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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER DA COMARCA DE ARACAJU – SERGIPE.


Processo nº: xxxxxxxxxx
Fulano de tal, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, que lhe move
o ilustre membro do Ministério Pú blico, representado por seu advogado in fine assinado,
vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar sua
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
Na inteligência do art. 396 e 396-A, do Có digo de Processo Penal, e, deduzir para Vossa
Excelência as causas e circunstâ ncias que justificam o descabimento da persecuçã o penal,
para o que aduz as seguintes razõ es:
i. DOS FATOS
Depreende-se dos autos no final do ano de 2016, precisamente no dia 29 de novembro por
volta das 15hrs e 30min, o denunciado supostamente ameaçou com um faca “peixeira” a
integridade física da sua ex-companheira, a Sra. Alana Larissa em frente a sua residência,
situada à Rua 12, S/N, Conjunto Padre Pedro, bairro Sã o José, nesta urbe, quando se
encontrava em companhia da sua mã e, sua filha de 01 anos de idade, e a mã e do acusado.
Sendo assim, a ofendida ofereceu representaçã o em desfavor do ora acusado, requerendo a
concessã o de medidas protetivas de urgência perante a autoridade policial, sendo estas
deferidas por este douto juízo no dia 06.12.2016, proibindo o suposto agressor de se
aproximar da vítima bem como de seus familiares, mantendo a distâ ncia mínima de 200
(duzentos) metros, bem como de manter qualquer contato, através de meio de
comunicaçã o.
Ainda, determinou também que a vítima que nã o poderia se aproximar ou manter qualquer
contato com o agressor, ora acusado.
Ocorre que, no dia 07 de setembro de 2017, uma nova representaçã o da vítima alegando o
descumprimento das medidas protetivas ensejou a representaçã o pela prisã o preventiva
pelo parquet, sendo expedido mandado de prisã o no dia 22.09.2017 e somente tendo sido
cumprido no dia 16.07.2018.
Entrementes, quando intimado para comparecer a autoridade policial para ser inquirido
acerca das acusaçõ es, o acusado compareceu voluntariamente no dia 09 e 16.07.2018
e prestou interrogató rio (doc. Anexo) colaborando para a elucidaçã o dos fatos, deixando
claro que jamais teve intençã o de obstar qualquer investigaçã o, bem como asseverou que
todas as alegações ventiladas pela ofendida SÃO FALSAS.
Destarte, a vítima quando soube da prisã o do seu ex-companheiro e pai da sua filha, ora
acusado, compareceu ao juízo para manifestar a sua RETRATAÇÃ O E O SEU DESEJO EM
VER O RÉ U SOLTO, BEM COMO O LEVANTAMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS
IMPOSTAS, RESSALTANDO QUE VOLTOU A VIVER EM HARMONIA COM O ACUSADO.
Por fim, a douta promotora de Justiça, ofereceu denú ncia em desfavor do acusado pela
suposta pratica dos delitos previstos nos artigos 129, § 9º e 147 do Có digo Penal nas
disposiçõ es da Lei Maria da Penha, pugnando pelo decreto condenató rio nas penas dos
tipos susu citados de forma injusta, como doravante será esmiuçado e comprovado.
Eis os fatos.
i. PRELIMINARES
II.1. DA RETRATAÇÃO DA VÍTIMA E A CONSEQUENTE NULIDADE ANTE A AUSÊNCIA
DE AUDIÊNCIA PRELIMINAR DO ART. 16 DA LEI 11.340:
De proêmio, douto juízo, impreterível se faz ressaltar que no dia 17.07.2018, a ofendida,
assim que tomou conhecimento que o mandado de prisã o preventiva havia sido cumprido
em desfavor do seu ex-companheiro, ora acusado, compareceu espontaneamente a
secretaria da vara com vistas a manifestar o seu desinteresse em ver o réu preso, bem
como o levantamento das medidas protetivas outrora decretadas.
Com efeito, mm julgadora, conforme se depreende do documento juntado as fls.43 do
processo nº 201621301856, ora colacionado, a vítima manifesta claramente o seu
DESINTERESSE em ver o réu responsabilizado, inclusive antes do oferecimento da
denúncia.
