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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06)

Palestrante: 3º SGT PM MARTINE


LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

Promulgada em 2006, ocorreu após o Brasil ter sido


penalizado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos
por omissão e negligência, no caso da Maria da Penha –
constantes agressões e tentativa de homicídio pelo marido.

Após, o Estado Brasileiro se viu obrigado a estabelecer


legislação especial
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

O que mudou? A Lei tornou-se inovadora em muitos


sentidos, trazendo modificações jurídicas de modo a
preservar e estimular os cuidados às mulheres vítimas de
agressão doméstica, que muitas vezes por medo, vergonha e
apontamentos sociais se vê aprisionada nesta realidade.
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

1) Competência para julgar crimes de violência doméstica

Antes: crimes eram julgados por juizados especiais criminais,


conforme a Lei 9.099/95, onde são julgados crimes de menor
potencial ofensivo.

Depois: com a nova lei, essa competência foi deslocada para


os novos juizados
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

2) Detenção do suspeito de agressão

Antes: não havia previsão de decretação de prisão preventiva


ou flagrante do agressor.
Depois: com a alteração do parágrafo 9º do artigo 129 do
Código Penal, passa a existir essa possibilidade, de acordo
com os riscos que a mulher corre.

3) Agravante de pena
Antes: violência doméstica não era agravante de pena.
Depois: o Código Penal passa a prever esse tipo de violência
como agravante.
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

4) Medidas de urgência (protetivas)

Antes: como não havia instrumentos para afastar


imediatamente a vítima do convívio do agressor, muitas
mulheres que denunciavam seus companheiros por
agressões ficavam à mercê de novas ameaças e agressões de
seus maridos, que não raro dissuadiam as vítimas de
continuar o processo.

Depois: o juiz pode obrigar o suspeito de agressão a se


afastar da casa da vítima, além de ser proibido de manter
contato com a vítima e seus familiares, se julgar que isso seja
necessário.
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

5) Medidas de assistência (assistenciais)

Antes: muitas mulheres vítimas de violência doméstica são


dependentes de seus companheiros. Não havia previsão de
assistência de mulheres nessa situação.

Depois: o juiz pode determinar a inclusão de mulheres


dependentes de seus agressores em programas de
assistência governamentais, tais como o Bolsa Família, além
de obrigar o agressor à prestação de alimentos da vítima.
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

6) Tipificação Penal / Agravante penal

Antes: não havia tipificação

Depois: há a tipificação
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

1. Se aplica à violência doméstica que cause morte, lesão, sofrimento


físico (violência física), sexual (violência sexual), psicológico
(violência psicológica), e dano moral (violência moral) ou
patrimonial (violência patrimonial);

1.1.No âmbito da unidade doméstica, onde haja o convívio de pessoas,


com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

1.2.No âmbito da família, formada por indivíduos que são ou se


consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou
por vontade expressa.

1.3.Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou


tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação;
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Lei 11.340/06

2. Se aplica também às relações homossexuais e aos homens vítimas de


violência doméstica;

3. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao


agressor;

4. Quando a agressão praticada for de pessoa estranha, como por


exemplo vizinho, prestador de serviço ou médico, continuam os velhos
TERMOS CIRCUNSTANCIADOS;

5. Garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de


imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário;

6.Informar à ofendida os direitos a ela conferidos;


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Lei 11.340/06

7. Feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade, de imediato:


7.1. Ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência
e tomar a representação a termo, se apresentada;
7.2. Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato;
7.3. Remeter no prazo de 48 horas expediente apartado ao juiz com o
pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas;

7.4. Expedir guia de exame de corpo de delito e exames periciais;


7.5. Ouvir o agressor e testemunhas;
7.6. Ordenar a identificação do agressor e juntar aos autos sua folha de
antecedentes;
LEI MARIA DA PENHA
Lei 11.340/06

8. O pedido da ofendida deverá conter: qualificação da


ofendida e do agressor, nome e idade dos dependentes,
descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas
pela ofendida, e cópia de todos os documentos disponíveis
em posse da ofendida;
Jurisprudência
• Recurso Especial nº 1.977.124 pelo Superior
Tribunal de Justiça, em que o STJ decidiu
pela aplicabilidade da Lei Maria da Penha às
mulheres transgêneros, a partir do caso de
uma vítima do gênero feminino que solicitou
as medidas protetivas desta Lei contra a
violência cometida pelo seu pai por não
aceitar a sua identidade de gênero.
• SÚMULA 600 DO STJ - Para configuração da
violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º
da Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, não se
exige a coabitação entre autor e vítima.
• A Lei 11.340/2006 é aplicável às mulheres trans em
situação de violência doméstica. (STJ. 6ª Turma.
Resp 1977124/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz,
julgado em 05/04/2022, info 732).
Antes era assim:
• É incabível a manutenção de medidas protetivas de
urgência quando da conclusão de inquérito policial sem
o indiciamento do suspeito. (STJ. 6ª Turma. HC
159303/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro,
julgado em 20/09/2022, info 750).
Agora ficou assim:
• Atenção: Art. nº 19, §6º da Lei Maria da Penha. “As
medidas protetivas de urgência vigorarão enquanto
persistir risco à integridade física, psicológica, sexual,
patrimonial ou moral da ofendida ou de seus
dependentes. (incluído pela Lei nº 14.550, de 2023)”
Antes era assim:
• Obs: É ilegal a fixação ad eternum de medida protetiva de
urgência, devendo o juiz analisar periodicamente a necessidade da
sua manutenção. (STJ. 6ª Turma. HC 605113-SC, Rel. Min. Antonio
Saldanha Palheiro, julgado em 08/11/2022, Info 756).

