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Manual

de
Polícia
Judiciária

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Polícia Civil do Estado de São Paulo

Manual
de
Polícia
Judiciária
DOUTRINA MODELOS LEGISLAÇÃO

6ª edição revista e atualizada


2012

DELEGACIA GERAL DE Polícia

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© Copyright by Polícia Civil do Estado de São Paulo

Layout da capa: Carlos Alberto Marchi de Queiroz

Arte da capa: Osmar das Neves

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

São Paulo (Estado). Polícia Civil


Manual de polícia judiciária : doutrina, modelos, legislação / coordenador Carlos
Alberto Marchi de Queiroz. – São Paulo : Delegacia Geral de Polícia, 6ª ed., 2010.

Bibliografia.

1. Polícia judiciária – São Paulo (Estado) I. Queiroz, Carlos Alberto Marchi de, 1943-

00–4306 CDU–343.123.12(816.1)

Índices para catálogo sistemático:


1. São Paulo : Estado : Polícia judiciária :
Direito processual penal 343.123.12(816.1)

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico e mecânico,
inclusive através de processos xerográficos, sem permissão expressa da Delegacia Geral de Polícia.
(Lei nº 9.610 de 19.2.1998)

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Agradecimento

O Grupo de Estudos instituído pela Portaria DGP 20, de 11-10-2000, com-


posto pelos Professores Doutores Antônio Manino Júnior, Antonio Rossi dos San-
tos, Bertha Fernanda Paschoalick, Carlos Alberto Marchi de Queiroz, Dilermando
Queiroz Filho, Haroldo Ferreira, Maria Solange Ferreira Xavier, Miriam Pereira
Baptista e Professor Jarim Lopes Roseira, agradece aos operosos Delegados de Po-
lícia Diretores da Academia de Polícia Civil, no biênio 2000-2002, Professores Dou-
tores Roberto Maurício Genofre, Milton Rodrigues Montemor e Eduardo Hallage,
cuja prestimosa cooperação tornou possível a concretização das anteriores edições
do Manual de Polícia Judiciária.

Mais uma vez o Grupo de Estudos, composto pelos Professores Doutores aci-
ma mencionados, somando-se os Professores Doutores Augusto Silva Carrasco, Ja-
queline Makowski de Oliveira Bariani, José Geraldo da Silva, Octacílio de Oliveira
Andrade e Valdir Bianchi agradece, em especial, ao Doutor Maurício José Lemos
Freire, e ao atual Delegado de Polícia Diretor da Academia de Polícia Civil, Doutor
Marco Antonio Desgualdo que, com cooperação ímpar, possibilitou esta quinta
edição do Manual de Polícia Judiciária.

O Grupo de Estudos para Atualização de conteúdo do Manual de Polícia Ju-


diciária, composto pelos Professores acima mencionados e os seguintes Professores
colaboradores: Ana Lúcia de Souza Marques, Eduardo Augusto Paglione, Edson
Luis Baldan, Eron Veríssimo Gimenez, Gilson Cesar Pereira da Silveira, Higor Vi-
nicius Nogueira Jorge, Levi D'Oliveira, Rina Ricci Cagnacci e Ugo Osvaldo Frugoli,
especialmente convidados, agradecem o apoio incondicional do Delegado de Polícia
Diretor da Academia de Polícia, Doutor Marco Antonio Martins Ribeiro de Cam-
pos, do 1º Delegado de Polícia Assistente Doutor Edemur Ercílio Luchiari, bem
como, aos Delegados de Polícia Doutor Adilson José Vieira Pinto, Doutor Tabajara
Novazzi Pinto e Doutor Paulo Afonso Bicudo por não terem poupado esforços para
a revisão e atualização desta sexta edição.

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Autores

Este Manual de Polícia Judiciária é o resultado de uma revisão realizada por uma equipe de
professores do quadro da Academia de Polícia de São Paulo, com subsídios ofertados por
colaboradores de toda a Polícia Civil do Estado de São Paulo, com o apoio de sua Diretoria
e da Delegacia Geral de Polícia.

Presidente

CARLOS ALBERTO MARCHI DE QUEIROZ


Delegado de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de Campinas, Mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da USP, diplomado
em Estudos Europeus pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal,
Professor de Direito Penal da Faculdade de Direito da Unianchieta, em Jundiaí, Professor
convidado da Academia de Polícia Civil do Estado do Amazonas, Professor de Inquérito
Policial da Academia de Polícia e Titular da Cadeira nº 11 da Academia de Ciências, Letras e
Artes dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

Membros

ANTONIO MANINO JUNIOR


Delegado de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito
da USP, Criminólogo pela Escola de Polícia da Polícia Civil do Estado de São Paulo,
pós-graduado em Educação, Política e Meio Ambiente pela Universidade de Harvard,
em Cambridge, Estado de Massachusetts, nos Estados Unidos da América, Professor de
Investigação Policial da Academia de Polícia e Titular da Cadeira nº 20 da Academia de
Ciências, Letras e Artes dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

ANTONIO ROSSI DOS SANTOS


Delegado de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do
Sul de Minas, Criminólogo pelo Instituto Oscar Freire, Professor convidado da Academia
de Polícia Civil do Estado do Amazonas e Professor de Inquérito Policial e de Investigação
Policial da Academia de Polícia.

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AUGUSTO SILVA CARRASCO
Escrivão de Polícia, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de
Mogi das Cruzes, pós-graduado “lato-sensu” em Direito Penal e Direito Processual Penal
pela Universidade São Francisco - USF e Faculdades Integradas de Guarulhos - FIG, pós-
graduando “lato-sensu” do I Curso de Direitos Humanos e Segurança Pública no Brasil, do
Centro de Estudos Superiores da Polícia Civil, da Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira
Cobra”, Docente das cadeiras de Direito Penal, Direito Judiciário Penal e Princípios da Lei de
Execução Penal da Escola de Administração Penitenciária e Professor de Organização e Prática
Cartorária, e de Inquérito Policial da Academia de Polícia.

BERTHA FERNANDA PASCHOALICK


Delegada de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da
USP, Mestranda em Direito Penal, pós-graduada como Especialista em Direito Penal pela
Faculdade de Direito da USP e Professora de Criminologia e de Direito Penal da Academia
de Polícia.

DILERMANDO QUEIROZ FILHO


Delegado de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Integrada de
Direito de Guarulhos, Especialista em Direito Penal pela Escola Superior do Ministério
Público de São Paulo, Professor convidado da Academia de Polícia Civil do Estado do
Amazonas e Professor de Inquérito Policial da Academia de Polícia.

HAROLDO FERREIRA
Delegado de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do
Vale do Paraíba, São José dos Campos, Criminólogo pelo Instituto Oscar Freire, Mestre
em Direito Penal pela PUC de São Paulo, Professor Titular de Direito Penal da Faculdade
Integrada de Direito de Guarulhos e da Uniban em São Paulo, Professor de Direito Penal da
Academia de Polícia e Titular da Cadeira nº 8 da Academia de Ciências, Letras e Artes dos
Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

JAQUELINE MAKOWSKI DE OLI EIRA BARIANI


Delegada de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito
Padre Anchieta, Mestre em Direito Penal pela Universidade Paulista - UNIP, integrante dos
Grupos de Estudos Temáticos de Neurociência na Atividade Policial da Academia de Polícia,
Titular da Cadeira nº 30 da Academia de Ciências, Letras e Artes dos Delegados de Polícia do
Estado de São Paulo, Professora de Direito Penal e de Prevenção de Acidentes no Trabalho
Policial da Academia de Polícia.

JARIM LOPES ROSEIRA


Escrivão de Polícia aposentado, Especialista em Polícia Comparada pela Municipalidade de
Bournemouth -Inglaterra e Professor de Inquérito Policial, Organização e Prática Cartorária
e Organização Policial da Academia de Polícia.

JOSÉ GERALDO DA SILVA


Delegado de Polícia, Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito de São
Carlos, Professor de Direito Penal e Processual Penal da Universidade Paulista-Unip e

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da Faculdade Comunitária de Campinas-FAC e autor de várias obras e inúmeros artigos
jurídicos e Professor de Direito Administrativo Disciplinar da Academia de Polícia.

MARIA SOLANGE FERREIRA XAVIER


Delegada de Polícia aposentada, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade
de Direito de São Bernardo do Campo, Advogada militante, Professora de Organização
e Prática Cartorária e integrante dos Grupos de Estudos Temáticos de Criminologia e de
Neurociência na atividade policial da Academia de Polícia.

MIRIAM PEREIRA BAPTISTA


Delegada de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade Integrada de
Direito de Guarulhos, Mestre em Direito Penal pela PUC de São Paulo, pós graduando
“lato-sensu” do I Curso de Direitos Humanos e Segurança Pública no Brasil na Academia
de Polícia Civil de São Paulo, Professora Titular de Direito Penal da Faculdade Integrada de
Direito de Guarulhos, Professora de Criminologia e de Inquérito Policial da Academia de
Polícia e Titular da Cadeira nº 36 da Academia de Ciências, Letras e Artes dos Delegados de
Polícia do Estado de São Paulo.

OCTACÍLIO DE OLIVEIRA ANDRADE


Delegado de Polícia de Classe Especial, formado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo
de São Francisco, Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo, Docente Titular da
cadeira de Direito Penal e Processual Penal da Faculdade de Direito da FIG e da UNG, ambas
em Guarulhos. Professor de Inquérito Policial e Polícia Judiciária da Academia de Polícia.

VALDIR BIANCHI
Delegado de Polícia, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do
Sul de Minas, Autor do livro “Prevenir Sequestros é dever de todos”, publicado pela editora
da Academia de Polícia, Criminólogo pela Escola de Polícia da Polícia Civil do Estado de São
Paulo, Professor convidado pelo Governo Japonês, para participação de cursos seniores nos
anos de 1986 e 1992, Professor das disciplinas Telecomunicações e Segurança e Proteção de
Dignitários da Academia de Polícia.

Colaboradores
Ana Lúcia de Souza Marques, Eduardo Augusto Paglione, Edson Luis Baldan, Eron
Veríssimo Gimenez, Gilson Cesar Pereira da Silveira, Higor Vinicius Nogueira Jorge, Levi
D'Oliveira, Rina Ricci Cagnacci e Ugo Osvaldo Frugoli.

Homenagem
É nosso dever e nossa vontade mencionar, de modo particular, a presença assídua e o papel
extremamente dinâmico e construtivo dos Professores Doutores JOSÉ ALVES DOS REIS e
JOSÉ LOPES ZARZUELA durante as múltiplas reuniões de nosso grupo de estudos. Ambos,
por terem passado, precocemente, para o outro lado do Mistério, não puderam participar da
última fase dos trabalhos, mas nós os consideramos verdadeiros co-autores desta obra.

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Prefácio

A Polícia Civil do Estado, para o desempenho das atribuições que lhe foram
constitucionalmente cominadas, ressentia-se até hoje de um trabalho atualizado
que reunisse algumas das atividades referentes ao exercício de polícia judiciária de
ocorrência mais frequente, formalizáveis no Inquérito Policial ou em procedimentos
conexos. O único antecedente existente remonta a 1973, da lavra do culto e saudoso
Dr. Celso Telles, a quem prestamos nossas homenagens.
As dificuldades para tanto eram inúmeras, residindo principalmente na contí-
nua elaboração de leis, decretos e variados atos administrativos que afetam as roti-
nas e procedimentos adotados na atividade policial.
O trabalho hoje vindo a lume, fruto do empenho e dedicação de uma equipe
de escol, parece responder, no tempo, ao apelo de centenas de anônimos e dedicados
funcionários que, nos mais distantes rincões do Estado, diuturnamente se empe-
nham na investigação e repressão criminal, com o único intuito de melhor atender à
comunidade a que servem.
É sabido que o Inquérito Policial e as investigações criminais são atividades
estritamente coligadas. Ao presidir o Inquérito Policial e conduzir as investigações
o Delegado de Polícia aplica o Direito. Mas, para aplicá-lo, necessita antes de tudo
interpretá-lo, já que o arcabouço jurídico que norteia a elaboração desse procedi-
mento não consiste em algo a ser aplicado mecanicamente, sem a utilização do ra-
ciocínio lógico e da visão ética, social e jurídica do quadro no qual ocorreu o fato
que se pretende apurar.
Nesse contexto se insere a relevância deste trabalho que, sem pretender exaurir
ou padronizar as atividades da polícia judiciária, estabelecendo rotinas de aplica-
ções automáticas da subsunção do fato à norma legal, fornece um material diversi-
ficado e de fácil acesso a toda a Polícia Civil, permitindo que o Delegado de Polícia,
fazendo uso da razão, opte pela linha de conduta que melhor se aplique ao caso
concreto, durante a elaboração do Inquérito Policial e evitando que autoridades
e agentes policiais, por vezes impossibilitados de acompanhar a edição dos mais
novos enunciados legais e normativos, desperdicem seu precioso tempo e esforço, na
busca do subsídio indispensável à consecução de seu trabalho.
De consulta fácil e escorreito na condução dos temas, o trabalho em exame
contém, para os consulentes, tanto a legislação mais atualizada, em nível federal,

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como variadas normas administrativas de uso restrito mais imediato e de aplica-
ção caseira.
A verdade é que o Inquérito Policial, para conservar seu valor indiciário, deve
ser bem feito, consistindo num procedimento investigatório imparcial que reprodu-
za com fidelidade, junto aos Tribunais, a realidade fática do ato investigado e suas
circunstâncias, e sirva tanto para evidenciar a culpabilidade do averiguado, quanto
para eximi-lo de uma acusação injusta.
Acreditamos que este trabalho facilite a consecução de tal objetivo. A todos
que de alguma forma colaboraram para a sua elaboração, nossos agradecimentos,
em particular àqueles que o elaboraram, cujos nomes adiante merecem destaque.

MARCO ANTONIO DESGUALDO


Delegado Geral de Polícia

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Exposição de Motivos

Senhor Delegado Geral:

Num momento em que alguns questionam a importância e a validade do In-


quérito Policial como instrumento da persecução criminal, por iniciativa de vossa
Excelência, foi editada a Portaria DGP-17/99, que instituiu Grupo de Estudos para
a elaboração de um Manual, visando auxiliar a atuação da Polícia Civil do Estado
de São Paulo, no desempenho de sua mais importante atribuição, qual seja, o exer-
cício da Polícia Judiciária.
A ideia, pioneira no Brasil, não poderia ser mais oportuna, vindo de encontro
à necessidade de valorização do Inquérito Policial, buscando, através do aprimora-
mento da atuação policial civil, a elaboração de procedimentos investigatórios de
forma célere, técnica, e realizados dentro dos parâmetros da legalidade.
Assim, nos primeiros meses do ano de 2000, iniciaram-se na Academia de Po-
lícia, sob a supervisão do Dr. Roberto Maurício Genofre, as atividades do Grupo de
Trabalho, sob a presidência do Dr. Carlos Alberto Marchi de Queiroz e integrado
pelos professores Antônio Manino Júnior, Antônio Rossi dos Santos, Bertha Fer-
nanda Paschoalick, Dilermando Queiroz Filho, Haroldo Ferreira, Jarim Lopes Ro-
seira, Maria Solange Ferreira Xavier e Miriam Pereira Baptista, que demandaram
reuniões, pesquisas doutrinárias, compilação de leis e atos administrativos, além do
trabalho de digitação, padronização e revisão.
Buscou-se, singelamente, abranger e reunir a maioria das ações necessárias
ao exercício da polícia de investigações e a sua correta formalização no Inquérito
Policial.
O trabalho foi acrescido com colaborações de policiais civis de todo o Estado,
além de valiosas sugestões recebidas de notáveis operadores do Direito.
Por questões didáticas, o Manual de Polícia Judiciária foi dividido em duas
partes: Doutrina e Legislação.
Relativamente à Doutrina, adotou-se, sempre que possível, uma linguagem
simples e compreensível, mesmo pelos policiais civis que não sejam bacharéis em
Direito. Todavia, em face da natureza da atividade policial judiciária, estritamente
vinculada ao âmbito jurídico, foram feitas algumas referências, e mesmo explana-

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ções de ordem técnica, quando indispensáveis ao entendimento da normatização
existente.
Constam ainda do presente trabalho diversos modelos, consistentes em autos,
termos, quesitos e outras peças práticas, buscando abranger as mais variadas hipó-
teses de procedimento policial.
Relativamente à Legislação, procuramos reunir a normatização mais relevan-
te ao exercício da atividade de Polícia Judiciária, na qual incluímos os principais
atos administrativos no âmbito da Secretaria da Segurança Pública, após pesquisa
e atualização.
Nesse sentido, alguns textos, em razão de sua relevância e da necessidade de
se proceder à sua análise global para compreensão, foram incluídos na íntegra, ao
passo que outros, facilmente localizáveis em Códigos legislativos, foram citados par-
cialmente na parte doutrinária do Manual, transcrevendo-se apenas os artigos de
específico interesse à atividade policial civil.
Oportuno frisar que o conteúdo deste Manual destina-se, tão somente, a nor-
tear os procedimentos da Polícia Judiciária, pretendendo orientar e esclarecer o De-
legado de Polícia e seus agentes, sobre o desempenho das atribuições que lhe são
inerentes, já que a atividade policial civil, em razão de sua peculiar natureza, é dinâ-
mica, individualizada e abrange múltiplos aspectos, que não podem ser reduzidos à
aplicação de fórmulas preestabelecidas.
Deixamos aqui registrado os nossos especiais agradecimentos a todos os cole-
gas que, abnegada e solidariamente, ofereceram subsídios para a elaboração deste
trabalho, demonstrando com sua colaboração séria e atuante, que dignificam a Ins-
tituição à qual pertencem.
In terminis, agradecemos a iniciativa de se propiciar à Polícia Civil do Estado
de São Paulo, a elaboração do primeiro Manual doutrinário e procedimental de Po-
lícia Judiciária, feito pela e para a Polícia brasileira, que ora temos a honra de passar
às mãos de Vossa Excelência.

São Paulo, 8 de setembro de 2000.

Carlos Alberto Marchi de Queiroz


Coordenador

Antônio Manino Júnior - Antonio Rossi dos Santos -


Bertha Fernanda Paschoalick - Dilermando Queiroz Filho -
Haroldo Ferreira - Jarim Lopes Roseira -
Maria Solange Ferreira Xavier e Miriam Pereira Baptista.

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Sumário

CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA POLÍCIA CIVIL.......... 25

Capítulo I
INQUÉRITO POLICIAL
1. Considerações preliminares................................................................... 47
2. Conceito............................................................................................... 47
3. Características...................................................................................... 48
4. Definição de autoridade policial........................................................... 49
5. Jurisdição e competência....................................................................... 49
6. Notícia do crime................................................................................... 52
7. Providências preliminares..................................................................... 52
8. Início do Inquérito................................................................................ 53
9. Prazos................................................................................................... 54
10. Formalidades........................................................................................ 55
11. Rito....................................................................................................... 55
12. Atos solenes.......................................................................................... 56
13. Inquérito Policial e a teoria geral da prova............................................ 56
14. Conclusão............................................................................................. 58
15. Modelos................................................................................................ 60

Capítulo II
MEDIDAS CAUTELARES
1. Considerações preliminares................................................................... 67
2. Garantias constitucionais que regem a matéria..................................... 68
3. Características...................................................................................... 69
4. Classificação......................................................................................... 70
5. Medidas cautelares assecuratórias de bens............................................ 70
6. Medidas cautelares assecuratórias de pessoas....................................... 70
7. Medidas cautelares assecuratórias de direitos....................................... 75
8. Conclusão............................................................................................. 81
9. Modelos................................................................................................ 82

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Capítulo III
BOLETIM DE OCORRÊNCIA
1. Considerações preliminares................................................................... 95
2. Conceito............................................................................................... 95
3. Formato................................................................................................ 96
4. Espécies de boletins de ocorrência........................................................ 99
5. Boletim eletrônico de ocorrência........................................................... 100
6. Conclusão............................................................................................. 101
7. Modelos................................................................................................ 103

Capítulo IV
TERMO CIRCUNSTANCIADO
1. Considerações preliminares................................................................... 131
2. Termo circunstanciado: terminologia.................................................... 132
3. Critérios processuais............................................................................. 132
4. Competência dos juizados especiais criminais....................................... 132
5. Infrações penais de menor potencial ofensivo....................................... 132
6. Natureza jurídica.................................................................................. 133
7. Conceito de autoridade policial............................................................ 134
8. O inquérito policial e o termo circunstanciado..................................... 135
9. Prisão em flagrante............................................................................... 135
10. Autor do fato........................................................................................ 135
11. Vítima................................................................................................... 136
12. Testemunhas......................................................................................... 136
13. Provas................................................................................................... 136
14. Ocorrências não comuns....................................................................... 137
15. Conclusão............................................................................................. 140
16. Modelos................................................................................................ 140

Capítulo V
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
1. Considerações preliminares................................................................... 147
2. Conceito............................................................................................... 148
3. Sujeitos da prisão em flagrante............................................................. 149
4. Estado de flagrância.............................................................................. 154
5. Aspectos especiais da prisão em flagrante............................................. 159
6. Documentação...................................................................................... 166
7. Providências posteriores à lavratura do flagrante.................................. 172
8. Prisão preventiva................................................................................... 176

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9. Liberdade provisória............................................................................. 178
10. Conclusão............................................................................................. 180
11. Modelos................................................................................................ 180

Capítulo VI
REQUISIÇÕES DE EXAMES PERICIAIS
1. Considerações preliminares................................................................... 201
2. Perícias em geral................................................................................... 201
3. Momento da determinação da perícia................................................... 202
4. Procedimentos para requisição de exames periciais............................... 202
5. Realização da perícia............................................................................ 203
6. Modalidades de perícias........................................................................ 203
7. Confecção de requisições de exames periciais........................................ 206
8. Conclusão............................................................................................. 207
9. Quesitos................................................................................................ 208

Capítulo VII
APREENSÕES E ARRECADAÇÕES
1. Considerações preliminares................................................................... 269
2. Procedimentos cautelares no Código de Processo Penal........................ 269
3. Cabimento............................................................................................ 269
4. Formalidades........................................................................................ 270
5. Apreensão............................................................................................. 270
6. Busca e apreensão................................................................................. 271
7. Arrecadação......................................................................................... 272
8. Medidas assecuratórias......................................................................... 273
9. Avaliação.............................................................................................. 274
10. Restituição............................................................................................ 274
11. Apreensões na legislação especial.......................................................... 274
12. Conclusão............................................................................................. 278
13. Modelos................................................................................................ 278

Capítulo VIII
DOCUMENTOS RELATIVOS AO INVESTIGADOR DE POLÍCIA
1. Considerações preliminares................................................................... 289
2. Participação do Investigador de Polícia na elaboração do BO.............. 289
3. Ordem de serviço.................................................................................. 290
4. Relatório de investigação...................................................................... 290
5. Intimações e notificações...................................................................... 291

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6. Relatório decorrente de mandado de prisão.......................................... 291
7. Relatório decorrente de mandado de busca e apreensão....................... 291
8. Relatório decorrente de mandado de condução coercitiva.................... 291
9. Relatório decorrente de ofícios requisitórios do Poder Judiciário
e do Ministério Público......................................................................... 291
10. Relatório de situação de viaturas.......................................................... 292
11. Parte de serviço..................................................................................... 292
12. Esclarecimento de BOAD..................................................................... 292
13. Informe criminal e investigação preliminar........................................... 293
14. Elaboração dos documentos pelo Investigador de Polícia..................... 293
15. Conclusão............................................................................................. 293
16. Modelos................................................................................................ 294

Capítulo IX
COMUNICAÇÕES OFICIAIS
1. Considerações preliminares................................................................... 303
2. Formas de redação oficial..................................................................... 304
3. Meios usuais de comunicação oficial..................................................... 307
4. Comunicações oficiais obrigatórias....................................................... 308
5. Conclusão............................................................................................. 310
6. Modelos................................................................................................ 310

Capítulo X
PROTOCOLADOS CONEXOS À POLÍCIA JUDICIÁRIA
1. Considerações preliminares................................................................... 321
2. Origem e registro dos protocolados....................................................... 321
3. Tramitação no âmbito da Pasta............................................................ 321
4. Classificação dos documentos sigilosos................................................. 323
5. Conclusão............................................................................................. 323
6. Modelos................................................................................................ 323

Capítulo XI
RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA DE LOCAL DE CRIME
1. Considerações preliminares................................................................... 325
2. A origem do neologismo....................................................................... 326
3. Conteúdo.............................................................................................. 326
4. Recognição visuográfica enquanto peça ilimitada................................. 326
5. Origem da recognição visuográfica....................................................... 327
6. Fatores objetivos................................................................................... 327
7. Natureza procedimental........................................................................ 327

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8. O universo de pesquisa......................................................................... 328
9. O local da recognição visuográfica........................................................ 328
10. O croqui................................................................................................ 329
11. A fotografia........................................................................................... 329
12. Observações sobre a arma utilizada...................................................... 329
13. Observações sobre o cadáver................................................................. 329
14. Observações sobre as testemunhas........................................................ 330
15. A recognição visuográfica e as ciências auxiliares.................................. 330
16. Conclusão............................................................................................. 331
17. Modelos................................................................................................ 331

Capítulo XII
PROCEDIMENTOS POLICIAIS
1. Considerações preliminares................................................................... 345
2. Crimes contra o patrimônio.................................................................. 345
3. Furto e roubo de veículos..................................................................... 346
4. Localização de veículo.......................................................................... 346
5. Receptação de veículo........................................................................... 346
6. Furto, roubo e desvio de carga.............................................................. 347
7. Crimes contra a vida............................................................................. 348
8. Das lesões corporais.............................................................................. 349
9. Armas de fogo....................................................................................... 350
10. Drogas.................................................................................................. 352
11. Auto de resistência................................................................................ 355
12. Indicações de consulta.......................................................................... 355
13. Conclusão............................................................................................. 356

Capítulo XIII
POLÍCIA JUDICIÁRIA NA INVESTIGAÇÃO DOS CRIMES ECONÔMICOS
1. Considerações preliminares................................................................... 357
2. Crimes contra a ordem econômica........................................................ 357
3. Crimes contra a economia popular e as relações de consumo............... 361
4. Crimes contra a saúde pública.............................................................. 366
5. Crimes contra os direitos trabalhistas e previdenciários........................ 367
6. Estelionato............................................................................................ 368
7. Crimes fiscais........................................................................................ 369
8. Fraude à previdência social................................................................... 370
9. Crimes falimentares.............................................................................. 371
10. Malversação de fundos públicos........................................................... 372
11. Reciclagem de capitais.......................................................................... 374
12. Receptação........................................................................................... 375

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13. Crimes contra a propriedade imaterial.................................................. 375
14. Crimes cambiários................................................................................ 378
15. Delitos societários................................................................................. 379
16. Crimes de informática........................................................................... 379

Capítulo XIV
DOCUMENTOS E ATOS RELATIVOS AO ESCRIVÃO DE POLÍCIA
1. Considerações preliminares................................................................... 383
2. Participação do Escrivão de Polícia na elaboração dos atos
de Polícia Judiciária.............................................................................. 383
3. Termos privativos do Escrivão de Polícia.............................................. 384
4. O Escrivão de Polícia como depositário necessário............................... 386
5. Competência do Escrivão de Polícia para autenticar documentos......... 387
6. Conclusão............................................................................................. 387
7. Modelos................................................................................................ 387

Capítulo XV
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL
1. Considerações preliminares................................................................... 391
2. O sujeito ativo nas infrações penais....................................................... 391
3. A atuação da Polícia Judiciária na apuração da autoria
das infrações penais.............................................................................. 392
4. A identificação humana........................................................................ 392
5. O indiciamento..................................................................................... 395
6. Conclusão............................................................................................. 396
7. Modelos................................................................................................ 396

Capítulo XVI
ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS OBRIGATÓRIOS
1. Considerações preliminares................................................................... 401
2. Peculiaridades dos livros oficiais........................................................... 401
3. Livros obrigatórios............................................................................... 402
4. Livros facultativos................................................................................. 403
5. A escrituração regulamentar dos livros................................................. 403
6. Conclusão............................................................................................. 408
7. Modelos e Decreto nº 54.750/2009 e Portaria DGP-10/2010................. 408

Capítulo XVII
CRIMES AMBIENTAIS
1. Considerações preliminares................................................................... 417
2. Breves considerações sobre os crimes contra o meio ambiente.............. 417

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3. Infrações Penais contra a fauna............................................................ 418
4. Infrações Penais contra a flora.............................................................. 419
5. Infrações Penais de poluição e outros delitos........................................ 421
6. Infrações Penais contra o ordenamento urbano e patrimônio cultural.. 423
7. Infrações Penais contra a Administração Ambiental............................ 424
8. Infrações penais não previstas na legislação específica sobre
meio ambiente....................................................................................... 426
9. Conclusão............................................................................................. 427

Capítulo XVIII
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
1. Conceito............................................................................................... 429
2. Evolução histórica................................................................................ 430
3. Evolução histórica em nível global........................................................ 433
4. Os Direitos Humanos na segunda metade do século XX...................... 434
5. Os Direitos Humanos nas Américas..................................................... 435
6. Os Direitos Humanos e suas quatro gerações........................................ 435
7. Características dos Direitos Humanos.................................................. 437
8. Regras mínimas da ONU para o tratamento dos reclusos..................... 438
9. Repertório de regras mínimas no Brasil................................................ 439
10. Uso de algemas..................................................................................... 439
11. Reflexos na legislação interna............................................................... 440
12. Direitos humanos na Polícia Civil......................................................... 440
13. A Academia de Polícia e os Direitos Humanos..................................... 441
14. A globalização dos Direitos Humanos.................................................. 441
15. Conclusão............................................................................................. 442

Capítulo XIX
ACIDENTE DO TRABALHO
1. Considerações preliminares................................................................... 443
2. Fatores de importância......................................................................... 443
3. Classificação de acidentes do trabalho.................................................. 444
4. Higiene do trabalho.............................................................................. 444
5. Segurança do trabalho.......................................................................... 445
6. Prevenção de acidentes.......................................................................... 445
7. Normas de proteção do trabalho policial.............................................. 446
8. Causas dos acidentes............................................................................. 447
9. A saúde do policial civil........................................................................ 448
10. Lesão por esforços repetitivos e doenças osteo-musculares
relacionadas ao trabalho-LER/DORT.................................................. 451

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11. Comissão interna de prevenção de acidentes – CIPA............................ 452
12. Afastamento por acidente do trabalho.................................................. 453
13. Considerações finais.............................................................................. 454

Capítulo XX
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
1. Considerações preliminares................................................................... 455
2. Atendimento pela autoridade policial................................................... 455
3. Providências da autoridade policial...................................................... 457
4. Medidas Protetivas de Urgência............................................................ 460
5. Comunicado CG nº 117/2008 da Corregedoria Geral da Justiça........... 462
6. Modelos e legislação correlata.............................................................. 463

Capítulo XXI
TRÂNSITO
1. Considerações preliminares................................................................... 471
2. Conceito de via pública e sua extensão................................................. 471
3. Nomenclaturas técnicas das vias terrestres............................................ 472
4. Nomenclaturas técnicas de veículos...................................................... 474
5. Normas de conduta nas vias públicas e infrações administrativas......... 475
6. Acidentes de trânsito............................................................................ 478
7. Crimes de trânsito................................................................................. 482
8. Documentos de porte obrigatório e comprobatórios da propriedade
veicular conforme a legislação de trânsito............................................. 492
9. Documentos de habilitação. Tipos, classificação e validade.................. 493
10. Pedestre e condutor de veículo não motorizado. Observações quando
da ocorrência de acidente de trânsito.................................................... 495

Capítulo XXII
CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA E IRREGULARIDADES
EM MEDICAMENTOS E SUBSTÂNCIAS ALIMENTÍCIAS
1. Considerações preliminares................................................................... 497
2. Aspectos legislativos............................................................................. 497
3. Sujeitos do delito.................................................................................. 498
4. Polícia judiciária................................................................................... 498
5. Apreensão e acondicionamento de produtos......................................... 499
6. Assessoramentos possíveis.................................................................... 500
7. Locais de exame.................................................................................... 501
8. Aspectos penal e processual.................................................................. 501

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9. Considerações finais.............................................................................. 510
10. Modelos................................................................................................ 511

Capítulo XXIII
CRIMINOLOGIA
1. Considerações preliminares................................................................... 517
2. Divisões da Criminologia...................................................................... 518
3. Sociologia criminal............................................................................... 519
4. Psicanálise criminal............................................................................... 519
5. A nova defesa social e a criminologia crítica......................................... 520
6. Vitimologia........................................................................................... 520
7. Ecologia da vitimidade......................................................................... 521

Capítulo XXIV
NEUROCIÊNCIA NA ATIVIDADE POLICIAL
1. Neurociência na atividade policial........................................................ 523
2. Investigação policial.............................................................................. 525
3. Comunicação........................................................................................ 526
4. Aplicação prática.................................................................................. 528

Capítulo XXV
CRIMES CIBERNÉTICOS - CYBERBULLYING
1. Considerações preliminares................................................................... 531
2. Cyberbullying....................................................................................... 531
3. Crimes cibernéticos............................................................................... 532
4. Da investigação..................................................................................... 533
5. Efeitos civis do cyberbullying................................................................ 534
6. Conclusão............................................................................................. 535

Referências bibliográficas de temática conexa.............................................. 537

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA
DA POLÍCIA CIVIL

Um vasto e abrangente trabalho de pesquisa permitiu relacionar os impor-


tantes acontecimentos ao longo dos mais de cem anos de criação da Polícia Civil
de carreira, do Estado de São Paulo, com referências ao ano e à legislação, quando
disponível. 
Passados um século e uma década de existência, a Polícia Civil do Estado de
São Paulo atravessou inúmeras transformações. Dados atualizados até o ano de 2010
apontam que integram a Polícia Civil do Estado de São Paulo mais de uma centena
de Delegacias Operacionais e Especializadas, além de 129 Delegacias de Defesa da
Mulher (DDM), 587 Delegacias de Polícia de Município e 458 Distritos Policiais.
As mulheres, que começaram a entrar na Polícia timidamente no final dos anos
30, hoje compõem cerca de 30% do efetivo de quase 35 mil funcionários, distribuí-
dos em quatorze carreiras. E assim, ano após ano, a Polícia Civil segue se moderni-
zando e acompanhando a evolução do país e dos tempos, com especial dedicação
ao povo paulista.
A cronologia parte da promulgação da Lei nº 979, de 23 de dezembro de 1905.
Nela, é instituída a Polícia Civil de carreira, dirigida por Chefe de Polícia, sob a
superintendência do Secretário dos Negócios da Justiça.
No ano seguinte, em 1906, como conseqüência natural dos fatos, aconteceu a
criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça e da Segurança Pública. O
cargo de Chefe de Polícia foi suprimido e o serviço policial passou a ser dirigido e su-
perintendido pelo chefe da pasta recém criada. Na ocasião, Washington Luís Pereira
de Sousa assumia o cargo de Secretário onde permaneceu até maio de 1908. Alguns
anos mais tarde seria Prefeito da cidade de São Paulo (1914 a 1919), Presidente do
Estado (1920 a 1924), cargo equivalente hoje ao de Governador e, finalmente, Presi-
dente da República (1926 a 1930).
Ainda em 1906, no dia 2 de abril, ocorreu a publicação do primeiro número
da “Revista de Polícia”. Naquele ano, foi instituído o “Cartão Identidade”, através
de regulamentação da Secretaria da Justiça e da Segurança Pública pelo Decreto nº
1.414/06. Mas, o “Cartão Identidade” precisava ter uma ordem cronológica. Assim,
em 6 de dezembro de 1907, foi instituído o Registro Geral (RG) e o número 1 foi
aberto (RG nº. 1) no prontuário civil para identificação dos cidadãos, com impres-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

sões digitais arquivadas no Serviço de Identificação. Foi necessário, então, estabele-


cer uma estatística criminal e judiciária no Estado. Nesse sentido, foi promulgado o
Decreto nº 1.533-A/07, que instituiu a identificação pela datiloscopia, obedecendo
ao sistema de Juan Vucetich.
Já no ano 1910, o Corpo de Investigadores passou a funcionar como Gabinete
de Investigações e Capturas para melhor reestruturação de suas atividades. Dois
anos mais tarde, entre os dias 7 e 12 de abril de 1912, aconteceu o primeiro Convênio
Policial Brasileiro. Nele se estabeleceram permutas das individuais dactiloscópicas
entre as Polícias dos Estados.
Assim, no dia 30 de junho de 1913, o professor Rudolph Archibald Reiss veio
ao Brasil para ministrar a primeira aula de ensino técnico-profissional para forma-
ção do Policial Civil no curso de Polícia Científica. Na ocasião, estabeleceram-se
certas normas de locais de crime.
Em 1916, a Lei nº 1.510 criou o cargo de Delegado Geral de Polícia, subordi-
nando-o ao Secretário da Justiça e da Segurança Pública. Mas, esse cargo só duraria
até 1924, quando então a Lei nº 2.034 reorganizou a Polícia do Estado restabelecen-
do, entre outras coisas, o cargo de Chefe de Polícia.
Enquanto isso, no Gabinete de Investigações e Capturas, mais tarde denomi-
nado Gabinete Geral de Investigações, passaram a funcionar delegacias especiali-
zadas, entre elas a Delegacia de Ordem Política e Social, a Delegacia de Segurança
Pessoal, a Delegacia de Furtos e Roubos, a Delegacia de Vigilância Geral e Captu-
ras, a Delegacia de Falsificações, a Delegacia de Técnica Policial e a Delegacia de
Costumes e Jogos. Essa mesma lei autorizou a criação da primeira Escola de Polícia
de São Paulo que, somente em 1925, iniciou suas atividades de forma precária com
o curso do professor Percival de Oliveira. Um ano mais tarde, a Escola de Polícia
passou a subordinar-se diretamente ao diretor do Gabinete de Investigações, pela
Lei nº 2.172 –B de 1926.
Naquele ano, 1926, a Lei nº 2.141 criou a Guarda Civil da Capital, sendo su-
pervisionada pela Polícia Civil e tendo como diretor um Delegado de Polícia. Al-
guns meses mais tarde, a Lei nº 2.172-B/26 criou o primeiro Laboratório de Polícia
Técnica.
Nova organização da Secretaria de Justiça e Segurança Pública aconteceu em
1927, com a Lei nº 2.226-A/27 que criou a Repartição Central de Polícia. No entan-
to, a Guarda Civil se manteve subordinada a essa Repartição, assim como o Gabi-
nete de Investigações, o Gabinete Médico-Legal e a Polícia Marítima. Cabe notar
que, a extinção da Guarda Civil só ocorreu em 1969 com o Decreto-Lei nº 1.072.
Em 1928 o Decreto nº 4.405-A criou o Regulamento Policial do Estado de São
Paulo, consolidando assim o Serviço Policial e suas atribuições.
No dia 8 de outubro daquele ano o Gabinete de Investigações realizou a pri-
são do italiano Giuseppe Pistone, autor do “Crime da Mala”, por assassinato da
própria mulher, Maria Fea, de 21 anos, grávida de seis meses. O crime foi de gran-
de repercussão na época pelos requintes de crueldade. Pistone cortou o cadáver
de Maria, colocou os pedaços numa mala e tentou embarcá-la como encomenda
para a França, mas foi descoberto antes disso. A mala pode ser vista no Museu

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

da Polícia Civil localizado na Academia de Polícia. Esse mesmo Museu, iniciado


informalmente em 1920, foi reconhecido legalmente pelo Decreto nº 4.715 de
1930, que entre outras determinações, finalmente regulamentou a Repartição da
Central de Polícia.
Ainda em 1930, o Decreto nº 4.789 criou a Secretaria dos Negócios da Se-
gurança Pública desvinculando-a da Secretaria da Justiça. Seu primeiro titular foi
o General Miguel Costa. Também criou a Superintendência de Ordem Política e
Social originada da Delegacia de Ordem Política e Social. Ao longo de vários anos,
em 1931, 1933, 1934, 1938, 1940, 1944, 1945, 1969 e 1975, o departamento sofreu
inúmeras transformações. No entanto, a Secretaria dos Negócios da Segurança Pú-
blica foi formalmente extinta em 1931.
Em 1933 o Decreto nº 6.224 criou o Conselho Médico-Legal para emitir pa-
receres de relevância técnica ao Serviço Médico-Legal para consideração final do
Chefe de Polícia. A introdução do curso de Técnica Policial também aconteceu nesse
ano por meio do Decreto nº 6.245.
Com o fortalecimento das técnicas de polícia, foi criado finalmente o Instituto
de Criminalística e Medicina Legal com fundação da Escola de Polícia em anexo,
formalmente pelo Decreto nº 6.334 de 1934.
A Escola de Polícia teve sua primeira regulamentação pelo Decreto nº 6.417
de 1934, mas passou por outras várias alterações ao longo dos anos de 1938, 1939,
1942, 1950, 1952 e 1956. Também em 1934 estabeleceu-se novamente a Secretaria da
Segurança Pública.
Em 1935, o Decreto nº 7.299 criou o departamento de Comunicações e Serviço
de Rádio e estabeleceu o cargo de Radiotelegrafista na Polícia Civil. Cada vez mais
técnica, a Polícia Civil convidou o professor Marc Alexis Bischoff para uma aula
inaugural do curso de Técnica Policial na Escola de Polícia, o que aconteceu no dia
7 de fevereiro daquele ano.
No ano seguinte, em janeiro de 1936, a Escola de Polícia, que estava instalada
desde 4 de julho 1927 à Rua Visconde do Rio Branco, 55, no centro da cidade, mu-
dou-se para o nº 267 da mesma rua. Mas, somente por alguns meses, pois trocou no-
vamente de endereço, para a Rua Visconde do Pinhal, 52, no dia 25 de junho de 1937.
No dia 11 de abril de 1937 oficializou-se o Departamento de Comunicações e
Serviço de Rádio Patrulha, o qual originou o atual CEPOL. Ao final do ano, em 4
de dezembro, a funcionária Octávia de Souza tomou posse e tornou-se a primeira
mulher chefe de Seção no setor administrativo.
Em 1938 o ensino policial foi reorganizado com novos cursos de preparação
e aperfeiçoamento. A Escola de Polícia ganhou um quadro de funcionários, verbas
próprias e os cursos passaram a ser condição para ingresso na carreira policial, for-
malmente determinados pelo Decreto nº 8.930. Por outro lado, o Decreto nº 9.743
criou o Instituto de Criminologia para substituir a Escola de Polícia.
Ainda em 1938, no dia 1 de junho, Maria de Lourdes Ayres Furquim, a pri-
meira mulher policial civil tomou posse no cargo de Escrivã de Polícia. E, no dia 4
de outubro de 1939, foi a vez de Clara Tumiatti Santa Paula, tomar posse sendo a
primeira radiotelegrafista na Polícia Civil.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Em 1939 foi mais uma vez extinta a Secretaria da Segurança Pública e, no iní-
cio desse ano, em 16 de janeiro, o Conselho Universitário incluiu a Escola de Polícia
entre as instituições complementares da Universidade de São Paulo.
O surgimento do Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado, por
meio do Decreto-Lei nº 12.273 de 1941, marcou o início de uma nova fase de reno-
vação dos serviços públicos estaduais.
Na orla das grandes mudanças, o Código de Processo Penal, instituído pelo
Decreto-Lei nº 3.689 de 1941, em seus artigos 4º a 23, regulamentou e manteve o
Inquérito Policial como instrumento da autoridade policial, dispondo ainda sobre o
exercício e atribuições da polícia judiciária.
Ainda no primeiro semestre do ano de 1941 há um novo restabelecimento da
Secretaria da Segurança Pública e é publicado o número 1 – volume 1 - da Revista
“Arquivos da Polícia Civil de São Paulo”, uma publicação criada visando a divulga-
ção das atividades policiais técnicas e científicas.
Em 1942, o Instituto de Criminologia voltou a denominar-se Escola de Polícia,
por ordem do Decreto nº 12.497 e, dois anos mais tarde, em 1944, a Escola de Polícia
estabeleceu sua nova sede no bairro da Liberdade, à Rua da Glória, 410, onde ficaria
até 1951.
Por força do Decreto-Lei nº 14.854 de 1945 o Gabinete de Investigações passou
a denominar-se Departamento de Investigações (DI). A Delegacia de Ordem Políti-
ca e Social foi transformada em Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)
com atribuição de dirigir os serviços policiais de investigação, prevenção e repressão
aos delitos de caráter político, social e econômico, entre outros.
No dia 13 de dezembro de 1945, duas outras mulheres tomaram posse na Polí-
cia Civil: Maria Alice Firpo Mussumeci, como primeira Fotógrafa Policial, e Loisé
Amandier Cardone, como a primeira Pesquisadora Dactiloscópica.
Em 1946, o Decreto-Lei nº 9.208 instituiu o dia 21 de abril como o Dia das
Polícias Civis e Militares, determinando o mártir Tiradentes como patrono.
Ainda em 1946 foi realizado o primeiro concurso para provimento de cargos
de classe inicial da carreira de Delegado de Polícia, na Escola de Polícia de São
Paulo. Por outro lado, o Decreto nº 19.089 de 1950 deu à Escola de Polícia poderes
para realizar cursos de ingresso para as carreiras de Escrivão, Investigador, Radio-
telegrafista e Carcereiro.
No dia 13 de março de 1947 tomam posse as duas primeiras mulheres Investi-
gadoras de Polícia: Floriza Velloso Romagnolli e Elsa Van Kamp.
Com a Lei nº 199, em 1º de dezembro de 1948 foi criado o Conselho da Polícia
Civil, órgão superior consultivo, opinativo e deliberativo da Polícia Civil do Estado
de São Paulo, que somente foi formalmente regulamentado pelo Decreto nº 6.957
de 3 de novembro de 1975.
A mesma norma de 1948 reorganizou a carreira de Delegado de Polícia e esta-
beleceu como critério para o concurso de ingresso a obtenção do diploma do curso
de Criminologia realizado pela Escola de Polícia.
Em 11 de novembro de 1949 foi fundada a Associação dos Delegados de Polí-
cia do Estado de São Paulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Em 1951, o que era apenas um laboratório de Polícia Técnica se transformou


no Instituto de Polícia Técnica, por força da Lei nº 1.095. E, em 1952, o Museu da
Polícia Civil foi finalmente aberto para visitação pública.
No dia 31 de janeiro de 1956, graças ao Decreto nº 25.409 do Governador Jâ-
nio Quadros, o Gabinete do Secretário da Segurança Pública autorizou a instituição
de uma Assessoria Policial, dirigida pelo Delegado Geral escolhido entre os dele-
gados auxiliares, tendo sido Carlos Eugênio Bittencourt da Fonseca o primeiro a
assumir o cargo e nele permaneceu de fevereiro a julho daquele ano, sendo sucedido
por Coriolano Nogueira Cobra, que continuou até julho de 1958.
Outra providência do Governo do Estado naquele ano de 1956 foi o Decreto
nº 25.410 que criou a figura do Boletim de Ocorrência (BO), originado a partir de
um documento antes intitulado “Folha de Informações”. O primeiro BO foi elabo-
rado exatamente no dia 21 de março de 1956.
Ainda em 1956, foram criados o Setor de Polícia Científica (SPC) e o Setor de
Órgãos Auxiliares Policiais (SOAP) pelo Decreto nº 25.431. Por sua vez, em 3 de
setembro, a Escola de Polícia teve seu novo Regulamento aprovado pelo Decreto nº
26.368/56. Já o Decreto nº 25.440 instituiu o Serviço Disciplinar de Polícia (SDP).
O órgão tinha atribuições de apurar irregularidades cometidas por policiais e foi o
precursor da atual Corregedoria.
Também em 1956, a Portaria nº 91 criou a Ronda Noturna Especial (RONE).
Com viaturas caracterizadas e policiais treinados, essa equipe é considerada a pri-
meira especializada da Polícia Civil, pois tinha a característica de reprimir e prevenir
a prática de crimes patrimoniais. A equipe foi reformulada em 1973 pela Portaria nº
1 do DEGRAN passando a funcionar diuturnamente com 40 viaturas patrulhando
a região da Capital e Grande São Paulo. Funcionou até a formação do Grupo de
Operações Especiais (GOE) que a substituiu em 1991.
O ano de 1957 tem em seu histórico, a criação de alguns setores especializados:
a Delegacia Especializada de Investigações sobre Homicídios do Departamento de
Investigações (DI), originada da Delegacia Especializada de Investigações sobre In-
cêndio e Danos pelo Decreto nº 28.652 e o Setor de Entorpecentes na Delegacia de
Fiscalização de Costumes pelo Ato nº 1/57.
Mais tarde, em 1958, por uma Portaria do Delegado Auxiliar da 4ª. Divisão
Policial foram criadas as Rondas Unificadas do Departamento de Investigações
(RUDI). Interligadas às RONEs, que faziam a vigilância ininterrupta da Capital e
dos municípios vizinhos, foi dissolvida dez anos mais tarde, 1967, mas reativada em
1969 no DEIC. As equipes eram dotadas de equipamento e armamento especializa-
dos e funcionaram até a primeira metade da década de 70, uma vez que, em 1976, foi
criado o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (GARRA) no próprio
DEIC, em substituição ao policiamento exercido pela RUDI, fato este regulamenta-
do pela Nota de Serviço CIOP no. 06/76. Cabe observar que, as Rondas Unificadas
da DIVECAR (RUDI) foram novamente criadas pela Portaria nº 85 de 1994, desta
vez visando coibir furto e roubo de veículos na Capital.
Ainda em 1967 foram criadas as Rondas Unificadas de Primeira Auxiliar
(RUPA). As rondas eram feitas por equipes especializadas em operações na área da
Capital e municípios vizinhos, hoje DECAP e DEMACRO, respectivamente.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Somente em 19 de novembro de 1958 o cargo de Delegado Geral de Polícia


passou a ser exercido por Delegado de Polícia de Classe Especial, o que aconteceu
por força da Lei nº 4.963. O primeiro a ocupar este posto foi Nicolau Ulria Mario
Centola, que ali permaneceu até janeiro de 1959. Benedito de Carvalho Veras foi seu
sucessor, ficando no cargo de fevereiro de 1959 até janeiro de 1963.
Em 14 de setembro de 1961, durante a gestão do Delegado de Polícia Diretor
da Escola de Polícia José Cesar Pestana, foi celebrado um convênio assinado entre
a Universidade de São Paulo e a Secretaria da Segurança Pública que visava a cons-
trução do edifício da futura Escola de Polícia no campus da Cidade Universitária
“Armando de Salles Oliveira”. Cabe observar que, este Delegado de Polícia dá nome
ao auditório principal da Acadepol.
De janeiro de 1963 a abril de 1967, assumiram o comando da Polícia Civil sete
Delegados Gerais de Polícia. O primeiro dessa lista foi Lúcio Vieira que só perma-
neceu dois meses, ou seja, até fevereiro de 1963. O segundo foi Gilberto Silva de
Andrade, até maio; em seguida veio Guilherme Pires de Carvalho e Albuquerque
que continuou até abril de 1964. Francisco Petrarca Ielo o substituiu ficando até ju-
lho daquele ano, que por sua vez foi substituído por Andreas Aranha Schmidt, que
ficou até fevereiro de 1965, quando Pio Buller Souto entrou no seu lugar e o ocupou
até junho de 1966. Em seguida veio Coriolano Nogueira Cobra que permaneceu até
abril de 1967, para ser substituído por José Rene Motta, que exerceu o cargo maior
na Polícia Civil até setembro de 1969.
Nessa última gestão e, na esteira das rondas, em 6 de novembro de 1968 foi
criada a Patrulha Bancária do DEIC, que tinha o intuito de coibir o crime de roubo
a bancos e que, anos mais tarde, deu origem à Delegacia de Roubo a Bancos do
DEIC. Nesse mesmo ano, aconteceu a promulgação do novo Estatuto dos Funcio-
nários Públicos Civis do Estado de São Paulo, pela Lei nº 10. 261/68.
O ano seguinte, 1969, foi um período de vários acontecimentos relevantes, en-
tre eles a instituição da Comissão Estadual de Investigações (CEI) no âmbito da
Secretaria da Segurança Pública, para apuração de infrações efetuadas por servi-
dores públicos estaduais pela Lei nº 233. Pelo Decreto nº 51.213 a Escola de Polí-
cia foi denominada Academia de Polícia. Esse mesmo decreto criou a Divisão de
Comunicações da Polícia Civil (DICOM), que também compreendia o Centro de
Comunicações e Operações da Polícia Civil (CEPOL). Ainda em 1969 foi criado o
Departamento Regional de Polícia da Grande São Paulo (DEGRAN), desmembra-
do em DECAP e DEMACRO desde 1991. O Delegado Geral de Polícia da época
era Renan Basto, que ficou no cargo até março de 1970.
Em 11 de maio de 1970 foi finalmente inaugurada a nova sede da Academia
de Polícia junto à Universidade de São Paulo (USP) na Cidade Universitária, com
um arrojado projeto arquitetônico de Ariosto Mila, Décio Tozzi, João Cacciola,
Paulo Filgueiras Júnior e Mário Zocchio. Nessa mesma época, o Delegado Geral
era Nemr Jorge, que permaneceu na posição até março de 1971.
Em 1973, a instituição foi modernizada com a implantação de sistemas infor-
matizados. Era a gestão do Delegado Geral de Polícia Walter de Moraes Machado
Suppo, que havia assumido em março de 1971. Nesse ano a Secretaria da Segurança

