia um contexto de interligação do fato primário e dos secundários
narrados por todos.

Inclusive, neste sentido, é a posição já firmada neste E.


Tribunal:

APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DO MINISTERIO


PÚBLICO. DELITO DE AMEAÇA. AUTORIA NÃO
COMPROVADA. IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO.
IMPROVIMENTO DO RECURSO. O decreto
condenatório baseado única e exclusivamente na
palavra da vítima mostra-se frágil, já que não
existe qualquer outro elemento no auto que
confirme a versão apresentada, tratando-se de
hipótese de atipicidade material. As provas
confirmaram que ocorreu uma discussão própria de casal
entre vítima e acusado, ocorrendo ofensas reciprocas,
não restando configurado o crime do artigo 147 do CP.
Dessa forma, na ausência de outras provas que reforcem
as declarações da vítima, não há como exarar um
decreto condenatório em desfavor do recorrido, e,
havendo dúvida impõe-se a absolvição deste, em
consonância com o princípio do in dubio pro reo. Vistos e
etc. Acordam os Excelentíssimos Senhores
Desembargadores componentes da 1ª Câmara Criminal
Isolada, por unanimidade, em conhecer do recurso e
negar provimento, nos termos do voto da
Desembargadora Relatora. Sala de Sessões do Tribunal
de Justiça do Estado do Pará, realizada aos vinte e dois
dias do mês de novembro do ano de dois mil e dezesseis.
Julgamento presidido pela Excelentíssima Senhora
Desembargadora Vânia Lúcia Carvalho da Silveira.
(Desa. MARIA EDWIGES DE MIRANDA LOBATO –
Relatora. APL nº 00160017420118140401, Julgado em
15/12/2015)

EMENTA. APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE AMEAÇA -


LEI MARIA DA PENHA - ALEGAÇÃO DE
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS EFICAZES À
CONDENAÇÃO - INOCORRÊNCIA - MATERIALIDADE E
AUTORIA COMPROVADAS RELEVÂNCIA DA PALAVRA DA
VÍTIMA - REDIMENSIONAMENTO DA DOSIMETRIA -
IMPROCEDÊNCIA - RECURSO IMPROVIDO. 1. Na hipótese
em julgamento, a decisão do juízo sentenciante está em
perfeita consonância com as provas colhidas durante a
instrução processual, em especial pelo firme e coeso
depoimento da vítima e da testemunha. 2. A palavra da
vítima, no âmbito das relações familiares, que
geralmente ocorre sem testemunhas presenciais,
merece relevância impar para a aferição de um
juízo de condenação, como ocorreu na hipótese dos
autos. Precedentes do STJ 3. O juízo de 1º grau
aplicou a dosimetria de acordo com os parâmetros legais
e hermenêuticos próprios para motivação da aplicação da
reprimenda, bem como, com base em todos os
elementos de prova em harmonia existentes nos autos
do processo. Nada tenho a modificar, 4. Apelação
improvida. (Proc. nº 0007546-14.2010.8.14.0051;
Relator: JUIZ CONVOCADO PAULO GOMES JUSSARA
JUNIOR; Publicado em 02/07/2014)

Fazendo aqui cotejo simples da jurisprudência desta


Casa de Justiça com o caso em tela, houve duas testemunhas
oculares: a) +++++++ e b) $$$$$$$$.

A primeira estava no apartamento no momento da


discussão das partes e a segunda estava na portaria do prédio
quando ********** desceu, e ambos foram uníssonos em afirmar
que: as lesões apresentadas e narradas por ********** não estavam
presentes quando ela ainda estava no prédio.

Sendo assim, presente o desencontro de informações e


depoimentos, não há como se manter a condenação de Xxxxxx Xxxxxx sem
que haja prova firmada eu fundamente isto, uma vez que o relato da
testemunha encontra-se conflitivo consigo mesmo e com as demais pessoas
que foram oitivadas.

