Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Brasil é um país com altas taxas de criminalidade e com um sistema jurídico sobrecarregado e
tardio, essencialmente punitivo, retributivo, com penas privativas de liberdade, caráter mais
coercitivo e de responsabilização do autor pelo crime cometido. De certa forma, em contraponto
ao processo tradicional surge uma nova abordagem na condução desses crimes sendo uma
pratica restaurativa, conciliadora e com a responsabilização do agressor ao dano praticado, no
entanto com a participação ativa da vítima no processo e superação do conflito. Casos de
violência doméstica têm outras peculiaridades e maior dificuldade de encerrar o conflito devido
a proximidade dos agentes envolvidos. Num levantamento bibliográfico pode se compreender
melhor o sistema judiciário, seja punitivo ou a justiça restaurativa, suas diferenças e
aplicabilidade diante desses casos, e o mais utilizado no Brasil.
Palavras-chave: Violência Doméstica. Sistema Punitivo. Justiça Restaurativa. Conflito.
1 INTRODUÇÃO
1 Paper apresentado à disciplina de Teoria da Pena e da Punibilidade, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco
– UNDB.
2 Aluna do 3° Período, do Curso de Direito, da UNDB. Turma DT03AV.
3 Professor Mestre, orientador.
2
ordens em determinado clã, ou seja, era estipulada uma regra e aquele que a violava era punido
(BECCARIA, 1997 apud NERY, 2005).
Atualmente, se vive um excesso de encarceramento seja de criminosos ou de
menores infratores privados da liberdade no intuito de resolver os crimes por eles praticados,
inclusive de violência doméstica; ressaltando que nestes casos de violência especificamente,
soma-se ainda ao conflito, a própria diversidade de fatores complexos envolvidos nesses crimes
de violência doméstica por se tratar de relações próximas, entre familiares ou companheiros.
Surge mais recentemente, a Justiça Restaurativa com a proposição de participação ativa da
vítima e a responsabilização do ofensor na resolução dos conflitos gerados; de criar um
ambiente de inclusão da vítima, do ofensor, da comunidade em busca de uma solução para além
dos fins judiciais, não substituindo o Estado e seu papel jurisdicional na aplicação de pena
diante do crime, mas diante do reconhecimento do dano praticado pelo agressor e restauração
do conflito gerado, em particular, no seio familiar em casos de violência doméstica.
Analisando, estudando o sistema punitivo e a justiça restaurativa nos casos de
Violência Doméstica, mediante a leitura e interpretação de leis, artigos, pesquisas e relatos de
casos, pode se compreender melhor o sistema judiciário e como atuam na solução de conflitos
e, consequentemente, a aplicabilidade de justiça se é efetiva e eficaz. Frequentemente no Brasil
observa-se o procedimento punitivo, restritivo de liberdade, mais tradicional de punibilidade
pelo crime praticado em contrapartida que surge a justiça restaurativa, para além da tipificação
do crime e encarceramento, sim com a resolução do fato e restauração desse conflito.
2 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
(SANTIN, 2003) não existe apenas a violência que deixa marcas evidentes no corpo, a Lei
prevê outras formas como a violência psicológica e até mesmo a violência moral, são cinco os
eixos de violência previsíveis na Lei, além dessas duas citadas, tem também violência física,
sexual e patrimonial, que podem ser causadas de forma isolada ou combinadas.
Dados estatísticos são preocupantes a cerca da violência à mulher, segundo
Zorzella, Celmer (2016, p. 96):
O Brasil encontra-se numa situação ainda mais delicada, pois ocupa o 7° lugar no
ranking de países com maior incidência de violência contra a mulher, sendo que 70%
dos crimes praticados contra mulheres ocorrem em suas relações domesticas e
familiares. Dados divulgados pelo Instituto Sangari (2011) e pela Fundação Perseu
Abramo (2001) continua sendo a causa mortis de 7 entre 10 mulheres diariamente no
Brasil, país onde uma mulher é espancada a cada 15 segundos. A Organização
Mundial de Saúde, em todo esse contexto de vulnerabilidade, estima-se que a
violência contra a mulher consome 10% do PIB brasileiro, além de responder por uma
a cada cinco faltas da mulher ao trabalho, induzir à aposentadoria precoce e elevar o
índice de suicídios.
Segundo CNJ (2018) num relatório sobre a aplicação da Lei Maria da Penha pelo
Poder Judiciário de um mapeamento, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), da
implementação das políticas no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher
e os dados registrados pelos tribunais de justiça estaduais traz como resultados quantitativos os
números de inquéritos policiais, medidas protetivas, processos de conhecimentos e de execução
penal do ano de 2016 na Tabela 1; percebe-se um diferença do contingente de casos de
violências domésticas que culminam em processos de conhecimento de ação penal.
uma técnica com criatividade e sensibilidade na escuta dos agentes envolvidos num conflito,
vitima, agressor e comunidade (CNJ, 2018).
Os crimes familiares e domésticos, ou de foro íntimo, após a adoção da Lei Maria
da Penha, Lei 11.340/2006, passaram a ser competência da Justiça Comum, e houve a
criminalização desses conflitos, todavia o art. 29 da Lei Maria da Penha prevê, dentro dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a possibilidade de participação
de uma equipe de atendimento multidisciplinar, com profissionais das áreas psicossocial,
jurídica e de saúde, conforme Gomes (2007). Assim, com a implementação desses centros será
possível a aplicação de uma nova política, introduzindo a possibilidade de Justiça Restaurativa,
em que o atendimento pauta-se na escuta e no diálogo uma nova perspectiva surge para resolver
esses conflitos.