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Pública tornou-se cliente da Companhia de Processamento de Dados do Estado de


São Paulo (PRODESP). E assim, em 1974, esse mesmo órgão instalou, no antigo
prédio do DEIC, uma unidade para prestar atendimento exclusivo à área de Segu-
rança Pública. Em 1976, foi implantado o Sistema de Identificação Criminal, numa
parceria da Polícia Civil com a PRODESP.
O ano de 1975 foi marcado pela criação da Divisão de Ensino e Aperfeiçoamento
na Academia de Polícia e do Departamento Estadual de Polícia Científica, então subor-
dinado à Delegacia Geral de Polícia, ambos regulamentados pelo Decreto nº 5.821/75.
Era a gestão de Joaquim Humberto de Moraes Novaes, que assumiu o cargo em março
desse ano, quando a Corregedoria da Polícia Civil foi criada em 28 de abril, pelo Decreto
nº 6.073/75. Pouco tempo mais tarde, o Decreto nº 6.835/75, transformou a Delegacia de
Homicídios em Divisão de Investigações Sobre Crimes Contra a Pessoa; reorganizou o
Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (DEIC) e criou a Divisão de
Investigações Sobre Entorpecentes nesse mesmo departamento.
Ainda em 1975, a sigla ACADEPOL pode ser utilizada para a Academia de
Polícia de São Paulo, com o respaldo do Decreto nº 6.919/75. Nesse sentido, o nome
do Delegado de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”, ex-Delegado Geral de
Polícia e grande mestre da investigação policial, passou a denominar a Academia de
Polícia de São Paulo por força da Lei nº 6.315 do ano de 1988.
Em 5 de agosto de 1975, tomou posse a primeira Delegada de Polícia na insti-
tuição, Ivanete Oliveira Velloso, Investigadora de Polícia desde o ano de 1964.
Outro marco emblemático de 1975 foi a Rádio Patrulha que passou a exercer
suas funções pela Polícia Militar formada em 1970.
Em 1978, na gestão de Tácito Pinheiro Machado que havia assumido a Delegacia
Geral em janeiro de 1977 e permanecido até março de 1979, foi instituído o primeiro
reconhecimento honorífico aos policiais civis por meio da criação da Medalha Jorge
Tibiriçá, concedida aos seus integrantes pelos relevantes serviços em benefício da pró-
pria instituição, pelo Decreto nº 11.370. Reconhecimento similar só foi referendado em
2005, pelo Decreto nº 50.072, que instituiu a Medalha do Mérito Acadêmico-Policial
“Dr. Coriolano Nogueira Cobra”, como condecoração oficial destinada a homenagear
os professores do quadro da Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra” ao
cumprirem dez, vinte ou trinta anos de efetivo exercício no Magistério Policial. Em mol-
des análogos, em 1985, a Portaria DGP nº 4 criou a homenagem a “Policial do Mês”,
para distinguir o bom serviço policial, cuja láurea costuma ser entregue aos contempla-
dos, em cerimônia que acontece no dia do Policial Civil do Estado de São Paulo, em
30 de setembro, assim instituído pela Lei nº 12.259 de 15 de fevereiro de 2006. No dia
7 de janeiro de 2010 foram criados o “Livro do Mérito Policia Civil” e o “Diploma de
Congratulações” como honrarias de polícia judiciária, em reconhecimento pelas ações
eficientes e motivação para um ambiente positivo, a fim de registrar ad perpetuam rei
memoriam os nomes dos policiais civis, vivos ou falecidos que contribuírem para o enri-
quecimento do patrimônio moral da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Nesse sentido, cabe ressaltar que, no âmbito da sociedade civil, também foram ins-
tituídos alguns incentivos aos policiais, como o Prêmio Yojiro Takaoka, criado em 2001,

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

com o objetivo de incentivar e reconhecer ações policiais em benefício da sociedade. Em


2002, numa parceria com os Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEGs) foi
constituído o “Prêmio Franco Montoro de Participação Comunitária”, para incentivar
projetos da Polícia Civil, por meio da Resolução SSP nº 385/02; e, no dia 13 de outubro
de 2003, o Instituto Sou da Paz criou o Prêmio Polícia Cidadã que visa recompensar
práticas policiais voltadas à solução eficaz de um problema de segurança pública.
Um dos acontecimentos importantes em termos administrativos da Polícia Ci-
vil ocorreu com a promulgação da Lei Complementar nº 207 de 5 de janeiro de 1979,
conhecida como Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo (LOP). Logo após,
surgiram o Emblema e a Bandeira da Polícia Civil do Estado de São Paulo, pelo
Decreto nº 13.459. Nessa ocasião, o Delegado Geral de Polícia era Celso Telles que
ficou no posto de março de 1979 a março de 1983.
Na década de 80, a informatização facilitou o registro dos fatos relevantes, tornan-
do possível resgatar a memória de elucidações de crimes, como por exemplo, em 1982, a
identificação do “Maníaco do Brás”, autor de vários homicídios contra mulheres, além de
roubos e furtos, pela Divisão de Investigações Sobre Crimes Contra a Pessoa do DEIC.
Em 4 de março de 1983, pelo Decreto nº 20.728 do Governador José Maria
Marin, foi extinto o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e fixada nova
estrutura básica da Polícia Civil, com a criação da Divisão de Investigações sobre
Crimes Contra a Fazenda no DECAP, composta por duas Delegacias de Polícia.
Naquele ano a ACADEPOL foi elevada à categoria de departamento, pelo Decreto
nº 20.872/83. Nessa mesma época iniciava-se a gestão do Delegado Geral Maurício
Henrique Guimarães Pereira, que durou até novembro.
Em 1984, na gestão do Delegado Geral José Vidal Pilar Fernandes, que durou até
setembro desse ano, foi criado o Serviço Aerotático (SAT) do DEIC para auxiliar cercos
e prisões, resgates, salvamentos, transportes emergenciais, apoio em calamidades e opera-
ções policiais. Suas aeronaves desde então são conhecidas como “Pelicano”. Assim, em 14
de agosto, a Polícia Civil recebeu sua primeira aeronave: o helicóptero Pelicano 01.
A criação de Postos de Ação Social pelo Programa de Plantões de Serviço
Social junto a unidades policiais foi outra providência desse ano pelo Decreto nº
22.124/84. Os mesmos foram extintos em 1996, mas restaurados em 2002, pelos Nú-
cleos de Assistência Jurídico-Social (NAJS) nas Delegacias de Polícia Participativas.
Cada vez mais especializada, a Polícia Civil recebeu a Delegacia do Aeroporto
Internacional de São Paulo / Guarulhos, criada pelo Decreto nº 23.214/85. Algum
tempo mais tarde foram criados os Conselhos Comunitários de Segurança (CON-
SEGs) pelo Decreto nº 23.455/85, onde a Secretaria de Segurança Pública é repre-
sentada, em cada um deles, pelo Delegado de Polícia Titular do correspondente
Distrito Policial e pelo Comandante da Polícia Militar da área.
No entanto, o fato mais marcante de 1985 foi a inauguração da primeira De-
legacia de Defesa da Mulher, no dia 6 de agosto. Na ocasião, era a gestão do Dele-
gado Geral de Polícia José Oswaldo Pereira Vieira, que durou de setembro de 1984
a fevereiro de 1986, sendo procedido pelo Delegado Abrahão José Kfoury até o mês
de setembro do mesmo ano.

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Em 24 de dezembro de 1986 o Governador Franco Montoro assinou a Lei


nº 5.467 formalizando as atribuições das Delegacias de Defesa da Mulher, sendo
estas gradativamente instaladas no âmbito de todas as Delegacias Seccionais de
Polícia da Grande São Paulo, de todas as Delegacias Regionais de Polícia do Inte-
rior e em demais locais, conforme conveniência. Nessa época, o comando da Polícia
Civil estava a cargo do Delegado Geral Amandio Augusto Malheiros Lopes, que
iniciou-se em setembro de 1986 e se estendeu até março de 1991.
Alguns anos mais tarde, as DDMs inspiraram a criação do Centro de Con-
vivência para Mulheres Vítimas de Violência Doméstica (COMVIDA), o que foi
confirmado pelo Decreto nº 31.288 de 1990. No ano seguinte, 1991, foi instituído o
Programa de Atendimento Integrado a Mulheres Vítimas de Violência, executado
de forma conjunta, contínua e integrada, pelas Secretarias da Segurança Pública, do
Governo, da Justiça, do Trabalho e da Promoção Social e Procuradoria Geral do
Estado conforme Decreto nº 32.959 de 1991.
Ainda em 1986, na esteira da especialização, foram criados a Divisão de Inves-
tigações Sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas (DIVECAR) no DEIC com o
Decreto nº 24.764/86; o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)
a partir da Divisão de Investigações Sobre Crimes Contra a Pessoa, com o Decreto
nº 24.919/86; o Grupo Anti-Seqüestro no DHPP como o Decreto nº 24.919/86; e
a Delegacia para Investigação de Crimes de Furto e Roubo de Jóias e Falsas Do-
mésticas no DEIC, com o Decreto nº 26.367/86; além do Centro de Adestramento
Especializado do GARRA.
Já em 1987, mais duas Delegacias de Polícia em aeroportos foram criadas. Des-
ta vez a do Aeroporto Internacional de Viracopos em Campinas, pelo Decreto nº
27.036/87, e a do Aeroporto de São Paulo / Congonhas, pelo Decreto nº 27.220/87.
Somente em 1990, o Decreto nº 31.581, assinado pelo Governador Orestes Quércia,
criou a primeira Delegacia Especializada de Atendimento ao Turista (DEATUR).
Com o aumento dos crimes relacionados às drogas, foi assinado o Decreto nº
27.409/87 para a criação do Departamento Estadual de Investigações Sobre Nar-
cóticos (DENARC). A Divisão de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE) do
DEIC passou a ser integrada ao DENARC e foi criada a Divisão de Prevenção
e Educação sobre Drogas (DIPE) no mesmo departamento, para auxiliar na pre-
venção ao uso de entorpecentes e encaminhar dependentes. Anos mais tarde, desta
vez na Gestão do Governador Mário Covas, aconteceram a criação da Divisão de
Inteligência e Apoio Policial (DIAP) e de uma Delegacia especializada em “Crack”
no DENARC, pelos Decretos nºs 39.918/95 e 40.201/95, respectivamente, como in-
vestidas arrojadas na área policial.
A Portaria DGP nº 14/87 estabeleceu homenagem aos heróis policiais civis
tombados no cumprimento do dever, criando uma “Galeria de Honra” para inclu-
são de seus nomes e, desta forma, um grande painel de granito negro foi colocado
no átrio da Academia de Polícia Civil, nominando os homenageados, em cerimônia
realizada anualmente no Dia da Polícia Civil.
Com a promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro de 1988, a Po-
lícia Civil foi referendada com atribuições de polícia judiciária e estruturada em
carreira, conforme artigo 144. O Inquérito Policial foi institucionalizado como ins-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

trumento formal da polícia judiciária. Em adição, a Constituição do Estado de São


Paulo de 1989, também dispõe sobre Polícia Civil confirmando suas funções de po-
lícia judiciária e atribuindo aos delegados de polícia a apuração de infrações penais,
exceto as militares, em seu artigo 140.
Ainda em 1989, o Hino da Polícia Civil foi oficializado pela Lei nº 6.411. E, no
dia 19 de julho, foi criado o Grupo Especial de Regate (GER) no DEIC, que traba-
lha no atendimento de ocorrências com tomada de reféns e assume as negociações.
Nesse ano de 1989, inúmeros registros importantes foram computados no ce-
nário policial, como esclarecimentos de crimes pelo Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa (DHPP). Entre eles, está a elucidação do assassinato de 12 ho-
mossexuais e consequente prisão do “Maníaco do Trianon”, pois de 1986 a 1989
matou as vítimas que procuravam prostituição masculina no Parque do Trianon,
na Avenida Paulista. Em 1990 outros dois crimes hediondos foram esclarecidos: O
DHPP prendeu o responsável pela chacina da família Ikeda. Durante 18 horas o
assassino invadiu a residência das vítimas, estuprou uma mulher e uma adolescente,
depois matou todos a facadas, golpes de foice e afogamento. Ao final, ainda fur-
tou quantia em dinheiro. E o “Caso Akama” em que uma mulher matou seus dois
filhos e, em seguida, praticou suicídio. Vale lembrar que, nesse episódio, enquanto
o Ministério Público atribuía o crime ao marido e pai das vítimas, as investigações
policiais do DHPP o inocentava com base em provas periciais e testemunhais. A
2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, por votação unânime, trancou a ação
penal, coroando de êxito mais um trabalho policial.
Em 1992, o DHPP esclareceu o crime de que foi vítima o Governador do Es-
tado do Acre, morto em assalto, dentro de um hotel, por um ex-funcionário do
estabelecimento e mais oito comparsas, todos presos.
Com a aceleração da informatização no trabalho policial, ocorreu a criação do
Departamento de Informática da Polícia Civil (DINFOR), confirmada no Decreto
nº 33.017 de 27 de fevereiro de 1991. E, para auxiliar o trabalho dos agentes de tele-
comunicações que lá trabalham foi instituído, pela Portaria DGP nº 18/91, o Manu-
al de Telecomunicações e de Elaboração de Mensagens Telexadas pois, na ocasião,
o Telex era um dos instrumentos de comunicação da Polícia Civil.
Na sequência foram criados, pelo Decreto nº 33.829 de 23 de setembro de
1991, na gestão do Governador Luiz Antônio Fleury Filho, os Departamentos de
Polícia Judiciária da Capital e da Macro São Paulo (DECAP e DEMACRO), em
substituição ao antigo DEGRAN; a Delegacia de Polícia do Metropolitano de São
Paulo (DELPOM), pelo Decreto nº 33.829/91; o Grupo Especial de Investigações de
Crimes Contra a Criança e o Adolescente no DHPP, pelo Decreto nº 34.171/91; e as
Delegacias de Polícia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE) nas Delegacias
Seccionais de Polícia do Interior e da Macro São Paulo, pelo Decreto 34.214/91.
Naquela época o Delegado Geral de Polícia era Álvaro Luz Franco Pinto que per-
maneceu no comando de março de 1991 até abril de 1994.
Na sua gestão, com a promulgação da Lei Complementar nº 675 de 1992, fo-
ram reestruturadas as carreiras policiais civis. Antes disso, a Lei Complementar nº
503 de 1987 já dispunha sobre a promoção dos Delegados de Polícia.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A criação da Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso e das Delegacias de


Polícia de Investigações sobre Infrações contra o Meio Ambiente e a Saúde Pública,
o ocorreram também em 1992, pelos Decretos nºs 35.696 e 36.049, respectivamente.
A Polícia fazendo cada vez mais uso da informática e das telecomunicações
criou no DHPP o Serviço de Informações e Análise (SIA) pela Portaria nº 275 de
1994, que vigorou até 2001, quando foi reestruturado para atender às exigências
provenientes do aprimoramento da informatização, passando a denominar-se Ser-
viço de Inteligência e Análise (SIA) pela Portaria DHPP nº 004/01.
Nesse período, a gestão era do Delegado Geral de Polícia Antonio Carlos de
Castro Machado, que durou de janeiro de 1995 a abril de 1997, e ocorreu logo após
a do Delegado Geral Jorge Miguel, de abril a dezembro de 1994.
Foi durante o comando do doutor Caio, como era conhecido, que, em 1995
as estatísticas referentes às atuações das Polícias Civil e Militar começaram a ser
publicadas trimestralmente no Diário Oficial do Estado e pela Internet na página
da Secretaria da Segurança Pública, por força da Lei nº 9.155/95. Até que, em no-
vembro daquele ano, finalmente o sítio da Polícia Civil na Internet foi criado por
uma equipe de policiais do Departamento de Telemática da Polícia Civil do Estado
de São Paulo, hoje DIPOL.
A criação da Delegacia de Polícia de Proteção a Testemunhas e da Delega-
cia de Pessoas Desaparecidas, ambas no DHPP, ocorreu por força do Decreto nº
39.917/95.
Também em 1995 ocorreu uma nova estrutura básica da Polícia Civil com a
reorganização da Delegacia Geral de Polícia, pelo Decreto nº 39.948 do Governador
Mário Covas.
Nasce então, pelo Decreto nº 40.120/95, a Delegacia de Polícia de Investiga-
ções sobre Infrações contra a Organização Sindical e Acidentes de Trabalho, antes
subordinada ao antigo Departamento de Comunicação Social (DCS), e atualmente
pertencente ao DECAP.
Ainda em 1995, surge a Recognição Visuográfica do Local de Crime como
aprimoramento metódico da investigação, em especial nos crimes dolosos contra a
vida, de autoria do Dr. Marco Antonio Desgualdo, pela Portaria DHPP nº 136/95.
Esse instrumento de trabalho policial tem contribuído para os altos índices de es-
clarecimento dos crimes de homicídios múltiplos, como demonstram algumas esta-
tísticas, isto é, 93,0% (2001); 97,5% (2002); 97,5% (2003); 90,9% (2004), bem como
proporcionou a queda do número de chacinas: de 43 em 2001 para 22 em 2003,
índice que vem gradativamente descendendo.
Também em 1995, o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso
sancionou a Lei nº 9.043 que deu nova redação ao artigo 4º do Código de Processo
Penal, garantindo que: “A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais
no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infra-
ções penais e da sua autoria”. E, finalmente, inicia-se o programa do Governo do
Estado de São Paulo, administrado na ocasião por Mário Covas, para desativação
de carceragens nos Distritos Policiais, sendo os presos gradativamente transferidos
para o sistema penitenciário.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Em 1996, nas Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) o atendimento às crian-


ças e adolescentes vítimas de violência é incluído nas suas atribuições.
Em 1997, a Lei Complementar nº 826 criou a Ouvidoria da Polícia do Estado
de São Paulo junto ao Gabinete do Secretário da Segurança Pública. O Departa-
mento de Informática da Polícia Civil (DINFOR) passou a denominar-se Departa-
mento de Telemática da Polícia Civil (DETEL), por força do Decreto nº 41.656/97;
e foi criado o Programa de Prevenção e Redução de Furtos, Roubos e Desvio de
Carga (PROCARGA) pela Resolução SSP nº 284/97.
O dia 20 de outubro de 1997 marcou o início das atividades do Programa Pou-
patempo do Governo do Estado de São Paulo, com a inauguração do Poupatempo
Sé, oferecendo de forma ágil e eficiente, uma central de atendimento ao cidadão,
com adequação de alguns órgãos da Polícia Civil. Naquela ocasião, o Delegado
Geral de Polícia era Luiz Paulo Braga Braun, cuja gestão durou de abril de 1997 a
fevereiro de 1998.
Ainda em 1997, o Presidente da República Federativa do Brasil, Fernando
Henrique Cardoso, confere a Medalha dos Direitos Humanos ao Delegado de Po-
lícia Tabajara Novazzi Pinto, por ter sido pioneiro no ensino de Direitos Humanos
para forças policiais. Aquela foi a primeira vez que uma instituição policial recebeu
tal condecoração. Assim, no dia 10 de dezembro de 1997, foi criado o Centro de
Direitos Humanos e Segurança Pública “Celso Vilhena Vieira” na ACADEPOL,
que nasceu com o intuito de contribuir com a conscientização do policial, e com a
missão de ser destinatário dos Direitos Humanos e guardião do exercício da cida-
dania. Um dos feitos memoráveis dos integrantes desse Centro, ocorreu, no dia 11
de dezembro de 2008, com o lançamento do livro “A Polícia Civil e a Defesa dos
Direitos Humanos”, uma coletânea de artigos, sendo utilizado como instrumen-
to balizador para cumprimento das atividades policiais com respeito à dignidade
humana. Cabe observar que o nome Celso Vilhena Vieira homenageia o delegado
morto em serviço em 1985, enquanto defendia a segurança da população. A data de
criação do CDHSP também coincide com os 49 anos da Declaração Universal dos
Direitos do Homem.
O ano seguinte, janeiro de 1998, marca o início do funcionamento da Intranet
na Polícia Civil. A nova ferramenta de comunicação utiliza tecnologia aplicada à In-
ternet para substituição do processamento das mensagens via telex, sendo o sistema
gerenciado pelo DETEL. A Intranet veio facilitar o acesso ao Banco de Dados Pro-
desp, à Resenha Policial, consulta à legislação, endereços e telefones, entre outros.
Muitas outras mudanças ocorreram em 1998, entre elas a estrutura da Supe-
rintendência da Polícia Técnico-Científica, agora subordinada diretamente ao Se-
cretário da Segurança Pública pelo Decreto nº 42.847 de 9 de fevereiro. Também,
pelo mesmo decreto, foi criado o Departamento de Identificação e Registros Diver-
sos – DIRD, que substituiu o Departamento de Polícia Científica. Iniciava-se nesse
período a gestão do Delegado Geral de Polícia Marco Antonio Desgualdo, a mais
longa entre todos os outros que o precederam, pois no cargo permaneceu de feverei-
ro de 1998 até dezembro de 2006, perfazendo um total de quase oito anos.
Durante sua gestão, muitas foram as conquistas. Em nível interno ocorreu a
criação do Grupo de Prevenção de Acidentes (GPA) no DECAP, com o intuito de

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reduzir a incidência de acidente do trabalho e zelar pela saúde física e mental dos
policiais no cumprimento do dever, pela Portaria DGP nº 19/98; e, ainda, foi ofi-
cialmente estruturado o Grupo de Operações Especiais – GOE, com atribuições de
policiamento preventivo especializado e diligências de natureza policial relevantes,
bem como controle de motins e rebeliões, pela Portaria DECAP nº 11/98. E, com a
finalidade de executar intervenções táticas, foi criado o Setor de Operações Especiais
(SOE) no DENARC.
Enquanto isso, outro crime assombrava a cidade de São Paulo. Um assassino
serial, conhecido pela alcunha de “Maníaco do Parque”, seduzia suas vítimas, de-
pois as levava para o Parque do Estado, na zona sul da Capital, onde as estuprava e
matava. O crime foi elucidado em 1998 com a atuação do DHPP e o auxílio de um
eficiente retrato falado.
Em 1999, a Lei nº 10.336 autorizou a instalação das Delegacias da Criança e da
Juventude, em municípios da Grande São Paulo e no Interior do Estado. Por outro
lado, o Programa de Proteção a Testemunhas (PROVITA), apoiado pela Delegacia de
Polícia de Proteção a Testemunhas do DHPP, foi instituído pelo Decreto nº 44.214.
Mais um grande fato na estrutura da Polícia Civil ocorreu nesse ano: a criação
dos Departamentos de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (DEINTER 1 a 7),
respectivamente nas cidades de São José dos Campos, Campinas, Ribeirão Preto,
Bauru, São José do Rio Preto, Santos, Sorocaba e Presidente Prudente, com o De-
creto nº 44.448/99.
Novamente a nível interno, ocorrem algumas mudanças substanciais e, assim,
foi criado o Grupo de Intervenção em Cenários de Resgate de Presos (GIRP) no
DEIC pela Portaria DGP nº 13/99; foram estabelecidas rotinas de trabalho para as
investigações sobre crimes cometidos pelo uso indevido de computadores, da Inter-
net e dos meios eletrônicos a serem apuradas pelo DETEL pelas Portarias DGP nº
14/99 e DGP nº 18/99; e foi criado o Grupo Especial de Investigações Sobre Infra-
ções Contra o Meio Ambiente no DECAP, pela Portaria DGP nº 19/99.
No final de 1999, em 20 de novembro, foi emitida a primeira Carteira de Iden-
tidade digitalizada. O ato aconteceu durante a 4ª Bienal de Arquitetura no Ibirapue-
ra. A partir daí iniciou-se o programa de digitalização das carteiras de identidade no
Estado de São Paulo.
Em abril de 2000 o Departamento de Administração e Planejamento (DAP) foi
reorganizado pelo Decreto nº 44.856.
Avançando nas telecomunicações, em 21 de setembro, foi lançado oficialmen-
te o Sistema de Informações Criminais (INFOCRIM), um banco de dados infor-
matizado, interligando em rede Distritos Policiais e Companhias da Polícia Militar
da Capital, além de Campinas e Santos, com informações contidas nos boletins de
ocorrência registrados nas delegacias, tendo sua implantação nos 643 municípios
sido finalizada no ano de 2010. E, em 25 de outubro, foi a vez do lançamento do
Disque-Denúncia, por meio de convênio firmado entre a Secretaria da Segurança
Pública e o Instituto São Paulo Contra a Violência (SPCV).
A criação do Grupo de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância –
GRADI, com a intenção de reprimir crimes e ataques contra minorias e executar

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

um trabalho preventivo contra os crimes de intolerância de qualquer espécie, como


racial, religiosa, sexual, esportiva e outras aconteceu por meio da Resolução SSP nº
42/2000 e Resolução SSP nº 437/2004. Mas, em 2006, por força do Decreto nº 50.594
do Governador Geraldo Alckmin, foi finalmente criada a Delegacia de Crimes Ra-
ciais e Delitos de Intolerância (DECRADI), na Divisão de Proteção à Pessoa, do
Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), com a função de re-
primir e analisar os delitos de intolerância que visam a exclusão social, entre outras.
Ainda em 2000, começou o Programa de Integração entre as Polícias Civil e
Militar no Estado de São Paulo pela Resolução SSP nº 248/00.
Na esteira da era tecnológica, foi criada a Delegacia Eletrônica e, como con-
sequência, instituído o Boletim Eletrônico de Ocorrência (BEO) para registro de
ocorrências policiais e denúncias pela Portaria DGP nº 01/00.
Bem como, a reformulação e realinhamento dos modelos de identidade fun-
cional de todas as carreiras policiais civis, exceto as de Delegado de Polícia, para
atender critérios de segurança e tecnicidade da Polícia Civil aconteceu por meio da
Portaria DGP nº 16/00. O lançamento deste Manual de Polícia Judiciária pela De-
legacia Geral de Polícia, elaborado por um grupo de professores da ACADEPOL
sob a coordenação do Dr. Carlos Alberto Marchi de Queiroz, conforme Portaria
DGP nº 17/99, foi mais uma das inovações ocorridas no ano de 2000; bem como a
padronização de armas do calibre ponto 40 para uso dos Policiais Civis do Estado
de São Paulo e aquisição de pistolas, metralhadoras e carabinas no referido calibre
para todo o contingente policial civil.
O novo milênio se inicia e com ele a Polícia Civil segue aprimorando principal-
mente na especialização e na informatização, sendo criada a Delegacia de Polícia do
Porto de Santos, fato que altera a denominação da Divisão Policial de Aeroportos
e Proteção ao Turista e Dignitários para Divisão Policial de Portos, Aeroportos,
Proteção ao Turista e Dignitários, pelo Decreto nº 45.952/01.
O Departamento de Administração e Planejamento (DAP) reorganiza al-
guns órgãos e sua Divisão de Prevenção e Apoio Assistencial tem atribuições de
realizar exames de prevenção e assistência médica, odontológica, psicológica e so-
cial, incluindo a distribuição de medicamentos, aos policiais civis pelo Decreto nº
46.036/01. A seguir, foi criada no DEIC a Divisão Anti-Seqüestro, que antes perten-
cia ao DHPP; e também a Delegacia de Delitos praticados por Meios Eletrônicos no
DEIC que ocorreu pelo Decreto nº 46.149/01.
Acontece ainda em 2001, a criação do Programa Estadual de Combate à Pi-
rataria e de Proteção aos Direitos de Propriedade Imaterial pela Resolução SSP nº
403/01. E, no dia 3 de julho, a implantação do Plano de Combate aos Homicídios
Dolosos em São Paulo pelo DHPP.
Em 2002, uma alteração da Lei Orgânica da Polícia do Estado de São Paulo,
institui a chamada “Via Rápida”, para combate e punição dos maus policiais, com
a Lei Complementar nº 922/02.
A criação do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (DIPOL) em subs-
tituição ao Departamento de Telemática da Polícia Civil (DETEL), pelo Decreto
nº 47.166/02, surge como uma necessidade de readaptação à nova era de informa-

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tização e das telecomunicações. Entre as inovações estão o funcionamento de uma


Unidade de Inteligência Policial nas Assistências Policiais da CORREGEDORIA,
do DECAP, do DEMACRO, dos DEINTERs, do DEIC e do DHPP; além da cria-
ção do Serviço Técnico de Monitoramento Legal de Telecomunicações (SETEL).
A CORREGEDORIA tem nova organização, pelo Decreto nº 47.236/02, que
autorizou a criação da Divisão de Corregedorias Auxiliares em todo o Estado.
A criação de um grupo para modernização do atendimento ao público nas
Delegacias de Polícia do Estado de São Paulo originou as Delegacias de Polícia
Participativas conforme Resolução Conjunta SGGE/SSP nº 01/02. Assim, no dia
16 de junho de 2002, foi inaugurada a primeira Delegacia de Polícia Participativa: o
24º DP (Ermelino Matarazzo), sem carceragem e com um Núcleo de Atendimento
Jurídico-Social (NAJS). Na ocasião, também foi instalado o primeiro Registro Digi-
tal de Ocorrência (RDO) um sistema de coleta de dados que moderniza a estrutura
de relatórios e possibilita a consulta automática do banco de dados civil e criminal,
veículos e armas, cuja implantação nos 643 municípios foi finalizada em 2010.
Por outro lado, a criação do Grupo Especial de Repressão ao Crime Organi-
zado (GERCO) no DENARC foi efetivada pela Portaria nº 92/02. Da mesma for-
ma, a criação da Unidade Antibomba no GARRA, DEIC, para atuar em situações
envolvendo explosivos em geral pela Portaria DICCPAT nº 48/02. Essa Unidade
recém-criada afirma sua importância ao localizar na Rodovia Anhanguera um veí-
culo roubado carregado com 12 bananas de dinamite, destinado a executar plano de
atentado do PCC contra o prédio da Bolsa de Valores de São Paulo. Assim, no dia
21 de outubro de 2002, os explosivos contidos no carro-bomba foram desarmados
pela equipe especializada e uma pessoa foi detida.
No dia 28 de agosto de 2002 foi inaugurado o Monumento aos Policiais Civis
Heróis do DEIC.
Nesse mesmo ano, o DENARC implantou a “Operação Escola Segura” que
mapeia as escolas de São Paulo com problemas de tráfico de drogas, através de in-
vestigações desenvolvidas pelo departamento, e o lançamento do programa digital
de monitoramento via satélite de suas operações e viaturas.
Em 16 de janeiro de 2003 foi lançado o Manual Operacional da Polícia Ci-
vil pela Delegacia Geral de Polícia, novamente sendo elaborado por um grupo de
professores da ACADEPOL sob a coordenação do Dr. Carlos Alberto Marchi de
Queiroz, conforme a Portaria DGP nº 20/00.
O DENARC tem vários destaques no ano de 2003 e, entre eles, está o Diploma
de Mérito pela Valorização da Vida recebido no dia 26 de junho pela Secretaria
Nacional Antidrogas do Gabinete da Segurança Institucional da Presidência da Re-
pública, sendo essa a primeira vez que uma instituição policial foi reconhecida no
Brasil pela significativa contribuição à causa da redução da demanda de drogas. Ou-
tra marca histórica aconteceu em 22 de setembro com a apreensão de 10 toneladas
de maconha no Interior paulista. No dia 17 de novembro, também foi estabelecido
um novo recorde de incineração de drogas: 20 toneladas entre maconha e cocaína
apreendidas pelo departamento.
Enquanto isso, a Delegacia Seccional de Polícia de Taboão da Serra, perten-
cente ao DEMACRO, esclareceu no dia 10 de novembro, o duplo homicídio que vi-

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timou o casal de adolescentes Felipe Silva Caffé e Liana Bei Friedenbach, cujo fato
chocou o Brasil. Os corpos foram encontrados em local de difícil acesso e o menor
infrator, que executou o crime com requintes de crueldade, foi apreendido.
Em 19 de maio de 2004, por força do Decreto nº 48.666 do Governador Ge-
raldo Alckmin, foi autorizada a criação da Delegacia Geral de Polícia Adjunta
(DGPAD) em substituição à Assessoria Técnica da Polícia Civil. Ao Delegado Ge-
ral de Polícia Adjunto compete substituir o Delegado Geral de Polícia em seus im-
pedimentos legais e temporários, bem como os ocasionais.
Alguns dias depois, em 25 de maio, foi lançado o Projeto Ômega, uma fer-
ramenta de investigação criada pelo DIPOL, que desponta como mais um marco
na modernização tecnológica da Polícia Civil, usando a inteligência artificial para
aprimorar as investigações através de pesquisas em um banco de dados completo.
Em 23 de julho, aconteceu a maior apreensão de drogas na história da Polícia
Civil. Policiais do Núcleo de Apoio e Proteção à Escola (NAPE) do DENARC apre-
enderam uma tonelada de cocaína. A droga era proveniente da Colômbia e seria
distribuída em São Paulo e no Rio de Janeiro. A operação ocorreu em São Bernardo
do Campo, antes da droga ser entregue aos traficantes. Na ocasião também foram
presas duas pessoas.
Em 29 de julho, o Instituto de Identificação “Ricardo Gumbleton Daunt”
(IIRGD) completou 100 anos, tendo como sua origem a expedição da primeira “Fi-
cha Passaporte” ou “Carteira de Identidade”.
O Grupo Especial de Motos Força 13 – F13 foi criado no dia 5 de outubro,
com o objetivo de agilizar a locomoção dos policiais no trânsito da cidade.
E, no final do ano, em dezembro de 2004 foi criado o Departamento de Polícia
Judiciária de São Paulo Interior – DEINTER 8 – Presidente Prudente, pelo Decreto
nº 49.264.
O ano de 2004 foi coroado ainda com duas grandes realizações: sobe o número
de prisões por homicídio efetuadas pelo DHPP: de 165 em 2000 para 1.437 em 2004,
o que corresponde a uma variação de 770,9% no período. E, a ACADEPOL fecha o
ano contabilizando 196 cursos de aperfeiçoamento, regulares e extraordinários, para
policiais. Se compararmos registros de 1962, nos primórdios da Escola de Polícia,
quando eram 14 cursos, teremos uma evolução de 1.300%.
No ano do centenário da Polícia Civil, 2005, o IIRGD apresenta um marco
expressivo por manter um arquivo com 32 milhões de prontuários civis. Destes, 15
milhões já estavam digitalizados.
No dia 31 de outubro, foi finalmente concluído o Programa de Desativação das
Carceragens do Governo do Estado de São Paulo nos Distritos Policiais da Capital.
O projeto previu a transferência de presos de 77 DPs para unidades prisionais e
Centros de Detenção Provisória no Estado de São Paulo.
Por outro lado, a Academia de Polícia protagonizou três acontecimentos em
2005: seguindo-se a fundação do Núcleo de Estudos sobre o Meio Ambiente e Po-
lícia Judiciária (NEMA), que surgiu para capacitação, aperfeiçoamento, e atualiza-
ção dos profissionais policiais, com a organização de palestras, seminários, simpó-
sios e cursos de interesse público, direcionados tanto para policiais civis como para

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o público em geral, e homologado pela Portaria nº 139/2005. No mesmo sentido, em


9 de maio de 2005, o Núcleo de Estudos de Criminologia (NECRIM), pela Portaria
nº 16/2006 que retroagia seus efeitos foi consolidado quase um ano após a primeira
reunião pedagógica em 27 de maio de 2004, os quais surgiram com o intuito de
aproximar suas pesquisas e estudos às atividades policiais, entre outras atribuições.
E, por fim, a Acadepol recebe Menção Honrosa do Prêmio Polícia Cidadã, do Insti-
tuto Sou da Paz, pelo conjunto de ações e cursos: “Legalidade e Direitos Humanos”
e “Pesquisa e Educação Continuada”, além da inserção do tema “O Trabalho do
Policial Civil e a Diversidade Étnico-Racial” nos cursos de formação.
No final do ano, em 23 de dezembro, a Polícia Civil do Estado de São Paulo
comemorou seu primeiro Centenário, num acontecimento que reuniu centenas de
policiais civis e autoridades na Sala São Paulo.
Em 2006 foi instituído pelo Decreto nº 12.259 o “Dia da Polícia Civil do Es-
tado de São Paulo” a ser comemorado anualmente no dia 30 de setembro. O dia
lembra o falecimento de Jorge Tibiriçá, autor da lei que instituiu a Polícia Civil de
carreira no Estado de São Paulo.
No mesmo ano, no dia 25 de maio, foi inaugurado o Grupamento Náutico
de Operações Especiais no Guarujá, integrando o Grupo de Operações Especiais
(GOE) do DEINTER 6 (Santos), contando com lanchas para o monitoramento do
crime organizado na região litorânea compreendida entre o Estado do Paraná e o
município de São Sebastião.
Foi ainda em 2006, editado o Decreto nº 51.039 do Governador Geraldo Al-
ckmin, para a criação do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior
(DEINTER 9) – Piracicaba, com a transferência das Delegacias Seccionais de Po-
lícia de Piracicaba, Americana, São João da Boa Vista, Limeira, Rio Claro e Casa
Branca do DEINTER 2 – Campinas para esse novo departamento.
O ano também foi marcado por outros decretos que alteraram parte da estru-
tura interna da instituição, como a criação das Seções de Finanças das Delegacias
Seccionais de Polícia Judiciária da Capital (DECAP), com o Decreto nº 50.869; a
Inauguração das novas instalações do 1º Distrito Policial, do Setor de Investigações
Gerais (SIG), de uma base do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos
(GARRA), e reinauguração da 238ª Circunscrição Regional de Trânsito (CIRE-
TRAN) pertencentes à Delegacia Seccional de Diadema, no Grande ABC, no dia 4
de julho; e a instalação da Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher de Sertãozinho,
integrando a Delegacia Seccional de Sertãozinho, do Departamento de Polícia Judi-
ciária de São Paulo Interior – DEINTER 3 – Ribeirão Preto pelo Decreto nº 51.101.
Nesse mesmo período houve duas extinções: a da Delegacia de Polícia do Ae-
roporto Internacional de Viracopos – Campinas, da Divisão Policial de Portos, Ae-
roportos, Proteção ao Turista e Dignitários, do Departamento de Identificação e
Registros Diversos da Polícia Civil – DIRD, pelo Decreto nº 51.089, e a extinção
da 5a Delegacia – Furtos, Roubos e Adulterações de Combustíveis da Divisão de
Investigação sobre Furtos e Roubos de Veículos e Cargas – DIVECAR, do Depar-
tamento de Investigações sobre Crime Organizado – DEIC, pelo Decreto nº 51.476.
Cabe ressaltar que, no ano seguinte, pelo Decreto nº 53.171/2008, a Delegacia de

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Polícia do Aeroporto Internacional de Viracopos – Campinas voltou a integrar a


mesma estrutura do DIRD, anterior à sua extinção, tendo atribuições de coordena-
ção e execução de polícia judiciária e de policiamento preventivo especializado na
área abrangida.
Já na gestão do Delegado Geral Mário Jordão Toledo Leme, de janeiro a se-
tembro de 2007, um distinto reconhecimento aconteceu em 1º de março quando o 9º
Distrito Policial do Carandiru, uma Delegacia de Polícia Participativa, foi escolhido
como o melhor da América Latina. A contemplação foi realizada pela Organização
Não Governamental (ONG) holandesa Altus, qualificando a delegacia como uma
das cinco melhores do mundo.
Alguns dias mais tarde, em 16 de março, foi finalmente inaugurada a sede do
Departamento de Polícia Judiciária do Interior (DEINTER 9) em Piracicaba, numa
área de 835 m2, instalada para atender 52 municípios da região.
A criação do Setor Operacional da Delegacia de Roubo a Bancos (SORB) na
5a Delegacia da Divisão de Investigações de Patrimônio do Departamento de Inves-
tigações sobre o Crime Organizado (DEIC) para atuar na prevenção e repressão de
crimes relacionados a roubo a bancos e transporte de valores, foi uma determinação
da Portaria nº 010/2007 de 20 de março.
No mesmo ano, ocorreu a transferência da Divisão de Investigações sobre Cri-
mes contra a Fazenda, do Departamento de Polícia Judiciária da Capital – DECAP
para o Departamento de Identificação e Registros Diversos – DIRD pelo Decreto
nº 51.487 e a criação da Delegacia de Polícia do 8o Distrito Policial de São Bernardo
do Campo, pelo Decreto nº 51.583.
Ainda em 2007, o Decreto nº 51.813 de 16 de maio estabeleceu a padronização
da pintura externa dos meios de transporte, com determinação para utilizar, em
veículos operacionais, embarcações e aeronaves, as cores vermelho cadiz e preta,
no capô do motor, tampa e porta-malas e laterais do veículo, formando o mapa
estilizado do Estado de São Paulo, e aplicadas sobre a pintura branca original do
veículo, cor predominante. Três anos mais tarde, por determinação do Decreto nº
55.658/2010 nova padronização foi designada. Desta forma, a pintura externa, sím-
bolos e inscrições de identificação dos veículos da frota da Delegacia Geral de Po-
lícia, foram definidas pelas cores preta e branca para os operacionais; preta para os
de apoio operacional; cor de fabricação aos que prestam serviços reservados; branca
aos que prestam serviços na área assistencial; preta aplicada em forma de faixas
sobre a pintura branca nas motocicletas operacionais e na cor de fabricação para as
destinadas aos serviços reservados, devendo constar a inscrição “POLÍCIA CIVIL”
junto ao emblema, como indicação da frota.
O ano de 2008, ainda no governo de José Serra, em 14 de fevereiro, aconteceu
a inauguração do Centro de Referência na 1a Delegacia de Defesa da Mulher da
Capital com o objetivo de atender vítimas de violência doméstica, oferecendo assis-
tência médica, psicológica e social, além de capacitação profissional para geração de
renda. Na época, o Delegado Geral de Polícia Mauricio José Lemos Freire estava no
comando, período que durou de setembro de 2007 a março de 2009.
No dia 16 fevereiro de 2008 o Instituto de Criminalística comemorou 10 anos
de reestruturação. A data remonta da criação da Polícia Técnico-Científica em 9 de

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fevereiro de 1998, o qual possui equipamentos de última geração como o cromató-


grafo líquido de alto desempenho, o sequenciador de DNA, as lanternas forenses de
alta potência, entre outros.
A inauguração das novas instalações do Departamento de Inteligência da Po-
lícia Civil (DIPOL) visando a modernização do departamento aconteceu no dia 25
de fevereiro daquele ano.
Em 27 de maio, foi inaugurado o Telecentro Ipiranga junto ao 17o Distrito
Policial, batizado com o nome “Aldo Galiano”, com o objetivo de diminuir a exclu-
são digital da população na região por meio do oferecimento gratuito de cursos e
oficinas de informática.
O Decreto nº 53.073/2008 determinou a criação e organização da Assis-
tência Policial Civil de Assuntos Penitenciários na Delegacia Geral de Polícia
Adjunta – DGPAD, com as atribuições de coletar informações de interesse da
Polícia Civil, e prestar assistência e assessoramento à Secretaria da Administra-
ção Penitenciária, entre outras.
No dia 20 de junho, foi inaugurado o sistema de teleconferência da Polícia
Civil no DIPOL, o que possibilitou a transmissão simultânea, por meio de vide-
oconferência, reunião entre delegados de polícia de todo o Estado de São Paulo,
auxiliando no serviço de inteligência policial.
Ainda em 2008, por força dos Decretos nºs 52.629 e 53.083, uma área corres-
pondente a 352.282,5252m² de imóvel localizado no Município de Mogi das Cruzes
foi destinada para instalação do Presídio Especial da Polícia Civil e outras unidades
subordinadas à Polícia Civil, como o campus II da Academia de Polícia.
A criação da Assistência Policial Civil de Assuntos Penitenciários, organizada
na Delegacia Geral de Polícia Adjunta (DGPAD), para atuar junto à Secretaria da
Administração Penitenciária a fim de executar serviços da Polícia Civil em relação
aos presos e facilitar o entrosamento entre ambas as Secretarias, foi uma determina-
ção do Decreto nº 53.073 de 9 de junho de 2008.
O primeiro treinamento policial no campus da Academia de Polícia Civil
(ACADEPOL) – campus II em Mogi das Cruzes aconteceu em 27 de agosto de 2008.
Na ocasião, os alunos tiveram aulas de tiros com armas pesadas, abordagens, simu-
lação de locais de crime, estudos de arqueologia forense e sobrevivência policial.
Além disso, mais um helicóptero foi incorporado à frota do Serviço Aerotático
(SAT) do DEIC, no dia 20 de outubro. A aeronave, destinada a dar apoio às missões
policiais e humanitárias, soma-se aos dois helicópteros já existentes.
O Governador José Serra promulgou leis visando a reestruturação de carreiras
policiais. A Lei Complementar nº 1.063/2008, reestruturando a carreira de Delegado
de Polícia, passou a ser composta por cinco classes, e com ingresso precedido por
aprovação em concurso público de provas e títulos, iniciando-se sempre em cargo de
4a Classe. E, a Lei Complementar nº 1.064/2008, que reestruturou as demais carrei-
ras policiais civis, que passam a ser compostas por cinco classes, hierarquicamente
escalonadas de acordo com o grau de complexidade das atribuições e nível de res-
ponsabilidade, sendo seu ingresso precedido também por aprovação em concurso
público de provas e títulos, inciando-se nos cargos de 4a. Classe. A exigência de di-

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ploma de graduação de nível superior ou habilitação legal correspondente passaram


a ser requisito para o ingresso nas carreiras de Escrivão de Polícia e Investigador de
Polícia, por força da Lei Complementar nº 1.067/2008.
Duas inaugurações em Santos aconteceram no dia 23 de dezembro. Foram
elas: a sede própria do 7o Distrito Policial e a Delegacia de Defesa da Mulher.
No início de 2009, em 14 de janeiro, foi assinado um convênio entre o Governo
Federal (Ministério da Justiça) e o Estado de São Paulo (Polícia Civil) para a ins-
talação de um laboratório de Tecnologia de Combate à Lavagem de Dinheiro para
funcionar no Departamento de Inteligência Policial (DIPOL).
Em 12 de março, na então gestão do Delegado Geral de Polícia Domingos
Paulo Neto, que durou até o final de dezembro de 2010, foi instituído, pelo Decre-
to nº 54.101, o Programa Estadual de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas – PEPETP, junto à Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania com a
finalidade de promover ações de prevenção, garantir orientação e atendimento às
vítimas e ser uma fonte de informações técnicas para profissionais e ativistas das
áreas de segurança pública e de promoção e defesa de direitos humanos, contando
com o apoio de uma equipe operacional multidisciplinar.
O aprimoramento da Polícia Civil seguiu com a criação do Departamento de
Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), no dia 20 de maio de 2009, com atribui-
ções de registro e apuração de infrações contra o consumidor; a saúde pública, o
meio ambiente, as relações do trabalho; a Fazenda Pública Estadual e Municipais; a
Administração em geral; entre outras, conforme Decreto nº 54.359.
No dia 9 de julho de 2009, o controle direto da Corregedoria da Polícia Civil,
anteriormente vinculada à Delegacia Geral de Polícia (DGP), foi transferido para
a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Logo após, uma decisão do Governo José
Serra, transferiu em 25 de agosto, pelo Decreto nº 54.710, a Corregedoria Geral da
Polícia Civil para o Gabinete do Secretário da Segurança Pública, incluindo acervo,
direitos e obrigações, cargos e funções-atividades, passando a subordinar-se direta-
mente ao Secretário da Segurança Pública.
A Resolução da Secretaria da Segurança Pública no 223/2009, disciplina o re-
gistro de Termos Circunstanciados, nos casos de infrações de baixo potencial ofen-
sivo, nos termos do artigo 69 da Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995, que vinham
sendo realizados pela Polícia Militar desde 2003, passam a ser de responsabilidade
da exclusiva da Polícia Civil.
Em 2010, já no Governo Alberto Goldman, pelo Decreto nº 55.839, foi insti-
tuído o Plano Estadual de Enfrentamento à Homofobia e Promoção da Cidadania
LGBT, visando à promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e tran-
sexuais, por meio de políticas públicas, que incluem, entre outros, criação de espaços
para declaração facultativa de orientação sexual e identidade de gênero nos boletins
de ocorrência, inserção da temática nos currículos de formação e aperfeiçoamento
de policiais; levantamento de dados e ampliação da Delegacia de Crimes Raciais e
Delitos de Intolerância (DECRADI).
Outros marcos relevantes do ano de 2010 foram a transferência da Delegacia de
Polícia do Metropolitano de São Paulo do DECAP para a Divisão Policial de Portos,
Aeroportos, Proteção ao Turista e Dignitários do DIRD, pelo Decreto nº 56.008; a

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inauguração, no dia 30 de março, do Núcleo Especial Criminal (NECRIM) na De-


legacia Seccional de Lins para a resolução de crimes de menor potencial ofensivo;
a implantação, no dia 7 de abril, do Centro de Estudos Superiores da Polícia Civil
“Professor Maurício Henrique Guimarães Pereira” na Academia de Polícia Civil, ha-
bilitado a ministrar cursos de pós-graduação homologados pelo Conselho Estadual
de Educação, sendo estes: Polícia Judiciária e Sistema de Justiça Criminal; a criação,
no dia 1º de junho, da Central de Polícia Judiciária (CPJ) da Delegacia Seccional de
Santos; a construção do Data Center da Polícia Civil, com sistemas interligados ofere-
cendo agilidade em processos criminais e investigações e expansão no armazenamento
de dados, com inauguração no dia 2 de junho; e a inauguração das sedes do DEIN-
TER 9 – Piracicaba e da Delegacia Seccional de Piracicaba, no dia 21 do mesmo mês.
O Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN) integrante da estrutura da
Polícia Civil do Estado de São Paulo, onde trabalharam Policiais Civis das diversas
carreiras, inclusive Delegados de Polícia, também fez parte da história da Polícia.
Quando criado pelo Decreto nº 47.740 de 1967 tinha a sigla DET, e teve sua primei-
ra reorganização em 1979, pelo Decreto nº 13.325, tornando-se conhecido por DE-
TRAN. Posteriormente, uma reestruturação no departamento transferiu a Divisão
de Crimes de Trânsito, criada em 1994 pelo Decreto nº 38.674, para o Departamento
de Identificação e Registros Diversos (DIRD).
Mas, em 17 de maio de 2011, já na gestão do Delegado Geral de Polícia Mar-
cos Carneiro Lima, no comando da Polícia Civil desde janeiro de 2011, o departa-
mento foi transferido da Secretaria da Segurança Pública para a Secretaria de Ges-
tão Pública, pelo Decreto nº 56.843. Cabe ressaltar que, em 2005, o DETRAN foi
considerado o maior departamento de trânsito da América Latina, administrando
uma frota com mais de 15 milhões de veículos, que representa 51% da frota nacio-
nal, sendo um terço somente na Capital, bem como um rol de mais de 15 milhões
de condutores. Em 2011 a frota da capital paulista chega à impressionante marca de
sete milhões de carros, crescendo mais rápido que a própria população da cidade.
Já em 23 de março de 2011, as Polícias Civil e Militar se integraram para fazer
o boletim de ocorrência (BO), que antes dessa data era feito somente pela Polícia
Civil. O intuito foi facilitar o acesso à população e liberar mais policiais nas ruas.
Um dos grandes avanços da Polícia Civil aconteceu com a Portaria nº 8, de 22
de junho de 2011, que criou um novo Sistema de Gestão das unidades territoriais da
Polícia Civil no âmbito do DECAP, visando atender os princípios da rapidez, eficiên-
cia e cortesia, adequando a capacidade de atendimento às necessidades da população.
Assim ficam criadas as Centrais de Flagrante e as Centrais de Polícia Judiciária.
Nesse sentido, a Portaria nº 9, de 28 de junho de 2011, instalou o Serviço de
Atendimento ao Cidadão (SAC), no âmbito do DECAP, para dar apoio ao novo sis-
tema. Na prática, o SAC veio para facilitar o acesso direto da comunidade paulista
com a Polícia Civil e com objetivo de modernizar e auxiliar na prestação dos ser-
viços, providenciando atendimento por telefone, fax e e-mail ao cidadão que deseje
fazer sugestões de melhoria, esclarecer dúvidas ou demais questões relacionadas aos
serviços prestados pelas delegacias de polícia.
O Decreto n° 57.537, de 23 de novembro de 2011, que transferiu do DEIC
para o DHPP a Divisão Antissequestro também transferiu o Centro de Convivência
para Mulheres Vítimas de Violência Doméstica (COMVIDA). Esse decreto alterou

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ainda a denominação do DHPP para Departamento Estadual de Homicídios e de


Proteção à Pessoa. Outro Decreto, desta vez o de nº 58.187, de 29 de junho de 2012,
alterou a denominação do DENARC que passou para Departamento Estadual de
Repressão ao Narcotráfico.
Ainda nesta gestão, o DIRD teve denominação e sigla alteradas para Departa-
mento de Capturas e Delegacias Especializadas (DECADE) pelo Decreto nº 58.150,
de 21 de junho de 2012. Nesse dispositivo legal, ocorreram ainda a transferência do
Presídio da Polícia Civil para a Divisão de Vigilância e Capturas e a criação da 4ª
Delegacia de Polícia para Busca e Apreensão de Adolescentes.
Assim como a própria Polícia Civil, que funciona 24 horas por dia, sete dias
na semana, a história da instituição não pára. Em evolução contínua, esse histórico
segue sem cessar, agora na era da tecnologia e da informatização, no caminho do
aprimoramento policial, que faz seu dever com coragem, vocação e compromisso
com a sociedade. 1

1 CAGNACCI, Rina Ricci. “Nossa História: linha do tempo”. Arquivos da Polícia Civil, São
Paulo, vol. 49, p. 41-72, Acadepol, 2006.
FONSECA, Guido. “1905/1995 – Noventa Anos de Polícia de Carreira”. Arquivos da Polícia Civil,
São Paulo, vol. 45, p. 107-115, Acadepol, 1995.
FONSECA, Guido. “Cinqüenta Anos de Acadepol”. Arquivos da Polícia Civil, São Paulo, vol. 42,
p. 35-40, Acadepol, 1984.
GENOFRE, Maurício Roberto. “Os cem anos da criação da polícia de carreira de São Paulo”.
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Capítulo I
INQUÉRITO POLICIAL

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Conceito; 3. Características; 3.1 Natureza


jurídica; 3.2 Finalidades; 4. Definição de autoridade policial; 5. Jurisdição e compe-
tência; 5.1 Competência territorial; 5.2 Competência pela prevenção; 5.3 Competência
especial; 5.4 Conflito de atribuição; 6. Notícia do crime; 7. Providências preliminares;
8. Início do inquérito; 8.1 Modos de instauração; 9. Prazos; 10. Formalidades; 11. Rito;
12. Atos solenes; 13. Inquérito Policial e a teoria geral da prova; 13.1 Valor probatório
do inquérito; 13.2 Indícios; 14. Conclusão; 15. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O Inquérito Policial, com esse nomen iuris e características fundamentais pró-


prias, originou-se no Direito brasileiro a partir do desdobramento e evolução do
sumário de culpa elaborado pelos Juízes de Paz à época da promulgação do Decreto
nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, que regulamentou a Lei nº 2.033, de 20 de
setembro do mesmo ano. Assim, há quase século e meio, o Inquérito Policial é ins-
trumento oficial da persecutio criminis extra-juditio.
Com a promulgação do Código de Processo Penal, em 1941, o inquérito foi
mantido como instrumento de garantia do cidadão contra a acusação apressada
e, às vezes, infundada. Surge, então, o Inquérito Policial cujas formas constam do
Código de Processo Penal.
Por tais motivos é que na Constituição Federal de 1988, conhecida como
Constituição Cidadã, os princípios processuais que orientam o Inquérito Policial
foram totalmente recepcionados, que é instrumento de defesa contra eventuais abu-
sos advindos de juízos precipitados. Note-se que o estigma provocado por uma ação
penal contra determinado indivíduo pode perdurar durante toda a vida e, por isso, a
acusação deve possuir fundamentos fático e jurídico suficientes para ser promovida,
o que, em regra geral, somente se consegue por meio do Inquérito Policial.
Pelos mesmos princípios garantistas, a Constituição Federal, no seu artigo 144,
I, § 4º, determinou que as polícias civis devem ser dirigidas por Delegados de Polí-
cia de carreira, garantia do cidadão de que não será investigado aleatoriamente ao
talante de qualquer pessoa que se intitule autoridade, mas por profissional, bacha-
rel em Direito, legalmente constituído e responsável perante os poderes instituídos.

