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REVISTA UNIFESO – CADERNO DE DIREITO

Artigo v. 2, n. 1, 2020, Teresópolis - ISSN 2526-8600

APLICAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NA


VIOLÊNCIA DE GENÊRO CONTRA À MULHER:
UMA ANÁLISE CRÍTICA DE SUA EFETIVIDADE À
LUZ DA CRIMINOLOGIA FEMINISTA
Gisele Alves de Lima Silva22 e Luana de Melo Pacheco Demenjour 23

RESUMO

O advento da Lei n. 11.340/2006 inaugura uma política de ação afirmativa que coloca no centro da tutela penal do Estado o
membro da unidade familiar historicamente mais vulnerável no contexto da cultura patriarcal, a mulher. O novo diploma legal
propõe uma política de recrudescimento penal no combate à violência de gênero. Por sua vez, na contramão da Justiça
Retributiva, e considerando as falhas do sistema de Justiça Criminal, nasce a Justiça Restaurativa, que através de seus diversos
métodos pretende promover a reparação dos danos à vítima e demais envolvidos e a restauração das relações afetadas pelo
ciclo de violência. Este trabalho objetiva estudar a possibilidade de aplicação dos métodos da Justiça Restaurativa em casos de
violência de gênero contra a mulher, procurando apurar se essa forma de tratamento do conflito de natureza criminal que ocorre
no campo doméstico e familiar contra a mulher pode produzir a chamada revitimização, conduzindo a vítima mais uma vez
para o ciclo da relação violenta.
Palavras-chave: Violência doméstica contra a mulher. Justiça Restaurativa. Criminologia feminista.

ABSTRACT

The emergence of Law n. 11. 340/2006 institutes an affirmative action policy which places the historically mosty vulnerable
family member in the context of the patriarchal culture, the woman, at the core of the criminal liability. The legislation proposes
a policy of resurgence of punishment in the fight against gender violence. Alternatively, in the opposite direction of the
Retributive Justice, and considering the failures of the Criminal Justice system, the Restorative Justice is born, which through
its several methods aims to support the repair of the damage of the victim, others involved and the rebuilding of the relationships
affected by the cycle of violence. This scientific article has the intention to address the possibility of applying the methods of
Restorative Justice in cases of gender violence against women, seeking to ascertain whether this form of treatment of conflict
with a criminal nature that occurs in the household can produce the so-called revictimization, leading the victim once more to
the cycle of abusive relationship.
Keywords: Domestic violence against women. Restorative Justice. Feminist Criminology.

22
Mestre em Ciências Criminais pela Universidade Cândido Mendes – UCAM. Bacharel em Direito pela
Universidade Cândido Mendes – UCAM. Professora de Direito Penal, Criminologia e Legislação penal
extravagante no UNIFESO e UCAM. Advogada.
23
Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO. Bacharel em Pedagogia pelo
Centro Universitário Serra dos Órgãos – UNIFESO. Pós-Graduada em Pedagogia Empresarial pela Universidade
Cândido Mendes – UCAM.

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INTRODUÇÃO abril de 2020, com base em estudo realizado a partir


dos dados oficiais coletados junto as Secretarias
A violência contra mulheres trata-se de uma Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social
grave violação de direitos humanos ditada pelas e Tribunais de Justiça referentes à violência
relações sociais, culturais e jurídicas que se doméstica no âmbito de seis Estados do país que se
construíram, se consolidaram e se perpetuaram pela disponibilizaram fornecer elementos necessários
influência e permanência do poder do patriarcado, para a pesquisa da forma menos burocrática
em que pese algumas transformações tenham possível, tendo em vista a urgência da investigação.
ocorrido ao longo da história em virtude das (NOTA TÉCNICA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
conquistas produzidas pelos movimentos DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19.
feministas. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA
Neste cenário de dominação masculina1 a PÚBLICA, 2020)
violência contra mulheres pode se apresentar de Na pesquisa supracitada concluiu-se que os
diversas formas: fisicamente, sexualmente, registros de boletins de ocorrência, os quais
psicologicamente e até simbolicamente. dependem da presença física da vítima, nos
De acordo com o Bourdieu (1997) a primeiros dias de isolamento provocado pela
dominação não é simplesmente a ação exercida por pandemia, apresentaram queda que pode ser
dominantes sobre dominados, mas o efeito indireto identificada em delitos que em geral são praticados
do campo complexo de atos que compõem a contra a mulher no âmbito da unidade doméstica ou
estrutura da dominação, muitas vezes encoberta e familiar, como lesão corporal (art. 129 do CP) e
não perceptível em um primeiro plano. Para o autor estupro (art. 213 do CP).
(1997, p. 22): “A violência simbólica consiste em A investigação também apontou para uma
uma violência que se exerce com a cumplicidade redução na concessão das medidas protetivas de
tácita dos que a sofrem e também, com frequência, urgência a partir do fim de março e início de abril,
dos que a exercem, na medida em que uns e outros período do endurecimento do isolamento social na
são inconscientes de exercê-la ou de sofrê-la”. maior parte do país.
Trata-se, portanto, de uma violência escamoteada, E por fim, o estudo indicou também um
que lhe confere o poder particular de crença na aumento tanto de femicídios, como de feminicídios2,
própria dominação frente a outras formas de tendo, por exemplo, São Paulo apresentado um
violência, ela legitima o discurso violento, o aumento de 46% na comparação entre março de
minimiza e o reproduz. 2019 e 2020. Outros dados relevantes também
Os dados de violência contra as mulheres constam no estudo, mas não serão abordados por não
sempre foram alarmantes, e não podem ser serem objeto da problemática deste artigo. (NOTA
analisados sem os devidos recortes de raça e classe, TÉCNICA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
que os tornam ainda mais preocupantes. DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19.
Segundo dados do Atlas da Violência (IPEA. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2020)
PÚBLICA, Infográfico, 2020) 4.519 mulheres Em 2006 entrou em vigor a Lei n. 11.340, Lei
foram assassinadas em 2018, 68% das vítimas eram Maria da Penha, que passou a definir as espécies de
negras, e 01 mulher morre a cada 02 horas no Brasil. violência contra a mulher quando praticadas no
O Atlas (IPEA. FÓRUM BRASILEIRO DE âmbito das relações domésticas, familiares e íntimas
SEGURANÇA PÚBLICA, Infográfico, 2020) de afeto da vítima, assim inovou trazendo um
informa ainda que entre 2008 e 2018 o homicídio de conjunto de medidas de proteção que tem por fim
mulheres negras aumentou 12,4%, enquanto o de suspender o ciclo de violência em que se encontra a
mulheres não negras diminuiu 11,7%, sendo 30% mulher e prevenir novos atos por parte do agressor.
das mulheres assassinadas em sua própria casa. A lei se tornou um marco no Brasil no que
A violência contra mulheres também chamou tange ao enfrentamento à violência de gênero contra
atenção nos atuais tempos de pandemia da COVID- mulheres, mas também é objeto de crítica de
19. estudiosos do sistema de justiça criminal 3, que
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública acreditam que o recrudescimento penal inaugurado
apresentou nota técnica sobre tal situação em 16 de no campo da violência contra a mulher com o novo

1
Termo utilizado por Pierre Bourdieu em sua obra condição do sexo feminino, constituindo-se em
A Dominação Masculina (2007). uma qualificadora do homicídio.
2 3
Femicídio é o termo utilizado para se referir ao A criminologia crítica é o paradigma teórico que
homicídio em que o sujeito passivo é uma mulher. melhor representa a crítica apresentada.
Feminicídio é o termo usado para determinar
quando o homicídio é praticado por razões de

