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Acórdão Nº 1810320
EMENTA
1. A palavra de policiais aliada à quebra de sigilo telefônico, e à confissão parcial dos réus, além das
demais provas, permitem a condenação, que não está pautada em casuísmo, ainda mais se realizada
uma investigação sobre o caso. Incabível a absolvição.
2. Mesmo que haja a confissão quanto a alguns dos crimes, na segunda etapa do cálculo da pena, não
se reduz a reprimenda abaixo do mínimo legal.
4. Não se abranda o regime prisional para o semiaberto, quando a pena for superior a oito anos, mesmo
motivo pelo qual não se pode substituir a pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.
5. Presentes os requisitos da prisão preventiva, sobretudo para se garantir a ordem pública, ante o alto
risco de reiteração delitiva, não se revoga a cautelar da prisão, tampouco aplica-se medidas cautelares
diversas, pois não alcançariam o intuito almejado, exceto quanto à substituição pela domiciliar da corré
, cuja nova análise, eventualmente, e por outro fundamento, cabe ao Juízo das Execuções Penais (artigo
117 da Lei de Execuções Penais).
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
“(...)
(...)
2º FATO – COMÉRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO (ART. 17, § 1º C/C ART. 19, AMBOS DA
LEI 10826/03) E COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME (ART. 340 DO CP)
Em circunstâncias de tempo e local que não se podem precisar exatamente, mas sabendo-se que
compreendidas nos anos de 2021 e 2022, na comarca de Planaltina/GO e no Distrito Federal, em
especial Sobradinho/DF, os denunciados WELINTON DOS REIS SANTOS e ANNA CAROLINE
PEREIRA RODRIGUES tinham em depósito, bem como venderam, no exercício de atividade
comercial, exercido na própria residência, armas de fogo, acessórios e/ou munições de uso restrito, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, bem como provocaram a ação
de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime que sabe não se ter verificado.
(...)
Após regular processamento da ação penal, FERNANDAfoi intimada da condenação e afirmou ter
interesse recursal (ID nº 45885491), tendo sua defesa apresentado recurso de apelação (ID nº
45885478). O réu, WELINTON, intimado pessoalmente (ID n.º 45885483), manifestou interesse em
recorrer. Por sua vez, ANNAfoi intimada (ID nº 45885484) e sua defesa também interpôs apelo (ID nº
45885477).
Nas razões recursais de ANNA e de WELINTON(ID n.º 46604192), a defesa técnica pugna pela
absolvição da ré, sob o argumento de insuficiência probatória. Subsidiariamente, pede a redução da
pena no mínimo legal; o reconhecimento da confissão espontânea; a aplicação da prisão domiciliar,
com monitoração eletrônica; a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos e a
concessão do direito para recorrer em liberdade, com a revogação das cautelares.
Quanto ao réu, também pugna pela absolvição, sob a afirmação de insuficiência probatória. De forma
subsidiária, pugna pela redução da pena; o reconhecimento da confissão espontânea; o abrandamento
do regime inicial de cumprimento de pena; a aplicação da detração do tempo que o acusado cumpriu
prisão provisória (no caso, de onze meses); a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva
de direitos; assim como a concessão do direito de o réu responder ao processo em liberdade.
Quanto ao apelo de WELINTON, pelo parcial conhecimento, não se conhecendo dos pontos referentes
à estipulação da pena-base, ao reconhecimento da atenuante pela confissão espontânea em relação ao
crime do artigo 17, § 1º c/c artigo 19, ambos do Estatuto do Desarmamento, e, no mérito, pelo
desprovimento da irresignação – ID nº 51615262.
É o relatório.
VOTOS
Recordando, a defesa técnica de ANNApugna pela absolvição da ré, sob o argumento de insuficiência
probatória. Subsidiariamente, pela redução da pena no mínimo legal, pelo reconhecimento da
confissão espontânea, para a aplicação da prisão domiciliar, com monitoração eletrônica, pela
substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, assim como para que haja a
concessão do direito de a ré recorrer em liberdade, com a revogação das cautelares. Quanto ao réu
WELINTON, também pugna pela absolvição, sob a afirmação de insuficiência probatória. De forma
subsidiária, pugna pela redução da pena, pelo reconhecimento da confissão espontânea, para que haja
o abrandamento do regime inicial de cumprimento de pena, pela aplicação da detração do tempo que o
acusado cumpriu prisão provisória (no caso, de onze meses), para a substituição da pena privativa de
liberdade pela restritiva de direitos, assim como para a concessão do direito de o réu responder ao
processo em liberdade. Já a defesa de FERNANDArequer sua absolvição, ante a dúvida relacionada
ao dolo da acusada. Subsidiariamente, pede que se afaste o teor da Súmula de nº 231 do Superior
Tribunal de Justiça – STJ, para que a pena seja reduzida abaixo do mínimo previsto em lei, assim
como para que haja a aplicação do concurso formal entre o crime de falsidade ideológica e o de
associação criminosa.
Inicialmente, verifica-se que a douta Procuradoria de Justiça Criminal aduz ser hipótese de
conhecimento parcial do recurso de ANNA, diante da incompatibilidade entre o pedido para que a ré
recorra em liberdade e o que foi considerado na sentença a esse título. Contudo, sem razão.