2. CONCEITO

Conforme Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, no seu artigo 11,


§ 3º, in fine, e no artigo 42, o objeto do Inquérito Policial é a verificação da existência

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

da infração penal, o descobrimento de todas as suas circunstâncias e da respectiva


autoria. Ressalte-se que foi a única definição legal do objeto do inquérito, uma vez
que referida norma não mais está em vigor.
No atual artigo 4º do Código de Processo Penal, o legislador apenas dispõe
sobre a Polícia Judiciária, que “terá por fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria”. Dessa forma, ainda que não chegue a ser um conceito, esta norma
estabelece a finalidade do próprio Inquérito Policial.
Inexistindo conceito legal de Inquérito Policial, há necessidade de se recorrer
aos doutrinadores a fim de estabelecê-lo. Existem vários conceitos. Contudo, po­
dería­mos estabelecer, sob o ponto de vista técnico-policial, que o Inquérito Policial é
o instrumento pelo qual a Polícia Civil materializa a investigação criminal, compila
informações a respeito da infração penal, de suas circunstâncias e resguarda provas
futuras, que poderão ser utilizadas em Juízo contra o autor do delito”.1

3. CARACTERÍSTICAS

Analisando-se a legislação processual penal brasileira, podemos destacar algu-


mas características do Inquérito Policial.
Trata-se de um processo preliminar, escrito, nos termos do artigo 9º do Código
de Processo Penal, de natureza administrativa, de caráter inquisitivo, hoje mitigado
pela Constituição Federal, sigiloso, ex vi do artigo 20 do mesmo diploma legal. O
inquérito também é obrigatório, consoante a dicção do artigo 5º, I, do Código de
Processo Penal. Note-se que a Lei nº 9.099/95, alterada pela Lei nº 10.259/01, pos-
sibilitou à autoridade policial elaborar o termo circunstanciado que o substitui nas
hipóteses dos delitos de menor potencial ofensivo.
Ao contrário do posicionamento de alguns juristas e doutrinadores, o Inquéri-
to Policial é imprescindível, em especial, quando da ocorrência da prisão em flagran-
te, que funciona, ora como forma de estancar o crime, ora como início de prova de
autoria. No estado de flagrância, os indícios e provas devem ser cristalinos, justifi-
cando, assim, o indiciamento como dever de ofício do Delegado de Polícia e o início
imediato do procedimento investigatório oficial por ele presidido.

3.1 Natureza jurídica

Para submeter-se alguém a processo penal, torna-se necessária a existência de


relativa certeza, determinada pela experiência jurídica. Nesse instante, devem ser
questionados: 1 - prova do fato; 2 - indício de autoria e, 3 - imputabilidade.
No Direito comparado, cada legislação formula sua própria maneira de pré-
-verificação desses três aspectos. No Brasil, a instrução preparatória é possível nas
vias administrativas, por meio do Inquérito Policial, do Inquérito Policial Militar,

1 QUEIROZ FILHO, Dilermando. Manual de Inquérito Policial. Rio de Janeiro: Adcoas,


2000, p. 46.

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do Inquérito Administrativo e do Termo Circunstanciado e, nas vias legislativas,


pelas Comissões Parlamentares de Inquérito.
No Inquérito Policial inexiste acusação formal, como no processo penal. No
entanto, apesar de ser procedimento administrativo, sua finalidade é judiciária e por
isso a Polícia Civil é competente para fazê-lo.
Com a nova redação ao artigo 155 do Código de Processo Penal, por força da
Lei nº 11.960/2008, as provas que constarem do inquérito policial poderão suportar
decisão condenatória, desde que não sejam as únicas consideradas para tanto, ex-
ceto no caso das “provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”, as quais, assim,
poderão fundamentar o convencimento da autoridade judiciária.

3.2 Finalidades

Consoante o artigo 4º, caput, do Código de Processo Penal, o inquérito presta-


se a apurar infrações penais e sua autoria.
Contudo, existem outros objetivos implícitos ou decorrentes na legislação pro-
cessual. Desse modo, a atividade de Polícia Judiciária possui três finalidades, além
de apurar as infrações penais. A primeira é direta e as outras duas indiretas, a saber:
1) preparar ou instruir a ação penal; 2) fundamentar a aplicação de medidas
cautelares, tais como apreensão do produto do crime, decretação de prisão preventi-
va ou temporária, dentre outros e; 3) subsidiar o Juiz de Direito na individualização
da pena, diante da identificação exata do indiciado, com a elaboração da individual
dactiloscópica nos termos do art. 5º, LIII, da Constituição Federal, e art. 3º, e inci-
sos, da Lei nº 10.054/00, e do boletim de vida pregressa, nos termos do artigo 6º, III
e IX, do diploma processual penal.

4. DEFINIÇÃO DE AUTORIDADE POLICIAL

A autoridade policial é aquela que, com fundamento em lei, é parte integrante


da estrutura do Estado e órgão do poder público, instituído especialmente para
apurar as infrações penais, agindo por iniciativa própria, mercê de ordens e normas
expedidas segundo sua discrição”2.
Conforme previsão contida no artigo 144, I, § 4º, da Constituição Federal e
artigo 4º, caput, do Código de Processo Penal, o Delegado de Polícia é a autoridade
que possui atribuição específica para dirigir as investigações criminais por meio do
Inquérito Policial no âmbito da Polícia Judiciária dos Estados e da União.

5. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

Pela expressão técnica mais escorreita, quando se fala em jurisdição, refere-se


ao poder que o Estado confere ao magistrado para dizer o direito ou para se deter-

2 TORNAGHI, Hélio. Instituições de Processo Penal. 2ª ed. 2º vol. São Paulo: Saraiva, 1977,
p. 240.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

minar a área de sua atuação. Contudo, segundo lição de Paulo Lúcio Nogueira3, “o
processo penal usa a expressão jurisdição no sentido amplo, que é o poder de decidir
com autoridade”, quando no sentido restrito seria a competência de julgar.
Desse modo, não é incorreto referir-se à jurisdição da autoridade policial, ou
da Polícia Judiciária. Primeiro, porque a Instituição, bem como as autoridades que
a dirigem, tiveram origem no Poder Judiciário. Segundo, porque o objeto da inves-
tigação criminal é destinado ao Poder Judiciário.
Considera-se, ainda, que, em passado recente, a autoridade policial presidia o
processo sumário. E apesar dessa competência haver sido revogada, o Delegado de
Polícia ainda pratica atos cujas decisões têm por fundamento parcela de jurisdição
decorrente da sua origem histórica, v.g., auto de prisão em flagrante delito, fiança,
requisição de exame de corpo de delito, condução coercitiva etc.
Apesar disso, a terminologia mais adequada para se determinar o âmbito de
atuação da autoridade policial é a competência, conforme estabelece o parágrafo
único do artigo 4º do Código de Processo Penal. Isto ocorre, uma vez que se trata
de designação atribuída à autoridade administrativa e, portanto, a melhor técnica
assim orienta.

5.1 Competência territorial


Conforme a primeira parte do artigo 4º do Código de Processo Penal, “a polí-
cia judiciária será exercida pelas autoridades policiais, no território de suas respec-
tivas circunscrições”.
Dessa forma, a competência ratione loci da autoridade policial orienta-se pela
regra estabelecida nesta norma e pelas previstas no artigo 70, e seus §§, do Código
de Processo Penal, em conformidade com as definições de tempo e lugar do crime,
estabelecidas, respectivamente, nos artigos 4º e 6º do Código Penal.
Contudo, no Título do Código de Processo Penal, que trata da competência,
há exceções à regra que poderão ser estabelecidas pela prevenção ou em razão da
natureza do delito. Neste último caso, a atribuição é definida em face da divisão
administrativa da Polícia Civil do Estado de São Paulo, que possui departamentos
especializados.
Note-se que, apesar disso, não há como se alterar os limites da jurisdição e,
portanto, ainda que haja divisão territorial e competência especial não coincidentes
com as do Judiciário, essas divisões administrativas não podem alterar os limites ju-
risdicionais desse Poder e, tampouco, ultrapassá-lo, uma vez que a Polícia Judiciária
é órgão auxiliar do Poder Judiciário dentro dos limites de sua jurisdição.

5.2 Competência por prevenção


A regra da competência por prevenção é muito aplicada na Polícia Civil do Es-
tado de São Paulo, principalmente porque, em face do princípio da obrigatoriedade,

3 Nogueira, Paulo Lúcio. Curso de Direito Processual Penal. 3ª ed. São Paulo, Saraiva, 1987,
p. 53

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decorrente do artigo 5º, I, do Código de Processo Penal, não há como protelar o


início da investigação diante da notícia de um crime. Não obstante, existem algumas
normas administrativas que regulam as possibilidades fáticas surgidas na prática
diária de Polícia Judiciária.
Quando o fato chega ao conhecimento de uma autoridade policial, numa uni-
dade que não aquela de abrangência territorial, esta tem a obrigação de registrar o
fato. Nesses casos, a autoridade elaborará o registro e remeterá o boletim de ocor-
rência, juntamente com todas as peças a ele relacionadas, à unidade policial interes-
sada, conforme artigo 13, I, da Portaria DGP-18/98.
Caso a Autoridade Policial apure que o fato deva ser investigado por unidade
diversa, em razão da área territorial ou da matéria, deverá, em despacho funda-
mentado, remeter os autos de Inquérito Policial ao Juízo competente, propondo a
remessa do procedimento à unidade policial que couber a investigação.4

5.3 Competência especial

O Delegado de Polícia é a única autoridade policial com competência para atuar


em todos os casos de crimes. É um caso especial, entendimento ligado aos fun-
damentos da prisão em flagrante e de política criminal, visto que, diante de
qualquer situação flagrancial, a autoridade policial e seus agentes deverão pren-
der quem quer que assim se encontre, mesmo que não seja a competente para o
prosseguimento nos autos, conforme entendimento decorrente do exame do
artigo 301, combinado com o artigo 304, § 1º, do Código de Processo Penal.
Esta forma de competência especial poderá, ou não, estar ligada à regra da
prevenção, devendo a autoridade atendente, ainda que não seja a competente para
prosseguir nos autos até a finalização do inquérito, elaborar o auto de prisão em
flagrante delito, ex vi do artigo 304, § 1º, in fine, do Código de Processo Penal.
Estas regras também encontram fundamento legal nas normas dispostas nos
artigos 290 e 308 do Código de Processo Penal, nas quais se verifica que a autorida-
de competente para a lavratura do auto respectivo será a do lugar onde se efetiva a
prisão, contrariando a geral, de que é a do local do delito. Segundo a Recomendação
DGP-2/90, em consonância com os citados artigos, não havendo autoridade policial
no lugar em que tiver ocorrido a prisão, o preso será apresentado à autoridade do
lugar mais próximo.

4 Prov.50/89 – Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, Tomo I, Cap.V, itens 5 e 6:


5. A autoridade policial, caso entenda necessária a remessa de autos de inquérito a outra comar-
ca do Estado, ou a comarca de outro Estado da Federação, deverá solicitar ao juízo competente
a devida autorização, através de representação fundamentada.
5.1.O procedimento acima também deverá ser seguido no caso de apensamento ou juntada de
inquéritos policiais já distribuídos.
5.2. Na Capital do Estado, ou nas comarcas do Interior, se a remessa do inquérito para distrito
policial diverso significar mudança de competência de uma vara para outra, deverá ser seguido
igual procedimento.
6. O pedido de autorização de remessa ou de apensamento deverá ser formulado nos próprios
autos do inquérito policial, ouvido sempre o Ministério Público.

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6. NOTÍCIA DO CRIME

Em face do estabelecido nos artigos 5º e 6º do Código de Processo Penal, exis-


tem três formas da notícia de crime chegar ao conhecimento da autoridade policial
competente:
1) cognição imediata ou informal – por meio da qual a autoridade policial
toma conhecimento da informação do evento criminoso de modo direto e
verbal ou de boletim de ocorrência. Também é informal, porque o boletim
de ocorrência, que possui validade jurídica própria, é de grande utilidade
para o Poder Judiciário, transcrevendo a comunicação oral do noticiante
na unidade policial, elaborado com os dados referentes às providências
preliminares adotadas.
2) cognição mediata ou formal – por meio da qual o Delegado de Polícia é
expli­citamente provocado a instaurar o inquérito. As peças formais que
são enca­mi­nhadas à autoridade policial devem trazer, expressamente, a
notícia do fato delituo­so. Nos termos do artigo 5º do Código de Processo
Penal, são a requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público e
o requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo,
além, ainda, da requisição do Ministro da Justiça.
3) cognição coercitiva – por meio da qual a autoridade não possui alternativa
que não seja iniciar o Inquérito Policial, ou seja, a própria peça onde
consta a notícia do crime já integra procedimento inquisitivo. É o caso dos
autos de prisão em flagrante delito, de resistência ou de apresentação
espontânea. Note-se que é coercitiva porque constitui o próprio fundamento
do referido auto.
Frise-se que o Termo Circunstanciado também pode ser tido como forma
coer­citiva de conhecimento, uma vez que é procedimento legal que substitui o auto
de prisão em flagrante delito, quando o autor se compromete a comparecer em
juízo, mediante assinatura do termo respectivo, nos casos dos crimes de menor po-
tencial ofensivo.
Outras formas de cognição são a delação e a informação referenciada, que
são advindas da notícia da autoria do crime recebidas pela autoridade por meio das
informações prestadas pelas partes durante as oitivas em procedimento. Quando
a indicação for feita por coautor, ou partícipe de crime, será chamada, tecnica­mente de
delação. Quando, por testemunhas, estaremos diante das informações referen­ciadas.
Nesse sentido, registre-se que terão prioridade na tramitação o inquérito e o pro-
cesso criminal em que figure indiciado, acusado, vítima ou réu colaboradores, vítima
ou testemunha protegidas pelos programas especiais de proteção a vítima e a testemu-
nha ameaçadas, nos termos da Lei nº 12.483, de 8 de setembro de 2011.

7. PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES

O boletim de ocorrência possui validade jurídica própria, sendo de grande uti-


lidade para o Poder Judiciário, devendo ser elaborado antes do início do inquérito

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policial, e o artigo 6º do Código de Processo Penal fornece um ótimo roteiro para a


elaboração dos atos que devem anteceder o inquérito policial.
Importante observar a Resolução SSP-382/99, que traça diretrizes para o
atendimento de locais de crime por policiais civis e militares. A autoridade, aten-
do-se à gravidade do fato, também deverá, sempre que possível, solicitar as pe-
rícias e o que mais se fizer necessário, utilizando-se dos meios de comunicação
disponíveis a fim de não protelar as diligências mais urgentes. Nos casos de crimes
contra a vida, a autoridade deverá atentar para a elaboração do auto de recogni-
ção visuográfica, sem prejuízo do exame de local de crime, realizado pelos peritos.
Oportuno lembrar o vezo de alguns policiais, em “socorrerem mortos” preju­
dicando o local de crime. É conveniente que a autoridade policial não deixe que se
percam os vestígios ainda existentes, requisitando perícia para o local, cuja preser-
vação sempre deve ser realizada.

8. INÍCIO DO INQUÉRITO

Apesar de constar no artigo 5º, II, do Código de Processo Penal, norma que
possa ser interpretada diversamente, a verdade é que o Inquérito Policial somente
se inicia com o despacho da autoridade, declarando a sua instauração ou portaria.
Isso ocorre porque o requerimento, ou a requisição, não têm o condão de de-
flagrar o inquérito, visto que o procedimento somente ganha vida a partir do despa-
cho da autoridade policial.
Não há regra de tempo estipulada para o seu início. Todavia, pelos princípios
da obrigatoriedade e da oficialidade, previstos no artigo 5º, I, do Código de Processo
Penal, o Inquérito Policial se inicia a partir das investigações, em especial nos crimes
de ação pública incondicionada, salvo quando não dependa do resultado de perícia,
cujo objeto possa interferir diretamente na prova da materialidade do delito.

8.1 Modos de instauração

A autoridade dá início imediato ao inquérito por meio de despacho fundamen-


tado ou portaria, declarando a instauração do feito. Não obstante, visto tratar-se
de procedimento escrito, existem documentos sobre os quais o despacho deve ser
lançado independentemente da elaboração de portaria. Tais documentos são os pre-
vistos na legislação processual, servindo sempre de suporte quando possuírem todas
as informações necessárias à fundamentação do início da investigação.
Portanto, as peças inaugurais, sobre as quais é lançado o despacho da autori­
dade competente, são:
Portaria, de elaboração exclusiva do Delegado de Polícia. O artigo 1º da Porta-
ria DGP-18/98 fornece os requisitos para sua elaboração. Sempre que possível deve
trazer a tipificação completa. (modelo 1)
Requisição, judicial ou ministerial, na qual, havendo fundamentação e pressu-
postos fáticos de infração penal, a autoridade deverá lançar o seu despacho. Caso

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

não existam os requisitos mínimos, a autoridade deverá comunicar à autoridade


requisitante a fim de solicitar maiores informações.
Requerimento, caso em que a autoridade policial, ao receber petição de início
de investigação devidamente caracterizada com fundadas suspeitas da ocorrência
de crime, e entender-se competente, deverá dar início imediato ao Inquérito Policial.
Em caso de indeferimento, a autoridade fundamentará e dará ciência ao interessa-
do, que poderá interpor recurso ao Chefe de Polícia, conforme o disposto no artigo
5º, II, § 2º, do Código de Processo Penal. As hipóteses de indeferimento constam da
Portaria DGP-18/98, artigo 2º, e seus parágrafos.
Representação, hipótese em que a autoridade policial deverá analisar os pres-
supostos fáticos e jurídicos do pedido. Note-se que a representação poderá ser oral,
conforme permite o artigo 39 do Código de Processo Penal.
Auto de prisão em flagrante delito, que, em face do princípio da obrigatorieda-
de, inicia o inquérito.
Auto de resistência, no qual, do mesmo modo que no caso da prisão em fla-
grante, havendo prova de certeza de autoria e materialidade, dá início ao inquéri-
to. (modelo 2)

9. PRAZOS

Segundo o artigo 10 do Código de Processo Penal, estando o indiciado preso, o


prazo para conclusão do inquérito é de 10 (dez) dias e, se estiver solto, de 30 (trinta). Na
legislação especial devem ser observados outros prazos: 1) nos crimes contra a econo-
mia popular, quando o indiciado estiver solto ou preso, será o mesmo, de 10 (dez) dias,
consoante o estipulado no artigo 10, § 1º, da Lei nº 1.521/51; 2) na Lei nº 11.343/06,
(que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve
medidas para prevenção ou uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e
dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada
e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências), art. 51, o prazo
é de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.
O Inquérito Policial deverá terminar no prazo estipulado em lei, evitando-se
prorrogações indevidas. Todavia, se não houver outro meio, o pedido de prazo para
complementação das diligências deverá ser fundamentado, indicando à autoridade
as razões que impossibilitaram o tempestivo encerramento e consignando as diligên-
cias que faltam à elucidação dos fatos e as providências imprescindíveis a garantir
suas realizações dentro do prazo solicitado, consoante os termos do artigo 4º, pará-
grafo único, da Portaria DGP-18/98.

10. FORMALIDADES

O Inquérito Policial é um procedimento escrito e formal. Segundo as normas


da legislação processual, seus atos devem seguir os mesmos parâmetros daqueles
correlatos estabelecidos para o processo penal.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Dessa maneira, guardadas as devidas proporções, todos os atos solenes atribu-


ídos ao Magistrado na presidência do processo devem ser observados pelo Delegado
de Polícia na elaboração do inquérito policial, mesmo diante de uma célere investi-
gação, cujas peças elaboradas num só processado, consoante o disposto no artigo 9º
do Código de Processo Penal.

11. RITO

O Inquérito Policial não possui rito pré-estabelecido em face da sua natureza


inquisitiva. Na busca da “verdade processual”, muitas vezes não há possibilidade de
se diferenciar as prioridades de todos os atos investigatórios e à medida que surgem
as informações, estas devem ser compiladas no procedimento apuratório, sem neces-
sidade de ordem rígida.
Nesse aspecto, serve como orientação para sua elaboração a divisão sequencial
em três partes distintas: a) início: com observância dos vários modos de instauração
já mencionados e que podem servir de prova; b) instrução ou desenvolvimento, com
a formalização das diligências realizadas; c) conclusão que se concretiza com o rela-
tório do Delegado de Polícia.
A boa técnica estabelece que, de imediato, deva a autoridade determinar na
portaria todas as diligências que vislumbrar necessárias, requisitando as perícias
imprescindíveis à comprovação da materialidade do delito e das suas circunstâncias.
Não se deve protelar a realização desses atos o que contraria a natureza inquisitiva
do inquérito, que requer celeridade nas investigações.
Em face disso, recomenda-se que a autoridade policial, desde logo, proceda
à oitiva da vítima ou, em caso de homicídio, de seu parente mais próximo, que,
em geral, é a melhor fonte de prova. Em seguida, deve ouvir todas as testemunhas
possíveis. Caso contrário, ao final do relatório, deve fornecer um rol das testemu-
nhas não ouvidas à autoridade judiciária, conforme artigo 10, § 3º, do Código de
Processo Penal. Quanto às testemunhas que estiverem de passagem pelo local dos
fatos, ou que forem nômades, devem ser ouvidas, se possível, na presença de um
advogado do indiciado.
A autoridade zelará pela juntada de todos os documentos que sirvam para a
comprovação do fato delituoso e de suas circunstâncias, evitando a juntada de peças
inócuas, v.g., papéis rascunhados encontrados no bolso do autor e que não tenham
relação direta com a investigação.
Em obediência aos termos da Portaria DGP-18/98, a autoridade não deve se
esquecer de fundamentar todos os seus despachos interlocutórios, além da portaria
e relatório.
Finalmente, igualmente fundamentar no caso de indiciamento, cujo ato ocorre
após juntada de todas as provas necessárias ao convencimento da autoridade poli-
cial, presidente do inquérito, quando não restar dúvida sobre a autoria do ilícito,
nos termos do artigo 5º da Portaria DGP-18/98.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

12. ATOS SOLENES

Devido ao fato de o inquérito ser procedimento instrutório da ação penal e,


diante dos princípios constitucionais garantistas, as solenidades estabelecidas no
Código de Processo Penal deverão ser sempre realizadas com precisão e, se possível,
na presença de um advogado constituído pelo indiciado, quando houver.
Ainda que poucos defendam um Inquérito Policial menos formal, a verdade
é que pela nova ordem constitucional e pelo Código de Processo Penal, os proce-
dimentos persecutórios, de qualquer natureza, devem assim se orientar. As partes,
acusação e defesa, podem participar do interrogatório do indiciado na fase policial,
conforme o disposto nos artigos 6º e 14 do Código de Processo Penal. Por estes mo-
tivos, todos os atos solenes deverão ser rigorosamente observados, atitude que não
prejudica a celeridade da investigação, mas, ao contrário, valoriza-a na medida que
atual­mente há outro procedimento ou ato investigatório menos formal, i.e., o termo
circunstanciado.

13. INQUÉRITO POLICIAL E A TEORIA GERAL DA PROVA

As provas válidas no inquérito, previstas no Título VII do Código de Processo


Penal, devem ser buscadas, exaustivamente, pela autoridade policial e seus agentes.
O Delegado de Polícia deve sempre ter em mente que provar é experimentar,
demonstrar. É a demonstração positiva ou negativa de um fato ou circunstância
dirigida ao Juiz de Direito no processo penal. Portanto, a prova tem por objetivo o
convencimento do Juiz.
Pode-se provar um ato, fato, estado pessoal ou uma circunstância. A fonte da
prova poderá ser qualquer dado que, tendo ligação com o crime ou o criminoso,
contenha informações do fato delituoso e de suas circunstâncias.
Meio de prova é a forma pela qual ela se materializa. Temos, como exemplos, a
perícia que é o meio de prova da qual a fonte é o vestígio, e o interrogatório (modelo
4) que é o meio cuja fonte é o próprio indiciado.
As provas podem ser classificadas quanto ao objeto e quanto à fonte ou sujeito.
Quanto ao objeto, pode ser direta ou indireta.
Direta é a que incide sobre o fato principal.
Indireta, ou prova de probabilidade ou circunstancial, é a que incide sobre
circunstâncias secundárias. Nesse caso, os indícios devem ser múltiplos, harmônicos
e convergentes.
Quanto à fonte ou sujeito, pode ser pessoal ou real.
Pessoal é a que provém de uma fonte consciente de prova. Como exemplo, a
própria pessoa ou o documento elaborado por ela.
Real é a advinda de uma fonte inconsciente, como as impressões digitais, plan-
tares etc.
Quanto à forma, pode ser testemunhal, documental e material.
Testemunhal é a oriunda de pessoa que, na qualidade de testemunha, vítima ou
indiciado, presenciou o fato ou parte dele.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Documental é a que, nos termos do artigo 232 do Código de Processo Penal,


origina-se através de escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares.
Material é a que pertence às coisas da natureza e possuem massa.
Quanto à especificação legal, podem ser nominadas ou inominadas.
Nominadas são as expressamente previstas e elencadas no Código de Pro-
cesso Penal.
Inominadas são aquelas que, apesar de não serem previstas expressamente na
legislação processual, são passíveis de serem realizadas, como o reconhecimento fo-
tográfico ou a recognição visuográfica que tão bem auxiliam os policiais nas inves-
tigações criminais. Outro meio de prova inominada, frequentemente utilizado na
investigação policial e que não encontra especificação na lei, é o retrato falado.
Como a finalidade precípua do inquérito é a apuração da infração penal e da
sua autoria e que somente se concretiza no processo penal, por meio da produção
das provas em face do princípio do contraditório, é salutar que a autoridade policial
tenha sempre o objetivo de produzi-las o quanto antes.

13.1 Valor probatório do inquérito

Apesar de, em boa parte da doutrina, haver menção de que o inquérito é uma
peça meramente informativa, na realidade, alguns juristas enganam-se com o advér-
bio. O inquérito pode ser peça informativa sim, mas não meramente informativa.
Deflui desse entendimento que, com a elaboração do Inquérito Policial, são gera-
dos direitos, deveres e, principalmente, obrigações. Pelos princípios da obrigatorieda-
de e da indisponibilidade da ação penal, previstos no artigo 24 do Código do Processo
Penal, o Ministério Público está obrigado a oferecer a denúncia nos casos de ação
penal pública incondicionada. Desse modo, ao receber o inquérito concluído, sem
necessidade de diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, o Promotor
de Justiça estará obrigado a oferecê-la e não poderá devolver o inquérito, inteligência
do artigo 16 do mesmo diploma legal. Assim, dizer que o inquérito policial é mera
peça informativa é sinal de total desconhecimento dos termos da legislação pertinente.
Além disso, é nos autos de Inquérito Policial que muitas provas, irrepetíveis em
Juízo, são realizadas. Assim, temos como exemplo o auto de prisão em flagrante que,
por sua natureza cautelar e instrumentária, é atualmente a melhor prova de autoria.
Existem também outras provas realizadas durante o seu trâmite, que constitui-
rão o corpo de delito do processo penal, sem nenhuma objeção, v.g., exame médico
legal, exame de local de crime, identificação monodactilar, recognição visuográfica,
enfim, tudo o que se realiza no inquérito, fazendo prova em Juízo.
Em vista dessas peculiariedades, e diante da possibilidade de serem realizados
estes atos na presença de representantes legais das partes, i.e., acusador e acusado,
durante as investigações, é de suma importância que, de uma vez por todas, não seja
tratado o inquérito como simples investigação. Atualmente, simples é a aplicação
da Lei nº 9.099/95, uma vez que para o Inquérito Policial se vislumbram apurações
criminais mais complexas dos crimes mais graves.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

13.2 Indícios

Questão de fundamental importância para a formação da culpa e do corpo de


delito é a do indício. Em regra, o autor de uma infração penal procura esconder ou
eliminar as provas concretas.
O indício é tão importante que, se bem fundamentado, pode servir de elemento
de prova que, em conjunto com as demais circunstâncias do evento, justifica e man-
tém a prisão em flagrante e, até o próprio convencimento da autoridade judiciária a
sustentar sentença penal condenatória.
Os indícios ou circunstâncias são fatos provados através dos quais, por raciocí-
nio crítico, pode-se chegar a outro fato. São provas indiretas que levam a autoridade
policial, ou a judiciária, a uma conclusão lógica por meio de premissas constantes
nos autos.
Servem de orientação porque nem sempre se pode estabelecer a prova direta
com vestígios do próprio corpo de delito e, ao contrário, o corpo de delito poderá
ser provado por meio de indícios.

14. CONCLUSÃO

O inquérito policial deve ser orientado sempre para uma finalização coeren-
te da investigação. Isso não quer dizer que, necessariamente, deva-se concluir pela
apuração da autoria e materialidade de um fato investigado. Em face do apurado,
segundo o princípio da verdade real, a autoridade poderá concluir até pela inexis-
tência do fato ou pela inocência do suspeito. O importante é que se tenha uma con-
clusão lógica e não uma dúvida eterna.
A autoridade policial deve primar pela realização de todas as diligências ne-
cessárias à apuração dos fatos. Nesse sentido, levando em conta o princípio da eco-
nomia processual, a fim de agilizar a aplicação da Justiça, não deve aguardar dema-
siadamente o resultado desta ou daquela diligência ou prova, mas, ao contrário, tão
logo tenha convicção de indícios suficientes da autoria e da materialidade do delito,
deverá relatar o feito e apontar as razões pelas quais entende findo o inquérito. A
parte final do relatório, conforme o modelo 5, aponta um bom caminho a ser segui-
do pela autoridade ao finalizar a investigação policial.
Em princípio, há de se destacar que o relatório do Inquérito Policial é uma
peça personalíssima do Delegado de Polícia, cabendo ao Escrivão de Polícia trans-
crevê-lo, pois somente a autoridade policial assina-o e, por isso, é um documento
que espelha sua conduta na direção da investigação.
O relatório poderá ser terminativo ou complementar. Todavia, o artigo 10, §
1º, do Código de Processo Penal, dispõe somente sobre o relatório terminativo, que
deverá ser minucioso, indicando tudo o que foi apurado ao longo das investigações,
para, em seguida, ser encaminhado ao Juiz de Direito.
Em geral, o relatório pode ser do tipo descritivo e retrospectivo, cabendo à au-
toridade policial descrever todas as diligências, desde a primeira, a notitia criminis,
as oitivas de pessoas, como se desenrolaram as investigações, quais os meios de pro-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

va utilizados, a prova da materialidade do delito, o resultado das perícias realizadas


e, enfim, quem a autoridade indica como o autor do delito.
É importante frisar que o relatório não deverá ser apenas um resumo do apura­
do, ou uma espécie de índice remissivo do que se encontra juntado aos autos. Note-
se que, apesar de inexistir forma estipulada em lei, sua redação dependerá de cada
autoridade policial, cujo conteúdo sempre espelhará o seu conhecimento jurídico.
Como a autoridade policial goza de discricionariedade na condução dos tra-
balhos, pode-se realizar uma ótima investigação, com apuração da autoria do crime
e de todas as suas circunstâncias, mas isso não quer dizer que essa conduta seja,
desde logo, assimilada pelos outros profissionais do Direito, que em regra geral, pela
primeira vez, tomam conhecimento do fato a partir do relatório final do Delegado
de Polícia.
Nem sempre o rumo tomado nas investigações é de fácil compreensão para os
demais integrantes da Justiça e, portanto, o relatório é o momento oportuno para
a autoridade descrever a sua linha de raciocínio e fundamentar cada ato ou diligên-
cia determinada no inquérito. Essa maneira de se manifestar é salutar para o bom
entrosamento entre a Polícia Judiciária, o Poder Judiciário, o Ministério Público e
a defesa.
É, pois, o relatório, peça técnica com forte conteúdo subjetivo, nada impe-
dindo que nele sejam inseridas opiniões ou impressões pessoais, doutrinárias e até
jurisprudenciais, determinando o juízo de valor da autoridade policial e que servem
para indicar as razões do seu convencimento sobre o término do Inquérito Policial.
Ressalte-se que não é defeso à autoridade policial emitir opinião no seu relató-
rio. Ao contrário, a Portaria DGP-18/98, no seu artigo 12, dispõe sobre sua opinio
iuris. O relatório é peça personalíssima e, como tal, não se pode ignorar manifesta-
ções desse tipo.
O que o Delegado de Polícia também deve ter sempre em mente é o fato de a
legislação atribuir-lhe o poder-dever de investigar e, portanto, assim como deverá
iniciar o inquérito ex officio, também deverá encerrá-lo no momento em que cum-
prir sua função, sendo esta delimitação estabelecida pelo relatório final.
Por esses mesmos motivos, somente deve-se elaborar tal peça quando, efeti-
vamente, concluir as investigações. E, com isso, se apurar todos os elementos do
crime, deverá descrevê-los minuciosamente, suprindo eventuais dúvidas e evitando
o retorno desnecessário dos autos em cartório.
Em face dessas noções, podemos verificar a importância do relatório minu-
cioso e bem orientado, que pode embasar a própria denúncia ou, ao contrário, o
arquivamento do feito. O Inquérito Policial bem feito, com um relatório final bem
elaborado, pode justificar tanto a condenação do autor de um delito como a absol-
vição de um inocente.
Um inquérito policial com provas suficientes de autoria e de materialidade
desencadeia o princípio da obrigatoriedade e o Ministério Público estará obrigado
a elaborar a denúncia.
Finalmente, por esses mesmos motivos é que o Inquérito Policial é o mais va-
lioso instrumento de proteção social, tendo em vista que aponta o criminoso a fim

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

de ser denunciado. Do mesmo modo, na mais clara evidência da sua característica


democrática e de instrumento assegurador dos direitos e das garantias individuais,
também é por meio dele que se pode demonstrar a ausência de culpa do investigado,
evitando-se, assim, que um cidadão inocente sofra com a repercussão de um longo
e demorado processo penal.
No Inquérito Policial, antes de se procurar por um culpado, deve-se buscar
Justiça.

15. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 1

PORTARIA

A POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO, neste


ato representada pelo Dr(a)........................., Delegado(a)
de Polícia que, no uso das atribuições conferidas pelo artigo
144, § 4º, da Constituição da República, pelo artigo 140, da
Constituição Estadual Paulista, e pelo artigo 4º e seguintes
do Código de Processo Penal (Decreto-lei nº 3.689/1941),

Considerando os fatos registrados no Boletim de Ocor-


rência nº ....., no qual consta que, no dia ... de ...... de ...., por volta das .... horas, no
......., situado na ......, no município de ......, Estado de ........., (breve descrição do
fato delituoso com suas características).

RESOLVE:
Instaurar Inquérito Policial para cabal apuração dos fatos
tratados no aludido boletim de ocorrência e eventual configuração do crime de .........,
tipificado no .........., sem prejuízo de caracterização de outras infrações penais.
R. e A. esta, deverá o(a) Sr(a).. Escrivão(/a) de Polícia a
quem o feito seja distribuído, adotar as seguintes providências:
1- J. autos autos;
a) Cópia do boletim de ocorrência nº________ e expedien-
te correlato, dentre os quais: termo de declarações de___________, auto de reco-
nhecimento realizado por ________, depoimento da testemunha __________ e do
policial (militar ou civil).
b) Expeça-se Ordem de Serviço para o setor de investi-
gações desta unidade para que, no prazo de cinco dias, sejam encetadas diligências
com o objetivo de identificar e localizar o(s) autor(es), assim como o(s) objeto(s) e
valor(es) subtraído(s) e a(s) arma(s) empregada no fato criminoso.
Após o cumprimento das diligências acima, voltem-me,
conclusos, para ulteriores deliberações.

CUMPRA-SE.
_________(local),_____de_________de_________
___________Nome_______________
Delegado(a) de Polícia

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 2

PORTARIA

Tendo chegado ao conhecimento do Delegado de Polícia, que esta subscreve,


representante da Polícia Civil do Estado de São Paulo, no exercício de sua função
constitucional, por meio do boletim de ocorrência nº___/___, desta unidade policial
que, no dia____de_____de_____, na____, nº___, bairro____, na cidade_________,
por volta das_____ horas, ______(descrever o ocorrido de acordo com os dados
constantes do BO), conduta esta que, em tese, infringe a norma prevista______(
fundamentação legal), declaro instaurado Inquérito Policial para cabal apuração
dos fatos e, determino ao (a) Senhor(a) Escrivão(ã) de Polícia que, A. e R. esta, tome
as seguintes providências:

J. aos autos cópia do BO e demais peças pertinentes à espécie.

Expeçam-se notificações à(s) vítima(s), testemunha(s) e apontado(s) como


autor(es) para oitivas.

A seguir, voltem-me, conclusos, para ulteriores deliberações.

CUMPRA-SE.

_________(local),_____de_________de_________

___________Nome_______________
Delegado(a) de Polícia

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 3

AUTO DE RESISTÊNCIA

A. e R., a seguir, voltem-me cls.

______ ,___ de_____ de ______

_________Nome_____________
Delegado(a) de Polícia

Às__horas do___dia___ do mês___ do ano de_____ , nesta cidade de______,


no cartório da Delegacia de Polícia de__ (ou do Distrito Policial), onde presente
se achava o(a) Dr.(a)_____, Delegado(a) de Polícia___(Titular (do Distrito, Muni-
cípio ou da Equipe_____), comigo_____,Escrivão(ã) de Polícia, ao final assinado,
aí compareceu (policial militar ou investigador de polícia, ou Senhor(a) ), dando
conta de que, por volta das___horas,______ (descrever a ocorrência). Providen-
ciada a incomunicabilidade de todos os envolvidos no evento, bem como testemu-
nhas, a Autoridade Policial passou a ouvir o(a) apresentante_____ (qualificação e
endereço: PM, policial civil, guarda municipal ou comerciante etc.), sabendo ler e
escrever. Aos costumes, nada disse. Alertado(a), sob as penas da lei, sobre o crime
de falso testemunho, e compromissado(a), sob palavra de honra, de dizer a verda-
de do que soubesse e lhe fosse perguntado, inquirido(a), pela autoridade respon-
deu: que_____ (registrar o relato do(a) apresentante. Nada mais. A seguir passou
a autoridade a ouvir o(a) primeiro(a) auxiliar do(a) apresentante (qualificação e
endereço), sabendo ler e escrever. Aos costumes, nada disse. Alertado(a), sob as
penas da lei, sobre o crime de falso testemunho, e compromissado, sob palavra de
honra, de dizer a verdade do que soubesse ou lhe fosse perguntado, inquirido(a)
pela autoridade, respondeu: que_____(registrar seu relato). Nada mais. A seguir,
passou a autoridade a ouvir o(a) 2º(ª) auxiliar do apresentante_____ (qualificação
e endereço), sabendo ler e escrever. Aos costumes, nada disse. Alertado(a), sob
as penas da lei, sobre os crimes de falso testemunho, e compromissado(a), sob a
palavra de honra de dizer a verdade do que soubesse ou lhe fosse perguntado, in-
quirido pela autoridade, respondeu: que ____(registrar seu relato). Nada mais. A
seguir, passou a autoridade a ouvir as declarações da vítima______(se presente e
puder falar, também qualificá-la), sabendo ler e escrever e que esclareceu ____(re-
gistrar a versão da vítima ou de seu representante legal ou preposto(a)). Nada
mais. A seguir, determinou a Autoridade Policial que se encerrasse este, que vai
devidamente assinado por todos os participantes, e pelas testemunhas instrumen-
tárias de que fala a lei. Eu, , Escrivão(ã) de Polícia, que o digitei.
Seguem as assinaturas dos participantes mencionados no presente:

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Autoridade______
Executor______
Auxiliar do executor______
Auxiliar do executor______
Vítima______
Testemunha______
Testemunha______
Escrivão (ã)______

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 4

AUTO DE QUALIFICAÇÃO E DE INTERROGATÓRIO

IP nº______ /_______

Às____ horas do dia___ do mês_____de_____ de_____, nesta cidade


de__________,Estado de__________, na Delegacia de Polícia____(unidade poli-
cial), onde se achava o(a) Doutor(a)__________(nome), Delegado(a) de Polícia
respectivo, comigo,________,Escrivão (ã) de Polícia, ao final assinado, compare-
ceu o(a) indiciado(a)____________o(a) qual às perguntas da referida Autorida-
de Policial respondeu como segue: Qual o seu nome?____Qual o seu documen-
to de identificação civil?_______ Qual a sua nacionalidade?____________ Onde
nasceu?________ Qual a data do seu nascimento e sua idade atual?__________
Qual a sua filiação?__________ Onde reside?______________ Qual o seu meio
de vida ou profissão?_________________Qual o lugar onde exerce sua ativida-
de?_________. Sabendo ler e escrever. Ciente da imputação que lhe é feita e do
direito constitucional de permanecer em silêncio e ter assistência de advogado(a)
de sua confiança, inquirido(a) pela Autoridade Policial (obs.: quando necessário
curador(a), qualificá-lo(a), também, mencionando, sua idade, grau de instrução,
profissão e endereço) respondeu o seguinte:_____________ (narrativa, lembrando-
-se que o termo utilizado para designar a pessoa em referência é interrogando).
Nada mais disse nem lhe foi perguntado, determinou a Autoridade Policial en-
cerrasse o presente auto que, lido e achado conforme, vai devidamente assinado
pelo(a) Delegado(a) de Polícia, pelo(a) interrogando(a), pelas testemunhas de lei-
tura, e por mim, Escrivão(ã) de Polícia que o digitei.
Seguem as assinaturas dos participantes acima mencionados no final:
Autoridade_________
Interrogado_________
Curador (quando necessário)______
Primeira testemunha de leitura______
Segunda testemunha de leitura______
Escrivão (ã) de polícia______

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MODELO 5

RELATÓRIO

Inq. Pol. nº___ /______


Natureza:___________
Indiciado(a) (s):______
Vítima(s)____________

Meritíssimo Juiz,

A Polícia Civil do Estado de São Paulo, no exercício de sua função constitu-


cional, por meio de seu Delegado de Polícia, vem, respeitosamente, segundo o que
prescreve o § 1º do artigo 10 do Código de Processo Penal, oferecer à Vossa Excelên-
cia o Relatório Final nos termos a seguir expostos.
Versam os presentes autos de inquérito policial instaurado ___________(me-
diante portaria ou despacho da autoridade ou por meio de requisição da autori-
dade judiciária, ou do Ministério Público, ou a requerimento do(a) ofendido(a),
ou mediante representação, por petição, ou por auto de apresentação espontânea,
ou auto de resistência, ou auto de prisão em flagrante delito sobre uma ocorrência
de__________(mencionar o fato apurado, com data, hora, local do ocorrido)
A testemunha (ou condutor e 1ª testemunha), bem como a segunda, ouvidas
a fls.__________, informam que_____(se flagrante, fazer constar quem deu voz de
prisão em flagrante delito).
O indiciado________,a fls.___confessou (ou negou) a autoria, esclarecendo
que__________. A vítima_________, por seu turno, a fls.______ informou_____ .
A nota de culpa, passada ao autuado (em caso de flagrante) encontra-se a fls.____,
seu(s) terminal(ais) de computador de IIRGD a fls.___, exames______(pericial, mé-
dico-legal, toxicológico) anexados a fls.____, enfim o que mais constar dos autos,
como termo de fiança, fixada em R$_____ (valor por extenso), fls._____etc.
Em face do apurado (apontar todas as provas e indícios relacionando-os à
autoria) concluindo pelo formal indiciamento de_______, em face da existência de
suficientes indícios da autoria e da materialidade do delito em tela.
Destarte, em não havendo outras diligências essenciais à comprovação do fato
e de suas circunstâncias, dando por encerrado este inquérito, remetendo-o a esse
Juízo para as providências legais.
É o relatório.

______,_____, de________ de__________

______________Nome e assinatura______
Delegado(a) de Polícia

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Capítulo II
MEDIDAS CAUTELARES

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Garantias constitucionais que regem a ma-


téria; 3. Características; 3.1 Instrumentalidade; 3.2 Preventividade; 3.3 Provisoriedade;
3.4 Revogabilidade; 4. Classificação; 5. Medidas cautelares assecuratórias de bens; 6.
Medidas cautelares assecuratórias de pessoas; 6.1 Prisão preventiva; 6.1.1 Pressupostos;
6.1.2 Fundamentos; 6.1.3 Admissibilidade; 6.1.4 Legitimidade; 6.1.5 Prazo; 6.1.6 Revo-
gação e redecretação; 6.1.7 Apresentação espontânea; 6.2. Prisão temporária; 6.2.1 Base
legal; 6.2.2 Conceito; 6.2.3 Fundamentos; 6.2.4 Legitimidade; 6.2.5 Prazo; 6.2.6 Proce-
dimento; 7. Medidas cautelares assecuratórias de direitos; 7.1 Incomunicabilidade do in-
diciado; 7.2 Interceptação de comunicações telefônicas; 7.3 Publicidade na investigação
policial; 7.4 Quebra de sigilo; 7.5 Reconhecimento de pessoas e coisas; 7.6 Reprodução
simulada dos fatos; 7.7 Tráfico de drogas; 7.8 Crimes de trânsito; 7.9 Fiança; 7.10 “Lei
Seca”; 8. Conclusão. 9. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Medida significa providência, ordem, cautela, cuidado para evitar um mal. Na


terminologia jurídica, medida cautelar é meio de prevenção utilizado em defesa de
um direito.
José Frederico Marques, por si e citando Vittorio Denti, esclarece que com as
providências cautelares busca-se “garantir ao processo a consecução integral de seu
escopo, para que os meios dos quais deve servir-se ou a situação sobre a qual irá in-
cidir não se modifiquem ou se tornem inúteis antes ou durante o desenrolar do pro-
cedimento, frustrando se, em consequência, a atuação da vontade da lei material”1 .
Como medida extrema que implica em sacrifício de direito ou liberdade indivi-
dual, somente poderá existir quando houver, efetivamente, fundado receio de dano
jurídico.
Deve fundar-se em razões objetivas, indicativas de motivos concretos suscetí-
veis de autorizar a medida provisória, cujo despacho judicial, que a decretar ou de-
negar, será sempre fundamentado, contendo exposição calcada em fatos concretos
e não meras indicações.
Se houver direito ameaçado, grave e de difícil reparação, e o receio de seu pre-
juízo, pelo retardamento do remédio jurisdicional, estará presente o direito à tutela
cautelar, que emerge dos requisitos para a concessão da medida provisória ou sejam,
o fumus boni iuris e o periculum in nora.