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diploma legal apenas fortalece o poder punitivo do de resolução de conflitos penais que objetiva
Estado, que segue aplicando o direito penal de forma restaurar as relações entre as partes afetadas pelo
seletiva e meramente repressiva, não cumprindo a crime, promovendo um encontro entre o ofendido e
função preventiva da pena, o que faz com que as o agressor conduzido por um mediador imparcial e
carreiras criminosas se perpetuem conforme a lógica facilitador do diálogo.
do sistema social do cárcere que também é ditada O Conselho Nacional de Justiça aprovou a
pelas categorias de gênero e de dominação da Resolução n. 225/2016 com o intuito de promover a
cultura patriarcal. política pública nacional da Justiça Restaurativa no
Nesse viés a Lei Maria da Penha ao instituir âmbito do Poder Judiciário. O Conselho também,
os Juizados de Violência Doméstica e Familiar por ato do Ministro Ricardo Lewandowski, editou a
contra a Mulher vedou a aplicação de alguns Portaria n. 91/2016 que instituiu o Comitê da Justiça
substitutivos penais como a transação penal, Restaurativa com a finalidade de promover a
suspensão condicional do processo, penas implementação dessa política restaurativa.
pecuniárias isoladamente e algumas penas restritivas O Conselho Nacional de Justiça orientou
de direitos4. ainda o Poder Judiciário a aplicar na resolução de
Sendo assim, a lei retira a violência contra a casos de violência doméstica os métodos
mulher do campo da justiça processual negociada do restaurativos. Vale ressaltar que o uso dos sistemas
Juizado Especial Criminal, que até então estava, restaurativos no âmbito da violência doméstica,
tendo em vista uma grande parcela das infrações familiar e íntima de afeto contra a mulher não afasta
penais que ocorria até aquele momento no âmbito a pena retributiva, apenas contribui para a
doméstico, familiar e íntimo de afeto contra a recomposição das famílias, especialmente as que são
mulher possuía pena máxima in abstrato até 02 anos compostas por crianças afetadas pelo conflito de
(infrações de pequeno potencial ofensivo), como: natureza criminal. (NOTÍCIAS CNJ, 2017)
lesão corporal leve, ameaça, constrangimento ilegal, Considerando a relevância jurídico-social da
injúria, difamação, etc. temática contextualizada almeja-se com o presente
Enquanto tais infrações eram julgadas no artigo estudar a aplicação dos sistemas restaurativos
JECRIM, a possibilidade de um acordo entre a nos conflitos penais que envolvam violência
vítima da violência doméstica e seu agressor era doméstica, familiar e íntima de afeto contra a
possível, sendo realizado em uma audiência mulher, procurando apurar através do método
preliminar conduzida por um conciliador judicial. dedutivo e da adoção do paradigma da criminologia
Não ocorrendo esse acordo, caberia ainda a feminista, se a aplicação da Justiça Restaurativa no
possibilidade da transação penal, proposta pelo contexto de violência de gênero aqui estudado,
Ministério Público ao agressor, ou seja, primava-se visando à reconciliação das famílias, principalmente
ao máximo por uma justiça negociada que procurava com o fim de evitar processos de alienação parental
evitar a ação penal e o consequente exercício do e outros danos colaterais provenientes do ciclo de
poder punitivo estatal. (art. 72 a 76 da Lei n. violência em relação aos filhos, não pode vir a
9099/1995) contribuir para o que se chama de revitimização da
Com o crescente avanço da violência contra mulher, conduzindo-a mais uma vez para a relação
mulher traduzido nos números já expostos ano a ano, violenta, de forma a não prevenir novos atos do
o legislador ao publicar a Lei Maria da Penha agressor que podem constituir inclusive crimes mais
substitui esse cenário de justiça consensual dos graves como o feminicídio.
JECRIM’s, e mais uma vez escolhe adotar a saída da
Justiça meramente retributiva, excluindo o máximo 1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, FAMILIAR E
possível medidas alternativas que passem pelo ÍNTIMA DE AFETO CONTRA MULHERES A
acordo Vítima-Ofensor ou Estado-Ofensor. PARTIR DO TRATAMENTO JURÍDICO DA
A Justiça Restaurativa surge como oposição LEI N. 11.340/2006
à Justiça Retributiva, atuando de forma
complementar face as falhas do modelo retributivo, A Lei n. 11.340/2006, conhecida como a Lei
visando atender necessidades e direitos das vítimas Maria da Penha, entrou em vigor em 22 de setembro
e sociedade, mas também promover a de 2006, tendo sido criada para atender ao disposto
responsabilização do agressor. no art. 226, §8º da CF/88, assim como para dar
Em que pese haver diversos sistemas cumprimento ao disposto em diversos tratados
restaurativos, o mais comum é a aplicação da internacionais ratificados pelo Brasil.
mediação vítima-ofensor, prática autocompositiva

4
O STJ ampliando o que estabeleceu a Lei Maria da doméstico impossibilita a substituição de pena
Penha definiu na Súmula 588 o seguinte: A prática privativa de liberdade por restritiva de direitos.
de crime ou contravenção penal contra a mulher
com violência ou grave ameaça no ambiente

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A lei foi batizada “Maria da Penha” em formalmente a uma espécie de violação de direitos
homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes que humanos (DIAS, 2010, p. 35).
foi vítima de duas tentativas de homicídio por parte A Convenção Interamericana para Prevenir,
de seu marido, que resultaram na sua paraplegia. Punir e Erradicar a Violência Doméstica,
Em razão da absurda demora das ações denominada como Convenção de Belém do Pará, foi
penais movidas contra o marido da vítima Maria da adotada em 1994 pela Assembleia Geral da
Penha, e por envolver grave violação de direitos Organização dos Estados Americanos. Tal
humanos, o caso foi encaminhado à Comissão regramento foi ratificado pelo Brasil em 1995, sendo
Interamericana de Direitos Humanos que publicou o incorporado ao nosso ordenamento jurídico através
relatório nº 54/2001 declarando a “ineficácia do Decreto 1.973/1996.
judicial, a impunidade e a impossibilidade de a De acordo com Lima (2020, p. 1256)
vítima obter uma reparação, este relatório mostra a [..]esta Convenção passou a tratar a
falta de cumprimento do compromisso assumido violência contra a mulher como grave
pelo Brasil de reagir adequadamente ante a violência problema de saúde pública, conceituando-
doméstica”. (LIMA, 2020, p.1256). a nos seguintes termos: “qualquer ação ou
O artigo 226, parágrafo 8º, da Constituição conduta baseada no gênero, que cause
Federal dispõe que “O Estado assegurará a morte, dano ou sofrimento físico, sexual
assistência à família na pessoa de cada um dos que a ou psicológico à mulher, tanto no âmbito
público como privado” (Art. 1º). ”
integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações”, e nessa seara Nesta perspectiva, a Lei n. 11.340/2006
a Lei n. 11.340/2006 foi criada para tutelar no especifica mecanismos para coibir a violência contra
âmbito da família aqueles que se encontram em a mulher com o fim de proteger o gênero feminino,
situação de maior vulnerabilidade, no caso a mulher, vulnerável dentro do contexto da sociedade
já que a tutela infanto-juvenil já era realizada de patriarcal em situações de sofrimento físico, sexual,
forma especial pelo Estatuto da Criança e do psicológico, moral e patrimonial no âmbito da
Adolescente, desde 1990. unidade doméstica, familiar ou das relações íntimas
A Organização das Nações Unidas em 1975 de afeto, sendo assim, basta que qualquer uma das
realizou na cidade do México a I Conferência espécies de violência previstas no art. 7º da lei
Mundial sobre a Mulher – e declarou esse o ano ocorra contra a mulher em um dos contextos
internacional da Mulher, assim como anunciou que previstos no art. 5º, para ser considerada violência
de 1975 a 1985 se comemoraria a Década das de gênero objeto de incidência da Lei Maria da
Nações Unidas para a Mulher. A partir dessa Penha. (BRASIL, 2006)
conferência é que surge a Convenção sobre a Destaca-se que de acordo com o art. 5º da Lei
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação n. 11.340/2006 o âmbito doméstico compreende o
contra a Mulher adotada pela Assembleia Geral da espaço de convívio duradouro de pessoas que
ONU em 18 de dezembro de 1979, porém entrando possuem ou não vínculo familiar, incluindo as que
em vigor em 3 de setembro de 1981.5 estão esporadicamente agregadas, devendo o
Visando reparar desigualdades históricas agressor e a vítima fazer parte dessa mesma unidade
entre os gêneros masculino e feminino e finalizando doméstica.
a isonomia preconizada no art. 5º, I, da CF/88, esta O dispositivo acima define ainda âmbito
convenção caminhou no sentido de estimular a familiar, que deve ser entendido como uma unidade
promoção de políticas de ações afirmativas, também formada por pessoas que são ou se consideram como
chamadas de ações de “discriminação positiva”, nas parentes, seja por laços naturais, de afinidade ou de
mais diversas áreas: trabalho, saúde, educação, vontade.
direitos civis, etc., sendo o primeiro grande E por fim, o artigo delimita ainda o contexto
instrumento em dimensão internacional a dispor da relação íntima de afeto na qual o agressor
sobre os direitos humanos da mulher. (DIAS, 2010. manteve ou mantém convivência com a ofendida,
p.34; LIMA, 2020, p.1255). destacando expressamente a legislação que para a
Somente na Conferência das Nações Unidas configuração desta relação não há necessidade de
sobre Direitos Humanos que ocorreu em Viena, em coabitação entre o agressor e a vítima 6.
1983, que a violência contra a mulher foi alçada O dispositivo legal deixa expresso também
que para configuração dos contextos de violência

5 6
Destaca-se que tal regramento foi aprovado pelo A Súmula 600 do STJ estabelece também que:
Congresso Nacional através do Decreto Legislativo “Para configuração da violência doméstica e
nº 26/1994, e posteriormente promulgado pelo familiar prevista no artigo 5º da lei 11.340/2006,
Presidente da República por meio do Decreto nº lei Maria da Penha, não se exige a coabitação
4.377/2002. (DIAS, 2010, p.34) entre autor e vítima”.

