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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO / SENASP / RENASP


ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

O CRIME DE HOMICÍDIO NO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE


Uma análise dos casos de homicídio investigados pela Delegacia de Policia Civil no
Município de São Francisco do Conde - Bahia – 21ª CP, no período de 01/01/2003 á
31/12/2006.

Alunos: Luís Henrique Costa Ferreira,


Maria das Graças Barreiros Barreto

Salvador
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO / SENASP / RENASP
ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

O CRIME DE HOMICÍDIO NO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE


Uma análise dos casos de homicídio investigados pela Delegacia de Policia Civil no
Município de São Francisco do Conde - Bahia – 21ª CP, no período de 01/01/2003 á
31/12/2006.

Trabalho monográfico elaborado como requisito


parcial para obtenção do título de Especialista em
Políticas e Gestão em Segurança Pública, da
Escola de Administração da Universidade Federal
da Bahia.

ORIENTADOR: DR. NILTON JOSÉ COSTA FERREIRA

Alunos: Luís Henrique Costa Ferreira,


Maria das Graças Barreiros Barreto

Salvador
2007
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 5
2. A PESQUISA ................................................................................................ 6
Definição do Problema da Pesquisa ................................................................. 6
Justificativas .................................................................................................... 6
Objetivo Geral ............................................................................................... 7
Objetivos Específicos ...................................................................................... 7
Questões .......................................................................................................... 8
Limitações do Estudo ...................................................................................... 9
3. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................ 10
Violência, Criminalidade e Agressividade Humanas ....................................... 10
Socialização e Controle Social ......................................................................... 11
Fatores que Condicionam o Crime ................................................................... 13
Crimes Contra a Pessoa – Homicídio – Aspectos Jurídicos ..............................17
Classificações dos Agentes Criminosos ............................................................18
Classificações dos Crimes Ou Delitos ...............................................................20
Classificações das Vitimas ................................................................................21
4. A CRIMINALIDADE NO ESTADO DA BAHIA .........................................21
Perfil das Vítimas e Agressores dos Homicídios Dolosos na Bahia .................21
5. O MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE ...................................22
6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................24
Fontes dos Dados ..............................................................................................24
A Delegacia de Policia Civil do Município de São Francisco do Conde ...........25
O Inquérito Policial ...........................................................................................26
A Determinação da Amostra ...............................................................................27
Coleta dos Dados ..............................................................................................27
Metodologia de Análise dos Dados ....................................................................28
7. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................31
A Dimensão Temporal do Crime de Homicídio .................................................31
A Dimensão Espacial do Crime de Homicídio ..................................................35
A Dimensão Contextual do Crime de Homicídio ..............................................39
A Dimensão Pessoal do Crime de Homicídio ....................................................44
8. CONCLUSÕES ...............................................................................................47
9. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................50
ÍNDICE DOS GRÁFICOS E ANEXOS........................................................................4

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ÍNDICE DE GRÁFICOS E ANEXOS

Gráfico 1 – Distribuição das Ocorrências de Homicídios por Ano ................... ..31


Gráfico 1a – Distribuição Temporal dos Homicídios .......................................... .32
Gráfico 2 – Distribuição Mensal das Ocorrências de Homicídios .........................32
Gráfico 2a – Distribuição Mensal das Ocorrências de Homicídios por Ano .........33
Gráfico 3 – Distribuição dos Homicídios por Dia da Semana ...............................33
Gráfico 3a – Distribuição dos Homicídios por Dia da Semana por Ano................34
Gráfico 4 – Distribuição Horária dos Homicídios .................................................35
Gráfico 5 – Distribuição Geográfica dos Homicídios ...........................................35
Gráfico 5a – Distribuição Espacial dos Homicídios por Ano ................................36
Gráfico 6 – Distribuição dos Homicídios por Local do Delito ..............................36
Gráfico 7 – Distribuição Espacial dos Homicídios.................................................37
Gráfico 8 – Distribuição Espaço Temporal dos Homicídios...................................37
Gráfico 9 – Distribuição Espaço Temporal dos Homicídios...................................38
Gráfico 10 – Distribuição Espacial dos Homicídio.................................................38
Gráfico 11 – Relacionamento dos Homicídios com o Consumo de Álcool............39
Gráfico 12 – Distribuição Espacial dos Homicídios e o Consumo de Álcool ....... 40
Gráfico 13 – Distribuição dos Homicídios por Motivação .................................... 40
Gráfico 14 – Distribuição Espacial da Motivação dos Homicídios ...................... 41
Gráfico 15 – Relação do Autor com a Vítima ...................................................... 42
Gráfico 16 – Distribuição das Vítimas por Tipo .................................................... 43
Gráfico 17 – Distribuição dos Homicídios por Arma do Crime ............................44
Gráfico 18 – Origem da Arma Utilizada no Crime .................................................44
Gráfico 19 – Cor / Raça dos Autores e Vítimas .................................................. ...45
Gráfico 20 – Distribuição dos Homicídios por Gênero do Autor e da Vítima .......45
Gráfico 21 – Idade das Vítimas e Agressores ....................................................... 46
ANEXO – Formulários de Coleta da Dados...........................................................53

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1. INTRODUÇÃO

A violência e a criminalidade hoje, sem sombra de dúvidas, constituem se não na maior,


pelo menos uma das maiores preocupações dos brasileiros. Com seus níveis elevados dei
homicídios e outros tipos criminais estão induzindo um acelerado processo de degradação social
pelo qual a população brasileira vê deteriorar a sua dignidade e qualidade de vida, com as
conseqüentes perdas do status social e do bem estar social. A violência, nesse momento,
considerada sob um prisma ampliado, abrangendo todas as suas expressões, esta de fato
provocando mudanças no comportamento, no modo de agir, no modo de pensar e nos conceitos
e sentimentos de valores na sociedade. O povo esta com medo e pede por mudanças. Em todas as
suas modalidades, a violência sob a forma do crime de homicídio representa a expressão máxima
de um comportamento social desajustado. Com ela se agride e destrói a vida, um bem
insubstituível, pondo em risco a própria espécie humana.
Como pesquisadores da violência e da criminalidade nos deparamos com os crescentes
índices de homicídios no Estado da Bahia e percebemos uma carência de pesquisas inerentes a
tipologia criminal voltadas para os municípios diversos da Capital. No Município de Salvador,
Capital do Estado da Bahia, os homicídios são vulgarmente e empiricamente atribuídos as
atividades marginais dos seus protagonistas, resultado de um relacionamento criminoso da
vítima, envolvida ela própria em práticas delituosas. Nos pequenos municípios do interior do
Estado, no entanto, não presenciamos o desenvolvimento intenso de uma atividade criminosa
que possa induzir seus participantes a ações homicidas. Importa assim saber a que estão
relacionados os homicídios no interior do Estado da Bahia, identificar e classificar as suas causas
e relacionamentos. Esse é um conhecimento sem o qual não há como desenvolver uma
metodologia preventiva, tão necessária a elaboração de Políticas Públicas de Segurança
embasadas na territorialidade e satisfação das metas coletivas.
Considerando a nossa atividade profissional, desenvolvida como delegados de polícia em
municípios do interior do Estado da Bahia, nos propomos a desenvolver um estudo sobre os
crimes de homicídio que tenham sido objeto de investigação criminal pela 21ª Delegacia de
Polícia, situada Município de São Francisco do Conde, no período entre janeiro de 2003 e
dezembro de 2006. Com o qual pretendemos compreender esses crimes, classificando-os de
modo diverso das atribuições jurídicas, considerando o contexto social onde se desenvolvem e
identificando os seus fatores individuais e sociais, vez que como já identificado por Klarissa,
quando cita Lima, “os motivos desencadeadores dos homicídios não estão contidos em sua
tipologização jurídico-penal” (SILVA, 2006).

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A fonte de dados utilizada consistiu dos inquéritos policiais, peça inicial da persecução
criminal, base inicial para a denúncia a ser oferecida pelo Ministério Público na proposição da
Ação Penal perante o Estado Juiz. O inquérito policial trata de uma peça investigativa, de caráter
inquisitivo, que busca elucidar o delito, identificando a autoria e as circunstâncias em que se
desenvolveu. É uma peça rica em informações, fruto de uma atividade de prospecção minuciosa
e detalhista para se atingir a verdade real e não uma verdade processual. Essa fonte de dados foi
completada pelo conhecimento empírico dos pesquisadores, no exercício da atividade policial
durante mais de 17 anos no Município de São Francisco do Conde, o que lhes propiciou um
conhecimento razoável sobre a sociedade local, territorialidade, costumes e o temperamento do
seu povo.

2. A PESQUISA

2.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DA PESQUISA

Convivemos com diversos estudos que buscam identificar os fatores que levam a
violência e a criminalidade. Em uma sociedade violenta e desigual como a brasileira esses
estudos nos ajudam a formalizar conceitos e a materializar propostas para se não suprimir, pelo
menos minimizar essa doença social, porém, em especial na Bahia, carecemos de análises que
busquem interpretar a criminalidade no interior do Estado, ou seja nas cidades menores.
Para suprir essa lacuna, propomos esta pesquisa delimitando o seu objeto ao Estudo dos
Crimes de Homicídio ocorridos no Município Baiano de São Francisco do Conde.

2.2 JUSTIFICATIVAS

O Estado da Bahia, por meio dos seus órgãos de controle social, produz inúmeras
estatísticas com as quais procura monitorar e compreender os fenômenos da violência e da
criminalidade. As informações produzidas nesses processos de mensuração são destinadas a
avaliações quantitativas dos eventos. Na Policia Civil da Bahia são contadas periodicamente, por
unidades geográficas, as ocorrências relativas a algumas tipologias de delitos, a exemplo de
homicídio, latrocínio, furto, etc, e os dados dai resultantes são interpretados em termos de
tendências estatísticas. É assim desprezado, ou sub utilizado, um valioso acervo de dados e
informações sobre a criminalidade e a violência, que são os Inquéritos Policiais.
Trabalhando apenas com dados sobre as quantidades de ocorrências de eventos
criminosos as ações estratégicas de controle da violência e da criminalidade se limitam ao

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caráter repressivo com o uso das instituições policiais em estratégias que envolvem desde o
aumento da presença policial ostensiva á formação de grupos especiais, ou delegacias
especializadas, relegando a segurança pública a um simples caso de policia. Dessa forma as
organizações policiais do Estado da Bahia, a Polícia Civil e a Policia Militar, são pressionadas a
atender sozinhas uma demanda motivada por fatores extrínsecos do crime, particularmente
questões de gestão social, que não são e não podem ser sanadas à simples intervenção policial, a
título de manipulações políticas ou reais cobranças da sociedade.
Ao praticar uma ação violenta, ou criminosa, contra outra pessoa o agente pode estar sob
diversos efeitos motivadores. Pode, por exemplo, agir para obter um ganho ou vantagem
patrimonial ou agir motivado pela paixão. São situações diferentes que demandam soluções
diferentes por parte do sistema de segurança pública. No entanto a gestão estratégica da
segurança pública ao avaliar esta tipologia da violência e da criminalidade apenas em termos
quantitativos e jurídicos não interpreta suas diversas facetas.
Estando, no período desta pesquisa, no exercício do cargo de Delegado Titular da única
delegacia de polícia do município São Francisco do Conde, atividade que desenvolveu durante
17 anos a pesquisadora MARIA DAS GRAÇAS BARRETO dispõe de prévio conhecimento
empírico sobre o grupo social característico do município em estudo e sua territorialidade, além
de possuir acesso ilimitado a fonte primaria dos dados que foram utilizados na pesquisa, a
exemplo dos Inquéritos Policiais instaurados no município.
Assim a escolha do tema deve-se: a) ao fato de que, nas palavras de Julio Fabbrini
Mirabete, o crime contra a pessoa ser uma ação que agride o “objeto jurídico de preponderante
relevo na tutela que o estado exerce através do Direito Penal” (MIRABETE, 1992), sendo o
homicídio e a lesão corporal expressões máximas de violência contra o semelhante; b) a
ausência de estatísticas na Polícia Civil da Bahia que espelhem os fatores relacionados com esse
tipo de delito e que permitam estudos para uma atuação diferenciada das policias baianas frente
as mesmas; c) pela oportunidade dos pesquisadores sistematizarem o conhecimento empírico
adquirido em mais de 17 anos de exercício profissional, d) pelo fácil acesso a fonte primaria dos
dados e e) busca e / ou elaboração de uma metodologia de pesquisa que seja uma ferramenta
eficaz e eficiente na implantação de significativas políticas públicas de segurança no território.

2.3 OBJETIVO GERAL

Estudar cientificamente os casos de crimes de homicídio apurados pela Delegacia de


Policia Civil do Município de São Francisco do Conde – Bahia – 21ª Circunscrição Policial, no
período de 01/01/2003 á 31/12/2006. A pesquisa desenvolvida inicialmente sobre os Inquéritos

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Policiais não aborda a etapa final da persecução criminal que é atribuição do Poder Judiciário,
apenas compreendendo todos os casos de homicídios investigados, independente que o resultado
pretendido esteja consumado, ou se apenas resultou em uma tentativa, bem como aqueles delitos
cujas autorias ainda estejam desconhecidas.

2.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar sob quais circunstâncias o crime de homicídio apurado pela Delegacia de


Polícia do Município de São Francisco do Conde – BA é praticado.
• Construir um perfil sócio-biográfico das vítimas e autores dos homicídios de autoria
conhecida.
• Identificar se o crime de homicídio apurado pela Delegacia de Polícia de São
Francisco do Conde – BA esta, ou não, associado ao envolvimento dos seus protagonistas com
atividades ilícitas.
• Propiciar elementos para subsidiar o desenvolvimento de políticas preventivas de
segurança pública.
• Propiciar elementos que sirvam de orientadores no processo investigativo
desenvolvido pela polícia judiciária.
• Desenvolver ferramenta metodológica específica.

2.5 QUESTÕES

Com o objetivo de direcionar a pesquisa formulamos as questões a seguir relacionadas?

• Sob quais circunstâncias os crimes são praticados no município de São Francisco do


Conde - BA?
• Quais os motivos do crime e da violência com resultado morte praticados no
município de São Francisco do Conde - BA?
• Quem são as vítimas e os autores dos homicídios praticados em São Francisco do
Conde?
• Ao que estão relacionados os crimes de homicídio no município de São Francisco
do Conde - BA?