1 MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. 1ª ed. Vol. IV, Campinas:
Bookseller, 1998, p. 31

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

O juiz poderá ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção an-
tecipada de prova considerada urgente e relevante, observando a necessidade, ade-
quação e proporcionalidade da medida nos termos do inc. I do art. 156 do CPP com
a redação dada pela Lei n° 11.690/08.
Esta lei esclarece no art. 155 que “o juiz formará sua convicção pela livre apre-
ciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar
sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”
A Lei nº 11.690/08 manteve o sistema da persuasão racional ou do livre con-
vencimento motivado. Assim, ela reconhece a valorosidade das provas insertas no
inquérito policial, ao mencionar que o juiz fundamentará sua decisão também com
base no feito produzido pela polícia judiciária.
Ressalte-se que o art. 415 da Lei nº 11.689/08 possibilita ao juiz a absolvição
sumária do acusado com base no inquérito policial, desde que ocorra qualquer das
hipóteses previstas em seus incisos.
Ainda no tocante ao art. 155 do CPP, convém esclarecer que elementos infor-
mativos colhidos na investigação trata-se seguramente de provas, conforme o STF,
Súmula Vinculante 14 de 2 de fevereiro de 2009.
Registre-se também a reforma do CPP, v.g. a valoração do instituto da fiança,
o aumento do rol das medidas cautelares, inclusive a que trata da impossibilidade
de prisão antes de sentença condenatória transitada em julgado, salvo se for de na-
tureza cautelar.
No texto legislativo a prisão preventiva foi mantida de forma genérica para a
garantia da instrução do processo e da execução da pena. De forma especial tam-
bém caberá prisão preventiva para acusado que possa vir a praticar infração penal
relativa ao crime organizado, à probidade administrativa ou à ordem econômica ou
financeira considerada grave e ainda poderá ser decretada contra autor de crime
praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa.

2. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A MATÉRIA

Contempla a Magna Carta, em seu artigo 5º, caput, que “todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”.
Por isso, os atos praticados pela Polícia Judiciária devem ser pautados na lega-
lidade, sem excessos, sob pena de causarem danos irreparáveis.
Ensina o Professor Luiz Carlos Rocha que “o combate à criminalidade deve ser
feito de uma posição eminentemente ética. O Delegado deve resguardar os direitos
humanos, observando que o limite da função investigatória está nos direitos indivi-
duais do suspeito”.
Segue dizendo que “uma sociedade hoje desperta para os seus direitos - e o
primeiro deles é a cidadania, o direito de ter direitos -, já não convive com práticas

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

abusivas. A intransigência para com os direitos próprios e alheios é um fator de apri-


moramento de todas as instituições e, muito particularmente da polícia”.2
Com o intuito de salvaguardar direitos e repudiar eventuais ideias de que as
garantias constitucionais não são respeitadas na fase policial, deverão ser preser-
vados todos os postulados estabelecidos na Lei Maior, dentre outros, o da presun-
ção de inocência, o da legalidade, a favor da humanização, i.e., contra tratamento
desumano, tortura, bem como a favor das inviolabilidades, v.g., correspondência,
comunicação telegráfica, telefônica.
A pessoa não poderá ser capturada, senão em flagrante delito ou por or-
dem escrita da autoridade judicial competente, que receberá a comunicação da
prisão imediatamente, avisada a família do preso, seu advogado e na falta deste
a defensoria pública com as cópias das peças principais, nos termos da Lei nº
11.449/2007. O preso será informado sobre seu direito ao silêncio, ou de exercer
a auto-defesa, os nomes dos responsáveis por sua prisão, bem como sobre seus
demais direitos constitucionais.

3. CARACTERÍSTICAS

São características das medidas cautelares: a instrumentalidade, a preven­ti­


vidade, a provisoriedade e a revogabilidade.

3.1 Instrumentalidade

A medida cautelar não pode ser entendida como um fim em si mesmo, uma vez
que assegura o provimento do processo penal.
Entretanto, as medidas de proteção da Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha),
podem ou não gerar processo, segundo conclusão da Corregedoria Geral da Justiça
do Estado de São Paulo no Comunicado CG nº 117/2008, a saber: “não caducam
em trinta dias as medidas protetivas de urgência, aplicadas pelo juízo criminal, mes-
mo que não seja ajuizada ação na esfera cível que a assegure”.

3.2 Preventividade

Toda medida cautelar serve para preservar e evitar o perecimento do direito.

3.3 Provisoriedade

A medida cautelar é provisória com contorno de definitividade.

2 ROCHA, Luiz Carlos. O Delegado de Polícia e a Ética Profissional. Arquivos da Polícia Civil,
vXLI, 1983

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3.4 Revogabilidade

O Juiz pode a todo instante extinguir a medida cautelar concedida.

4. CLASSIFICAÇÃO

Analisando-se a legislação penal brasileira, conclui-se que as medidas cautela-


res existem para assegurar bens, guarda provisória de pessoas e direitos.

5. MEDIDAS CAUTELARES ASSECURATÓRIAS DE BENS

As medidas cautelares assecuratórias de bens visam garantir o estado das coi-


sas, por meio de providências cautelares como, v.g., busca e apreensão, arrecadação,
sequestro etc. Todavia, esta matéria será objeto de análise no Capítulo VII.

6. MEDIDAS CAUTELARES ASSECURATÓRIAS DE PESSOAS

Na hipótese da iminência ou prática de violência doméstica e familiar contra


a mulher, a autoridade policial que tomou conhecimento da ocorrência adotará, de
imediato, as medidas cautelares previstas no art. 11 da Lei nº 11.340/06 v.g. trans-
portar a ofendida para local seguro, evitando que corra risco de vida, sem deixar de
tomar as providências legais contra o ofensor, aliás, assunto este tratado em capítulo
específico neste manual.
Em se tratando de providência cautelar jurisdicional, a prisão cautelar ad cus-
todiam, que antecede a prisão processual penal decretada por sentença, deverá obe-
decer aos requisitos da necessidade cautelar, excepcionalidade, adequação e propor-
cionalidade, sob pena de se ferir o direito à presunção de inocência.
Na investigação policial, a prisão provisória é o ato de tomar conta de alguém,
antecipadamente, para assegurar a garantia da ordem econômica, pública, a instru-
ção criminal e a aplicação da pena.
São espécies de prisão provisória, a prisão em flagrante, a prisão preventiva, a
prisão temporária, a prisão resultante de pronúncia e de sentença penal condenató-
ria não transitada em julgado.
Com referência à prisão cautelar, aqui serão objeto de análise a prisão pre-
ventiva e a temporária. A prisão em flagrante será detalhada no Capítulo V, sendo
que as duas últimas modalidades não serão apreciadas no Manual, uma vez que só
ocorrem em Juízo.

6.1 Prisão preventiva

Ensina Júlio Fabbrini Mirabete que a prisão preventiva “é uma medida caute-
lar constituída da privação de liberdade do indigitado autor do crime e decretada

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pelo juiz durante o inquérito ou instrução criminal em face da existência de pressu-


postos legais, para resguardar os interesses sociais de segurança”3 . (modelo 1)

6.1.1 Pressupostos

Os pressupostos para a decretação da prisão preventiva constam do artigo


312, in fine, do Código de Processo Penal, a saber, a) prova da existência do crime,
aferida através de apreensão, exame, depoimento, declarações etc, que robustecem
a materialidade da infração penal; b) indícios suficientes de autoria. Indício vem do
latim indicare, que significa revelar, indicar.
O artigo 239 do código de ritos considera indício “a circunstância conhecida e
provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existên-
cia de outra ou outras circunstâncias”.
A suficiência indiciária será aquilatada pelo Juiz em cada caso, de acordo com
as características da infração penal, de sorte que, havendo fumaça do bom direito,
i.e., o fumus boni juris, o agente será colocado sob custódia.
A ausência dos pressupostos, contidos no artigo 312 do estatuto processual
penal, fará com que a prisão preventiva seja considerada ilegal, tendo em vista a
ocorrência do constrangimento, passível de ser sanado por meio de habeas corpus.
A prisão preventiva não será decretada, em nenhum caso, se o magistrado veri-
ficar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato sob excludente
de antijuridicidade.
Ressalte-se, também, que se o Delegado de Polícia representar pela prisão pre-
ventiva, nos termos do artigo 313 do Código de Processo Penal, e o Juiz negar o
decreto, esta decisão será irrevogável, desde que exista fundamento jurídico da des-
necessidade da medida extrema.

6.1.2 Fundamentos

O fundamento maior do potestas coercendi do Estado é o periculum in mora, i.e.,


o perigo da demora no deslinde do processo, que justifica a custódia antecipada do
autor da infração penal, em razão dos danos que, solto, poderia causar à sociedade.
As circunstâncias autorizadoras da custódia cautelar, que deverão ser minu-
ciosamente fundamentadas pela autoridade policial e judiciária, encontram-se no
artigo 312 do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei nº 8.884/94,
conhecida como Lei Antitruste, a saber, garantia da ordem pública, garantia da
ordem econômica, conveniência da instrução criminal e asseguramento da aplica-
ção da lei penal.
A garantia da ordem pública fundamenta a decretação da prisão preventiva
na medida em que impede que o autor da infração penal, em liberdade, continue
a delinquir, tendo em vista sua periculosidade. Objetiva, também, acautelar o seio

3 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 1996, p. 380.

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social, sobretudo, se o agente estiver fazendo apologia de crime ou integrar quadri-


lha, fortalecendo-se, assim, a credibilidade na Justiça.
Essa medida cautelar poderá, também, ser decretada para garantir a ordem
econômica, ou contra aqueles que possam, “limitar, falsear ou de qualquer forma
prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa” ou “dominar mercado relevante
de bens ou serviços, aumentar arbitrariamente os lucros, bem como exercer de for-
ma abusiva posição dominante”, nos termos do art. 20 da Lei nº 8.884/94 e das Leis
nºs 1.521/51, 7.492/86, 8.137/90 etc.
A conveniência da instrução criminal autoriza a medida cautelar, pois objetiva
evitar que o autor dificulte a produção de provas, ameaçando testemunhas, destruin-
do documentos etc.
Finalmente, o estatuto processual penal permite a prisão preventiva para asse-
gurar a aplicação da lei penal, pois impede, v.g., que o agente desapareça do distrito
da culpa, inviabilizando, assim, a provável execução da pena.

6.1.3 Admissibilidade
O artigo 313 do Código de Processo Penal estabelece que no curso do inquérito
policial será possível a decretação da prisão preventiva, desde que presentes as cir-
cunstâncias autorizadoras da medida cautelar, a saber, nos crimes dolosos punidos
com reclusão, nos crimes dolosos punidos com detenção, quando se apurar que o
indiciado é vadio ou, havendo dúvida sobre a sua identidade, não fornecer ou não
indicar elementos para esclarecê-la. Da mesma forma se o réu tiver sido condenado
por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, salvo a não prevalência
da condenação anterior, para efeito de reincidência, conforme disposto no artigo 64,
I, do Código Penal.
Com a inserção do inciso IV no artigo 313 do Código de Processo Penal, por
meio do artigo 42 da Lei nº 11.340/06, admite-se a prisão preventiva do ofensor que
praticou violência doméstica e familiar contra a mulher, desde que dolosa, na fase
do inquérito policial e mediante representação do Delegado de Polícia, exatamente
para garantir a execução das medidas de urgência previstas na Lei Maria da Penha.

6.1.4 Legitimidade
Têm legitimidade para solicitar a custódia cautelar, segundo o artigo 311 do
Código de Processo Penal, o Ministério Público, o querelante, através de requeri-
mento, o Delegado de Polícia, por meio de representação, sendo que, ainda, poderá
a medida ser decretada de ofício pelo Juiz, desde que presentes os pressupostos,
fundamentos e condições de admissibilidade.

6.1.5 Prazo

Uma vez cumprida medida cautelar, a autoridade policial deverá concluir o


Inquérito Policial no prazo de 10(dez) dias, consoante previsão contida no artigo 10,

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caput, do Código de Processo Penal e 15 (quinze) dias na esfera federal, nos termos
do artigo 66 da Lei nº 5.010/66.
O Delegado de Polícia poderá prosseguir nas investigações, após ter enviado o
Inquérito Policial ao Poder Judiciário, porém não poderá solicitar ao Juiz o retorno
dos autos à Polícia, devendo encaminhar as diligências, procedidas posteriormente,
a autoridade judiciária competente, em autos apartados.

6.1.6 Revogação e redecretação

O Juiz poderá revogar a custódia cautelar se, no decorrer da instrução, cons-


tatar a ausência de motivo para que subsista a medida, consoante dispõe o artigo
316 do estatuto processual penal. Ocorrerá, ainda, nova decretação, se sobrevierem
razões que a justifiquem.

6.1.7 Apresentação espontânea

A apresentação espontânea do agente não impedirá a decretação da prisão


preventiva, como sinaliza o artigo 317 do Código de Processo Penal.

6.2. Prisão temporária

A Exposição de Motivos da Lei nº 7.960/89, menciona que o clima de pânico


que se estabelece em nossas cidades, a certeza da impunidade, que campeia célere
na consciência de nosso povo, formando novos criminosos, exigem medidas firmes e
decididas, entre elas, a da prisão temporária.

6.2.1 Base legal

A prisão temporária foi editada pela Medida Provisória nº 111, de 24 de no-


vembro de 1989, posteriormente substituída pela Lei nº 7.960, de 21 de dezembro
de 1989.

6.2.2 Conceito

Ensina Fernando Capez, que a prisão temporária “é prisão cautelar de natu-


reza processual, destinada a possibilitar as investigações a respeito de crimes graves,
durante o inquérito policial”4. (modelos 2 e 3)

4 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 228.

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6.2.3 Fundamentos

A prisão temporária pode ser decretada nos casos estabelecidos no artigo 1º da


Lei nº 7.960/89, a saber:
1. quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
2. quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos ne-
cessários ao esclarecimento de sua identidade;
3. quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida
na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes
crimes: homicídio doloso, sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão,
extorsão mediante sequestro, estupro, atentado violento ao pudor, epide-
mia com resultado morte, envenenamento de água potável ou substância
alimentícia ou medicinal qualificado pela morte, quadrilha ou bando, ge-
nocídio, tráfico de drogas e crimes contra o sistema financeiro.
Segundo Fernando Capez há quatro posições doutrinárias, quanto à aplicação
da prisão temporária, a saber:
a. para Tourinho Filho e Julio Fabbrini Mirabete, é cabível a prisão tempo-
rária em qualquer das três situações previstas em lei, cujos requisitos são
alternativos, ou um ou outro;
b. para Antonio Scarance Fernandes, a prisão temporária só pode ser decreta-
da se estiverem presentes as três situações, cujos requisitos são cumulativos;
c. para Damásio E. de Jesus e Antonio Magalhães Gomes Filho a prisão tem-
porária só pode ser decretada naqueles crimes apontados pela lei;
d. para Vicente Greco Filho, a prisão temporária pode ser decretada em qual-
quer das situações legais desde que com ela concorram os motivos que
autorizam a decretação da prisão preventiva, permitida pelo artigo 312 do
Código de Processo Penal.5

6.2.4 Legitimidade

A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação do De-


legado de Polícia, após ouvir o Ministério Público. Este, também, poderá requerer a
medida cautelar. Entretanto, o magistrado não poderá decretá-la de ofício.

6.2.5 Prazo

Os presos temporários ficarão sob medida cautelar pelo prazo de 5 (cinco)


dias, permanecendo, obrigatoriamente, separados dos demais detentos, sendo que
o encarceramento poderá ser prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade, segundo o artigo 2º da Lei nº 7.960/89.

5 CAPEZ, op. cit., p. 229

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Consoante o artigo 2º, § 3º, da Lei nº 8.072/90, nos crimes hediondos, tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e tortura, o prazo da prisão tem-
porária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período, em caso de compro-
vada e extrema necessidade.
Se o Delegado de Polícia não libertar o investigado, após o término do prazo
da prisão, infringirá o disposto nos incisos LXV e LXVI do art. 5º da Constituição
Federal, ensejando a concessão do habeas corpus, nos termos do inciso LXVIII do
mesmo cânone. Também sujeito às penas da Lei nº 4.898/65, que dispõe sobre abuso
de autoridade.

6.2.6 Procedimento

A Lei nº 7.960/89, não prevê forma especial para a representação, podendo


a autoridade policial, v.g., expedir ofício ao Juiz, informando-o, pormenorizada-
mente, sobre a necessidade do decreto da prisão temporária para o êxito das in-
vestigações.
O despacho que decretar a prisão temporária será fundamentado e prolatado
dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contado a partir do recebimento da
representação ou do requerimento, nos termos do artigo 2º, § 2º.
O mandado de prisão será expedido em 2 (duas) vias, uma das quais deve
ser entregue ao indiciado, servindo como nota de culpa, conforme preceitua o
artigo 2º, § 4º.
Efetuada a prisão, o Delegado de Polícia informará ao preso dos direitos pre-
vistos nos incisos do artigo 5º da Constituição Federal, consoante prevê o artigo 2º,
§ 6º.
O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, ou do advo-
gado, determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações ou esclare-
cimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito, conforme
determina o artigo 2º, § 3º.
Como mencionado, decorrido o prazo legal, o preso deve ser colocado ime-
diatamente em liberdade, salvo se já tiver sido decretada sua prisão preventiva, na
forma do artigo 2º, §7º. A autoridade policial, então, expedirá alvará de soltura,
cuja cópia será enviada ao magistrado, que tomará conhecimento das providências
realizadas durante o encarceramento do preso.

7. MEDIDAS CAUTELARES ASSECURATÓRIAS DE DIREITOS

Todas as providências imediatas realizadas pelo Delegado de Polícia no cur-


so das investigações para preservação de direitos, dentre elas a representação pelo
sequestro, o arresto e a hipoteca legal, destinam-se a provar a validade dos atos
policiais, pois buscam estabelecer os fatos que fundamentam, com convicção, a exis-
tência da infração penal e sua respectiva autoria.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nessa direção, Adalberto José Q.T. de Camargo Aranha ensina que “a questão
de fato (quaestio facti) decide-se por meio do exame da prova, pois é por via dela que
se chega à verdade processual, a uma convicção sobre o ocorrido, elemento sobre o
qual será aplicado o direito (quaestio juris)”.6
Prova origina-se do latim probatio exigindo-se que a autoridade policial seja
percuciente na apuração, pois todo conjunto probatório objetiva, no campo proces-
sual penal, julgar homens.
A minudência da prova aparece no Capítulo I, que cuida do Inquérito Policial,
porém, neste, enfoques específicos de algumas medidas cautelares serão observadas,
a seguir.

7.1 Incomunicabilidade do indiciado

A incomunicabilidade é uma medida cautelar que tem por escopo resguardar


direito da sociedade, bem como a conveniência da apuração criminal.
A incomunicabilidade não excederá de 3 (três) dias, segundo dispõe o parágra-
fo único do artigo 21 do Código de Processo Penal, e será decretada por despacho
fundamentado do Juiz, a requerimento do Delegado de Polícia ou do Ministério
Público, respeitado em qualquer hipótese, o artigo 7º, inciso III, da Lei nº 8.906/94
-Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil, que estabelece ser di-
reito do advogado comunicar-se, pessoal e reservadamente, com seus clientes, ainda
que considerados incomunicáveis. Essa medida cautelar, segundo alguns, acha-se
ab-rogada pela Constituição Federal de 5 de outubro de 1988. (modelo 4)

7.2 Interceptação de comunicações telefônicas

A Lei nº 9.296/96 regulamenta o inciso XII, parte final, do artigo 5º da Consti-


tuição Federal, que prevê a adoção imediata de providências, com o intuito de inter-
ceptar comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação
criminal e instrução processual penal. A medida cautelar será concedida pelo Juiz
competente, mediante requerimento da autoridade policial, que descreverá com cla-
reza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação do
investigado, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. Entretanto,
não será admitida a interceptação de comunicação telefônica quando:
1) não houver indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal;
2) a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
3) o fato investigado constituir infração penal, punida, no máximo, com pena
de detenção. (modelo 5)

6 ARANHA, Adalberto José Q. T.de Camargo.Da Prova no ProcessoPenal. 2ªed. São Paulo,
Saraiva,1987, p.4.

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O artigo 157 do Código de Processo Penal preconiza que são inadmissíveis


as provas ilícitas, isto é, obtidas em violação às normas constitucionais ou legais,
devendo ser desentranhadas do processo. Seu parágrafo primeiro dispõe também
que são inadmissíveis as provas ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por
uma fonte independente das primeiras. E seu parágrafo segundo conceitua fonte
independente como sendo aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de
praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao
fato objeto da prova.

7.3 Publicidade na investigação policial

O artigo 20 do Código de Processo Penal assegura, no Inquérito Policial, o


sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Deve-
mos equacionar este texto com o artigo 7º, inciso XIV, do Estatuto do Advogado,
que estabelece como direito do defensor examinar em qualquer repartição policial,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento,
ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos.
Há discrepância doutrinária quanto ao sigilo para a defesa. Marcelo B. Men-
droni, Promotor de Justiça refuta-o, dizendo que “desde que a critério da autori-
dade responsável pelo inquérito ou procedimento investigatório, o sigilo não seja
necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”. Todavia,
Paula Bajer Fernandes Martins da Costa, Procuradora da República, repudia tal
assertiva, aduzindo que “o exame do procedimento ou processo, o conhecimento do
que ali está, é meio fundamental para a defesa”7. (modelo 6)

7.4 Quebra de sigilo

A Lei Complementar nº 105/01 dispõe, em seu artigo 1º, que “as institui-
ções financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços
prestados”.
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça entendeu que “todas as in-
formações, portanto, quanto às pessoas, em poder dos estabelecimentos bancários,
mesmo as que não descrevam movimentação financeira, fichas, cadastros, dados de
identificação, estão ao abrigo do sigilo fiscal”8.
Conclui-se, portanto, que, no âmbito da investigação policial que exigir quebra
de sigilo bancário, o Delegado de Polícia deverá representar ao Poder Judiciário,
que poderá, de acordo com a conveniência, deferir, ou não, a medida, sob pena de
incorrer no abuso de autoridade. (modelo 7).
O voto-condutor da ministra Maria Thereza de Assis Moura do STJ no HC
50.257/RJ, acórdão publicado em 19 de novembro de 2007, revogou decreto de

7 IBCCrim,Boletim, ano 7, nº 84, nov. 99, p. 13.


8 Habeas Corpus nº 5.065MG (RG 95/0060710-7), de 19 de março de 1996.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

quebra de sigilo fiscal por manifesta violação ao art. 93, inciso IX da Constituição
Federal, afastando a possibilidade da quebra como “único meio de investigação
possível”.

7.5 Reconhecimento de pessoas e coisas

Esclarece Aurélio que reconhecer é “admitir como certo, bom, verdadeiro ou


legítimo”.9
Camargo Aranha, citando Enrico Altavilla, esclarece que o “reconhecimento
é um juízo de identidade entre uma percepção presente e uma percepção passada”10.
O Capítulo VII do Código de Processo Penal trata do reconhecimento de pes-
soas e coisas, sendo que sua forma encontra-se definida nos incisos do art. 226, a
saber:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever
a pessoa (ou coisa) que deva ser reconhecida;
II - a pessoa (ou coisa) cujo reconhecimento se pretender será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança,
convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento,
por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face
da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que
esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela
autoridade policial, pela pessoa chamada para proceder ao reconheci-
mento e por duas testemunhas presenciais, constando suas qualificações
completas.
Ressalte-se que o artigo 228 do Código de Processo Penal prevê a incomu­ni­
cabilidade dos reconhecedores.
Assim, se várias pessoas forem chamadas a efetuar o reconhecimento de pes-
soa ou de objeto, cada uma fará a prova em separado. (modelos 8 e 9)
Com referência ao reconhecimento fotográfico, apesar de nossa lei processual
tratar só de reconhecimento direto de pessoas, a jurisprudência e a doutrina domi-
nantes aceitam-no.

7.6 Reprodução simulada dos fatos

Atendendo aos reclamos da Polícia Judiciária que, buscando fortalecer o con-


junto probatório, passou a realizar reprodução simulada dos fatos, sobretudo nas

9 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da Língua Portuguesa,1ªed.Rio


de Janeiro; Nova Fronteira, p.405
10 ARANHA, Adalberto José Q.T.de Camargo.Da prova no Processo Penal,2ª ed. São Paulo,
Saraiva,1987,p.168.

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investigações complexas, causadoras de clamor público, foi ela erigida à categoria


de lei, em 1942.
Assim, o artigo 7º do Código de Processo Penal estabelece que “para verificar
a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autori-
dade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não
contrarie a moralidade ou a ordem pública”.
Em razão da anterior carência de recursos da Polícia Científica, passou o Dele-
gado de Polícia a realizar a reconstituição de crime, sendo de vital importância para
esclarecer infrações de elevado potencial ofensivo. Todavia, a execução desse mister,
com sucesso, depende de um planejamento detalhado.
Ressalte-se que, apesar da lei não emprestar valor absoluto à reprodução si-
mulada dos fatos, ela, inúmeras vezes, dirime incertezas e constitui elemento para a
formação do convencimento do Juiz.
A reconstituição de crime deve ser ilustrada com imagens fixas, v.g., fotogra-
fias, bem como com imagens em movimento, i.e., filmagens, para melhor captação
do cenário, sendo que, para garantir o êxito do trabalho, é importante a integração
entre Polícia Judiciária e Peritos Criminais.
Embora o suposto autor não possa ser compelido a participar da reconsti-
tuição, em face dos direitos constitucionais, sua presença no local, é obrigatória,
sujeitando-se à condução coercitiva.
A reprodução simulada dos fatos será, efetivamente, presidida pelo Delegado
de Polícia, que comparecerá à ultimação da diligência.
A reconstituição de crime pode ser determinada pelo Delegado de Polícia ou
pelo Juiz de Direito. Este, consoante consta da Exposição de Motivos do Código de
Processo Penal, não é um espectador inerte da produção de provas. Sua intervenção
na atividade processual é permitida, não somente para dirigir a marcha da ação pe-
nal e julgar a final, mas também para ordenar, de ofício, as provas que lhe parecerem
11
úteis ao esclarecimento da verdade” .
No âmbito da atuação da Polícia Judiciária deve, ainda, ser observado o ar-
tigo 10 da Portaria DGP-18/98, que dispõe que “a reprodução simulada dos fatos
delituosos (art. 7º, Código de Processo Penal), necessária à instrução probatória,
deverá realizar-se sob reserva, quando assim exigir o resguardo da sensibilidade so-
cial, da intimidade dos participantes ou quando, tendo em vista a natureza do crime,
verificar-se a possibilidade de servir, a reconstituição, como exemplo didático para
a prática de infração penal ou para alimentar sensacionalismo mórbido na opinião
pública”. (modelos 10 e 11)

7.7 Tráfico de drogas

Com o advento da Lei nº 11.343/06, que definiu o crime de tráfico de drogas


no seu artigo 33, caput, e § 1º, e artigos 34 a 37, tornou-se incabível a substituição
da pena privativa de liberdade pela restritiva de direito, ex vi do artigo 44 da Lei.

11 Exposição de Motivos do Código de Processo Penal, 38ª ed.São Paulo, Saraiva, 1998,p.9.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nos casos de tráfico de drogas o encarceramento provisório do autor é a me-


dida que se impõe, por força legal, a despeito de qualquer discussão tendente a
considerar a custódia provisória medida atentatória aos ditames constitucionais de
liberdade do agente.

7.8 Crimes de trânsito

O Código de Trânsito Brasileiro, instituído pela Lei nº 9.503/97, prevê medida


cautelar que pode ser aplicada, ainda na primeira fase da persecutio criminis, con-
forme preceitua seu artigo 294, em qualquer fase da investigação ou da ação penal.
Havendo necessidade, para a garantia da ordem pública, poderá o Juiz, como medi-
da cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, ou, ainda, mediante
representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão
da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de
sua obtenção. Assim, desde que estejam presentes os fundamentos para a existência
da medida cautelar, ou seja, a garantia da ordem pública, o cumprimento da lei, a
conveniência da instrução e a própria segurança do condutor do veículo, poderá ela
ser decretada nos autos do Inquérito Policial.
O artigo 160, § 1º, desse diploma, prevê outra medida cautelar de cunho ad-
ministrativo, estabelecendo que “em caso de acidente grave, o condutor nele envol-
vido poderá ser submetido aos exames exigidos neste artigo, a juízo da autoridade
de trânsito, assegurada ampla defesa ao condutor”. Assim, mesmo que não exista
apuração criminal, v.g., no caso de auto-lesão, ou, ausência de representação, dian-
te de acidente grave, deve o Delegado de Polícia comunicar o caso à autoridade de
trânsito competente.

7.9 Fiança

Nos termos do artigo 322 do Código de Processo Penal a autoridade poli-


cial poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos, conforme mudança operada pela Lei
nº 12.403/11.
A fiança, instituto previsto no inciso LXVI do art. 5º da Constituição Federal,
garante cautelarmente a liberdade provisória do acusado, mediante o pagamento de
certa quantia fixada pelo artigo 325 do Código de Processo Penal. Os artigos 323 e
324 estabelecem hipóteses de não concessão de fiança.
Registre-se que a Lei nº 12.403/11 no artigo 310, prevê a concessão de liberda-
de provisória com ou sem fiança ao réu, se verificar a inocorrência das hipóteses que
autorizam a prisão preventiva. Matéria esta tratada no capítulo V, item 9.2.
A Lei nº 12.403/2011 resgata, assim, o uso da fiança, prevendo sua maior apli-
cabilidade para evitar a prisão do acusado.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

7.10 “Lei Seca”

No âmbito penal, a redação original do art. 306 do CTB exigia ofensa concre-
ta, diferentemente da órbita administrativa que para a penalidade bastava tão so-
mente o perigo abstrato. Assim, para que a prisão fosse possível, era necessário que
a constatação de concentração de álcool no sangue fosse capaz de causar influência
ao condutor, independente da quantidade ingerida.
A Lei n° 11.705, de 19 de junho de 2008, conhecida como “Lei Seca”, mo-
dificou a redação do art. 306, prevendo a caracterização do crime de embriaguez,
quando a concentração de álcool por litro de sangue for igual ou superior a 6 (seis)
decigramas ou sob influência de outra substância psicoativa que cause dependência.
Como o condutor não é obrigado a se autoincriminar, diante da não realiza-
ção do bafômetro ou coleta de sangue poderá, cautelarmente, o Delegado de Polícia
requisitar o exame clínico de embriaguez, instaurando inquérito policial, uma vez
que da conduta do motorista poderá advir a constatação da prática de outros ilícitos
penais previstos no CTB, v.g., omissão de socorro, inovação artificiosa do local de
acidente de trânsito.
Registre-se que, por força do § 3° do art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro,
assim redigido: “Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabele-
cidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer
dos procedimentos previstos no caput deste artigo”.
Sobre esta matéria ver o item 7.6 do capítulo XXI deste Manual.

8. CONCLUSÃO

A Magna Carta estabelece que a segurança pública é dever do Estado. Quan-


do essa obrigação não é parcial, ou totalmente desenvolvida, o resultado é o caos,
que acarreta pânico à sociedade, face aos atos violentos realizados por comporta-
mentos perigosos.
Na tentativa de se alcançar respostas rápidas clamadas por todos, surgem as
medidas cautelares, que restringem direitos, inclusive o da liberdade, submetendo o
interesse particular ao interesse social, através da coerção estatal. Todavia, a custó-
dia, ainda que temporária, retira do indivíduo qualquer possibilidade de recupera-
ção, transformando-se, por isso, em punição quando seu escopo haveria de ser, tão
somente, o de servir à realização do processo e garantir seus resultados.
Assim, nesse diapasão, devem ser observados os ditames da Portaria DGP-
18/98, sobre medidas e cautelas a serem adotadas, ressaltando-se a sua terceira
consideração que estabelece: “as incumbências de investigação criminal e de Polí-
cia Judiciária, principais misteres policiais civis, deverão sempre desenvolver-se em
perfeita consonância aos imperativos constitucionais, éticos e técnicos voltados à
preservação do status dignitatis da pessoa humana, mediante transparentes proce-
dimentos garantistas”.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

9. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO I

REPRESENTAÇÃO PARA PRISÃO PREVENTIVA

___________, ___de_______ de ______

Meritíssimo Juiz:

Por força dos elementos de convicção constantes neste Inquérito Policial, ain-
da não concluído, e com base nos artigos 311 e 312 do Código de Processo Penal,
esta Autoridade Policial representa a Vossa Excelência no sentido de ser decretada a
PRISÃO PREVENTIVA de__________ (qualificação completa), pelos motivos de
fato e de direito abaixo discriminados:
___________(descrever o fato criminoso, desde a sua eclosão até a tomada de
conhecimento pela Policia Judiciária);
___________(esclarecer as primeiras medidas tomadas pela autoridade poli-
cial, v.g., elaboração de BO, requisições periciais e médico-legais, diligências, oitiva
de testemunhas, exibições e apreensões etc.)
___________(propiciar ao Magistrado um resumo do modus operandi do indi-
ciado, relatando suas circunstâncias);
___________(resumir as medidas faltantes ou que devam ser objeto de diligên-
cias, investigações, consultas, respostas ou precatórias).
Destarte, como se verifica dos elementos constantes deste Inquérito Policial,
notadamente das provas testemunhais e materiais coletadas, reincidência do agen-
te (se for o caso) REPRESENTO a Vossa Excelência pela decretação da PRISÃO
PRE ENTIVA do indiciado (qualificar), o qual se encontra TEMPORARIAMEN-
TE preso(se esta for a circunstância), como medida de inteira Justiça.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 2

REPRESENTAÇÃO PARA PRISÃO TEMPORÁRIA

Ofício nº____/_____

_______________,de__________de________

Meritíssimo Juiz:

O Boletim de Ocorrência nº_____/____em anexo, proveniente do plantão po-


licial desta cidade(ou qualquer documento que dará base fática e jurídica da repre-
sentação), que versa sobre crime de__________(tipificar o delito como sendo um
dos elencados no rol taxativo do inciso III e alíneas do artigo 1º da Lei nº 7.960/89),
fato ocorrido no dia_____, na_____ (descrever o local do acontecido), nesta urbe,
envolvendo a pessoa de______(qualificar o indiciado), tendo como vítima_________
(nome completo).
_________(Descrever e juntar declarações, depoimentos de testemunhas im-
portantes, laudos periciais requisitados, e outras providências idôneas ao embasa-
mento do pedido).
Desta forma, sendo imprescindível para a cabal apuração real dos fatos, isto é,
para findar as investigações de Polícia Judiciária, já que o autor tem influência sobre
a vítima, o que poderia colocá-la em situação iminente de perigo físico ou mental
(ou qualquer outro caso que demonstre a real necessidade do pedido) e com funda-
mento no artigo 1º, incisos I, II e III da mencionada Lei, esta Autoridade Policial
vem, mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência, REPRESENTAR pela
PRISÃO TEMPORÁRIA, pelo período de________dias (5 ou 30 dias, conforme
apresentar-se ou não o delito como hediondo), da pessoa de_______ (nome do indi-
ciado, com suas qualificações).

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

Excelentíssimo Senhor Doutor _____(nome e local do endereçamento)

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 3

REPRESENTAÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL PARA


PRORROGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA DECRETADA

Ofício nº___ /________

________________,____de________de______

Meritíssimo Juiz:

O Delegado de Polícia desta cidade, nos termos do art. 2º da Lei nº 7.960/89, de


21/12/89, representou pela decretação da prisão temporária de __________ (nome
e qualificação), uma vez que____________ (mencionar a conduta delituosa em que
se encontra o representado, justificando qualquer dos casos constantes do art. 1º da
Lei nº 7.960/89).
Em razão disso e ouvido o douto representante do Ministério Público, Vossa
Excelência deferiu o pedido, decretando a prisão temporária do indiciado pelo pra-
zo de_____dias, conforme despacho de fls.____.
Entretanto, estando prestes a esgotar-se o prazo prisional, e ainda estando
pendentes algumas diligências, vem esta autoridade, mui respeitosamente, represen-
tar pela prorrogação do prazo da prisão temporária, pelo mesmo período, consoan-
te faculta o art. 2º da Lei nº 7.960/89.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

Excelentíssimo Senhor Doutor__(nome) Digníssimo Juiz de Direito da____


(local do endereçamento)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 4

INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO

Ofício nº___ /________

________________,____de________de______

Meritíssimo Juiz:

Tem o presente a finalidade de__________(descrição do objetivo), visando a


decretação da incomunicabilidade do indiciado____________(nome e qualificação)
não excedente a 3 (três) dias, uma vez que___________(justificativa).
Isto posto requeiro a Vossa Excelência, ouvido o digno representante do Mi-
nistério Público e respeitados os direitos da defesa técnica, seja decretada referida
medida.
Reitero a Vossa Excelência protestos de alta estima e especial apreço.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

Excelentíssimo Senhor Doutor__________(nome)


Digníssimo Juiz de Direito da __________(local do endereçamento)

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 5

REQUERIMENTO PARA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Ofício nº___ /________

________________,____de________de______

Meritíssimo Juiz:

Esta Autoridade Policial vem REQUERER a Vossa Excelência, com base na


Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, autorização para a INTERCEPTAÇÃO TE-
LEFÔNICA na linha número_______, em funcionamento ________(local onde está
instalada a linha telefônica), em propriedade pertencente a_______ pelos motivos a
seguir expostos.
A solicitação fundamenta-se em Inquérito Policial instaurado nesta unidade
sob número__/___. Neste procedimento investigatório apurou-se, através de inúme-
ros indícios, que o investigado está diretamente envolvido com a prática do delito
de________________, utilizando-se para tal fim de artifícios que tornam necessária
a interceptação de suas comunicações telefônicas.
O investigado possui contra si inúmeros fatos que demonstram seu conheci-
mento na área delitiva, especialmente relacionada com _____________(detalhar a
prática criminosa), não se expondo ao risco de ser surpreendido por eventuais ações
policiais nos locais relacionados ao pedido.
Outros meios de se comprovar o envolvimento ilícito do investigado foram
esgotados no transcorrer do feito inquisitivo amealhando-se provas testemunhais,
denúncias, antecedentes criminais e outros indicativos de sua autoria, restando efe-
tivamente comprovar-se a materialidade delitiva, a qual foge, no caso, dos caminhos
tradicionais de investigação.
A realização da interceptação telefônica será realizada através das vias apro-
priadas na área de telecomunicações, utilizando-se esta autoridade de técnicos espe-
cializados e pertencentes ao quadro da empresa concessionária de serviços, confor-
me prevê o artigo 7º do mesmo diploma legal.
Diante de todo o exposto encaminho o presente REQUERIMENTO à eleva-
da apreciação de Vossa Excelência.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

Excelentíssimo Senhor Doutor___(nome e local do endereçamento)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 6

MANUTENÇÃO DE SIGILO

CONCLUSÃO

Em seguida, faço estes autos conclusos à Autoridade Policial, do que, para


constar, lavro este termo, Eu,_______ , Escrivão(ã) de Polícia o lavrei.

Com as ressalvas previstas pela Constituição Federal, sejam estes


autos mantidos sob sigilo necessário à elucidação do fato e ao exigido
pelo interesse social, ressalvadas as intervenções da Magistratura, do
Ministério Público, de autoridades policiais interessadas e da defesa
técnica.

Cumpra-se.

_________________,de_______________de ____________

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

DATA E CERTIDÃO

Na mesma data recebi estes autos com o despacho supra e certifico que dei
inteiro cumprimento ao seu respeitável teor, conforme adiante se vê. O referido é
verdade e dou fé. O Escrivão(ã) de Polícia,_________________.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 7

QUEBRA DE SIGILO

Ofício (representação) nº___ /_________

___________,de_________de_____

Meritíssimo Juiz:

Em decorrência dos elementos de convicção constantes deste Inquérito Poli-


cial, ainda não concluído, esta Autoridade Policial, com base no art. 2º, inciso III,
da Lei nº 9.034/95, REPRESENTA a Vossa Excelência no sentido de ser ordenada,
judicialmente, a quebra do sigilo de_______ (nome e qualificação), pelos motivos de
fato e de Direito, a seguir deduzidos:
1. ________(descrever a conjuntura fática, frequente em casos de crimes
funcionais).
2. Como se percebe dos elementos de investigação até aqui coletados,
principalmente provas testemunhais, materiais, documentais e periciais,
verificam-se motivos suficientes ao embasamento da necessidade da
quebra do sigilo necessária à instrução policial até o término das presentes
apurações, possibilitando, assim, melhor instrução processual penal.

Reitero a Vossa Excelência os meus protestos de estima e distinto apreço.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

Excelentíssimo Senhor Doutor__(nome)


Digníssimo Juiz de Direito da____ (local do endereçamento)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 8

AUTO DE RECONHECIMENTO DE PESSOA

Aos___ dias do mês de___ de_____, nesta cidade de___________,na Delegacia


de Polícia do______________, onde presente se achava o(a) Dr(a)_____________,
Delegado(a) de Polícia respectivo, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, ao final
assinado, aí compareceu____________________,qualificado nos autos, para fins de
reconhecimento pessoal de____________, também já qualificado. Primeiramente
providenciou a Autoridade que________ a ser reconhecido, fosse colocado na sala
de reconhecimento desta Delegacia juntamente com mais de duas pessoas com ele
semelhantes, todos numerados da seguinte forma:
Nº 1_________ RG________, com endereço ___________________
Nº 2_________ RG________, com endereço____________________
Nº 3_________ RG________, com endereço____________________
Nº 4_________ RG________, com endereço____________________
Nº 5_________ RG________, com endereço____________________
Foi providenciado a pedido do reconhecedor, para que não fosse visto pelo
reconhecido (se for o caso). Em seguida, o RECONHECEDOR foi convidado a
descrever o ocorrido e a pessoa a ser reconhecida, tendo informado que no dia dos
fatos_________(relato do reconhecedor). Então levado à sala de reconhecimento
onde já se encontravam as pessoas perfiladas e numeradas. Após olhar atentamente
pela abertura espelhada da sala,________(apontou e reconheceu a pessoa de núme-
ro __ identificada como_________, como sendo a pessoa que no dia___, às____ho-
ras praticou o crime supra descrito, ou, após olhar atentamente para as pessoas per-
filadas, informou não reconhecer nenhuma delas como o autor do fato que acima
descreveu). Nada mais havendo a tratar, mandou a Autoridade encerrar este auto,
que depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pela Autoridade,
pelo reconhecedor, pelas testemunhas presenciais,______(duas com nome, RG e en-
dereço) e, por mim, ________, Escrivão(ã) que o digitei.
Autoridade ____________
Reconhecedor _________
Testemunha ___________
Testemunha ___________
Escrivão(ã) ____________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 9

AUTO DE RECONHECIMENTO DE OBJETO

Aos___ dias do mês de___ de_____, nesta cidade de___________,na Delegacia


de Polícia do______________, onde presente se achava o(a) Dr(a)_____________,
Delegado(a) de Polícia respectivo, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, ao final
assinado, aí compareceu____________________,qualificado nos autos, para fins
de reconhecimento dos objetos que descreve como sendo __________________,(os
quais foram furtados, roubados, ou vistos). Providenciou a Autoridade que os
objetos a serem reconhecidos fossem colocados juntamente com outros objetos
semelhantes na sala do cartório desta Delegacia. Em seguida, na presença das
testemunhas arroladas nesta oportunidade, (nome, RG, endereço), foi levado à sala
onde estavam os objetos e, após olhar atentamente para os mesmos, ___________
(apontou e reconheceu sem qualquer dúvidas os objetos_______,como sendo de sua
propriedade ou que viu etc conforme acima descreveu ou informou não reconhecer
nenhum dos objetos como sendo os que descreveu). Nada mais havendo a tratar,
mandou a Autoridade encerrar este auto, que depois de lido e achado conforme,
vai devidamente assinado pela Autoridade, pelo reconhecedor, pelas testemunhas
presenciais e por mim,______, Escrivão(ã) que o digitei.

Autoridade_____________________

Reconhecedor _________________

Testemunha ___________________

Testemunha ___________________

Escrivão(ã) ____________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 10

RECONSTITUIÇÃO DE CRIME

Ofício nº___ /____

___________________, de____________de________

Senhor Diretor:

A fim de proceder à reprodução simulada de crime ocorrido nesta circuns-


crição policial, no dia___de____ de____, às_____horas, envolvendo__________
como indiciado(a) e_______________, como vítima, consoante registros em nossos
BO___/__e IP___/____, requisito de Vossa Senhoria a presença de perito criminal
desse Instituto de Criminalística, nesta unidade policial, em data de_______, para
elaboração do competente laudo pericial.
Reitero a Vossa Senhoria os meus protestos de elevada estima e especial apreço.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

À Sua Senhoria o Senhor Doutor Diretor do Instituto de Criminalística

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 11

REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS

AUTO DE REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS

Aos___ dias do mês de____ de____, nesta cidade de___________, por volta
das_____ horas, o Dr(a) , Delegado(a) de Polícia do(a) , acompanhado dos
policiais_______________, compareceu __________(mencionar o local onde se
efetivará a reprodução simulada dos fatos) comigo Escrivão(ã) de Polícia, ao final
assinado, e as testemunhas _________(nomes, RG, qualificação e endereço), a fim
de proceder à reprodução simulada do crime ali ocorrido no dia__ de___ de____,
em que figura como indiciado ________(nome e qualificação). Em virtude de
tratar-se de crime de _____, fez o papel de vítima o(a)_______________, que possui
características físicas semelhantes às de_____________, autor(a) dos fatos, com a
tomada de fotografias das principais cenas, filmagem, bem como a confecção de
croqui do itinerário percorrido pela vítima e pelo criminoso. Para a reconstituição
dos fatos, valeram as declarações do indiciado e das mencionadas testemunhas, que
se prontificaram a esclarecer e a reproduzir, de maneira simulada, com fidelidade que
lhes permitissem suas memórias, o que teria ocorrido no dia do crime. De tudo o que
foi observado, podem os fatos ser relatados, em suas principais cenas, da maneira
seguinte: 1º) Tudo começou quando______ ; 2º) Na sequência,___________ ; 3º)
Ato contínuo,__________; 4º) A final_________ (narração dos acontecimentos).
Foram estas as principais cenas reconstituídas. Nada mais havendo a constar,
mandou a Autoridade que se lavrasse, o presente auto que, lido e achado conforme,
vai devidamente assinado. Eu,__________, Escrivão(ã) que o digitei.

Autoridade _____________________

Indiciado _______________________

Testemunha ____________________

Testemunha ____________________

Escrivão(ã) _____________________

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Capítulo III
BOLETIM DE OCORRÊNCIA

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Conceito; 3. Formato; 3.1 Preâmbulo; 3.2


Corpo; 3.3 Histórico; 3.4. Apêndices; 4. Espécies de boletins de ocorrência; 5. Boletim
eletrônico de ocorrência; 6. Conclusão; 7. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Desde os primórdios da Polícia Judiciária brasileira no século XIX, as ocor-


rências trazidas ao conhecimento das autoridades eram anotadas em livros próprios
para posteriormente instruírem os procedimentos que seriam remetidos aos Juízes.
Desta forma, praticamente até o evento e implantação da Informática nos ór-
gãos policiais, muitos Estados ainda adotavam esse sistema, pelo qual, a partir do
registro efetuado no livro, no momento da infração penal, eram praticados os de-
mais atos materializados através do Inquérito Policial.
No Estado de São Paulo, desde o ano de 1956, o sistema de registro das ocor-
rências através do Livro de Registro de Queixas foi abolido em razão do Decreto nº
25.410, de 30 de janeiro, que criou o boletim de ocorrência nos moldes que o conhe-
cemos em nossos dias.
Este boletim não deve ser confundido com a folha de informações, que foi
usada durante anos no antigo plantão da Central de Polícia, e que funcionava muito
mais como um documento destinado à estatística do que propriamente ao registro
do fato criminal.
Com o passar dos anos, o boletim de ocorrência foi adquirindo personalida-
de e credibilidade, sendo inserido até em legislação federal, v.g., Lei nº 5.970/73,
bem como no artigo 175 do ECA e, nos dias atuais, é peça fundamental, não só no
Inquérito Policial, como no próprio processo penal, além de outros, como o cível,
o trabalhista etc., visto que os registros efetuados pelas unidades de Polícia Judici-
ária são oficiais, presididos por autoridades policiais e lavrados, via de regra, por
escrivães que são detentores de fé pública, gerando, destarte, direitos e obrigações
independentemente do aspecto penal.

2. CONCEITO

O boletim de ocorrência é o documento utilizado pelos órgãos da Polícia Civil


para o registro da notícia do crime, ou seja, aqueles fatos que devem ser apurados
através do exercício da atividade de Polícia Judiciária.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Em razão da propriedade de sintetizar os fatos, personagens e circunstâncias


do evento, ganhou importância relevante, tanto no âmbito policial quanto no ju-
diciário.
Além dessa função principal, o boletim de ocorrência é utilizado largamente
para registros de fatos atípicos, isto é, fatos que, muito embora, não apresentem
tipicidade penal, não configurando, portanto, infração penal, merecem competente
registro para preservar direitos ou prevenir a prática de possível infração, sendo
conhecido, consuetudinariamente, pela denominação de boletim de ocorrência de
preservação de direitos, ou boletim de ocorrência não criminal.

3. FORMATO

Tendo o boletim de ocorrência adquirido importância jurídica na fixação da


notícia do crime em todo o procedimento policial judiciário, visto que contém fiel-
mente a descrição do fato, registrando horários, determinando locais, relacionando
veículos e objetos, descrevendo pessoas envolvidas, identificando partes etc., torna-
-se imprescindível que seu preenchimento seja cuidadosamente executado.
O boletim de ocorrência tradicional, de autoria conhecida, ou de autoria des-
conhecida, compreende quatro partes, e.g., preâmbulo, corpo, histórico e apêndices,
formato que não difere radicalmente dos outros boletins específicos.

3.1 Preâmbulo

O preâmbulo compreende a identificação da unidade policial, a natureza


da ocorrência, o local, a data, a hora do fato e a hora da comunicação. Inicial-
mente, haverá necessidade de se cuidar do enquadramento legal no campo referen-
te à natureza da ocorrência, evitando-se aberrações jurídicas e tipificações dúbias
ou ineptas.
Quanto ao item local, deve-se ter em conta que todas as ocorrências policiais,
a serem futuramente investigadas, comportam vários locais que, no curso dos tra-
balhos serão mencionados e contatados fisicamente para realização de diligências
diversas. Daí, portanto, a necessidade da correta descrição desses locais quando da
lavratura do boletim de ocorrência. Quando se tratar de via pública, com nome e
números, deverão tais dados serem registrados com clareza e exatidão. Todavia, em
se tratando de local ermo, matagal, várzea, lagos etc, recomenda-se descrição minu-
ciosa atrelando-o a ponto de referência conhecido, sendo aconselhável a elaboração
de croqui, quando necessário.
Quanto ao item referente a horário, lembre-se que a exatidão dos assenta-
mentos é de suma importância para a investigação policial, pois a determinação
do horário, quando incorreta, poderá mudar o rumo das diligências e incriminar
inocentes ou excluir autores ou suspeitos. O boletim de ocorrência, como primeiro
documento oficial a registrar o fato, deverá fixar rigorosamente os horários de todos
os eventos referentes, como o momento em que a vítima chegou ao local, a chegada
do indiciado ou suspeito, bem como a das testemunhas, o início da execução e con-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

sumação do crime, o horário em que foi comunicado à Polícia, se houve socorro à


vítima, quanto tempo decorreu etc.
Muito embora os horários devam constar dos campos próprios encontrados
no preâmbulo, é aconselhável, quando se tratar de ocorrência relevante e, logica-
mente, com vários detalhes, que sejam eles repetidos no histórico quando da descri-
ção do fato.