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enunciados não importa a orientação sexual das parte do agressor, que pode inclusive terminar em
partes envolvidas. um feminicídio.
São diversas as espécies de violências As medidas elencadas nesses dispositivos
especificadas no art. 7º da Lei n. 11.340/2006, mas são providências urgentes que devem preencher para
vale destacar que se trata de rol exemplificativo, e sua concessão dois requisitos: periculum in mora
não taxativo. (perigo da demora) e fumus bonis iuris (aparência do
A violência física é entendida como qualquer bom direito). Vale destacar que o rol de medidas
forma de conduta que atente contra a integridade protetivas da lei é exemplificativo, podendo o juiz
física ou a saúde da mulher, como chutes, socos, com base no disposto no art. 22, §1º da lei
facadas, queimaduras, entre outras, causando lesões estabelecer outras medidas não listadas na lei 7.
desde os mais leves as mais graves, incluindo a (CUNHA; PINTO, 2019, p. 195)
morte. (BRASIL, Lei n. 11.340/2006) O juiz concederá as referidas medidas de
A violência psicológica é qualquer conduta acordo com o disposto nos artigos 18 e 19 da Lei n.
que cause dano emocional, provocando diminuição 11.340/2006.
da autoestima e perturbação do desenvolvimento da As medidas protetivas de urgência poderão
mulher, isso pode se dar através de atos de ser concedidas de ofício ou através da provocação
degradação ou controle de suas ações, decisões, do MP ou da vítima, prescindindo, inclusive, da
comportamentos e até crenças, por meio de ameaças, representação do advogado, conforme se verifica da
humilhações, constrangimentos, vigilância análise conjunta dos dispositivos acima com os
constante, perseguições, submissão a isolamento, artigos 27 e 28 também da Lei.
chantagens, insultos, impedimento de professar Interpretando os artigos 18, 19, 27 e 28
determinada fé, etc. (BRASIL, Lei n. 11.340/2006) conjuntamente depreende-se que havendo situação
A violência sexual é qualquer ato que atente de urgência, a figura do advogado é dispensável,
não só contra a dignidade sexual da mulher, mas podendo a própria ofendida dirigir-se a autoridade
também contra seus direitos sexuais e reprodutivos competente para requerer a medida protetiva de
da forma mais ampla possível, como por exemplo urgência, mas tão logo superada a circunstância
constranger a mulher a presenciar, a manter ou a emergencial, volta-se a regra do art. 27, nomeando-
participar de relação sexual não desejada; induzir a se advogado para atuar acompanhando a mulher
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua vítima nos atos processuais. (CUNHA; PINTO,
sexualidade; impedir de usar qualquer método 2019). Tais medidas podem ser usadas pelo Juiz
contraceptivo; realizar conduta que a force ao isoladamente ou cumulativamente. (BRASIL, Lei n.
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, 11.340/2006).
etc. (BRASIL, Lei n. 11.340/2006) Importante alteração ocorreu em 2019 com a
A violência patrimonial consiste em qualquer Lei 13.827, que inseriu o art. 12-C na Lei Maria da
conduta que atente contra a propriedade ou a posse Penha.
de bens móveis da mulher, como “retenção, Este dispositivo trata especificamente da
subtração, destruição parcial ou total de seus medida protetiva de afastamento do agressor do lar,
objetos, instrumentos de trabalho, documentos prevista no art. 22, II da lei, que seguia somente o
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos trâmite previsto nos artigos 10 a 12 e 18 a 21 da Lei
econômicos, inclusive os destinados a satisfação de Maria da Penha, ou seja, por essa regra geral
suas necessidades”. (BRASIL, Lei n. 11.340/2006) realizado o registro de ocorrência, a autoridade
Por fim, a violência moral é configurada por policial deverá remeter, no prazo de 48 horas,
condutas de caluniar, difamar e injuriar a mulher, expediente apartado ao juiz com pedido de
que geralmente são perpetradas por xingamentos, concessão de medida protetiva de urgência da
humilhações, exposições da vida íntima da mulher, ofendida, e recebido, o magistrado deverá decidir
etc., que atingem tanto sua honra objetiva, como pela concessão ou não no mesmo prazo. (BRASIL,
subjetiva. (BRASIL, Lei n. 11.340/2006). art. 12, III, e art. 18, caput, ambos da Lei n.
A Lei Maria da Penha menciona um rol de 11.340/2006).
medidas protetivas de urgência nos artigos 22, 23 e Ocorre que tal prazo a depender da situação
24 com o objetivo de interromper o ciclo da pode ser muito extenso, aumentando o risco da
violência e prevenir uma progressão criminosa por ineficiência da prestação jurisdicional ao aplicar a
medida protetiva, de forma que a vítima siga exposta

7
O Enunciado n. 30 do Fonavid – Fórum Nacional outras drogas em programa de tratamento,
de Juízes de Violência Doméstica e Familiar contra facultada a oitiva da equipe multidisciplinar”. Ver
a Mulher cita um exemplo de medida diversa das também o Enunciado n. 26 do mesmo Fórum.
elencadas em lei: “ O juiz, a título de medida
protetiva de urgência, poderá determinar a
inclusão do agressor dependente de álcool e/ou

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ao ciclo de violência perpetrado pelo agressor Diante da constatação de um modelo


mesmo após a comunicação do delito. Frente a esse punitivo que é essencialmente violador de direitos
cenário o legislador editou a Lei n. 13. 827/19 humanos, e consequentemente não atende a
introduzindo o artigo 12-C. (CUNHA; PINTO, perspectiva ressocializadora mais ampla prometida
2019, p. 133) pelo Estado à sociedade, menos ainda se espera que
Nesse novo dispositivo o legislador possa este entregar após um médio ou longo período
estabelece que em caso de risco à vida ou à de cumprimento de pena, especialmente a privativa
integridade física da vítima atual (que está em curso) de liberdade, alguém que esteve sujeito à lógica do
ou iminente (preste a ocorrer), impõe-se a aplicação sistema social da prisão, que também é ditada por
da medida protetiva de afastamento do agressor do categorias de gênero e de dominação da cultura
lar imediatamente, podendo essa aplicação ser patriarcal, desconstruído de seus comportamentos
realizada pela autoridade judicial; pelo delegado, violentos ditados pelo machismo estrutural a que
caso o Município não seja sede de comarca; e até sempre esteve submetido.
mesmo pela autoridade policial, quando o Município Sendo assim, este modelo de justiça não
não é sede de comarca, e não há delegado disponível possibilita a ressocialização do agressor, não
no momento da denúncia. Exigindo a lei, contudo, contribui com sua tomada de consciência acerca do
que nas duas últimas situações, o juiz deve ser seu comportamento violento e não promove
comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) reparação dos danos causados com a infração,
horas para decidir, em igual prazo, sobre a incluindo a recomposição saudável das relações
manutenção ou a revogação da medida aplicada, familiares, especialmente com os filhos, se for o
devendo dar ciência ao Ministério Público caso, pelo contrário, afasta as partes envolvidas e
concomitantemente. (BRASIL, art. 12-C da Lei n. ignora as necessidades e direitos das vítimas.
11.340/2006) Baratta (2002, p.183-184) caracteriza esse
Destaca-se ainda a entrada em vigor do artigo modelo de Justiça como um sistema que não produz
24-A que estabeleceu o crime de descumprimento de qualquer efeito para a reeducação do infrator e sua
medidas protetivas de urgência, e com essa inovação ressocialização:
a autoridade policial diante da ocorrência da O cárcere é contrário a todo moderno ideal
infração poderá efetuar a prisão em flagrante do educativo, porque este promove a
agente. Vale ressaltar que o legislador não distinguiu individualidade, o autorrespeito do
para configuração do crime se a medida protetiva, indivíduo, alimentado pelo respeito que o
objeto do descumprimento, foi deferida por um juiz educador tem dele. As cerimonias de
cível ou criminal. (BRASIL, art. 24-A, §1º, da Lei n. degradação no início da detenção, com as
11.340/2006). quais o encarcerado é despojado até dos
símbolos exteriores da própria autonomia
Com essa breve análise da Lei Maria da
(vestuários e objetos pessoais), são o
Penha, verifica-se um robusto regramento no sentido oposto de tudo isso. A educação promove
de tornar mais eficaz a resposta penal aos conflitos o sentimento de liberdade e de
de natureza criminal ocorridos no âmbito das espontaneidade do indivíduo; a vida no
relações domésticas e familiares contra a mulher a cárcere, como universo disciplinar, tem
partir do ano de 2006. um caráter repressivo e uniformizante.