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2.6 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Este estudo foi desenvolvido sobre os horizontes dos inquéritos policiais e dados sobre o
desenvolvimento social. A pesquisa tem como premissa básica a imputação de culpa produzida
pela Autoridade Policial, que na situação é representada pelo Delegado de Polícia. Essa
imputação, cujo termo técnico aplicado é indiciamento, representa, assim como a acusação na
Denúncia oferecida pelo Promotor de Justiça, ao iniciar a Ação Penal, uma classificação
provisória do crime cometido, vez que a competência para a classificação definitiva, ou,
utilizando o jargão jurídico a tipificação final, é do Poder Judiciário.
Quando a Autoridade Policial toma conhecimento da morte de uma pessoa, na sua esfera
de atribuições, busca informar-se se o fato é decorrente de causa natural, causa violenta, ou causa
desconhecida, instaurando conforme a situação um inquérito policial. Um dos objetivos finais do
inquérito policial é subsidiar o Ministério Público para a proposição da chamada denúncia. Tanto
o inquérito policial, quanto a denúncia não representam a palavra final do Estado frente ao delito,
esta será gerada através da Sentença transitada em julgado. É na Sentença, produzida no curso da
Ação Penal, que estará finalmente tipificado o delito e atribuída a sua autoria, bem como
determinada a punição. Assim é que no curso de uma Ação Penal um delito cujo inquérito
policial tenha concluído por homicídio doloso e que a denúncia o tenha apresentado como
homicídio culposo pode vir a ser sentenciado como um caso de lesão corporal seguida de morte.
O mesmo raciocínio se aplica ao caso que seja interpretado como lesão corporal seguida de
morte pelo inquérito policial e sentenciado como homicídio.
No estudo aqui apresentado a visão do crime de homicídio é a decorrente dos dados
produzidos pelo inquérito policial, não representando assim a conclusão final do Estado sobre o
fato considerado delituoso, tão pouco, necessariamente, deverá coincidir com a peça final do
Processo Penal que é a sentença, ato judicial no qual o magistrado aplica as normas legais. Por
outro lado a maioria das estatísticas sobre criminalidade trabalha com os dados colhidos
diretamente das instituições policiais, sendo incipientes os trabalhos no âmbito do Poder
Judiciário. Utilizando de um tecnicismo jurídico extremo não há que se falar em crime de
homicídio apurado pela Polícia Judiciária, mas sim de uma ocorrência de morte apurada pela
Polícia Judiciária. A competência para avaliar o caso como crime, e até mesma para declará-lo
como um crime, é do Poder Judiciário.
Assim esta pesquisa se restringe aos dados acima descritos decorrentes da tipificação
provisória utilizada na fase de indiciamento. Ela ignora se a tipificação inicial permaneceu até a
sentença judicial transitada em julgado. Ao trabalhar apenas com os homicídios na fase de
inquérito policial, estão excluídos da pesquisa os casos de morte cuja tipificação provisória seja

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diversa do tipo penal homicídio, como por exemplo latrocínio e lesão corporal seguida de morte,
mesmo que ao final do Processo Judicial Criminal sejam, estes casos, sentenciados como
homicídios. Por isso pregamos que uma pesquisa mais detalhista deva ter como objeto todos os
casos de morte e pautar-se sobre os Processos Judiciais, porém atribuímos ao razoável lapso
temporal decorrente entre a propositura da Ação Penal e a Sentença Final um complicador para
o uso imediato de tal trabalho, além da possibilidade da ocorrência de um grande número de
casos não elucidados e que portanto ainda não geraram uma sentença. Outro fato a ser
considerado é a mobilidade dos fatores territoriais, mudanças espaciais e sociais, que não se
congelam ao inicio da Ação Penal ou permanecem estáveis ao seu curso.
Observou-se também que no desenvolvimento da sua Pesquisa de Mestrado, trabalhando
com inquéritos policiais, Lima observou ser impossível traçar o perfil biográfico social dos
autores de homicídios de autoria desconhecida (LIMA, 2001).
Outro ponto a ser considerado é o fato da pesquisa se desenvolver sobre documentos
oficiais, com dados e informações colhidos em peças de inquéritos, a exemplo de interrogatórios,
declarações e depoimentos, que são produzidas quando as pessoas arroladas são levadas perante
a Autoridade Policial para relatar o que tenham conhecimento e responderem o que lhes for
perguntado. Deste modo não se trabalha com o fato em si e não há uma interpretação direta e
exclusiva do evento. Por outro lado a experiência empírica dos pesquisadores, ambos Delegados
de Policia, os auxiliou na interpretação dos inquéritos policias, que foram avaliados no inteiro
teor de todas as suas peças, a exemplo da portaria de instauração, da certidão da ocorrência, dos
relatórios do serviço de investigação e dos laudos periciais, analisados sob os aspectos
conjunturais locais.
Como mais uma limitação deste estudo consideramos que no desenvolvimento da sua
Pesquisa de Mestrado, trabalhando com inquéritos policiais, Lima observou ser impossível
traçar o perfil biográfico social dos autores de homicídios de autoria desconhecida (LIMA,
2001). Lembramos também que em nenhum instante admitiu-se juízo de valor sobre as
conclusões dos inquéritos policias e os critérios utilizados para o indiciamento dos autores.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E AGRESSIVIDADE HUMANAS.

A violência não implica sempre em criminalidade. Newton Fernandes a apresenta como


sendo o comportamento destrutivo dirigido contra membros da mesma espécie, em situações e
circunstâncias nas quais outras alternativas para o comportamento adaptativo podem ocorrer,

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(FERNANDES, 2002), Gey Espinheira apresenta a violência “como toda forma de
constrangimento da liberdade de outrem, sem o seu consentimento, mas também a agressão à
pessoa ou a bens públicos ou privados” (ESPINHEIRA 1, 2006). Já a criminalidade, no conceito
do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Veja Larousse, consiste de um conjunto de atos
criminosos cometidos em um dado meio. Logo criminalidade esta associada a crime, cujo
conceito material deve ser obtido na Ciência Jurídica, que o define como a conduta humana que
lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal, (MIRABETE, 1992).
Classificar um fato como criminoso é uma construção jurídica, já considera-lo violento é
um comportamento exclusivamente social, nem toda a expressão do crime é da forma violenta,
como também há expressões de violência que ainda não são consideradas criminosas pelo nosso
Direito Penal. Assim é que a sociedade acredita estar repelindo a criminalidade aplicando
sanções do Direito Penal. Quanto a violência esta é penalizada por outros ramos do Direito, ou
então por sanções éticas ou morais. Nesse campo Eva Lakato cita as sanções negativas, religiosa
e especificamente sociais (LAKATOS, 2006). Javier Hughes distingue, ainda, a violência
criminal da violência comum cotidiana, da exclusão social, que consiste na violência que
desgasta a auto-estima (HUGES, 2007). E quando o tema é o ser humano como agente
violento, ou criminoso antes importa definir a extensão destas expressões, assim O Dicionário
Enciclopédico Ilustrado Veja Larousse apresenta criminoso como quem comete ou cometeu
crimes, já violento, no Dicionário Aurélio Básico é dito como quem faz uso da força bruta,
contrário ao direito e à justiça. O ser humano pode então ser violento sem ser criminoso e vice-
versa. Não se pode, portanto, generalizar a pessoa criminosa como uma pessoa violenta, valendo
também a recíproca. Como expressões do comportamento humano, a violência e a criminalidade
são, em primeira instância, agressões a convivência social e, portanto, condutas anti-sociais. O
adjetivo homem anti-social, (FERNANDES, 2002) parece bastar para caracterizar aqueles
adeptos ao uso da violência e do crime.
Violência e criminalidade não se confundem com agressividade, esta é a expressão de um
comportamento adaptativo intenso que não implica em raciocínio, sendo dirigido não apenas
contra membros da mesma espécie. Ela é uma forma ativa de enfretamento das condições
ambientais com o intuito de resistir às pressões através da luta (FERNANDES, 2002).

3.2 SOCIALIZAÇÃO E CONTROLE SOCIAL

Darcy Azambuja enxerga o homem como o centro da sociedade, ele prega que a
sociedade são os homens e as interações de seus sentimentos, idéias e volições (AZAMBUJA,
2005). Lakatos conceitua socialização como o processo de aprendizagem e interiorização dos

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elementos socioculturais, normas e valores do grupo social, que assim passam a integrar a
personalidade do individuo, (LAKATOS, 2006). Uma pessoa socializada será então aquela
orientada para normas sociais, aquela cuja personalidade absorveu os elementos socioculturais,
as normas e os valores do grupo social. A ação do individuo desenvolvida dentro das premissas
comentadas estará dentro da expectativa que o grupo tem para o comportamento dele, o
individuo, então, agira em conformidade, (LAKATOS, 2006). Quando o comportamento do
individuo ao invés de estar em conformidade com a norma social a infringe ele comete uma
infração, que traduz o comportamento infrator como um comportamento em desvio. Assim é que
o homem em sociedade pode comportar-se em conformidade ou em desvio, com relação as
normas estabelecidas pelo grupo para o momento. Para obrigar o homem a agir em
conformidade com as normas sociais, a sociedade faz uso de sanções contra aqueles que estão
com comportamento em desvio. O conjunto dessas sanções compõe os mecanismos de controle
social.
Violência e criminalidade, pelo menos no contexto brasileiro, se configuram como
expressões de comportamento em desvio e ai interessa saber quais as possíveis causas dos
desvios. Lakatos, citando Johnson (LAKATOS, 2006) indica os seguintes fatores que facilitam o
desvio: a) socialização falha ou carente; b) sanções fracas; c) cumprimento medíocre das
sanções; d) facilidade para justificar um comportamento em desvio; e) normas com alcance
indefinido ou obscuras; f) a impunidade em razão do não descobrimento do comportamento em
desvio; g) execução injusta ou corrupta da lei; h) legitimação subcultural do desvio; i)
sentimentos de lealdade para os grupos em desvio. Essas serão então causas sociais facilitadores
do comportamento em desvio. Newton Fernandes, cita que Romagnosi dividia as causas mais
comuns de criminalidade em quatro categorias: a) a falta de condições de subsistência; b) a falta
de condições de educação; c) a falta de condições de vigilância e d) a falta de condições de
justiça. A primeira identificada como resultado das condições econômica, a segunda como fruto
da pobreza moral e as duas últimas resultantes da omissão do estado e, na interpretação do autor,
seriam resultantes da política. Ele conclui pregando que o Estado pode favorecer ou tolerar
comportamentos em desvio que venham a redundar em crime e violência (FERNANDES, 2002).
Gey Espinheira observa que a violência possui múltiplas facetas e dimensões (ESPINHEIRA 1,
2006), sendo assim não cabe uma análise genérica sobre suas causas.
No processo de socialização do individuo assumem papel de destaque o representado
pelas instituições sócias. Fichter, citado por Lakatos (LAKATOS, 2006), conceitua instituição
social como “uma estrutura relativamente permanente de padrões, papeis relações que os
indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e unificadas, com o objetivo de
satisfazer necessidades sociais básicas”. Dentre as várias instituições sociais se destacam pela

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importância: a) família; b) instituições religiosas; c) Estado; d) empresa, trabalho e e) escola. A
importância dessas instituições deriva de na maioria elas transcendam ao governo e independem
deste para existir e ser legitimada e respeitada, elas são as primeiras fontes da cultura moral da
sociedade.

3.3 FATORES QUE CONDICIONAM O CRIME

Os comportamentos, violento, criminoso e agressivo do ser humano são decorrentes de


um somatório de forças atuando sobre o indivíduo, os autores distinguem entre essas forças
agentes endógenos, identificados como sendo biológicos e psicológicos, e agentes externos,
frutos do meio ambiente. Da interação desses agentes que compõem o fenótipo da pessoa, resulta
o potencial agressivo, violento ou criminoso, ou mesmo uma atitude social pacata e indiferente.
Odan Ramos Magalhães, citado por Newton Fernandes (FERNANDES, 2002), em estudo sobre
a origem do ato criminoso, considera o mesmo como resultado de três fatores: a) tendências
criminais do individuo (T), b) situação ambiental (A) e b) resistências mentais do individuo (R).
Assim a tendência para a prática de atos criminosos será diretamente proporcional ao somatório
de (T) com (A) e inversamente proporcional ao (R). Logo o comportamento anti-social será
decorrente da conjugação entre aptidões inatas, pressões sociais e ambientais e freios morais e
emocionais do individuo. Klarissa Almeida Silva, em seu trabalho sobre homicídios, separa as
causas em fatores individuais e fatores estruturais. Nos primeiros estão contidas as características
relacionadas aos perfis autor e da vitima, os segundos agrupam as características urbanas e
sociais nas quais estão imersos os protagonistas do delito. (SILVA, 2006).
Identificar os condicionantes sociais que concorrem para a violência e criminalidade
consiste em correlacionar a pratica da violência e do crime a determinadas condições da vida
social do individuo, seja no papel de agente ou de vítima. Quando se trata de buscar
condicionantes sociais para o comportamento do individuo não há como produzir listas taxativas,
sendo assim listamos as seguintes:
a) Estrutura familiar: nesse tema deve ser lembrado que no mundo atual a estrutura
familiar não pode ser interpretada da forma tradicional com, pai, mãe e filhos, o conceito de
viver em família esta ampliado levando em consideração as mudanças porque passa a instituição
familiar. Mas o que importa é que qualquer que seja a forma como se estrutura a família perante
nossa sociedade cabe a ela o papel de ajudar a formar a personalidade do individuo e,
transmitindo, os valores do grupo social, cabe a família preparar o individuo para a vida em
sociedade e também emprestar, a ele, s sensação de segurança e proteção indispensáveis em um
mundo individualista. Não se discutira aqui as formas de desagregação das famílias, mas todas

