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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DO ESPÍRITO SANTO


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS POLICIAIS
E SEGURANÇA PÚBLICA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO
POLICIAL MILITAR E SEGURANÇA PÚBLICA
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

BRUNO CARDOSO PORTELA

PROJETO DE PESQUISA:
ANÁLISE CRIMINAL DOS FEMINICÍDIOS NA REGIÃO
METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA

CARIACICA
2021
1

BRUNO CARDOSO PORTELA

PROJETO DE PESQUISA:
ANÁLISE CRIMINAL DOS FEMINICÍDIOS NA REGIÃO
METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de


Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Policial e
Segurança Pública – Curso de Aperfeiçoamento
de Oficiais – CAO 2021, da Academia de Polícia
Militar do Espírito Santo, como requisito parcial
para a aprovação na disciplina de Metodologia de
Pesquisa, ministrada pela Profa. Dra. Valdeciliana
Ramos.

CARIACICA
2021
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 03

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 06

3 OBJETIVOS .................................................................................................... 09

4 REVISÃO TEÓRICA ....................................................................................... 10


4.1 ANÁLISE CRIMINAL E SEUS ASPECTOS FUNDAMENTAIS..................... 10
4.2 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E TEORIAS DE
GÊNERO............................................................................................................. 12
4.3 OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO............................................................. 13
4.4 MASCULINIDADES E VIOLÊNCIA............................................................... 15

5 MÉTODO E ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS................................... 18

6 CRONOGRAMA ............................................................................................. 25

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 26
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1 INTRODUÇÃO

Os feminicídios são um problema global. É o que apontam a Organização Mundial


da Saúde (2012) e a União Europeia (2017). E, particularmente, latino-americano.
Tais publicações internacionais destacam as mais altas taxas de homicídios de
mulheres e feminicídios nos países da américa central, como Honduras, e ainda da
América do Sul, como Venezuela, Colômbia e Brasil.

A pesquisa de Nowak (2012) destaca negativamente, em nível mundial, o tema da


violência contra a mulher no Espírito Santo. Em seu estudo, “Feminicídio: um
Problema Global”, destaca o Brasil e, particularmente, o Espírito Santo, no que se
refere às taxas, em 2011, de 4,3 feminicídios por 100.000 mulheres no Brasil contra
10,9 respectivamente no estado capixaba. Sua discussão aborda o feminicídio nos
contextos dos homens contra vítimas femininas, realizados por parceiro íntimo e
com uso de armas de fogo na violência letal contra as mulheres. Suas conclusões
apontam para o contexto de relacionamentos abusivos que evoluem para a
letalidade. Segundo o autor, estudos que disponibilizam dados detalhados nas
características das vítimas e perpetradores, circunstâncias, relacionamentos, e as
causas de eventos letais estão aumentando, encorajando pesquisas sobre
feminicídio e outras formas de violência armada. Tais achados seriam o caminho
para entender as características do feminicídio e o desenvolvimento de respostas
políticas baseadas em evidências, no intuito de aumentar a segurança das mulheres
ao redor do mundo.

Nesse contexto, o “Mapa da Violência 2015: Homicídios de mulheres no Brasil” de


Waiselfisz (2015), cita a recente judicialização do problema em nível nacional, a
partir da criminalização especial da violência contra as mulheres. Não somente pela
criação de leis especiais, mas também pela inserção de estruturas em todo o
sistema de justiça criminal, estratégias nas defensorias públicas, nas polícias, no
ministério público e no poder judiciário, específicas e mobilizadas para a proteção
das vítimas, punição dos agressores e prevenção à violência de gênero. Essas
criações ainda são recentes e padecem de infraestrutura e metodologia adequadas
no trato com as vítimas em grande parte dos casos. Entretanto, como marco
importante, no que se refere à criação de legislação, pode-se citar a Lei Maria da
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Penha (BRASIL, 2006), que há 15 anos criou mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher.

Mais recentemente, foi sancionada a Lei do Feminicídio (BRASIL, 2015),


classificando-o como crime hediondo. As definições dessa lei, alvo também de
críticas por parte de acadêmicos e da sociedade civil organizada, será nosso ponto
de partida para a delimitação metodológica da letalidade intencional violenta por
condição de sexo que se pretende utilizar ao longo do estudo.

A conceituação de gênero (CORDEIRO et al., 2019) surgiu como termo anglo-saxão,


originado no pós-segunda guerra pelos movimentos feministas, uma forma de
contraposição a leituras deterministas e biologizantes. Buscou-se consagrar as
diferenças entre homens e mulheres enquanto circunstanciadas por fatores sociais e
não biológicos. Almejou-se um entendimento de gênero que visava superar
possíveis naturalizações, para analisar as relações de poder assumindo um
posicionamento histórico e político aliado às transformações sociais.