Ocorre que, no caso dos autos, a ré encontra-se em prisão domiciliar, fruto da conversão de sua prisão
preventiva. Logo, é caso de se analisar o pedido relacionado à prisão domiciliar e demais aspectos
correlatos da ré, o que se fará ao final.
DO MÉRITO
Judicialmente, a Delegada de Polícia contou que: “...a investigação teve início a partir da prisão em
flagrante de Pedro e Wanderson, criminosos conhecidos da região; que com Pedro e Wanderson foram
encontrados dois fuzis T4 calibre 556, armamentos pesados que não são vistos com frequência em
Sobradinho/DF; que então foi oficiado ao Exército Brasileiro solicitando informações sobre a
propriedade dos armamentos, obtendo resposta de que uma estava em nome da acusada ANNA
CAROLINE e outra da acusada FERNANDA; que o Exército informou que ANNA CAROLINE tinha
adquirido no ano de 2021 mais 13 (treze) armas, sendo 07 delas Fuzis, e a FERNANDA teria
adquirido 08 (oito) armas, sendo 05 delas Fuzis, não havendo no Exército qualquer informação de
furto ou extravio; que ao consultar eventuais ocorrências em nome das duas, observou-se que a
acusada ANNA teria registrado ocorrência de furto de parte dos armamentos justamente no dia 07 de
fevereiro, isto é, mesmo dia em que as armas foram apreendidas em Sobradinho/DF; que em consultas
às redes sociais, verificaram que ANNA e FERNANDA eram amigas e que WELINTON era
companheiro de ANNA, e que ele era instrutor de tiros; que consultando ocorrências em nome de
WELINTON, foi possível observar que ele teria registrado ocorrência de igual teor ao registro feito
por ANNA, de que partes dos armamentos teria sido subtraído; que diante dos fortes indícios de que
estariam abastecendo o crime com armas, foi feita representação por busca e apreensão em todos os
endereços vinculados aos investigados e pela prisão temporária deles; que durante a busca no
endereço fornecido por eles ao Exército Brasileiro, verificou-se que na verdade quem residia no local
era uma pessoa de nome Patrícia e a companheira dela, que no dia se dirigiram à delegacia,
informaram que estavam residindo no local há mais de um ano e que era impossível que furtos
tivessem acontecido naquele local; que também foram ouvidos os envolvidos, sendo que naquele
primeiro momento a acusada FERNANDA negou a propriedade das armas de fogo, porém,
posteriormente, ao ser ouvido, o companheiro de FERNANDA, este confirmou que WELINTON
pediu para que ela colocasse armas no nome dela; que ao ser entrevistada, a acusada ANNA
confirmou possuir CR, mas negou conhecer armas, enquanto WELINTON confirmou que comprava e
vendia armas, porém que as vendas eram feitas de forma legal; que, diante dos fatos, foi feita
representação pela quebra do sigilo de dados dos aparelhos dos investigados e, em uma análise rápida
por parte do setor responsável, foi possível verificar que tanto a acusada ANNA como FERNANDA
tinham conhecimento sobre o esquema de armas de fogo; que quanto à associação entre eles, afirmou
que no mesmo dia da prisão dos acusados a testemunha Vilmar foi preso em flagrante portando um
Fuzil T4 em Planaltina/GO e lá afirmou ter adquirido o Fuzil por meio da pessoa de WELINTON; que
referido Fuzil estava descrito na ocorrência de furto registrada por ANNA, de modo que ficou
esclarecido que as armas não tinham sido subtraídas, mas sim estavam sendo compradas e registradas
legalmente, porém distribuídas em desacordo com a lei; que a partir da quebra do sigilo de dados foi
possível verificar conversas entre ANNA e WELINTON e entre ANNA e FERNANDA, cujo teor
demonstra ciência de ambas sobre o esquema de armas; que FERNANDA tinha consciência da venda
irregular de armas e que ela cedia o nome para que fossem adquiridos os armamentos; que ANNA
tinha conhecimento da comercialização das armas, especialmente pelas conversas que tinha com
WELINTON e Patrícia, esposa de Júnior, que seria a pessoas que fez a ponte para as armas chegarem
às pessoas de Pedro e Wanderson, mas que a negociação em si era feita por WELINTON; que a
acusada FERNANDA tinha consciência da comercialização das armas, tanto que cedia o nome dela
para isso; que em conversa com o Exército, foi informada que não era possível a compra da arma sem
a assinatura da própria pessoa adquirente; que não houve quebra de sigilo bancário, de forma que não
pode afirmar se a acusada FERNANDA recebia valores pelo empréstimo de seu nome para a compra
das armas de fogo; que a acusada ANNA sempre narrou que o esposo era o responsável pela
administração financeira, mas as conversas na quebra de sigilo das conversas ela estava ciente sobre
as vendas, pois, ela questiona se as vendas deram certo; e que a acusada ANNA sabia que não havia
legalidade nas transações...”. – ID nº 45885471 (sentença).