2 JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO FORMA


ALTERNATIVA DE RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS E PROMOÇÃO DA CULTURA A Justiça Restaurativa surge como
DE PAZ contraponto à Justiça Retributiva, procurando atuar
de forma complementar face as falhas apresentadas
O modelo tradicional de justiça criminal pelo modelo retributivo.
implementado pelo Estado tem como objetivo Os métodos restaurativos são aplicados
primordial a aplicação das penas, dentre as previstas visando as necessidades e direitos das vítimas, assim
no texto constitucional e infralegal: privativas de como a responsabilização do agressor. São práticas
liberdade, restritivas de direitos e pecuniárias. autocompositivas de resolução de conflitos que se
Tais sanções são revestidas do discurso propõem a restaurar as relações como forma de
falacioso penal clássico da dupla utilidade da pena: pacificação social.
retribuição e prevenção, que cai por terra Os sistemas restaurativos procuram
especialmente frente à falência do sistema promover o encontro entre a vítima e o ofensor por
penitenciário8 em cumprir primordialmente sua meio do diálogo e do consenso, proporcionando:
finalidade preventiva em ampla dimensão. reconhecimento dos traumas causados com o dano

8
Nesse sentido importante verificar a declaração penitenciário brasileiro no julgamento da ADPF n.
do estado de coisas inconstitucional no sistema 347 do STF.

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(infração), reparação do dano, responsabilização do no Brasil (BITTENCOURT, 2017, p 5), mas Pinho
infrator e restauração das relações que foram (2009, p. 246) adverte que:
rompidas colaborando para uma convivência Por consequência natural, os conceitos da
pacífica e para a cultura de paz entre as vítimas, justiça restaurativa chegaram ao Brasil,
infratores, família e a comunidade, ou seja, de uma principalmente a partir da observação e o
forma geral todos que foram afetados em alguma estudo do direito comparado, trazendo a
perspectiva pela prática da infração, serão baila suas premissas, aplicações e
coresponsáveis por encontrar soluções. (ACHUTTI, experiências que lograram êxito. Por
2016). isso, é necessário registrar que o modelo
restaurativo no Brasil não é cópia dos
A justiça restaurativa concebe o crime não
modelos estrangeiros, pois nosso modelo
como mera violação à lei, mas como um dano é restritivo, e carece de muitas
causado a alguém que deve ser reparado. (ZEHR, transformações legislativas para a
2010, p.174) aplicação integral da justiça restaurativa.
Os processos restaurativos visam a Ademais, como a justiça restaurativa é um
responsabilidade, a restauração e a reintegração processo de constante adaptação, é de bom
elucidados com os três “R” descritos por Luz (2016, alvitre sempre a adequação necessária à
p. 105). realidade brasileira.
Em relação a responsabilidade cada autor O tema da justiça restaurativa passou então
deverá responder pelas suas ações. É baseada na por várias discussões e conferências internacionais
tentativa de amenizar o sofrimento e as perdas que que frisavam a importância da vítima e da reparação
foram causadas pelo crime, nesse sentido, se difere dos danos que sofria, sobretudo edições de
da responsabilização da atual justiça retributiva que resoluções com o desenvolvimento das práticas
visa a punição atribuindo dor, vexame e humilhação. restaurativas.
A restauração é uma forma de minimizar ou Em 1999 surgiu a Resolução n° 26 intitulada
curar as sequelas provenientes da infração penal, ou “Elaboração e aplicação de medidas de mediação e
seja, havendo algum trauma causado pelo crime, Justiça Restaurativa em matéria criminal” aprovada
deverá ser promovida a restauração dos efeitos desse pelo Conselho Econômico e Social da ONU
trauma, o que não significa impunidade para o (ECOSOC), com o pedido para a Comissão de
agressor, há obrigação e responsabilização pelo Prevenção do Crime e de Justiça Criminal analisasse
crime. a utilidade de se desenvolver padrões das Nações
A reintegração é tentar restabelecer os Unidas sobre mediação e justiça restaurativa; e em
relacionamentos prejudicados decorrentes do delito. 2000 a Resolução n° 14 Intitulada “Princípios
Com a ajuda de mediador imparcial, promove-se a básicos sobre a utilização de programas de Justiça
reaproximação dos envolvidos, fortalecendo os Restaurativa em matéria criminal”, com o pedido
relacionamentos que foram afetados. Tem o objetivo sobre a viabilidade de meios para estabelecer
de auxiliar ofensores, vítima e comunidade a princípios comuns para a aplicação de programas de
continuarem suas vidas mesmo com as lesões justiça restaurativa em matéria criminal, e
sofridas. elaboração de um novo instrumento para se alcançar
A origem da Justiça Restaurativa decorre do o objetivo pretendido. (RESOLUÇÃO N° 26/1999 e
conceito de Justiça Comunitária, onde o crime era RESOLUÇÃO N° 14/2000 ONU - ECOSOC)
tido como um conflito social resolvido com reuniões No entanto, o marco jurídico de maior
entre o infrator e a vítima com o objetivo de reparar relevância foi a edição da Resolução n° 12 de 2002
o dano e restaurar os laços sociais entre as partes. do Conselho Social e Econômico da Organização
Esses modelos de Justiça são provenientes das das Nações Unidas, que foi dividida em cinco seções
comunidades indígenas canadenses e nativos norte- que abordam: a definição de justiça restaurativa, o
americanos e culturas africanas ancestrais. seu uso, a operacionalidade dos programas de justiça
(JACCOUD, 2005, p. 164) restaurativa, quem são seus facilitadores e suas
Em 1970, na Nova Zelândia, o termo Justiça funções, o desenvolvimento contínuo dos programas
Restaurativa trouxe a ideia de transformação do determinados por um conjunto de 23 princípios
agressor frente ao seu comportamento, de forma que orientadores, e os resultados pretendidos.
realizasse três ações fundamentais: a reparação, (ACHUTTI, 2016, p. 74).
forma como efetua sua responsabilização frente ao A Resolução n° 12/2002 no seu item 1, faz
dano, a restauração, e a reconciliação com a vítima menção a terminologia de Justiça Restaurativa:
e a comunidade (ALMEIDA e PINHEIRO, 2017, p. “programa de Justiça Restaurativa significa
181) qualquer programa que use processo restaurativo e
A Justiça Restaurativa já foi adotada em objetive atingir resultados restaurativos".
muitos países, tais como a Nova Zelândia, Austrália, (RESOLUÇÃO DA ONU, N °12/2002)
Estados Unidos, Canadá, África do Sul, e inclusive Destaca ainda a referida Resolução (ONU,
n°12/2002) que:

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Qualquer processo no qual a vítima e o comunicação, ou seja, há autonomia das partes para
ofensor, e quando apropriado, quaisquer resolver seus próprios conflitos.
outros indivíduos ou membros da
comunidade afetados por um crime, Luz (2016, p. 125) enfatiza:
participam ativamente nas resoluções das
questões oriundas do crime, geralmente A mediação [...] é obtida mediante um
com ajuda de um facilitador. Os processos acordo, firmado entre a vítima e o ofensor,
restaurativos podem incluir a mediação, a com auxílio do Estado responsável por
conciliação, a reunião familiar ou propiciar, por exemplo a mediação, o
comunitária, ou círculos decisórios. ambiente adequado e a capacitação dos
Resultado restaurativo significa um mediadores. A responsabilização do
acordo construído no processo ofensor, aqui, é consensual, obtida
restaurativo[...]incluem respostas e mediante um acordo entre este e o
programas tais como reparação, ofendido com vistas a apaziguar, diminuir
restituição, e serviço comunitário os efeitos danosos do crime.
objetivando atender as necessidades O procedimento da Justiça Restaurativa
individuais e coletivas e responsabilidade acontece por meio de técnicas de medicação ou
das partes, bem assim promover a
reintegração da vítima e do ofensor [...]
conciliação para que o objetivo de restauração seja
efetivo e que promova a resolução do conflito.
De acordo com a normativa da ONU, o De acordo com Charlise Gimenez e Fabiana
processo restaurativo é toda prática na qual a vítima Spengler (2018, p. 253):
e o ofensor, e quando necessário outros indivíduos,
O Modelo Restaurativo, integra o
participam da resolução dos conflitos advindos do mediador, a vítima, o agressor, a família
dano/crime, e nesse processo a figura do facilitador deste (amigos, vizinhos, colegas de escola
será de grande importância para o alcance da ou de trabalho, membros de agremiações
solução eficiente, que é aquela que beneficia a desportivas e de congregações religiosas),
vítima de fato no resgate dos danos, fragilidades, bem como profissionais de área,
traumas, e anseios gerados com a infração, representantes de comunidade, ou seja,
reparando o conflito e responsabilizando o agressor, pessoas ou entidades que tenham sido
possibilitando assim uma futura ressocialização do afetadas pela prática do crime e que
mesmo ao reconhecer o mal que causou. tenham como desejo a restauração dos
valores de segurança, justiça, solidarismo,
Esse processo, além de reparar o dano, pode responsabilidade, comunitarismo e
promover a restauração e fortalecimento das civismo.
relações interpessoais até então rompidas com a
violência. Existem quatro tipos de processos
Para Zehr (2010, p. 6), “A Justiça restaurativos ou práticas restaurativas como
Restaurativa coloca as necessidades da vítima no menciona Arlé (2016, p. 82), porém diversas podem
ponto de partida do processo. A responsabilidade ser as práticas usadas para se alcançar o objetivo.
pelo ato lesivo e a obrigação de corrigir a situação A mediação penal é conhecida como
devem ser assumidas pelo ofensor”. mediação vítima-ofensor onde há a participação
A fim de alcançar as práticas restaurativas, a voluntária da vítima, do ofensor e um mediador que
participação de um mediador é primordial para esse irá facilitar o processo restaurativo para a resolução
processo, pois será um facilitador da comunicação do conflito.
entre a vítima e o ofensor. O que se deseja, no Zehr (2010, p. 25) enfatiza, que “a mediação
entanto, é que as partes possam se manifestar sobre vítima-ofensor empodera os participantes, põe em
o delito e que o agressor reconheça a sua cheque as representações equivocadas, oferece
responsabilidade, incluindo formas de resolver o ocasião para troca de informações e incentiva ações
conflito, reparação dos danos, e a satisfação com o com o propósito de corrigir a situação”.
resultado. São nos encontros que as partes poderão
A mediação é um instituto que exige a vivenciar emoções como ódio, ressentimento,
participação voluntária com o objetivo de resolver vingança, medo e buscar o acordo restaurativo.
um litígio onde as partes recorrem a um terceiro que Os facilitadores reúnem as vítimas e os
será imparcial e estranho. Este terceiro é um ofensores separadamente para que se perceba se
mediador, um facilitador que possibilita o diálogo haverá ou não encontros e uma possível reparação
entre as partes intermediando a relação conflituosa do dano causado. Serão esclarecidas todas as etapas
para uma possível solução. Seu papel é fazer com do processo restaurativo e a regra da
que as partes identifiquem seus interesses e confidencialidade absoluta, deixando claro que nada
necessidades na busca de um acordo. que será exposto será utilizado como provas em
Este acordo não deve ser obrigatório ou casos de processos cíveis ou criminais. Em seguida,
imposto, deve ser firmado apenas pelas partes onde o facilitador promoverá o encontro entre vítima e
o mediador só irá facilitar a transição por meio da

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ofensor manifestando possíveis acordos ESTADO: ANÁLISE CRÍTICA A PARTIR


restaurativos e soluções que contemplem ambos. DOS PARADIGMAS DA CRIMINOLOGIA
O mediador não é Juiz, logo ele não julgará CRÍTICA E DA CRIMINOLOGIA
nada do que será revelado nos encontros de FEMINISTA
mediação. Ele é o facilitador para que as partes
possam falar e ouvir de maneira pacífica. A Lei Maria da Penha vem sendo
As conferências familiares/restaurativas são considerada por uma ampla maioria dos defensores
mais amplas e são utilizadas como um processo dos direitos humanos um avanço no Sistema
restaurativo onde são incluídos os membros da Internacional de Proteção dos Direitos Humanos,
família da vítima e ofensor, amigos e outros que até então era um sistema apenas genérico e
membros da comunidade, além de profissionais abstrato de proteção dos direitos humanos de toda e
como membros de Serviço Social ou Psicólogos. O qualquer pessoa, e que passou a coexistir com um
foco é o ofensor, podendo conter propostas para sistema especial de proteção de grupos específicos
reparação de danos, pedido de desculpas, de pessoas, que passaram a gozar de uma tutela
restituições e formas de prevenção de outros delitos. particularizada em razão de sua vulnerabilidade
Os círculos restaurativos são aplicados nos histórica. O que pode ser verificado também com a
casos em que além da ruptura entre vítima e ofensor, proteção especial de crianças, adolescentes e idosos,
também ocorre o rompimento de relações entre a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente e
ofensor e a comunidade. Estes círculos de conversa do Estatuto do Idoso.
envolve as vítimas, os ofensores, amigos, familiares, Esse sistema criou um conjunto de ações
a comunidade e os facilitadores que favorecem o afirmativas, ações estas que viabilizam a
diálogo na construção de soluções satisfatórias necessidade de implementação de políticas
inerentes ao interesse de todos. discriminatórias em favor do gênero feminino.
Neste modelo de justiça restaurativa, as Nesse sentido, a Jurisprudência do Supremo
reuniões ocorrem com pessoas sentadas no chão ou Tribunal Federal em comento nos relata:
em cadeiras formando um círculo, as quais poderão O artigo 1º da Lei 11.340/2006 surge, sob
se expressar quando tem em mãos um “bastão da o ângulo do tratamento diferenciado entre
fala” ou qualquer outro objeto que represente este os gêneros - mulher e homem -, harmônica
comando. Neste círculo a mediação será promovida com a CF, no que necessária a proteção
por um facilitador que organizará todo o processo. ante as peculiaridades física e moral da
(ARLÉ, 2016, p. 35) mulher e cultura brasileira. O artigo 33 da
Lei 11.340/2006, no que se revela a
De acordo com Achutti (2016, p.58 e 81) é
convivência de criação dos juizados de
“um processo consensual que envolve todos aqueles violência doméstica e familiar contra a
que se considerem diretamente afetados pelo delito, mulher, não implica usurpação da
na busca de uma resolução que abranja as competência normativa dos estados
necessidades de todos”. Para ele esses círculos quanto à própria organização judiciária
funcionam de duas maneiras: “Círculo de cura” que [...] O artigo 41 da Lei 11.340/2006,
busca restaurar a paz que foi afetada pelo conflito na afasta, nos crimes de violência doméstica
comunidade e o “círculo de sentença” que tem a contra a mulher, a Lei 9.099/1995, mostra-
presença de um Juiz. Ambos servem para restaurar se em consonância com o dispositivo no
parágrafo 8º do artigo 226 da Carta da
a paz por meio da cura e da reparação.
República, a prever a obrigatoriedade de o
Em resumo Zehr (2012, p.36) nos explica: Estado adotar mecanismos que coíbam a
A Justiça Restaurativa se ergue sobre três violência no âmbito das relações
pilares ou elementos simples: os danos e familiares.
as consequentes necessidades (de vítimas (STF, Coletânea Temática de
em primeiro lugar, mas também da Jurisprudência, Direito Penal e Processual
comunidade e dos ofensores); Penal: ADC 19, Rel. Min. Marco Aurélio,
as obrigações (do ofensor, mas também j.9-2-2012, P, DJE de 29-4-2014, p.4)
da comunidade) que advêm do dano (e que
Lei motivou o aumento de denúncias de
levaram ao dano); e
o engajamento daqueles que detêm
violência contra a mulher já a partir de 2006, ano de
legítimo interesse no caso e na solução seu advento.
(vítimas, ofensores e membros da O Ministério dos Direitos Humanos (MDH),
comunidade) ”. que administra a Central de Atendimento à Mulher
em situação de violência, o ligue 1809, registrou no
3 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E A 1º semestre (janeiro a julho) de 2018 quase 80 mil
EXPANSÃO DO PODER PUNITIVO DO

9Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180 atender mulheres em situação de violência,


foi criada em 25 de novembro de 2005 para serviço oferecido pela Ouvidoria Nacional dos

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denúncias classificadas como violência doméstica. condição de mulher, seja por parte de ex-
As principais denúncias por agressões são de cárcere companheiros, companheiros ou desconhecidos.
privado, violência física, psicológica, obstétrica, Frente a esse cenário de expansão punitiva do
sexual, moral, patrimonial, tráfico de pessoas, Estado com leis mais recrudescedoras contra a
homicídio e assédio no esporte. violência doméstica e familiar à mulher, cumpre
Entre os relatos de violência, 63.116 foram destacar a necessidade do diálogo entre a
classificados como violência doméstica, entre eles criminologia crítica e a criminologia feminista.
27 mil de feminicídios, 51 mil de homicídios, 547 Nessa perspectiva, a criminologia crítica
mil de tentativas de feminicídios e 118 mil tentativas estuda os processos de criminalização produzindo
de homicídios. Os relatos chegaram a 79.661 sendo uma dura crítica contra a atuação do sistema de
a maioria referente a violência física (37.396), justiça criminal, analisando que a pena não cumpre
violência psicológica (26.527), violência moral com sua proposta ressocializadora. Para esta
(3.710), violência sexual (6.471) e violência vertente criminológica a expansão do controle penal
patrimonial (1.580). (MDH, 2018) e da criminalização não são eficazes na prevenção
O ligue 180, nos primeiros seis meses de da violência, inclusive a de gênero. Segundo Soraia
2019, recebeu 46.510 denúncias, um aumento de da Rosa Mendes (2014, p.61):
10,93% em relação ao mesmo período do ano Para a criminologia crítica o sistema penal
anterior de violações contra os direitos das nasce com uma contradição. De um lado,
mulheres. (Ministério da Mulher, da Família e dos afirma igualdade formal entre os sujeitos
Direitos Humanos – MMFDH e Central de de direito. Mas, de outro, convive com a
Atendimento à Mulher – ligue 180) desigualdade substancial entre os
De acordo com o relógio da violência 10, a indivíduos, que determina a maior ou
cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência menor chance de alguém ser etiquetado
criminoso.
física ou verbal no Brasil, a cada 2.6 segundos uma
mulher é vítima de ofensa verbal e a cada 6.3 Por sua vez, os movimentos feministas
segundos de ameaça de violência. ressaltam a relevância das questões de gênero, das
Segundo a pesquisa realizada pela Datafolha desigualdades entre homens e mulheres e as
e Fórum Brasileiro de Segurança Pública 536 opressões advindas deste contexto para construir
mulheres foram vítimas de agressões físicas a cada uma posição no sentido de enfatizar a importância
hora em 2018. de colocar a mulher no centro da preocupação do
Diante desta realidade de violência contra a direito penal, como uma política de ação afirmativa
mulher que só se agrava, o legislador optou pela indispensável para combater a violência perpetrada
expansão do poder punitivo estatal materializado na há séculos contra esse grupo vulnerável
publicação da Leis n. 11.340/2006 (Lei Maria da historicamente. (MENDES, 2014)
Penha) e n. 13.104/2015 (Lei do Feminicídio), que Nesse sentido, a criminologia feminista opta
trouxeram uma maior punibilidade para o agressor pela aplicação de novas condutas criminalizantes,
nos casos de violência contra a mulher. pelo agravamento das punições, pela introdução de
Além disso, foi publicada a Lei n. novas agravantes, majorantes e qualificadoras nos
13.641/2018 que alterou a Lei Maria da Penha para crimes já existentes, se tais inovações forem
criminalizar a conduta do agressor que descumprir necessárias para garantir a segurança feminina.
decisões judiciais em torno das medidas protetivas Embora a grande maioria das feministas
de urgência, o que já foi mencionado. prezem pelo fomento a políticas de expansão penal
A Lei n. 13.104/2015 além de tipificar o no campo da violência contra a mulher, há uma
feminicídio como uma qualificadora do homicídio, crítica feminista do direito penal, que reconhece o
estabelece que este passa também a ser considerado sistema penal como desigual, e produtor do processo
delito hediondo, sujeitando-se ao tratamento mais de revitimização no campo da tutela de gênero.
rigoroso dispensado a tais infrações. Nessa perspectiva se apresentam os estudos
Para que seja considerado feminicídio as de Vera Regina Pereira de Andrade (2012, p. 312),
situações devem envolver violência doméstica e afirmando que: “apenas o método punitivo, fator de
familiar contra a mulher, ou discriminação à reprodução criminológica, não é capaz de
administrar a violência” e salienta mais:

Direitos Humanos do Ministério dos Direitos http://www.mdh.gov.br/informacao-ao-


Humanos (MDH), sendo considerado uma cidadao/ouvidoria/relatorios-ligue-180.
política pública para o enfrentamento da
10
violência, regulamentado pelas Lei de n° Os dados têm como referência a pesquisa
10.714/2013, Decreto de n° 7.393/2010 e Lei de Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de
n° 13.025/2014. Os relatórios podem ser Segurança Pública e pelo Instituto Maria da Penha.
acessados pelo sítio:

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O sistema não apenas é estruturalmente A partir do momento que o Estado usurpou a


incapaz de oferecer alguma proteção à vítima da resolução do conflito, substituindo o dano
mulher, como a única resposta que está pela infração, dando lugar à vingança pública,
capacitado a acionar – o castigo- é aquela foi colocada em segundo plano, assim como
desigualmente distribuído e não cumpre as
funções preventivas (intimidatória e
seus interesses reparatórios, prevalecendo no campo
reabilitadora) que se lhe atribui. Nesta do processo penal tradicional o mero fim retributivo
crítica se sintetizam o que denomino de penal, expresso pelo castigo a ser infligido com a
incapacidade protetora, preventiva e aplicação da pena, que tem caráter meramente de
resolutória do sistema de justiça criminal. censura, não se observando na aplicação desta o
Segundo Andrade (2005, p. 93) “a vítima que alcance da reparação do dano provocado contra a
acessa o sistema requerendo o julgamento de uma vítima. (ACHUTTI, 2016, p. 40).
conduta definida como crime, acaba por ver-se ela A justiça restaurativa surge então com a
própria julgada, incumbindo-lhe provar que é uma principal característica de ser um modelo diferente
vítima real e não simulada”. para a resolução de conflitos, que não impede o
Portanto, esse sistema de justiça criminal castigo advindo do delito, mas que procura
contribuiria para mais vitimização e violência contra promover o diálogo objetivando solucionar os
as mulheres, além de contribuir para discriminação conflitos de forma coletiva, tendo a mediação como
e humilhação. instrumento primordial para o encontro da vítima,
Contudo, harmonizar a criminologia crítica e infrator e demais pessoas que queiram contribuir.
a criminologia feminista pode constituir um grande As práticas restaurativas buscam como
avanço no que se refere ao combate e redução da resultados fundamentais, de acordo com GRECCO
violência doméstica e familiar contra a mulher. et. al. (2014, p. 55), o “reconhecimento de
Para Mendes (apud Souza, 2016) é possível a responsabilidades; aumento do entendimento das
construção de uma criminologia feminista, que não razões e consequências da ofensa; reparação dos
poderá ser identificada como a única, considerando danos e correção das ações; atenção e atendimento a
a ampla variável de feminismos e suas vertentes dores e sofrimentos”.
epistemológicas, mas é possível “a construção de Zehr expõe conclusões de possíveis
um referencial epistemológico que, sem abrir mão resultados que podem advir da aplicação de métodos
da crítica ao Direito Penal, perceba, reconheça e restaurativos em casos de violência de gênero. Nesse
trabalhe os processos de criminalização e sentido expõe:
vitimização das mulheres sob a perspectiva de Aquilo que a vítima vivencia com a
gênero”. experiência de justiça é algo que tem
Nilo Batista (2009, p.19 apud BARATTA, muitas dimensões [...]. As vítimas
1999, p. 79), enfatiza: precisam ter certeza de que o que lhes
aconteceu é errado, injusto e imerecido.
Que os encontros dessas duas Precisam de oportunidades de falar a
criminologias não podem ser ignorados verdade sobre o que lhes aconteceu.
em que pese a criminologia crítica e Profissionais que trabalham com mulheres
feminista não podem ser duas coisas vítimas de violência doméstica sintetizam
diversas; devem, necessariamente, as necessidades delas usando termos como
constituir uma única. Desse encontro “dizer a verdade”, “romper o silêncio”,
resultaria uma correção de rumos na “tomar público” “deixar de minimizar. ”
política criminal perfilhada por certos (ZEHR, 2010, p. 171)
setores do movimento de mulheres.
Esse processo da prática restaurativa tem
Em suma, observa-se o surgimento de uma como finalidade contribuir para que haja
preocupação coletiva dos movimentos feministas e responsabilização e mudança de hábito nas condutas
crítico no sentido de buscar respostas mais eficazes viciosas e desenvolvam uma melhor maneira de
e satisfatórias no tratamento dessa questão, para que lidar com as vítimas, ofensores e a comunidade,
haja mudanças significativas no tratamento dos priorizando os interesses dessas partes e deixando o
conflitos relacionados à violência de gênero em Estado de possuir totalmente a responsabilidade
nossa sociedade. sobre a tomada de decisão.
Diante do exposto, há posicionamentos
4 APLICAÇÃO DO MODELO contrários onde a justiça restaurativa não é
RESTAURATIVO E SUA EFICÁCIA recomendada para casos de violência contra a
PREVENTIVA NA RESOLUÇÃO DE mulher. Alguns posicionamentos entendem que os
CONFLITOS RELACIONADOS À encontros entre os envolvidos contribuem para gerar
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A mais vitimização e revitimização das mulheres que
MULHER: UMA ANÁLISE CRÍTICA A se encontram em desigualdade, visto que, as
PARTIR DO PARADIGMA DA relações a serem desenvolvidas nas estruturas de
CRIMINOLOGIA FEMINISTA aplicação e operacionalização das práticas