4.1 DO IN DUBIO PRO REO

Como bem se sabe, o in dubio pro reo significa dizer que, em


caso de dúvida, a interpretação penal deve ocorrer em favor de quem se
encontra no polo passivo da acusação.

O presente caso traz dúvidas substanciais quanto à autoria


das lesões narradas pela vítima, uma vez que as testemunhas oculares
estiveram com ********** durante a situação e após a situação e não
verificaram sangramentos e hematomas que ela narra.

Estas contradições trazem dúvidas pertinentes que devem ser


traduzidas em benefício ao Recorrente. Nas palavras de Renato Brasileiro2:

“Não havendo certeza, mas dúvida sobre os fatos


em discussão em juízo, inegavelmente é preferível
a absolvição de um culpado à condenação de um
inocente, pois, em um juízo de ponderação, o
primeiro erro acaba sendo menos grave que o
segundo. O in dúbio pro reo não é, portanto, uma
simples regra de apreciação das provas. Na
verdade, deve ser utilizado no momento da
valoração das provas: na dúvida, a decisão tem de
favorecer o imputado, pois não tem ele a obrigação
de provar que não praticou o delito. Antes, cabe à
parte acusadora (Ministério Público ou querelante)
afastar a presunção de não culpabilidade que recai
sobre o imputado, provando além de uma dúvida

2
LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal Comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 467.
razoável que o acusado praticou a conduta
delituosa cuja prática lhe é atribuída”.

A jurisprudência pátria também segue estes mesmos


ensinamentos:

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E


FAMILIAR CONTRA A COMPANHEIRA. LESÕES CORPORAIS.
ABSOLVIÇÃO. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PEDIDO
DE CONDENAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. FRAGILIDADE DAS
PROVAS. DEPOIMENTO DA VÍTIMA. CONTRADIÇÃO. SENTENÇA
DE ABSOLVIÇÃO MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.
1. Muito embora, em se tratando de casos de violência
doméstica em âmbito familiar contra a mulher, a palavra da
vítima mereça especial relevância, porquanto praticados, em
regra, na esfera de convivência íntima e em situação de
vulnerabilidade, e sem presença de testemunhas, não há como
fazer prevalecer, na hipótese vertente, a versão acusatória
apresentada pela vítima, eis que confirmada de modo
inconsistente e contraditória perante a autoridade judicial.
2. Deve ser prestigiado o principio in dubio pro reo, mantendo-
se a sentença proferida pelo Juízo a quo, que absolveu o
acusado das imputações de violação ao disposto no art. 129,
§9º, do Código Penal, quando as provas existentes nos autos
não são suficientes para o julgamento de procedência do pleito
condenatório deduzido na denúncia, notadamente em razão
das contradições existentes nas narrativas da vítima, em
confronto com a negativa veemente do acusado.
3. Recurso conhecido e IMPROVIDO. (TJ-DF – APR:
20120310071672. Relator: HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, Data
de Julgamento: 23/04/2015, 3ª Turma Criminal, Data da
Publicação no DJE: 27/04/2015, p. 165, grifo nosso).

APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AMEAÇA.


PROVA ORAL EIVADA DE CONTRADIÇÕES. PRINCÍPIO IN
DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO.
Embora a palavra da vítima assuma especial relevância
nos crimes de violência doméstica, no caso, seu
depoimento em juízo apresentou contradições, além de
divergências com o restante da prova oral, criando
dúvida insuperável acerca da autoria delitiva do fato
narrado na peça acusatória. Ademais, não foi
colacionado aos autos qualquer elemento que conferisse
veracidade à versão acusatória. Assim, ante a
fragilidade do conjunto probatório, em homenagem ao
princípio in dubio pro reo, insustentável o édito
condenatório. RECURSO PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA.
(APELAÇÃO CRIME Nº 70053863643; N° CNJ: 0110991-
82.2013.8.21.7000; Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul;
Relator: DES. JAYME WEINGARTNER NETO; DJE: 24/07/2013,
grifo nosso).