A testemunha Sidnei, contou em Juízo que: “...conhece o sobrinho do acusado WELINTON, pois
trabalha com ele no Uber e que ouviu boatos há um tempo atrás que o acusado WELINTON estava
vendendo armas, mas não sabia se eram legais ou não; que no dia seguinte à apreensão das armas, o
sobrinho de WELINTON contou que as armas apreendidas eram de seu tio, que teria vendido para
alguns indivíduos e que isso poderia prejudicar ele; que um policial de Planaltina de Goiás perguntou
se conhecia o acusado WELINTON, sendo que só o conhecia de vista e que indicou o endereço da
chácara do acusado WELINTON; nunca teve intenção de virar CAC ou de comprar armas; que
simplesmente ouviu a conversa no bar; e que não tinha conhecimento da comercialização das armas,
tendo somente ouvido do sobrinho do acusado WELINTON, após a apreensão das armas de que ele
vendia armas de fogo...”. – ID nº 45885471 (sentença).
Clovis, testemunha, afirmou judicialmente que: “...aplicou a prova de capacidade técnica para o
acusado WELINTON, no dia 06/07/2019 e que, posteriormente, ele passou a indiciar interessados na
obtenção de Certificado de Registro; que o acusado WELINTON atuava como uma espécie de
despachante, vez que os candidatos passavam o laudo diretamente para ele; que nunca teve qualquer
contato com as acusadas ANNA CAROLINE e FERNANDA; e que o acusado WELINTON se
apresentava como CAC...”. – ID nº 45885471 (sentença).
Também em Juízo, Vilmar, testemunha, informou que: “...o acusado WELINTON mostrou a arma de
fogo e o respectivo documento, bem como lhe ofereceu o armamento, de forma que acabou
comprando; que a arma estava em nome de ANNA CAROLINE; que não tinha autorização e que já
conhecia o acusado WELINTON; que trocou um triciclo que tinha pela arma e que comprou porque
estava em processo de retirada do registro de CAC; que conheceu o acusado na época que ele era
serralheiro; que iria ficar com a arma; que WELINTON lhe mostrou a documentação de que ele era
CAC; que não conhece a acusada FERNANDA; que não comprou arma de outras pessoas; e que
WELINTON indicou um clube de tiro mais próximo...”. – ID nº 45885471 (sentença).
Thânia, testemunha, asseverou em Juízo que: “...aluga uma casa que é de propriedade de WELINTON
E ANNA; que teve uma busca e apreensão no local; que não tinha conhecimento dos armamentos que
eram guardados no local; que não soube de furto ocorrido no local; que ligou para o acusado
WELINTON antes da busca e apreensão no local, para saber se iriam renovar o contrato de aluguel; e
que estava de folga no dia que foi noticiado um furto no local, sendo que nada aconteceu naquela data
...”. – ID nº 45885471 (sentença).
Mauro, testemunha, contou em Juízo que: “... é companheiro da acusada FERNANDA; que o acusado
WELINTON e a esposa dele CAROL ofereceram um curso para sua companheira; que o curso é caro;
que o próprio WELINTON pagou o curso e ainda deu R$ 700,00 (setecentos reais) para ela se
associar ao clube de tiro; que certo dia sua companheira lhe contou que WELINTON tinha pedido
para ela tirar algumas armas para ele no nome dela; que disse para ela não fazer isso, porém, ela já
tinha assinado a procuração; e que a acusada FERNANDA não pagou nada pelo curso de CAC...”. –
ID nº 45885471 (sentença).
Leonardo, testemunha, afirmou judicialmente que: “... é presidente do clube de tiro de Planaltina de
Goiás; que sobre os fatos, teve conhecimento através matérias publicadas nos grupos; que a acusada
FERNANDA foi associada ao clube; que fez a aquisição do CR de FERNANDA não tendo nenhum
outro contato posterior com a acusada; que não se recorda se a acusada FERNANDA assinou
procuração, pois, não consultou os arquivos; que conhece o acusado WELINTON, pois, ele
frequentava o clube de tiro; que não sabe informar se a acusada FERNANDA procurou o clube de tiro
através do acusado WELINTON; que não consegue precisar quantas vezes o acusado WELINTON foi
ao estande de tiro; que tanto FERNANADA quanto ANNA CAROLINE frequentavam o estande de
tiro; que o acusado WELINTON era um despachante; que não tem conhecimento e nem envolvimento
com compra e vendas de armas; que WELINTON nunca lhe ofereceu armas para compra e venda; que
o clube oferece o procedimento legal para retirar o CR; que WELINTON não era instrutor de tiro; e
que todos os procedimentos são realizados para todos os inscritos...”. – ID nº 45885471 (sentença).
Maria do Rosário, testemunha, contou em Juízo que: “...é amiga da acusada FERNANDA; que
conhece FERNANDA há seis anos; que FERNANDA é uma boa amiga, boa pessoa, boa
companheira; e que nunca viu arma de fogo na casa da FERNANDA...”. – ID nº 45885471 (sentença).
A acusada ANNA, ouvida duas vezes em Juízo, confessou, em ambas as ocasiões, parte da empreitada
criminosa. Asseverou que: “...realmente, cedeu seu nome para que o acusado WELINTON, seu
marido, realizasse a compra e venda das armas; que participou das vendas das armas, porém as vendas
foram feitas de forma legal ou pelo menos entendia que eram legais; que quem cuidava da parte dos
armamentos era seu esposo e que até onde sabe ele somente vendia de CAC para CAC; que quanto ao
extravio das armas, disse que não foi ao local para confirmar se de fato houve arrombamento e que
apenas foi comunicada do fato por WELINTON, bem como acrescentou que seu e-mail foi utilizado
por ele para o registro da ocorrência; que descobriu por meio da reportagem que as vendas eram
ilegais e que ficou assustada; e que quem cuidava das finanças era seu esposo ”. Complementou que:
“...sabia que o acusado WELINTON estava adquirindo armas com o CR da acusada FERNANDA; e
que a acusada FERNANDA não tinha conhecimento das aquisições...”. – ID nº 45885471 (sentença).