Já o conceito de feminicídio foi utilizado pela primeira vez por Diana Russel em 1976
(MENEGHEL; LERMA, 2017). O fato ocorreu no Tribunal Internacional sobre Crimes
contra as Mulheres, em Bruxelas. A ideia foi evidenciar o assassinato de mulheres
devido ao fato de serem mulheres. Tal violência seria caracterizada pelo ódio e
sentimento de propriedade sobre a mulher. Existe feminicídio, portanto, quando a
agressão envolve violência doméstica e familiar, ou quando se evidencia
menosprezo ou discriminação à condição de mulher, caracterizando-se o crime letal
por razões da condição do sexo feminino.

A abordagem ao fenômeno da violência como uma temática multidisciplinar não é


mais novidade, na verdade um consenso acadêmico que representa um avanço,
mas relativamente recente. Essa visão também está presente nas perspectivas
estratégicas de boa parte dos governos democráticos e o avanço estaria justamente
em reconhecer que esse consenso nem sempre foi pacífico assim. Até os dias
atuais existem correntes, pouco ou nada cientificamente embasadas, que atribuem
aos atos violentos uma perspectiva isolada de compreensão do fenômeno social
(CERQUEIRA et al., 2003).
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Cordeiro e outros (2019) ainda alertam para a necessidade de que as políticas


públicas considerem a perspectiva de gênero na construção de ações de proteção
social, que propiciem uma assistência integral às mulheres, que atendam de forma
efetiva às especificidades do público feminino.

A partir dessas delimitações e perspectivas teórica iniciais, esta pesquisa tem como
temática principal a violência contra a mulher, particularmente os feminicídios. O
feminicídio está vinculado aos mecanismos de perpetuação da dominação
masculina, profundamente enraizados na sociedade e na cultura patriarcal
brasileiras. Segundo Waiselfisz (2015), tal agressividade, lastreada por um
preconceito vinculado à fragilidade de gênero, não é um fato historicamente novo,
mas talvez tão antigo quanto a humanidade. Entretanto, o que se apresenta como
mais singular e contemporâneo é a inquietação com tal realidade, principalmente a
partir do século XX, como pressuposto para o alcance de uma sociedade mais
humanitária e, portanto, desenvolvida.

De forma mais delimitada, o problema de pesquisa deste estudo é analisar


criminalmente as características dos crimes de feminicídios ocorridos na
Microrregião Metropolitana do estado do Espírito Santo (ES) entre os anos de 2016
a 2020, particularmente responder: quais as características criminais das práticas
dessas violências letais intencionais contra a mulher?

De acordo com Minayo (2006), a violência em sua origem é um fenômeno sócio-


histórico na evolução da humanidade. Não seria em si originalmente uma questão
de saúde pública, mas ao afetar a saúde individual e coletiva acabaria por exigir tal
intervenção em políticas específicas e a organização de práticas e de serviços nesse
setor, para sua prevenção e enfrentamento. As perdas resultantes da violência
correspondem a altos custos emocionais, sociais e com políticas de segurança
pública, que causam também graves prejuízos econômicos.
6

2 JUSTIFICATIVA

Para Campos (2015), em geral essas práticas violentas são caracterizadas por
comportamentos premeditados, lastreados pelo machismo culturalmente enraizado
na sociedade. Não há de se falar em provocação da vítima, mas em uma ação
consciente de subjugar o direito à independência feminina. O acolhimento da
justificativa da passionalidade nesses casos configuraria o acatamento do Estado a
crimes sexistas. Provoca a autora: qual violenta emoção ou passionalidade existiria
quando a motivação é sentimento de posse que impede a autodeterminação
feminina?

Compreender tal problemática é ponto crucial no desenvolvimento de soluções


efetivas que poderão ser alcançadas caso esse diagnóstico seja realizado com a
robustez científica que a temática merece. Para Campos (2015) corpos mutilados
transfiguram-se em território da dominação masculina. Nesse sentido, como vimos,
este estudo buscará contribuir para o entendimento das características criminais
inseridas no contexto da violência letal contra a mulher presentes na conduta
feminicida.

O trabalho de Saccomano (2015) é relevante por abordar as causas para o


feminicídio na América Latina. Para a autora, o número crescente de homicídios
femininos cometidos por homens nas últimas duas décadas obrigou os países latino-
americanos a tipificar o crime de homicídio de gênero como “Feminicídio”. O objetivo
dos países era aumentar a conscientização e, assim, diminuir o número de crimes.
No entanto, apesar da legislação aprovada e implementada, a taxa de feminicídio na
maioria dos países da América Latina, após uma redução inicial, aumentou
novamente. No estudo, ela investiga os fatores relacionados às mudanças nas taxas
de feminicídios. Suas descobertas apontam que a adoção de sentenças mínimas e
máximas obrigatórias, bem como a classificação de feminicídio como um crime
separado não é significativa para intervir nas taxas de feminicídios. Indica, na
verdade, que níveis muito baixos de Estado de Direito, juntamente com a falta de
mulheres na representação nos órgãos de tomada de decisão são os fatores mais
significativos para explicar variação nas tendências do feminicídio.
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Corradi et al. (2016) na publicação “Teorias do Feminicídio e seus Significados para


a Pesquisa Social”, defendem que o feminicídio é um esforço na imaginação
sociológica que obteve sucesso em transformar a percepção convencional, a
consciência pública, a pesquisa científica e a política a se fazer. O artigo revisa
como o feminicídio evoluiu na pesquisa social. Analisa as teorias mais importantes
que explicam o feminicídio: o feminista, o sociológico, as abordagens criminológicas,
as de direitos humanos e o da pesquisa decolonial. Finalmente, o artigo propõe uma
estrutura onde o feminicídio é entendido como um fenômeno social que exige uma
abordagem interdisciplinar. Os autores recomendam um modelo sistêmico e
multifacetado para melhorar a análise científica e a prevenção dessas violências.
Pressupostos desta pesquisa que se fará na Região Metropolitana de Vitória.