É sabido que o crime previsto no art. 147 do Có digo Penal possui natureza de açã o penal
pú blica condicionada à representaçã o da vítima. Assim, necessá rio se faz pontuar que, uma
vez manifestado o desinteresse da ofendida em ver o acusado processado antes do
oferecimento da denú ncia, se demonstra a possibilidade de retrataçã o da representaçã o,
nos termos do art. 25 do CPP.
Ora, douto julgador, evidentemente INEXISTE LEGITIMIDADE AO MEMBRO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROCEDIBILIDADE DA AÇÃO PENAL no tocante ao crime
de ameaça, independentemente se tal crime está inserido no contexto da Lei 11. 340,
materializando, portanto, uma nulidade processual no sentir do art. 564, II, do CPP.
Paralelamente, nota-se que a rigor do art. 16 da legislaçã o alhures, nos crimes de açã o
penal pú blica condicionada, quando a vítima manifestar seu interesse quanto a retrataçã o
da sua representaçã o antes do recebimento da denú ncia, é taxativa a designaçã o de
audiência especialmente designada para o fim de pontuar sua renú ncia, senã o vejamos:
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata
esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público.
Ora, mm juízo, NÃ O FOI OCORREU NO CASO PRESENTE CASO!
Em que se pese a vítima antes do recebimento da denú ncia tenha manifestado
espontaneamente o seu desejo em NÃ O ver o réu responsabilizado pelo fato que deflagrou
esta açã o penal, tal audiência que materializaria tal pretensã o NÃ O FORA DESIGNADA,
consequentemente constituindo nulidade nos moldes do art. 564, IV, do CPP
Neste sentir, já entende a jurisprudência em casos aná logos, in verbis:
APELAÇÃ O CRIMINAL. CRIME DE AMEAÇA PRATICADO NO Â MBITO DOMÉ STICO E
FAMILIAR. CRIME DE AÇÃ O PENAL PÚ BLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃ O.
POSSIBILIDADE DE RETRATAÇÃ O DA VÍTIMA. AUDIÊNCIA PRELIMINAR (ART. 16 DA LEI
MARIA DA PENHA) NÃO REALIZADA. NULIDADE PROCESSUAL DECRETADA. - O crime
de ameaça, mesmo o praticado no â mbito doméstico e familiar, é de açã o penal pú blica
condicionada à representaçã o da vítima, de forma que prevalecem as disposiçõ es contidas
na Lei Maria da Penha, o que torna obrigatória a designação da audiência prévia
prevista no art. 16 da referida norma legal, para que, antes do recebimento da
denúncia, a vítima tenha a oportunidade de renunciar à representação, sob pena de
nulidade do feito. - Nulidade do feito, restando prejudicado o exame do mérito do recurso.
V.V PENAL - APELAÇÃ O CRIMINAL - LEI MARIA DA PENHA - AMEAÇA - PRELIMINAR -
AUDIÊ NCIA DO ARTIGO 16 DA LEI Nº. 11.340/06 - DESIGNAÇÃ O OBRIGATÓ RIA -
IMPOSSIBILIDADE - NULIDADE - INOCORRÊ NCIA. - A audiência prevista no artigo 16 da Lei
nº 11.340/06 procura dificultar a retrataçã o da vítima, determinando que só tenha
validade a expressã o da vontade realizada em audiência designada para esta finalidade. - A
audiência só é cabível quando existe prévia notícia do interesse da vítima em se
retratar, sendo inaceitá vel a sua designaçã o como ato obrigató rio antes do recebimento da
denú ncia, de forma a possibilitar uma chance à retrataçã o, o que vem de encontro à ratio da
Lei Maria da Penha (Precedentes do STJ).
(TJ-MG - APR: 10074130011633001 MG, Relator: Doorgal Andrada, Data de Julgamento:
25/11/2015, Câ maras Criminais / 4ª CÂ MARA CRIMINAL, Data de Publicaçã o:
01/12/2015)
APELAÇÃ O CRIMINAL. AMEAÇA E DESOBEDIÊ NCIA. VIOLÊ NCIA DOMÉ STICA. CRIME DE
AÇÃ O PENAL PÚ BLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃ O. POSSIBILIDADE DE
RETRATAÇÃ O DA VÍTIMA.