3.2 Corpo

O corpo do boletim de ocorrência destina-se à descrição e identificação das


partes, ou seja, das pessoas ligadas ao fato registrado, quer na condição de vítimas,
suspeitos ou indiciados, testemunhas ou, ainda, os próprios policiais que condu-
ziram as partes. As pessoas deverão ser rigorosamente identificadas, sempre que
possível através de documentos, e, seus endereços, tanto residenciais quanto profis-
sionais e comerciais, corretamente anotados. Em caso de logradouros com nomes
comuns, ou nomenclatura alfanumérica, deve-se informar, com exatidão, sua locali-
zação, apontando-se outros logradouros como referências. As características físicas,
principalmente dos indiciados e suspeitos, quando houver necessidade de descrição,
deverão ser minuciosas, obedecendo-se a critérios lógicos de avaliação pelo sexo,
idade, raça, porte físico, particularidades etc. A indumentária também poderá ser
incluída neste item.
No corpo do boletim de ocorrência devem, ainda, ser descritos os veículos,
armas e objetos eventualmente relacionados com o fato. Nos boletins de ocorrência
especiais estas descrições são múltiplas, todas com campos próprios para preenchi-
mento e obviamente dirigidas para a especialidade, v.g., furto, roubo de veículos,
extravio de carga, arma, documento, e, ainda, desaparecimento de pessoa.

3.3 Histórico

A descrição do fato policial registrado em boletim de ocorrência, ou seja, a


notícia do crime propriamente dita, pode gerar críticas em razão de equívocos, má
redação, impropriedades, falta de clareza, enfim, uma série de defeitos que fazem do
histórico o item mais delicado em toda a elaboração dessa importante peça policial
judiciária.
Dois aspectos importantes ainda devem nele estar sempre presentes, a saber, a
comunicação e a objetividade.
A linguagem deve ser simples e o emprego de termos próprios do jargão poli-
cial não deve transformar o texto em peça para uso exclusivo da Instituição. O fato
deve ser descrito ordenadamente, partindo-se dos antecedentes para a consumação,
os meios e modos empregados informados claramente, as pessoas envolvidas, víti-
mas, indiciados ou averiguados e testemunhas colocadas devidamente, conforme
suas participações e, finalmente, o resultado. A reprodução do fato, sem distorções,
revelará a face profissional de quem a redigiu.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

No histórico do boletim de ocorrência a autoridade policial poderá exercitar o


processo próprio da investigação policial consistente nas respostas às sete perguntas
tradicionais: 1 - o quê? 2 - onde? 3 - quando? 4 - como? 5 - por quê? 6 - quem, vítima?
7 - quem, autor? Se, no ato do preenchimento do histórico, o policial civil responsá-
vel por esse trabalho obtiver as respostas para estas indagações, obviamente já esta-
rá com a investigação praticamente concluída, bastando, apenas, sua formalização
através do Inquérito Policial.

3.4 Apêndices

Os apêndices do boletim de ocorrência podem ser entendidos como todas as


diligências acessórias que o registro do fato demanda, tais como comunicações di-
versas, requisições de perícias, auto de exibição, apreensão e entrega, ofícios etc.
A maioria dessas diligências são numeradas e registradas em livros próprios, deven-
do os números desses controles constar do boletim de ocorrência para simplificar
buscas futuras. Dentre todas as providências acessórias, duas merecem atenção es-
pecial: as comunicações e as requisições.

3.4.1 Comunicações

Polícia Judiciária e comunicação estão naturalmente tão interligadas, de tal


sorte que há até quem diga que sem a segunda, a primeira não existiria. Sem o ra-
dicalismo desta tese, entende-se que sem a comunicação, seja ela de qualquer sorte,
a atividade policial judiciária sofreria tal prejuízo, que fatalmente estaria fadada ao
fracasso.
O boletim de ocorrência, registro fiel de todo o fato, deverá consignar as di-
versas comunicações efetuadas a partir de sua lavratura. As mais comuns são aque-
las dirigidas ao órgão de comunicação da Polícia Civil, o CEPOL, e às Diretorias
Departamentais, Delegacias Seccionais, Departamentos Especializados, v.g., DE-
NARC, DHPP, DEIC, IC e IML. Além dessas comunicações de praxe, existem
ocorrências que, pela sua natureza especial, demandam outras comunicações, que
devem ser procedidas no ato da lavratura do boletim de ocorrência e, obviamente,
consignadas em seu próprio bojo. São considerados exemplos de ocorrências espe-
ciais, aquelas envolvendo militares e milicianos, cujos comandos devem ser comuni-
cados imediatamente, e outras, envolvendo veículos oficiais de secretarias estaduais,
serviço público federal, municipal ou autárquico, cujos órgãos devem ser contatados
com brevidade para adoção de providências próprias.
Comunicação indica rapidez, celeridade, como o próprio espírito do boletim
de ocorrência, que é o registro imediato do fato criminoso. Destarte, a execução das
comunicações e a competente consignação no campo apropriado ou, no próprio his-
tórico, são atos simples, comuns, mas que não podem deixar de receber os cuidados
dos responsáveis pela sua elaboração.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3.4.2 Requisições
A materialidade do delito, assim como os meios e modos empregados na sua
execução, são elementos importantíssimos do Inquérito Policial e correspondem às
provas objetivas ou materiais, que são documentadas pelo Perito Criminal e Médico
Legista.
As requisições periciais, via de regra, são preenchidas no ato do registro da
ocorrência, competindo, portanto, ao seu executor, além da formulação correta e
adequada dos quesitos pertinentes, a informação de que foram requisitados os exa-
mes periciais, que poderá integrar os campos existentes nos formulários de boletins
de ocorrência, ou conforme a natureza da requisição, no próprio histórico.

4. ESPÉCIES DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA


Desde a edição do Decreto nº 25.410, em 30/1/56, que criou o boletim de ocor-
rência, até a Portaria DGP-1, que, em 4/2/00, instituiu a recepção eletrônica de ocor-
rências policiais através do BEO - Boletim Eletrônico de Ocorrência, foram criados
ao todo, dez modelos distintos, que sofreram adaptações com o advento dos pro-
gramas IDP e RDO, e estão em uso pelas unidades policiais civis do Estado de São
Paulo. Esta é a sua relação cronológica:

A -Boletim de ocorrência de autoria conhecida


Decreto nº 25.410/56
Modelo 1

B -Boletim de ocorrência de autoria desconhecida


Decreto nº 25.410/56
Modelo 2

C -Boletim de ocorrência de acidente de trânsito com veículos oficiais, (sem


vítima)
Resolução SSP-24, de 11/3/83
Modelo 3

D -Boletim de ocorrência de desaparecimento de pessoas


Portaria DGP-1, de 5/1/88
Modelo 4

E -Boletim de ocorrência de furto - roubo de veículos


Portaria DGP-12, de 28/4/88, alterada pela Portaria DGP-4, de 18/2/93
Modelo 5

F -Boletim de ocorrência de acidente de trânsito com vítima fatal


Resolução SSP-212, de 13/10/94
Modelo 6

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

G -Boletim de ocorrência de furto - roubo - extravio de arma de fogo


Portaria DGP-34, de 30/12/97
Modelo 7

H -Boletim de ocorrência de furto - roubo - extravio de carga


Portaria DGP-5, de 17/4/98
Modelo 8

I -Boletim de ocorrência de furto - roubo - extravio de cédula de identidade


Portaria DGP-14, de 16/10/98
Modelo 9

J -Boletim eletrônico de ocorrência - BEO


Portaria DGP-1, de 4/2/00
Modelo 10

5. BOLETIM ELETRÔNICO DE OCORRÊNCIA

É de se observar que a criação desta imensa gama de boletins de ocorrência


é fruto da necessidade da constante adequação das atividades próprias da Polícia
Civil, buscando, acima de tudo, um rígido controle das ocorrências a serem inves-
tigadas com mais eficiência e celeridade. Todavia, com o progresso verificado no
campo da Informática, percebe-se que o boletim eletrônico de ocorrência, BEO,
não foi apenas mais uma espécie criada. Ao contrário, pelo enunciado da portaria
que o instituiu, vislumbra-se uma unificação de registros, que resultará no desuso da
maioria dos outros modelos de boletins de ocorrência.
A grande utilidade do boletim eletrônico de ocorrência foi comprovada por
ocasião da paralisação parcial da Polícia Civil de São Paulo em outubro de 2008.
A propósito, o artigo 2º da Portaria DGP-1, de 4/2/00, definiu as cinco espécies
de ocorrências que, inicialmente poderão ser registradas à distância através de men-
sagem eletrônica, -e-mail -, nos seguintes termos:
“À Equipe Especial incumbe o recebimento, verificação e a formalização do
registro, bem como o gerenciamento de informações sobre:
1 - furto de veículos;
2 - furto ou extravio de documentos;
3 - desaparecimento ou encontro de pessoas.
4 - furto de celulares;
5 - furto ou extravio de placas”.
Os três primeiros tipos enumerados correspondem a igual número de boletins
especiais, cuja tendência é o seu esvaziamento, visto que a comodidade de se efetuar
o registro sem a necessidade do comparecimento à unidade policial, recebendo-se o
documento através de computador, na própria residência, ou local de trabalho, são
fatores determinantes no crescimento deste tipo de registro.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Recentemente foi disponiblizado o registro do BEO para acidentes de trânsito sem


vítimas no site da Polícia Civil, na Delegacia Eletrônica (www.policiacivil.sp.gov.br).
Concomitantemente ao surgimento do boletim eletrônico de ocorrência, o
extinto Departamento de Telemática da Polícia Civil, hoje DIPOL, desenvolveu o
sistema perfil com o objetivo de colher informações detalhadas, referentes às ocor-
rências de estupro e atentado violento ao pudor. Este sistema permitirá obter dados
específicos dos autores dos crimes, tais como características físicas, modus operandi
e áreas de incidência criminal. Instalado inicialmente nas Delegacias de Defesa da
Mulher do DECAP e do DEMACRO, fornecerão dados para a Delegacia Geral de
Polícia que avaliará as informações através do Sistema Estatístico Sobre Ocorrên-
cias de Estupro.
Com efeito, o boletim informatizado facilitará sobremaneira, as comunicações de-
correntes dos registros efetuados, assim como impedirá o surgimento de erros comuns
como nomes, endereços, numerais diversos etc. E, ainda, através de relatórios diários
expedidos pelo próprio equipamento, proporcionará estatística precisa e imediata.
Finalmente, ressaltando a importância da informatização do boletim de ocor-
rência, lembramos que a Polícia Civil do Estado de São Paulo é extremamente di-
nâmica na criação de programas e implantação de métodos para armazenar infor-
mações sobre ocorrências, características físicas, locais, armas, modus operandi etc.
Exemplo destes programas são o IDP, o RDO e o INFOCRIM, todos em operação
nos diversos Departamentos.
O denominado registro digital de ocorrência, o RDO, já está em pleno fun-
cionamento na maioria das unidades policiais do Estado de São Paulo, operando
significativa alteração nos modelos de boletins de ocorrência, visto que, de acordo
com o fato registrado, o processo gera automaticamente novas telas que, por sua
vez, demandam novas informações.

6. CONCLUSÃO

Importante documento que é, o boletim de ocorrência deverá receber numeração


sequencial, independentemente da natureza do fato, bem como deverá ser registrado
no livro competente, v.g., Livro de Registro de Ocorrência. A exceção nesta rotina fica
com o boletim eletrônico de ocorrência, cujo numeral é unificado no CEPOL, órgão
receptor e difusor deste tipo de documento, que, em seguida, o remete respectivamente
às unidades de base territorial, onde serão registrados em livro próprio.
Como peça oficial dos procedimentos da Polícia Judiciária, é muito comum
requerimentos de certidões de boletins de ocorrências aportarem às Delegacias de
Polícia, ora para instrução de diligências decorrentes do próprio feito, ou ainda,
para instrução e até mesmo fundamentação de procedimentos cíveis. Havendo justa
causa, e sendo a pessoa competente para requerer, o Escrivão de Polícia deverá for-
necer certidão ou cópia do documento devidamente autenticada.
O fornecimento de cópias de boletim de ocorrência, sem requerimento formal
do interessado, é objeto de duas Portarias DGP. A primeira, Portaria DGP -38, de
6/11/84, determina o fornecimento à pessoa interessada, envolvida em acidente de

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

trânsito ou na qualidade de vítima de crime patrimonial, de quantas cópias forem


necessárias, com isenção de pagamento de qualquer espécie. A Portaria DGP -21,
de 6/7/88, autoriza o fornecimento de cópias de boletim de ocorrência de aciden-
te de trânsito com vítima, para a Secretaria de Higiene e Saúde do Município de
São Paulo, precedido de oficio requisitório endereçado à autoridade policial titular
da Delegacia Seccional de Polícia da área onde ocorreu o acidente, no município da
Capital.
Quanto à remessa compulsória de boletim de ocorrência às corporações e enti-
dades da administração pública federal, estadual ou de economia mista, foi o assun-
to disciplinado pela Portaria DGP-8, de 13/4/93. Essa remessa torna-se necessária
quando os agentes de tais órgãos estiverem envolvidos na condição de indiciados e
serem atuantes em atividades ligadas à manutenção da ordem e segurança públicas.
O arquivamento do boletim de ocorrência é uma diligência rotineira nas uni-
dades policiais. Entretanto, dada a importância que lhe é reservada, foi a matéria
tratada em duas Portarias DGP, em épocas distintas. A primeira, Portaria DGP-5,
de 6/3/79, além de disciplinar o arquivamento, que deveria se processar sempre por
despacho fundamentado do delegado titular da unidade, normatizou igualmente a
solução da ocorrência, a numeração e o registro no livro competente e, finalmente, a
transmissão dos boletins pendentes quando da substituição dos delegados titulares,
que deveria se processar utilizando-se de relações, firmadas e recibadas por ambas
as autoridades. A Portaria DGP18, de 25/11/98, em seu artigo 3º, e parágrafos, de-
termina que os boletins de ocorrência que não propiciarem instauração de Inquérito
Policial sejam arquivados mediante despacho fundamentado e firmado pela autori-
dade policial na via original, que após o respectivo registro no livro próprio, serão
mantidos em arquivo, à disposição das autoridades corregedoras.
No ato da lavratura do boletim de ocorrência, quando se tratar de crime de
ação penal pública condicionada, deverá a vítima ser informada sobre o prazo deca-
dencial de 6 (seis) meses para representação, a contar da data em que tomou conhe-
cimento da autoria do fato. Idêntico procedimento deve ser adotado nos registros de
crimes de ação penal de iniciativa privada, devendo a parte ofendida ser orientada
quanto ao mesmo prazo decadencial. Quando a notícia registrada referir-se ao cri-
me de estupro, deverá ainda a ofendida ser informada sobre o procedimento legal
previsto no artigo 128, II, do CP, que autoriza o aborto sentimental, em hospital pú-
blico. A este respeito, devem os policiais civis atentar para a Lei nº 10.291, de 7/4/99.
Nos registros de acidente de trânsito com vítima fatal ou lesões corporais, de-
verão as partes, ou seus representantes legais, ser informados sobre os procedimen-
tos para o recebimento do seguro obrigatório, nos termos da Lei nº 6.194/74, de
19/12/74, lembrando-se, especialmente, que a prescrição da ação do segurado contra
companhia seguradora poderá ser interpretada de acordo com o artigo 206, § 1º, II,
do Código Civil, que é de 1 (um) ano.
Finalizando, não se poderia deixar de tecer considerações sobre o advento da
Lei nº 9.099/95 que instituiu o termo circunstanciado de ocorrência para registro
e apuração das infrações penais de menor potencial ofensivo, substituindo, via de
regra, o boletim de ocorrência, assim como a Lei nº 10.259/01, que ampliou o rol

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

dessas infrações penais. O termo circunstanciado, além de propiciar procedimento


policial judiciário diverso do Inquérito Policial, obedece numeração independente
e registro em livro próprio. É, portanto, procedimento substitutivo do boletim de
ocorrência.

7. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 1

DELEGACIA DE POLÍCIA DE________________

BOLETIM DE OCORRÊNCIA DE AUTORIA CONHECIDA

Natureza da ocorrência: ________________________________Data:___/___ /____


Local:____________________________________________Circ.:______________
Hora da comunicação:______________________ Hora do fato:_________________
INDICIADO:__________________________________________________________
Doc. Ident. nº______________________________Veio ao Plantão:______
(Espécie e repartição expedidora)
Pai:___________________________________________________________________
Mãe:___ Cor:______ Idade:_______ Est. Civil:_____ Prof.:___________________­­__
Nac.:__________________________________________________________________
Residência:_____________________________________________________________
(Rua, número, cidade, bairro, fone, meio de condução)
Local de trabalho:_______________________________________________________
(Rua, número, firma, cidade, bairro, fone, meio de condução)

VÍTIMA:______________________________________________________________
Doc. Ident. nº______________________________Veio ao Plantão:______
(Espécie e repartição expedidora)
Pai:___________________________________________________________________
Mãe:__________________________________________________________________
Cor:_________ Idade:__________Est. Civil:__________Prof.:___________________
Nac.:_________________________ Nat.:____________________________________
Residência:_____________________________________________________________
(Rua, número, cidade, bairro, fone, meio de condução)
Local de trabalho:_______________________________________________________
(Rua, número, firma, cidade, bairro, fone, meio de condução)
Foi internada?_________________ Onde?___________________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

TESTEMUNHAS:
(Nome, res., fone, meio de condução, doc. identidade, local de trabalho, bairro
condução, fone)
1)_____________________________________________________________________
2)_____________________________________________________________________
3)_____________________________________________________________________
4)_____________________________________________________________________
5)_____________________________________________________________________

SOLUÇÃO: ____________________________________________________________
(B.O., inquérito, termo circunstanciado, outra)

EXAMES REQUISITADOS:_____________________________________________
(IC, IML, outros exames - por extenso)

Elaborado por_______________________________,___de__________de_______

________________________________ __________________________
(assinatura) – Nome e cargo datilografados (assinatura e nome da autoridade)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 2

DELEGACIA DE POLÍCIA DE________________________________________

BOLETIM DE OCORRÊNCIA DE AUTORIA DESCONHECIDA

Nº___________

NATUREZA DA OCORRÊNCIA:
Data da ocorrência:-___________________
Hora do fato:_______________________
Local:_____________________________
Circunscrição:______________________
Hora da comunicação: _______________
INDICIADO: A ESCLARECER.
Se o indiciado foi visto pela vítima ou terceiro, informar:
Sexo____, compleição física_________, cor dos olhos_________, cor da cútis____;
Altura______,óculos_____(descrever), barba____(descrever), bigode__-(descrever);
Cabelos_____, cor______, tatuagem______(descrever) cicatriz_______(descrever);
Defeito físico ________(descrever) dentes_________(descrever)
Desvio de conduta__________(descrever) Peculiariedades físicas_____(descrever);
Canhoto, tique, cacoete, sotaque estrangeiro, sotaque regional, personifica o sexo
oposto, peculiaridades no andar, fala defeituosa, mudo, olhos orientais, manchas
na pele, sardas, espinhas, pintas, peruca, albino, sarará etc.
VÍTIMA: _______________________________, Alcunha,_________
Documento de Identidade-RG nº____________
CPF.________CTPS nº_____________,série_______, emitida em____________
CNH_______________Filho de________________e________________________
Cor__________Nacionalidade_____________Natural de______________________
Com idade de___________, nascido aos___________estado civil_______________
Profissão_________, residente na______(logradouro,nº,bairro,cidade,cep,telefone)
LOCAL DE TRABALHO EM:______( logradouro,nº,bairro,cidade,cep,telefone)
FOI INTERNADO(A) _____________________ONDE?______________________
VEIO AO PLANTÃO?_____________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

SOLUÇÃO:_________________________________________
EXAMES REQUISITADOS:___________
HISTÓRICO: Compareceu nesta unidade ________________________________
(assinatura da vítima)__________________________
Localidade, ________________/_______________/__
Elaborado por:_______________________________
(nome e cargo datilografados e assinatura)

Delegado(a) de Polícia _______________________(nome e assinatura)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 3
SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BOLETIM ESPECIAL DE OCORRÊNCIA PARA VEÍCULOS OFICIAIS
(DECRETO Nº 20.416 DE 28-01-1983)

LOCAL____________________________________________________ DATA______________
HORA DA COMUNICAÇÃO ___________________________ HORA DO FATO: __________________
NATUREZA DA OCORRÊNCIA
COLISÃO CHOQUE CAPOTAMENTO ABALROAMENTO ATROPELAMENTO OUTRO

DA VIA E DO TRÂNSITO
ALINHAMENTO
ESPÉCIE ALINHAMENTO PAVIMENTO
D SIMPLES TIPO ESTADO OBRAS DE ARTE
E 2 faixas de rolamento RETA CONCRETO SECO PONTE
S 3 " " " CURVA ASFALTO MOLHADO TÚNEL
C 4 " " " DECLIVE PARALEL. ENLAMEADO PASSAG/INF.
R
DUPLA ACLIVE CASCALHO OLEOSO PASSAG/SUP.
I
3 faixas de rolamento BAIXADA S/REVEST. DANIFICADO
Ç
à 6 faixas de rolamento EM OBRAS
O MÃO DE DIREÇÃO ILUMINAÇÃO SINALIZAÇÃO SEMÁFORO
ÚNICA DO DIA PLACAS FUNCIONANDO
D
DUPLA NOITE C/ILUM. OFICIAIS DEFEITUOSO
O
ARTIFICIAL PARTICULARES DESLIGADO
L NOITE S/ILUM. OUTRAS INEXISTENTE
O TEMPO
C BOM
A NEBLINA
L
CHUVA

VEÍCULO – 1– PLACAS:_______________ MUNICÍPIO ________________ ESTADO_______


MARCA _________________ ANO ____ COR __________CER. PROPRIEDADE ___________
C
O CONDUTOR ____________________________________________ SEXO F M
N CART. HABILITAÇÃO _____________ AMADOR PROFISSIONAL RG ___________
D CIDADE ________________________ ESTADO _____ EXAME MÉDICO VÁLIDO ATÉ _________
U
___________________________________________________________________________________________
T
O VEÍCULO – 2– PLACAS:_______________ MUNICÍPIO ________________ ESTADO_______
R MARCA _________________ ANO ____ COR __________CER. PROPRIEDADE ___________
E
CONDUTOR ____________________________________________ SEXO F M
S
CART. HABILITAÇÃO _____________ AMADOR PROFISSIONAL RG ___________
CIDADE ________________________ ESTADO _____ EXAME MÉDICO VÁLIDO ATÉ _________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

CATEGORIA
OFICIAL ①② PARTICULAR ①② ALUGUEL ①② OUTROS ①②
ESPÉCIE
D
E PASSAGEIRO ①② MISTO①② CORRIDA①② CARGA ①② TRADIÇÃO MOTORIZ.①② ESPECIAL ①②
S
TIPO
C
R AUTOMÓVEL ①② CAMINHONETA ①② - CHASSI ①② TRATOR OU SIMILAR ①②
I ÔNIBUS ①② CAMINHÃO ①② - MOTOCICLETA ①② OUTROS ①②
Ç PERUA ①② REBOQUE ①② - BICICLETA ①② ①②
Ã
LOCAIS DAS AVARIAS
O
FRENTE TRASEIRA LADO DIREITO
D PARAL. DIREITO ①② PARAL. DIREITO ①② PARAL. DIANTEIRO ①②
O PARAL. ESQUERDO ①② PARAL. ESQUERDO ①② PARAL. TRASEIRO ①②
PARACHOQUE ①② PARACHOQUE ①② PORTAS ①②
L CAPÔ ①② CAPÔ ①② LADO ESQUERDO
O GRADE ①② LANTERNA ①② PARAL. DIANTEIRO ①②
C FARÓIS ①② PARAL. TRASEIRO ①②
A LANTERNAS ①② TETO ①② PORTAS ①②
L
OUTRAS ANOTAÇÕES ______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________

FALHAS OU POSSÍVEIS FALHAS


V
E
DEFEITO NOS FREIOS ①② FALTA DE CINTO DE SEGURANÇA ①②
Í
DEFEITO NA DIREÇÃO ①② FALTA DE SINAL DE EMERGÊNCIA ①②
C DEFEITO NA RODA ①② FALTA DE LANTERNAS ①②
U DEFEITO MECÂNICO ①② FALTA DE SINALEIROS ①②
L DEFEITO NO LIMPADOR DE PARABRISA ①②
O DESLIZAMENTO DE CARGA ①② INCÊNDIO ①②
S ESTOURO DE PNEU ①② OUTROS ①②
AVANÇOU O SINAL ①② MUDOU SUBITAMENTE DE DIREÇÃO ①②
CONTRA MÃO ①② NÃO GUARDOU DISTÂNCIA ①②
CORTOU A FRENTE DE OUTRO VEÍCULO ①② NÃO USOU OS FREIOS ①②
I
N
DEIXOU DE FAZER SINAL ①② OFUSCADO PELA LUZ ALTO ①②
F DOBROU EM LUGAR PROIBIDO ①② OFUSCADO PELO SOL ①②
R DORMIU NA DIREÇÃO ①② PARADO NA PISTA ①②
A DESOBEDECEU A SINALIZAÇÃO ①② PAROU SUBITAMENTO ①②
Ç EXCESSO DE VELOCIDADE ①② PERDEU O CONTROLE DA DIREÇÃO ①②
à ENTROU E SAIU ERRADO DA PISTA ①② ULTRAPASSOU EM CRUZAMENTO ①②
O EMBRIAGADO ①② ULTRAPASSOU NA CURVA ①②
FORÇOU PASSAGEM ①② ULTRAPASSOU EM LOMBADA ①②
INVADIU FAIXA DE PEDESTRE ①② ULTRAPASSOU EM OBRAS ①②
MANOBRA INDEVIDAMENTE NA PISTA ①② OUTRAS ①②

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A OUTRAS PROPRIEDADES ATINGIDAS


V
A PROPRIETÁRIO ________________________________________________________________________________
R
I NATUREZA DAS AVARIAS _______________________________________________________________________
A
S _____________________________________________________________________________________________________

VÍTIMA – 1 – NOME __________________________________________________________________________


RESIDÊNCIA _________________________________________________________ Nº _______ Bairro ________________
CIDADE _______________________________________ ESTADO _____________ SEXO F M
V LOCAL DE TRABALHO: ____________________________________________ Bairro ___________________
Í CIDADE ________________________________________ ESTADO ____________________________________
T CONDIÇÃO: - CONDUTOR PASSAGEIRO PEDESTRE
I SOCORRIDO ________________________ONDE _____________________________________________________
M ___________________________________________________________________________________________________
A
VÍTIMA – 2 – NOME __________________________________________________________________________
S
RESIDÊNCIA _________________________________________________________ Nº _______ Bairro ________________
CIDADE _______________________________________ ESTADO _____________ SEXO F M
LOCAL DE TRABALHO: ____________________________________________ Bairro __________________
CIDADE ________________________________________ ESTADO _____________________________________
CONDIÇÃO: - CONDUTOR PASSAGEIRO PEDESTRE

SOCORRIDO ________________________ONDE __________________________________________________

TESTEMUNHAS – 1 – NOME _____________________________________________________________________


RESIDÊNCIA ________________________________________________________ Nº _______ Bairro ________________
CIDADE _______________________________________ ESTADO _____________ SEXO F M
LOCAL DE TRABALHO: ____________________________________________ Bairro __________________
CIDADE ________________________________________ ESTADO _____________________________________
CONDIÇÃO: - CONDUTOR PASSAGEIRO PEDESTRE

SOCORRIDO ________________________ONDE __________________________________________________


_________________________________________________________________________________________________

TESTEMUNHAS – 1 – NOME _____________________________________________________________________


RESIDÊNCIA ________________________________________________________ Nº _______ Bairro ________________
CIDADE _______________________________________ ESTADO _____________ SEXO F M
LOCAL DE TRABALHO: ____________________________________________ Bairro __________________
CIDADE ________________________________________ ESTADO _____________________________________
CONDIÇÃO: - CONDUTOR PASSAGEIRO PEDESTRE

SOCORRIDO ________________________ONDE __________________________________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

SECRETARIA DA SEGURANÇA
BOLETIM DE AVALIAÇÃO DOS DANOS EM VEÍCULO OFICIAL

DATA:___________________ CHAPA: ___________________ PATRIMÔNIO: ____________


MARCA: _________________ TIPO: _______________
COR: ____________________ CHASSI Nº:_________________________________________
MÃO DE OBRA

1 - SERVIÇO DE BORRACHARIA
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ ___________________
_____________________________________________ R$ ___________________
_____________________________________________ R$ ___________________
_____________________________________________ R$ ___________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________
2 - SERVIÇO DE ELETRICIDADE
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ ___________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ ___________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________
3 - SERVIÇO DE FUNILARIA
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________

111

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

CROQUI

VESTÍGIOS (LOCALIZAR NO CROQUI)


ÓLEOS NA PISTA
①②
MARCAS DE FRENAGEM
①② (EXTENSÃO NO CROQUI)
OUTROS VESTÍGIOS

DESCRIÇÃO SUMÁRIA
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________

_________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL

DATA: ____/____/____

112

08147Miolo.indd 112 5/9/2012 15:49:15


MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4 - SERVIÇO DE MECÂNICA
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________
5 - SERVIÇO DE PINTURA
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________
6 - SERVIÇO DE TAPEÇARIA
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________
7 - PEÇAS TROCADAS
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_____________________________________________ R$ _____________________
_________________________________
S/TOTAL R$ ______________________
_____________________________
Avaliação efetuada pelo chefe da frota da Secretaria, a qual pertence o veículo,
Sr. _________________________________________________________________________
____________________________________________________________________

_________________, ______ de _________________ de _____

_________________________________________
ASSINATURA DO RESPONSÁVEL

113

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 4

DELEGACIA DE POLÍCIA DE

BOLETIM DE OCORRÊNCIA DE DESAPARECIMENTO DE PESSOA


Nº ___________
NATUREZA DA OCORRÊNCIA: DESAPARECIMENTO DE PESSOA
DATA DA OCORRÊNCIA:
HORA DO FATO:
LOCAL:
CIRCUNSCRIÇÃO:
HORA DA COMUNICAÇÃO:
____________________________________________________________________________________
NOME DO DESAPARECIDO:
_____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM IDADE DE ANOS,
NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL , PROFISSÃO ,
RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) ,
LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) ,
FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS:
SEXO:
COR:
OLHOS:
ALTURA:
COMPLEIÇÃO FÍSICA:
ÓCULOS: DESCREVER:
BARBA: DESCREVER:
BIGODE: DESCREVER:
CABELOS:
TATUAGEM: DESCREVER:
CICATRIZ: DESCREVER:
DEFEITO FÍSICO: DESCREVER:
FALTAM DENTES?
DENTES:
DESVIO DE CONDUTA: DESCREVER:
PECULIARIDADES FÍSICAS:
DESCREVER: ALCOOLISMO, TOXICOMANIA, HOMOSSEXUALISMO, OUTROS – ESPECIFICAR.

SOFRE DAS FACULDADES MENTAIS?


TEVE AMNÉSIA?
________________________________________________________________________________

114

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

VESTUÁRIO:
CALÇA: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:
CAMISA: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:
JAQUETA: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:
SAIA: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:
ROUPA ÍNTIMA: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:
CALÇADO: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:
MEIA: TIPO: COR: CARACTERÍSTICA:

DESAPARECEU ANTERIORMENTE?
ONDE ESTEVE?
JÁ ESTEVE PRESO? ONDE?
MOTIVO:
DESAPARECEU SOZINHO OU ACOMPANHADO?
DESAPARECEU DE CARRO OU A PÉ?

SE DE CARRO: DADOS DO(S) VEÍCULO(S):


MARCA:
MODELO:
ANO DE FABRICAÇÃO/MODELO:
COR:
COMBUSTÍVEL:
CHASSI:
PLACA:
CRV:
RENAVAM

TEM NAMORADO(A)? ENDEREÇO:


QUAL RELACIONAMENTO DO DESAPARECIDO COM OS FAMILIARES?
OUTRAS INFORMAÇÕES ÚTEIS:

INFORMANTE
NOME:
DOCUMENTO DE IDENTIDADE: RG Nº ; CPF ;
CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA EM ;
CNH
GRAU DE PARENTESCO OU AMIZADE:
RESIDÊNCIA:
SERVIÇO:
TELEFONE DE RECADO OU DO VIZINHO:
QUAIS AS PROVIDÊNCIAS JÁ TOMADAS PELA FAMÍLIA?

TESTEMUNHAS:
1. QUALIFICAÇÃO E ENDEREÇO COMPLETO

MENSAGENS EXPEDIDAS:

SOLUÇÃO:

HISTÓRICO: COMPARECEU NESTA UNIDADE..................

LOCALIDADE ____/____/____
ELABORADO POR

DELEGADO(A) DE POLÍCIA

115

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 5
DELEGACIA DE POLÍCIA DE

BOLETIM DE OCORRÊNCIA DE FURTO/ROUBO


DE VEÍCULO AUTOMOTOR
Nº__________

NATUREZA DA OCORRÊNCIA: FURTO/ ROUBO DE VEÍCULO AUTOMOTOR


DATA DA OCORRÊNCIA:
HORA DO FATO:
LOCAL: CIRCUNSCRIÇÃO:
HORA DA COMUNICAÇÃO:
_____________________________________________________________________________________
INDICIADO: ____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG
Nº , CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
VÍTIMA: ___________________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG
Nº , CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
TESTEMUNHA: _____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG
Nº , CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________

116

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

TESTEMUNHA: _____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG


Nº , CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________

DADOS DOS VEÍCULO(S):


MARCA:
TIPO:
MODELO:
ANO DE FABRICAÇÃO/MODELO:
COR:
COMBUSTÍVEL:
CHASSI:
PLACA:
DOCUMENTO DE PROPRIEDADE Nº:
EM NOME DE:
RENAVAM:
O VEÍCULO ESTAVA SEGURADO?
NÚMERO DA APÓLICE E CIA SEGURADORA:
OS DOCUMENTOS DO VEÍCULO FORAM LEVADOS? QUAIS?
OUTRAS OBSERVAÇÕES OU CARACTERÍSTICAS DO VEÍCULO:
TEMPO EM QUE A VÍTIMA ESTEVE AUSENTE DO LOCAL:
_____________________________________________________________________________________

PROVIDÊNCIAS TOMADAS PELA AUTORIDADE DE SERVIÇO:


UNIDADES POLICIAIS ACIONADAS:
EXAMES REQUISITADOS:
MENSAGENS EXPEDIDAS:
SOLUÇÃO:
HISTÓRICO: Compareceu nesta unidade

___________________________________________________________
(Assinatura da vítima ou do representante legal)

LOCALIDADE ____/____/____
ELABORADO POR
DELEGADO(A) DE POLÍCIA

117

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 6
DELEGACIA DE POLÍCIA DE

BOLETIM DE OCORRÊNCIA ACIDENTE DE TRÂNSITO COM


VÍTIMA – LESÃO CORPORAL/ FATAL
Nº _________

NATUREZA DA OCORRÊNCIA: ACIDENTE DE TRÂNSITO COM VÍTIMA


LESÃO CORPORAL/ FATAL
DATA DA OCORRÊNCIA:
HORA DO FATO:
LOCAL: CIRCUNSCRIÇÃO:
HORA DA COMUNICAÇÃO:
_____________________________________________________________________________________
INDICIADO(S)/ MOTORISTA(S) ENVOLVIDO(S):
____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
VÍTIMA(S):
____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
TESTEMUNHA(S):
____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?

118

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

DADOS DO(S) VEÍCULO(S):


MARCA:
MODELO:
ANO DE FABRICAÇÃO/MODELO:
COR:
COMBUSTÍVEL:
CHASSI:
PLACAS:
CRV:
CRLV:
RENAVAM:
_____________________________________________________________________________________
DADOS DA(S) CNH(S) DO(S) CONDUTORE(S):
NÚMERO ESPELHO:
NÚMERO REGISTRO:
CATEGORIA:
EXAME DE SAÚDE VÁLIDO ATÉ
EXPEDIDA EM
PELA CIRETRAN DE

SOLUÇÃO:
EXAMES REQUISITADOS:
HISTÓRICO: Compareceu nesta unidade

LOCALIDADE ____/____/____

ELABORADO POR

DELEGADO(A) DE POLÍCIA

119

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 7
DELEGACIA DE POLÍCIA DE

BOLETIM DE OCORRÊNCIA
DE FURTO/ ROUBO/ EXTRAVIO DE ARMA DE FOGO
Nº _________

NATUREZA DA OCORRÊNCIA: FURTO/ ROUBO/ EXTRAVIO


DE ARMA DE FOGO
DATA DA OCORRÊNCIA:
HORA DO FATO:
LOCAL: CIRCUNSCRIÇÃO:
HORA DA COMUNICAÇÃO:
_____________________________________________________________________________________
INDICIADO(S):
____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
VÍTIMA(S):
____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
TESTEMUNHA(S):
____________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº ,SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE , COM
IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?

120

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

DADOS DA(S) ARMA(S):


NÚMERO: ESCREVA A NUMERAÇÃO COMPLETA DA ARMA, INCLUINDO LETRAS.
CASO A NUMERAÇÃO NÃO ESTEJA LEGÍVEL, ESFREGUE UM GIZ.
MARCA:
ESPÉCIE: GARRUCHA, GARRUCHÃO, REVÓLVER, PISTOLA, PISTOLÃO, ESPINGARDA,
CARABINA, RIFLE, METRALHADORA, SUB-METRALHADORA, FUZIL.
CALIBRE:
QUANTIDADE DE CANOS:
DIMENSÃO: CURTO (ATÉ 3 POLEGADAS); MÉDIO (DE 4 A 5 POLEGADAS); LONGO
(MAIS DE 6 POLEGADAS); SUPERLONGO (ESPINGARDA, RIFLE, CARABINA ETC.)
ACABAMENTO: OXIDADO, NIQUELADO, CROMADO, INOX, PRATEADO, DOURADO,
ANODIZADO, POLÍMERO, TENIFER
SISTEMA: SIMPLES, REPETIÇÃO, SEMI-AUTOMÁTICO, AUTOMÁTICO
CORONHA: PLÁSTICO, MADEIRA, MADREPÉROLA, BORRACHA
TIPO:
CAPACIDADE: NÚMERO DE BALAS NO PENTE
PAÍS DE FABRICAÇÃO:

SOLUÇÃO:
MENSAGENS EXPEDIDAS:

EXAMES REQUISITADOS:
HISTÓRICO: Compareceu nesta unidade

LOCALIDADE ____/____/____

ELABORADO POR

DELEGADO(A) DE POLÍCIA

121

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 8

DELEGACIA DE POLÍCIA DE

BOLETIM DE OCORRÊNCIA
DE FURTO/ ROUBO/ EXTRAVIO DE CARGA
Nº__________

NATUREZA DA OCORRÊNCIA: FURTO/ ROUBO/ EXTRAVIO DE CARGA


DATA DA OCORRÊNCIA:
HORA DO FATO:
LOCAL: CIRCUNSCRIÇÃO:
HORA DA COMUNICAÇÃO:
_____________________________________________________________________________________
INDICIADO: ______________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE –
RG Nº , CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE
, COM IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS
, ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA
(logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM
(logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)?
ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?

Se o indiciado foi visto pela vítima ou terceiro, informar

–Sexo:
–Compleição física:
–Cor dos olhos:
–Cor da cútis:
–Altura:
–Óculos: Descrever:
–Barba: Descrever:
–Bigode: Descrever:
–Cabelos: Cor:
–Tatuagem: Descrever:
–Cicatriz: Descrever:
–Defeito físico: Descrever:
–Dentes:
–Desvio de conduta: Descrever:
–Peculiaridade físicas: Descrever: Canhoto, tique, cacoete, sotaque estrangeiro,
sotaque regional, personifica o sexo oposto, peculiaridades no andar, fala defeituosa, mudo
olhos orientais, manchas na pele, sardas espinhas, pintas, peruca, albino ou sarará etc.
_____________________________________________________________________________________

122

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

VÍTIMA: _________________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE –


RG Nº , CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE
, COM IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS
, ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA
(logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM
(logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)?
ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________

TESTEMUNHAS: __________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE –


RG Nº , CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA
EM , CNH , FILHO DE e ,
COR , NACIONALIDADE , NATURAL DE
, COM IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS
, ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA
(logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM
(logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)?
ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________

TIPO DO CRIME

DIA DA SEMANA:

CARACTERÍSTICAS DA CARGA
TIPO:

– ELETRO-ELETRÔNICO
– TÊXTEIS, MANUFATURADOS – tecidos, roupas, calçados etc.
– METAIS
– MEDICAMENTOS, PERFUMARIA, PRODUTOS DE LIMPEZA
– PRODUTOS QUÍMICOS
– CIGARROS
– PEÇAS AUTOMOTIVAS, ACESSÓRIOS, PNEUS, GÊNEROS ALIMENTÍCIOS
– CARGA MISTA – produtos diversificados
– OUTRAS CARGAS. ESPECIFICAR:

123

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MARCAS:
CARACTERÍSTICAS PECULIARES:
NÚMERO DE SÉRIE:

ORIGEM: NACIONAL
IMPORTADO
NÚMERO DAS NOTAS FISCAIS:
VALOR DA CARGA:

SEGURO:
NOME DA EMPRESA SEGURADORA:
VALOR DO SEGURO:
APÓLICE:

EMBARCADOR:
NOME DO EMBARCADOR:
LOCAL DE EMBARQUE:
DESTINO DA CARGA:

RECUPERAÇÃO DA CARGA:
CARGA RECUPERADA: TOTALMENTE
PARCIALMENTE

LOCAL DA RECUPERAÇÃO:
DATA E HORA DA RECUPERAÇÃO:
VALOR ESTIMADO DA RECUPERAÇÃO:

VEICULOS ENVOLVIDOS
SUBTRAÍDO
SUSPEITO
MARCA/TIPO:
ANO DE FABRICAÇÃO/MODELO:
COR:
PLACA:
CHASSI:
RENAVAM
CAVALO MECÂNICO
S/REBOQUE
PICK UP
ÔNIBUS
CAMINHÃO
CARRO
MOTO

124

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

CARACTERÍSTICAS PECULIARES DO VEÍCULO:


LOGOTIPO; DESCREVER:
RASTREADOR
TACÓGRAFO
OUTRO:

ESCOLTA:

RECUPERAÇÃO
LOCAL DA RECUPERAÇÃO:
DATA DA RECUPERAÇÃO:
HORA DA RECUPERAÇÃO:

NOME DO CONDUTOR
DOCUMENTO DE IDENTIDADE:
VEIO AO PLANTÃO?
PAI:
MÃE:
COR:
IDADE:
DATA DE NASCIMENTO:
ESTADO CIVIL:
PROFISSÃO:
NACIONALIDADE:
NATURALIDADE:
RESIDÊNCIA: (logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone)
LOCAL DE TRABALHO: (logradouro, nº, bairro, cidade, cep, telefone)
FOI INTERNADA?
ONDE?
CNH: (número, categoria, validade do exame de saúde, data de expedição e Ciretran)

DADOS SOBRE A VÍTIMA SEQÜESTRADA OU MANTIDA EM CÁRCERE PRIVADO


LOCAL DO ABANDONO:
LOCAL DO CÁRCERE:
DATA DO ABANDONO:
LIBERTAÇÃO DIA E HORA:
FOI VÍTIMA DESSE DELITO ANTERIORMENTE?
LOCAL:
DATA:
CIRCUNSCRIÇÃO POLICIAL:
_____________________________________________________________________________________

125

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

PERÍCIAS REALIZADAS OU REQUISITADAS: ESPECIFICAR:

MENSAGENS EXPEDIDAS:
SOLUÇÃO:
HISTÓRICO: Compareceu nesta unidade

___________________________________________________
(assinatura – pessoa que comunicou o fato)

LOCALIDADE ____/____/____

ELABORADO POR

DELEGADO(A) DE POLÍCIA

126

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 9

DELEGACIA DE POLÍCIA DE

BOLETIM DE OCORRÊNCIA DE FURTO/ ROUBO/ EXTRAVIO DE RG


Nº _________

NATUREZA DA OCORRÊNCIA: FURTO/ ROUBO/ EXTRAVIO DE RG


DATA DA OCORRÊNCIA:
HORA DO FATO:
LOCAL: CIRCUNSCRIÇÃO:
HORA DA COMUNICAÇÃO:
_____________________________________________________________________________________
INDICIADO(S):
_______________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE ,
COM IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
VÍTIMA(S):
_______________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE ,
COM IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?
_____________________________________________________________________________________
TESTEMUNHA(S):
_______________, ALCUNHA , DOCUMENTO DE IDENTIDADE – RG Nº ,
CPF , CTPS Nº , SÉRIE , EMITIDA EM ,
CNH , FILHO DE e , COR ,
NACIONALIDADE , NATURAL DE ,
COM IDADE DE ANOS, NASCIDO AOS , ESTADO CIVIL ,
PROFISSÃO , RESIDENTE NA (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , LOCAL DE TRABALHO EM (logradouro, nº, bairro, cidade,
cep, telefone) , FOI INTERNADO(A)? ONDE?
VEIO AO PLANTÃO?

127

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

DADOS DO RG
NÚMERO DO RG:
ÓRGÃO EXPEDIDOR:
DATA DE EMISSÃO DO RG:
NOME DO IDENTIFICADO:
FILIAÇÃO DO IDENTIFICADO:
NATURALIDADE:
DATA DE NASCIMENTO:
ENDEREÇO RESIDENCIAL:

SOLUÇÃO:
MENSAGENS EXPEDIDAS:

EXAMES REQUISITADOS:

HISTÓRICO: Compareceu nesta unidade


_____________________________________________________________________________________
ORIENTAÇÃO: Nesta oportunidade, a vítima foi orientada a comparecer ao órgão expe-
didor (Delegacia de Polícia), para obtenção de nova via do RG. Para tanto, deverá levar os
seguintes documentos:
a) duas fotos 3x4 coloridas e recentes (observação: cabelos soltos; sem lenço na cabeça;
se do sexo masculino – sem brincos nas orelhas).
b) xerox da Certidão de Nascimento/Casamento.
c) número do RG extraviado.
d) se menor de 16 anos, é necessário a presença do representante legal, com o respectivo RG.
_____________________________________________________________________________________

___________________________________________________
(assinatura da vítima ou representante)

LOCALIDADE ____/____/____

ELABORADO POR

DELEGADO(A) DE POLÍCIA

CERTIDÃO

______________________________, Escrivão de Polícia, em exercício na Delegacia de


Polícia de ____________________, atendendo a requerimento da parte interessada e em
cumprimento a despacho exarado pelo Sr. Delegado de Polícia,

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 10

Governo do Estado de São Paulo


Secretaria da Segurança Pública
Polícia Civil de São Paulo
Delegacia Eletrônica

FURTO DE VEÍCULO B.E.O. 1

Local dos fatos:


Referência:
Fato:
Dados do
Declarente:
Nome:
Endereço:
e-mail:
RG:
CPF
Nasc. decl.
Proprietário
Veículo
Histórico:

Hora da
Comunicação ao
Sistema

Autorizo, por às 13/01/00 15:35:37

_________________________________________________
Delegado de Polícia de Permanência no CEPOL

B.E.O. 1
Imprima quantas cópias necessitar deste Boletim

Obrigado por usar os serviços da Delegacia Eletrônica.

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Capítulo IV
TERMO CIRCUNSTANCIADO

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Termo circunstanciado: terminologia; 3. Cri-


térios processuais; 4. Competência dos Juizados Especiais Criminais; 5. Infrações penais
de menor potencial ofensivo; 6. Natureza jurídica; 7. Conceito de autoridade policial;
8. O Inquérito Policial e o Termo Circunstanciado; 9. Prisão em flagrante; 10. Autor do
fato; 11. Vítima; 12. Testemunhas; 13. Provas; 14. Ocorrências não comuns: 14.1 Con-
curso de crimes; 14.2 Crimes de ação penal privada; 14.3 Ausência das partes; 14.4 A Lei
nº 9.099/95 e o foro especial por prerrogativa de função; 14.5 Questões específicas sobre
a autoria; 15. Conclusão; 16. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A Constituição Federal, em seu artigo 98, I, dispõe: “A União, no Distrito


Federal e nos Territórios, e os Estados, criarão Juizados especiais, providos por
juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento
e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor
potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos,
nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas
de primeiro grau”.
Tal dispositivo veio a tornar-se realidade com a promulgação das Leis nºs.
9.099, de 26 de setembro de 1995 e 10.259, de 12 de julho de 2001, nos âmbitos esta-
dual e federal, respectivamente.
Diante da necessidade da adequação das atividades de polícia judiciária, à
época, aos dispositivos da Lei n.º 9.099/95, foram editados, no âmbito da Secretaria
de Segurança Pública, dispositivos reguladores da atuação das Polícias Civil e Mi-
litar nas questões que envolvem o conhecimento das infrações de menor potencial
ofensivo (Resolução SSP nº 353, de 27 de novembro de 1995).
Assinale-se, ainda, quanto ao regular atendimento por parte da polícia civil, as
determinações e recomendações da Delegacia Geral de Polícia (Portaria DGP-14,
de 16 de abril de 1996, que criou modelos de Termo Circunstanciado e de Termo
de Comparecimento para uso da Polícia Civil; Portaria DGP-15, de 16 de abril de
1996, que disciplinou o uso obrigatório de Livro de Registro de Ocorrências Poli-
ciais referentes a esta Lei para as unidades da Polícia Civil com atribuições de polícia
judiciária; e Portaria DGP-28, de 4 de setembro de 1996, que instituiu modelos de
requisição e laudo de exame de corpo de delito).

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2. TERMO CIRCUNSTANCIADO: TERMINOLOGIA

A nomenclatura do documento que registra a notícia de uma infração penal


de menor potencial ofensivo é tão somente termo circunstanciado e não como
eventualmente o tratam de termo circunstanciado de ocorrência, porque assim
reza o texto legal pertinente e, outrossim, porque a ocorrência é retratada à auto-
ridade policial para que seja lavrado o documento jurídico adequado.
O legislador atento ao fato de que a notícia de infração penal é, na maioria das
vezes, levada ao conhecimento da Polícia e que cabe à autoridade policial, nos ter-
mos da legislação processual vigente, realizar as investigações indispensáveis à sua
apuração, fez com que o artigo 69 da Lei nº 9.099/95 dispusesse que “a autoridade
policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o
encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vitima, providen-
ciando-se as requisições dos exames periciais necessários” (grifo nosso).

3. CRITÉRIOS PROCESSUAIS

O artigo 22 da Lei nº 9.099/95, em consonância com seu artigo 62, especifica os


critérios da prestação jurisdicional e, por via reflexa, da atividade policial judiciária
que são a oralidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade, uma vez
que os Juizados Especiais Criminais objetivam, sempre que possível, a reparação
dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

4. COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

O Capítulo III da Lei nº 9.099/95 dispõe, entre outros aspectos, que o Juizado
Especial Criminal será provido por juízes togados ou togados e leigos, tendo como
competência a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor
potencial ofensivo. Quanto à competência do Juizado, será esta determinada pelo
lugar em que foi praticada a infração penal.

5. INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

A Carta Magna, em seu artigo 98, inciso I, prevê a criação de juizados espe-
ciais para perquirir as infrações penais de menor potencial ofensivo, deixando a
cargo do legislador ordinário sua definição.
Primeiramente, foi editada a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que criou
os Juizados Especiais Cíveis e Criminais na Justiça Estadual e, em seu artigo 61, enu-
merou como infração penal de menor potencial ofensivo as contravenções penais
e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuadas as
hipóteses de procedimento especial.
Posteriormente, a Emenda Constitucional nº 22, de 18 de março de 1999, am-
pliou a possibilidade da criação de Juizados Especiais também no âmbito da Justiça
Federal. Como corolário foi editada a Lei Federal nº 10.259, de 12 de julho de 2001,

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

rezando no parágrafo único de seu artigo 2º, diversamente da Lei Estadual, que se
consideram infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,
os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos ou multa,
sujeitas ou não a procedimento especial.
Mais tarde, a Lei nº 11.313, de 28 de junho de 2006, deu nova redação ao artigo
61 da Lei nº 9.099/95, elevando o limite máximo para 2 (dois) anos.
Anote-se que a Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que instituiu o Estatu-
to do Idoso, em seu artigo 94 dispõe que: “Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena
máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedi-
mento previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no
que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.”
Como se vê, o dispositivo legal supramencionado refere-se ao quantum de pena
como parâmetro para regrar o procedimento a ser observado na apuração dos cri-
mes previstos no Estatuto do Idoso e não com o escopo de trazer ao mundo jurídico
novo conceito de infração penal de menor potencialidade ofensiva. Nesse diapasão,
visa assegurar a prioridade na tramitação dos feitos em razão da senilidade da víti-
ma, como se afere dos artigos 69 e seguintes do diploma legal em análise.
Como tratado em capítulo próprio, por força do que dispõe o artigo 41 da Lei
nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para os crimes de violência
doméstica e familiar, independentemente da pena fixada, são inaplicáveis os dispo-
sitivos da Lei nº 9.099/95.

6. NATUREZA JURÍDICA

A respeito da natureza jurídica é importante transcrever considerações já ela-


boradas (FERREIRA & BARIANI1), “O Termo Circunstanciado - reconhecen-
do não ser mero boletim de ocorrência - é instrumento jurídico indispensável para
que o Estado-Administração possa promover a responsabilidade penal daquele que
venha a praticar infração penal (crime com pena igual ou inferior a dois anos ou
contravenção penal), quando se tratar de ação penal pública incondicionada. É in-
dispensável, também, nas ações penais públicas dependentes de representação e de
iniciativa privada.
A indispensabilidade do Termo Circunstanciado identifica a sua natureza ju-
rídica que, sendo superior a do próprio inquérito policial, serve de base para pro-
ceder-se a tentativa de composição dos danos civis, a transação para a aplicação de
pena não privativa de liberdade, a propositura da ação penal e, inclusive, o arquiva-
mento”.

1 FERREIRA, Haroldo & BARIANI, Jaqueline Makowski de Oliveira. A Justiça Criminal


Consensual e as Atividades de Polícia Judiciária, in Arquivos da Polícia Civil-revista tecnocientífica,
ACADEPOL/SP, 2005, p. 170.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A propósito do papel que deve exercer o termo circunstanciado, é imprescin-


dível citar o processualista Sérgio Pitombo2 que assinala: “consiste em espécie do
gênero notícia da infração, por ser motivo de seu teor. Pode servir de base à compo-
sição dos danos, à proposta de aplicação de pena não privativa de liberdade - restri-
tiva de direitos ou multa, ao oferecimento de denúncia ou queixa orais, e, também,
ao pedido de arquivamento (artigos 72, 76, caput e 77, §§ 1º e 3º). Assim, não con-
vém equiparar tal peça ao boletim de ocorrência, hoje existente”.
Desta forma, como instrumento jurídico de responsabilidade da polícia ju-
diciária, o termo circunstanciado é procedimento indispensável à realização da
justiça especial criminal nas infrações penais de menor potencialidade ofensiva.

7. CONCEITO DE AUTORIDADE POLICIAL

Indubitavelmente, autoridade policial é o Delegado de Polícia. No entanto,


com o advento da Lei nº 9.099/95, tal definição suscitou algumas indagações e preci-
pitadas interpretações, que foram devidamente desfeitas com a edição da Resolução
SSP-353, de 27 de novembro de 1995, reguladora da atuação das Polícias Civil e
Militar face aos Juizados Especiais Criminais. Com o escopo de evidenciar que a
autoridade policial é o Delegado de Polícia, seu artigo 1º determina: “O policial civil
ou militar que tomar conhecimento da prática de infração penal deverá comunicá-
la, imediatamente, à autoridade policial da Delegacia de Polícia da respectiva cir-
cunscrição policial”.
A atividade da autoridade policial está prevista no artigo 69, e seu parágrafo
único, e, ao contrário do contido no caput desse artigo, não lavrará o termo circuns-
tanciado, e, sim, presidirá o ato.
Torna-se relevante lembrar Pitombo3 que ensina “Poder de polícia, exercem-
no a Administração, o Legislativo e o Judiciário. Os conceitos, que guarda - largo
e restrito -, não servem para aclarar, de todo a questão. Asserir que servidor públi-
co militar estadual do Distrito Federal ou dos Territórios tem poder de polícia se
e quando atua em prol da paz pública consiste em quase obviedade. O problema
mostra-se outro, como visto. Deter o poder de polícia não faz a ninguém, só por
isso, autoridade policial - judiciária, conforme a Constituição da República e as leis
do processo penal.
Autoridade policial é quem pode exercer, por inteiro, as funções de polícia
judiciária. Quem pode presidir auto de prisão em flagrante delito, ou resolver não
impô-la (arts. 4º, caput, 301 e 304 do Código de Processo Penal, c/c art. 69, parágra-
fo único, in fine da lei 9.099/95). Quem instaura e dirige o inquérito policial - civil ou
militar - e pode conceder fiança, em certos casos, (arts. 5º, 6º, 10, 322 e 332, primeira
parte, do Código de Processo Penal). Quem pede autorização ou cumpre mandados
de busca e de apreensão (arts, 6º, inciso II, e 240 do Código de Processo Penal),

2 PITOMBO, Sérgio M. de Moraes. Supressão Parcial do Inquérito Policial. Breves notas ao art.
69 e § único da Lei nº 9.099/95, in Juizados Especiais Criminais-Interpretação e crítica. Malheiros, p. 82.
3 PITOMBO, Sérgio M. de Moraes. Op. cit., pp. 80/81.

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ordena a restituição, quando cabível, de coisa apreendida (art. 120 do Código de


Processo Penal), requisita exame complementar (art. 168); ainda, não sendo juiz, a
lei permite que emita voz de prisão (art. 307 do Código de Processo Penal).
Autoridade policial-judiciária, no sistema vigorante, é Delegado de Polícia”.

8. O INQUÉRITO POLICIAL E O TERMO CIRCUNSTANCIADO

O termo circunstanciado, previsto no artigo 69, objetivou restringir, como re-


gra, o inquérito policial. No entanto, em determinados casos, é imprescindível a
instauração de inquérito policial para a apuração de crime de menor potencial ofen-
sivo, mormente quando a autoria for desconhecida, ou diante da complexidade do
fato, ou quando os termos circunstanciados forem restituídos pelo JECRIM para a
realização de diligências.
Em autos de inquérito policial pode ocorrer o indiciamento.
A identificação criminal de autor de fato que é considerado menor potencial
ofensivo, nos termos do artigo 1º da Lei nº 10.054, de 7 de dezembro de 2000, deve
ser realizada, pelos processos datiloscópico e fotográfico, desde que não identificado
civilmente.

9. PRISÃO EM FLAGRANTE

Preenchidas as condições estabelecidas no parágrafo único do artigo 69, não se


lavrará o auto de prisão em flagrante. Sucede, todavia, que nas infrações penais de
menor potencial ofensivo, poderá ocorrer a prisão em flagrante. Nesses casos, se o
autor do fato não puder ser conduzido imediatamente ao Juizado Especial Criminal
ou não assumir o compromisso de ali se apresentar, será lavrado o auto de prisão
em flagrante.
Na hipótese de infração penal de menor potencial ofensivo decorrente de aci-
dente de trânsito, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança ao
condutor do veículo que prestar socorro à vitima, nos termos do artigo 301 da Lei
nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro).

10. AUTOR DO FATO

O autor do fato é a pessoa que pratica a infração penal de menor potencial


ofensivo, e que no inquérito policial corresponde ao indiciado. Evidencie-se que o
indiciamento em termo circunstanciado poderá implicar eventual crime de abuso de
autoridade (Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, art. 4º, alíneas b e h). Quanto ao
imediato encaminhamento do autor do fato ao Juizado, na prática isso não ocorre,
pois normalmente ele assume o compromisso de ali comparecer. Em ambos os ca-
sos, deve ele ser cientificado de que, caso não constitua defensor, ser-lhe-á nomeado
um dativo, bem como de seus direitos constitucionais previstos nos incisos LXIII e
LXIV do artigo 5º da Constituição Federal.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

11. VÍTIMA

Vítima é todo aquele que sofre as consequências de uma infração penal. Em


seu artigo 88, a Lei nº 9.099/95 dispõe que, além das hipóteses previstas pelo Código
Penal e pela legislação especial, dependerá de representação a apuração relativa aos
crimes de lesões corporais leves e lesões corporais culposas.
Sem embargo das divergências doutrinárias e jurisprudenciais a respeito do
tema, a representação deve ser oferecida perante a autoridade policial, no prazo de 6
(seis) meses do conhecimento da autoria, sob pena de decadência, devendo a vítima
manifestar-se formalmente.

12. TESTEMUNHAS

A redação do artigo 69, e seu parágrafo único, nenhuma referência faz à tes-
temunha. Com o fim de regular a atuação das Polícias Civil e Militar, o Secretário
da Segurança Pública fez editar a Resolução SSP-353, de 27 de novembro de 1995,
regrando no parágrafo único, de seu artigo 1º, o que segue: “A comunicação prevista
neste artigo, sempre que possível, far-se-á com a apresentação do autor ou autores
do fato, da vítima ou vítimas, e da testemunha ou testemunhas.” Ademais, a Por-
taria DGP-14, de 16 de abril de 1996, instituiu modelos de termo circunstanciado
e de termo de comparecimento para uso da Polícia Civil em casos de incidência
da Lei nº 9.099/95. No modelo inicialmente mencionado, imprimiu-se o vocábulo
testemunha(s), com resumo de sua versão.
Quando da lavratura do termo circunstanciado, recomenda-se que sejam ar-
roladas tantas testemunhas quantas forem necessárias para o esclarecimento da in-
fração penal.

13. PROVAS

Define-se prova, em doutrina, como o conjunto de meios regulares que são


utilizados para a demonstração da verdade ou da falsidade de um fato conhecido,
ou, mesmo para convencer a autoridade da certeza de um ato ou fato jurídico.
A Lei nº 9.099/95, ao cuidar das provas, preconiza que todos os meios moral-
mente legítimos, ainda que não especificados em lei, são hábeis para provar a vera-
cidade dos fatos alegados pelas partes. E determina, também, que todas as provas
serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas
previamente, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, imper-
tinentes ou protelatórias.
Ainda que na fase do Inquérito Policial proceda-se à colheita, e não à produ-
ção de provas, todas aquelas relativas às infrações penais de menor potencial ofen-
sivo serão produzidas em Juízo, segundo determinação do § 1º do artigo 81 da Lei
nº 9.099/95, sendo, portanto, injustificadas e injustificáveis, cotas ministeriais requi-
sitando às autoridades policiais providências no sentido de realizarem acareações,
reconstituições, oitivas e exames periciais.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Ademais, dispõe o artigo 1º do Provimento CG 32/01: “O item 4 do capítulo


das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça passa a ter um subitem
4.1, com a seguinte redação:
“Os termos circunstanciados encaminhados pela Autoridade Policial à uni-
dade judiciária competente, após autuação, serão levados ao conhecimento do Juiz
de Direito, que designará audiência de conciliação, nos moldes dos artigos 69, 72 e
77 da Lei Federal nº 9.099/95. Só depois da realização daquele ato o juízo poderá
examinar providências requeridas pelo Ministério Público, autor do fato, vítima ou
representante civil”.
Assim, na hipótese de diligência requerida e em respeito ao devido processo
legal, deverá a Autoridade Policial instaurar inquérito policial, nos termos do artigo
77, § 2º, c.c. o artigo 66, parágrafo único, da lei em estudo, abstendo-se de realizar
diligências em sede de termos circunstanciados por falta de previsão legal.4

14. OCORRÊNCIAS NÃO COMUNS

Devem ser analisadas as questões de concurso de crimes, crimes de ação penal


privada, ausência das partes, o foro especial por prerrogativa de função e autoria.

14.1 Concurso de crimes

Diante de crimes cometidos em concurso material, ou formal, ou de crime con-


tinuado, previstos nos artigos 69, 70, e 71 do Código Penal, caso a soma das penas
exceda o máximo legal admitido pela Lei nº 9.099/95, fica excluída a competência
dos Juizados Especiais Criminais e a autoridade policial, dependendo das circuns-
tâncias, autuará o agente em flagrante, ou instaurará Inquérito Policial, na esfera de
entendimento do STJ consoante Súmula 243.

14.2 Crimes de Ação Penal Privada

Nos crimes de ação penal privada, o termo circunstanciado somente pode ser
elaborado após manifestação expressa da vítima, nos termos do § 5º do artigo 5º do
Código de Processo Penal.

14.3 Ausência das partes

Independentemente da presença das partes e testemunhas, ainda que a notitia


criminis seja dada por terceiros ou por apenas um dos envolvidos, e, mesmo assim,
se a Autoridade Policial tiver subsídios suficientes para tipificar com segurança a
infração como sendo de menor potencial ofensivo e, ainda, se dispuser de meios

4 ALONSO, Sidney Juarez. Diligências realizadas em termos circunstanciados antes da audi-


ência preliminar - procedimento incompatível com as normas da Corregedoria Geral de Justiça (Prov.
CG32/01). Delegacia de Polícia de Jundiaí - Setor de Carta Precatória. Artigo não publicado.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

para identificar os envolvidos, deverá proceder ao registro do termo circunstancia-


do. A ausência das partes ou do autor do fato não implica, por si só, instauração
de inquérito policial.
A questão da presença das partes, em especial do autor, está atrelada à situa-
ção de flagrância, cabendo à Autoridade Policial decidir sobre o registro do termo
circunstanciado ou a lavratura do auto de prisão em flagrante.
Assim, o art. 69 da Lei 9.099/95 é claro quando estabelece: “A autoridade
policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o
encaminhará imediatamente ao Juizado [...]” (grifo nosso). Portanto, basta tomar
conhecimento da ocorrência e isso pode acontecer até por intermédio de terceiros ou
por documento, independentemente da presença do autor, da vítima ou de testemu-
nhas. Suponha-se, por exemplo, ofício da Autoridade Judiciária comunicando um
crime de desobediência e requisitando as providências de polícia judiciária: trata-se
de infração de menor potencial ofensivo, com autor identificado.
Convém invocar o disposto no art. 92 da Lei nº 9.099/95 que estabelece
serem subsidiárias as disposições do Código de Processo Penal, desde que não
incompatíveis. O código de ritos, por sua vez, no art. 3º, admite a “interpreta-
ção extensiva e aplicação analógica”. Como afirma Miguel Reale (Lições pre-
liminares de Direito, 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 293) a “doutrina tem
vacilado na exposição dos critérios distintivos” entre analogia e interpretação
extensiva e não cabe nos objetivos deste Manual ingressar na discussão. Com o
filósofo, temos que não há “entre elas uma diferença qualitativa, mas de grau,
ou de momento no processo de integração sistemática” (ibid.). E, logo adian-
te, Reale explica o grau de amplitude que há entre uma e outra: [...] podemos
dizer que o pressuposto do processo analógico é  a existência reconhecida de
uma lacuna na lei. Na interpretação extensiva, ao contrário, parte-se da ad-
missão de que a norma existe, sendo suscetível de ser aplicada ao caso, des-
de que estendido o seu entendimento além do que usualmente se faz. (op. cit.,
p. 294)
Portanto, basta estender o entendimento sobre a norma existente (situação
de flagrância) para o caso não expressamente previsto (ausência de situação de fla-
grância) para se adotar a mesma providência de polícia judiciária. A propósito – é
sempre bom lembrar –, tal providência (formalização de termo circunstanciado) é a
que mais atende aos “critérios da oralidade, informalidade, economia processual e
celeridade” nos expressos no art. 62 da lei em tela.
Exigir-se a instauração de inquérito policial para infrações de menor potencial
ofensivo apenas por ausência das partes, seria negar esses critérios e realizar um tra-
balho sem nenhuma utilidade prática, uma vez que, remetido a Juízo, ali não haveria
acanhamento algum para se aplicar a lei de 1995.
Deve, assim, a Autoridade Policial, ao tomar conhecimento de infração de
menor potencial ofensivo quando ausentes quaisquer das partes, registrar o fato
e determinar, de imediato, a oitiva da pessoa que lhe trouxe a informação (salvo,
naturalmente, como no exemplo anterior, a notícia haver sido recebida por es-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

crito). Em seguida, determinar a notificação das demais pessoas e realização de


eventuais perícias. O resultado de tais diligências deverá ser autuado e encami-
nhado ao Juizado Especial Criminal. Trata-se do que muitas unidades policiais
já fazem, adotando o eufemismo “termo circunstanciado indireto”. O registro
inicial pode ser até feito em boletim de ocorrência, que depois integrará os autos
a serem remetidos ao Juizado.
Entretanto, situação diversa haverá diante da constatação de competência do
Juizado Especial Criminal já no curso de inquérito policial instaurado (por exem-
plo: infração de menor potencial ofensivo de autoria desconhecida ou inicialmente
tida por complexa, mas que depois ficou demonstrada não haver elevado grau de
complexidade; ou, inicialmente, noticiava-se crime cuja apuração é obrigatória em
autos de inquérito policial, mas se verifica posteriormente tratar-se de infração de
menor potencial ofensivo).
Nesse caso, não se deve simplesmente remeter o procedimento ao Juizado Es-
pecial Criminal. A Autoridade Policial deverá relatar o inquérito – o que é sua obri-
gação legal (art. 10, § 1º, CPP) – e remetê-lo à Justiça comum, com proposta de ser
encaminhado ao Juizado. Tal cautela é particularmente relevante caso já tenha havi-
do pedido de dilação de prazo no inquérito (o que gera, em consequência, registros
forenses em virtude da distribuição).
Vale ressaltar que será registrado boletim de ocorrência e, conforme o caso,
instaurado inquérito policial se desconhecido for o autor.

14.4 A Lei nº 9.099/95 e o foro especial por prerrogativa de função

A Lei nº 9.099/95 não é aplicável quando as infrações penais de menor po-


tencial ofensivo forem praticadas por titulares de foro especial por prerrogativa de
função, lavrando-se, nesses casos, boletim de ocorrência.
Este entendimento decorre do fato de que só se permite a prisão em flagrante
de tais pessoas se praticarem crimes inafiançáveis. Portanto, nas infrações afiançá-
veis, não se lhes pode impor prisão em flagrante e, assim, incabível a substituição da
prisão pelo termo de compromisso a que se refere a Lei nº 9.099/95. O boletim de
ocorrência lavrado deverá ser encaminhado ao órgão competente para conhecer e
deliberar a respeito da apuração da infração.

14.5 Questões específicas sobre a autoria

Quando a autoria do fato for desconhecida, ou indeterminada, será registra-


do boletim de ocorrência e, eventualmente, instaurado Inquérito Policial. Idêntica
providência deverá ser tomada, se o autor do fato estiver compreendido entre os
agentes descritos no artigo 26, e parágrafo único, do Código Penal, onde se in-
cluem os índios e os surdos-mudos. É recomendável a instauração de Inquérito
Policial quando o autor não falar a língua nacional, salvo se houver possibilidade
de nomeação de intérprete.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

15. CONCLUSÃO

O termo circunstanciado é documento de conteúdo fático e valor jurídico, ins-


trumento de polícia judiciária para registro de infrações penais classificadas como
menor potencial ofensivo, constitui peça indispensável para o conhecimento e julga-
mento por parte do Juizado Especial Criminal e somente pode ser de responsabili-
dade do Delegado de Polícia.

16. MODELOS

Veja, a seguir, os modelos relativos a este capítulo, constantes da Portaria


DGP-14, de 16 de abril de 1996.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 1

TERMO CIRCUNSTANCIADO Nº _____/_____

Data: ____/____/____ Hora do fato: _________ Hora da comunicação: _______


Local:
Natureza da ocorrência:

Ocorrência:
Policial que apresentou a ocorrência:

Autor (es) do fato:


Resumo da versão:

Vítima (s):
Resumo da versão:

Testemunha (s):
Resumo da versão:

Exames periciais requisitados:

Objetos relacionados com os fatos:

Outros dados relevantes:

Data da decadência do direito de ação (se ação penal privada ou pública condicionada à
representação): ____/____/____

Juntem-se informações sobre os antecedentes do(s) autor(es).

Entregue-se cópia a(s) vítima(s) e autor(es), mediante recibo.

Registre-se, Cumpra-se.

_____________, ______ de ______________ de ______

Autoridade _______________________
Policial _______________________
Vítima(s) _______________________
Testemunha(s) _______________________
Autor(es) _______________________
Escrivão(ã) _______________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 2

TERMO DE COMPROMISSO DE COMPARECIMENTO

Aos ______ dias do mês de _____________________ do ano de _______, nesta


Delegacia de Polícia, onde presente se achava o (a) Dr. (a) _________________________,
Delegado (a) de Polícia, comigo, Escrivão (a) de Polícia, de seu cargo, aí compareceu
______________________, o (a) qual, nos termos do artigo 69, parágrafo único, da Lei
nº 9.099/95, e diante do Termo Circunstanciado nº ______/____, lavrado nesta data,
comprometeu-se a comparecer perante o Juizado Especial Criminal competente, situado na
_____________________________________________
(logradouro), (município)

Nada mais havendo a tratar, determinou a Autoridade que se encerrasse o presente


termo que, depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado por todos.

Autoridade _______________________
Compromissado (a) _________________
Escrivão (ã) _______________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 3

REQUISIÇÃO DE EXAME DE CORPO DE DELITO

Unidade Policial requisitante: ________________________________________________________


TC nº ______________________ Livro ______________________ Fls ___________________
Nome do examinando: ___________________________________________________________
(vide qualificação no termo circunstanciado em anexo)

Requisito dos Drs. Médicos Legistas do IML


_____________________________________

situação à ___________________________________________________________________, exame


de corpo de delito, atendendo aos quesistos formulados adiante, na pessoa
supramencionada.
Histórico: _________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________

Local: _______________________________________ Data _____/ _____ / ______

________________________
Delegado(a) de Polícia

LAUDO DE EXAME DE CORPO DE DELITO

Unidade Policial: ____________________________________________________________________


Laudo nº __________________ Livro ________________________ Fls ____________________

Os infra-assinados, peritos oficiais, Médicos Legistas da Superintendência da Polícia


Científica de São Paulo, após realizarem exame de corpo de delito na pessoa supramencionada
e discussão do que foi observado, conforme requisitado e historiado pela autoridade policial,
respondem os seguintes QUESITOS:

A - Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde?


( ) sim
( ) não

B - Tratam-se de lesões:
( ) única ( ) múltiplas

C - Qual o tipo de lesões?


( ) equimose ( ) punctória ( ) pérfuro-incisa ( ) fratura
( ) escoriação ( ) incisa ( ) pérfuro-contusa ( ) outras
( ) hematoma ( ) contusa ( ) corto-contusa

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

D - Qual a localização das lesões?


( ) frontal
( ) parietal
( ) temporal
( ) occipital
( ) ocular
( ) pálpebra
( ) nasal
( ) auricular
( ) labial
( ) cervical
( ) escapular
( ) mamilar
( ) epigástrico
( ) hipocôndrico
( ) flanco
( ) fossa ilíaca
( ) ingüinal
( ) lombar
( ) nádega
( ) anal
( ) ombro
( ) braço
( ) cotovelo
( ) antebraço
( ) punho
( ) mão
( ) coxa
( ) joelho
( ) perna
( ) pé
( ) outras

E - Qual a classificação das lesões?


( ) lesões corporais de natureza leve.
( ) lesões corporais de natureza grave.
( ) lesões corporais de natureza a ser avaliada em exame complementar.

OBS: ___________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
Local: _______________________________________ Data _____/ _____ / ______

________________________ ________________________
Médico Legista Médico Legista

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 4

TERMO DE REPRESENTAÇÃO

Aos _____________________________________________________________ dias do mês


de __________________, do ano de ________________________ (____), às ___:___
horas, nesta Cidade de ____________________________________________, Comarca
de ___________________________, Estado de São Paulo, na sede desta Delegacia,
onde presente se achava o (a) Dr. (a) _________________________________________,
Delegado(a) de Polícia comigo Escrivão (ã) de Polícia de seu cargo, aí compareceu _______
____________________________ qualificado (a) no Termo Circunstanciado nº
________, datado de _____/_____/_____, o qual manifestou à Autoridade Policial o
desejo de representar, na forma prevista da Lei nº 9.099/95, em relação ao (s) autor (es) do
ilícito noticiado no termo já mencionado, aí também qualificado, a fim de que sejam adotadas
as providências, atendendo à condição de procedibilidade. Nada mais havendo, mandou
a Autoridade encerrar o presente termo, que, lido e achado conforme, vai devidamente
assinado.

Autoridade _______________________
Representante _____________________
Escrivão(ã) _______________________

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Capítulo V
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Sumário: 1. Considerações Preliminares; 2. Conceito; 3. Sujeitos da prisão em flagrante;


3.1 – Sujeito ativo; 3.2. Sujeito passivo; 3.2.1 Imunidades absolutas; 3.2.2 Imunidades
relativas; 3.2.2.1 Os Parlamentares; 3.2.2.2 Os Magistrados; 3.2.2.3 Os representantes
do Ministério Público; 3.2.2.4 Os Advogados; 3.2.2.5. Os militares; 3.2.3 Imunidades es-
peciais; 3.2.3.1 Delegados de Polícia e policiais civis; 3.2.3.2 Imunidades decorrentes da
legislação eleitoral; 4. Estado de Flagrância; 4.1 Conceito e generalidades; 4.2 Espécies
de Flagrante; 4.3 Diferenças conceituais: condições de tempo e lugar; 4.4 Apresentação
espontânea do acusado. 4.5 Flagrante nos crimes permanente, habitual e continuado; 5.
Aspectos especiais da prisão em flagrante; 5.1 Prisão efetuada na presença da autorida-
de ou contra ela; 5.2 Prisão em flagrante nos crimes de ação penal pública. 5.3 Prisão
em flagrante nos crimes de ação penal de iniciativa privada; 5.4 Prisão em flagrante nas
infrações de menor potencial ofensivo; 5.5 Prisão em flagrante no crime organizado; 5.6
Prisão em flagrante nos crimes de tráfico de drogas; 6. Documentação; 6.1 Importância;
6.2 Apresentação do preso à autoridade competente; 6.3 Prisão em flagrante com acusa-
do presente; 6.4 Prisão em flagrante de acusado embriagado, enfermo, hospitalizado ou
inconveniente; 6.5 Documentação nos casos de imunidades; 7. Providências posterio-
res à lavratura do flagrante; 7.1 Insubsistência ou relaxamento da prisão; 7.2 Fundada
suspeita na prisão propriamente dita; 7.3 Nota de culpa: natureza jurídica. 7.4 A Co-
municação da prisão; 8. Prisão Preventiva; 9. Liberdade provisória; 9.1 Considerações
iniciais; 9.2 Liberdade Provisória – Fiança 10. Conclusão.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A prisão em flagrante, com a edição da Lei nº. 12.403, de 4 de maio de 2011,


passou a ter nova dimensão em face da reforma processual
A partir da alteração do Título IX do Código de Processo Penal – Da Prisão,
das Medidas Cautelares e da Liberdade Provisória – o instituto da prisão em fla-
grante deve ser examinado, nestes estudos, sob a ótica da reforma legislativa. Obri-
gatoriamente, tendo como fundamento os dispositivos constitucionais relativos à
prisão, especificamente o artigo 5º em seus incisos LXI e LXVI, de que “ninguém
será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da au-
toridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei” e que “ninguém será levado à prisão ou nela
mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”.
Este capítulo tratará a respeito da prisão e da liberdade provisória, devendo
abranger, no que for cabível, os institutos da prisão preventiva e da fiança, esta como
espécie de medida cautelar diversa da prisão.
Embora o destaque principal esteja relacionado à prisão em flagrante como
uma das principais atividades da Polícia Civil no exercício de polícia judiciária,

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

pretende-se analisar as questões relacionadas a captura de personalidades que go-


zam de privilégios em razão de normas constitucionais e de Direito Internacional, a
situação especialíssima das chamadas infrações penais de menor potencial ofensivo
dos crimes de médio e elevado potencial ofensivo, da legislação sobre crimes de
drogas, do crime organizado, e os crimes definidos como hediondos, tendo em vista
a questão da fiança criminal.

2. CONCEITO

A prisão em flagrante é, genericamente, medida cautelar de natureza proces­


sual passível de se efetivar quando a infração penal está sendo perpetrada.
Não sendo pacífica a doutrina quanto à natureza jurídica da prisão em fla-
grante, alguns doutrinadores e, entre eles, Tales Castelo Branco, entendem ser “uma
das modalidades da prisão penal cautelar administrativa”1.
Efetivamente trata-se de uma medida que restringe a liberdade que constitui
uma medida cautelar do Estado e, por estar definida em legislação especial, pode ser
considerada como de natureza processual, conforme a opinião de Tourinho Filho.2
Tratando-se de medida excepcional em que se identifica a auto defesa estatal,
pode-se entender por flagrante o que está ocorrendo e, segundo o ensinamento de
Hélio Tornaghi, “flagrância sugere, em primeiro lugar, atualidade e, em segundo,
evidência. Diz-se que é flagrante não só o que é atual mas ainda o que é patente,
inequívoco”.3
A prisão em flagrante ocorre quando o autor, cometendo um ilícito penal é
surpreendido na sua prática ou logo após, correspondendo essa forma de captura à
melhor e mais eloquente prova de autoria de um crime.
A prisão em flagrante, cujo termo mais adequado seria captura em flagrante,
pode ocorrer em qualquer tipo de infração penal, ou seja, nos crimes de ação penal
pública, condicionada ou não, nos de ação penal de iniciativa privada, nas con-
travenções penais e nas chamadas infrações penais permanentes, habituais e conti­
nuadas.
Ressalte-se, ainda, ser admissível a captura em flagrante, com a respectiva la-
vratura do auto, de autor de ilícitos chamados de menor potencial ofensivo (Lei n.º
9.099/95), bem como o que pratica infração definida como “crime de trânsito. (Lei
n.º 9.503/97)
A prisão em flagrante, como modalidade instauradora de inquérito policial,
está prevista nos artigos 301 a 310 do CPP.

1 CASTELO BRANCO, Tales. Da Prisão em Flagrante, 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p;13
2 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, 21.ª ed, 3º v. São Paulo: Saraiva
1999
3 TORNAGHI, Hélio. Manual de Processo Penal –Prisão e Liberdade. 21ª ed. Rio de Janeiro-
Forense- 1963, p. 468

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3. SUJEITOS DA PRISÃO EM FLAGRANTE

Impõe-se analisar os sujeitos ativos e passivos da captura, as imunidades abso-


lutas, relativas e especiais.

3.1 Sujeito ativo

A real importância da prisão em flagrante é possibilitar, não só a imediata e


certa identificação do autor de um fato delituoso, mas, principalmente, fixar o papel
que deve ter o Estado na manutenção da ordem pública, no respeito à dignidade do
cidadão e na efetiva atuação no combate à criminalidade.
Indica Hélio Tornaghi existir, na prisão em flagrante, três importantes efeitos:
“1) a exemplaridade: serve de advertência aos maus; 2) a satisfação: restitui a tran-
qüilidade aos bons; 3) o prestígio: restaura a confiança na Lei, na Ordem jurídica
e na autoridade”.4
Visando a atender esses três efeitos, o Estado, na defesa de sua própria existên-
cia e no interesse da manutenção da ordem, da segurança e da tranquilidade, exerce,
imediata e exemplarmente, sua principal finalidade, fazendo com que o autor da
infração penal, ainda mesmo antes da sentença condenatória, responda pelo ato que
praticou. Descoberto no ato de sua realização e sua captura em flagrante pode ser
realizada por agentes do próprio Estado ou por qualquer do povo.
Desta forma, são considerados sujeitos ativos os que efetuam a prisão em fla-
grante que de acordo com o artigo 301 do CPP, podem se apresentar na seguinte
conformidade:
a) compulsoriamente são obrigados a efetuar a captura de quem está prati-
cando ilícito penal e, portanto, em estado de flagrância as autoridades poli-
ciais e agentes da autoridade policial.
b) facultativamente os que podem efetuar, ou como vítima, ou como
testemunha, os servidores públicos ou, qualquer do povo, a prisão de quem
está em estado de flagrância. São todos os demais não classificados na letra
anterior.
O dever jurídico, para a prisão em flagrante, é imposto à autoridade policial
e seus agentes que estão obrigados a capturar em flagrante todo aquele que esteja
praticando um crime, sob pena de incorrer em sanção penal e administrativa.
O legislador, ao referir-se, no artigo 301 do CPP, à autoridade policial, quis,
claramente, identificar o Delegado de Polícia, conforme doutrina de Vicente Ráo,
Frederico Marques e Hélio Tornaghi, como sendo a única autoridade que tem a
obrigatoriedade da captura em flagrante de qualquer autor de ilícito penal.5

4 TORNAGHI, Helio. op cit. P. 471


5 RÁO, Vicente. MARQUES, José Frederico. TORNAGHI, Helio. Pareceres a respeito do con-
ceito de Autoridade Policial, 1969.ADPESP

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Todos os demais servidores públicos, à exceção dos agentes policiais, nestes


incluídos os policiais militares, os peritos criminais, os médicos legistas e outros in-
tegrantes de carreiras policiais, na realização de captura em flagrante, podem, como
qualquer do povo, efetuar a prisão.
Entende-se que o magistrado, o promotor de justiça, os servidores da justiça,
principalmente o oficial de justiça e os guardas municipais estão classificados como
sujeitos ativos da captura em flagrante como aqueles que agem facultativamente.
Essa regra não se aplica ao magistrado nas hipóteses em que o fato infracional
seja praticado em sua presença ou mesmo contra ele, conforme disposição do artigo
307 do CPP.
Pouco importando quem seja o sujeito ativo da captura em flagrante, ou seja,
a autoridade policial, seus agentes ou qualquer do povo, a materialização do ato de
captura deve ocorrer através da “voz de prisão”.

3.2 Sujeito Passivo

Sujeito passivo da prisão em flagrante é todo aquele que, surpreendido na exe-


cução de uma infração penal, recebe a imediata repressão do Estado, através de
restrição da sua liberdade.
O sujeito passivo da prisão em flagrante é, efetivamente chamado de conduzi-
do, pois, ao ser preso e receber a voz de prisão, é conduzido, à presença da autori-
dade policial.
Outras denominações podem ser atribuídas àquele que foi capturado em fla-
grante: acusado, preso, réu, agente, autuado, indiciado e detento. Todas essas deno-
minações levam em conta que o sujeito passivo é, efetivamente, autor de um fato.
Em princípio, qualquer pessoa que seja encontrada em flagrante delito é sujei-
to passivo da prisão, conforme estatui o artigo 301 do CPP.
A regra a respeito apresenta exceções e estas podem ser classificadas como
imunidades absolutas, imunidades relativas e imunidades especiais.

3.2.1 Imunidades Absolutas

Entende-se como imunidade absoluta aquela em que, em razão da prerrogativa


de função e não de privilégio pessoal, não pode haver a prisão.
O direito pátrio, em obediência a preceitos de Direito Internacional, reconhece
não ser admissível, em qualquer hipótese, a prisão em flagrante de representantes
diplomáticos, dos funcionários do corpo diplomático e seus familiares, desde que
convivam sob a dependência daqueles, conforme interpretação do disposto no in-
ciso I do artigo 1º do Código de Processo Penal e posicionamento de Damásio de
Jesus e Sérgio Pitombo.6

6 JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal – Parte Geral, 1º v. 20ª. São Paulo:Saraiva,
1997, p.138.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Interessante fazer constar, neste capítulo, texto extraído do livro “Inquérito


Policial – Novas Tendências”, de Sérgio Pitombo, a respeito de fatos praticados por
pessoal diplomático, e que está assim redigido: “Pode suceder que, tais pessoas se-
jam encontradas em estado de flagrância, ou se tornem perigosas à segurança pú-
blica, recomendando-se, conforme o caso, a mantença sob custódia, até deixarem o
território nacional” 7
A Constituição Federal, ao tratar a respeito de crime comum praticado pelo
Presidente da República, estatui, em seu art. 86 § 3º, o Chefe do Poder Executivo,
enquanto não sobrevier sentença condenatória, não estará sujeito à prisão e, por-
tanto, não pode ser preso em flagrante.
A Constituição do Estado de São Paulo, no § 5º do art. 49, reconhece ter o
Governador o a mesma espécie de imunidade, dispondo que, “enquanto não sobre-
vier a sentença condenatória transitada em julgado, nas infrações penais comuns, o
Governador não estará sujeito a prisão”.8

3.2.2 Imunidades relativas

A Constituição Federal, o Código de Processo Penal, a Lei Orgânica da Ma-


gistratura, a Lei Orgânica do Ministério Público, o Estatuto da Ordem dos Advo-
gados e o Estatuto dos Militares, reconhecem haver, no caso de prisão em flagrante,
espécies de imunidades que são chamadas relativas, pois não impedem a prisão,
porém, estabelecem certos parâmetros para a sua realização.
Determinadas pessoas, em decorrência de prerrogativas de suas funções e não
de privilégios pessoais, só podem ser presas em flagrante delito quando praticam
crimes inafiançáveis. São sujeitos passivos especiais.

3.2.2.1 Os parlamentares

Os parlamentares brasileiros, incluindo-se não só os Senadores e Deputados


Federais, mas também os Deputados Estaduais, por força do que dispõem os artigos
53 §§ 1º e 3º e 27 § 1º da Carta Magna, gozam de privilégios em razão da função que
exercem, não só pelos atos praticados em razão do mandato eletivo, mas, também,
pela sua conduta fora das casas do Congresso Nacional ou Assembleias Legislativas.
A imunidade não impede que o parlamentar, na prática de crime comum, pos-
sa ser preso em flagrante, porém, estabelece certos requisitos e formalidades. Daí
denominar-se essa imunidade como relativa.
A Constituição Federal é que fixa e estabelece os requisitos para a prisão em
flagrante, de crimes inafiançáveis, de Senadores, Deputados Federais e Deputados

7 PITOMBO, Sérgio M. de Moraes. Inquérito Policial – Novas Tendências, Parã: Editora


CEJUP, 1987
8 Texto extraído do livro de Sérgio M. de Moraes Pitombo que cita Guido Fernando da Silva
Soares, - Das Imunidades de Jurisdição e Execução”, Rio de Janeiro: Forense, 1984, p. 54.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Estaduais, e, desta forma, ocorrendo a prisão em flagrante de parlamentar, deve-se


observar, preliminarmente, se se trata de crime afiançável ou inafiançável.
Na primeira hipótese, a prisão não pode se efetivar, mesmo configurado o es-
tado de flagrância.
Tratando-se de crime inafiançável e estando preenchidas as exigências identifi-
cadoras do estado de flagrância, deverá o parlamentar, ser preso em flagrante e sua
prisão ser submetida à apreciação da Casa parlamentar que pertença.
Os Vereadores e Prefeitos Municipais não gozam de qualquer imunidade.

3.2.2.2 Os Magistrados

As imunidades, também relativas, dos integrantes do Poder Judiciário, estão


definidas em legislação infra-constitucional conhecida como Lei Orgânica da Ma-
gistratura Nacional, Lei Complementar n.º 35, de14 de março de 1979.
Igualmente como ocorre com o parlamentar, o magistrado não pode ser preso
sem ser por ordem escrita do Tribunal ou órgão especial competente para o seu
julgamento.
O Estatuto dos Magistrados não veda a prisão de integrante de sua instituição,
porém, estabelece que esta só pode se efetivar nas hipóteses de flagrante de crime
inafiançável, conforme disposição do art. 33, inciso II da legislação comentada.
Decorre dessa regra, que, estando o magistrado praticando crime inafiançável
e preenchidos os requisitos do respectivo estado de flagrância, devem as autoridades
policiais e seus agentes ou qualquer do povo prender em flagrante o membro do
Poder Judiciário.

3.2.2.3 Os representantes do Ministério Público

As imunidades dos representantes do Ministério Público estão reguladas em


legislações especificas para os pertencentes ao Ministério Público da União, Lei
Complementar n.º 75, de 20 de março de 1993 e ao Ministério Público dos Estados
Lei n.º 8.625, de 12 de fevereiro de 1993.
A questão relativa à prisão do representante do Ministério Público é tratada
de modo uniforme, variando, apenas, a questão relativa à informação que deva ser
prestada ao chefe da instituição.
Igualmente como ocorre com os integrantes do Poder Judiciário, o membro do
Ministério Público só pode ser preso em flagrante quando estiver praticando crime
inafiançável, conforme conceituação estabelecida no artigo 302 do CPP.

3.2.2.4 Os Advogados

O exercício profissional do advogado vem definido no Estatuto da Advocacia


e da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB - Lei n.º 8.906, de 04 de julho de 1994.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A posição do advogado, quando da prática de infração penal, deve ser anali-


sada sob o seguinte aspecto:
1) o advogado, como cidadão comum, prática infrações penais;
2) o advogado, no exercício profissional, em razão dessa qualidade, pratica
crimes;
No primeiro caso, preenchidos os pré-requisitos do estado de flagrância, deve
o advogado ser preso e autuado, sem gozar de qualquer privilégio.
No segundo caso, o advogado só pode ser preso em flagrante se o crime por ele
praticado é inafiançável e o fato tenha “por motivo de exercício da profissão”, nos
termos do art. 7º § 3º do Estatuto da Ordem dos Advogados.

3.2.2.5 Os militares

O militar das Forças Armadas ou forças auxiliares e reserva do exército, praça


ou oficial, não goza, em princípio, de qualquer imunidade ou privilégio quando da
prática infração penal.
A prisão do militar vem regulada em estatuto próprio, (Lei n.º 6.880, de 9 de
dezembro de 1980), e esta só pode ocorrer em caso de flagrante delito. A autoridade
policial deve providenciar as medidas necessárias para que, em cumprimento ao
disposto no parágrafo único do art.309 deste Código, “o militar preso em flagrante
delito, após a lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da insti-
tuição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autoridades competentes”
Embora não necessária, é aconselhável que, quando da prisão de militar, os
atos de polícia judiciária sejam assistidos, sem qualquer interferência, por oficiais
das respectivas forças.

3.2.3 Imunidades especiais

3.2.3.1 Delegados de Polícia e policiais civis

Não prevê a legislação processual ou a legislação administrativa a existência


de qualquer espécie de imunidade quando da prisão em flagrante de Delegado de
Polícia, tanto nos crimes em razão de função ou como infrações penais comuns.
Entretanto, não há qualquer impedimento na adoção de uma sistemática que
possibilite o Delegado de Polícia ser adequadamente assistido por seus pares.
Sugere-se, que nas hipóteses de prisão em flagrante, o Delegado de Polícia seja
assistido por um Delegado de Polícia, se possível, de classe superior à sua classe,
indicado pela Associação ou Sindicato dos Delegados de Polícia, ou, mesmo, de
autoridade policial indicada por seu superior hierárquico.
Em nome do princípio hierárquico, a presidência do respectivo auto de prisão
em flagrante deve ser reservada ao Delegado de Polícia de classe superior ao do
autuado.
As regras estabelecidas para os Delegados de Polícia devem ser aplicadas,
quando cabíveis, aos demais integrantes da Polícia Civil.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

3.2.3.2 Imunidades decorrentes da legislação eleitoral:

A legislação eleitoral prevê as seguintes espécies de imunidades relacionadas a


eleição: a) o candidato; b) o simplesmente eleitor; c) o membro da mesa receptora
de votos; d) e fiscais ou delegados de partido. (Código Eleitoral – Lei n.º 4.737/65).
O candidato regularmente registrado, 15 (quinze) dias antes das eleições, pode
ser preso apenas em flagrante delito ou em razão de mandado de prisão por crime
inafiançável.
O eleitor, no prazo compreendido entre 05 (cinco) dias antes das eleições e 48
(quarenta e oito) horas após o pleito, só pode ser preso em flagrante afiançável ou
inafiançável.
Os membros da mesa receptora, os delegados e fiscais de partido, durante o
processo de votação e no exercício de suas funções, não poderão ser presos, salvo
em flagrante.

4. ESTADO DE FLAGRÂNCIA

4.1 Conceito e generalidades

A fixação do estado de flagrância obedece, em primeiro lugar, ao seu conceito


básico de que o delito flagrante é aquele que está acontecendo e o seu autor é aquele
que está realizando a conduta criminosa.
Não se pode, entretanto, esquecer-se de que, embora o crime já tenha sido co-
metido, ainda existem sinais evidentes de sua ocorrência e certeza de autoria.
Em razão dessa inequívoca situação, costumam os doutrinadores e, mesmo a
legislação comparada, estabelecer, para o flagrante formas que variam desde o efeti-
vo acontecimento chamado real ou flagrante propriamente dito até uma ficção e que
pode ser chamada de quase flagrante.
Importante, para efeito de melhor entendimento a respeito do conceito de fla-
grante, é citar o posicionamento do legislador francês que no, Code de Procédure
Penále no art. 53, assim se expressa: “Classifica-se como crime ou delito flagrante
o crime ou delito que está sendo cometido ou acaba de ser praticado. Há também
crime ou delito flagrante quando em tempo bem vizinho ao da infração a pessoa
suspeita é perseguida pelo clamor público...”.9

4.2 Espécies de flagrante

O legislador brasileiro não olvidou em adotar essa mesma posição e, em razão


do exposto, pode-se afirmar que o estado de flagrância pode ser assim classificado:
1) flagrante real ou verdadeiro;
2) quase-flagrante, também chamado de ficto ou presumido.

9 TORNAGHI, Helio. op. Cit. P. 145

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Entende-se como flagrante real ou flagrante propriamente dito o previsto nos


inciso I do art. 302 do Código de Processo Penal, ou seja, a captura de quem “está
cometendo a infração penal”.
Por sua vez, chama-se quase flagrante ou ficto ou ainda presumido, as hipóte-
ses dos incisos II, III e IV do mesmo art. 302, pois não há, propriamente, flagrante
mas a lei assim o considera.
O processualista Hélio Tornaghi, adotando essa distinção, demonstra haver
traço comum nas hipóteses de quase-flagrância, ao estabelecer em seu Manual de
Processo Penal, que “os casos dos nºs. II, III e IV se assemelham num ponto, aliás
negativo: em todos eles o crime já foi cometido”.10
Prossegue, ainda, o citado autor: “Insisto em que todos são casos de quase-
flagrância ou de ficção de flagrância, não havendo razão para limitar a qualificação
de quase-flagrante ao primeiro e de flagrante ficto aos outros: a palavra latina quasi
não tem nenhum sentido temporal”
Pode-se afirmar que flagrante, no seu verdadeiro termo e conteúdo, só é aquele
momento em que o autor de um fato delituoso, compreendido em todas as suas ex-
pressões, é surpreendido e apanhado na prática do fato, ou seja, está na posição de
“quem está cometendo a infração penal” (inciso I do art. 302 CPP).
Tradicionalmente o nosso Direito e, também, o Direito Comparado, reconhe-
cem haver, em outra situação, a configuração do estado de flagrância, embora não
esteja o sujeito passivo da captura sendo surpreendido na prática do fato criminoso,
mas, por assimilação, pode entender-se em situação real de flagrante.
Entende-se, também, em flagrante e, portanto, preenchendo os requisitos do
flagrante propriamente dito, o momento logo após a realização do fato quando o
seu autor é surpreendido, conforme linguagem, do nosso inciso II do artigo 302,
“acaba de cometê-la”, ou seja, acaba de ter cometido o fato delituoso, numa situa-
ção mais comum de ocorrência do que o primeiro.
A respeito assim se manifesta Tales Castelo Branco, no livro “Da Prisão em
Flagrante”,: “Assim, o momento da infração penal, na prática, em relação ao fla-
grante próprio, passou a ser considerado: 1º - concomitante, isto é, apesar de já
caracterizada a infração penal, o delinqüente ainda é encontrado na prática de
atos constitutivos do mesmo: por exemplo, o caso de lesões corporais em que o de-
linquente, não obstante já ter ferido a vítima, continua ainda a vibrar-lhe golpes;
2º - imediatamente posterior à prática do delito, ou seja, o delinquente é apanhado
no momento em que acaba de praticar o crime e se resolve a fugir ou retirar-se do
lugar do delito”.11
A quase flagrância pode ser identificada nas hipóteses previstas nos incisos III
e IV do art. 302 do CPP.
Para Hélio Tornaghi, essa conceituação pode ser exposta da seguinte forma:
“há uma presunção de autoria e uma ficção de flagrante”, o que representa, com

10 TORNAGHI, Helio, op.cit. p. 475


11 CASTELO BRANCO, Tales. Op. Cit. P. 42

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toda clareza, as condições relacionadas à perseguição do autor da infração e o en-


contro, em poder do acusado, de objetos, coisas, materiais que façam presumir ser o
mesmo o autor de um fato ocorrido recentemente.12
Torna-se evidente que, por razões de ordem pública e de defesa dos interesses
sociais, o legislador, como já o faz o Direito Comparado, ampliasse o conceito de
flagrante, identificando-o como quase flagrante.
O inciso III do art. 302 diz haver flagrante quando o autor de um fato delituoso
foi preso porque “é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da infração”.
As discussões doutrinárias e mesmo jurisprudenciais a respeito do conceito de
perseguição possibilitam estabelecer o seu verdadeiro conteúdo, hoje bem diverso
daquele quando o Código foi promulgado
A conceituação de perseguição pode ser fundamentada em dispositivos do
próprio Código de Processo Penal, pois o § 1º do art. 290 permite esclarecer o seu
significado.
Assim, “entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando: a)
tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha per-
dido de vista; b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu tenha
passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar em que o procure, for
no seu encalço”.
A perseguição deve ser continua, porém, não há tempo limitado para a sua
duração.
Frequentemente observa-se, no cotidiano, certa confusão a respeito da dura-
ção do período de perseguição, porém, não se pode olvidar que, obedecido o precei-
to do art. 290, a captura em flagrante pode ocorrer em qualquer momento, mesmo
decorridos dias e até semanas.
Modernamente o conceito de perseguição sofreu profundas modificações,
principalmente, levando-se em conta o progresso técnico científico das comunica-
ções através do rádio e do computador.
Prisões em flagrante têm sido realizadas por meio de perseguição, constante
e ininterrupta feitas pelos modernos sistemas de comunicação e essas prisões são
baseadas em dispositivos que autorizam o reconhecimento do quase flagrante.
Dispensou o legislador, para justificar a prisão através da perseguição, o cha-
mado clamor público, pois não há necessidade de gritos, alarido, palavras ou, mes-
mo agressões, para que a autoridade policial, os seus agentes, a vítima, testemunhas
ou qualquer do povo, possam, sem ferir as normas legais, efetuar captura daquele
que foi perseguido logo depois dos fatos delituosos.
A segunda modalidade de quase flagrante está prevista no inciso IV do art. 302
do diploma processual ora comentado.
Diferentemente da perseguição, que deve iniciar-se logo após o fato delituo-
so, o legislador, repetindo dispositivos previstos em legislação anterior e no Direito
Comparado, apresenta uma modalidade de captura em flagrante onde o capturado

12 TORNAGHI, Helio. op cit. P. 473 e 477.

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“é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papeis que façam
presumir ser ele autor da infração”.
A dificuldade apresentada para o reconhecimento dessa modalidade de prisão
refere-se à presunção de autoria, pois, o passar do tempo pode ser, efetivamente, o
elemento suficiente para não haver indicação certa de autoria.

4.3 Diferenças conceituais: condições de tempo e de lugar

A captura em flagrante pode ocorrer em quatro situações, o que identifica o


chamado flagrante real ou verdadeiro e flagrante ficto ou presumido.
A diferença entre essas modalidades apresenta-se no tempo e mesmo no lugar.
A captura realizada quando o fato está sendo praticado ou logo após a
sua prática, não traz qualquer dúvida quanto ao seu momento e local de sua
efetivação.
As diferenças podem surgir, e não raro isso ocorre, quando a prisão decorre de
perseguição do acusado ou do encontro, em seu poder, de objetos que façam presu-
mir ser o mesmo autor de um delito.
Em ambas as situações, a questão da autoria deve ser definida no âmbito
da presunção, porém, variam as condições de tempo e lugar, quer se trate de perse-
guição ou de mero encontro, conforme disposição dos incisos III e IV do art. 302
do CPP.