A abordagem restaurativa nas relações de gênero requer a propositura de se articular
estratégias de diálogo quando uma mulher vítima de violência doméstica, dar voz a sua dor e o
seu direito de lamentar, mas também o de transformar esse cenário trágico em nova realidade,
restaurando o conflito, principalmente quando essa violência é de natureza familiar porque a
restauração possibilitará a reinserção da cidadania e da dignidade humana dessa vítima,
rompida pelo ciclo da violência.
O Poder Judiciário brasileiro tem metas e deve promover a justiça restaurativa na
resolução dos conflitos de violência doméstica sendo amparada por normas do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), justamente para possibilitar
a recomposição das famílias, a pacificação social, e atender aos interesses das maioria das
vítimas e que estão sendo negligenciados, principalmente quando envolve as crianças, todavia
são poucos os tribunais que implantam a técnica, sendo destaque o estado do Paraná, na cidade
de Ponta Grossa, com 341 mil habitantes, aplicada desde 2015 nas lides do Tribunal de Justiça
do Paraná́ (TJPR) com elevados índices de satisfação entre os envolvidos (IBDFAM, 2017)
Na violência doméstica, mais precisamente conjugal, por se constituir de
circunstancias próprias, a implantação de programas de intervenção com esses homens
agressores foi uma medida possível para o enfrentamento desse conflito e problema social; a
partir dessa participação e engajamento nos programas de intervenção, reeducação, reabilitação
ou responsabilização trouxe importantes informações a serem refletidas e propulsoras de
mudança de comportamento no sistema penal (ZORZELLA, CELMER, 2016).
Ainda conforme os autores Zorzella, Celmer (2016, p. 107):
Em 2003, a Organização Mundial de Saúde lançou o relatório Intervening with
Perpetrators of Intimate Partner Violence: a Global Perspective. De acordo com o
7
em abstrato; Justiça reparatória: o crime gera uma dívida com a vítima e com o Estado;
Justiça restaurativa: o crime gera uma dívida sobretudo com a vítima, cujo statu quo
deve ser restabelecido tanto quanto possível.
(n) Justiça retributiva: resposta centrada no comportamento do agressor no passado;
Justiça reparatória: resposta centrada nos prejuízos gerados pelo delito; Justiça
restaurativa: resposta centrada em todos os efeitos danosos gerados pelo agressor
(materiais, morais, emocionais etc.).
(o) Justiça retributiva: estigma da irreparabilidade do crime; Justiça reparatória:
estigma da reparabilidade do crime por meio da reparação dos danos e penas
alternativas; Justiça restaurativa: estigma da reparabilidade do crime por meio da ação
restaurativa, levada a cabo pela mediação.
(p) Justiça retributiva: falta de encorajamento do arrependimento e do perdão; Justiça
reparatória: encorajamento à reparação dos danos e à ressocialização por meio das
penas alternativas; Justiça restaurativa: encorajamento ao arrependimento, ao perdão,
ao pedido de desculpas, ao restabelecimento da paz.
(q) Justiça retributiva: ausência de profissionais psicossociais para a decisão do caso;
Justiça reparatória: ausência de profissionais psicossociais para a decisão do caso
(decisão burocrática pelos agentes da Justiça); Justiça restaurativa: presença
obrigatória de mediador e, quando o caso, de outros profissionais psicossociais.
(r) Justiça retributiva: ignorância completa da vítima; Justiça reparatória:
favorecimento da vítima na reparação dos danos e sua ignorância completa no
momento da transação penal; Justiça restaurativa: protagonismo absoluto da vítima e
do agressor na solução do problema.
(s) Justiça retributiva: criminalização, prisionização; Justiça reparatória:
despenalização, desprisionização; Justiça restaurativa: desjudicialização,
despenalização, princípio da irrelevância penal do fato (dispensa da pena).
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal,
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11340.htm#art43> Acesso: 23 mar 2019.
CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Anotações críticas sobre a lei de violência doméstica e
familiar contra a mulher. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 11, n.
1146, 21 ago. 2006. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/8822>. Acesso em: 24 abr.
2019.
GOMES, Luiz Flávio. (2007). Lei Maria da Penha e Justiça Restaurativa. Revista Juristas.
Disponível em: http://www.juristas.com.br/a_3223~p_1~Lei-Maria-da-Penha-e-Justi%C3%
A7a- restaurativa Acesso em: 23 mar 2019.
GRITTI, Juliana Avila. Justiça restaurativa e violência doméstica. Instituto Terra, Trabalho
e Cidadania. Fevereiro, 2019. Disponível em: http://ittc.org.br/justica-restaurativa-e-violencia-
domestica/ > Acesso em: 14 maio 2019.
SANTIN, Janaína Rigo; GUAZZELLI, Maristela Piva; et. al. A violência doméstica e a
ineficácia do direito penal na resolução dos conflitos. Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Paraná. Curitiba, v. 39, p. 155-170, 2003. Disponível em:
<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/direito/article/view/1752/1449>. Acesso em: 20 abr.
2019.
SANTOS, Claudia Cruz. Violência Doméstica e mediação penal: uma convivência possível,
in Revista Julgar, no 12 (especial), 2010.
SLAKMON, C.; DE VITTO, R.; PINTO, R. G. org., 2005. Justiça Restaurativa. Ministério
da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Brasília-DF,
2005. Disponível em: <https://www.pucsp.br/ecopolitica/downloads/> Acesso 24 mar 2019.
ZORZELLA, V.L.; CELMER, E.G. 2016. Grupos de reflexão sobre gênero com homens
acusados de violência doméstica: Percebendo vulnerabilidades e repensando polarizações.
Revista Gênero e Direito, 5(1):92-111. https://doi. org/10.18351/2179-7137/ged.v5n1p92-
111.