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elas levam ao fracionamento do grupo familiar em unidades distintas e em conseqüência ao
enfraquecimento da instituição. Interessa observar que esse fracionamento do grupo familiar
pode se dá mesmo com os indivíduos convivendo sob um mesmo teto. A psicóloga Maria
Beatriz Breves Ramos, citada na revista Psique - Ciência&Vida observa que “o passo para o
homicídio, embora raro, mesmo para indivíduos, pode se tornar mais comum com a progressiva
falência das instituições sociais e dos vínculos efetivos”. A família atual fracassa no seu papel, e
transfere a sua função para entes estranhos, a exemplo das escolas e no fracasso destes aos
grupos de rua. A instituição familiar esta sendo substituída por outros referenciais que não
emprestam ao individuo uma percepção de coletividade.
b) Escola, Cultura, Educação: A sociedade espera que a escola forme pessoas aptas a
fazê-la prosperar e difundir seus valores. A falência da instituição familiar transferiu para a
escola parte do papel que cabia à aquela, no entanto o mesmo enfraquecimento da família
destruiu a autoridade da escola como formadora do individuo socializado. Francisco Ramos de
Farias citado pela mesma revista (PSIQUE) observa o aumento da criminalidade coincide com a
perda de prestigio da escola.
c) A mídia, os meios de comunicação e entretenimento: Infelizmente parece ser uma
das instituições que esta assumindo papeis que caberiam inicialmente a família e
secundariamente a escola. A sociedade moderna é movida por informação e os meios de
comunicação hoje representam praticamente um poder capaz de induzir e formar opiniões e
conceitos. Acontece que todo esse poder esta a serviço de um propósito econômico que prioriza
o ganho dos investidores. Assim é que a mídia é vista como vilã quando atua, enfraquecendo
valores sociais, banalizando a violência, criando falso heróis e falsos formadores de opinião que
atuam defendendo interesses de grupos particulares.
d) Urbanização, industrialização e densidade demográfica: a densidade demográfica das
cidades revela-se em proporcionalidade direta com a criminalidade. Essa tendência acentua-se
nas regiões de grande industrialização, com a convencia forçada de grupos sociais de origens
diversas. Outro fator importante são as condições de urbanização, ruas e áreas de lazer, além dos
equipamentos de urbanismo, que são, antes de luxo e conforto, instrumentos de bem estar social.
Vale observar estudos citados por Newton Fernandes (FERNANDES, 2002) que demonstram
que nos Estados Unidos a criminalidade é diretamente proporcional à população, mas até um
determinado limite, que quando ultrapassado a criminalidade diminui.
e) A Rua: citada por Newton Fernandes (FERNANDES, 2002) é lembrada neste
trabalho mais por representar um dos substitutos da família do que por outro motivo mais
relevante. A observação a ser feita é sobre o tipo de vivencia do individuo na fase da construção

14
do caráter e da personalidade. A família esta sendo substituída pela rua com todos os seus
perigos. A rua também recebe os excluídos do sistema produtivo e os desempregados.
f) Marginalidade: Aqui referida como a falta de integração individuo na estrutura social.
Ela pode ser conseqüente de diversos fatores, o desemprego é apenas um deles, mas há também a
situação das diferenças, cultural, étnica, política, estilos de vida, defeitos físico, etc. A
marginalização pode ser sentida inclusive em microcosmos sociais a exemplo das escolas. A
pessoa marginalizada sofre violência e em razão disso tornar-se potencialmente violento. A
Teoria Criminológica da Etiquetagem trabalha considerando a marginalização do individuo pelo
grupo social.
g) Discriminação: Diferente do marginal, o individuo discriminado possui o seu espaço
na sociedade, ele está integrado e aceita as normas sócias do grupo. No entanto é o grupo que o
rejeita, a discriminação induz a marginalidade. É a situação clássica dos moradores em invasões,
dos negros, ciganos e homossexuais, a rejeição social, em geral fruto de preconceitos diversos,
força a marginalização desses grupos.
h) Ações Políticas, o Estado: Antes da solução de um problema, o que a sociedade cobra
do Estado é a existência de uma vontade política para sanar o déficit social. Quando o Estado se
apresenta fraco, oportunista e em descompasso com os anseios da sociedade, ele perde
legitimidade perante ela. Um Estado que por conivência, incompetência, indiferença, ou falta de
compromisso social, venha a tolerar expressões de comportamento que exponham a sociedade a
riscos é na verdade um agente indutor da violência e da criminalidade. As ações de governo do
Estado quando orientados para determinados objetivos constituem o que chamamos de Política
Pública, interessa, em particular, a este estudo as políticas pública de segurança, que podem ser
sintetizadas como aquelas destinadas a restaurar, construir e preservar a sensação de segurança
do cidadão. O Ministério da Justiça em sua página na internet conceitua segurança pública como
a atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de
proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações da criminalidade e da violência,
efetivas ou potenciais, garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei.
<http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ1BFF9F1BITEMIDE16A5BBC4A904C0188A7643B4A1
DD68CPTBRIE.htm>.
Klarissa ao citar algumas características individuais relacionadas aos perfis dos
envolvidos em crime de homicídio, as quais ela chamou de características-padrão, observa que
os homens são a maioria das vitimas e agressores e as mulheres são a maioria das vitimas dos
homicídios em domicílios, já os homens o são em locais públicos. Ela cita que a maioria dos
agressores são jovens entre 18 e 25 anos, os solteiros morrem mais que os casados e que as taxas
de homicídio são mais altas entre a população com status ocupacional baixo, de profissões

15
manuais, decrescendo a medida que avançam os anos de estudo (SILVA, 2006). Também o
estilo de vida do individuo é citado por ela como um dos fatores que influenciam nos processos
de vitimização e autoria, explicado com base na chamada “teoria do estilo de vida e das
atividades rotineiras”, para a qual para diferentes estilos de vida estão associados diferentes
riscos de vitimização. Citando Kubrin, Klarissa, ressalva que apenas uma em cada cinco
ocorrências de homicídios deu-se entre estranhos. Ao analisar os fatores estruturais que
explicam os homicídios, Klarissa, conclui informando que nos estudos sobre crime de homicídio,
ficou evidente a concentração deles nas regiões de desvantagem social, com grande percentual
de jovens, famílias monoparentais e de baixa renda.
Ivan de Andrade Vellasco, observa em artigo publicado na Revista de História da
Biblioteca Nacional (VELLASCO, 2007) que os conflitos no Brasil há muito tempo são
agravados pelo uso de álcool e pelo porte de armas, salientando no curso do trabalho que quase
sempre a arma é um instrumento de trabalho, a exemplo de facões, peixeiras e foices.
Comentando a sociedade brasileira no período do império ele insinua que além de
frequentemente estimulados pela bebida e armados, os homens da época reconheciam nos
conflitos dois desafios a serem enfrentados: a ameaça aos seus privilégios e a defesa da honra.
Honra e vingança constituíam os motivos da violência, cuja finalidade era restaurar um posição
ameaçada pelo desafio. No Brasil, em especial na Bahia, a criminalidade vem demonstrando
estar cada vez mais relacionada ao trafico de drogas ilícitas, isso se vislumbra nos centros
maiores onde as diferenças sociais estão mais presentes. Com efeito, as mortes resultantes das
disputas entre grupos traficantes pelo domínio de áreas de influência e da necessidade de se
imporem através do terror estão se tornando o padrão do crime de homicídio.
Não há como comentar sobre violência e criminalidade sem que ocorra referencias aos
conceitos de territorialidade e territórios, Elieser Barros Correia, citando Schefler, no artigo
Territórios Rurais como Unidade de Planejamento das Políticas Públicas, página 1, observa que
“o território, enquanto espaço socialmente organizado, configura-se no ambiente político
institucional onde se mobilizam os atores regionais em prol do seu projeto (ou seu projetos,
mesmo que encerrem conflitos de interesses) de desenvolvimento. O principal objetivo é a
geração de relações de cooperação positivas e transformadoras do tecido sociais”. O mesmo
autor, na mesma obra, cita Milton Santos para quem território é o chão da população, sua
identidade e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence, território é a base do trabalho, da
residência, das trocas materiais e espirituais e da vida.
Como já alertado anteriormente não há como se esgotar todos os possíveis condicionantes
sociais para o comportamento do individuo. Como animal pensante e gregário o ser humano é
influenciado em suas ações predominantemente pelos fatos sociais, porém não é um simples

16
produto do meio, desprovido de livre arbítrio. Ao que pese os fatores da criminalidade natural
ou ocasional, o criminoso não pode ser analisado apenas como resultado de uma ação da
sociedade sobre o homem.

3.4 CRIMES CONTRA A PESSOA – HOMICÍDIO – ASPECTOS JURÍDICOS

Estudar os aspectos jurídicos do homicídio importa em estabelecer os limites deste


trabalho, excluindo do mesmo as condutas violentas, ou criminosas, que apesar de resultarem na
morte da vitima, não configuram o crime de homicídio. A caracterização da conduta humana
como crime é uma construção da Ciência Jurídica e o Direito Brasileiro trata o crime de
homicídio no artigo 121 do Código Penal, que o apresenta no seu caput como a seguinte conduta
“matar alguém”, para em seguida estabelecer a pena de reclusão de seis a vintes anos. Julio
Fabbrine Mirabete adota o conceito de homicídio apresentado por Euclides Silveira, e o
considera como “a eliminação da vida humana extra-uterina praticada por outrem”
(MIRABETE, 1992), um conceito que busca excluir da conduta delituosa o aborto, mas que
esquece do crime de infanticídio e do crime de latrocínio. Assim é que importa, para entender o
crime de homicídio, o objeto jurídico que se pretende proteger, ou seja o bem jurídico que o
agressor pretendeu ofender. No crime de homicídio o agressor busca atingir a vida, a vida
humana é o bem protegido pelo dispositivo penal.
O crime de homicídio não se confunde com latrocínio, pois neste o agressor busca violar
o patrimônio da vitima sendo a morte apenas um meio para a obtenção, ou preservação do
intento violento. Ambos podem resultar na morte da vítima, porém no homicídio a ação do
agente tem um único fim, matar a vítima, já no latrocínio o objetivo principal do agente é a
subtração de coisa móvel da vítima, sendo que o resultado morte é apenas para concretizar, ou
perpetuar o resultado do roubo. No latrocínio o bem jurídico protegido pelo tipo penal é o
patrimônio, no homicídio é a vida humana.
Homicídio também não se confunde com a lesão corporal seguida de morte. O crime de
lesão corporal, descrito no artigo 129 do Código Penal, consiste na ofensa a integridade corporal
ou a saúde de outrem. Neste o objeto jurídico tutelado é a “integridade física ou psíquica do ser
humano, bem individual e social”, (MIRABETE, 1992). Para tipificar uma conduta como lesão
corporal seguida de morte importa avaliar a intenção do agente agressor, mais uma vez
interpreta-se qual o bem jurídico agredido, qual o animus com que o agente desenvolveu sua
ação, o de agredir a vida, matando a vitima, ou agiu apenas para causar dano físico ou psíquico.
Um tipo penal que apresenta a mesma conduta do homicídio, protegendo inclusive o
mesmo bem jurídico, ou seja, a vida humana, é o infanticídio, tipificado no artigo 123 do Código

17
Penal e descrito como sendo a conduta de “matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio
filho, durante o parto ou logo após”. Nesse caso, por questões de política criminal, houve o
legislador em estabelecer um tipo novo para uma mesma conduta criminosa, atribuindo-lhe uma
pena menor. Quanto ao aborto, o conceito aqui apresentado para o crime de homicídio, que o
limita a vida extra-uterina já estabelece a sua distinção do crime de aborto. Conforme Mirabete
no crime de homicídio a ação do agente pauta-se na vontade consciente de eliminar a vida
humana, ele age imbuído do chamado animus necandi, não se exigindo nenhum fim especial
(MIRABETE, 1992).
O Sistema Penal Brasileiro admite a classificação do homicídio conforme a intenção do
agente em doloso, ou culposo. O primeiro resulta quando o agente atua buscando o resultado
morte, ou assumindo o risco de provocá-la com a sua conduta, já a forma culposa decorre da
conduta negligente, imprudente, ou imperita do agente, que agiu sem intenção de matar. O crime
de homicídio também admite a forma tentada, quando o resultado morte não é obtido por ações
externas a vontade do agente, que o impede de concluir o intento.
No caput do artigo 121 do Código Penal Brasileiro, temos a forma básica do crime de
homicídio. O legislador ao longo do dispositivo relacionou especificidades para o crime de
homicídio que podem induzir um aumento, ou uma diminuição, da pena a ser aplicada ao autor.
Assim há o homicídio privilegiado, relacionado no parágrafo 1º do artigo 121, com pena
diminuída, aplicado nas situações em que o agente desenvolve sua conduta impelido por motivo
de relevante valor social, ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima. O parágrafo 2º do artigo 121 do citado Código contém as formas
qualificadas do homicídio, com majoração da pena sobre a da forma básica descrita no caput do
mesmo artigo. O homicídio qualificado pressupõe que seja cometido: I. mediante paga ou
promessa de recompensa, I. por motivo torpe, II. por motivo fútil, III. com o emprego de
veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, IV. com o emprego de
meio que possa resultar em perigo comum,V. á traição, à emboscada, VI. mediante dissimulação
ou recurso que torne impossível a defesa do ofendido.
Estabelecer em última instância o tipo penal de uma conduta humana, bem como as
qualificadoras e privilégios que lhe possam ser agregadas, cabe ao Poder Judiciário.

3.5 CLASSIFICAÇÕES DOS AGENTES CRIMINOSOS

Separar e agrupar em classes são ações importantes para o desenvolvimento,


sistematização e facilitação de um estudo, ajuda a diferenciar seus objetos e a entendê-los.

18
Newton Fernandes e Valter Fernandes classificam os criminosos em: I.
biopsicocriminoso patológico, que incluem todos os portadores de moléstias mentais ou
personalidade psicopática com potencial aptidão anti-social; II. sociocriminoso, todos os que
não sejam portadores de moléstias mentais ou personalidade psicopática, mas que apresentam
uma tendência pessoal ao comportamento anti-social que se materializa mediante uma pequena
contribuição externa; III. biopsicosociocriminoso, é um individuo que desenvolve a conduta
criminosa estimulado por fatores biológicos e sociais, é o criminoso provindo de uma estrutura
social que tenderia a influenciá-lo à prática de crime, a sociedade brasileira e no caso em estudo
a baiana parece oferecer o ambiente ideal para o desenvolvimento desse agente delitivo, a
ausência de expectativas e produzam um planejamento de vida de longo prazo e a descontrolada
ascensão de grupos criminosos, principalmente relacionados ao tráfico de drogas, expõe o
indivíduo aos fatores sociais propícios ao desenvolvimento de criminosos ; IV. criminoso
situacional, é representado pelo seleto grupo de pessoas detentoras de um status social que lhes
conferem privilégios, proteção e oportunidades para a prática do crime, é o agente que pratica o
chamado crime do colarinho branco, cuja a lesão não é objetiva no sentido de atingir um
individuo, mas coletiva, transcendente, repercutindo em toda sociedade e quando descoberto e
não punido induz a um sentimento de impunidade geral, com reflexos diretos nos valores sociais;
V. criminoso habitual é o considerado criminoso profissional, reincidente constante; VI.
criminoso ocasional, categoria na qual se enquadram as pessoas fracas, tíbias e que cedem as
pressões do ambiente e VII. criminoso passional, nessa categoria estão os que atuam por força da
paixão, (FERNANDES, 2002). Odon Ramos Maranhão (MARANHÃO, 2003) agrupa os
criminosos em: I. criminoso ocasional, como sendo aquele com personalidade bem constituída e
bem formada, socialmente ajustada que, mediante solicitação particularmente forte, rompe
lacunarmente o seu equilíbrio e chega à pratica anti-social; II. criminoso secundário ou
sintomático, o seu ato é conseqüência de uma personalidade patológica, um ato sintomático de
uma doença, sendo responsabilidade da Pscopatologia Forense; III. Criminoso primário ou
caracterológico, é o que atua em razão de um caráter com defeito de formação, necessita de um
mínimo de motivação para desencadear a ação delituosa. Essas classificações do criminoso
demandam de avaliações psicológicas da personalidade desses agentes. No curso de uma
persecução criminal, já durante a fase judicial, essas avaliações são produzidas em laudos
periciais e provocadas por incidentes de sanidade mental.