O acusado WELINTON, judicialmente, também admitiu parcialmente os fatos, nas duas ocasiões em
que ouvido perante o Juízo. Pontuou que: “...patrocinou o CR da acusada FERNANDA; que com a
autorização de FERNANDA e de ANNA, por meio de procuração, usou o CR delas para adquirir as
armas de fogo; que disse às acusadas que logo efetivaria a transferência dos armamentos a terceiros e
devolveria o CR delas, para que continuassem atirando/caçando; que realmente ocorreu o furto no
segundo endereço fornecido, local este onde residem Patrícia e Thânia, porém a subtração foi feita na
parte dos fundos, onde ele mantinha a posse e confeccionou um fundo falso na parede para guardar os
armamentos; que alugava metade do apartamento para as pessoas de Patrícia e Thânia, sendo que o
dividia com uma porta; que duas das armas subtraídas estavam em nome da acusada FERNANDA e
uma em nome da acusada ANNA; que tinha ciência de que as armas não poderiam ser guardadas em
local distinto do autorizado, mas que à época o Exército Brasileiro não estava fazendo vistoria, em
razão da pandemia da Covid-19; que realmente pegou procuração com as acusadas ANNA e
FERNANDA para transferir as armas, mas que não tinha a intenção de vendê-las ao crime
organizado; que vendeu ilegalmente uma arma de fogo a Vilmar; e que as acusadas FERNANDA E
ANNA não tinham conhecimento de todas as compras e vendas, mas apenas de algumas”. Ainda,
alegou que: “...as acusadas FERNANDA E ANNA não participaram do comércio de armas e
confessou que usou o Certificado de Registro (CR) delas para adquirir armamentos e transferir
legalmente a terceiros, tendo em vista que seu CR estava vencido. Disse que quando vendeu a arma
para Vilmar, a acusada FERNANDA não tinha conhecimento da arma; que possui uma serralheria há
mais de dez anos; que com a esposa ANNA possui também um depósito de gás; que sua esposa estava
grávida no segundo semestre de 2021; que as acusadas ANNA CAROLINE e FERNANDA já o
acompanhou em estande de tiro; que a acusada FERNANDA era mais amiga de sua esposa; e que fez
o registro no nome da FERNANDA no clube de tiro, sem o consentimento dela, pois, o seu CR estava
vencido...”. – ID nº 45885471 (sentença).
Pois bem.
Em que pesem os argumentos defensivos no sentido de não haver prova suficiente para a condenação,
a ponto de afastar a responsabilidade dos réus, não vislumbro que seja essa a hipótese concreta.
Conforme se viu, inclusive a partir de provas produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa, a partir do conhecimento de situações estranhas envolvendo as armas, chegou-se à elucidação
do que havia de fato ocorrido, em relação aos três acusados.
Com efeito, ocorreu uma investigação minuciosa sobre os fatos, o que culminou com a verdade sobre
eles, tanto com relação ao acusado WELINTON, como para com as duas corrés, que, conforme
caderno processual, não se tratavam de “meras laranjas” que deram seus respectivos nomes sem
compreender exatamente para que motivo.
Necessário ressaltar que a jurisprudência desta Corte de Justiça é pacífica quanto à validade dos
depoimentos prestados por policiais, colhidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa,
especialmente quando estão respaldados pelas demais provas colhidas nos autos. Nesse sentido:
(...)
(...)
8. Recurso conhecido e parcialmente provido para: a) mantida a condenação do recorrente nas sanções
do artigo 33, caput, da Lei nº. 11.343/2006, às penas de 05 (cinco) anos de reclusão e 500
(quinhentos) dias-multa, calculados à razão mínima, alterar do fechado para o semiaberto o regime de
cumprimento de pena; b) desclassificar o crime tipificado no artigo 16, caput, da Lei nº 10.826/2003
para o delito previsto no artigo 12, caput, da Lei nº. 10.826/2003, fixando-lhe a pena em 01 (um) ano
de detenção, em regime inicial aberto, e 10 (dez) dias-multa, calculados à razão mínima; e, c) reduzir
a pena total do recorrente de 08 (oito) anos de reclusão, em regime inicial fechado, além de 810
(oitocentos e dez) dias-multa, para 05 (cinco) anos de reclusão, em regime inicial semiaberto, e 01
(um) ano de detenção, em regime inicial aberto, e 510 (quinhentos e dez) dias-multa, calculados à
razão mínima.”
II - Os depoimentos prestados por agentes do Estado, colhidos sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa, devem ser apreciados com valor probatório suficiente para dar respaldo ao édito condenatório,
tendo em vista que sua palavra conta com fé pública e presunção de legitimidade, somente afastada
por meio de contraprova, que não foi produzida no caso.
(...)