No trabalho “A Arquitetura do Feminicídio: o Estado, as Desigualdades e a Violência


Cotidiana de Gênero em Honduras”, Menjívar e Walsh (2017) demonstram como o
aumento da exclusão e da desigualdade em Honduras representou riscos
crescentes de insegurança para as mulheres. Na publicação, foram estudadas as
violências de gênero contra as mulheres, incluindo assassinatos motivados por
gênero (feminicídios), os atos cotidianos que podem ter contribuído em suas mortes
e a impunidade para esses crimes. Para além da análise desses assassinatos como
atos interpessoais ou vinculação à privação econômica, foram examinadas as ações
e omissões do Estado que ampliaram a violência na vida das mulheres
hondurenhas, a fim de identificar a responsabilidade política e as falhas que criam
um terreno fértil para essas mortes. Também se encontram referências a um
contexto de violência multifacetada e a distância entre os dispositivos legais,
aprovados principalmente para satisfazer as organizações internacionais e
nacionais, e seus efeitos práticos.

Estudo do United Nations Office on Drugs and Crime (2018) reúne dados sobre
diferentes fenômenos criminais, entre eles, o papel das armas de fogo nas ligações
com as desigualdades e assassinatos relacionados ao gênero. O Escritório busca
apoiar ação direcionada para aprender, compreender e fortalecer a prevenção. A
investigação oferece uma visão particular sobre os assassinatos de mulheres e
meninas motivados por questão de gênero. A análise indica que esse tipo de
violência letal exige respostas personalizadas. Assassinatos cometidos por parceiros
8

íntimos são raramente espontâneos ou aleatórios e devem ser examinados como


atos extremos em um continuum de violência de gênero, com histórico de
subnotificações e relatos ignorados.

O fato é que ao relacionarmos os dados das publicações de Waiselfisz (2015) e dos


autores Cerqueira et al. (2018) temos acesso ao ordenamento das unidades
federativas do Brasil no que se refere às taxas de homicídios de mulheres entre
2003 e 2017. O estado do Espírito Santo (ES) apresentou taxas de homicídios de
mulheres historicamente entre as mais elevadas do país, tendo sido registrado como
o mais violento em 2003 (8,6 mortes/100.000 mulheres) e como o segundo mais
violento em 2013 (9,3). Em 2013, o ES (9,3) foi precedido apenas por Roraima
(15,3).

Vitória, a capital do ES, em 2013, apresentou taxa de 11,8. Serra: 16,4. Vila Velha:
11,6. Cariacica: 14,8. Viana: 11,2. Fundão: 9,2 e Guarapari: 10,3. Observa-se,
portanto, que as taxas das cidades da Microrregião Metropolitana são ainda mais
elevadas que a média do estado, motivo pelo qual se delimitará espacialmente
nessa região este estudo, composta por todos os municípios da Microrregião.
Segundo publicação de Cerqueira entre outros (2018), em 2017 o ES foi o 5º estado
com maior taxa de homicídios de mulheres (6,7), quando a média do país foi de 4,1
mortes para cada grupo de 100.000 mulheres, e o único estado da Região Sudeste
a figurar entre os 15 mais violentos. Justificam-se, portanto, a relevância e a
delimitação espacial do estudo a partir da teoria introdutória e dos dados
previamente analisados, cujos objetivos serão expostos na próxima Seção.
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3 OBJETIVOS

Este estudo buscará analisar criminalmente as características dos feminicídios na


Microrregião Metropolitana da Grande Vitória, a fim de compreender os contextos
criminais nos quais os delitos ocorrem.
De forma mais específica, realizar-se-ão as investigações que pretendem:

a) Identificar as ocorrências de homicídios dolosos contra mulher, entre os anos


de 2016 a 2020, nas cidades da Região Metropolitana da Grande Vitória.
b) Analisar as características criminais do fato: cidade, bairro, data, horário, meio
utilizado, idade, cor da pele da vítima e se motivado por questão de gênero.
c) Categorizar, a partir da análise anterior, os feminicídios, as principais
correlações de características criminais relacionadas ao fato e às vítimas dos
crimes consumados.
Esses objetivos fundamentar-se-ão nos pressupostos teóricos que serão discutidos
na próxima Seção.
10

4 REVISÃO TEÓRICA

4.1 ANÁLISE CRIMINAL E SEUS ASPECTOS FUNDAMENTAIS

Chayney (2021) aponta que várias teorias relacionadas à geografia do crime foram
desenvolvidas ao longo dos anos, que juntas explicam por que os padrões espaciais
e temporais do crime não são aleatórios. Essas perspectivas teóricas incluem
explicações em nível médio para o crime (ou seja, no nível do bairro) e explicações
micro geográficas do crime (ou seja, na rua, no contexto doméstico ou local mais
específico). Na reunião das principais teorias da análise criminal, portanto, reside o
desenvolvimento de uma avaliação contínua sobre como diferentes técnicas podem
favorecer de maneira prática, com informações para as atividades operacionais,
investigativas e atividades de policiamento estratégico e na prevenção ao crime.