Agora ficou assim:


• Obs: A natureza jurídica das medidas protetivas de urgência
previstas na Lei Maria da Penha é de tutela inibitória e não
cautelar, inexistindo prazo geral para que ocorra a reavaliação de
tais medidas, sendo necessário que, para sua eventual revogação
ou modificação, o Juízo se certifique, mediante contraditório, de
que houve alteração do contexto fático e jurídico. (STJ. 6ª Turma.
REsp 2.036.072-MG,gRel. Ministra Laurita Vaz, 30/8/2023, Info
789).
Antes era assim:
• Obs: Independentemente da extinção de punibilidade do autor, a
vítima de violência doméstica deve ser ouvida para que se verifique a
necessidade de prorrogação ou concessão das medidas protetivas. (STJ,
3ªSeção, REsp 1.775.341/SP,[Sem título]Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em12/04/2023, Info 770). Ex: crime de ameaça se extingue em
6 meses, o autor pode ter o crime extinto, porém a prorrogação ou
concessão da medida protetiva pode ser concedida.
Agora ficou assim:
• Obs: É constitucional o art. 12-C da Lei Maria da Penha que autoriza, em
algumas hipóteses, a aplicação, pela autoridade policial (delegado na
cidade que não for sede de comarca ou pelo policial militar quando
não houver delegado e a cidade não for sede de comarca), de medida
protetiva de urgência em favor da mulher. (STF. Plenário. ADI 6138/DF,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/03/2022, Info 1048).
Crime de desobediência?
Antes era assim:
• O descumprimento de medida protetiva de urgência
prevista na Lei Maria da Penha (art. 22 da Lei
11.340/2006) não configura crime de desobediência
(art. 330 do CP). (STJ. 5ª Turma. REsp 1374653-MG,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
11/3/2014, Info 538 / STJ. 6ª Turma. RAC 41970-MG,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/8/2014, Info 544).
Agora ficou assim:
• O Art. 24-A (incluído pela Lei 13.641/2018) estipula
pena para quem descumpre medida protetiva de
urgência (agora temos o crime de desobediência).
• Obs: A aproximação do réu com o consentimento
da vítima torna atípica a conduta (do Art. 24-A) de
descumprir medida protetiva de urgência. (STJ,
AgRg no AREsp2.330.912/DF, Rel. Ministro Ribeiro
Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, DJe
28/8/2023, Info 785).
Não se aplica o princípio da insignificância:
• STF - Info 825.
• STJ - Súmula 589: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou
contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das
relações domésticas.

• IMPOSSIBILIDADE DE APLICAR A LEI 9.099/95:

• Artigo 41 - Aos crimes praticados com violência doméstica familiar contra


a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n°
9.099 (Busca sempre que possível a conciliação, composição civil dos
danos ou transação penal), de 26 de setembro de 1995.
• Súmula 536 do STJ: A suspensão condicional do processo e a transação
penal não se aplicam (medidas despenalizadoras trazidas na Lei 9.099)
na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penna.
• Obs: o artigo 41 também se aplica às CONTRAVENÇÕES PENAIS
diante de uma interpretação teleológica. (STJ, HC 280.788/RS)