Deste modo, ressaltadas as informações contraditórias no


presente processo criminal a partir do depoimento da vítima, testemunhas e
informantes, a sentença não encontra fundamento, pois não se tem a certeza
cabal exigida para uma condenação criminal.

Sendo assim, deve-se invocar o princípio do in dubio pro reo,


como garantia constitucional frente ao poder punitivo que tenta se fixar sem
um fundamento plausível na condenação do Apelante.

Desta forma, requer a absolvição do Acusado, em razão do


“in dubio pro reo”, nos termos do art. 386, VII, do CPP, uma vez que
as contradições em depoimentos e informações não levam à
conclusão cabal de que fora o mesmo quem ocasionara as lesões
narradas por **********.

5. DA DOSIMETRIA APLICADA – DESPROPORCIONALIDADE

No caso deste Egrégio Tribunal não acatar as teses que


deixam clara a imperiosidade da absolvição, é indispensável que se atente
para a exorbitância da pena imposta pelos injustificados elementos
considerados contra o Apelante.

Consta na dosimetria que:

Sob o ângulo das circunstâncias judiciais do artigo 59 do


Código Repressivo Pátrio, cumpre estipular a pena base
necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do
crime.
Quanto à culpabilidade, à vista dos elementos disponíveis
nos autos, entendo que o comportamento do recorrente
não excedeu o grau de reprovabilidade comum ao crime
em tela, motivo pelo qual o vetor em apreciação merece
valoração neutra.
Poucos elementos foram coletados a respeito da conduta
social do denunciado, razão pela qual deixo de valorar tal
circunstancia inominada.
Os antecedentes criminais, segundo os ensinamentos
doutrinários de Rogério Greco (Curso de Direito Penal.
Parte Geral. Volume I. 14ª Edição. Editora Impetus: p.
559), in verbis: dizem respeito ao histórico criminal do
agente que não se preste para efeitos de reincidência
(...). Dessarte, apenas as condenações com transito em
julgado que sejam anteriores ao fato objeto da causa,
desde que não sirvam para consubstanciar a
reincidência, é que poderão ser utilizadas para exasperar
a pena-base do patamar mínimo abstratamente
cominado na lei, incidindo-se, ainda, o enunciado
constante na sumula Nº 444 da jurisprudência dominante
do Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual, in
verbis: É vedada a utilização de inquéritos e ações penais
em curso para agravar a pena-base.
In casu, não consta nos autos condenação com trânsito
em julgado na certidão de antecedentes do ora acusado
às fls. 137.
Através dos elementos carreados aos autos, não se
depreende elementos relativos a personalidade do
agente, razão pela qual deixo de valorar tal
circunstância.
Tangente aos motivos do crime, tem-se que o
mesmo se deu por meras discussões, sendo
imperiosa a valoração negativa da circunstancia
judicial epigrafa.
As circunstâncias do crime encontram-se relatadas nos
autos, não fugindo ao tipo penal configurado. Assim,
procedo à valoração neutra da circunstância judicial em
exame.
As consequências do crime não refogem ao que é comum
ao crime em tela, sendo inviável proceder a valoração
negativa de tal vetor. Nessa esteira, a circunstância
inominada em enfoque merece valoração neutra.
O comportamento da vítima não colaborou para a prática
do delito, razão pela qual nada se tem a valorar.
Considerando a valoração das circunstancias judiciais do
artigo 59 do Código Penal analisadas individualmente,
onde obteve-se uma negativa e sete neutras, fixo a
pena-base em 01 (um) ano de detenção.
Não existem circunstâncias atenuantes ou agravantes a
serem consideradas, pelo que permanece a pena em 01
(um) ano de detenção.
Não estando presentes causas que possam diminuir ou
aumentar a pena, torno definitiva a pena aplicada de 01
(um) ano de detenção, a ser cumprida no REGIME
ABERTO, na forma disposta no artigo 33, § 2º, alínea c,
do Código Penal.