Esses são os pressupostos teóricos para que os resultados da análise do crime


possam ser usados de forma eficaz. A interpretação dos resultados da análise deve
ser baseada em princípios teóricos claros. Se não estiver claro por que um problema
de crime pode estar presente, torna-se difícil determinar o que pode ser feito para
lidar com a questão de forma eficaz. Quando os padrões do crime podem ser
interpretados de forma científica é possível identificar as atividades específicas que
poderiam ser introduzidas para contrariar os padrões observados. A teoria pode,
portanto, nos ajudar a interpretar os padrões do crime.

Brantingham e outros (1981) descrevem as quatro dimensões de cada crime: i)


jurídica (uma lei deve ser violada); ii) da vítima (alguém ou algo deve ser visado); iii)
do ofensor (alguém deve cometer o crime); iv) a dimensão espacial (o crime deve
acontecer em algum lugar).

Para esses autores, os crimes não ocorrem aleatoriamente. Se os crimes fossem


ocorrências aleatórias que tivessem uma chance igual de acontecer em qualquer
lugar a qualquer momento, haveria pouco sentido em tentar observar padrões e
considerar o que poderia ser feito para resolver esses problemas criminais.
11

A principal disciplina teórica que sustenta a geografia do crime é o subconjunto


prático
da criminologia convencional, conhecida como criminologia ambiental. Criminologia
ambiental envolve o estudo da atividade criminosa e vitimização, e como os fatores
do espaço influenciam o comportamento de infratores e a vitimização de pessoas ou
outros tipos de alvos (BOTTOMS et al., 2002).

A progressão no desenvolvimento teórico que aconteceu ao longo do tempo também


ajuda a ilustrar a evolução e o relacionamento do nível médio de consideração do
crime em relação às explicações criminais do crime em nível micro. Importante
ressaltar que essas teorias tendem a não funcionar isoladamente, mas normalmente
de maneira complementar.

Os pesquisadores também indicam que existe uma variação no arranjo espacial do


crime. Embora estudos de crimes espaciais fossem registrados por quase 200 anos,
alguns períodos importantes de pesquisa foram pontuados na história. Nesses
períodos, conforme definido por Chainey e Ratcliffe (2013), destacam-se três
escolas distintas de pensamento: a Escola Cartográfica, a Escola de Chicago e a
Escola GIS. Os desenvolvimentos teóricos associados às Escolas Cartográficas e de
Chicago fornecem uma base útil para o exame em nível médio dos padrões de
crime. Na era mais moderna, o foco da Escola GIS tem sido utilizado para
explicações geográficas do crime em nível micro.

Para Porter (1983), na jornada para o crime, a teoria do padrão de crime e o


princípio do mínimo esforço fornecem uma estrutura para a compreensão da
paisagem espacial do crime. Os espaços de conscientização referidos na teoria do
padrão de crime são compostos por diferentes estruturas que fornecem um padrão
de mudança de oportunidades para se cometer ofensas, dependendo do pano de
fundo ambiental - o social, psicológico (grifo nosso), econômico, paisagem física e
temporal pela qual o agressor passa.

Para Chayney (2021), profissionais de análise criminal recebem treinamento em


psicologia comportamental criminal (grifo nosso), matemática, estatística,
criminologia ambiental e passam por extensas práticas de treinamento, envolvendo
12

visitas a muitos locais de crimes e a prática em casos anteriores. Os perfis dos


analistas criminais profissionais geralmente são do público de oficiais que trabalham
para grandes agências policiais regionais ou nacionais e são designados para
desenvolver perfis em tempo integral, ou pelo menos na maior parte do tempo.
Muitos profissionais também têm um histórico de investigação de crimes graves, o
que lhes fornece a qualificação para trabalhar efetivamente em casos seriais de
assassinato e estupro.

Segundo Chayney (2021), o ponto de partida para a análise criminal é considerar os


princípios teóricos que podem ser usados para interpretar o que os resultados da
análise estão dizendo. Interpretar padrões em termos de como os infratores se
comportam e em quais situações o crime ocorre, pode dar origem a resultados que
auxiliem a determinar os tipos de atividades a serem implementadas para contrariar
ou prevenir esses tipos de comportamento (grifo nosso). Daí a importância de
aliarmos esses pressupostos teóricos da análise criminal às perspectivas das teorias
da psicologia social no que se refere à temática da violência contra as mulheres.