AUDIÊNCIA PRELIMINAR (ART. 16 DA LEI MARIA DA PENHA) NÃO REALIZADA.
NULIDADE PROCESSUAL DECRETADA DE OFÍCIO. - O crime de ameaça, mesmo o
praticado no â mbito doméstico e familiar, é de açã o penal pú blica condicionada à
representaçã o da vítima, de forma que prevalecem as disposições contidas na Lei Maria
da Penha, o que torna obrigatória a designação da audiência prévia prevista no art.
16 da referida norma legal, para que, antes do recebimento da denúncia, a vítima
tenha a oportunidade de renunciar à representação, sob pena de nulidade do feito. -
Nulidade do feito, decretada de ofício, restando prejudicado o exame do mérito do recurso.
V.V. EMENTA: APELAÇÃ O CRIMINAL - LEI MARIA DA PENHA - AMEAÇA E DESOBEDIÊ NCIA
- PRELIMINAR - AUDIÊ NCIA DO ART. 16 DA LEI 11.340/06 - NÃ O REALIZAÇÃ O -
DESNECESSIDADE - AUSÊ NCIA DE MANIFESTAÇÃ O PRÉ VIA DA OFENDIDA -
PRECEDENTES DO STJ. - Somente será imprescindível a realização da audiência
preliminar prevista no art. 16 da Lei 11.340/06 quando a vítima demonstrar, por
qualquer meio, interesse em retratar-se de eventual representação oferecida, antes
do recebimento da denúncia. Precedente do STJ.
(TJ-MG - APR: 10672120249137001 MG, Relator: Doorgal Andrada, Data de Julgamento:
05/02/2014, Câ maras Criminais / 4ª CÂ MARA CRIMINAL, Data de Publicaçã o:
11/02/2014)
PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁ RIO EM HABEAS CORPUS. ART. 147 DO
CÓ DIGO PENAL. VIOLÊ NCIA DOMÉ STICA. LEI MARIA DA PENHA. RETRATAÇÃ O DA VÍTIMA
APÓ S O RECEBIMENTO DA DENÚ NCIA. INVIABILIDADE. NÃ O PROVIMENTO. 1. Esta Corte
firmou entendimento no sentido de que a audiência de retrataçã o, prevista no art. 16 da Lei
n.º 11.340/06, apenas será designada no caso de manifestaçã o da vítima, antes do
recebimento da denú ncia. (Precedentes). 2. Recurso ordiná rio a que se nega provimento.
(STJ - RHC: 41545 PB 2013/0338407-5, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, Data de Julgamento: 04/09/2014, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicaçã o: DJe
16/09/2014) (GRIFO NOSSO)
Portanto, douto juízo, conforme restou devidamente comprovado, operou-se a nulidade
por ilegitimidade da parte bem como por omissã o de formalidade que constitui elemento
essencial ao ato, previsto no art. 564, II, IV, do CPP, uma vez que nã o fora designada
audiência preliminar a luz do art. 16 da lei 11.340, em que se pese a vítima tenha
demonstrado o seu interesse na retratação da sua representação.
Notadamente, pugna pela rejeiçã o liminar da peça acusató ria no tocante a imputaçã o do
art. 147 do CP, por ausência de condiçã o do exercício da açã o penal na inteligência do art.
395, II, do CPP, bem como as nulidades alhures apontadas, devendo assim ser reconhecida
a Extinçã o da Punibilidade do agente conforme art. 107, V do CP.
II.2. DA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL; DAS
ALEGAÇÕES DA OFENDIDA E DA AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE DELITIVA:
Excelência, conforme podemos observar, a denú ncia tem sua base formada apenas pelo
depoimento da vítima e da sua genitora. A prova (neste caso, o depoimento da vítima), tem
por finalidade o convencimento do Juiz, que é o seu destinatá rio, de que uma pessoa
cometeu ou nã o um ato delituoso.
Nosso sistema processual penal é acusatório, não recaindo ao acusado o ônus de
fazer prova de sua inocência, mas ao Ministério Público, com provas robustas,
comprovar a real existência do delito.
Ao receber a denú ncia, dando assim o início ao processo penal, este douto juízo há de se
lembrar de que tem diante de si uma pessoa que tem o direito constitucional de ser
presumido inocente, pelo que possível nã o é que desta inocência a mesma tenha que fazer
prova.