Como se vê, o Magistrado Sentenciante valorou os motivos


enquanto circunstância judicial do art. 59, do CP. para aplicar a pena de
Xxxxxx Xxxxxx, expondo que as agressões foram causadas por uma suposta
discussão.

Mas então pergunta-se: qual o teor desta discussão?


Por que não veio explicitada na fundamentação da valoração da
circunstância judicial?

Isto ocorre porque justamente há contradição nas informações


prestadas pela vitima, que ora diz que foi em razão de ciúmes, ora em razão
do término do relacionamento. Portanto, não se tem definido nem qual seria
o teor da discussão.

Impera ainda dizer que para se mensurar os motivos do cometimento


de um crime é preciso demonstrá-lo e analisá-lo no tocante à sua natureza e
qualidade, além de ser circunstância que se exige que se extrapole o delito
previsto em lei.

E conforme preleciona Schmitt3:

Os motivos do crime são razões subjetivas que estimularam ou


impulsionaram o agente à prática da infração penal. Os motivos
podem ser conforme ou em contraste com as exigências de uma
sociedade. Não há dúvidas de que, de acordo com a motivação que
levou o agente a delinquir, sua conduta poderá ser bem mais ou
bem menos reprovável. O motivo constitui a origem propulsora da
vontade criminosa.

Nada mais é do que o ‘porquê’ da ação delituosa. São as razões que


moveram o agente a cometer o crime. Estão ligados à causa que
motivou a conduta. Todo crime possui um motivo. É o fator íntimo

3SCHMITT, Ricardo Augusto. Sentença Penal Condenatória – Teoria e Prática. 8. ed. Salvador:
Juspodvim, 2013. p. 133
que desencadeia a ação criminosa (honra, moral, inveja, cobiça,
futilidade, torpeza, amor, luxúria, malvadez, gratidão, prepotência
etc).

Na sentença aqui atacada, não há a demonstração de qual seria o


motivo da suposta prática delitiva pelo Apelante, pois parte-se de uma
fundamentação genérica que mais tem a ver com as circunstâncias/contexto do
que propriamente com o motivo, que, por sinal, fora valorada de forma neutra,
pois já faz parte do tipo. Ou seja, ao valorar pelo contexto/circunstância, houve
bis in idem, dupla análise de uma mesma situação para duas ou mais
circunstâncias judiciais ou de circunstância que já se encontra no tipo penal.

Em sendo isto, preza-se então pela valoração neutra dos motivos para
a dosimetria da pena por não ter havido fundamentação plausível e por
ocorrência de bis in idem.

6. DOS PEDIDOS

Isto posto, requer:


a) Se reconheça a nulidade por incompetência do Juízo
Originário em razão da matéria, conforme o art. 564, I, do CPP, devendo os
autos serem remetidos para o juízo competente.
b) A reforma da sentença atacada aqui, para absolver Xxxxxx
Xxxxxx com fundamento no art. art. 386, V do CPP, pois o mesmo não fora o
autor da infração penal aqui capitulada.
c) a absolvição do Acusado, em razão do “in dubio pro reo”,
nos termos do art. 386, VII, do CPP, uma vez que as contradições em
depoimentos e informações não levam à conclusão cabal de que fora o
mesmo quem ocasionara as lesões narradas por **********.
d) Em se mantendo a condenação, seja valorado como
neutro o motivo na dosimetria da pena, em razão de não haver nos autos
fundamentação para o mesmo e para se evitar bis in idem.
Termos em que
Pede e aguarda deferimento.

Belém, 30 de maio de 2019.

CLODOMIR ASSIS ARAÚJO JÚNIOR RENAN TRINDADE


OAB/PA 10.686 OAB/PA 24.417

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