4.2 TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E TEORIAS DE GÊNERO

Segundo Arruda (2002) é na psicologia social que a representação social adquire


uma teorização, provocada por Serge Moscovici. A psicologia social versa sobre as
representações sociais a partir da relação indivíduo-sociedade, com perspectiva
orientada pela cognição. Essa teorização serve de instrumento para outros campos,
como a saúde e os estudos sobre violência a partir de propostas teóricas
diversificadas.

Arruda (2002) ainda afirma que o trabalho de Moscovici surge nos anos 1960 na
França e destaca-se pela originalidade da proposta. Sua pesquisa é voltada para
fenômenos marcados pelo subjetivo e por metodologias inabituais para a psicologia
da época.

Em sua Teoria das Representações Sociais (TRS), Moscovici operacionalizou um


conceito para trabalhar com o pensamento social em que questiona a racionalidade
13

científica e a ideia de que as pessoas comuns no cotidiano pensam irracionalmente.


Moscovici propõe uma psicossociologia do conhecimento, com forte apoio
sociológico, mas sem desprezar os processos subjetivos e cognitivos.

Farr (1995) categorizou a TRS como visão sociológica da psicologia social, em


contraposição às formas psicológicas à época dominantes nos Estados Unidos. Para
Jodelet (2001, p.4) “As representações sociais são uma forma de conhecimento
socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui
para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Nesse contexto,
Moscovici visou desenvolver a teoria e a criatividade dos pesquisadores, com
interesse maior pela descoberta e não pela verificação ou comprovação. Para ele,
perceber uma representação social é fácil, mas defini-la, nem tanto. Jodelet (2001)
ainda afirma que a representação social deve ser estudada articulando-se elementos
afetivos, mentais e sociais.

Como apontamentos em direção às teorias de gênero, particularmente as feministas,


ambas nascem na mesma conjuntura de quebra de paradigmas, de estreita sintonia
com as realidades concretas que vivenciaram. Quanto à dimensão conceitual e de
metodologia, suas abordagens se aproximam, ao conceituarem aspectos de objetos
até então subvalorizados pela ciência, a mulher e o senso comum, com abordagens
mais dinâmicas, flexíveis e metodologias criativas. Arruda (2002) indaga acerca
dessa relação: por que, diante de tantas afinidades, a aproximação entre elas não
seria maior?

Para Arruda (2000), as ciências sociais dos anos 1970 observaram uma quebra
epistemológica provocada pelas ideias de conteúdo político do movimento feminista
a respeito do gênero, patriarcado e machismo. A teoria feminista rompeu com a
perspectiva baseada na teoria de condicionamento dos papéis da condição feminina,
generalizado para todas as mulheres, apenas por suas características biológicas.
Tal interesse pelas desigualdades entre os sexos desestabilizou abordagens
anteriores e abriu espaço para a criação de outras formas de simbolização cultural
dos gêneros.

4.3 OS ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO


14

Como se pode observar, concatenando com o estudo de Nogueira (2001), a


psicologia social em seus estudos sobre o gênero deu origem a novas possibilidades
para a transformação das pesquisas, a partir de uma de ação local e
contextualizada, menos masculinizada e universal. A perspectiva feminista na
psicologia contribuiu para a compreensão desses processos, ao desvendar os
mecanismos psicológicos pelos quais o gênero exerce o seu controle. Ao desafiar a
tendência da psicologia para aceitar a diferença, demonstrou como as categorias
culturais são construídas.

O estudo de Meneghel e outros (2003), por exemplo, abordou temas como relação
entre pais e filhos, estereótipos e papéis de gênero, conjugalidade, limites a
comportamentos abusivos, corpo, sexualidade e estratégias de enfrentamento à
violência. Segundo essa análise, a violência é uma estrutura constante da existência
humana e está presente em praticamente todas as classes sociais, culturas e
sociedades. Há, portanto, uma conexão estreita entre a agressão e as relações
sociais, visto que o controle da violência é um robusto indicador de desenvolvimento
de uma sociedade, não por acaso pressuposto do Estado Democrático de Direito.

Portanto, na busca pelo entendimento da violência de gênero deve-se compreender


que a sua gênese e a sua manutenção na sociedade estão relacionadas com o
conceito de patriarcado. Estudos sobre a mulher nos anos 1970 introduziram o
conceito de patriarcado como um sistema de relações masculino de opressão às
mulheres (MENEGHEL et al., 2003).

Amâncio (1993) expõe que, como as outras ciências sociais, a psicologia social não
escapou à revolução oferecida pelo movimento feminista no meio acadêmico nos
anos 1970. O modelo masculino da análise entre as diferenças entre os sexos foi
duramente criticado, proporcionando o desenvolvimento de novas investigações que
vieram a pôr em dúvida alguns conceitos e teorias universais. O efeito
cientificamente mais relevante dessa mudança foi o desenvolvimento de estudos
sobre as mulheres, com a criação de departamentos universitários no âmbito da
psicologia social, fenômeno americano que levantou o debate acerca de ideias que
vinham ao encontro do que se desenvolvia na psicologia social europeia.
15

O que se observa, portanto, é a assimetria nas identidades de gênero. No


pensamento social a dominância simbólica do masculino evidencia a dependência
da identidade feminina. Assim, o social impõe vários limites às oportunidades e
comportamentos das mulheres, em formas de autocensura e da naturalização dessa
especificidade de seu comportamento. Não que houvesse um grupo de opressores e
oprimidas na forma como o social diferencia cartesianamente as categorias do
feminino e do masculino.