Resta, entã o, neste caso, ao Ministério Pú blico, a obrigaçã o de provar a culpa do acusado,
com supedâ neo em prova lícita e moralmente encartada aos autos, sob pena de, em nã o
fazendo o trabalho que é seu, arcar com as consequências de um veredicto valorado em
favor da pessoa apontada com autora do fato típico.
O que podemos ver no caso em tela, é que, apenas o depoimento da vítima embasa a
pretensã o condenató ria, o que se mostra completamente incabível num país que tem como
princípio constitucional fundamental a dignidade da pessoa humana.
Claro se mostra Excelência, que toda a situaçã o fá tica teria ocorrido no exterior da
residência da vítima, estando presente a sua genitora, a mã e do acusado e vizinhos,
presenciando toda a suposta açã o delituosa praticada pelo ora acusado.
A PRESENTE DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO SE FUNDA ÚNICA E
EXCLUSIVAMENTE NOS FATOS NARRADOS PELA SUPOSTA VÍTIMA E NO
DEPOIMENTO PARCIAL DE SUA MÃE.
Apenas a declaraçã o da suposta vítima de um crime é o que sustenta a presente exordial
acusató ria, evidentemente tal contexto probató rio é insuficiente para deflagrar a açã o
penal, sobremaneira, inapto a gerar um decreto condenató rio em desfavor do acusado. Tal
entendimento é da 5ª Câ mara Criminal do Estado do Rio de Janeiro:
“EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. JUSTA CAUSA. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. A DENÚ NCIA COMO QUALQUER PETIÇÃ O INICIAL CONTÉ M “DESENHO
ESTRATÉ GICO SUBJACENTE, QUE SUGERE UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA
ATIVIDADE PROBATÓ RIA E UMA PROPOSTA DE LEITURA DE PREVISÍVEL RESULTADO
DESTA ATIVIDADE DIRIGIDA AO JULGADOR”. INADMISSIBILIDADE DE AÇÃ O PENAL SEM
SUPORTE EM UM MÍNIMO DE INFORMAÇÕES QUE ASSEGUREM TRATAR-SE DE
DEMANDA NÃO LEVIANA OU TEMERÁRIA (ARTIGO 395, III, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL CONFORME A REDAÇÃO DA LEI 11.719/08) CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CARACTERIZADO QUANDO A DENÚNCIA RECEBIDA PROPÕE A CONDENAÇÃO DA
PACIENTE COM BASE EM MEIO DE PROVA DE PLANO INCAPAZ DE AUTORIZAR A
EMISSÃO DE DECRETO CONDENATÓRIO.” (g.n.)
A acusaçã o tem de apontar sérios indícios para que a açã o penal seja deflagrada. Tal
exigência encontra fundamento de validade na Constituiçã o da Republica, nos princípios de
tutela da dignidade da pessoa, que se projeta no processo penal de modo a que só açã o
penal com justa causa, isto é, com indícios mínimos da viabilidade do pedido de
condenaçã o, possa deflagrar processo regular.
Mostra-se de total temeridade assim proceder-se a uma instruçã o processual, em vias
ainda de se chegar a uma condenaçã o e a imputaçã o de uma pena ao réu, frente à extrema
fragilidade do material probató rio que tenta comprovar a autoria de um pretenso delito
que nã o ocorreu. O ordenamento pá trio nã o convive com isso. O Direito Penal é a ultima
ratio e deve ser sempre evitada e desta forma, frente a qualquer dú vida, prima-se pela
liberdade do réu, como expõ e o brocardo jurídico in dúbio pro reo.
Nas liçõ es do eminente professor Nestor Tá vora, na justa causa: “A ação só pode ser
validamente exercida se a parte autora lastrear a inicial com um mínimo probatório que
indique os indícios de autoria, da materialidade delitiva, e da constatação da ocorrência de
infração penal em tese (art. 395, I1I, CPP).”
É o fumus commissi delicti (fumaça da prá tica do delito) para o exercício da açã o penal.
Como a instauraçã o do processo já atenta contra o status dignitatis do demandado, nã o se
pode permitir que a açã o seja uma aventura irresponsá vel, lançando-se no polo passivo,
sem nenhum critério, qualquer pessoa.