4.4 Apresentação espontânea do acusado

A reforma dos dispositivos relacionados à “Prisão, Das Medidas Cautelares e


da Liberdade Provisória” (Lei nº 12.403/2011) procedeu a uma alteração no artigo
317 que, anteriormente, tratava de “Apresentação espontânea do acusado”.
À vista de ter os artigos 317 e 318 fazendo desaparecer os dispositivos relacio-
nados, o jurista e Delegado de Policia Eduardo Cabette apresenta estudo a respeito
do tema “O advento da reforma do Código de Processo Penal pela Lei nº 12.403/11
e o destino da apresentação espontânea do acusado”.
Indaga o articulista:
“Mas e quando a Prisão em Flagrante diante de uma apresentação espontânea
estará ela não somente permitida como também determinada pela lei devido à extin-
ção do trato legal do tema apresentação espontânea do acusado?
Neste ponto a resposta também é negativa. Com ou sem a redação original do
artigo 317, CPP, é impossível a Prisão em Flagrante daquele que se apresenta espon-
taneamente à autoridade. Aliás, o artigo 317, CPP jamais fez menção expressa ao
flagrante. Na realidade, o que impedia (e ainda impede) a “prisão em flagrante por
apresentação espontânea” era (e continua sendo) a contradição que tal expressão
traz em si mesma. Ora, se há “prisão” não há “apresentação espontânea” e se há esta
segunda não pode haver “prisão”, as expressões são incompatíveis e excludentes,
não por força da lei, mas devido às mais comezinhas regras de lógica, já que algo

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não pode ser e não ser ao mesmo tempo. Essa lição remonta a Aristóteles e se refere
ao denominado “Princípio da Contradição” (Nada pode ser e não ser simultanea-
mente) ou a pessoa é presa ou se apresenta”.13

4.5 Flagrante nos crimes permanente, habitual e continuado

Os crimes permanentes, segundo o ensinamento de Damásio E. de Jesus, “são


os que causam uma situação danosa ou perigosa que se prolonga no tempo. O mo-
mento consumativo se prostrai no tempo...”.
Obediente a essa doutrina, o legislador processual reconhece existir o estado
de flagrância enquanto perdurar a permanência, ou seja, enquanto a situação dano-
sa ou perigosa prolongar-se no tempo. 14
Estatui o artigo 303 da legislação processual penal que, “nas infrações perma-
nentes, entende-se o sujeito em flagrante delito enquanto não cessar a permanên-
cia”, acrescentando Mirabete que ”não se contesta a situação de flagrância nessas
hipóteses, inclusive quanto ao crime de quadrilha, em ação de transportes de coisas
subtraídas, de receptação dolosa por ocultação, de depósito de substância entorpe-
cente, ocultação de cadáver, etc.”15
Não é pacífica a doutrina quanto à validade do flagrante na hipótese ora co-
mentada.
Hélio Tornaghi, criticando o instituto, diz ser o mesmo inconveniente e que
somente para o Direito Penal há interesse nessa classificação. 16
Discordando do posicionamento de Tornaghi, deve-se entender que, nas hipó-
teses evidenciadas por Mirabete, a prisão em flagrante é indispensável e justifica-se,
inclusive, pela necessidade da captura de um delinqüente enquanto está cometendo
um crime, conforme estipula o inciso I do artigo 302.
No crime habitual, embora saliente-se a dificuldade de “prova da reiteração
de atos que traduzam o comportamento criminoso, ou seja, a habitualidade”, no
entender de Mirabete, a prisão em flagrante é perfeitamente possível e realizável.
Em tempos passados, para a comprovação de habitualidade, principalmente
nos crimes de casa de prostituição e na contravenção penal de vadiagem, utilizava a
Polícia, como praxe, a realização de uma sindicância prévia, a fim de comprovação
da reiterada prática infracional. Essa medida preliminar deixou de ser exigida, con-
forme disposição da Portaria DGP- de 15-10-83, e que é citada pelo processualista
Mirabete.17

13 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. O advento da reforma do Código de Processo Penal pela
Lei nº 12.403/11 e o destino da apresentação espontânea do acusado. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n.
2676, 17 de maio de 2011. Disponível em Jus Navigandi http:jus.uol.com.br – Acesso em 29.05.2011.
14 JESUS, Damásio E.de, Op.cit. p.191/192.
15 MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal, 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 374
16 TORNAGHI, Helio. Op. cit. P. 480
17 MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. Cit. 374

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Nos crimes habituais, a prisão em flagrante é perfeitamente admissível, ca-


bendo à autoridade policial, ao documentar essa restrição da liberdade, coletar
todas as provas necessárias que indicam a reiteração dos atos que identificam o
tipo delituoso.
Tendo como exemplo o crime de casa de prostituição, cujo tipo descreve a
conduta através do verbo “manter”, a prisão em flagrante tem como fundamento o
disposto no inciso I do artigo 302, pois a cessação do último ato da habitualidade
ocorre com a prisão em flagrante.
A questão do crime continuado não deve ser analisada à luz de seu conceito
definido no Código Penal, para efeito de aplicação da pena, muito embora se possa
afirmar que “o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e
outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do pri-
meiro”, nos termos do art. 71 do Código Penal.
Desta forma, o que deve ser discutido e exposto é a multiplicidade de ações
que, isoladamente, corresponde a um único crime.
Tales Castelo Branco, após exemplificar o crime continuado como aquele pra-
ticado pelo agente que, diariamente, subtrai bombons de uma caixa, “ em lugar de
levar a caixa (o que seria crime simples) , cada dia leva um bombom”, justifica a
prisão em flagrante em qualquer momento dessa continuidade.18
A legislação vigente, seguindo regras fixadas nos extintos códigos estaduais,
estabelece, como forma especial de estado de flagrância, a captura de autor de fato
praticado na presença de autoridade ou contra ela no exercício de suas funções.

5. ASPECTOS ESPECIAIS DA PRISÃO EM FLAGRANTE

A legislação vigente, seguindo regras fixadas nos extintos códigos estaduais,


estabelece, como forma especial de estado de flagrância, a captura de autor do fato
praticado na presença de autoridade ou contra ela no exercício de suas funções.

5.1 Prisão efetuada na presença da Autoridade ou contra ela

O artigo 307 do Código de Processo Penal estabelece o seguinte: “Quando o


fato for praticado em presença da autoridade, ou contra esta, no exercício de suas
funções, constarão do auto a narração desse fato, a voz de prisão, as declarações
que fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado pela au-
toridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imediatamente ao juiz a quem
couber tomar conhecimento do fato delituoso, se não o for a autoridade que houver
presidido o auto”.
O modelo adotado revela haver, no reconhecimento do estado de flagrância,
uma nova forma de voz de prisão, contra quem está cometendo um crime, denomi-

18 CASTELO BRANCO, Tales. Op cit. p. 80

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nação essa tomada como gênero, dada pela própria autoridade, quando o fato ocor-
re em sua presença ou contra ela no exercício de suas funções. Esse modelo identifica
um segundo rito procedimental na prisão em flagrante.
O rito procedimental, no caso, se apresenta com outras exigências formais: a)
a voz de prisão é dada pela própria autoridade; b) a documentação da captura pode
ser presidida pela própria autoridade, se esta tem atribuições conferidas pela lei
para tanto; c) não havendo a figura do condutor, a autoridade relata, no respectivo
auto, a sua condição, a competência para presidir o feito, a voz de prisão, os fatos
acontecidos e a classificação do ilícito penal infringido; d) a declaração do acusado
deve ser obtida neste ato, respeitando-se o seu direito ao silêncio; e) as testemunhas
devem prestar depoimentos ao final do auto que será assinado por todos os que
participaram da sua elaboração.
Deve-se frisar que, adotando a autoridade este rito procedimental, o respectivo
auto de flagrante, após autuação e registro, deve ser imediatamente, sem a realização
de qualquer outra providência, além do relatório do Delegado de Polícia, encami-
nhado à autoridade judiciária competente, dispensando-se a comunicação de rotina
porque o envio dos autos supre essa exigência constitucional.
Não deve a autoridade que preside o auto de flagrante omitir-se, nos casos
admitidos, de examinar a questão da liberdade provisória, com ou sem fiança.
As autoridades, para presidir a lavratura de flagrante nas hipóteses aqui co-
mentadas, podem ser: 1) O Delegado de Polícia regularmente investido nas funções
de titular responsável pela apuração das infrações penais e sua autoria, conforme
disposição do art. 144 § 4º, da Constituição Federal e art. 4º do CPP; 2) O Juiz de
Direito que tenha qualidade e competência para processar o preso.
A prisão em flagrante, como a definida no artigo 307, segundo Tales Castelo
Branco, não é, necessariamente, presidida pela autoridade, policial ou judiciária,
que tenha efetuado a captura.19
Embora a legislação processual penal confira esse poder à autoridade, entende
Tales Castelo Branco que “nada impede que, mesmo a autoridade que tenha qua-
lidade para fazê-lo, decline dessa atribuição encaminhando o preso à autoridade
policial competente”.20
Efetivamente, até por questões da livre tramitação do inquérito policial instau-
rado em razão da prisão em flagrante, pode a autoridade policial, quando da voz de
prisão a algum autor de ilícito penal, especialmente quando o fato ocorra em sua
presença, ou mesmo contra ela, na condição de vítima de desacato, por exemplo,
conduzir o preso à presença de outro Delegado de Polícia para a lavratura do res-
pectivo auto, servindo como condutor.

19 CASTELO BRANCO, Tales. Op. Cit. P. 80


20 CASTELO BRANCO, Tales. Op. Cit. P. 80

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5.2 Prisão em flagrante nos crimes de ação penal pública

Textualmente estabelece o art. 5°. do CPP que, para a instauração do inquérito


policial, deve a autoridade policial reconhecer a natureza da infração e identificar a
ação penal cabível para as providências necessárias de polícia judiciária.
Considerando-se que a prisão em flagrante é uma das modalidades de instau-
ração de inquérito policial, a autoridade policial, obediente aos princípios da obri-
gatoriedade e da oficialidade, tão logo tenha conhecimento da ocorrência deve, de
imediato, verificar a natureza da ação penal pública, ou seja, se esta é incondiciona-
da ou depende de condição especial de procedibilidade: representação do ofendido
ou seu representante legal ou requisição do Ministro da Justiça.
Tratando-se de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial, to-
mando conhecimento da infração penal através da captura em flagrante de seu indi-
gitado autor, obrigatoriamente deve, reconhecendo preenchidos os requisitos legais
do estado de flagrância, instaurar o respectivo procedimento criminal através de
auto de prisão em flagrante.
A instauração do inquérito policial, através da prisão em flagrante, tratando-
-se de crime de ação penal pública condicionada à representação, depende de prévia
autorização da vítima ou de seu representante legal.
O legislador processual preferiu fazer depender de autorização prévia, usando
a nomenclatura representação, de quem tem qualidade para efetivar essa autori-
zação, a fim de permitir a prisão em flagrante de autor de infrações penais assim
classificadas.
A representação não exige formalismo especial, podendo ser oral ou escrita.
Qualquer que seja a sua forma, escrita ou oral, esta pode ser apresentada ao
Delegado de Polícia, ao Juiz ou mesmo ao representante do Ministério Público, nos
termos do art. 39 do CPP.
Mais comumente a representação tem sido formalizada perante a autori­-
dade policial e, sem essa autorização, não pode o auto de prisão em flagrante ser
elaborado.
A captura em flagrante pode se efetivar, porém, sua documentação fica na
dependência da representação, desta forma, havendo, até que tacitamente, autori-
zação da vítima ou de seu representante legal para a formalização do auto, deve a
autoridade policial cumprir com suas obrigações funcionais.
Formalmente, a autorização ou representação deve constar do auto de prisão
em flagrante. Essa autorização pode ser apresentada no corpo inicial do respecti-
vo auto ou na manifestação da vítima em local apropriado do auto de prisão em
flagrante.

5.3 Prisão em flagrante nos crimes de ação penal de iniciativa privada

Doutrinadores existem que, diante da omissão do Código de Processo Penal,


entendem não ser admissível a prisão em flagrante de autores de delitos cuja ação
penal é de iniciativa privada.

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Não concordando com esse posicionamento, Tales Castelo Branco indica três
tendências para explicação desse controvertido tema: a) o flagrante não é possível,
a não ser que o próprio ofendido realize a captura, com ajuda ou não da polícia; b)
a prisão em flagrante deve ser realizada compulsoriamente, desde que preenchidas
as condições do estado de flagrância; c) a prisão em flagrante só pode ocorrer se
autorizada pelo ofendido.21
Por sua vez, Hélio Tornaghi, sem discordar da possibilidade de ocorrência de
prisão nos casos ora tratados, estatui que “se, portanto, o flagrante é o ato inicial
do inquérito e se esse não pode sequer começar sem precedente queixa ou represen-
tação do ofendido, segue-se que nos crimes de ação privada ou nos de ação pública
dependente de representação a prisão em flagrante e a lavratura do respectivo auto
dependem do consentimento anterior do ofendido”.22
Sem discordar desse entendimento, deve-se reconhecer que a prisão em fla-
grante, nos crimes de ação penal de iniciativa privada, pode ser efetivada da mesma
forma em que é realizada quando de crime de ação penal pública, o ato de captura
não deve diferir, tanto ocorre nas infrações penais cuja ação penal é pública ou
como nas de iniciativa privada.
Estando preenchidos os requisitos estabelecidos no artigo 302 do CPP, com-
pulsoriamente o funcionário policial deve prender em flagrante e qualquer do povo
pode realizar essa captura.
Ora, tratando-se de ação penal de iniciativa privada, a atuação da justiça cri-
minal está na dependência da vontade da vítima e, essa manifestação, deve ser ex-
pressa.
Tratando-se de prisão em flagrante, a manifestação da vontade da vítima deve
ser apresentada à autoridade policial para que esta possa autuar aquele que fora
capturado em flagrante.
Não havendo essa manifestação de vontade, requerimento formal, a autori-
dade policial está impedida de lavrar o auto de prisão e, a única solução, é liberar o
capturado. Por precaução, deve a autoridade policial registrar os fatos em boletim
de ocorrência.
Formalmente, a manifestação de vontade do ofendido deve constar ou do cor-
po do auto de flagrante ou de documento previamente encaminhado à autoridade
policial.
Pode-se dizer que formalmente a autoridade policial adota o mesmo critério
para os crimes de ação penal pública condicionada.

5.4 Prisão em flagrante nas infrações penais de menor potencial ofensivo

A Lei n.º 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais,
apresentou um quadro a respeito das chamadas “infrações de menor potencial ofen-

21 CASTELO BRANCO, Tales. Op. Cit. P. 69


22 TORNAGHI, Hélio. Op. Cit, p. 500

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sivo” que possibilitaria interpretar não existir, para essas infrações, a prisão em fla-
grante e nem o inquérito policial.
De fato, em uma primeira observação do parágrafo único do art. 69 da referida
lei, que estabelece “que a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência
lavrará termo circunstanciado, não impondo prisão em flagrante ao autor do fato,
nem exigindo fiança, desde que seja imediatamente encaminhado ao Juizado ou as-
suma o compromisso de comparecimento”.
Entretanto, a regra estabelecida nessa legislação, apresenta exceções que de-
vem ser apreciadas pela autoridade policial ao decidir a respeito do registro do ter-
mo circunstanciado ou da prisão em flagrante se preenchidos os requisitos do estado
de flagrância.
Pode ocorrer a prisão em flagrante:
a) quando o autor do fato não tem possibilidade de ser encaminhado ime­
diatamente a Juízo, v.g. por embriaguez;
b) quando o autor do fato não quer ser apresentado a Juízo e nem assume o
compromisso de fazê-lo;
c) quando o autor do fato é vadio, ou não tem residência fixa, ou não possui
documentos, ou é reincidente e ou já gozou dos benefícios da Lei nº
9.099/95, nos últimos 5 (cinco) anos.
As infrações classificadas como menor potencial ofensivo – pena privativa de
liberdade até dois anos – podem sujeitar os seus infratores à aplicação de medidas
cautelares, nos termos da Lei n. 12.403/011, pois “se a intenção do legislador fosse
a de vedar a imposição das cautelares nos delitos de menor potencial ofensivo, ele o
teria feito de maneira expressa. O entendimento contrário implicaria numa violação
ao princípio da legalidade e numa considerável diminuição da eficácia de tais medi-
das, uma vez que impossibilitaria a sua aplicação em diversos crimes”.23

5.5 Prisão em flagrante no crime organizado

O legislador pátrio, provavelmente influenciado por formas de investigações


realizadas pelo modelo italiano, chamado de Operação Mãos Limpas, pretendeu
estabelecer um sistema em que o crime organizado pudesse melhor ser investigado e
seus autores efetivamente julgados pelos nossos Tribunais.
Reconhece-se que, visando possibilitar formas de investigações próprias para
o “combate” ao crime organizado, através da Lei n° 9.034, de 03 de maio de 1995,
o legislador pátrio criou um novo instrumento referente ao “crime organizado sem
identificá-lo inteiramente, isto é, continuamos legislativamente sem saber o que é

23 SANNINI NETO, Francisco. Reforma processual (Lei nº 12.403/2011 e o delegado de polícia.


Jus Navigandi. Terezina, ano 16, n. 2884, 25 de maio de 2011. Disponivel em htpp//jus.uol.com.br. Acesso
em 29 de maio de 2011

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

que devemos entender por crime organizado (stricto sensu), dentro da extensa reali-
dade fenomenológica criminal”.24
Em decorrência de dificuldades conceituais, modificações se tornaram neces-
sárias para, não só pretender nova definição, com novo texto legal, ou seja, a Lei nº
10.217, de 11 de abril de 2001, mas possibilitar ampliação do conteúdo da norma
fixada pela Lei nº 9.034/95.
Assinale-se, a respeito do artigo 1º da lei em análise, que “diante das imper-
feições, o legislador resolveu alterar o artigo, por meio da Lei n° 10.217/01, para
acrescentar que a lei em estudo define e regula meios de prova e procedimentos in-
vestigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha
ou bando ou associações criminosas de qualquer tipo”.25
Como se vê, a nova ordem legislativa continuou sem conceituar o “crime orga-
nizado”, senão cita, em seu artigo 1º três figuras distintas, quais sejam: a quadrilha
ou bando (cuja previsão legal encontra-se no artigo 288 do Código Penal), associa-
ções criminosas (também já tipificadas em algumas legislações penais especiais, tais
como, o artigo 35 da Lei nº 11.346/06 e o artigo 2º da Lei nº 2.889/56 (define e pune
o crime de genocídio); e, por fim, organização criminosa (a qual permanece sem
definição legal). Apesar das deficiências conceituais e de uma pretensão de importar
modelo estrangeiro, a nova legislação realizou profundas modificações no que diz
respeito a “ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que
se supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que
mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize
no momento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e fornecimento de
informações”(inciso II do art. 2º Lei 10.217/01).
Nesse diapasão, é importante ressaltar o disposto no inciso LXI, do artigo 5º
da Carta Magna de que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or-
dem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente...”. Assim, o dis-
posto no inciso II, do artigo 2º da lei em apreço, significa tão somente que permite à
Polícia deixar de atuar em determinado momento para atingir o fim especificado na
lei, e para prender, posteriormente, ou se trata de crime permanente, e, nessa condi-
ção, considera-se em estado de flagrância em “flagrante diferido”.
Feitas essas ponderações, conclui-se que o legislador inovou nesse dispositivo
a possibilidade de afastar a obrigatoriedade do policial em “prender quem quer que
seja encontrado em flagrante delito” não tipificando, por conseguinte, o crime de
prevaricação, desde que observados os requisitos legais.

24 SILVA, Jose Geraldo da, LAVORENTI, Wilson & GENOFRE, Fabiano. Crime Organizado-
Lei n. 9.034/95 (alterada pela Lei n. 10.217, de 11/04/01) in Leis Penais Especiais Anotadas, 8ª. ed. Cam-
pinas: Editora Millennium, 2005, p;. 209.
25 SILVA, JOSE GERALDO DA, LAVORENTI, Wilson & GENOFRE, Fabiano. Crime Or-
ganizado-Lei n. 9.034/95 (alterada pela Lei n. 10.217, de 11/04/01) in Leis Penais Especiais Anotadas, 8ª.
ed. Campinas: Editora Millennium, 2005, p;. 209.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

É importante ressaltar que, com a edição da Lei nº 10.217/01, o legislador fez


introduzir, no inciso II do artigo 2º da Lei nº 9.034/95, o instituto da “infiltração de
agentes de policia ou de inteligência, em tarefas de investigação, constituídas pelos
órgãos especializados pertinentes mediante circunstanciada autorização judicial”.
Em seu parágrafo único reza que “a autorização judicial será estritamente
sigilosa e permanecerá nesta condição enquanto perdurar a infiltração”, sem dispor
sobre a necessidade da oitiva do promotor de justiça.
Desta forma, torna-se evidente que, diante da legitimidade da infiltração, a
ação controlada pode ser adotada pela autoridade policial.

5.6 Prisão em flagrante nos crimes de tráfico de drogas

A Lei nº 11.343, de 20 de agosto de 2006, passou a utilizar, para os crimes de-


finidos nessa legislação, o termo “drogas” e não mais “substância entorpecente ou
que determine dependência física ou psíquica”, definindo os respectivos delitos nos
artigos, 28, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39 e 40.
A Constituição Federal (art. 5º, inciso XLIII) e a legislação processual penal
procedendo modificações a respeito de “prisão” (art. 323, inciso II) – ainda fazem
referência a “tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins”.
A prisão em flagrante é tratada, especificamente, na legislação referente ao
tráfico de drogas, em complementação aos dispositivos estatuidos no Código de
Processo Penal.
A lavratura do auto de prisão em flagrante, nos termos do § 1º do artigo 50 da
lei de drogas, está na dependência para, comprovação da materialidade do delito,
da realização de laudo pericial de constatação da natureza e quantidade da droga,
laudo esse firmado por perito oficial ou na sua falta por pessoa idônea.
Importante destacar que, ao final da elaboração do respectivo inquérito poli-
cial instaurado em decorrência da prisão em flagrante, o Delegado de Polícia, nos
termos do art. 51 da lei de drogas, deve no relatório justificar as razões da classifi-
cação do delito, indicando a quantidade e a natureza da substância apreendida e as
condições da prisão.
As infrações penais previstas nos artigos 33, caput e § 1º, 34 a 37 da lei de
drogas “são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade
provisória...” fixando o art.323, inciso II do CPP, a não concessão de fiança nos
crimes de “tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins”.
A Lei de Drogas, ao estabelecer no artigo 28, como crime especial o praticado
por “quem adquirir guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar...” retirou o tipo da criminalização própria do tráfico. Nestas con-
dições, abrandando a sanção, transformou esse tipo em delito de menor potencial
ofensivo que, em princípio, não admite a prisão em flagrante.
Diante do fato concreto, na hipótese prevista do artigo 28, cabe ao Delegado
de Policia, reconhecendo a situação de “consumo pessoal”, decidir pela elabora-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ção de “Termo Circunstanciado” com destaque fundamentado a respeito de sua


decisão.26

6. DOCUMENTAÇÃO

O ato de captura quer seja realizado por policiais, ou quer por qualquer do
povo, necessita ser formalmente documentado pelo Delegado de Polícia.

6.1 Importância

A documentação deve seguir rigorosamente o que estabelece a legislação pro-


cessual penal e ser presidida por autoridade competente, pois, nem sempre quem
efetua a captura está investido da função de autoridade.
A lei não estabelece prazo para, após a apresentação do preso à autoridade,
o início da lavratura do flagrante, entretanto, entende-se que o auto de flagrante
deve ser iniciado imediatamente após conhecimento do Delegado de Polícia, pelos
motivos seguintes:
a) ninguém pode ser recolhido à prisão se a infração penal praticada é daquelas
em que a liberdade provisória pode ser concedida, com ou sem fiança;
b) a notícia da prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra deve ser
comunicada imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à
família do preso ou à pessoa por ele indicada. (art. 306 do CPP);
c) o auto de prisão em flagrante, em até 24 (vinte e quatro) horas, deve ser
encaminhado ao juiz competente e, na hipótese do autuado não informe
o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública, com
fulcro no § 1º do art. 306 do CPP;
d) no mesmo prazo de 24 (vinte e quatro) horas, o preso deverá ser informado
dos motivos de sua prisão através de entrega, mediante recibo, de nota de
culpa assinada pela autoridade, o nome do condutor e das testemunhas; (§
2º do art. 306 do CPP);
Pelos motivos expostos, é vedado à autoridade policial determinar o recolhi-
mento do conduzido ao cárcere, aguardando-se a lavratura do respectivo auto para
momento oportuno.
O artigo 304 do código de ritos, com a redação dada pela Lei nº 11.113, de 13
de maio de 2005, estabelece que o auto de prisão em flagrante compartimentado, em
substituição à antiga peça monolítica, ao dispor: “Apresentado o preso à autoridade
competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregan-
do a este cópia do termo e recibo do preso. Em seguida, procederá à oitiva das tes-
temunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação

26 GRECO FILHO, Vicente & RASSI, João Daniel. Lei de Drogas Anotada – Lei n. 11.343/2006.
São Paulo: Editora Saraiva, 2007. 25 SILVA, José Geraldo; LAVORENTI, Wilson

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a
autoridade, ao final, o auto”.27

6.2 Apresentação do preso à autoridade competente

Diferentemente do estabelecido em legislações estrangeiras, onde o autor de


um crime é apresentado ao juiz, o direito pátrio adota o princípio de que, nos casos
de flagrante, devem o conduzido ou preso e mais os instrumentos do crime ser ime-
diatamente apresentados à autoridade competente, (artigo 304 CPP) presentes tes-
temunhas (ao menos duas), que tenham assistido aos fatos, ou assistidos a própria
prisão ou a apresentação à autoridade.
A autoridade competente referida no artigo 4º do Código de Processo Penal
é, exclusivamente, a autoridade policial, conforme entendimento de Hélio Tornaghi,
Tales Castelo Branco e outros. 28 e 29
De fato, sendo o auto de prisão em flagrante uma das modalidades de notícia
de crime que possibilita a instauração de inquérito policial, com fundamento não,
só na legislação processual penal, mas em princípio constitucional (art. 144 $ 4º da
CF), a autoridade competente para a lavratura da documentação do flagrante é a
autoridade policial, única e exclusivamente.
Não é autoridade competente para lavrar auto de prisão em flagrante o juiz, a
não ser que o fato, conforme disposição do artigo 307 do Código de Processo Penal
tenha ocorrido em sua presença ou contra ele no exercício de suas funções.
Em hipótese alguma, pode o representante do Ministério Público presidir auto
de prisão em flagrante e, quando o fato ocorre em sua presença ou contra ele, a sua
participação, como qualquer do povo, é poder dar voz de prisão, apresentando o
acusado à autoridade policial competente.
A apresentação do acusado à autoridade policial competente permite que esta,
examinando primeiramente a legalidade do ato de captura, tome as providências
indispensáveis à documentação do ato estatal que representa a própria prisão, de
acordo com o rito estabelecido no artigo 304 do Código de Processo Penal, com a
redação dada pela Lei nº 11.113, de 13 de maio de 2005, cujo comentário será feito
ao ser tratar de auto de prisão e flagrante
O entendimento de Tornaghi é de que, na lavratura do auto de flagrante a
autoridade policial, obtendo a narração de todo o acontecido, vai realizar um jul-
gamento prévio e, aí, caso “se convença de que a prisão foi arbitrária”, conclui que
“o auto será o instrumento hábil para documentar fatos que ocorreram (prisão de
alguém, sua condução até a presença da autoridade, sua apresentação como autor
de crime etc) e que têm relevância jurídica. Servirá ele, então, para que se possa aqui-

27 QUEIROZ, Carlos Alberto Marchi de. Novos Rumos da Prisão em Flagrante. In jornal O
Policial, - Mogi das Cruzes, n. 40, junho de 2005, p. 5
28 CASTELO BRANCO, Tales. Op. Cit. P. 92
29 TORNAGHI, Helio. op. Cit. P. 503

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

latar a responsabilidade de quem efetuou a prisão (Cód. Penal, art. 350) e o acerto
ou desacerto da autoridade policial”.30
A segunda posição, doutrinariamente apresentada, Tales é um dos seus adep-
tos, parece ser a mais correta, embora, na prática, possa a autoridade policial re-
alizar um exame prévio das condições da prisão e só depois decidir efetivamente
da instauração do feito policial ou realizar “ apenas o registro da ocorrência para
apreciação e controle posteriores, ordenando, se couber, a abertura de inquérito” ou,
“excepcionalmente, lavrando o auto e restituindo o paciente à liberdade”.31
A autoridade policial competente para presidir “auto de prisão em flagrante”
é a do local onde o ato de captura foi realizado, a não ser que, nesse local, não haja
autoridade presente e, na hipótese, será o preso apresentado à autoridade do local
mais próximo, conforme disposição do artigo 308 do Código de Processo Penal.
Costumeiramente, os policiais civis realizam capturas em flagrante e apresen-
tam os capturados à autoridade policial a que estão, hierarquicamente, subordina-
dos, sem a preocupação relacionada a competência definida na legislação processu-
al. . Trata-se de medida ilegal e que pode ocasionar a própria nulidade do feito, com
sérios prejuízos à justiça criminal.
Nem sempre a autoridade policial competente para conhecer da prisão e lavrar
o respectivo auto é a que tem qualidade e competência para presidir inquérito poli-
cial, por exemplo, no caso do fato delituoso ter ocorrido em São Paulo e a captura,
em perseguição, ter sido efetuada em Santos. Na hipótese, o auto de flagrante deve
ser lavrado por autoridade policial de Santos e os autos, o preso e as provas coleta-
das encaminhados à autoridade policial competente de São Paulo, para instauração
do inquérito policial.

6.3 Prisão em flagrante com acusado presente

Apresentado o preso à autoridade policial cabe a esta, examinando as condi-


ções relacionadas à captura e legalidade do ato, indagar o nome do acusado e sua
qualificação, informá-lo a respeito de seus direitos constitucionais, e, ainda, esclare-
cer sobre a identificação de quem realizou a prisão, que tem direito a advogado, bem
como, o nome de pessoas a quem quer que informe sobre sua situação.
Tratando-se de pessoa cuja idade varie entre 18 ( dezoito) e 21 (vinte um anos),
será necessário enfrentar a polêmica da nomeação ou não de curador.
O Código de Processo Penal, ao tratar do inquérito policial, dispõe em seu ar-
tigo 15, ainda em vigor que, “Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador
pela autoridade policial”, no entanto, a Lei nº 10.792, de 1º de dezembro de 2003,
alteradora do mesmo estatuto, no que tange ao capítulo do interrogatório do acusa-
do, revogou expressamente o seu artigo 194, cuja redação antiga era “Se o acusado
for menor, proceder-se-á ao interrogatório na presença de curador”.

30 TORNAGHI, Helio. op. Cit. P. 513


31 CASTELO BRANCO, Tales. Op. Cit. P. 123.

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Em razão de manifestações de Tribunais em julgamento a respeito da necessi-


dade de nomear curador ao menor de 21 (vinte e um) anos de idade, quando de seu
interrogatório em inquérito policial, torna-se conveniente observar o disposto no
artigo 15 do estatuto de ritos, nomeando-se o respectivo curador.
A lavratura do auto de prisão em flagrante exige que o ato seja presidido por
autoridade policial, Delegado de Polícia e que seja secretariado por um Escrivão
de Polícia, a quem cabe documentar os atos procedimentais. Na ausência de fun-
cionário que exerça essa função, deve a autoridade policial nomear um ad hoc, que
prestará o compromisso de estilo.
Obrigatoriamente, o acusado deve estar presente em todos os atos procedi-
mentais da lavratura do flagrante, salvo se sua presença for inconveniente à seguran-
ça dos que prestam informações ou se há impossibilidade de sua presença em razão
de hospitalização, embriaguez ou qualquer outro motivo relevante.
A Polícia Civil de São Paulo vem adotando formulários que, obrigatoriamente,
obedecem às exigências constitucionais e processuais.
É relevante ressaltar que o artigo 304 do código de ritos, com a redação dada
pela Lei nº 11.113, de 13 de maio de 2005, determina um novo procedimento à lavra-
tura do auto de prisão em flagrante.
A antiga peça monolítica, a partir da edição da Lei n° 11.113/05 foi substituída
por auto de prisão em flagrante compartimentado da seguinte forma: a) oitiva do
condutor, entregando-lhe cópia do seu termo de assentada; b) elaboração do recibo
de entrega do preso, fornecendo uma via ao condutor; c) tomada de depoimentos
de testemunhas e declarações de vítimas, em peças independentes, colhendo, desde
logo, as suas assinaturas nos respectivos termos; d) proceder ao auto de qualificação
e interrogatório do conduzido; e) ao final, elaborar o auto de prisão em flagrante,
objetivando reunir as peças anteriormente produzidas, providenciando em seguida
as demais medidas cabíveis ao caso concreto para a formalização da prisão”.32
Nessa nova concepção a primeira peça a ser elaborada no Auto de Prisão em
Flagrante Delito é o termo de assentada do condutor, devendo constar hora, dia,
local, nome da autoridade policial a quem o preso foi apresentado, qualificação do
condutor, nome do conduzido e uma sintética descrição da conduta delituosa. Após
compromissar o condutor, na forma da lei, tomará o seu depoimento. Ao final,
deverá colher a sua assinatura, entregando-lhe cópia de seu depoimento, bem como
recibo de entrega do preso. Providências estabelecidas no artigo 304 do Código de
Processo Penal.
O condutor é, em regra, uma testemunha que efetuou a captura do acusado e
quem lhe deu voz de prisão, e assim, suas informações são dadas como forma de
depoimento, em cumprimento às regras próprias de testemunho.

32 Observe-se o que dispõe a Recomendação DGP1/2005, de 13 de junho de 2005, que “reco-


menda medidas para uniformização dos atos de policia judiciária relativos à autuação em flagrante delito
em face da alteração do artigo 304 do Código de Processo Penal.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A autoridade policial deve ter o cuidado, como presidente do feito, de obter do


condutor informações pormenorizadas a respeito da captura e dos fatos ocorridos,
apreendendo os instrumentos necessários para a prática do delito passíveis de exa-
me pericial, bem como, os objetos relacionados ao fato criminoso.
Necessariamente, no auto de prisão em flagrante 2 (duas) testemunhas devem
ser ouvidas que podem ser testemunhas visuais do fato, testemunhas assistentes da
captura, ou testemunhas chamadas instrumentárias, que assistiram a apresentação
do preso à autoridade policial.
As testemunhas, quaisquer que sejam as suas qualidades, devem prestar de-
poimento, assumindo o compromisso de dizer a verdade do que sabem ou lhes
for perguntado, a não ser que estejam legalmente impedidas, esclarecendo o que
presenciaram.
Policiais não devem ser testemunhas instrumentárias e, também curadores
ainda que sejam bacharéis em Direito.
Na hipótese de estar presente a vitima e podendo prestar informações no auto
respectivo, serão suas declarações reduzidas a termo.
Registre-se que ainda diante dos ditames do artigo em análise, após a oitiva
da(s) testemunha(s) e eventuais vitimas, serão desde logo colhidas as suas assinatu-
ras nos respectivos termos de assentada e declarações com o escopo de dispensá-las
em seguida. Evitando, dessa forma, que testemunhas e vítimas fiquem desnecessa-
riamente por muito tempo nos Distritos Policiais.
Após, o acusado deve ser interrogado no auto de prisão em flagrante. Há a
obrigatoriedade de se proceder ao auto de qualificação e interrogatório, no entanto,
valendo-se de seus direitos constitucionais, pode o interrogando negar-se a respon-
der às perguntas, reservando-se a fazê-lo em outra oportunidade.
Lamentavelmente, algumas autoridades policiais e seus agentes induzem o
acusado, no momento do interrogatório, a somente “falar em juízo”, perdendo
oportunidade de obter dados informativos sobre a natureza e os motivos da infração
penal que está sendo apurada.
Encerrado o interrogatório do acusado, deve ser assinado pela autoridade
policial, pelo advogado ou curador, se presentes, pelo acusado e pelo escrivão de
polícia. Se o interrogado não souber, não puder ou não quiser assinar o termo, duas
testemunhas o farão em seu lugar, após ouvir a leitura deste, nos termos do § 3º do
artigo 304 do Código de Processo Penal.
Ao final, a autoridade policial deverá elaborar o Auto de Prisão em Flagrante
Delito, o qual será assinado pelo Delegado de Polícia, interrogado e escrivão de
polícia, documento que tem por fim reunir num só processado todos os anexos ante-
riormente produzidos e substitui a Portaria para a instauração do Inquérito Policial.
Não pode a autoridade policial, no próprio texto do auto de flagrante, realizar
atos de julgamento, por exemplo, tratar sobre nota de culpa, decidir sobre liberdade
provisória e outros dados complementares.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

6.4 Prisão em flagrante de acusado embriagado, enfermo, hospitalizado ou


inconveniente

Configurado o estado de flagrância, nada impede que o acusado, mesmo es-


tando embriagado, doente, hospitalizado ou se mostre incapaz de entender o que se
passa ao seu redor, seja preso e autuado em flagrante.
Estando o autuado em estado de embriaguez, tornando-o incapaz de expres-
sar-se e até defender-se, o auto de flagrante pode ser lavrado no local onde se encon-
tra a autoridade policial e o interrogatório poderá ser feito tão logo sobrevenha a
sua lucidez.
A fim de não haver prejuízo à coleta de provas, ao direito das testemunhas, à
própria defesa do acusado, entende-se cabível, embora silente a legislação, a nome-
ação de um curador especial a quem caberá, inclusive, após firmar compromisso,
receber a nota de culpa.
Igualmente, não há impedimento, tratando-se de acusado doente ou hospita-
lizado ou mesmo, de pessoa que esteja em estabelecimento prisional, que o auto de
flagrante seja lavrado no local onde se encontra quem deve ser autuado.
Segundo Tales Castelo Branco, “’é permitido, ainda, excepcionalmente, lavrar-
-se o flagrante sem a presença do acusado, no caso previsto, de forma genérica, no
art. 796 do CPP, que autoriza o prosseguimento do ato processual sem a presença do
réu que se portar inconvenientemente”.33
Quaisquer que sejam as condições expostas neste item, deve o fato ser registra-
do no respectivo auto de prisão em flagrante.

6.5 Documentação nos casos de imunidades

A captura em flagrante de personalidades que gozem de imunidades, especial-


mente as relativas, tratando-se de crimes inafiançáveis, deve-se, por omissão da lei,
ser documentada obedecendo-se os direitos do capturado, as normas constitucio-
nais e legais aplicáveis ao caso.
Tratando-se de parlamentar (senador, deputado federal ou deputado estadu-
al), a autoridade policial deve, preliminarmente, registrar os fatos, requisitar os exa-
mes periciais cabíveis e colher as provas testemunhais. Em seguida, não havendo im-
pedimento do exercício de polícia judiciária, elaborar o auto de prisão em flagrante
delito, encaminhando-o, juntamente com os registros preliminares, e ainda a pessoa
capturada ao Presidente da casa legislativa a que pertença o parlamentar capturado.
Não há, também, qualquer impedimento legal para a expedição da nota de culpa,
pois é esse documento que vai informar o autuado a respeito de sua situação jurídi-
ca relacionada a prática de um crime inafiançável.
A prisão de magistrado ou de representante do Ministério Público, de acordo
com disposições estabelecidas em legislação orgânica própria, somente pode ocor-
rer tratando-se de crime inafiançável e a respectiva documentação, com as mesmas

33 CASTELO BRANCO, Tales. Op.cit. p. 123

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

cautelas adotadas para os parlamentares, deverá ser encaminhada ao Tribunal de


Justiça ou à Procuradoria Geral da Justiça, conforme se trate de juiz ou promotor
de justiça.
O advogado regulamente inscrito na OAB, ao ser preso por crime inafiançável
e praticado em razão de sua função, tem o direito de ser, obrigatoriamente, assistido,
sob pena de nulidade do respectivo auto de prisão, por um representante da entida-
de a que pertence.

7. PROVIDÊNCIAS POSTERIORES À LAVRATURA DO FLAGRANTE

Merecem destaques, neste item, a insubsistência ou relaxamento da prisão,


fundada suspeita na prisão propriamente dita, nota de culpa: natureza jurídica e a
comunicação da prisão.

7.1 Insubsistência ou relaxamento da prisão

Encerrada a lavratura do auto, com a coleta de assinatura de todos que par-


ticiparam de sua elaboração - Delegado de Polícia, condutor, testemunhas, vítima,
acusado, defensor, membro do Ministério Público e escrivão de polícia, inicia-se
uma das fases mais importantes a respeito dessa medida cautelar.
A autoridade policial realiza um primeiro juízo de valor, baseando-se, preliminar-
mente, nos termos do artigo 304 do Código de Processo Penal e que está assim disposto:
“Resultando das respostas fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade
mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e
prosseguirá nos atos de inquérito ou processo se para isso for competente; se não o
for, enviará os autos à autoridade que o seja”
O primeiro exame envolve a legalidade do ato, se já não feito anteriormente,
relacionado ao conceito de estado de flagrância, ou seja, se a captura obedeceu aos
preceitos dos artigos 302 e 303 do Código de Processo Penal.
Em seguida, a autoridade policial procede a um exame a respeito de autoria do
delito e da real existência do ilícito penal.
Convencendo-se a autoridade policial que o autuado não é autor do delito,
nada mais lhe compete do que tornar insubsistente a prisão em flagrante. Igualmen-
te ocorre se a autoridade policial se convencer que não há ilícito penal a ser apurado.
Em despacho fundamentado, a autoridade policial decide a respeito da in-
subsistência do auto lavrado, sendo aconselhável a comunicação dessa decisão à
autoridade judiciária competente.
A apreciação a respeito do reconhecimento de antijuridicidade como requisito
ou elemento do crime é observada por Eduardo Augusto Paglione em artigo que
tem como título “A prisão em flagrante e as causas excludentes da antijuridicidade”,
nos seguintes termos:
“Filie-se o intérprete à teoria finalista ou à teoria clássica, não deixará de re-
conhecer a antijuridicidade como requisito (ou elemento) do crime. Ou seja, apenas

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será crime um fato que também for antijurídico. E não será antijurídico o fato se
praticado, naturalmente, apoiado em normas jurídicas. Daí o art. 23 do Código
Penal afirmar que não há crime quando o agente o pratica em estado de necessida-
de, legitima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um
direito, uma vez que todas essas hipóteses são admitidas e descritas nesse mesmo
código. Assim, se restar evidente que o conduzido agiu acobertado por alguma das
excludentes de antijuridicidade, não há como se afirmar a existência de fundada
suspeita de prática de crime. E se não pratica crime, não pode haver a ordem para
recolhimento à prisão (ou pagamento de fiança). É a interpretação que resulta da
leitura do citado § 1º do art. 304 do CPP” 34
Alguns processualistas entendem que, havendo hipótese de exclusão de ilici-
tude, a autoridade policial deve adotar, no caso concreto, não lavrar o flagrante e
apurar os fatos através de inquérito policial, conforme proposição apresentada ao
projeto de lei de autoria do Prof. José Frederico Marques e que tramitou no Con-
gresso Nacional, na década de 70.35
Apesar das divergências doutrinárias quanto à atuação do Delegado de Polícia
reconhecendo, se resultar das respostas “fundada a suspeita contra o conduzido”,
as causas de exclusão de ilicitude, torna-se conveniente destacar, no artigo de Edu-
ardo Augusto Paglione, a posição do jurista Adriano Marrey que, comentando fato
ocorrido no começo da década de 90 do século XX, em artigo publicado na Revista
dos Tribunais de 1991, sob o titulo “Legítima defesa exclui possibilidade prisão”,
assim se manifestou à pagina 387: “Manter preso o cidadão que se comportou tal
como a lei natural e a legislação penal autorizam, ao defender a própria vida ou a
de outrem, pode definir-se como procedimento que desaponta a expectativa comum
e constitui motivo de justa apreensão para quantos, habituado na grande cidade de
vida tornada agressiva, possam eventualmente vir a ser alvo de violência, como a de
inicio descrita”.36
Desta forma, de acordo com a lição deixada por Adriano Marrey – infeliz­
mente não tão divulgada como merece – o artigo 304 § 1º do CPP, concede à autori-
dade policial o poder-dever de analisar juridicamente o fato que lhe é apresentado.
O despacho fundamentado, referente à insubsistência da prisão deve envolver
o convencimento da autoridade policial que, adotando esse posicionamento, não ex-
pede nota de culpa, sendo sempre aconselhável a instauração de inquérito Policial.

7.2 Fundada suspeita na prisão propriamente dita

A autoridade policial, com a lavratura do auto de flagrante, conclui que, efeti-


vamente a infração penal ocorreu e o autuado dela participou.
Interpretando o texto inicial do artigo 304 §1° do CPP e chegando a conclusão
de que, diante das questões apresentadas, existe fundada suspeita contra o conduzi-

34 PAGLIONE, Eduardo Augusto. A prisão em flagrante e as causas excludentes da antijuridi-


cidade, in Boletim IBCCrim, ano 15, n° 187, setembro 2007, São Paulo, p. 15/16.
35 MARQUES, José Frederico. Projeto de Lei n. 633/75, Câmara dos Deputados, 1975
36 PAGLIONE, Eduardo Augusto. Op. Cir. P. 16

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

do, a autoridade policial tomará as providências necessárias à efetivação da prisão.


Duas providências relacionadas à prisão podem ocorrer:
a) recolhimento do autuado à prisão;
b) liberdade provisória do autuado: sem fiança ou com fiança
As duas providências correspondem ao reconhecimento da existência do ilícito
penal e identificação de autoria.
No primeiro caso, as infrações penais são chamadas de inafiançáveis e seus
autores devem ser recolhidos presos, após a lavratura do flagrante; ainda, neste pri-
meiro caso, podem estar incluídos aqueles que, embora a infração seja afiançável,
não preenchem os requisitos para obtenção da liberdade provisória.
Em despacho fundamentado - nunca no corpo do auto de flagrante - a autori-
dade policial deve estabelecer os motivos de sua convicção, fixar a posição de cada
um dos autuados e classificar a infração penal cometida. Essa exigência é funda-
mental para os casos de prisão em flagrante, especialmente, nos casos relacionados
à lei antidrogas.
O segundo caso, refere-se a concessão de liberdade provisória, pois ninguém
pode ser recolhido a prisão ou nesta conservado se prestar fiança, nos casos em que
a lei não a proibir, artigo 322 do CPP.
A questão a respeito da liberdade provisória com ou sem fiança será objeto de
apreciação em comentário a parte.
No mesmo despacho, deve a autoridade policial decidir a respeito da Nota
de Culpa, redigindo o seu teor e fazendo a entrega de uma via ao preso, mediante
recibo. O conceito, natureza jurídica e atributos da nota de culpa serão objeto de
comentários especial.
A prisão em flagrante, em respeito a princípio constitucional e a preceitos pro-
cessuais, deve ser comunicada, no prazo de vinte e quatro horas, à autoridade judi-
ciária competente e às pessoas indicadas pelo próprio acusado.
A jurisprudência dominante dos Tribunais tem considerado como irregulari-
dade apenas administrativa a omissão na comunicação a juízo, porém, o entendi-
mento doutrinário é de que a falta de comunicação pode acarretar o relaxamento da
prisão e a responsabilidade da autoridade omissa.
Obrigatoriamente, na comunicação judicial, a autoridade policial deve, enca-
minhando cópias do respectivo auto de prisão em flagrante e nota de culpa, informar
a respeito de liberdade provisória ou o local onde o autuado se encontra recolhido.
O auto de prisão em flagrante constitui uma das modalidades de instauração
de inquérito policial e, por isso, cabe à autoridade policial dar prosseguimento às
investigações criminais decorrentes da prisão.
O prazo para conclusão do inquérito policial instaurado através do auto de
flagrante varia de acordo com a manutenção ou não do acusado recolhido preso. O
prazo fatal de l0 (dez) dias é reservado para o inquérito policial em que o indiciado
ou acusado está preso em razão do flagrante; e 30 (trinta) dias, quando se tratar de
indiciado solto.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

7.3 A Nota de culpa: natureza jurídica

A Nota de Culpa, com certa semelhança a Citação, é o instrumento consti-


tucional e jurídico, firmado pela autoridade policial e que se destina a informar ao
preso, no prazo máximo de vinte e quatro horas, o motivo de sua captura, dia, hora
e local, bem como a indicação do responsável pela mesma prisão, do condutor, das
testemunhas e vítima, se houver.
O documento deve ser rigorosamente firmado, devendo estar descrito: a
hora e dia da prisão, a forma como ocorreu a captura, a descrição resumida da
infração penal e sua classificação nominal, bem como, o dispositivo infringido da
legislação penal.
Trata-se de documento informativo, de natureza constitucional e processual,
que permite possibilitar ao acusado o exercício de ampla defesa e de respeito ao
princípio do regular processo legal.
A nota de culpa é firmada em quatro vias, cabendo a primeira ao próprio acu-
sado que, ao recebê-la, deve firmar recibo com data e hora e, havendo negativa de
firmar esse documento, duas testemunhas confirmarão a entrega; a segunda via é
destinada a acompanhar o documento dirigido à autoridade judiciária e que infor-
ma a respeito da prisão; a terceira via - destina-se à cópia dos autos do inquérito po-
licial: e a quarta via - é o instrumento indispensável para determinar o recolhimento
do preso à cadeia e deve constar dos arquivos da carceragem
A falta da entrega da nota de culpa constitui falta administrativa e, sob certos
aspectos, irregularidade procedimental, passível de ser julgada a nula a prisão efe-
tuada.
Observe-se que não há expedição de nota de culpa se a autoridade policial
reconhece insubsistente o auto de prisão em flagrante, por não haver ilícito penal a
ser apurado ou o autuado não ser o seu autor.

7.4 A comunicação da prisão

Dispõe a Constituição Federal e o Código de Processo Penal que, à exceção do


flagrante delito, nenhuma prisão pode ser realizada sem ordem escrita da autorida-
de judiciária competente.
Tratando-se de uma exceção aos direitos e garantias do cidadão, a prisão em
flagrante é aquela que, independendo de ordem escrita da autoridade judiciária, pre-
cisa estar amparada na legislação processual e sua legalidade estar sujeita a controle.
O direito brasileiro, diferentemente de outras legislações processuais, estabele-
ce que, nas prisões em flagrante, o capturado deve ser imediatamente apresentado à
autoridade competente, sendo esta a policial, para a elaboração do regular instru-
mento jurídico que é o auto de prisão em flagrante.
A razão da obrigatoriedade de o Delegado de Polícia , após a lavratura do auto
de prisão em flagrante, encaminhar ao juiz competente, no prazo de 24 (vinte e qua-
tro) horas, o respectivo auto, é para que a autoridade judiciária examine a legalidade

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

da prisão. Dispõe, a esse respeito, o artigo 310 do CPP: “Ao receber o auto de prisão
em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal; ou
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisi-
tos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes
as medidas cautelares diversas da prisão; ou
III - conceder liberdade provisória com ou sem fiança”.
A respeito de prisão em flagrante em que o autuado tenha praticado o crime
nas condições previstas no artigo 23 do Código Penal, o juiz, conforme estatui o pa-
rágrafo único do art. 310 do CPP, pode conceder ao acusado a liberdade provisória.
A comunicação da prisão em flagrante, conforme disposição do art. 306 do
CPP, deve ser feita não só à autoridade judiciária, mas também, ao órgão do Minis-
tério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada, com a indicação do
local onde se encontra preso.
Deve se consignar que, na hipótese de o autuado não ter advogado que o
assistiu na audiência de lavratura do respectivo auto de prisão ou não tê-lo indicado,
uma cópia integral do auto deve ser encaminhada à Defensoria Pública. (§ 1º do
art. 306).
Tratando-se de infração penal cuja competência para julgamento é da Justiça
Federal, a Delegacia Geral de Polícia de São Paulo “ Recomenda às Autoridades Po-
liciais que, na hipótese de lavratura de auto de prisão em flagrante delito por crime
da Justiça Federal, para fins de cumprimento do dever legal de imediata comunica-
ção, remetam cópia da peça flagrancial e demais documentos de policia judiciária de
praxe, diretamente à Justiça Federal, sem prejuízo de comunicação devida ao Minis-
tério Público Federal e, caso o conduzido não indique defensor por ele constituído,
também à Defensoria Pública da União”. (Recomendação DGP-1, de 07.01.2011).