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restaurativas podem, e provavelmente estão direitos nos espaços institucionais, aqueles


baseadas nas categorias de gênero de dominação exercidos pelos órgãos e seus agentes em
masculina, que prejudica o equilíbrio entre as partes. decorrência da violência doméstica ou sexual,
(POZZOBON; LOUZADA, 2013, p. 7)Outros passam por estresse, humilhação, medo, vergonha e
posicionamentos afirmam ainda que a violência mais transtornos psicológicos, isso porque segundo
doméstica, a partir do instrumento da prática Campos (1999, p. 112-1130) “[...], não é apenas um
restaurativa, poderia ter sua importância meio ineficaz para a proteção das mulheres contra a
minimizada, sendo representada pelos envolvidos violência, como também duplica a violência
como um delito que volta a ser tratado como de exercida contra elas, não previne novas violências”.
menor gravidade. Uma outra crítica a justiça restaurativa é a
Pozzobon e Louzada (2013, p. 8) dizem que dificuldade no monitoramento dos resultados dessas
“faltaria à justiça restaurativa a carga intimidatória práticas, ou seja, se efetivamente as
necessária para coibir as condutas agressivas” contra responsabilidades assumidas pelos ofensores são, de
a mulher no âmbito da unidade doméstica e familiar, fato, cumpridas e se não há novas violações no
levando os interlocutores às conclusões indevidas ambiente familiar e doméstico.
acerca da gravidade do dano causado. De acordo com Vera Regina Pereira de
Soraia da Rosa Mendes (Portal Andrade (2015, p. 76) sobre os processos que
Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha, revitimizam as mulheres, esclarece:
2017) destaca que embora tenham profissionais que A passagem da vítima mulher ao longo do
garantem que a justiça restaurativa possa, de fato, controle social formal acionado pelo
restaurar as relações, tais práticas restaurativas e a sistema de justiça criminal implica, nesta
mediação podem favorecer a revitimização nos perspectiva, vivenciar toda uma cultura da
casos em que a violência é baseada na diferença discriminação, da humilhação e da
entre os gêneros, e diante disso seria uma forma de estereotipia. Pois, e este aspecto é
contribuir para que outras violências relacionadas a fundamental, não há uma ruptura entre
relações familiares (pai, padrasto,
mulher voltem a acontecer, ou seja, tentar restaurar
marido), trabalhistas ou profissionais
uma relação violenta pode ocasionar a exposição (chefe) e relações sociais em geral
dessas mulheres a constrangimentos o que seria (vizinhos, amigos, estranhos, processos de
ineficaz para a proteção dessas vítimas. comunicação social) que violentam e
Por meio do portal acima citado, Soraia da discriminam a mulher, e o sistema penal
Rosa Mendes em entrevista ocorrida em 29/08/2017 que a protegeria contra este domínio e
ao ser questionada sobre a justiça restaurativa, opressão, mas um continuum e uma
enfatiza que: interação entre o controle social informal
exercido pelos primeiros (particularmente
Considerando o nosso contexto e as a família) e o controle formal exercido
características da violência doméstica e pelo segundo.
familiar, pensar a justiça restaurativa em
uma situação que claramente coloca a Diante disso, existe na prática ainda um
mulher em hipossuficiência – ou seja, em distanciamento de tais processos restaurativos, nos
condição de desigualdade de poder por quais as mulheres vítimas de violência doméstica,
seu gênero – é colocá-la dentro de um familiar e íntima não se sentem à vontade para
novo expediente que só vai fazer aumentar participar das mediações e nem preparadas para se
a possibilidade de que outras violências encontrarem com seus agressores, e com isso o
aconteçam. Nesse sentido, não é nem um
Estado responsabiliza os culpados pelos crimes com
pouco recomendável esta prática – e, mais
uma vez, ressalto que isto não significa base no processo penal meramente retributivo,
desconsiderar de forma alguma a aplicando apenas as penas cabíveis no campo da
importância da justiça restaurativa, do justiça penal tradicional, sem atentar para a
debate sobre a despenalização, mas se reparação dos danos e restauração dos laços
trata de evitar a revitimização de mulheres familiares e/ou sociais.
no contexto que vivemos hoje em dia. Contudo, os favoráveis às práticas
(PORTAL COMPROMISSO E restaurativas alegam a importância de
ATITUDE PELA LEI MARIA DA implementação desta na resolução de conflitos de
PENHA, 2017)
natureza criminal, incluindo a violência de gênero.
A grande preocupação dos movimentos Conforme Zaffaroni (2013, p. 19-20) em
feministas com as práticas restaurativas encontra-se relação a prática retributiva, essa deixa que o sistema
na possibilidade de revitimização das mulheres, de justiça criminal “decida determinada questão e a
sobretudo no que se refere nas relações desiguais de imponha sendo única e universal e com isso impede
poder às quais estão submetidas no âmbito familiar que a mulher se expresse e tenha liberdade de
e doméstico. escolha, que ignora a mulher, sua história e seus
Nessa esfera, a problemática também se desejos para a solução do conflito”.
insere, uma vez que as mulheres ao procurarem seus