19
3.6 CLASSIFICAÇÕES DOS CRIMES OU DELITOS

Quanto a classificação dos delitos, ou crimes, bastante interessante é a apresentada por


Emílio Mira Y Lopes, (LOPES, 2005) que os identifica em: I. delito por sugestão, resultado da
ação sobre o indivíduo de estímulos externos capazes de desencadear a atividade de reação dos
seus instintos básicos relacionados a conservação da vida e da espécie, aquela manifestada por
meio de agressão, no caso de cólera, ou de defesa, quando há o medo; II. delito profilático, nesta
categoria encontra-se o delito no qual o autor reconhece a ilegalidade do seu ato, mas atua
convencido de ser esse a única maneira de evitar um certo mal maior; III. delito eutanásico, é o
suposto homicídio por piedade, praticado no geral com o consentimento da vítima; IV. delito de
agressão preventiva, resultado do acumulo de ódio que autor sente por alguém, que transborda
sob a forma de ameaças, ou outras ações distintas da agressão física; V. delito vingativo, neste o
autor é impelido pelo espírito de vingança contra uma real ou suposta ação anterior da vitima;
VI. delito reinvindicador, o agente é impelido por um sentimento de dever ou de “generosidade
social”; VII. delito de aventura, ao pratica-lo o agente busca fugir da monotonia da vida
cotidiana.
Klarissa, em seu estudo sobre homicídios, apresenta uma classificação dos delitos,
considerando os contextos antecedentes ao crime e sob os quais eles ocorreram e á relação social
existente entre vitimas e agressores (SILVA, 2006). Elas os distribui em delitos de: I. bala
perdida, envolvendo circunstâncias em que vítima apenas se encontrava próxima ao local do
crime; II. caput o delito é denunciado sob a sua tipificação básica; III. trabalho policial, para os
delitos envolvendo a ação de policiais civis ou militares, IV. drogas/tráfico, quando a vitima, ou
o autor possuíam envolvimento com drogas, V. motivos financeiros, quando o delito foi
cometido por questões financeiras, como dividas, excluindo as pertinentes ao tráfico de drogas,
VI. vingança, o autor agiu imbuído com espírito de vingar-se da vitimas, excluindo as questões
amoras e o envolvimento com drogas, VII. motivos amorosos, quando o delito é resultado de
questões envolvendo briga fruto de relacionamentos amorosos, VIII conflitos cotidianos
envolvendo brigas por questões banais, por , motivo fútil.
O Direito Penal brasileiro possui inúmeras classificações para o delito, entre quais
destacamos: a) crime ou contravenção, a diferença entre os dois reside na gravidade atribuída,
sendo que no segundo, politicamente, estão incluídas as infrações de menor gravidade; b)
omissivo ou comissivo, para o segundo é exigida uma conduta ativa do agente, o primeiro é
praticado por omissão; c) crime comissivo doloso ou crime culposo, para o primeiro o agente
quer o resultado criminoso, ou assume o risco de concretizá-lo, no segundo o agente não deseja o

20
resultado criminoso, que chega devido imperícia, ou a negligência, ou a imprudência dele; d)
quanto ao tipo penal o delito pode ser básico, qualificado, ou privilegiado, o primeiro é definição
elementar da conduta delituosa, o segundo é a conduta elementar do delito associada a outra,
uma situação, que por política criminal, produzira uma pena mais elevada, o último é a prática
do delito associada a uma conduta, ou situação, redutora da pena.

3.7 CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS

Guaracy Moreira (FILHO, 2004) classifica as vitimas em: I. vitimas inocentes, ditas
aquelas que em nada colaboram para o fato delituoso, II. vítimas natas, caracterizadas por
aquelas cujo o temperamento agressivo e personalidade induzem a ocorrência do delito, III.
vítimas omissas, as que levam uma vida sem integração com o meio social, não reclamam
quando são incomodadas, agredidas, IV. vítimas da política social, que são frutos da negligência
do Poder Público, ou do comportamento corrupto das autoridades, V. vítimas atuantes, são as
que possuem um comportamento inverso do das vítimas omissas.

4. A CRIMINALIDADE NO ESTADO DA BAHIA

4.1 PERFIL DAS VÍTIMAS E AGRESSORES DOS HOMICÍDIOS DOLOSOS NA


BAHIA

Em agosto de 2006, a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP, divulgou o


resultado de pesquisa, compreendendo o período de janeiro de 2004 á dezembro de 2005, na qual
concluiu o perfil das vítimas e agressores dos homicídios dolosos no Brasil. Nela as vítimas são
apresentadas como majoritariamente masculinas, com idade entre 18 e 24 anos e os agressores
são principalmente homens seguindo o mesmo perfil etário das vítimas. Com efeito, os homens
representam mais de 90% das vítimas e agressores dos homicídios dolosos no Brasil. A
SENASP, na pesquisa supra comentada cita o Estado da Bahia com taxas de homicídios dolosos
por 100 mil habitantes, na ordem de 21,13 para o ano 2004 e 21,65 para o ano de 2005.
Cássia Carvalhal Borges (BORGES, 2006), citando Pesquisa sobre crimes de homicídios
na Bahia realizada pela Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de Salvador no Período
compreendido entre janeiro de 1996 e dezembro de 1999, observa que mais de 50% das
ocorrências policiais se dão principalmente à noite, nos fins de semana e no verão. O perfil das
vítimas de homicídio é do sexo masculino, com faixa etária entre 15 a 35 anos, de raça negra e
moradores da periferia carente de Salvador, com os crimes ocorrendo na maioria em via pública,

21
com a utilização de arma de fogo. Apesar do título a pesquisa parece restrita a Salvador, não
demonstrando abordar o interior do Estado. Os dados levantados pela Coordenação de
Documentação e Estatística da Polícia Civil da Bahia, para os últimos cinco anos vêem
apresentando indicações de um crescimento acentuado da criminalidade e especificamente da
taxa de homicídios.
Em Salvador deve ser considerada a freqüência de homicídios que podem ser
relacionados ao envolvimento dos seus autores com atividades criminosas, em especial o tráfico
de drogas e a ação intensiva de grupos de extermínio, bem como a disputas por território
envolvendo quadrilhas de marginais. A arma de fogo é o principal instrumento utilizado na
pratica do homicídio.
O Ministério da Justiça na publicação denominada Mapa da Violência dos Municípios
Brasileiro 2008, coordenada por Julio Jacobo Waiselfisz, disponível no site
<http://www.mj.gov.br/data/Pages/MJ4E0605EDITEMID002A488805D34C9FAD8C0704DF7
C488EPTBRIE.htm>, último acesso em 08/02/2008, apresenta a Taxa Média de Homicídios na
Bahia distribuída conforme ilustrado a seguir:

5. O MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE

O Município foi criado com base nas Cartas Régias de 27.12.1693 e de 27.12.1695, pela
Portaria de 27.11.1697, e com a denominação de "Vila de São Francisco da Barra de Sergipe do
Conde", sendo instalado em 16.02.1698. Foi o 3º município criado no Recôncavo baiano. Ele

22
teve o nome simplificado para "São Francisco do Conde" pelo Decreto Lei Estadual nº. 141, de
31.12.1943.
O Município de São Francisco do Conde esta situado a 66 km da Capital do Estado da
Bahia, incluído no Território de Identidade 21 - Recôncavo e atribuído a Região Econômica
RG.01, RMS – Região Metropolitana de Salvador, possui 267 km² de área e 29.829 habitantes
contabilizados no último censo do IBGE em 2007. A região constituiu-se pólo urbano em razão
da grande incidência de fazendas de cana de açúcar. São Francisco do Conde foi uma região
onde quem mandava ainda no início do século passado eram os Barões da Cana de Açúcar. A
sua população é predominantemente negra ou mestiça e apresentou um Índice de
Desenvolvimento Social, apurado no ano de 2002 pela SEI - Superintendência de Estudos
Sociais e Econômicos da Bahia, que a coloca na posição 50 do ranking dos 417 municípios
baianos, no ano de 2000 o IDHM avaliado para São Francisco do Conde foi de 0,714, colocando-
o na 16ª posição entre os 100 melhores no estado. O Município possui o maior PIB do interior do
Estado da Bahia apurado em 2005 como sendo R$ 6.362.615,00. A proximidade de Salvador
torna São Francisco do Conde sujeito a intensa influência da Capital. Ele tem hoje como
principal atividade econômica e fonte de renda a extração, o processamento e o refino do
petróleo. No Censo de 2001 o IBGE identificou 11.092 habitantes com mais de 10 anos no
Município que declararam não possuir nenhuma renda e 1.855 pessoas não possuem nenhuma
instrução ou menos de um ano de escolaridade. No ano de 2006, o número de matriculas no
ensino fundamental totalizou 6.065 para 1.430, 2319 e 300 para o ensino médio, a pré-escolar e o
ensino superior respectivamente. 65% da população é menor de 30 anos
Apesar do PIB o Município, onde outrora funcionou a primeira faculdade de agronomia
do Brasil, possui uma população em sua maioria pobre, com distritos, como São Bento das
Lages, onde ocorrem comunidades vivendo da cata de caranguejos e mariscos, e onde as pessoas
lutam pela sobrevivência diária. É um município litorâneo, possuindo diversas ilhas, com
colônias de pescadores e onde se vê a canoa como um importante meio de transporte. É forte a
influência cultura dos negros. O Município apesar dos indicadores privilegiados quando
comparados com os demais municípios do Estado carece como os demais de opções que
proporcionem o aproveitamento e o crescimento social da sua população, ele oferece poucas
oportunidades a população local, obrigando os mais jovens a o êxodo para os centros urbanos
mais atraentes.

23
6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

6.1 FONTES DOS DADOS

O ponto de partida para a análise dos casos de homicídio e crime com morte apurados
pela Delegacia de Polícia Civil do Município de São Francisco do Conde, foi o levantamento
quantitativo e a identificação destes casos na Delegacia de Polícia. Uma vez identificados e
quantificados os casos, iniciou-se a pesquisa das possíveis fontes dos dados que possibilitassem
responder as questões propostas. Surgiram as seguintes opções de fontes: a) Fontes Originais,
materializadas nos protagonistas dos casos, considerados como os autores, testemunhas,
policiais, defensores, delegados de policia e membros do Ministério Público e do Poder
Judiciário; b) Fontes Secundárias, materializadas nos documentos oficiais produzidos pelos
órgãos públicos no curso da apuração e julgamento dos casos em estudo, sendo eles o Inquérito
Policial e o Processo Judicial Criminal.
As fontes originais foram descartadas do posto de principal em razão das dificuldades
observadas para viabilizá-las, mas não abandonadas de todo, vez que foram utilizadas como
subsídio para complementação de informações, em especial entrevistas com os agentes policiais
nas quais se buscou elucidar pontos obscuros e a obtenção de dados e informações sobre a região
e os seus grupos sociais. Quanto ao Processo Judicial Criminal, que pode ser considerado como
a atividade por meio da qual o Estado exerce a função jurisdicional na esfera penal, para ele
foram constados alguns obstáculos que o posicionou no mesmo patamar das fontes originais.
A opção pelo Inquérito Policial como fonte principal de dados para a pesquisa baseou-se
no caráter investigativo do mesmo, aliado a formação dos pesquisadores, ambos Delegados de
Polícia, familiarizados, assim, com a lógica e os códigos utilizados na confecção desses
documentos e ao fato de um dos pesquisadores ser o Delegado de Polícia Titular da Delegacia
de Policia Civil do Município de São Francisco de Conde dos últimos 17 anos, facilitando assim
o acesso aos documentos.
Ressalta-se que na formulação de um inquérito policial procede-se a busca da chamada
verdade real em contrapartida com a verdade processual produzida pelo Poder Judiciário, como
verdade processual entende-se aquela resultante das provas levadas ao juiz de direito e que
formaram as suas convicções sobre o fato que lhe é submetido. Além do que, por imposição
legal (Artigo 6ª, do Código Processo Penal), os Autos do Inquérito Policial devem reunir os
resultados das seguintes ações da autoridade policial: I. oitiva do ofendido, II. oitiva do
indiciado, III. termos de reconhecimento de pessoas, coisas e acareações, IV. provas colhidas, V.
exames periciais, objetos apreendidos, VI. relatório da averiguação da vida pregressa do

24
indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude
e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que
contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter e VII. um Relatório Conclusivo. A
condução do inquérito do policial é procedimento de investigação, presidido pelo Delegado de
Policia, que liderando detetives e investigadores, busca elucidar as verdades sobre um fato
delitivo, identificando a autoria e as circunstâncias do mesmo. É assim uma atuação posteriori a
ocorrência do delito, não tem um fim preventivo primário, apenas secundário, e que reside no
fato de se fazer valer como elemento inibidor da propensão criminosa. No curso de um inquérito
mediante investigações, que utilizam os mais diversos meios, a exemplo de perícias em objetos,
exame de documentos, oitiva de pessoas, estudos de tempo e movimento, e pesquisas de campo,
reúnem-se elementos esclarecedores sobre o fato delituoso.
A utilização do Inquérito Policial emprestou natureza documental a pesquisa. Foi
utilizado como fonte complementar de informações o conhecimento empírico dos pesquisadores
e entrevistas dirigidas aos agentes policiais em atuação na delegacia.
Apesar da palavra final sobre a conduta criminosa do agente competir ao poder
Judiciário, este trabalho adota o indiciamento no Inquérito Policial como suporte para
estabelecimento do universo da pesquisa, buscando uma metodologia preventiva na
sistematização de procedimentos epistemológicos como ferramenta na elaboração das políticas
públicas de segurança nos municípios.