Nesse quadrante, a partir do que consta nos autos, é evidente que existem (várias) provas, como
destacado acima, mais que suficientes para emissão de decreto condenatório, havendo, inclusive,
provas produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, como é a narrativa dos policiais em
comento. Destacam-se, ainda, entre as provas, a quebra de sigilo dos celulares dos envolvidos, em
que, assim e em conjunto com as demais provas, dão a plena certeza do envolvimento dos réus na
forma e pelos crimes descritos na denúncia.
Por certo, pela coerência dos elementos de prova, verifica-se, ainda, que os policiais não imputaram
falsamente as acusações aos réus, sendo que, inclusive, possuem fé pública quando de sua atuação.
Assim, a partir do acervo probatório, realmente, os três réus se associaram para comprar armas de
fogo, no intuito de vendê-las ao crime organizado. Nesse sentido, importante relembrar que o início da
presente investigação se deu com a prisão em flagrante de Pedro e de Wanderson, criminosos bastante
conhecidos na localidade, com armas pesadas, cujo registro estava no nome das rés ANNA e
FERNANDA. Ainda, não se pode deixar de ressaltar que os réus sabiam do esquema, tendo, cada um,
atribuições e obtenção de benefícios decorrentes da atuação na associação.
Do acervo probatório, as acusadas ANNA e FERNANDA deram procuração para que WELINTON,
comprasse e vendesse armas de fogo de uso restrito no nome de ambas, para quem não tinha
autorização para o porte.
Também se confirma a falsidade ideológica, na medida em que as rés deram, sabendo e querendo,
seus nomes para o réu comprar e revender armas ilegalmente.
Igualmente, constatado o comércio ilegal de arma de fogo de uso restrito, exercido em residência,
assim como as comunicações falsas de crime (dos supostos furtos de algumas das armas).
DA DOSIMETRIA
FERNANDA
A defesa pede que se afaste o teor da Súmula de nº 231 do Superior Tribunal de Justiça – STJ, para
que a pena seja reduzida abaixo do mínimo previsto em lei, assim como a aplicação do concurso
formal entre o crime de falsidade ideológica e o de associação criminosa.
Ressalto que a ré não confessou esse crime, de modo que não incide aqui a análise da Súmula de nº
231 do STJ.
Logo, nada a modificar quanto a pena fixada nesse crime (de um ano de reclusão), uma vez que os
parâmetros legais e jurisprudenciais foram regularmente empregados pelo Magistrado a quo.
Na primeira fase, sem circunstâncias judiciais desfavoráveis, a pena-base restou fixada no mínimo
legal.
Na segunda fase, presente a atenuante da confissão espontânea, e sem agravantes, não se pode, nessa
etapa, reduzir a pena abaixo do mínimo legal, conforme entendimento do STJ, inclusive exarado por
meio da Súmula de nº 231.
Com efeito, em que pesem os argumentos defensivos, além da citada Súmula, o Supremo Tribunal
Federal confirmou a posição em sede de repercussão geral (RE 597270 RG-QO/RS) sobre a não
aplicação da pena abaixo do mínimo legal na segunda fase da dosimetria:
“AÇÃO PENAL. Sentença. Condenação. Pena privativa de liberdade. Fixação abaixo do mínimo
legal. Inadmissibilidade. Existência apenas de atenuante ou atenuantes genéricas, não de causa
especial de redução. Aplicação da pena mínima. Jurisprudência reafirmada, repercussão geral
reconhecida e recurso extraordinário improvido. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC. Circunstância
atenuante genérica não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. (RE 597270
QO-RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 26/03/2009,” DJe-104 DIVULG 04-06-2009
PUBLIC 05-06-2009 EMENT VOL-02363-11 PP-02257 LEXSTF v. 31, n. 366, 2009, p. 445-458 –
grifei)
O STJ, por sua vez, tem jurisprudência no mesmo sentido, aplicando a referida súmula:
1. É firme o entendimento que a incidência de circunstância atenuante não pode conduzir à redução da
pena abaixo do mínimo estabelecido em lei, conforme disposto na Súmula n.º 231 desta Corte
Superior.
2. O critério trifásico de individualização da pena, trazido pelo art. 68 do Código Penal, não permite
ao Magistrado extrapolar os marcos mínimo e máximo abstratamente cominados para a aplicação da
sanção penal.
3. Cabe ao Juiz sentenciante oferecer seu arbitrium iudices dentro dos limites estabelecidos, observado
o preceito contido no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, sob pena do seu poder discricionário
se tornar arbitrário, tendo em vista que o Código Penal não estabelece valores determinados para a
aplicação de atenuantes e agravantes, o que permitiria a fixação da reprimenda corporal em qualquer
patamar.
4. Recurso especial conhecido e provido para afastar a fixação da pena abaixo do mínimo legal.
Acórdão sujeito ao que dispõe o art. 543-C do Código de Processo Civil e da Resolução STJ n.º 08, de
07 de agosto de 2008.”
(REsp 1117073/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011,
DJe 29/06/2012)
1. A matéria sobre fixação de penas aquém do mínimo legal d"àquelas previstas nos tipos penas é
objeto de súmula consolidada no Superior Tribunal de Justiça, sob o nº. 231, no sentido de que o
reconhecimento de atenuante na segunda fase de sua determinação, não pode reduzi-la em patamar
aquém do mínimo legal. A razão de assim entender os Tribunais é simples: - o Direito Penal, o
Processo e a Execução são regidos pelo princípio da reserva legal. Logo, não se pode fixar penas
aquém do mínimo legal; e nem acima do máximo previstos, eis que se assim não se procedesse,
estar-se-ia a violar preceito até constitucional.