Existe, na verdade, uma concepção dominante de pessoa que exclui não somente
as mulheres, mas também outras categorias sociais. É necessário compreender as
representações associadas a diversas categorias sociais para entender que as
formas de legitimação da discriminação que atingem determinados grupos sociais
são definidas também por outras razões, entre elas o sexo (AMÂNCIO, 1993).

4.4 MASCULINIDADES E VIOLÊNCIA

Souza (2005) desenvolve seu estudo a partir da perspectiva de que o gênero


masculino ainda é fortemente configurado por práticas machistas e de risco. Tais
comportamentos expõem os homens como maiores vítimas e autores da violência.
No Brasil, essa realidade é potencializada pelas intensas desigualdades e condições
de menor acesso à cidadania.

O lugar e a condição dos homens e das mulheres no mundo ocidental


contemporâneo têm sido hegemonicamente associados a um conjunto de ideias e
práticas que identificam essa identidade à virilidade, à força e ao poder originados
da construção de uma constituição biológica sexual dominante. Ainda segundo
Souza (2005), as referências simbólicas do masculino e do feminino têm sido
transformadas, acarretando em consequências nos modelos identificatórios e na
construção da identidade sexual. Tal modelo hegemônico de masculinidade
construído a partir de valores patriarcais e machistas está associado à essa
masculinidade viril, à competição e à violência.
16

Nos estudos de Minayo (2005), também encontramos essa relação entre machismo
e violência. Avaliando os óbitos por homicídios, os homens são a grande maioria de
vítimas e também de agressores. Aprofundando as vulnerabilidades para o consumo
de drogas, os homens também correspondem à maioria dos usuários. Há uma
desvantagem masculina presente em relação à quase todas as causas específicas
de mortalidade por causas externas, quando comparada à situação feminina,
inclusive quando medida por expectativa de vida: é em média no Brasil oito anos
menor em relação à mulher.

Esse estudo também aponta para uma visão arraigada no patriarcalismo, no


masculino ritualizado como o lugar da ação, da decisão, da chefia da rede de
relações familiares e da paternidade como sinônimo de provimento material. Como
consequência, o masculino é investido significativamente com a posição social de
agente do poder da violência, havendo, historicamente, uma relação direta entre as
concepções vigentes de masculinidade e o exercício do domínio de pessoas.

Lima e outros (2008), em seu trabalho sobre homens, gênero e violência contra a
mulher, realizaram uma reflexão sobre a incorporação dos homens e da perspectiva
de gênero nos esforços de prevenção e atenção à violência contra as mulheres. Seu
artigo apresenta alguns conceitos e dados sobre a violência contra as mulheres e
descreve um panorama sobre a conexão entre gênero, saúde e masculinidades;
analisa trabalhos que abordam os temas homens e violência contra as mulheres e
apresenta algumas ações voltadas à prevenção dessa forma de violência junto à
população masculina. Segundo o autor, propostas intervencionistas para homens
autores de violência não são o melhor nem o único caminho para eliminar a violência
contra as mulheres. Porém, sua pesquisa aponta que quando integradas com outras
ações dirigidas às mulheres, pode ser um importante meio para promover a
igualdade de gênero e diminuir a violência.

Todo o referencial teórico até aqui discutido servirá de lastro inicial no campo da
psicologia social para a melhor compreensão dos processos psicossociais que estão
envolvidos na complexa análise criminal e no entendimento dos fatores que
permeiam a violência contra a mulher. Particularmente, esse substrato teórico
17

favorecerá a compreensão dos feminicídios, pesquisa que buscará compreender


esse fenômeno na Região Metropolitana de Vitória.

Como delineado, a relevante integração entre a Psicologia e os estudos


criminológicos relacionados às características criminais presentes nesses crimes, na
tentativa de tentar criar um perfil para o crime, é algo que se mostra continuamente
mais complexo, até mesmo pelo nível de conhecimento crescente que adquirimos
acerca do comportamento humano. Dessas tentativas, a criticada teoria
desenvolvida por Lombroso (2007), no fim do século XIX, é citada por parte da
comunidade acadêmica como precursora. Na evolução do estudo sobre as causas
da criminalidade, várias contribuições relevantes foram desenvolvidas por sociólogos
e antropólogos e, mais tarde, por psicólogos, psiquiatras, biólogos, economistas e
juristas, dada a multidisciplinariedade do fenômeno (CERQUEIRA; LOBÃO, 2003).