6.2 A DELEGACIA DE POLICIA CIVIL DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO


DO CONDE COMO EQUIPAMENTO PÚBLICO NO CONTEXTO SOCIAL

A Delegacia de Polícia do Município de São Francisco do Conde, na estrutura


administrativa da Polícia Civil da Bahia, encontra-se subordinada diretamente ao Departamento
de Polícia Metropolitana, órgão gestor da polícia judiciária na chamada Região Metropolitana de
Salvador, que além da Capital do Estado abrange os Municípios de Camaçari, Candeias, Dias
d´Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre Deus, São Francisco de Conde, Simões Filho e Vera
Cruz. A Delegacia funciona em regime de plantão atendendo todas as ocorrências durante 24
horas todos os dias da semana. Como quase todas as delegacias de polícia no interior do Estado,
ela assume um papel social que ultrapassa a elucidação de delitos, ela atua como anteparo para
tensões sociais saneando conflitos diversos antes de desaguarem em delitos. Assim é que a
comunidade recorre a policia para solucionar questões de convivência, o que ocorrer
principalmente pelo fácil e rápido acesso a Autoridade Policial. Durante mais de 17 anos, a
pesquisadora Graça Barreto desenvolveu suas atividades de Delegada de Polícia como Titular da

25
Delegacia de Policia de São Francisco do Conde, com atribuição de coordenar suas atividades e
orientar a sua administração. Essa convivência com os conflitos envolvendo a sociedade local
lhe emprestou um significativo conhecimento empírico sobre o comportamento daquele sistema.

6.3 O INQUÉRITO POLICIAL

Entre as várias peças produzidas durante o desenvolvimento de um inquérito policial e


que passam a constituir os Autos do Inquérito, observam-se as seguintes:
a) Relatório: ao concluir o procedimento investigatório, o Delegado de Polícia
presidente do inquérito policial, fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará os
autos ao juiz competente. Não há uma forma estipulada para esse relatório, cabe a cada relator
construir a sua ou basear-se nos inúmeros modelos já consagrados pela doutrina e pela prática. O
relatório não deve ser encarado como um prejulgamento do indiciado (caso exista), mas sim
como a narrativa do desenvolvimento da investigação, os incidentes, e as conclusões que dela se
extraíram.
b) Declarações da Vítima: o Código de Processo Penal, utilizado na condução do
inquérito policial, estabelece que sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado
sobre as circunstâncias da infração, quem ou presuma ser o autor e as provas que possa indicar.
c) Oitiva das Testemunhas: aqui o instrumento legal utilizado como referência é também
o Código de Processo Penal, que estabelece: A testemunha sob a promessa de dizer a verdade do
que souber e lhe for perguntado, deve declarar: o nome, a idade, estado, residência, profissão,
lugar onde exerce atividade, se é parente e em que grau de alguma das partes, ou quais suas
relações com qualquer delas e explicar as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais
possa ser avaliada a sua credibilidade. O falso testemunho é considerado crime, tipificado no
artigo 342 do Código Penal Brasileiro.
d) Interrogatório do Indiciado: não há uma formula legal para o interrogatório na fase do
inquérito policial, no entanto, por analogia, aplica-se ao tema o disposto nos artigos 185 e
seguintes do Código de Processo Penal, onde consta que o acusado que for preso, ou comparecer
espontaneamente, será qualificado e interrogado, devendo ser perguntado sobre o seu nome,
naturalidade, estado, idade, filiação, residência, meios de vida ou profissão e lugar onde exerce a
sua atividade e sabe ler e escrever, e depois de cientificado da acusação, será interrogado sobre:
I. onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve noticia desta; II. as provas
contra ele já apuradas; III. se conhece a vitima e as testemunhas já inquiridas ou por inquirir e
desde quando, e se tem o que alegar contra elas; IV. se conhece o instrumento com que foi
praticada a infração, ou qualquer dos objetos com esta se relacione e tenha sido apreendido; V.

26
se verdadeira a imputação que lhe é feita; VI. se, não sendo verdadeira a imputação, tem algum
motivo particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a que deva ser imputada a
prática do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela;
VII. todos os demais fatos e pormenores, que conduzam à elucidação dos antecedentes e
circunstâncias da infração; VIII. sua vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado
alguma vez e no caso afirmativo, qual o juízo do processo, qual a pena imposta e se a cumpriu.
Caso o indiciado negar a imputação no todo ou em parte, será convidado a indicar as provas da
verdade de suas declarações. Essas especificações legais não são exaustivas, cabe ao presidente
do inquérito formular quaisquer questões que acreditar ser conveniente para melhor elucidação
do fato criminoso.
Além dessas peças básicas um inquérito policial pode conter ainda laudos periciais,
relatórios produzidos pelos investigadores, autos de apreensões e exibições e diversos outros
autos e termos ditos incidentais.

6.4 A DETERMINAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra estudada consistiu na totalidade dos inquéritos policiais produzidos na


Delegacia de Polícia do Município de São Francisco do Conde – 21ª CP, para a apuração de
crimes que geraram como resultado a morte de uma pessoa natural e tipificados fase de
indiciamento como homicídio. Limitada ao período compreendido no intervalo fechado de datas
de janeiro de 2003 á dezembro de 2006, o lapso temporal foi delimitado pela confiabilidade da
fonte primaria dos dados, em especial o estado de conservação das pastas e livros e o acesso do
material em arquivo.
Foram estudados 30 (trinta) casos envolvendo homicídios. Como data de referência para
a seleção foi considerada a data da pratica do delito, ou da ocorrência do fato criminoso.

6.5 COLETA DOS DADOS

Para a pesquisa foram desenvolvidos formulários para coleta dos dados e as informações
retiradas dos inquéritos policiais foram classificadas de acordo com as questões a serem
resolvidas. A aplicação dos formulários mostrou-se um sistema pratico e eficiente de coleta de
dados, desde que fossem compensados com anotações e comentários livres. A dificuldade maior
encontrada foi a insuficiência dos inquéritos para suprir informações relativas ás pessoas
envolvidas nos delitos, dados como, renda, situação familiar, atividade econômica, e outras de
caráter social, estão incompletos nos documentos pesquisados. Outro meio de complementação

27
das informações foram visitas de reconhecimento aos locais relacionados com os Casos
estudados. Quanto aos elementos dos delitos as peças dos autos dos inquéritos atenderam a
demanda de dados para suprir a pesquisa.
O trabalho não foi desenvolvido com o inquérito policial original, vez que este já havia
sido encaminhado ao Poder Judiciário, mas sim com uma cópia denominada “dossiê”, que fica
mantida nos arquivos da delegacia de policia sob responsabilidade do escrivão de policia.

6.6 METODOLOGIA DE ANÁLISE DOS DADOS

Para efeitos deste estudo o delito de homicídio foi decomposto em quatro dimensões: a)
dimensão temporal do delito, que busca situar as ocorrências de homicídios no tempo; b) a
dimensão espacial, que busca situar os crimes de homicídio no espaço; c) dimensão contextual,
que busca situar os crimes de homicídio conforme as circunstâncias em que se desenvolveram;
d) dimensão pessoal; que busca situar os individuais nos crimes de homicídio, identificando os
seus atores, o agressor e a vítima.
Os inquéritos policiais foram submetidos ao procedimento de analise de conteúdo a fim
serem coletadas as seguintes variáveis:
a) Variáveis Pessoais: Relacionadas às pessoas do agressor e da vítima, sendo
isoladas as seguintes características: sexo, raça/cor, idade.
b) Variáveis Temporais do Delito: Relativas ao momento no tempo em que se
desenvolveu o crime, isolando as seguintes identificações sobre o fato: dia, mês, ano, horário,
c) Variáveis Espaciais: Relativas ao espaço onde ocorreu o delito, assim
identificadas: zona urbana, zona rural, local do crime, local do crime em relação ao autor e a
vítima.
d) Variáveis Contextuais do Delito: Relativas as circunstâncias em que se
desenvolveu o delito, sendo: motivação do delito, consumo de álcool e relação com consumo
e/ou tráfico de drogas, arma utilizada e origem da arma utilizada.
e) Variáveis Pessoas do Delito: Relativas aos protagonistas do crime homicídio, o
autor e a vítima, selecionou-se as seguintes variáveis: idade, sexo, cor/raça, relacionamento entre
o autor e a vítima.
Para o processo de analise interpretação dos dados foram adotados os conselhos
apresentados por Antonio Carlos Gil (GIL, 1999) e a tarefa distribuída nos seguintes passos:
a) Estabelecimento de categorias para agrupamento dos dados coletados.

28
b) Tabulação dos dados com a contagem dos casos que estão nas várias categorias, nas
modalidades tabulação simples e tabulação cruzada
c) Análise Estatística dos dados.
d) Interpretação dos dados
O agrupamento dos dados coletados obedeceu as seguintes categorias:
a) Sexo: masculino, feminino;
b) Raça/cor: a partir das leituras das qualificações dos agressores e vitimas nas contidas
nas peças dos inquéritos, vez que não houve o contato direto com esses atores
resumiu-se em: branco, negro, pardo e pardo escuro.
c) Idade: relativa a idade dos citados protagonistas do evento delituoso, classificada nos
seguintes intervalos de anos: 16 à 18 anos, 18 à 20 anos, 20 à 22 anos, 22 à 24 anos,
24 à 26 anos, 26 à 28 anos, 28 à 30 anos e 30 anos ou mais.
d) Tipologia das Vítimas: para a classificação das vítimas optou-se por utilizar o
sistema proposto por Guaracy Moreira Filho (FILHO, 2004), simplificando-o em: -
Vítima inocente, quando a conduta social da vítima em nada interfere na aptidão de
envolver-se com delitos, - Vitima nata, é aquela cujo o comportamento social
agressivo, violento a tornam propicia a envolver-se com delitos, - Sem informação,
quando as informações contidas nos autos dos inquéritos não permitiu identificar um
comportamento social especifico da vítima.
e) Tipo de relacionamento entre o autor e a vítima: Classifica a espécie de
relacionamento entre o autor e a vítima e que seja pré-existente ao homicídio-
Inimigos, quando vítima e autor eram inimigos declarados ou notórios; -
Desconhecido, quando vítima e autor nunca tiveram qualquer espécie de
relacionamento anterior ao delito;- Conhecidos, quando vítima e autor possuíam
alguma espécie de relacionamento social diferente de cônjuge/companheiro, -
Cônjuge/companheiros, quando o autor e vítima viviam um relacionamento de
companheirismo e convivência em comum;- Sem referência, quando não foi possível
identificar a espécie de relacionamento existente entre autor e vítima, em tempo
anterior ao crime.
f) Origem da arma utilizada na prática do delito: Classifica o local de onde o autor foi
buscar a arma para a prática do delito, tipificado em: - Guardada em casa, quando o
autor intencionalmente em casa apanhar a arma para a prática do delito, - Entregue
ao Agressor por alguém, quando a arma é chega as mãos do agressor, já durante a
situação de conflito, fornecida por terceira pessoa diferente do autor e da vítima, -
Portada pela vítima, quando a arma estava inicialmente em posse da vítima, - Portada

29
pelo agressor, quando o agressor já portava a arma no instante em iniciou-se o
conflito com resultado morte, - Objeto pego no local do crime, quando o agressor
utiliza para matar um objeto que já esteja no local do crime e ao alcance das mãos
dele.
g) Instrumento utilizado para o crime: o objeto utilizado para a prática do homicídio foi
classificado em: - Instrumento de trabalho, quando consistiu em uma ferramenta de
trabalho; - Arma branca de fabricação industrial, quando o instrumento do crime foi
um objeto fabricado em escala industrial com a finalidade de ser utilizado como
arma branca, ou cujo emprego histórico seja como arma (mesmo que também sejam
utilizados como ferramentas de trabalho), a exemplo de facas, facões, espadas, etc; -
Arma branca de fabricação não industrial, para os objetos concebidos como arma
branca, porém não fabricados em escala industrial, a exemplo de estiletes e
vergalhões apontados; - Arma de fogo de fabricação industrial, o objeto concebido
como arma de fogo e fabricado em escala industrial; - Arama de fogo de fabricação
não industrial, o objeto concebido como arma de fogo não fabricado em escala
industrial, a exemplo das garruchas artesanais; - Objeto ao alcance das mãos, quando
o instrumento do crime foi qualquer objeto que foi transformado arma pelo agressor,
a exemplo de banco e garrafas.
h) Horário: Horário do delito, distribuídos nos seguintes intervalos de horas: 00 á 6, 6 á
12, 12 á 18 e 18 á 24. Representando respectivamente, madrugada, manhã, tarde e
noite, é uma adaptação do modelo proposto por Lima (LIMA, 2001).
i) Zona: classificação do local onde o delito foi praticado em: zona rural, ou zona
urbana.
j) Local do crime: O local onde se deu o evento: terreno isolado, casa do autor, casa da
vitima, casa de terceiro, praça/logradouro, bar/boate/restaurante.
i) Local do crime considerado relativamente: classificado em: próximo a casa do autor ou
no interior desta, próximo a casa da vítima ou no interior desta, próximo as casas do autor e da
vítima.
m) Consumo de álcool: sobre se o autor, ou vítima, consumiram bebida alcoólica no
delito imediatamente antes do fato: - não houve consumo de bebida alcoólica; - sem referência
nos autos sobre o consumo de álcool; - apenas o autor consumiu bebida alcoólica; - autor e
vítima consumiram bebida alcoólica.
o) Motivação do delito: buscar identificar as conclusões que as peças dos inquéritos
levam sobre o que levou o autor a matar. Para essa classificação adaptou-se a proposta por
Larissa (SILVA, 2006), quando estudou a variável denominada por ela de tipologia e referente

30
aos contextos antecedentes do crime e sob quais eles ocorreram: I- drogas/tráfico, quando o
crime esta relacionado ao envolvimento do autor e da vítima com o tráfico de drogas ilícitas, II-
motivos amorosos, brigas entre casais que se relacionavam intimamente, ciúmes III- conflitos
cotidianos, envolvendo discussões e brigas de pouca importância entre pessoas,IV - caput,
quando o inquérito não permitir identificar o motivo presumido do delito, V- vingança, por
razões de vingança não relacionadas a drogas e questões amorosas e acrescentou-se: VI- Motivos
financeiros, quando o delito foi decorrente de uma relação entre autor e vítima envolvendo
dinheiro, a exemplo de empréstimos, sociedades, negócios de compra e venda, deste que não
estejam relacionados com drogas/tráfico.

7. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

7.1 A DIMENSÃO TEMPORAL DO CRIME DE HOMICÍDIO

Os delitos coletados compreenderam a totalidade dos crimes tipificados como homicídio


no peça do Inquérito Policial compreendidos do período de 01/1/2003 á 31/12/2006, considerado
como um intervalo fechado. Foram estudados 30 Inquéritos Policiais, representando a totalidade
das ocorrências de homicídio no intervalo de tempo supra referido. O Gráfico 1 oferece uma
visão da distribuição do crime de homicídio por ano.
Gráfico 1 - DISTRIBUIÇÃO DAS OCORRÊNCAS DE HOMICÍDIOS POR ANO

ANO 2006

ANO 2005
ANO

ANO 2004

ANO 2003

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE DE HOMICÍDIOS

O Gráfico 1 inicia o ano de 2003 com um total de 7 ocorrências delituosas classificadas


como homicídio nos Inquéritos Policiais, demonstra uma tendência de queda nos anos de 2004 e
2005, finalizando este último com 5 ocorrências. Essa tendência de queda é interrompida no ano
de 2006 quando 12 ocorrências, classificadas como homicídios nos Inquéritos Policiais, foram
observadas. O Gráfico 1a expondo a freqüência anual das ocorrências de homicídio por mês,

31
aponta o mês de junho como crítico, vez que em todos os anos se observaram mortes apuradas
como homicídios, observe que não se esta avaliando a quantidade de ocorrências, mas sim a
freqüência com que o mês de junho se repete na escala temporal de homicídios. Por outro lado o
mês de novembro não apresentou nenhuma ocorrência de homicídio nos anos estudados.

Gráfico 1a - DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL DO HOMICÍDIOS

4
OCORRÊNCIAS

3
QUANTIDADE

ANO 2003
ANO 2004
DE

ANO 2005
ANO 2006
2

0
O

L
RO

RO

HO

O
O
RI
Ç

LH

BR

BR

BR
AI

BR
ST
EI

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M
JU
N

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M

UT
TE

VE

ZE
JA

O
SE

DE
NO
FE

Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006


MÊS

Quando observada em termos quantitativos a distribuição mensal das ocorrências de


homicídio nos meses de abril, junho e setembro se igualam no valor máximo, conforme
observado no Gráfico 2. Nessa avaliação importa observar que o mês de setembro apresenta
todas as suas ocorrências de homicídio verificadas unicamente no ano de 2006, aparecendo
como um período pacato nos anos de 2003, 2004 e 2005.

Gráfico 2 - DISTRIBUIÇÃO MENSAL DAS OCORRÊNCIAS HOMICÍDIO PARA O PERÍODO DE 1/1/2003 À 31/12/2006

DEZEMBRO

NOVEMBRO

OUTUBRO

SETEMBRO

AGOSTO

JULHO
MÊS

JUNHO

MAIO

ABRIL

MARÇO

FEVEREIRO

JANEIRO

0 1 2 3 4
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE DE HOMICÍDIOS

32
O Gráfico 2a, a seguir, ilustra junho como o mês crítico, com ocorrências de homicídios
registradas em todos os anos do intervalo temporal deste estudo, ele é seguido em sua
tendência pelos meses de abril e agosto. Já os meses de maio e setembro demonstram ser
pacatos, com ocorrências de homicídios registradas apenas nos anos de 2003 e 2006,
respectivamente.

Gráfico 2a - DISTRIBUIÇÃO MENSAL DAS OCORRÊNCIAS DE HOMICÍDIOS POR ANO

DEZEMBRO

NOVEMBRO

OUTUBRO

SETEMBRO

AGOSTO

JULHO
ANO 2006
MÊS

JUNHO ANO 2005


ANO 2004
MAIO ANO 2003

ABRIL

MARÇO

FEVEREIRO

JANEIRO

0 1 2 3 4
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

A distribuição das ocorrências de homicídios por dia da semana esta demonstrada no


Gráfico 3. Os dias de segunda-feira, quinta-feira e sexta-feira, surgem como os dias com
maior incidência do delito. Vale aqui a mesma observação referente as ocorrências mensais
de homicídios, é preciso complementar a conclusão com uma análise que represente a
incidência anual do dia da semana.

Gráfico 3 - DISTRIBUIÇÃO DOS HOMICÍDIOS POR DIA DA SEMANA PARA O PERÍODO DE 01/01/2003 Á 31/12/2006

SÁBADO

SEXTA

QUINTA
SEMANA
DIA DA

QUARTA

TERÇA

SEGUNDA

DOMINGO

0 1 2 3 4 5 6 7
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE OCORRÊNCIAS DE HOMICIDIOS

33
O gráfico 3a expõe a freqüência anual de homicídios por dia da semana, nele se percebe
que só houve registro de homicídios no dia de quarta-feira no ano de 2004, para os dias de
sábado e quinta-feira os homicídios só ocorreram nos anos de 2004 e 2006. Para os demais
dias da semana, ou seja, nos dias de domingo, segunda-feira, terça-feira e sexta-feira foi
constatado o registro de homicídios nos anos de 2003, 2005 e 2006, o que nos permite
afirmar que as probabilidades de ocorrência de um homicídio são iguais para esses dias
semanais. O maior quantitativo de homicídios na sexta-feira apresentado no Gráfico 3 foi
produzido principalmente pelos eventos referentes ao de 2006. Por outro lado dia da semana
com menor probabilidade de ocorrência de um caso de homicídio será a quarta-feira.

Gráfico 3a - DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE HOMICÍDIOS POR DIA DA SEMANA

SÁBADO

SEXTA

QUINTA
DIA DA SEMANA

ANO 2006
QUARTA
ANO 2005
ANO 2004
ANO 2003
TERÇA

SEGUNDA

DOMINGO

0 1 2 3 4 5 6 7
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

A distribuição dos casos de homicídios por hora esta demonstrada no Gráfico 4, onde
fica exposta uma maior concentração de ocorrências nas faixas horárias da tarde e da noite,
não se trata de uma surpresa, pois ao longo do exercício das carreiras de Delegados de Polícia
por municípios no interior do Estado, os pesquisadores se habituaram ao costume dos
trabalhadores ao final do dia de trabalho se reunirem em bares, sendo normal que os
expedientes de trabalho fora dos centros urbanos se encerrem por volta das 17:00 horas, ou
até antes, conforme a luminosidade do sol.

34
Grafico 4 - DISTRIBUIÇÃO HORÁRIA DOS HOMICÍDIOS PARA O PERÍODO DE 01/01/2003 À 1/12/2006

18:00 - 24:00

12:00 - 18:00
HORÁRIA
FAIXA

06:00 - 12:00

00:00 - 06:00

0 2 4 6 8 10 12 14 16
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

Este estudo da distribuição temporal do crime de homicídio no Município de São


Francisco do Conde finaliza com conclusão de maior incidência desse delito ocorre á noite. Não
se pode dizer que há um dia da semana mais propício para a ocorrência dessa espécie de crime,
porém nas quarta-feira sua incidência mostrou-se rara. Já o mês de junho mostrou-se como um
período crítico.

7.2 A DIMENSÃO ESPACIAL DO CRIME DE HOMICÍDIO

A apropriação e distribuição das ocorrências de homicídios em razão do fato ter se


consumido em zona rural, ou em zona urbana, demonstrou que, para o período estudado, a
concentração desse delito em São Francisco do Conde esta na zona rural, é o que indica o
Gráfico 5.

Gráfico 5 - DISTRIBUIÇÃO GEOGRAFICA DOS HOMICÍDIOS

URBANA
ZONA

RURAL

0 5 10 15 20 25 30
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

35
Já o Gráfico 5a demonstra que a tendência da área rural concentrar a criminalidade de
homicídios se repetiu todos os anos no intervalo do estudo, eliminando a possibilidade dos
valores apresentados no Gráfico 5 serem provenientes de uma concentração especifica em
um ano qualquer.
Gráfico 5a - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS HOMICÍDIOS POR ANO

ANO 2006

ANO 2005

ZONA URBANA
ZONA RURAL

ANO 2004

ANO 2003

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Fonte: 21ª CP - 2003 / QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS
2006

Quando distribuímos as ocorrências de homicídio buscando detalhar características


especificas do local onde se deu o evento, observamos que a maioria dos crimes foi cometida
em área pública, a saber: em uma praça ou em um logradouro público, ou em um bar.
Interessante é o fato de a casa da vitima também configurou um palco concorrido para a
prática do delito estudado. Como em terrenos isolados distantes foram catalogados os crimes
executados em locais ermos, sejam públicos, ou privados, distantes das aglomerações
populares. No Gráfico 6 há distribuição dos crimes de homicídio por local do delito,
considerando a classificação comentada.

Gráfico 6 - DISTRIBUIÇÃO DOS HOMICÍDIOS POR LOCAL DO DELITO

PRAÇA/LOGRADOURO

TERRENO ISOLADO DISTANTE


LOCAL DO
DELITO

CASA DE TERCEIRO

CASA DA VITIMA

BAR/BOATE/RESTAURANTE

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

36
Buscando localizar geograficamente os homicídios produzimos o Gráfico 7, distribuindo
as ocorrências pelos logradouros da sede e pelos distritos do Município de São Francisco do
Conde. O estudo demonstrou que o Distrito do Caipe é o que produziu maior quantidade de
delitos.

Gráfico 7 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS HOMICÍDIOS - PERÍODO DE 1/1/2003 À 31/12/2006

SANTA ELISA

RUA DO CAIS

SOCORRO

GURUGE

CORCOVADO
LOGRADOURO/

MONTE
DISTRITO

CENTRO

ESTRADA CAMPINA

PITANQUEIRA

BAIXA FRIA

DISTRITO DO ST ESTEVÃO

JABAQUERA DE ÁREA

DISTRITO DO CAIPE

0 2 4 6 8 10 12 14

Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

O Gráfico 8 comparando a distribuição espacial do delito e horário em que se deu o fato


indica que todos os locais relacionados são propícios a ocorrência de homicídios na faixa das
18:00 horas ás 24 horas. O Gráfico 9 por sua vez demonstra que independente do intervalo de
horas a zona rural prevaleceu como local de concentração do crime de homicídio. O Distrito
do Caipe concentra a maior incidência de homicídios.

Gráfio 8 - DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO - TEMPORAL DOS HOMICÍDIOS

5
QUANTIDADE DE
HOMICÍDIOS
4

INTERVALO DE HORAS 2

00:00 - 06:00 1
06:00 - 12:00
0
12:00 - 18:00
BAIXA FRIA

PITANQUEIRA

EST CAMPINA

RUA DO CAIS
DISTRITO DO

CORVADO

SOCORRO
JABAQUERA DE

MONTE

GURUGE

SANTA ELISA
CENTRO
DISTRITO DO ST

18:00 - 24:00
ESTEVÃO
CAIPE

ÁREA

LOGRADOURO / DISTRITO
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006

37
Gráfico 9 - DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DOS HOMICÍDIOS

14

13

12

11

10

8
QUANTIDADE
DE 7 ZONA URBANA
OCORRÊNCIAS ZONA RURAL
6

0
00:00 - 06:00 06:00 - 12:00 12:00 - 18:00 18:00 - 24:00
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 INTERVALO DE HORAS

Outra variável considerada nesta análise é a que trata da relação do local do crime com as
residências, ou local de moradia, dos seus protagonistas. Gráfico 10, exibe essa distribuição
considerando a distância do local do delito em relação a moradia dos seus protagonistas.

Gráfico 10 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS HOMICÍDIOS

PRÓXIMO AS CASAS DO AUTOR E DA


VÍTIMA
LOCAL DO
FATO

PRÓXIMO APENAS A CASA DO AUTOR OU


NO INTERIOR DESTA

PROXIMO APENAS A RESIDENCIA DA VITIMA


OU NO INTERIOR DESTA

0 5 10 15 20 25
QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006

38
A distribuição espacial do delito de homicídio mostrou que a violência foi concentrada na
área rural do Município, que a maioria dos delitos foi praticada em logradouros e ambientes
abertos ao público. Os crimes foram cometidos no circulo de vizinhança do autor e da vítima.

7.3 A DIMENSÃO CONTEXTUAL DO CRIME DE HOMICÍDIO

Denominamos dimensão contextual do crime de homicídio os elementos que identificam


as circunstâncias como se desenrolou o delito, qual a motivação alegada e apurada, qual o
instrumento utilizado para o delito, qual o ambiente em que se desenvolveu o crime.
Iniciamos a análise buscando aferir a participação da bebida alcoólica no ambiente do
delito. A expressão participação da bebida alcoólica, aqui utilizada, não pode ser interpretada
como um indicativo de que a ingestão de bebida alcoólica foi um dos fatores que induziram o
crime. Essa avaliação se mostrou impossível ser produzida apenas com as informações
contidas nos autos dos inquéritos Policiais, para tanto é imprescindível a presença de laudos
periciais indiquem o estado físico e mental dos protagonistas do crime. O que buscamos é
apenas obter a informação se imediatamente antes da ocorrência criminosa os protagonistas
do delito estavam ingerindo bebida alcoólica, informação esta que foi retirada do conteúdo
das peças do Inquérito Policial, a saber: oitivas, relatório de investigação, interrogatórios e
laudos periciais se presentes. A presença do consumo de bebida alcoólica nos conflitos no
Brasil decorre de longas datas, Ivan de Andrade Vellasco (VELLASCO, 2007), em artigo
publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional no qual comenta a violência no
período imperial, faz reverencias sobre o efeito estimulante da bebida alcoólica sobre os
homens da época. Logo não como se desprezar o elemento bebida alcoólica em um contexto
de violência. O Gráfico 11 apresenta o consumo de bebida alcoólica no contexto do delito.

Gráfico 11 - RELACIONAMENTO DOS HOMICÍDIOS COM O CONSUMO ANTECEDENTE DE ÁLCOOL

NÃO HOUVE CONSUMO DE BEBIDA


ALCOÓLICA
RELACIONAMENTO

SEM REFERÊNCIA NOS AUTOS

APENAS O AUTOR CONSUMIU BEBIDA


ALCOÓLICA

AUTOR E VITIMA COMSUMIRAM BEBIDA


ALCOÓLICA

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

39
No Gráfico 12 se relaciona a disposição espacial do crime com o consumo de bebida
alcoólica. Nele fica claro que na área rural o consumo de álcool por parte dos protagonistas do
delito de homicídio no contexto do crime é bastante acentuado.