2. A pena pecuniária deve ser proporcional à pena privativa de liberdade, devendo ser reduzida
quando estabelecida além destes critérios.
Assim, na segunda fase, não obstante o correto reconhecimento da atenuante da confissão espontânea,
não é possível que a pena seja abaixada aquém do mínimo legal, sobretudo se não se noticia que a
jurisprudência tenha mudado o referido entendimento.
Na terceira fase, sem causa de aumento e de diminuição, a pena é mesmo de 1 (um) ano de reclusão e
de 10 (dez) dias-multa.
Apesar de a defesa argumentar que deve incidir o concurso formal entre o crime de associação
criminosa e o de falsidade ideológica, não vislumbro ser essa a hipótese.
Conforme visto, a ré praticou mais de uma conduta e de forma autônoma. Nesse diapasão, o concurso
é mesmo o material, em que as penas devem ser somadas.
Logo, a pena, concreta e definitiva, é mesmo de 2 (dois) anos de reclusão, além de 10 (dez)
dias-multa.
ANNA
A defesa pede a redução da pena no mínimo legal, a aplicação da prisão domiciliar, com monitoração
eletrônica, ou, ainda, a não incidência de qualquer cautelar, além da substituição da pena privativa de
liberdade pela restritiva de direitos.
Associação criminosa (artigo 288 do CP):
Ressalto que a ré não confessou esse crime, e, por isso, nada a ser modificado quanto a pena fixada
quanto a esse crime (de um ano de reclusão), uma vez que os parâmetros legais e jurisprudenciais
foram regularmente empregados pelo Magistrado a quo.
Na primeira fase, sem circunstâncias judiciais desfavoráveis, a pena-base restou fixada no mínimo
legal.
Na segunda fase, presente a atenuante da confissão espontânea, e sem agravantes, não se pode, nessa
etapa, reduzir a pena abaixo do mínimo legal, conforme entendimento do STJ, inclusive exarado por
meio da Súmula de nº 231.
Com efeito, em que pesem os argumentos defensivos, além da citada Súmula, o Supremo Tribunal
Federal confirmou a posição em sede de repercussão geral (RE 597270 RG-QO/RS) sobre a não
aplicação da pena abaixo do mínimo legal na segunda fase da dosimetria:
“AÇÃO PENAL. Sentença. Condenação. Pena privativa de liberdade. Fixação abaixo do mínimo
legal. Inadmissibilidade. Existência apenas de atenuante ou atenuantes genéricas, não de causa
especial de redução. Aplicação da pena mínima. Jurisprudência reafirmada, repercussão geral
reconhecida e recurso extraordinário improvido. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC. Circunstância
atenuante genérica não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. (RE 597270
QO-RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 26/03/2009,” DJe-104 DIVULG 04-06-2009
PUBLIC 05-06-2009 EMENT VOL-02363-11 PP-02257 LEXSTF v. 31, n. 366, 2009, p. 445-458 –
grifei)
O STJ, por sua vez, tem jurisprudência no mesmo sentido, aplicando a referida súmula:
1. É firme o entendimento que a incidência de circunstância atenuante não pode conduzir à redução da
pena abaixo do mínimo estabelecido em lei, conforme disposto na Súmula n.º 231 desta Corte
Superior.
2. O critério trifásico de individualização da pena, trazido pelo art. 68 do Código Penal, não permite
ao Magistrado extrapolar os marcos mínimo e máximo abstratamente cominados para a aplicação da
sanção penal.
3. Cabe ao Juiz sentenciante oferecer seu arbitrium iudices dentro dos limites estabelecidos, observado
o preceito contido no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, sob pena do seu poder discricionário
se tornar arbitrário, tendo em vista que o Código Penal não estabelece valores determinados para a
aplicação de atenuantes e agravantes, o que permitiria a fixação da reprimenda corporal em qualquer
patamar.
4. Recurso especial conhecido e provido para afastar a fixação da pena abaixo do mínimo legal.
Acórdão sujeito ao que dispõe o art. 543-C do Código de Processo Civil e da Resolução STJ n.º 08, de
07 de agosto de 2008.”
(REsp 1117073/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2011,
DJe 29/06/2012)
1. A matéria sobre fixação de penas aquém do mínimo legal d"àquelas previstas nos tipos penas é
objeto de súmula consolidada no Superior Tribunal de Justiça, sob o nº. 231, no sentido de que o
reconhecimento de atenuante na segunda fase de sua determinação, não pode reduzi-la em patamar
aquém do mínimo legal. A razão de assim entender os Tribunais é simples: - o Direito Penal, o
Processo e a Execução são regidos pelo princípio da reserva legal. Logo, não se pode fixar penas
aquém do mínimo legal; e nem acima do máximo previstos, eis que se assim não se procedesse,
estar-se-ia a violar preceito até constitucional.
2. A pena pecuniária deve ser proporcional à pena privativa de liberdade, devendo ser reduzida
quando estabelecida além destes critérios.
Assim, na segunda fase, não obstante o correto reconhecimento da atenuante da confissão espontânea,
não é possível que a pena seja abaixada aquém do mínimo legal, sobretudo se não se noticia que a
jurisprudência tenha mudado o referido entendimento.