O trabalho de Meneghel e Lerma (2017) de fato mostra-se relevante. Nele


apresentam-se discussões ocorridas durante foro sobre feminicídios na região de
Buenaventura, na Colômbia. Por ser o principal porto colombiano no Pacífico é um
território estratégico, o que também o coloca como centro de diversas disputas.
Nesse fórum, discutiram-se as determinantes sociais e políticas do feminicídio.
Trazer esse trabalho à tona é de fato importante, pois de acordo com o estudo a
Colômbia apresenta características e vulnerabilidades sociais semelhantes às do
Brasil.

Dentre as organizações representadas, as autoras destacam as que atuam em Cali,


cidade colombiana com três milhões de habitantes, marcada por disputas da
guerrilha, do narcotráfico e pela repressão do exército e de grupos paramilitares. Há
todo um contexto histórico e psicossocial em que as mulheres colombianas foram
extremamente afetadas pela violência e por diversas outras violações de direitos.
Baseadas na teoria do patriarcado, essas organizações consideram a permanência
das lutas de classe e das ferramentas marxistas, outras analisam o que resta de
opressão colonial nos processos do capitalismo em sua etapa imperialista e
globalizada, que incidem sobre uma mulher obviamente não homogênea.
18

Importante também a referência ao estudo de Machado (2001) que, a partir de


pesquisa antropológica, desenvolve análise de valores que estruturam a cultura
ocidental patriarcal trabalhando o discurso e a performance de grupos de
delinquentes sociais apenados (estupradores, espancadores, ladrões e assassinos
de mulheres), nos quais encontra de forma aguçada os caracteres da cultura
machista. Como consequência, o masculino assume um perfil social naturalizado de
agente da violência, desenvolvendo uma relação direta entre masculinidade e o
exercício do domínio das conquistas sobre as mulheres, cujos aspectos criminais
serão analisados conforme estratégia metodológica definida na próxima Seção.
5 MÉTODO E ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DE DADOS

A partir de uma pesquisa documental empírica, a primeira investigação será a


identificação dos homicídios de mulheres a partir dos dados fornecidos pela
Secretaria de Segurança Pública do Governo do Estado do Espírito Santo (SESP),
desenvolvidos por sua Gerência de Estatística e Análise Criminal (GEAC). Isso
permitirá de forma quantitativa: (a) Identificar as ocorrências de homicídios dolosos
contra mulher, entre os anos de 2016 a 2020, nas cidades da Região Metropolitana
da Grande Vitória e (b) Analisar as características criminais do fato: cidade, bairro,
data, horário, meio utilizado, idade e cor da pele da vítima.

Entretanto, há necessidade de análise mais apurada para identificar, dentre esses


crimes, quais de fato podem ser, conforme literatura apresentada, classificados
como feminicídios. Para isso, é necessária uma abordagem qualitativa. Tal
categorização será realizada pela Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção
à Mulher (DHPM), da Polícia Civil do ES.

A DHPM foi criada em 2010 e atende à toda Região Metropolitana. Foi a primeira
Delegacia implementada no Brasil com a finalidade de apurar especificamente os
crimes contra a vida praticados contra as mulheres. Atualmente a taxa de elucidação
de crimes da DHPM está em torno de 70% (SECRETARIA DA SEGURANÇA
PÚBLICA E DEFESA SOCIAL, 2018).

De acordo com Ribeiro (2010), no Sistema de Justiça Criminal Brasileiro geralmente


a primeira agência a tomar conhecimento do fato criminoso é a Polícia Militar. Essa
19

é responsável, nos casos que serão analisados, por manter a integridade do local do
crime e por colher as primeiras informações. A partir daí, nestes casos estudados,
cabe à Polícia Civil, através da DHPM, instaurar o Inquérito Policial, uma peça de
caráter administrativo, que busca elucidar através de procedimentos investigativos a
narração do fato, com todas as circunstâncias, a individualização do indiciado, seus
sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele(a) o
autor da infração. A autoridade policial ainda deve fazer minucioso relatório do que
tiver sido apurado para encaminhar ao juiz competente. É nesta fase que a DHPM
categoriza se o homicídio contra a mulher é (ou não) feminicídio, e informa à GEAC.
Buscaremos, através da coleta de dados, informações acerca dos crimes praticados,
com a finalidade de: (c) categorizar, a partir da análise anterior, nesses feminicídios,
as principais correlações de características criminais relacionadas ao fato e às
vítimas dos crimes consumados.

Análise qualitativa
(DHPM)
Homicídios de mulheres
ocorridos na RMGV Definição dos
Categorização Feminicídios
(GEAC) (características
criminais)

O acesso a essas informações permitirá a análise quali-quantitativa dessas


ocorrências e seus conteúdos. Baseados em Botelho e Gonçalves (2018), essa
análise será também submetida ao uso do recurso ao programa informático “R”,
software que segundo Dunn (2011) permite soluções mais customizadas que outros
Statistical Package for Social Sciences (SPSS) na análise de frequências para todas
as variáveis, a que se seguirão testes de diferenças e análises de variância (data do
fato, hora, idade da vítima, cor da pele, cidade, instrumento utilizado e se
categorizada como feminicídio).