Gráfico 12 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS HOMICÍDIOS E O CONSUMO ANTECEDENTE DE


ÁLCOOL

ZONA RURAL
LOCALIZAÇÃO
DO EVENTO

NÃO HOUVE CONSUMO DE BEBIDA ALCOÓLICA


SEM REFERÊNCIA NOS AUTOS
APENAS O AUTOR CONSUMIU BEBIDA ALCOÓLICA
AUTOR E VITIMA COMSUMIRAM BEBIDA ALCOÓLICA

ZONA URBANA

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006
QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

Tentar classificar os motivos para a pratica de um crime de homicídio é sem sombra de


dúvidas um atividade complexa e complicada, como tudo relativo ao comportamento humano as
variações são quase infinitas. Neste trabalhado utilizamos a classificação propostas por Larissa
(SILVA, 2006) a fim de tipificarmos os motivos dos crimes de homicídio. Mais uma vez as
conclusões sobre os motivos da pratica do delito forma retiradas da leitura e interpretação das
peças do Inquérito Policial. O Gráfico 13 apresenta a distribuição das ocorrências de homicídio
pela sua motivação.
Gráfico 13 - DISTRIBUIÇÃO DOS HOMICÍDIOS PELO MOTIVAÇÃO

CONFLITOS COTIDIANOS

MOTIVOS AMOROSOS

VINGANÇA
MOTIVO

MOTIVOS FINANCEIROS

DROGAS/TRAFICO

CAPUT

0 2 4 6 8 10 12
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

40
O Gráfico 14 apresenta as ocorrências dos homicídios classificadas por motivo e
distribuídas em termos geográficos.

Gráfico 14 - DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA MOTIVAÇÃO DOS HOMICÍDIOS

CONFLITOS COTIDIANOS

MOTIVOS AMOROSOS

VINGANÇA
MOTIVO

MOTIVOS FINANCEIROS

DROGAS/TRAFICO

CAPUT

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

ZONA URBANA ZONA RURAL

A análise dos Gráficos 13 e 14 aponta para a predominância dos conflitos cotidianos


como motivo dos crimes de homicídio, seguido pelos motivos amorosos. É interessante notar que
na área urbana só foram identificados como causadores dos conflitos o motivo amoroso e o aqui
denominado caput. A tipificação de um motivo apresentado como conflito cotidiano foi uma
aplicação subjetiva, dependente da interpretação aplicada pelos pesquisadores. Como conflitos
cotidianos foram classificados os motivos de somenos importância. A título de ilustração
transcrevemos trechos de alguns depoimentos colhidos nos diversos inquéritos, nos quais os
nomes e identificações dos protagonistas estão omitidos:
a) “sendo que já tinha ocorrido uma discussão no jogo de futebol e a outra na frente da
casa da vítima, que estava dentro de casa e saiu para reclamar dos mesmos e pedindo para
pararem de confusão, quando foi baleado”. IP 015/05, de 25/3/2005.
b) “quando por volta da meia noite, aproximadamente, um cidadão não conhecido do
interrogado, jogou-lhe cerveja no rosto, atingindo-o e em seguida lhe foi perguntado se gostou”.
Fonte IP 18/05, de 6/6/2005.
c) “XXXX chegou ofegante dizendo que havia tido uma discussão com um vizinho da
rua de cima por causa de alguns sacos de cimento vazios”. Fonte IP 01/94, de 28/1/2004.
d) “foi apurado que a causa do crime foi uma rixa entre ambos”. Fonte IP 17/2003 de
4/5/2003.
Continuando passemos a apresentar a análise do tipo relação pré-existia entre o autor e a
vítima. A conclusão que se chegou é da predominância da ocorrência de homicídios entre

41
pessoas que já possuíam o relacionamento prévio. Evitamos utilizar a classificação “entre
amigos”, vez que as informações disponíveis não nos possibilitaram avaliar essa qualificação,
vez que amizade é um conceito bastante complexo e profundo. Preferimos a expressão
“conhecidos”, para indicar uma convivência entre os protagonistas, seja como vizinhos, colegas
de trabalho, até mesmo participarem juntos de partidas de futebol. O Gráfico 15 ilustra a
distribuição dos crimes de homicídio em relação ao tipo de relacionamento entre o autor e a
vítima.
Gráfico 15 - RELAÇÃO DO AUTOR COM A VÍTIMA NOS CRIMES DE HOMICÍDIO

INIMIGOS

SEM REFERÊNCIA
RELAÇÃO AUTOR/VÍTIMA

DESCONHECIDOS

CONJUGES/COMPANHEIROS

CONHECIDOS

0 5 10 15 20 25
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

Os estudos de vitimologia nos induzem a avaliar a importância do papel da vítima na


gênese do delito, neste trabalho buscamos entender esse comportamento classificando as vítimas
segundo a proposta de Guarany Monteiro Filho (FILHO, 2004) e observamos a predominância
de vítimas cujo o comportamento social as tornam predispostas a sofrerem violências. Eis
exemplos coletados dos autos dos Inquéritos Policiais estudados, mais uma vez os nomes dos
protagonistas estão omitidos: a) “que ao entrar dois rapazes estavam sentados em uma mesa,
tendo um deles dito: “estava bom, agora já não prestou”. IP 018/2005, de 06/06/2005; b) “que
não existia motivos para o interrogado matar XXXX, pois a conhecia a muito tempo e apesar
dela ser dada a confusões nunca se meteu com sua família”. IP 13/2003, de 20/04/2003. O
Gráfico 16, apresenta a distribuição dos homicídios conforme a classe das vítimas. Com vítimas
natas também foram classificadas aquelas que possuíam relações com atividade marginais, a
exemplo do consumo e do tráfico de drogas.

42
Gráfico 16 - DISTRIBUIÇÃO DAS VÍTIMAS POR TIPO NOS CRIMES DE HOMICÍDIO

VÍTIMAS NATAS
TIPO

SEM INFORMAÇÃO

VÍTIMAS INOCENTES

0 5 10 15 20 25 30
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE

Quando estudamos os instrumentos utilizados para a pratica do homicídio em São


Francisco do Conde, no período pesquisado, percebemos a predominância da arma de fogo
produzida industrialmente, em especial os revólveres. Em temos as armas brancas, também de
fabricação industrial e os objetos que estavam ao alcance das mãos a exemplo de porretes.
Percebemos o costume local de andar armado, principalmente portando armas brancas, como as
facas. Citando Ivan de Andrade Vellasco observamos que “as armas, além de atributo
inseparável da masculinidade, eram também instrumentos de trabalho”, esse comentário foi feito
pelo autor sobre o contexto vigente no período do Brasil Imperial. Eis dos algumas situações
coletadas nos autos dos Inquéritos Policiais estudados:
a) “estava dentro de casa, no endereço acima, descascando cana, quando ouviu gritos de
mulheres e crianças vindo da rua, e saiu para ver o que estava ocorrendo, encontrando sua
companheira XXXX, brigando com uma mulher que atende pelo apelido de “ZZZZ”” ... “e sem
querer terminou por dar um corte na altura do ombro de “ZZZZ”. IP 013/03, de 20/04/03.
b) “PERG: tem por costume portar arma branca? RESP. Negativamente, contudo na
madrugada portava para proteger-se”. IP 18/05, de 6/6/2005.
c) ”nesse momento entrou na briga o individuo de nome XXXX, que sacou um revolver e
desferiu dois tiros”. IP 17/2003, de 4/5/2003.
d) “PERG: tem costume de andar armado? RESP: negativamente. PERG: como na data
do fato e no momento do evento encontrava-se de portando uma faca? RESP: quee estava em
frente a sua residência, sozinho, pois acabara de chupar uma laranja colocara a faca na soleira da
janela...”. IP 09/06, de 2/3/2006.

43
Os Gráficos 17 e 18 apresentam a freqüência de uso dos diversos instrumentos na prática
do homicídio e como esses instrumentos entraram na cena do crime, respectivamente.

Gráfico 17 - DISTRIBUIÇÃO DOS HOMICÍDIOS POR ARMA UTILIZADA PARA O CRIME

INSTRUMENTO DE TRABALHO

OBJETO AO ALCANCE DAS MÃOS


ARMA UTILIZADA

ARMA BRANCA DE FABRICAÇÃO


NÃO INDUSTRIAL

ARMA BRANCA DE FABRICAÇÃO


INDUSTRIAL

ARMA DE FOGO DE FABRICAÇÃO


NÃO INDUSTRIAL

ARMA DE FOGO DE FABRICAÇÃO


INDUSTRIAL

0 2 4 6 8 10 12 14
QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

Gráfico 18 - ORIGEM DA ARMA UTILIZADA PARA A PRÁTICA DO HOMICÍDIO

GUARDADA EM CASA

ENTREQUE AO AGRESSOR POR


ALGUÉM
ORIGEM DA ARMA

PORTADA PELA VÍTIMA

PORTADA PELO AGRESSOR

OBJETO PEGO NO LOCAL DO


CRIME

0 5 10 15 20 25
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS DE HOMICÍDIOS

7.4 A DIMENSÃO PESSOAL DO CRIME DE HOMICÍDIO

O estudo da dimensão pessoal do crime de homicídio, objeto desta pesquisa, teve por
finalidade traçar um perfil dos seus atores, respondendo a quem são as pessoas do autor e da
vítima. No desenvolvimento do trabalho percebemos uma grande carência de informações
relativas a essas pessoas nos autos dos Inquéritos Polícias, o que de certa forma era esperado,
pois a vivência prática com essas peças nos alertava que a qualificação dos protagonistas de
delitos é pobre no que diz respeito ao seu comportamento social. Valoriza-se mais a
qualificação física e a identificação familiar. Mesmo assim reunimos as informações coletas e
as complementamos com nosso conhecimento empírico da sociedade local e da região.

44
A variável mais prejudicada foi a raça/cor dos protagonistas, essa informação, obtida a
partir da avaliação subjetiva efetuada pelo escrivão de polícia, ou retirada do documento de
identidade, apresenta um grande espaço para imprecisões e não obedece aos critérios
padrões utilizados pelo IBGE para essa tipificação. Infelizmente trata-se de uma informação
cuja a aferição demanda na busca dos protagonistas, uma tarefa difícil para os autores e
impossível de ser suprida diretamente pela as vítimas, cuja a opção nesse caso seria o contato
com familiares e a busca por fotografias. Assim dadas as dificuldades, optamos por copiar e
classificar os dados oriundos dos documentos oficiais estudados. No Gráfico 19 consta a
distribuição dos homicídios por raça/cor.

Gráfico 19 - COR / RAÇA DOS AUTORES E VÍTIMAS DE HOMICÍDIO

NEGRO

BRANCO
COR / RAÇA

VÍTIMA
AUTOR
PARDO ESCURO

PARDO

0 1 2 3 4 5 6 7

Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

Quando classificamos os envolvidos em crimes de homicídio pelo gênero percebemos a


predominância do sexo masculino, seja como autor, seja como vítima. O Gráfico 20 ilustra
essa distribuição dos homicídios.
Gráfico 20 - DISTRIBUIÇÃO DOS HOMICÍDIOS POR GÊNERO DO AGRESSOR E DA VÍTIMA

MASCULINO
GÊNERO

AGRESSOR
VÍTIMA

FEMININO

0 5 10 15 20 25 30
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS

45
A classificação dos protagonistas dos crimes de homicídio por faixa etária identifica uma
população madura, com idade de 30 anos para mais, envolvida como predominante nessa
espécie de violência. Apenas um único caso envolvendo menor de idade foi constatado e
referiu-se a um garoto que receberia quinhentos reais e uma bicicleta para matar um desafeto
de quem o contratou. O Gráfico 21 expõe a distribuição dos homicídios classificados pelas
faixas etárias do autor e vítima.

Gráfico 21 - IDADE DAS VÍTIMAS E AGRESSORES NOS CRIMES DE HOMICÍDIO

30 ANOS OU MAIS

28 Á 30 ANOS

26 Á 28 ANOS
FAIXA ETÁRIA

24 Á 26 ANOS

AGRESSOR
22 Á 24 ANOS VÍTIMA

20 Á 22 ANOS

18 À 20 ANOS

16 À 18 ANOS

0 5 10 15 20 25
Fonte: 21ª CP - 2003 / 2006 QUANTIDADE DE HOMICÍDIOS

A avaliação social dos protagonistas dos homicídios a partir dos Autos dos Inquéritos
mostrou-se deficiente, principalmente pela falta de visualização do contexto social em eles
conviviam. Essa deficiência da fonte de dados foi suprida por incursões nos principiais locais
dos delitos a fim de proporcionar o conhecimento sobre o ambiente social e econômico.
Também supriram essa carência as entrevistas dirigidas aos policiais investigadores e própria
experiência empírica dos pesquisadores. Assim é chegou-se a conclusão de que maioria dos
protagonistas dos são pessoas humildes, trabalhadores braçais ou em atividades de baixa
escolaridade. São pouco instruídos e carentes de reconhecimento pelo Estado e desprovidos
de oportunidade para mudanças sociais.

46
8. CONCLUSÕES

Em termos estatísticos São Francisco do Conde não pode ser considerado um município
pacato. A partir dos dados coletados na pesquisa as taxas de homicídio calculadas para 100 mil
habitantes foram de 22,78; 19,52; 16,27 e 39,05 para os anos de 2003, 2004, 2005 e 2006,
respectivamente. Em contrapartida a Região Metropolitana de Salvador, nos anos de 2004 e
2005 apresentou conforme pesquisa da SENASP as taxas de homicídio para 100 mil habitantes
de de 21,13 e 21, 65 para os anos de 2004 e 2005.
Os resultados do estudo nos conduziram as seguintes respostas as Questões de pesquisa:

• Sob quais circunstâncias os crimes são praticados no município de São


Francisco do Conde - BA? Os delitos ocorrem predominantemente, a noite, após o consumo
de bebida alcoólica por parte dos seus protagonistas, não raro a vitima provoca o autor e
geralmente há uma rivalidade anterior. Os delitos são motivados por motivos menores, brigas e
discussões, ou mesmo conflitos cotidianos. Os protagonistas são homens, de baixa, ou nenhuma
escolaridade, normalmente vítima e autor residem próximos e são conhecidos. Os instrumentos
empregados nos delitos são a arma de fogo e as brancas, portadas pelo agressor. Os crimes são
executados em área pública, na rua, ou em um bar, na presença de várias testemunhas. A reação
imediata do autor, ou dos autores, após o delito é refugiar-se em casa, e ao saber do óbito da
vítima esconder nas proximidades o instrumento do crime e tenta evadir-se. O Autor se não for
preso em flagrante, apresenta-se, após alguns dias, espontaneamente na delegacia de policia,
acompanhado do defensor.
• Quais os motivos do crime e da violência com resultado morte praticados no
município de São Francisco do Conde - BA? Os motivos alegados para os delitos foram
revidar a uma agressão decorrente de um briga, ou discussão induzida por motivo fútil, ou um
conflito cotidiano qualquer.
• Quem são as vítimas e os autores dos homicídios praticados em São Francisco
do Conde? São pessoas de baixa renda, com ocupação informal e trabalho braçal, com pouco ou
nenhum estudo. Em geral vítima e autor residem próximos e possuem algum relacionamento de
convivência social, a faixa etária de ambos é superior a 29 anos, demonstrando serem pessoas
maduras. Em geral não estão envolvidos com a criminalidade e não possuem antecedentes
criminais.
• Ao que estão relacionados os crimes de homicídio no município de São
Francisco do Conde - BA? Não estão relacionados a conduta marginal de seus protagonistas, as
mortes não são decorrentes de disputas entre quadrilhas criminosas, mas sim do comportamento