Na terceira fase, sem causa de aumento e de diminuição, a pena é mesmo de 1 (um) ano de reclusão e
de 10 (dez) dias-multa.
Ressalto que a ré não confessou a prática desse crime. Portanto, nada a alterar em relação ao quantum
da reprimenda desse crime (um mês de detenção), uma vez que os parâmetros legais e jurisprudenciais
foram devidamente empregados pelo Juízo a quo.
Comércio ilegal de arma de fogo de uso restrito praticado em residência (artigo 17, §1º, c/c artigo 19,
ambos da Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento):
A ré também não assumiu a prática dessa figura delituosa, de modo que resta adequada a pena
estipulada pelo Juízo a quo(nove anos de reclusão e quinze dias-multa). Portanto, nada a ser alterado.
Diante do concurso material entre as condutas, a pena é mesmo de 11 (onze) anos de reclusão, de 1
(um) mês de detenção, em regime fechado para o cumprimento da primeira, e aberto para o da
segunda, além de 25 (vinte e cinco) dias-multa.
Diante da quantidade da pena, incabível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de
direitos conforme pretende a defesa, pois não restam preenchidos os requisitos legais, além de a
medida não ser recomendável.
Quanto ao pleito relacionado à prisão domiciliar, o direito de a ré recorrer em liberdade, ou, ainda,
para que não se aplique qualquer medida cautelar, de início, relembro que a prisão preventiva da ré foi
deferida para resguardo da ordem pública, ante o risco de reiteração delitiva.
Com efeito, posteriormente, e conforme ressaltado na sentença, houve a aplicação da prisão domiciliar
da ré.
Pois bem.
É cediço que a prisão preventiva é o instrumento legítimo para coibir a reiteração delitiva, para
impossibilitar a atuação de associações criminosas, para garantir a pacificação social e conferir
legitimidade à atuação estatal, por entremeio dos órgãos de segurança pública e do Poder Judiciário.
Nos termos do artigo 312 do CPP, a custódia cautelar somente tem lugar quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria, além do perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado (fumus comissi delicti), requisitos esses aliados à necessidade de garantia da ordem pública,
de garantia da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal (periculum libertatis).
A partir do que consta nos autos, tem-se por correta a manutenção da prisão preventiva, porquanto
evidenciado está que os motivos iniciais que ensejaram a decretação da prisão permanecem, ainda
mais pela condenação da ré – e friso, em regime inicial fechado -, o que confirma mais ainda a
necessidade da segregação cautelar.
Realmente, nota-se, primeiro, que os requisitos para a prisão preventiva se encontram presentes, a fim
de garantir, sobretudo, a ordem pública, diante da possibilidade de reiteração delitiva, considerado os
contornos do caso concreto, envolvendo venda de armamento pesado para organizações criminosas de
grande porte, fato que, inegavelmente, é gravíssimo.
Com efeito, é de se notar que pelo menos o requisito da ordem pública resta intacto (periculum
libertatis), na medida em que os fatos realmente foram graves, além de evidenciar a possibilidade de
reiteração delitiva.
Também a partir da documentação anexada aos autos, nota-se a existência de prova da materialidade e
da autoria, tanto é que a ré foi condenada e em regime inicial fechado, quanto aos crimes que
cominam pena de reclusão.
Logo, não se reconhece a ilegalidade da prisão preventiva, quando a decisão combatida estiver
devidamente fundamentada e pautada em elementos que comprovam a sua necessidade.
Ocorre que, no caso da ré ANNA, é idônea a substituição da preventiva pela domiciliar, e, diante do
receio de intranquilidade e risco de reiteração delitiva, a não aplicação de nenhuma cautelar diversa da
prisão não seria suficiente para o fim a que se destina, tendo em vista a gravidade concreta dos crimes,
que revelou, friso, risco de nova incidência delitiva.
Assim, após analisar detidamente os autos, realmente nada há o que se reparar, uma vez que a
sentença restou suficientemente fundamentada quanto a todo o pleito defensivo, assim como a decisão
anterior que decretou a prisão preventiva, e a referente à domiciliar, não havendo fato novo no sentido
de alterar o entendimento anteriormente exarado.
Assim, por ser necessária, é de se manter a prisão cautelar da acusada na forma de domiciliar.
Ainda, quanto ao pedido de deferimento de prisão domiciliar à ré, nada a prover nesse momento,
tendo em vista que tal direito já foi deferido, conforme reforçado na sentença, e qualquer nova análise,
eventualmente, e por outro fundamento, cabe ao Juízo das Execuções Penais (artigo 117 da Lei de
Execuções Penais), até mesmo para que não haja supressão de instância.
WELINTON
A defesa pede a redução da pena no mínimo legal, o reconhecimento da atenuante pela confissão
espontânea, o abrandamento do regime inicial de cumprimento de pena, a aplicação da detração do
tempo que o acusado cumpriu prisão provisória (no caso, de onze meses), a substituição da pena
privativa de liberdade pela restritiva de direitos, assim como a concessão do direito de o réu responder
ao processo em liberdade.
O réu não confessou esse crime, e, por isso, nada a ser modificado quanto a pena fixada (de um ano de
reclusão), uma vez que os parâmetros legais e jurisprudenciais foram regularmente empregados pelo
Magistrado a quo.