Outra justificativa que se registra está relacionada ao recorte temporal.


Compreende-se que o feminicídio obviamente já existia antes da publicação da Lei
do Feminicídio (BRASIL, 2015). Mesmo atualmente as agências policiais no Brasil
ainda se adaptam na construção dessa categorização. Muitos estados brasileiros
têm baixa qualidade até mesmo no registro de seus homicídios de forma geral
20

(RIBEIRO, 2010). O fato é que para esta pesquisa a promulgação da Lei é


considerada um marco relevante não somente por sua condição legal, mas também
por exigir uma adequação das agências policiais na coleta de dados. Justifica-se,
portanto, analisarmos as mortes ocorridas a partir de 2016.

O acesso ao banco de dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa


Social é de caráter público desde a promulgação da Lei de acesso à informação
(BRASIL, 2011). Para tanto solicitaremos via correio eletrônico à GEAC da SESP
planilha com os seguintes dados acerca das ocorrências alvos deste estudo: a)
número do boletim de ocorrência de todos os homicídios de mulheres entre 2016 e
2020, b) data do fato, c) hora, d) idade da vítima, e) cor da pele, f) cidade, g)
instrumento utilizado e h) se categorizada como feminicídio.

Mesmo os dados brutos não contêm os nomes das vítimas. Reserva-se o direito de
divulgar análises apenas por categorias a fim de evitar qualquer possibilidade de
identificação das vítimas. Concatenamos, portanto, nossa coleta aos nossos
objetivos respeitando-se as questões éticas desta pesquisa.

Em consonância com nosso problema de pesquisa, relacionado à distribuição


espacial, temporal e à caracterização criminal dos homicídios de mulheres e dos
feminicídios nos municípios metropolitanos, desenvolveremos uma pesquisa
documental empírica, assim como Couto e Menandro (2003). Essa modalidade
permite analisar documentos como dados governamentais, relatórios e publicações
de órgãos públicos ou privados, estatísticas, etc.

O acesso a essa base da SESP possibilitará analisar os homicídios dolosos contra


vítimas mulheres entre os anos de 2016 a 2020, mais especificamente a
identificação das características do fato (município, bairro, data, dia da semana,
hora, instrumento utilizado, se feminicídio). Buscaremos a partir dessa estratégia
fazer com que essas informações sejam categorizadas.

Ressalta-se que essas variáveis já tem sido alvo de análises e testes preliminares
em todo o estado do ES, conforme apresenta-se a seguir:
21

Figura 1 - Mortes por feminicídio no ES, 2016 a 2019.


22

Fonte: SESP (2019).


23

Tabela 1 - Meios utilizados para a consumação dos homicídios e dos feminicídios no

ES

HOMICÍDIOS FEMINICÍDIOS
MEIO UTILIZADO N % N %
Arma de fogo 211 54,66% 27 25,00%
Arma branca 92 23,83% 49 45,37%
Instrumento contundente 17 4,40% 7 6,48%
Não identificado 13 3,37% 3 2,78%
Carbonização 12 3,11% 7 6,48%
Asfixia 11 2,85% 4 3,70%
Espancamento 6 1,55% 3 2,78%
Estrangulamento 5 1,30% 1 0,93%
Paulada 4 1,04% 0 0,00%
Pedrada 2 0,52% 0 0,00%
Esganadura 3 0,78% 3 2,78%
Queimadura 3 0,78% 2 1,85%
Esgorjamento 2 0,52% 0 0,00%
Atropelamento 1 0,26% 1 0,93%
Decapitação 1 0,26% 1 0,93%
Enforcamento 1 0,26% 0 0,00%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2019).

Tabela 2 - Distribuição das ocorrências por dia da semana

HOMICÍDIOS FEMINICÍDIOS
DIA DA SEMANA N % N %
Segunda-feira 65 16,84% 22 20,37%
Terça-feira 60 15,54% 10 9,26%
Quarta-feira 58 15,03% 13 12,04%
Quinta-feira 40 10,36% 10 9,26%
Sexta-feira 43 11,14% 13 12,04%
Sábado 59 15,28% 22 20,37%
Domingo 61 15,80% 18 16,67%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2019).
24

Gráfico 1 – Idade das mulheres vítimas de homicídios no ES

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2019).

Gráfico 2 – Cor da pele das mulheres vítimas de homicídios no ES

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2019).
25

Gráfico 3 – Cor da pele x Idade nos homicídios de mulheres no ES

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2019).

Gráfico 4 – Nuvem: Cidades x Números absolutos de homicídios de mulheres no ES

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela SESP (2019).
26

6 CRONOGRAMA

Meses – 2021
Etapas de cada meta
Abr Maio Jun Jul Ago Set Out
1. Elaboração do Projeto
2. Redação Final do Projeto
Levantamentos referenciais
3. Entrega do Projeto
4. Supervisão com o orientador
5. Coleta de dados
6. Análise e interpretação dos dados
7. Redação da Monografia
8. Defesa da Monografia
27

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