47
violento e agressivo dos envolvidos. Esse comportamento talvez seja produto do ambiente social,
no qual indivíduos utilizam do único meio que consideram disponível para se afirmarem como
pessoas, é a conquista do espaço pela intimidação, em um ambiente social pobre e ignorante, no
qual convivem pessoas sem perspectivas de crescimento social e pessoal.
O estudo parece confirmar pesquisas anteriores sobre a criminalidade, com efeito
podemos até reproduzir as palavras de Larissa (SILVA, 2006), “ pode-se inferir que, em geral,
características das vítimas são muito semelhantes às características dos agressores, demográfica
e socialmente falando, sendo que os crimes de homicídio ocorrem entre pessoas cujas as relações
sociais podem ser consideradas próximas ou muito próximas” (SILVA, p16). Outro referencial
que pode ser utilizado para explicar os homicídios em São Francisco do Conde, é a explicação
oferecida por Lima (LIMA, 2001) ao citar Albar Zaluar, “nas sociedade nacionais, onde o
Estado Nacional é fraco no monopólio da violência e os laços segmentais (familiares, étnicos ou
locais) são mais fortes – o que acontece em bairros populares e vizinhanças pobres e, também, na
própria organização espacial das cidades – o orgulho e o sentimento de adesão ao grupo
diminuem a pressão social para o controle das emoções e da violência física, resultando em
baixos sentimento de culpa quanto ao uso da violência nos conflitos” (LIMA, p100).
A população residente em São Francisco do Conde não apresenta uma renda familiar que
a posicione entre classes sociais média ou alta, é grande a parcela da população vivendo de
subempregos. O Município dispõe de poucos atrativos para a fixação dos seus jovens, que
buscando uma melhoria na qualidade de vida proporcionam um êxodo para outros centros
urbanos e em especial para a Capital, onde são expostos a um ambiente competitivo para o qual
não foram preparados, estas pessoas conservam os seus laços familiares locais, retornando
periodicamente ao Município, onde tenta compensar as frustrações decorrentes da estadia na
“cidade grande”. Esse caldo de insatisfação e ausência de perspectiva social funciona com motor
para atitudes agressivas e violentas.
É interessante observar a concentração do crime de homicídio na área rural, superando
em muito a quantidade de ocorrências do delito na área urbana. Na área rural concentra-se a
população de menor renda e baixa educação, é também o local onde o Poder Público se faz mais
ausente e onde carecem as Políticas Públicas de Inclusão Social, o Estado se faz pouco presente,
ou mesmo ausente em alguns setores. Nesse contexto o sentimento de pertencer a um grupo
social maior é superado pelo de pertencer a uma comunidade, ou grupo social menor, com seus
valores e regras próprias, onde a proteção e a segurança se obtêm não pela ação do Poder
Público, mas sim por pertencer a um grupo familiar, ou por imposição pela força. Nessa
sociedade a honra e família significam muito, pelo menos quando se trata de manutenção de um
status social. O individuo para ser respeitado deve ser temido, deve ser capaz de revidar uma

48
agressão que lhe for dirigida, isso justifica o porte de armas, seja de fogo, seja branca. O uso da
arma não é uma defesa contra marginais, mas sim contra o vizinho, o semelhante, ela representa
um instrumento para a conquista e manutenção do respeito social.
A criminalidade resultante da situação supra descrita para ser combatida demanda uma
presença do Estado que não pode ser limitada a simples ação policial. Importa criar elementos
propiciem ao individuo o sentimento de pertencer a uma sociedade maior que a contida no seu
território. O Poder Público deve proporcionar-lhe meio para conquistar e proteger o seu status
social, ele deve ser convencido de que o conflito cotidiano pode e deve ser sanado pela ação do
Estado, ou então conciliado, e não resolvido mediante violência. Esse processo, sem dúvida,
passa pela educação de qualidade, pela valorização da pessoa, pelo respeito a pessoa e atuação
eficiente do Poder Público.
Uma observação preocupante é a constatação de homicídios relacionados ao tráfico e ao
consumo de drogas. Ausência do Poder Público aliada a uma situação econômica baixa e a falta
de expectativas de vida torna o ambiente propicio a instalação do tráfico de drogas, pois
proporciona aos seus gestores uma farta mão de obra. Acredito que São Francisco de Conde
apresente como principal impeditivo dessa instalação a ausência de um mercado consumidor
atraente localizado a uma distância compensatória. Porém a ampliação dos negócios
relacionados ao tráfico de drogas deve ser monitorado.

49
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Espinheira, Gey 2.Sociedade civil e Estado: desafio do estatuto da criança e do adolescente,
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Espinheira, Gey 3.Os tempos e os espaços do crime, texto apresentado na Disciplina Espaço
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Espinheira, Gey 4.Os tempos e os espaços das drogas, texto apresentado na Disciplina Espaço
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FERNANDES, Newton. Criminologia integrada, 2 ed. ver., atual e ampl. São Paulo. Revista dos
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Ano 3, Nº 25, outubro de 2007
WEBER, Max. Conceitos básicos de sociologia, 3ª ed. São Paulo, Centauro, 2002

51
ANEXO

FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS

52
II CEGESP / UFBA - PESQUISA DE CAMPO - MONOGRAFIA
NR. DO INQUÉRITO: QT DE FOLHAS
DATA DA COLETA:
RESPONSÁVEL
DADOS DE VITIMA
AUTOR NÚMERO: SEXO: masculino feminino OPÇÃO SEXUAL: Homossexual, Heterossexual, bissexual

IDADE: NACIONALIDADE: brasileiro NATURAL: São Francisco do Conde – BA


estrangeiro Outro município baiano
Outro Estado da Federação
Estrangeiro
RAÇA: preto; branco; amarelo; pardo; indígena; ESTADO CIVIL: casado; solteiro; companheiro; separado

ALFABETIZAÇÃO: analfabeto; 1ª grau incompleto 1ª grau completo; 2ª grau incompleto; 2ª grau completo;
superior incompleto; superior completo
CLASSE SOCIAL: A, B, C, NO MOMENTO DO FATO ESTAVA: empregado com CTPS, desempregado, prestando serviço sem CTPS
D, E
PROFISSÃO:

RESIDÊNCIA: a) Logradouro/Via:

b) Bairro/Distrito:

c) Complemento:

RESIDÊNCIA: zona urbana RESIDIA: em São Sebastião do Passe NO MOMENTO DO FATO RESIDIA: com companheira,
zona rural em outro município sozinho, com os pais, com amigos, sem residência fixa
RELAÇÃO DA VITIMA COM PELO MENOS UM DOS AUTORES:
Cônjuge, Companheiro(a), noivo(a), namorado(a), pai/mães, tio/tia, primo/prima, irmão/irmã, vizinho(a), colega de trabalho,
colega de escola, patrão, empregado, sócio, cliente, amigo (a), conhecido de vista, sem relacionamento
NO MOMENTO DO FATO ESTAVA: sóbrio, embriagado,
sob efeito de substância entorpecente, outro

COMENTÁRIOS
II CEGESP / UFBA - PESQUISA DE CAMPO - MONOGRAFIA
NR. DO INQUÉRITO: QT DE FOLHAS
DATA DA COLETA:
RESPONSÁVEL
DADOS DE TESTEMUNHAS / DECLARANTES
AUTOR NÚMERO: SEXO: masculino feminino OPÇÃO SEXUAL: Homossexual, Heterossexual, bissexual

IDADE: NACIONALIDADE: brasileiro NATURAL: São Francisco do Conde – BA


estrangeiro Outro município baiano
Outro Estado da Federação
Estrangeiro
RAÇA: preto; branco; amarelo; pardo; indígena; ESTADO CIVIL: casado; solteiro; companheiro; separado

ALFABETIZAÇÃO: analfabeto; 1ª grau incompleto 1ª grau completo; 2ª grau incompleto; 2ª grau completo;
superior incompleto; superior completo
CLASSE SOCIAL: A, B, C, NO MOMENTO DO FATO ESTAVA: empregado com CTPS, desempregado, prestando serviço sem CTPS
D, E
PROFISSÃO:

RESIDÊNCIA: a) Logradouro/Via:

b) Bairro/Distrito:

c) Complemento:

RESIDÊNCIA: zona urbana RESIDIA: em São Sebastião do Passe NO MOMENTO DO FATO RESIDIA: com companheira,
zona rural em outro município sozinho, com os pais, com amigos, sem residência fixa
RELAÇÃO DA PESSOA COM PELO MENOS UM DOS AUTORES:
Cônjuge, Companheiro(a), noivo(a), namorado(a), pai/mães, tio/tia, primo/prima, irmão/irmã, vizinho(a), colega de trabalho,
colega de escola, patrão, empregado, sócio, cliente, amigo (a), conhecido de vista, sem relacionamento
RELAÇÃO DA PESSOA COM PELO MENOS UMA DAS VITIMAS:
Cônjuge, Companheiro(a), noivo(a), namorado(a), pai/mães, tio/tia, primo/prima, irmão/irmã, vizinho(a), colega de trabalho,
colega de escola, patrão, empregado, sócio, cliente, amigo (a), conhecido de vista, sem relacionamento
NO MOMENTO DO FATO ESTAVA: sóbrio, embriagado,
sob efeito de substância entorpecente, outro

COMENTÁRIOS
II CEGESP / UFBA - PESQUISA DE CAMPO - MONOGRAFIA
NR. DO INQUÉRITO: QT DE FOLHAS
DATA DA COLETA:
RESPONSÁVEL

I. INSTRUMENTO DO DELITO
ORIGEM: arma branca levada pelo autor CLASSIFICAÇÃO: Arma branca artezanal
arma branca levada pela vitima arma branca industrializada
arma branca encontrada no local arma de fogo artezanal
arma de fogo levada pelo autor arma de fogo industrializada
arma de fogo levada pela vitima outro
arma de fogo encontrada no local
instrumento encontrado no local
punhos e pés

II. COMPLEMENTARES
Autor com antecedentes criminais: sim não Qual?

Vitima com antecedentes criminais: sim não Qual?

III. COMENTÁRIOS DIVERSOS


II CEGESP / UFBA - PESQUISA DE CAMPO - MONOGRAFIA
NR. DO INQUÉRITO: QT DE FOLHAS
DATA DA COLETA:
RESPONSÁVEL
DADOS DE AUTORIA
AUTOR NÚMERO: SEXO: masculino feminino OPÇÃO SEXUAL: Homossexual, Heterossexual, bissexual

IDADE: NACIONALIDADE: brasileiro NATURAL: São Francisco do Conde – BA


estrangeiro Outro município baiano
Outro Estado da Federação
Estrangeiro
RAÇA: preto; branco; amarelo; pardo; indígena; ESTADO CIVIL: casado; solteiro; companheiro; separado

ALFABETIZAÇÃO: analfabeto; 1ª grau incompleto 1ª grau completo; 2ª grau incompleto; 2ª grau completo;
superior incompleto; superior completo
CLASSE SOCIAL: A, B, C, NO MOMENTO DO FATO ESTAVA: empregado com CTPS, desempregado, prestando serviço sem CTPS
D, E
PROFISSÃO:

RESIDÊNCIA: a) Logradouro/Via:

b) Bairro/Distrito:

c) Complemento:

RESIDÊNCIA: zona urbana ORIGEM: em São Sebastião do Passe NO MOMENTO DO FATO RESIDIA: com companheira,
zona rural em outro município sozinho, com os pais, com amigos, sem residência fixa
RELAÇÃO DO AUTOR COM PELO MENOS UMA DAS VÍTIMAS:
Cônjuge, Companheiro(a), noivo(a), namorado(a), pai/mães, tio/tia, primo/prima, irmão/irmã, vizinho(a), colega de trabalho,
colega de escola, patrão, empregado, sócio, cliente, amigo (a), conhecido de vista, sem relacionamento
NO MOMENTO DO FATO ESTAVA: sóbrio, embriagado,
sob efeito de substância entorpecente, outro

COMENTÁRIOS
II CEGESP / UFBA - PESQUISA DE CAMPO - MONOGRAFIA
NR. DO INQUÉRITO: QT DE FOLHAS
DATA DA COLETA:
RESPONSÁVEL

I. MOMENTO DO FATO
DATA DO FATO: HORA DO FATO: FERIADO: Sim, Não

DIA DO FATO: Domingo; segunda; terça; quarta; quinta; sexta; sábado DIA DO FATO: 1ª quinzena do mês; 2ª quinzena do mês

MÊS DO FATO: janeiro; fevereiro; março; abril; maio; junho; julho; agosto; setembro; outubro; novembro; dezembro

II. LOCAL DO FATO


LOCAL DO FATO: a) Logradouro/Via:

b) Bairro/Distrito:

c) Complemento:

LOCAL DO FATO: zona urbana LOCAL DO FATO: Local público


zona rural Local privado
CARACTERISTICAS DO LOCAL DO FATO:
Casa da Vítima, Casa do Autor, Casa de Terceiro, Trabalho da Vítima, Trabalho do Autor, Escola da Vítima,
Escola do Autor, Bar/Boate/Restaurante, Mercado, Feira Livre, Praça Pública/Logradouro, Campo de Futebol/Quadra,
Casa de Culto, Órgão Público, Próximo a Casa da Vítima, Próximo a Casa do Autor, Próximo ao Trabalho da Vítima,
Próximo ao Trabalho do Autor, Próximo a Escola da Vítima, Próximo a Escola do Autor, Próximo a um bar
Sem Informação, Outro: _____________________________________________________________________________________.

III. DADOS DO FATO


QUANTIDADE DE VÍTIMAS: QUANTIDADE DE AUTORES: QUANTIDADE DE ENVOLVIDOS:

Autoria desconhecida
O FATO:

QUALIFICAÇÃO DO DELITO: Crime contra a vida CIRCUNSTÂNCIA DO FATO: Autor e vitima estavam bebendo
Autor e vitima estavam participando de festejo popular
Lesão corporal seguida de morte
Autor de vitima estavam trabalhando
Latrocínio
Autor e vitima estavam participando de jogo
Doloso Outra circunstância: __________________________

Culposo
CLASSIFICAÇÃO DO FATO delito por sugestão delito vingativo Não identificado
delito profilático delito reinvindicador
delito de agressão delito de aventura
preventiva

IV. DADOS DO INQUÉRITO


O FATO CHEGOU AO CONHECIMENTO DA POLÍCIA CIVIL: Comunicação de populares Informe da PM Comunicação de parente de vítima
Comunicação do serviço emergência / socorro hospitalar Prisão em flagrante
DATA DA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO: DATA QUE O FATO CHEGOU AO CONHECIMENTO DA PC:

V. COMENTÁRIOS SOBRE O FATO

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