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A justiça restaurativa ainda é relativamente criminalidade. O projeto se vale dos círculos


recente no Brasil, e por isso o balanço analítico restaurativos para dialogar sobre o conflito
acerca da política nacional de implementação referente à violência doméstica.
promovida pelo CNJ no Brasil ainda é muito 5. Em Tocantins através do Sistema de Justiça
prematuro. com a parceria da Escola Superior da
Magistratura Tocantinense e a edição da
Achutti, concordando com os apontamentos Resolução nº 25/2014 pelo Tribunal de
de Pallamolla (apud 2016, p. 60) informa que além Justiça do Estado do Tocantins foi insituiído
da difícil tarefa de definir a natureza da justiça o projeto “Agentes da Paz”, projeto que
restaurativa, não menos difícil também são os promove ações pedagógicas na rede de
apontamentos de seus objetivos: ensino pública e privada. Além desse projeto,
As dificuldades também atingem os o Tribunal de Justiça do Tocantins propôs o
objetivos desde modelo, direcionados a Programa desenvolvido pela 2ª Vara
conciliação e reconciliação entre as partes, Criminal, Vara de Execuções Penais e
a resolução do conflito, a reconstrução dos CEPEMA da Comarca de Araguaína/TO,
laços rompidos pelo delito, a preservação chamado “Aplicação de Círculos
da reincidência e a responsabilização, Restaurativos nas ações penais e execuções
dentre outros, sem que estes objetivos, penais no âmbito do Judiciário
necessariamente, sejam alcançados ou
Tocantinense”.
buscados simultaneamente em um único
procedimento restaurativo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desta pesquisa investigou-se na
esteira da política pública nacional da Justiça O presente estudo se propôs a analisar a
Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário aplicabilidade da justiça restaurativa no âmbito da
incentivada pela resolução n. 225/2016 do CNJ violência doméstica, familiar e íntima de afeto
alguns projetos de implementação de sistemas contra a mulher a partir dos paradigmas da
restaurativos no país, cujos principais cita-se abaixo: criminologia crítica e feminista procurando levantar
1. Projeto Sementes da Paz – Desenvolvido no as diferentes teses argumentativas acerca da possível
âmbito do Tribunal de Justiça do Estado do revitimização da mulher frente à aplicação de algum
Rio de Janeiro. Possui como público-alvo método restaurativo no tratamento da violência de
professores da rede estadual que serão gênero.
capacitados na área da violência doméstica Ao investigar sobre a violência doméstica,
contra a mulher através de palestras e grupos familiar e íntima de afeto contra a mulher
reflexivos, com o fim de aplicarem no considerou-se a Lei nº 11.340/2006, Lei Maria da
processo educacional um olhar crítico e Penha, como um avanço no campo das garantias dos
preventivo junto aos estudantes. direitos humanos, que toma assento ao lado de um
2. Grupo reflexivo de gênero com homens em sistema até então apenas genérico e abstrato de
situação de violência doméstica do Juizado proteção dos direitos humanos de toda e qualquer
de Violência Doméstica e Familiar contra a pessoa, e se consolida como uma política de
Mulher da Comarca de São Gonçalo – Como proteção de um grupo especial, que passa a gozar de
proposta de reinserção social, e também uma tutela particularizada, em razão de sua
como uma forma inovadora de lidar com a vulnerabilidade ao longo da história.
violência de gênero a equipe técnica da A lei Maria da Penha no que tange as
Central de Apoio e Acompanhamento de medidas protetivas de urgência sofreu duas recentes
Penas e Medidas Alternativas à Prisão - e importantes alterações que ocorreram com o
CPMA/SG, composta por assistentes sociais advento das Leis 13.641/2018 e 13.827/2019, que
e psicológos desenvolvem grupos reflexivos primeiro previu o crime de descumprimento de
de pais envolvidos em situação de violência medida protetiva, e depois possibilitou a aplicação
doméstica. da medida de afastamento do agressor do lar de
3. Grupo Reflexivo de apoio à vítimas e Grupo forma imediata, em caso de atual ou iminente risco
reflexivo de autores de violência doméstica à integridade ou vida da vítima.
da Comarca de Teresópolis, que A política pública nacional de
desenvolvem trabalho semelhante ao caso implementação da Justiça Restaurativa no Brasil foi
acima. destacada, especialmente, através do advento da
4. Projeto “Violência Doméstica Circulando Resolução n. 225/2016 do CNJ, expondo-se as
Relacionamentos” na Comarca de Ponta origens, conceitos e métodos de justiça restaurativa,
Grossa no Paraná cujo objetivo principal é o com destaque para a mediação vítima-ofensor,
resgate da autoestima e o empoderamento da conferências familiares e os círculos restaurativos,
mulher vítima de violência de gênero, com o sistemas mais utilizados em casos de conflitos de
fim de conter a reincidência dessa forma de

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natureza criminal relacionados com violência de Entretanto, a preocupação da criminologia


gênero contra mulheres. feminista quanto a aplicação dos sistemas
Destacou-se ainda os estudos relacionados à restaurativos e a possibilidade de produção da
criminologia crítica e à criminologia feminista. revitimização devem estar em primeiro plano, tendo
Se de um lado a criminologia feminista se em vista ser possível a atuação de profissionais que
preocupa com o grave quadro histórico de violência reproduzindo um mero discurso da harmonia do lar,
de gênero e defende o uso da tutela penal como podem levar ao silenciamento da vítima,
mecanismo necessário para coibir e prevenir esta comportamento em geral já conhecido por ela, e
forma de criminalidade. De outro lado, a consequentemente devolvê-la para o ciclo de
criminologia crítica considera o atuar do Sistema de dominação masculina, conduzindo-a para formas de
Justiça Criminal seletivo, estigmatizante e violência ainda mais graves, conforme articulou
meramente repressivo, impossibilitando qualquer Mendes. (PORTAL COMPROMISSO E ATITUDE
perspectiva ressocializadora do agressor, PELA LEI MARIA DA PENHA, 2017)
especialmente dentro do sistema social da prisão que Contudo, os favoráveis as práticas
reproduz as categorias de raça, classe e gênero que restaurativas alegam o reconhecimento das mesmas
determinam a dominação masculina. como eficazes na resolução de conflitos, reparação
Por fim, debruçou-se sobre a aplicação do de danos e restauração de laços familiares e sociais,
modelo restaurativo na resolução de conflitos especialmente no caso da existência de filhos
relacionados à violência doméstica, familiar e íntima menores, construção de autoestima das vítimas,
de afeto contra a mulher a partir do paradigma da além de já haver indícios de sua contribuição para
criminologia feminista, demonstrando exemplos de diminuição da violência.
projetos de iniciativa dos Tribunais de Justiça do Conclui-se pela possibilidade de agregar as
país. perspectivas de resolução de conflitos de gênero
Verificou-se que no desenvolvimento dos tanto da criminologia crítica, como da feminista, de
projetos implementados de justiça restaurativa ainda forma que coexistam interligadas a partir de um
há um longo caminho a percorrer, especialmente no projeto máximo de ações afirmativas no campo da
campo da análise da eficácia preventiva da violência prevenção e combate das desigualdades de gênero,
de gênero. Além disso, necessário se faz uma porém defendentes de um programa de direito penal
interface garantida por uma base penal e processual mínimo como um dos recursos necessários para
penal legal entre o modelo retributivo e restaurativo, coibir esse tipo de criminalidade, de forma que o
que assegure a adoção dos sistemas restaurativos em discurso feminista que o legitima, não seja taxado
todos os Tribunais do país, desde que assim desejem como fomentador e perpetuador do poder punitivo
as partes envolvidas no conflito, suprindo as falhas estatal arbitrário e violento. (MENDES, 2014, p.
do modus operandi da justiça penal tradicional no 211)
tratamento da violência de gênero, com
consequências jurídicas certas, que garantam aos REFERÊNCIAS
envolvidos segurança jurídica, assim como promova
o acesso à justiça e os fins pretendidos de ACHUTTI, Daniel Silva. Justiça restaurativa e
pacificação social e de restabelecimento das abolicionismo: contribuições para um novo modelo
relações que foram afetadas com o conflito criminal de administração de conflito no Brasil. 2. ed. Porto
de natureza de gênero. Alegre, 2016.
No Brasil, ainda se encontram muitas
barreiras para se adequar esse modelo de justiça ALMEIDA, Cristiane Roque de; PINHEIRO,
restaurativa integralmente na violência doméstica e Gabriela Arantes. Justiça Restaurativa como prática
familiar contra a mulher, porém o Conselho de resolução de conflitos. Revista desafios. V.04,
Nacional de Justiça vem incentivando projetos, n°04. 2017 p.180- 202.
movimentos e campanhas para que a mediação e
conciliação aconteçam de forma favorável, com ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Pelas
cada vez mais aprimoramentos para a construção da mãos da criminologia: O controle penal para
Justiça Restaurativa neste campo. além da (des) ilusão. Rio de Janeiro: Revan,
Acredita-se que os métodos da mediação
vítima-ofensor, as conferências familiares, os
2012.
círculos restaurativos e os grupos reflexivos de
gênero, sejam masculinos ou femininos podem __________. Soberania Patriarcal: O sistema
produzir importantes avanços no processo de de justiça criminal no tratamento da violência
desconstrução de padrões de comportamentos sexual contra a mulher. Revista Brasileira de
ditados pela dominação masculina e pela influência Ciências Criminais. Nº 48. Mai/Jun, 2005.
do machismo em todas as estruturas de disputa de
poder.

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