Comércio ilegal de arma de fogo de uso restrito praticado em residência (artigo 17, §1º, c/c artigo 19,
ambos da Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento):
O acusado confessou a prática dessa figura delituosa, o que já foi devidamente considerado na
segunda fase da pena desse crime. Ocorre que, por a pena-base, ante a ausência de circunstâncias
judiciais desfavoráveis, já ter sido fixada no mínimo legal, não se pode, na segunda fase, reduzir a
pena em quantidade menor ao que prevê abstratamente o crime. Esse é o teor, inclusive, da Súmula de
nº 231 do STJ.
Assim, a pena final do presente crime é mesmo de 9 (nove) anos e 15 (quinze) dias-multa.
Diante do concurso material entre as condutas, a pena é mesmo de 10 (dez) anos de reclusão, 1 (um)
mês de detenção, em regime fechado para o cumprimento da primeira, e aberto para o da segunda,
além de 15 (quinze) dias-multa.
Por conta do quantumda reprimenda, não se abranda o regime prisional inicial, mesmo motivo pelo
qual incabível a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos conforme
pretende a defesa, pois não restam preenchidos os requisitos legais, além de as medidas não serem
recomendáveis.
Quanto ao pedido para se proceder à detração, nada a prover nesse momento, tendo em vista que a
análise mais adequada cabe ao Juízo das Execuções Penais, ainda mais se, nesse momento, como a
prisão preventiva foi decretada em 18/2/2022 (ID nº 45884738), não haverá modificação da pena a
ponto de resultar no abrandamento do regime inicial de cumprimento da pena.
No que concerne ao pedido para que se defira o direito para que WELINTON recorra em liberdade,
sem razão à defesa.
Conforme visto na sentença, considerou-se que permanecem hígidos os motivos que ensejaram a
prisão preventiva.
Quando da decretação da preventiva (ID nº 45884738), é visto que foi considerada “...a existência das
infrações e de veementes indícios de autoria atribuídos às pessoas dos representados, considerando os
elementos indiciários trazidos para os autos. (...) os representados poderão voltar à senda delitiva.
Dessa forma, por resguardo da ordem pública, faz-se necessária a imposição da restrição provisória da
liberdade. Argumente-se, por fim, considerando os próprios elementos carreados para os presentes
autos, a inviabilidade, pelo menos por ora, de imposição de medida cautelar diversa da prisão...”.
Pois bem.
É cediço que a prisão preventiva é o instrumento legítimo para coibir a reiteração delitiva, para
impossibilitar a atuação de associações criminosas, para garantir a pacificação social e conferir
legitimidade à atuação estatal, por entremeio dos órgãos de segurança pública e do Poder Judiciário.
Nos termos do artigo 312 do CPP, a custódia cautelar somente tem lugar quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria, além do perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado (fumus comissi delicti), requisitos esses aliados à necessidade de garantia da ordem pública,
de garantia da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal (periculum libertatis).
A partir do que consta nos autos, tem-se por correta a manutenção da prisão preventiva, porquanto
evidenciado está que os motivos iniciais que ensejaram a decretação da prisão permanecem, ainda
mais pela condenação do réu – e friso, em regime inicial fechado -, o que confirma mais ainda a
necessidade da segregação cautelar.
Com efeito, é de se notar que pelo menos o requisito da ordem pública resta intacto (periculum
libertatis), na medida em que os fatos realmente foram graves, além de evidenciar a possibilidade de
reiteração delitiva.
Também a partir da documentação anexada aos autos, nota-se a existência de prova da materialidade e
da autoria, tanto é que o réu foi condenado e em regime inicial fechado.
Logo, não se reconhece a ilegalidade da prisão preventiva, quando a decisão combatida estiver
devidamente fundamentada e pautada em elementos que comprovam a sua necessidade.
De fato, medidas cautelares diversas da prisão não seriam suficientes para o fim a que se destinam,
tendo em vista a gravidade concreta dos crimes, que revelou, ainda, risco de reiteração delitiva,
conforme já consignado.
De mais a mais, conforme recente entendimento jurisprudencial, a falta de reanálise dos requisitos que
ensejaram a prisão preventiva dentro do prazo de 90 (noventa) dias não é motivo suficiente para
ensejar a revogação automática da prisão preventiva (STF. Plenário. ADI 6581/DF e ADI 6582/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgados em 8/3/2022 - Info
1046).
Assim, após analisar detidamente os autos, realmente nada há o que se reparar, uma vez que a
sentença restou suficientemente fundamentada quanto a todo o pleito defensivo, assim como a decisão
anterior que decretou a prisão preventiva, não havendo fato novo no sentido de alterar o entendimento
anteriormente exarado.
Por último, destaque-se que a prisão cautelar não viola o Princípio da presunção de inocência, desde
que devidamente fundamentada em seus requisitos autorizadores, pois sequer implica em juízo de
culpabilidade antecipado, conforme já decidido pelo Supremo Tribunal Federal, mas destina-se a
acautelar a atividade estatal ante a periculosidade do agente.
DO DISPOSITIVO
Ante o exposto, CONHEÇO dos recursos e, no mérito, NEGO-LHES PROVIMENTO.
É como voto.
DECISÃO