• Obs: Com essa vedação do artigo 41 o Delegado deverá instaurar


inquérito policial para todos os crimes, não podendo lavrar o TCO
(Somente Inquérito Policial).
• Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica
ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de
pena que implique o pagamento isolado de multa.
• Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a
mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico
impossibilita a substituição de pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos.
• Obs: Nos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher não é possível a aplicação da pena de multa
isoladamente, mesmo no caso do crime de ameaça (Artigo
147 do Código Penal) que prevê, em seu preceito
secundário, a pena de multa de forma autônoma.(STJ. 3ª
Seção. REsp 2.049.327-RJ, Rel. Min.Sebastião Reis Júnior,
julgado em 14/6/2023, Recurso Repetitivo - Tema
1189, Info 779).
• Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência
doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado
de multa.
• Súmula 588 do STJ: A prática de crime ou contravenção penal
contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico impossibilita a substituição de pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos.
RETRATAÇÃO:
• Art. 25 do CPP - A representação será irretratável, depois de oferecida a
denúncia.
• Art. 16 da LMP - Nas ações penais públicas condicionadas à representação
da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à
representação (Retratação) perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o
Ministério Público.
• Obs: Não atende ao disposto no art. 16 da Lei Maria da Penha a retratação
da ofendida ocorrida sem a designação de audiência específica necessária
para a confirmação do ato. (STJ, 5ª Turma, HC138.143-MG, DJe 10/09/2019).
• Obs: A audiência prevista no art. 16 da Lei n° 11.340/2006 somente será
realizada se houver manifestação da vítima de se retratar da representação
em momento anterior ao recebimento da denúncia. (STJ. 5ª Turma. AgRg no
REsp 1946824-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/06/2022, Info
743).
• Obs: A audiência prevista no art. 16 da Lei n° 11.340/2006 não
pode ser designada de ofício pelo juiz, sendo somente necessária
caso haja manifestação expressa do desejo da vítima de se retratar
antes do recebimento da denúncia. (STJ.3ª Seção. REsp 1977547-
MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
08/03/2023, Recurso Repetitivo - Tema 1167, Info 766).
• Obs: A interpretação no sentido da obrigatoriedade da audiência
prevista no artigo 16 da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), sem
que haja pedido de sua realização pela ofendida, viola o texto
constitucional e as disposições internacionais que o Brasil se
obrigou a cumprir, na medida em que discrimina injustamente a
própria vítima de violência. Não se trata da mera avaliação da
presença de um requisito procedimental, de modo que não cabe ao
magistrado delegar a realização da audiência a outro profissional,
ou designá-la de ofício ou a requerimento de outra parte. (STF, ADI
7.267/DF, relator Ministro Edson Fachin, 21.08.2023, info 1104).
• Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime
de lesão corporal resultante de violência doméstica
contra a mulher é pública incondicionada.

• Art. 88 da lei 9.099/95 - Além das hipóteses do


Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de
lesões corporais leves e lesões culposas.

• O Art 41 da Lei Maria da Penha proíbe a aplicação


da Lei 9.099/95
• Obs: O juízo do domicílio da mulher vítima de
violência doméstica é competente para deferir as
medidas protetivas de urgência, mesmo que a
agressão tenha ocorrido em outra comarca.
• Porém, a competência para julgar o crime é do local
dos fatos. (STJ. 3ª Seção. CC 190666-MG, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 8/2/2023,Info 764).
• Obs: Apesar do tema ser divergente, prevalece entendimento
de que a hipossuficiência e a vulnerabilidade, necessárias à
caracterização violência doméstica e familiar contra a mulher,
são presumidas pela Lei n° 11.340/2006. (STJ. 5ª Turma. AgRg
no AREsp 620.058/DF, 2017 / STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no
REsp 1720536/SP, 2018).(STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 92.825,
2018).
• Presunção Absoluta e Relativa de Vulnerabilidade
• Homem (sujeito Ativo) vs Mulher (sujeito Passivo) =
Presunção Absoluta de Vulnerabilidade (Art. 5º)
• Mulher (Sujeito Ativo vs Mulher (Sujeito Passivo) = Presunção
Relativa de Vulnerabilidade (tem que provar a
vulnerabilidade).
• Edição 41 STJ - A vulnerabilidade estão presumidas na Lei
11.340/2006
• Obs: Nos casos de violência contra a mulher, é
possível a fixação de valor mínimo de indenização
por dano moral, desde que haja pedido expresso da
acusação ou da parte ofendida, ainda que não
especificada a quantia, e independentemente de
instrução probatória. CPP/Art. 387. 0 juiz, ao
proferir sentença condenatória: IV - fixará valor
mínimo para reparação dos danos causados pela
infração, considerando os prejuízos sofridos pelo
ofendido. (STJ. 3ª Seção. REsp 1643051-MS, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz julgado em 28/02/2018.
Recurso Repetitivo. Info 621).
• Obs: A decisão proferida em processo penal
que fixa alimentos provisórios ou
provisionais em favor da companheira e da
filha, em razão da prática de violência
doméstica, constitui titulo hábil para
imediata cobrança e, em caso de
inadimplemento, passível de decretação de
prisão civil. (STJ, 3ª Turma, RHC 100.446-MG,
05/12/2018)
PORTANTO:
• Vítima: mulher biológica ou trans (pelo gênero feminino)
• Autor: homem ou mulher
• Requisitos do art. 5º: (lar, familiar, rel. afeto íntimo)
• Requisitos do art. 7º: (violência baseada no gênero (vulnerabilidade
da ofendida, pela sua condição de mulher culturalmebte
subordinada – STJ. 5º Turma. AgRg 1858694/GO Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julg. 28/04/2020): física, psicológica, (fato
atípico: adultério), sexual, patrimonial, moral)

AS medidas protetivas previstas na Lei nº 11340/2006 são aplicáveis


às minorias, como transexuais, transgêneros, cisgêneros e travestis
em situação de violência doméstica, afastando o aspecto meramente
biológico. Resp 1977124/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, Sexta
Turma, Julg. 05/04/2022

Edição nº 41 STJ, A lei Maria da Penha atribuiu às uniões


homoafetivas o caráter de entidade familiar.

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