Noutro giro, emérito julgador, consoante se verifica do caderno processual, nã o restou
comprovada a veracidade dos argumentos elencados na exordial acusató ria, os quais
tipificaram a conduta do acusado como incurso nas penas do art. 129, § 9º do CP, no
contexto da Lei 11.340.
Dispõ e o Art. 158 do CPP que: "Quando a infraçã o deixar vestígios será indispensá vel o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, nã o podendo supri-lo a confissã o do acusado".
Nota-se que, segundo a representaçã o da vítima constante na peça informativa (fls18), esta
alega ter sofrido vá rios murros no rosto e puxõ es de cabelo asseverando que tais lesõ es
teriam deixado marcas e, logo apó s a ocorrência do fato alegado, se dirigiu ao posto de
atendimento médico, nã o sendo encaminhada ao IML, oportunidade em que deveria ser
feito o exame de corpo de delito.
Ocorre que a vítima apenas se dirigiu a um posto de saú de no dia seguinte ao fato, onde
fora atendida apenas para emissã o de um atestado médico (fls.20) de 01 dia, constando
como motivação da consulta o CID: R10 [1] que dá conta de uma suposta dor
abdominal ou uma simples cólica, ou seja, induzido este douto juízo ao erro!
Sem querer adentrar o mérito excelência, mas em sede argumentativa, o Egrégio Tribunal
de Justiça de Sergipe sabiamente emitiu jurisprudência em caso aná logo, in vebis:
APELAÇÃ O CRIMINAL – CRIME DE LESÕ ES CORPORAIS - MARIA DA PENHA (ART. 129,
pará grafo 9º e art. 5º da Lei 11.340/2006)– RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA - PLEITO
DESCLASSIFICATÓRIO PARA VIAS DE FATO (ART. 21 DEC-LEI 3688/41) FULCRADO
NA INEXISTÊNCIA DE LAUDO PERICIAL - PROVAS DOS AUTOS INSUFICIENTES PARA
SUPRIR A AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL – MATERIALIDADE DO DELITO DE LESÃO
CORPORAL NÃO EVIDENCIADA - ACOLHIMENTO – DESCLASSIFICAÇÃ O PARA VIAS DE
FATO – DOSAGEM DA PENA DO APELADO – IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃ O POR
RESTRITIVAS DE DIREITOS EM RAZÃ O DE A INFRAÇÃ O TER SIDO COMETIDA COM
VIOLÊ NCIA À PESSOA – CONCESSÃ O DA SUSPENSÃ O CONDICIONAL DA PENA – RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO – DECISÃ O UNÂ NIME. (Apelaçã o Criminal nº 201600323827 nº
ú nico0002879-23.2015.8.25.0053 - CÂ MARA CRIMINAL, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator (a): Ana Lú cia Freire de A. dos Anjos - Julgado em 22/11/2016).
A rigor, se por ventura houve agressã o e havendo vestígios como afirmado na peça
informativa e reiterado em exordial acusató ria, cumpre ao parquet apresentar prova
quanto à existência da materialidade delitiva, mas, por outro lado inexistindo o exame
de corpo de delito, não há como se afirmar se realmente a vítima sofreu as agressões
alegadas, ou se as supostas lesões seriam auto infligidas.
Excelência, é imperioso reconhecer que, em tese, existem dúvidas razoáveis em relação
às supostas lesões corporais, posto que, a falta de realização do exame de corpo e
delito, bem como um atestado médico no mínimo suspeito, trazem prejuízos ao réu,
acarretando consequente cerceamento ao exercício da ampla defesa.
Neste diapasã o, Afrâ nio Silva Jardim [2] nos ensina, ipsis litteris:
"torna-se necessário ao regular exercício da ação penal a demonstração, prima facie,
de que a acusação não é temerária ou leviana, por isso que lastreada em um mínimo
de prova. Este suporte probatório mínimo se relaciona com os indícios de autoria,
existência material de uma conduta típica e alguma prova de sua antijuridicidade e
culpabilidade”.
Assim sendo, no tocante a imputaçã o do art. 129, § 9º do CP, tendo em vista a evidente
fragilidade da prova da materialidade delitiva, conforme toda a argumentaçã o exposta,
revela-se a ausência de justa causa para o exercício da presente açã o penal na inteligência
do art. 395, III, do CPP, sendo a rejeiçã o liminar da peça acusató ria medida que se impõ e.
i. DO MÉRITO
Ainda em sede argumentativa, razã o nã o assiste ao douto Representante do Ministério
Pú blico. As condutas atribuídas ao acusado, nã o passam de meras alegaçõ es ventiladas pela
vítima e meras ilaçõ es anotadas pela autoridade policial, por ocasiã o das apuraçõ es na fase
de inquérito, as quais foram simplesmente transpostas para a denú ncia.
Com efeito, na remota hipó tese de recebimento da peça acusató ria, sustenta o denunciado
que provará o alegado no decorrer da instruçã o, requerendo a produçã o de todas as provas
em Direito admitidas, tais como a juntada de documentos e a inquiriçã o de testemunhas ao
final arroladas, reservando-se o direito de utilizar os demais meios de prova em direito
permitidos, desde logo requeridos.
Posto isto, é que requer a Vossa Excelência que se digne acolher à s preliminares acima
arguidas, por seus pró prios termos e fundamentos, deferindo-as como postas nesta defesa,
para REJEITAR a denú ncia no sentir do art. 395, II e III, ambos do CPP, ante as razõ es e
fundamentos aqui massivamente expostos.
IV. DOS PEDIDOS
Ex positis, requer a Vossa Excelência que se digne a:
• Reconhecer as nulidades do art. 564, II e IV do CPP arguidas em sede de preliminar,
para a consequente rejeiçã o da inicial acusató ria em razã o da ausência de condiçã o
para o exercício da açã o penal, com fulcro no art. 395, II, do CPP;
• Reconhecer a extinçã o da punibilidade do agente nos termos do art. 107, V, do CP,
quanto à imputaçã o da conduta prevista no art. 147 CP, devendo o acusado ser
absolvido sumariamente nos termos do art. 397, IV, do CPP;
• Ainda em sede se preliminar, que seja reconhecida à ausência de justa causa para o
exercício da açã o penal, devendo esta ser rejeitada a peça acusató ria nos termos do
art. 395, III, do CPP.
• No mérito, que seja julgada IMPROCEDENTE A DENÚ NCIA, absolvendo a Acusada das
imputaçõ es contra si arremessadas, liberando-o definitivamente da mira da justiça,
por medida de direito e lidima justiça!
Caso Vossa Excelência assim nã o entenda, requer a oitiva das testemunhas abaixo
arroladas, bem como protesta provar a inocência do acusado por todos os meios em
direito admitidos. como medida da mais lídima JUSTIÇA!!
Nesses Termos,
Pede Deferimento.
.
Aracaju/SE, 06 de agosto de 2018.
ADVOGADO
OAB
. ROL DE TESTEMUNHAS:
i. NOME E SOBRENOME brasileira, convivente, doméstica, inscrita no RG nº xxxxxx, CPF
nºxxxxxxxxx , residente a Rua Alexandre Alcino, nº xxxxxx, bairro Santa Maria,
Aracaju/SE;
ii. NOME E SOBRENOME , brasileiro, convivente, açougueiro, inscrito no RG nº xxxxxx,
CPF nº xxxxxxxxx, residente a Rua Alexandre Alcino, nº xxxx, bairro Santa Maria,
Aracaju/SE;
iii. NOME E SOBRENOME, brasileiro, solteiro, inscrito no RG Nº xxxxxx e CPF nºxxxxxxxx,
residente a Rua Arrozal, nº xxxx, bairro Santa Maria.
i. R10 Dor abdominal e pélvica Exclui: có lica nefrética (N23) dorsalgia (M54.-)
flatulência e afecçõ es correlatas (R14) R10.0 Abdome agudo Dor abdominal intensa
(com rigidez abdominal) (generalizada) (localizada) R10.1 Dor localizada no abdome
superior Dor epigá strica R10.2 Dor pélvica e perineal R10.3 Dor localizada em outras
partes do abdome inferior R10.4 Outras dores abdominais e as nã o especificadas
Có lica:· ↑

ii. TAVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal, 8ª Ediçã o, Editora Jus Podivm,
Bahia, 2013. ↑

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