8. PRISÃO PREVENTIVA

A instituição, com a reforma do Código de Processo Penal, de normas que tor-


nam obrigatória a função da autoridade judiciária competente deve proceder exame
a respeito da legalidade da prisão em flagrante, convertendo-a em prisão preventiva.
Dispondo o art. 283 do Código de Processo Penal que “ninguém poderá ser
preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência de sentença penal condenatória transitada
em julgada, ou, no curso da investigação ou processo, em virtude de prisão temporá-
ria ou preventiva”, conclui-se que somente a prisão preventiva pode ser considerada
como “custódia cautelar no curso do processo”.37

37 . OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Atualização do Processo Penal – Lei n. 12.403, de 05 de


maio de 2011. Publicação a ser inserida na 15ª edição do Código de Processo Penal – Belo Horizonte:
Editora Del Rey – 08 de maio de 2011.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A regra estabelecida na Lei nº 12.403/2011, demonstra que, embora a prisão


em flagrante possa ser realizada sem prévia ordem judicial, essa custódia somente se
tornará efetiva mediante ato formal e fundamentado do juiz competente converten-
do-a em prisão preventiva.
A prisão preventiva que pode ser decretada em qualquer fase do inquérito po-
licial ou do processo, isto é, antes do trânsito em julgado de sentença condenatória,
tem como exigência o ato declaratório por “ordem escrita e fundamentada da auto-
ridade judiciária competente”. (art. 5º, LXI – Constituição Federal).
Tratando-se de espécie de medida cautelar que compete ao juiz decretar quan-
do do recebimento do auto de prisão em flagrante, pode a autoridade policial for-
malizar a representação, nos termos do art. 311 do CPP, indicando os elementos que
justificam ser indispensável a medida como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação
da lei penal. (art. 312, caput do CPP).
A respeito do tema, conclui o Delegado de Polícia Franciso Sannini Neto:
“Por fim, de tudo que foi dito sobre o tema em pauta, podemos chegar as seguintes
conclusões:
1) Em regra, não será possível a decretação de prisão preventiva quando se
tratar de crimes culposos ou contravenções penais;
2) Nos crimes dolosos em que a pena máxima não for superior a quatro anos,
só será possível a decretação da prisão preventiva, quando se tratar de
indiciado reincidente em crime doloso e desde que presentes os fundamentos
do artigo 312;
3) Nos casos de dúvida com relação a identidade civil do indiciado, também
poderá ser decretada a prisão preventiva, desde que se trate de crime doloso;
4) No caso de descumprimento de medidas cautelares anteriormente impostas,
a prisão preventiva poderá ser decretada independentemente dos requisitos
previstos no artigo 312 (prisão preventiva subsidiária);
5) A prisão preventiva pode ser decretada como conversão da prisão em
flagrante, sempre que insuficientes ou inadequadas a imposição de outras
medidas cautelares;
6) A prisão preventiva pode ser decretada de maneira autônoma e indepen-
dente, em qualquer momento da persecução penal, desde que observados
os requisitos dos artigos 311, 312 e 313 do CPP;
7) Também poderá ser imposta prisão preventiva nos casos de violência
doméstica contra mulher, criança adolescente, idosos, enfermos e pessoa
com deficiência, para garantir a execução de medidas protetivas de urgência
(art.313, III, do CPP)”.38

38 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli . op. Cit.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Aduz Pacelli de Oliveira que, “no caso de descumprimento de medidas cau-


telares anteriormente impostas (art. 282, § 4º CPP) a decretação da preventiva não
exigirá as situações do art 313, devendo atentar-se apenas para os requisitos do art.
312, consoante se extrai do seu parágrafo único. Nesse caso, a preventiva não é au-
tônoma, mas subsidiária”.39

9. LIBERDADE PROVISÓRIA

A liberdade provisória constitui, diante da reforma introduzida no Código de


Processo Penal pela Lei n° 12.403/2011, uma espécie de medida cautelar diversa da
prisão que “não fosse a referência expressa na Constituição da República, a nova le-
gislação não manteria qualquer forma de liberdade provisória, e, sim, se limitaria a
estipular as diversas modalidades de medidas cautelares diversas da prisão, regulan-
do as condições de respectiva aplicação, seja de modo autônomo, isto é, independen-
te da prisão anterior, seja de modo subsidiário, para o fim de substituir a custódia
(prisão) provisoriamente (essa sim) aplicada”40, no dizer de Eugênio Pacelli Oliveira.

9.1 Considerações iniciais

A simples revogação, relaxamento ou declaração de insubsistência, não cons-


titui liberdade provisória, pois trata-se de medida ocasionada por nulidade ou irre-
gularidade da captura, sem a exigência de qualquer condição.
No dizer de Tornaghi, “a liberdade provisória é uma atenuação da prisão pro-
visória, é um libertamento relativo, sujeito a encargos ou obrigações”. 41
Prevista como principio constitucional de garantia individual, pelo artigo 5º
inciso LXI, da Constituição Federal, nos termos de que “ninguém será levado à
prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança”, é, também, legislação ordinária que reconhece as duas modalidades de li-
berdade provisória.
O legislador, ao tratar da espécie, provavelmente em razão do texto consti-
tucional, manteve o instituto da “liberdade provisória”, conforme disposição dos
artigos 310 e 321 do CPP, assim expondo:
1 - art. 310 - Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá funda-
mentadamente: III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança;
2 - art. 321 - Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória....”

39 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli . op. Cit.


40 idem.
41 TORNAGHI, Helio op cit. p. 513

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

9.2 Liberdade Provisória - Fiança

A fiança, nos termos indicados no artigo 319 CPP, em sua nova redação – Lei
n. 12.403/2011 – é espécie de medida cautelar diversa da prisão que é concedida “nas
infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evi-
tar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial”.
O objetivo da concessão da liberdade provisória com fiança é manter o acusa-
do vinculado ao processo mediante condições, assegurando-lhe a liberdade até que
sobrevenha condenação definitiva.
Atualmente não há mais o que se falar em crimes inafiançáveis, pois todos os
crimes – pena de detenção ou reclusão - são considerados afiançáveis (parágrafo
único do art. 322 do CPP), tendo algumas situações em que a autoridade – policial
ou judiciária – não podem conceder a fiança.
A concessão da fiança pelo Delegado de Polícia, nos casos de prisão em fla-
grante, pode ser efetivada “nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade
máxima não seja superior a 4 (quatro) anos” (art. 322, caput – CPP).
A fiança, nos demais casos, deverá ser requerida ao juiz que tem prazo para
decidir estipulado em 48 (quarenta e oito) horas.
Os artigos 323 e 324 do CPP indicam situações em que a concessão de fiança, a
concedida pelo Delegado de Policia ou pelo Juiz, não podem ser deferidas.
Em primeiro lugar, o artigo 323 refere-se às proibições descritas na Consti-
tuição Federal, que são as seguintes: I - nos crimes de racismo; II – nos crimes de
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos
como crimes hediondos; III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
O artigo 324 enumera as hipóteses em que, também, não serão objetos de con-
cessão de fiança:
A autoridade policial está impedida de concessão de fiança nos seguintes ca-
sos: I - nos crimes punidos com pena privativa de liberdade superior a 4 (quatro
anos); II - em casos de prisão civil ou militar; III - aos que, no mesmo processo,
tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo,
qualquer das obrigações a que se referem os artigos 327 e 328 do Código de Proces-
so Penal; IV - nos casos em que estão elencados os motivos que autorizam a prisão
preventiva.
Os motivos que podem determinar o decreto de prisão preventiva e, portanto,
infrações inafiançáveis as infrações constantes do artigo 313 do CPP: I - nos crimes
dolosos com pena privativa de liberdade, se o acusado é reincidente por condenação
anterior transitada em julgado e cuja pena é privativa de liberdade; II - nos crimes
que envolvem violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência para garantir a execução das medidas
protetivas de urgência.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

O valor da fiança, em dinheiro ou objetos, deve ser, quando arbitrada pelo De-
legado de Polícia, fixada no valor de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando a
pena aplicada não for superior a 4 (quatro) anos.
Prevê a legislação processual que a fiança pode ser reduzida até o máximo de
2/3 (dois terços) ou aumentada em até 1.000 (mil), vezes, na dependência da situação
econômica do preso em flagrante.
A concessão ou negativa de fiança deve ser fundamentada em despacho nos
autos de inquérito policial instaurado.
A comunicação da prisão feita ao juiz deve incluir, além da noticia da lavratura
do auto de prisão em flagrante, copia da nota de culpa e informações a respeito da
concessão ou não da fiança.

10. CONCLUSÃO

A prisão em flagrante constitui, na atualidade, o meio mais eficaz para o com-


bate à criminalidade, cabendo à Policia Judiciária exercer, com exclusividade, essa
tarefa da Justiça Criminal.
Não deve o Delegado de Policia, sob qualquer pretexto, omitir-se a respeito da
decisão sobre prisão em flagrante.
Tratando-se de medida coercitiva de importância fundamental para a liber-
dade de qualquer pessoa, deve o Delegado de Polícia, cumprindo rigorosamente
os mandamentos reguladores da matéria, fundamentar suas decisões que, antes de
jurídica, são de natureza humana.
As novas regras processuais previstas na Lei n° 12.403/2011, devem ser exami-
nadas cuidadosamente para uma perfeita aplicação da justiça criminal.

11. MODELOS

Veja, a seguir, os modelos relativos a este capítulo.

MODELO 1- Caso de modalidade comum ou ordinária


1. Auto de prisão em flagrante delito
2. Termo de assentada do condutor
3. Recibo de entrega de preso
4. Termo de assentada
5. Termo de declarações
6. Auto de qualificação e interrogatório

MODELO II - Caso em que há participação de adolescente na autoria do


crime
1. Auto de prisão em flagrante delito e apreensão de adolescente autor de ato
infracional
2. Termo de assentada do condutor
3. Recibo de entrega do preso e do adolescente autor de ato infracional

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4. Termo de assentada
5. Termo de declarações
6. Termo de declarações do adolescente autor de ato infracional
7. Auto de qualificação e interrogatório

MODELO III - Caso em que a autoridade policial é a autora da prisão em


flagrante: a) quando o crime é praticado na presença da autoridade; b) quando o
crime é praticado contra a autoridade no exercício de suas funções.
1. Auto de prisão em flagrante delito
2. Auto de qualificação e interrogatório
3. Termo de assentada
4. Termo de declarações
5. Modelo de despacho

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO I

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ________


(unidade policial) ____________ (município), onde presente se achava a Autoridade
Policial Doutor(a) ________________, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compare-
ceu o CONDUTOR _________________________ (nome e RG), conduzindo preso
________________, por infração, em tese, ________________(fundamentação legal),
em virtude de ____________________ (sintética descrição da conduta do preso), na
______________________ (local do crime), do que foram testemunhas ___________
___________ (nome das testemunhas). Ouvidas as partes a Autoridade Policial,
após cientificar o preso quanto aos seus direitos e garantias individuais previstos nos
incisos do artigo 5º da Constituição Federal, em especial os de receber assistência de
familiares e de advogado que indicar, não ser identificado criminalmente senão nas
hipóteses legais, ter respeitada sua integridade física e moral, manter-se em silêncio
e/ou declinar informações que reputar úteis à sua defesa, conhecer a identidade do
autor de sua prisão e, se admitida, prestar fiança criminal ou livrar-se solto, determi-
nou a lavratura deste AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO, conforme
documentação adiante acostada, que fica fazendo parte integrante deste: 1) oitiva
do condutor com entrega de cópia do termo; 2) expedição de recibo de entrega do
preso em favor do condutor; 3) oitiva das testemunhas; 4) oitiva da vítima, se pos-
sível e conveniente; 5) interrogatório do conduzido. Demonstradas, pelos elemen-
tos de convicção colhidos a autoria e a materialidade da infração penal, julgou a
Autoridade Policial subsistente este auto de prisão em flagrante delito, determinan-
do ainda a expedição de Nota de Culpa ao preso. Nada mais havendo, determinou
a Autoridade Policial o encerramento deste que assina com o indiciado e comigo,
Escrivão de Polícia que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________


Indiciado ____________________________
Escrivão(ã) de Polícia _____________________

___________
(*) Este documento constitui a peça final do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada
pela autoridade policial e por escrivão(ã) de seu cargo, objetivando a juntada dos anexos produzidos
anteriormente, funcionando como a portaria do Inquérito Policial.
Caso o acusado não queira, não possa ou não saiba assinar, a autoridade policial deverá proceder
nos termos dos artigos 304, § 3º, do CPP, incluindo neste auto duas testemunhas instrumentárias.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

TERMO DE ASSENTADA DO CONDUTOR


EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), ______________ (município), onde presente se achava a Autoridade
Policial Doutor(a) ________________, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu
____________ (nome e qualificação completa), conduzindo preso ________________
por infração, em tese, ____________ (fundamentação legal), em virtude de ____________
(sintética descrição da conduta do preso), na ____________________ (local do crime).
Compromissado na forma da lei, aos costumes nada disse. Indagado, às perguntas res-
pondeu ____________________________. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado.
Lido e achado conforme, para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devidamente
assinado pela Autoridade Policial, pelo condutor e por mim Escrivão(ã) de Polícia, que o
digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _______________________

Condutor _______________________________

Escrivão(ã) de Polícia _____________________

(*) Este documento constitui a primeira peça do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela
autoridade policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo, objetivando a oitiva do condutor.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

RECIBO DE ENTREGA DE PRESO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu o CONDUTOR ________________ (nome
e RG), conduzindo preso ________________, por infração, em tese, ____________
(fundamentação legal), por ter sido surpreendido ____________ (sintética descrição da
conduta do preso), na ____________ (local do crime), do que foram testemunhas
___________ (nome das testemunhas). Após ouvir o condutor em termo de assentada e
formando seu convencimento jurídico, deliberou a Autoridade Policial expedir em favor
deste o presente “recibo de entrega de preso” que assina com o condutor e comigo,
Escrivão(ã) de Polícia, que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _______________________

Condutor _______________________________

Escrivão(ã) de Polícia _____________________

(*) Este documento constitui a segunda peça do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela
autoridade policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

TERMO DE ASSENTADA
EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ____________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu ____________ (nome e qualificação com-
pleta). Testemunha alfabetizada. Compromissada na forma da lei, aos costumes nada disse
e respondeu ____________. Nada mais disse nem lhe foi perguntado. Lido e achado
conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devidamente assinado pela
Autoridade Policial, pela testemunha e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e
imprimi. (*)

Autoridade Policial _______________________

Testemunha _____________________________

Escrivão(ã) de Polícia _____________________

(*) Este documento constitui a terceira peça do auto de prisão em flagrante delito a ser ela elaborada
pela autoridade policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo, objetivando a oitiva da(s) testemunha(s).

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERMO DE DECLARAÇÕES
EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ____________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu ____________ (nome e qualificação com-
pleta). Em seguida passou a Autoridade Policial a ouvir a vítima, que às perguntas respon-
deu ____________. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Lido e achado conforme
para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devidamente assinado pela Autoridade
Policial, pela vítima e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _______________________

Vítima _________________________________

Escrivão(ã) de Polícia _____________________

(*) Este documento constitui a quarta peça do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela
autoridade policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo, objetivando a oitiva da(s) vítima(s), se possível
e conveniente.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

AUTO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO


EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ____________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, passou-se à formalização do interrogatório de __________,
RG ________, de nacionalidade ____________, natural de ____________, nascido aos
____________, filho de ____________ e ____________, de profissão ____________,
residente na ____________ e com endereço de trabalho na ____________. Sabendo ler
e escrever. Preliminarmente, foi o interrogando cientificado pela Autoridade Policial quan-
to aos seus direitos e garantias individuais constitucionalmente previstos, em especial
os de receber assistência de familiares e de advogado que indicar, não ser identificado
criminalmente senão nas hipóteses legais, ter respeitada sua integridade física e moral,
manter-se em silêncio e/ou declinar informações que reputar úteis à sua defesa, conhecer
a identidade do autor de sua prisão e, se admitida, prestar fiança criminal ou livrar-se solto.
Cientificado da imputação que lhe é feita e das provas contra si existentes, interrogado
pela Autoridade Policial, às perguntas respondeu :____________________________
____________________. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Lido e achado con-
forme para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devidamente assinado pela
Autoridade Policial, pelo interrogado e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e
imprimi. (*)

Autoridade Policial _______________________

Interrogado _____________________________

Escrivão(ã) de Polícia _____________________

(*) Este documento constitui a quinta peça do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela
autoridade policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo, objetivando a documentação da versão do
conduzido.
Caso não queira, não possa ou não saiba assinar, a autoridade policial deverá proceder nos termos do
artigo 304, § 3º, do CPP, incluindo neste auto duas testemunhas instrumentárias.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

DESPACHOS CONCLUSIVOS DO DELEGADO DE POLÍCIA

1. Despacho que considera regular e legal a prisão

A prisão em flagrante do acusado, nos termos obedientes ao artigo 302 do


Código de Processo Penal, foi efetivada regularmente tendo em vista o conceito de
estado de flagrância.
As provas decorrentes dos depoimentos do condutor, das testemunhas e
declaração da vítima indicam ser o acusado autor do ilícito penal previsto no
artigo______ do Código Penal e que define o crime de ____________________.
Expeça-se Nota de Culpa para cientificar o acusado que a sua prisão em fla-
grante decorreu em razão de prática criminal fornecendo-lhe o respectivo documen-
to que indica o condutor que efetuou a prisão, o nome das testemunhas arroladas
e da vítima.
Tratando-se de infração penal inafiançável e havendo elementos que indicam
ser o acusado o seu autor, nos termos do § 1º do artigo 304 do Código de Processo
Penal, sejam tomadas as providências para o seu recolhimento à prisão.
Oficie-se ao juiz competente comunicado a prisão do acusado, encaminhando
o respectivo auto de flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas e a infor-
mação do local onde se encontra recolhido.
Tendo em vista não ter o acusado constituído advogado para a sua defesa
encaminhe-se cópia do autor de prisão em flagrante à Defensoria Pública.
Atendendo indicação do acusado proceda à comunicação de prisão à família
do preso ou à pessoa por ele indicada.

Data
Delegado(a) de Polícia

2. Despachos que consideram insubsistente a prisão

2.1 - Diante das provas carreadas neste Auto de Prisão em Flagrante Delito
reconhecendo não haver ilícito penal na conduta praticada pelo conduzido julgo
insubsistente a prisão efetuada procedendo-se à comunicação desta decisão e o en-
caminhamento do respectivo auto ao Judiciário.
2.2 - Diante das provas carreadas neste Auto de Prisão em Flagrante Delito
reconhecendo não ser o conduzido autor da infração penal descrita neste auto, jul-
go insubsistente a prisão efetuada procedendo-se à comunicação desta decisão e o
encaminhamento do respectivo auto ao Judiciário.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO II

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO E APREENSÃO


DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Às ____hs do dia____do mês de ___________ de ____, na sede___________ (uni-


dade policial) __________ (município), onde presente se achava a Autoridade Policial
Doutor(a) ___________, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu o CONDU-
TOR __________ (nome e RG), conduzindo preso __________ e o adolescente autor
de ato infracional ____________, por infringirem, em tese,_______________ (funda-
mentação legal), em virtude de _____________ (sintética descrição da conduta do
preso e do adolescente autor de ato infracional), respectivamente, na ____________
(local do crime), do que foram testemunhas ____________ (nome das testemunhas).
Deliberou a Autoridade Policial por cientificar o preso e o adolescente apreendido
quanto aos seus direitos e garantias individuais previstos nos incisos do artigo 5º da
Constituição Federal, em especial os de receberem assistência de familiares e de ad-
vogado que indicarem, não serem identificados criminalmente senão nas hipóteses
legais, terem respeitadas suas integridades físicas e morais, manterem-se em silêncio e/
ou declinarem informações que reputarem úteis às suas defesas, conhecerem a identi-
dade do autor de sua prisão e sua apreensão e, se admitida para o preso, prestar fiança
criminal ou livrar-se solto, determinou a lavratura deste AUTO DE PRISÃO EM
FLAGRANTE DELITO E APREENSÃO DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO
INFRACIONAL, conforme documentação adiante acostada, que fica fazendo parte
integrante deste: 1) oitiva do condutor com entrega de cópia do termo; 2) expedição
de recibo de entrega do preso e do adolescente autor de ato infracional em favor do
condutor; 3) oitiva das testemunhas; 4) oitiva da vítima, se possível e conveniente; 5)
oitiva do adolescente autor de ato infracional; 6) interrogatório do conduzido. De-
monstradas, pelos elementos de convicção colhidos, a autoria e a materialidade da
infração penal e do ato infracional, julgou a Autoridade Policial subsistente este auto
de prisão em flagrante delito e apreensão de adolescente autor de ato infracional,
determinando ainda a expedição de Nota de Culpa ao preso. Nada mais havendo,
determinou a Autoridade Policial o encerramento deste que assina com o adolescente
autor de ato infracional, o curador, o indiciado e comigo, Escrivão de Polícia que o
digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial ___________________________


Adolescente__________________________________
Curador_____________________________________
Indiciado____________________________________
Escrivão(ã) de Polícia__________________________
____________
(*) Este documento constitui a peça final do Auto de Prisão em Flagrante Delito e Apreensão de
Adolescente Autor de Ato Infracional a ser elaborada pela Autoridade Policial e por Escrivão(ã) de seu
cargo, obje­tivando a juntada dos anexos produzidos anteriormente, funcionando como a Portaria do
Inquérito Policial.
Caso o acusado e o adolescente apreendido não queiram, não possam ou não saibam assinar, a
Autoridade Policial deverá proceder nos termos dos artigos 304, § 3º, do CPP, incluindo neste auto duas
testemunhas instrumentárias.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERMO DE ASSENTADA DO CONDUTOR


EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO E APREENSÃO
DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Às ___ hs do dia ___ do mês de __________ de ____, na sede ________(unidade


policial), ____________ (município), onde presente se achava a Autoridade Policial
Doutor(a) _____________, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu _____________
(nome e qualificação completa), conduzindo preso ________________ e apreendido o
adolescente em conflito com a lei ____________, por infração, em tese, ____________
(fundamentação legal), em virtude de _______________ (sintética descrição da conduta
do preso e do adolescente autor de ato infracional), na ________________ (local do
crime). Compromissado na forma da lei, aos costumes nada disse. Indagado, às perguntas
respondeu ________________. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Lido e achado
conforme, para integrar auto de prisão em flagrante delito e apreensão de adolescente
autor de ato infracional, vai devidamente assinado pela Autoridade Policial, pelo condutor
e por mim Escrivão(ã) de Polícia, que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial __________________________

Condutor __________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ________________________

(*) Este documento constitui a primeira peça do Auto de Prisão em Flagrante Delito e Apreensão de
Adolescente Autor de Ato Infracional a ser elaborada pela Autoridade Policial e por Escrivão(ã) de Polícia
de seu cargo, objetivando a oitiva do condutor.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

RECIBO DE ENTREGA DO PRESO E DO ADOLESCENTE


AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Às ____ hs do dia ____ do mês de ________ de ____, na sede ________ (unidade


policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ________________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu o CONDUTOR ________________ (nome
e RG), conduzindo preso ________________ e apreendido o adolescente em conflito
com a lei ____________, por infração, em tese, ____________ (fundamentação legal),
por terem sido surpreendidos ________________ (sintética descrição da conduta do
preso e do adolescente autor de ato infracional), na ________________ (local do crime),
do que foram testemunhas ____________________ (nome das testemunhas). Após ouvir
o condutor em termo de assentada e formando seu convencimento jurídico, deliberou a
Autoridade Policial expedir em favor deste o presente “recibo de entrega do preso e do
adolescente autor de ato infracional” que assina com o condutor e comigo, Escrivão(ã) de
Polícia, que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Condutor _____________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a segunda peça do Auto de Prisão em Flagrante Delito e Apreensão
de Adolescente Autor de Ato Infracional a ser elaborada pela Autoridade Policial e por Escrivão(ã) de
Polícia de seu cargo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERMO DE ASSENTADA
EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO E APREENSÃO
DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Às ____ hs do dia ____ do mês de ________ de ____, na sede ________(unidade


policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) __________, comigo,
Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu _______________________ (nome e qualificação
completa). Testemunha alfabetizada. Compromissada na forma da lei, aos costumes nada
disse e respondeu ________________. Nada mais disse nem lhe foi perguntado. Lido e
achado conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito e apreensão de adoles-
cente autor de ato infracional, vai devidamente assinado pela Autoridade Policial, pela
testemunha e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Testemunha ___________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a terceira peça do Auto de Prisão em Flagrante Delito e Apreensão
de Adolescente Autor de Ato Infracional a ser ela elaborada pela Autoridade Policial e por Escrivão(ã) de
Polícia de seu cargo, objetivando a oitiva da testemunha.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

TERMO DE DECLARAÇÕES
EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO E APREENSÃO
DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Às ____ hs do dia ____ do mês de ________ de ____, na sede ________ (unidade


policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ________________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu ________________ (nome e qualificação
completa). Em seguida passou a Autoridade Policial a ouvir a vítima, que às perguntas
respondeu ________________. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Lido e achado
conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito e apreensão de adolescente autor
de ato infracional, vai devidamente assinado pela Autoridade Policial, pela vítima e por
mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Vítima _______________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a quarta peça do Auto de Prisão em Flagrante Delito e Apreensão de
Adolescente Autor de Ato Infracional a ser elaborada pela Autoridade Policial e por Escrivão(ã) de
Polícia de seu cargo, objetivando a oitiva da vítima, se possível e conveniente.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERMO DE DECLARAÇÕES DO ADOLESCENTE


AUTOR DE ATO INFRACIONAL
EM AUTO DE APREENSÃO EM FLAGRANTE

Às ___ hs do dia ____ do mês de ________ de ____, na sede _________ (unidade


policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ________________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, passou-se à formalização da inquirição do adolescente
autor de ato infracional ___________________ (qualificação completa e citar a idade).
Inquirido na presença do curador ora nomeado _______________ (nome e qualificação).
Sabendo ler e escrever. Preliminarmente, foi o adolescente em conflito com a lei cientificado
pela Autoridade Policial quanto aos seus direitos e garantias individuais constitucional-
mente previstos, em especial os de receber assistência de familiares e de advogado que
indicar, não ser identificado criminalmente senão nas hipóteses legais, ter respeitada sua
integridade física e moral, manter-se em silêncio e/ou declinar informações que reputar
úteis à sua defesa, conhecer a identidade do autor de sua apreensão. Cientificado da
imputação que lhe é feita e das provas contra si existentes, inquirido pela Autoridade
Policial, às perguntas respondeu: ____________________. Nada mais disse, nem lhe foi
perguntado. Lido e achado conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito e
apreensão de adolescente autor de ato infracional, vai devidamente assinado pela Autori-
dade Policial, pelo adolescente em conflito com a lei, pelo curador e por mim Escrivão(ã) de
Polícia que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial __________________________________

Adolescente Autor de Ato Infracional ___________________

Curador ___________________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ________________________________

(*) Caso em que há participação de adolescente em conflito com a lei na autoria da infração penal.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

AUTO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO


EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO E APREENSÃO
DE ADOLESCENTE AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Às ___ hs do dia ____ do mês de ________ de ____, na sede _________(unidade


policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ________________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, passou-se à formalização do interrogatório de ___________,
RG ________, de nacionalidade ________, natural de ____________, nascido aos ____,
filho de _____________ e ______________, de profissão ______________, residente
na ________________ e com endereço de trabalho na _________________. Sabendo
ler e escrever. Preliminarmente, foi o interrogando cientificado pela Autoridade Policial
quanto aos seus direitos e garantias individuais constitucionalmente previstos, em espe-
cial os de receber assistência de familiares e de advogado que indicar, não ser identificado
criminalmente senão nas hipóteses legais, ter respeitada sua integridade física e moral,
manter-se em silêncio e/ou declinar informações que reputar úteis à sua defesa, conhecer
a identidade do autor de sua prisão e, se admitida, prestar fiança criminal ou livrar-se solto.
Cientificado da imputação que lhe é feita e das provas contra si existentes, interrogado
pela Autoridade Policial, às perguntas respondeu: ________________. Nada mais disse,
nem lhe foi perguntado. Lido e achado conforme para integrar auto de prisão em flagrante
delito e apreensão de adolescente autor de ato infracional, vai devidamente assinado pela
Autoridade Policial, pelo interrogado e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e
imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Interrogado ___________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a quinta peça do Auto de Prisão em Flagrante Delito e Apreensão de
Adolescente Autor de Ato Infracional a ser elaborada pela Autoridade Policial e por Escrivão(ã) de
Polícia de seu cargo, objetivando a documentação da versão do conduzido.
Caso não queira, não possa ou não saiba assinar, a Autoridade Policial deverá proceder nos
termos do artigo 304, § 3º, do CPP, incluindo neste auto duas testemunhas instrumentárias.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO III

AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial) _____________ (município), onde presente se achava a Autoridade
Policial Doutor(a) ______________, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, pela referida Autori-
dade foi dito, sob o compromisso de seu cargo, que dera voz de prisão e efetivamente
prendido em flagrante o autuado presente ________________, por infração, em tese,
___________ (fundamentação legal), pelos fatos que passa a consignar ___________
(sintética descrição da conduta do preso), na ______________ (local do crime), tendo
antes, em obediência aos preceitos constitucionais vigentes, informado ao acusado
quanto aos seus direitos e garantias individuais previstos nos incisos do artigo 5º da
Constituição Federal, em especial os de receber assistência de familiares e de advogado
que indicar, não ser identificado criminalmente senão nas hipóteses legais, ter respeitada
sua integridade física e moral, manter-se em silêncio e/ou declinar informações que reputar
úteis à sua defesa, conhecer a identidade do autor de sua prisão e, se admitida, prestar
fiança criminal ou livrar-se solto, determinou a lavratura deste AUTO DE PRISÃO EM
FLAGRANTE DELITO, conforme documentação adiante acostada, que fica fazendo parte
integrante deste: 1) interrogatório do acusado; 2) oitiva das testemunhas; 3) oitiva da
vítima, se possível e conveniente. Demonstradas, pelos elementos de convicção colhidos
a autoria e a materialidade da infração penal, julgou a Autoridade Policial subsistente este
auto de prisão em flagrante delito, determinando ainda a expedição de Nota de Culpa ao
preso. Nada mais havendo, determinou a Autoridade Policial o encerramento deste que
assina com o indiciado e comigo, Escrivão de Polícia que o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Indiciado _____________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a peça final do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela
autoridade policial e por escrivão(ã) de seu cargo, objetivando a juntada dos anexos produzidos anteriormente,
funcionando como a portaria do Inquérito Policial.
Caso o acusado não queira, não possa ou não saiba assinar, a autoridade policial deverá proceder nos
termos do artigo 304, § 3º, do CPP, incluindo neste auto duas testemunhas instrumentárias.
É importante salientar a necessidade do encaminhamento imediato destes autos à autoridade
judiciária (artigo 307 do CPP).

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

AUTO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO


EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) ______
_________, comigo, Escrivão(ã) de Polícia, passou-se à formalização do interrogatório de
_____________, RG ____________, de nacionalidade ____________, natural de
____________, nascido aos ________, filho de _____________ e _____________, de
profissão ____________, residente na ____________ e com endereço de trabalho na
____________. Sabendo ler e escrever. Preliminarmente, foi o interrogando cientificado
pela Autoridade Policial quanto aos seus direitos e garantias individuais constitucional-
mente previstos, em especial os de receber assistência de familiares e de advogado que
indicar, não ser identificado criminalmente senão nas hipóteses legais, ter respeitada sua
integridade física e moral, manter-se em silêncio e/ou declinar informações que reputar
úteis à sua defesa, conhecer a identidade do autor de sua prisão e, se admitida, prestar
fiança criminal ou livrar-se solto. Cientificado da imputação que lhe é feita e das provas
contra si existentes, interrogado pela Autoridade Policial, às perguntas respondeu:
________________________. Nada mais disse, nem lhe foi perguntado. Lido e achado
conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devidamente assinado pela
Autoridade Policial, pelo interrogado e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o digitei e
imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Interrogado ___________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a peça do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela autoridade
policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo, objetivando a documentação da versão do conduzido.
Caso não queira, não possa ou não saiba assinar, a autoridade policial deverá proceder nos termos do
artigo 304, § 3º, do CPP, incluindo neste auto duas testemunhas instrumentárias.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

TERMO DE ASSENTADA
EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) __________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu ________________ (nome e qualificação
completa). Testemunha alfabetizada. Compromissada na forma da lei, aos costumes nada
disse e respondeu ____________________. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.
Lido e achado conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devidamente
assinado pela Autoridade Policial, pela testemunha e por mim Escrivão(ã) de Polícia que o
digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Testemunha ___________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a peça do auto de prisão em flagrante delito a ser ela elaborada pela
autoridade policial e por escrivão(ã) de polícia de seu cargo, objetivando a oitiva da(s) testemunha(s).

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

TERMO DE DECLARAÇÕES
EM AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO

Às ____ hs do dia ____ do mês de ____________ de ____, na sede ____________


(unidade policial), onde presente se achava a Autoridade Policial Doutor(a) _________,
comigo, Escrivão(ã) de Polícia, aí compareceu ______________ (nome e qualificação
completa). Em seguida passou a Autoridade Policial a ouvir a vítima, que às perguntas
respondeu ____________________________. Nada mais disse, nem lhe foi pergunta-
do. Lido e achado conforme para integrar auto de prisão em flagrante delito, vai devida-
mente assinado pela Autoridade Policial, pela vítima e por mim Escrivão(ã) de Polícia que
o digitei e imprimi. (*)

Autoridade Policial _____________________________

Vítima _______________________________________

Escrivão(ã) de Polícia ___________________________

(*) Este documento constitui a peça do auto de prisão em flagrante delito a ser elaborada pela autoridade
policial e por escrivão(ã) de Polícia de seu cargo, objetivando a oitiva da(s) vítima(s), se possível e conveniente.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO DE DESPACHO 1

Cls.
Estando devidamente comprovado o ilícito penal praticado pelo autuado, expeça-se
nota de culpa, entregando-lhe uma das vias, mediante recibo.
Proceda-se à identificação do acusado, requisitando-se ao Instituto de Identificação
sua folha de antecedentes.
Requisite-se ao Instituto de Criminalística e ao Instituto Médico Legal os exames
periciais indispensáveis à documentação da materialidade da infração.
Tratando-se de infração penal inafiançável, encaminhe-se o preso ao estabelecimen-
to prisional da Comarca.
Nos termos do disposto no artigo 307 do CPP, em razão de ter a infração sido praticada
na presença da autoridade policial (ou ter sido praticada contra a autoridade policial),
encaminhe-se, imediatamente, o auto de prisão em flagrante e a documentação que o instrui
ao MM. Juiz de Direito competente.

_______________, ____ de _______________ de _______

_____________________________
Delegado de Polícia

1 Neste modelo enquadram-se duas variantes:


a) quando o crime é praticado na presença da autoridade e,
b) quando o crime é praticado contra a Autoridade no exercício de suas funções.

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CAPÍTULO VI
REQUISIÇÕES DE EXAMES PERICIAIS

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Perícias em geral; 3. Momento da deter-


minação da perícia; 4. Procedimentos para requisições de exames perícias; 5. Reali-
zação da perícia; 6. Modalidades de perícias; 6.1 DNA; 6.2 Comissão de Pareceres
Médico Legais; 6.2.1 Metodologia utilizada para elaboração dos pareceres; 7. Con-
fecção de requisições de exames periciais; 7.1 Destinatários das requisições periciais;
7.2 Prazo de cobrança de requisições periciais; 7.3 Fundamento legal; 8. Conclusão;
9. Quesitos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A expressão “corpo de delito”, segundo o magistério de Galdino Siqueira, sig-


nifica, a princípio, o cadáver da vítima, passando, posteriormente, a indicar toda
pessoa ou coisa que tivesse sofrido as consequências imediatas da infração penal.
Aliás, o renomado autor deixou registrado que o conceito abrange “o conjunto dos
elementos materiais de uma infração cometida”.1
Modernamente, utiliza-se a expressão corpo de delito como qualquer vestígio
material que o perito esteja examinando.2
É o resultado redigido e autuado da perícia, tendo como objeto evidenciar a
realidade da infração penal e demonstrar a culpabilidade ou não do agente (Delton
Croce/Delton Croce Junior).
A requisição de exame pericial é o meio pelo qual a autoridade policial deter-
mina a realização de trabalho técnico-científico necessário à perfeita configuração
da infração penal. Esse documento deverá mencionar, de forma compreensível, o
objetivo da perícia, bem como todas as informações conhecidas sobre o caso, for-
mulando-se, sempre que possível, quesitos específicos para que se obtenha o total
entendimento do conteúdo do laudo pericial.

2. PERÍCIAS EM GERAL
Perícias em geral são todos os exames de natureza forense realizados por peri-
tos, nomeadamente Médicos Legistas e Peritos Criminais, destinados a prestar es-
clarecimentos à Polícia e à Justiça e que constituem a demonstração da existência de
um fato, bem como dos meios e modos empregados.

1 ACOSTA,Walter P. O Processo Penal. Rio de Janeiro: Coleção Jurídica da Editora do Autor.


10ª ed.1974, p. 249.
2 Dorea, Luis Eduardo C. – Criminalística. São Paulo. Millenium. 2ª ed. 2003. pg. 24.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Segundo Pereira e Souza, “a perícia é, de todas as provas, a mais plena; pre-


valece sobre as outras, porque aquilo que se vê é moralmente mais certo do que se
ouve”.3
Ressalta Roberto Lyra que “o perito auxilia o juiz no conhecimento do fato e,
como tal, não é passível de avaliação técnico-processual. Ele não atua, porém, no
convencimento. Do contrário, estaria cindida a função jurisdicional, por natureza
indivisível”.4

3. MOMENTO DA DETERMINAÇÃO DA PERÍCIA

As perícias devem ser determinadas pela autoridade policial logo que tiver
conhecimento da prática de infração penal, nos termos do art. 6º, VII, do Código
de Processo Penal. O Delegado de Polícia deve evitar requisitar perícia ao longo do
Inquérito Policial, comportamento que, na maior parte das vezes, dificulta a com-
provação da infração penal, uma vez que o laudo, produzido pelos peritos, ainda
que sem valor de prova absoluta, não vincula o Juiz, conforme dispõe o art. 182,
tendo peso específico na solução do caso investigado, já que sua natureza jurídica é
de meio de prova.

4. PROCEDIMENTOS PARA REQUISIÇÕES DE EXAMES PERICIAIS

A iniciativa da requisição de exames periciais no curso do Inquérito Policial


deverá ser sempre do Delegado de Polícia, presidente do feito, proibindo-se as re-
quisições periciais formuladas por outros integrantes das carreiras policiais, sendo
vedadas aquelas desprovidas de qualquer técnica ou pertinência com aquilo que a
investigação criminal objetiva apurar.
O isolamento e a consequente preservação do local de infração penal é uma
garantia de que o perito terá de encontrar a cena do crime intacta e, com isso, con-
dições técnicas de analisar os possíveis vestígios existentes. Tal procedimento sem
dúvida é uma garantia para a investigação como um todo, pois os profissionais
especializados delegados, peritos criminais e médicos legistas terão muito mais ele-
mentos para carrear para o inquérito e, posteriormente, ao processo criminal.
O Código de Processo Penal evidencia de forma direta, a importância e a re-
levância que a perícia representa no contexto probatório referindo-se sobre a indis-
pensabilidade de tal procedimento. A prova pericial é produzida a partir da fun-
damentação científica dos elementos materiais deixados em decorrência da ação
delituosa. Nesse particular é necessário que as requisições formuladas pelos Magis-
trados e Delegados de Polícia, sempre que possível, elaborem quesitos específicos

3 ACOSTA, op. cit., p. 251


4 ACOSTA, op. cit., p. 251

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

de uma forma clara e objetiva. Inclusive é importante constar um histórico do fato


ocorrido, para o perito entender o contexto investigatório policial.
Este Manual de Polícia Judiciária traz um anexo de sugestões para quesitação
por parte da autoridade policial, que deverá, nos casos omissos, buscar orientação
através da leitura do tipo penal violado.

5. REALIZAÇÃO DA PERÍCIA

As perícias, em regra, são realizadas por perito oficial, servidor público de


nível universitário, consoante disposto no artigo 159 do Código de Processo Penal.
Não havendo perito oficial, a autoridade policial pode designar para realiza-
ção do exame duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, esco-
lhidas, de preferência entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza
do exame, mediante termo que prestarão de compromisso de bem e fielmente de-
sempenhar o encargo, nos termos do §§ 1° e 2° do artigo 159 do Código de Processo
Penal.

6. MODALIDADES DE PERÍCIAS

Deve a autoridade policial requisitar, nos casos de infração penal que deixa
vestígios, a realização de exame de corpo de delito, direto ou indireto, nos termos do
artigo 6º, inciso VII e artigo158 do estatuto processual penal.
O Código de Processo Penal trata das perícias em geral: a necropsia, assim
como a exumação (artigos 162 e 166); o exame de lesões corporais, seja o inicial,
quando a autoridade policial toma conhecimento do fato, ou o complementar, que
poderá ser ordenado, pela autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requeri-
mento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor, nos
termos do artigo 168, sempre que objetivar a classificação das lesões, que podem
ser leves, graves ou gravíssimas para efeito de classificação do delito nos termos
do artigo 129, § 1°, inciso I do Código Penal. Pode sua falta, em qualquer caso, ser
suprida pela prova testemunhal (§ 3º do artigo 168); o exame do local de infração,
em casos de homicídios, acidentes de trânsito, dentre outros (artigo 169); as perícias
de laboratórios, comuns nos exames toxicológicos que objetivam apurar, por exem-
plo, envenenamento e embriaguez (artigo 170); o exame de local de crimes contra
o patrimônio destinado a apurar os vestígios de destruição ou rompimento de obs-
táculos ou por meio de escalada para a subtração da coisa, bem como a avaliação
dos respectivos objetos, quando necessário (artigos 171 e 172); o exame de local de
incêndio, para apurar a causa e o lugar onde se iniciou o fogo e a extensão do dano
(artigo 173); o exame para reconhecimento de escritos, estabelecendo regras para
colheita de material (artigo 174) e o exame de instrumentos da infração, de realiza-
ção obrigatória, quaisquer que sejam os instrumentos utilizados na ação criminosa,
e.g., armas de fogo, ou armas brancas, além de variados instrumentos cortantes,
perfurantes, contundentes etc (artigo 175).

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Destaque-se que, para efeito de lavratura de auto de prisão em flagrante e es-


tabelecimento da materialidade de delito referente a droga ilícita, é indispensável
laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, consoante os §§ 1° e 2° do
artigo 50 da Lei n° 11.343, de 23 de agosto de 2006.

6.1 DNA

Vale lembrar a modalidade de exame pericial embasada na investigação do


DNA, seguindo algumas informações técnicas para a coleta do material indispensá-
vel à investigação policial.
A coleta de um determinado vestígio em local de crime depende da habilidade
e técnica do coletor. Existe uma gama muito grande de vestígios que podem ser co-
lhidos e submetidos à análise forense.
Vestígios de natureza biológica: sangue, sêmen (in natura, em manchas ou cros-
tas), tecidos, células, ossos, dentes, órgãos, pelos, cabelos, urina, saliva e outros fluí-
dos e secreções corporais.
É importante ter em mente que se o vestígio não for apropriadamente coleta-
do, embalado, documentado e preservado, poderá não cumprir os requisitos cientí-
ficos e legais para ser admitido como prova perante a justiça.
Os possíveis tipos de amostras para análise de DNA são:
• sangue – mais habitual no local do crime;
• sêmen (com espermatozóides) – habitualmente nos crimes sexuais nem
sempre detectado a olho nu;
• saliva – encontra-se nas células da mucosa bucal e glóbulos brancos nem
sempre detectada a olho nu. Pode ser encontrada em mordaças, máscaras,
recipientes de bebidas ou comidas, goma de mascar, escova de dente e até
mesmo em cola de selos (carta selada ou não);
• pelos e cabelos - devem ser coletadas células que rodeiam o bulbo;
• células da pele – podem ser encontradas sob o leito ungueal, luvas, gorros,
partes de roupas, cava da camisa;
• urina – encontram-se células de revestimento da uretra;
• secreções nasais – encontradas em células, em roupas ou lenços usados;
• marcas de mordidas – encontradas células da saliva na lesão ou ao seu
redor;
• restos humanos – retirada de célula na cavidade cardíaca, no bulbo de
cabelo, no fragmento de músculo, nos fragmentos ósseos (ossos longos)
e nos dentes não restaurados (molares, pré-molares, caninos e incisivos –
nessa ordem preferencialmente).
Para uma correta coleta de DNA, nos crimes sexuais, deve ser a vítima ime-
diatamente examinada por médico especialista. As horas, pós-fato, são inimigas da
análise pericial. Algumas recomendações específicas devem ser observadas, a saber:

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

• restos de sangue, saliva ou sêmen de uma pessoa, encontrados sobre outra,


devem, obviamente, conter restos do portador;
• vestígio biológico depositado nas cavidades anal, oral ou vaginal, vai estar
contaminado por células do portador;
• pelos e cabelos: merecem estudo especial em violações vaginais, porque
é comum a mescla de pelos pubianos do agressor e da vítima (papel e
pente fino são necessários). Na coleta não se toca no bulbo com nenhum
tipo de instrumento, colocando-se os pelos/cabelos em papel com fita
adesiva;
• sêmen contido em um preservativo: toda peça deve ser colhida em um tubo
estéril (para ser congelado). Já para o sêmen líquido, deve utilizar-se o
chumaço de algodão ou swab seco, antes de ser embalado;
• saliva ou urina: se estiver úmido sobre a pessoa ou no local deve-se proceder
tal como na coleta de sêmen líquido;
• unhas: observar se as unhas apresentam fibras, pelos ou sangue para depois
proceder ao corte das bordas superior de cada uma delas;
• vestígios úmidos: geralmente em roupas são manchas úmidas de sangue
ou de sêmen. As peças coletadas em local de crime devem ser secas em
temperatura ambiente em lugar preservado de luz e do calor. As peças
devem ser envolvidas com papel limpo antes de serem enviadas ao
laboratório.
A aplicação do exame para a identificação do DNA pode ocorrer em:
• suspeito em crime sexual (estupro, atentado violento ao pudor, ato
libidinoso);
• cadáveres carbonizados, em decomposição (restos mortais, partes/
ossadas), mutilados e nos abandonados nos casos de abortos provocados,
infanticídio;
• relação entre instrumento lesivo e vítima;
• no material biológico (sangue, esperma, pêlos e pele), coletados em local de
crime;
• investigação da paternidade, no caso de gravidez, resultante de estupro;
• análise de vínculo genético em sequestro de criança, rapto e tráfico de
menores.

6.2 Comissão de Pareceres Médico Legais

Elaboram pareceres médico e odontolegais, solicitados pelas autoridades po-


liciais e/ou judiciárias.
Os pareceres envolvem questões de eventuais procedimentos médicos e odon-
tológicos, supostamente inadequados, interrupções seletivas de gravidez e interpre-
tações de laudos envolvendo as áreas de criminalística, odontologia e medicina legal
em geral.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

6.2.1 Metodologia utilizada para a elaboração dos Pareceres


Método da falseabilidade absoluta proposto por Karl Popper, onde a partir
de um problema se formula hipóteses onde então se submete as mesmas a testes de
eliminação de erros ou refutação, através da discussão dos casos pelos membros
participantes da Comissão. Utiliza-se também o método da lógica modal e método
dedutivo simples. Atualmente a comissão conta com cinco médicos legistas e um
perito criminal (odontolegista).
Quando solicitado o parecer, é importante que a autoridade policial envie o
inquérito policial para que os membros da comissão possam contar com o máximo
de informações possíveis no sentido de levar a termo o múnus.
Por resolução do Conselho Federal de Medicina, a comissão não está autori-
zada a opinar cerca da imprudência, imperícia ou negligência médica, cabendo tal
opinião aos Conselhos Regionais de Medicina e os Jurisconsultos. Convém salientar
que serão fornecidos pareceres, constando sobre a adequação e/ou a inadequação
dos procedimentos médicos/odontológicos.

7. CONFECÇÃO DE REQUISIÇÕES DE EXAMES PERICIAIS

As requisições de exames periciais devem ser preparadas de modo eficiente,


com formalidades mínimas para o desenvolvimento ágil dos trabalhos de Polícia
Judiciária, evitando-se, ao máximo, futuras nulidades.
Eventuais omissões encontradas nos modelos computadorizados podem ser
supridas pela autoridade policial.
Em casos de lesões corporais, o Delegado de Polícia deve providenciar para
que a vítima seja submetida, logo que possível e de forma imediata, a exame de cor-
po de delito, a fim de que não desapareçam os vestígios.
As autoridades policiais, ao elaborarem as requisições médico-legais, em cri-
mes contra a pessoa, devem requisitar aos peritos que, além de responderem à que-
sitação, justifiquem suas conclusões.
Os exames laboratoriais requisitados para a comprovação da materialidade de
delito ou à comprovação de uma circunstância do tipo penal exigem que o perito,
por ocasião do exame, guarde material suficiente para a eventualidade de nova perí-
cia nos termos do artigo 170 do Código de Processo Penal.
Ressalte-se que a fotografia é poderosa auxiliar da investigação criminal, de
sorte que a autoridade policial deverá, nos termos da segunda parte do artigo 170,
por ocasião da formulação da requisição, determinar, sempre que possível, a ilus-
tração fotográfica do cenário do crime, quaisquer que sejam eles, principalmente
naqueles que envolvam vítimas desconhecidas, em locais de encontro de drogas, ou
até mesmo no desenvolvimento do próprio exame pericial.

7.1 DESTINATÁRIOS DAS REQUISIÇÕES PERICIAIS

As requisições médico-legais são endereçadas ao Instituto Médico-Legal, de-


vendo primar pela exatidão e a maior quantidade de dados em relação à vítima, à

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

natureza do pedido, se diretas, indiretas ou complementares, procurando a autori-


dade policial orientar a parte interessada para onde se dirigir, e em que horário.
As requisições destinadas ao Instituto de Criminalística comportam várias
modalidades, nomeadamente, para exames de acidentes de trânsito, locais de aci-
dentes, croqui de locais, exame de local de homicídio, locais de crime contra o patri-
mônio, exames residuográficos, exames de acidentes de trabalho, exames químicos,
de engenharia, de contabilidade, de material grafotécnico, de armas de fogo, de pro-
jéteis, de balística, de confronto, de comparação e outros.
Por ocasião da expedição dessas requisições, a autoridade policial deverá ater-
-se aos quesitos dela constantes, a fim de que o Perito, quando da confecção do res-
pectivo laudo, possa prestar as devidas informações, pareceres e conclusões finais, de
forma fundamentada, como exigida pela jurisprudência.
Em casos de apreensão de substâncias, que causem dependência física ou
psíquica, o material apreendido deve ser enviado ao IML, para a elaboração de
laudo de constatação, suporte processual penal especial, para a lavratura de autos
de prisão em flagrante contra dependentes, ou traficantes, e igualmente, do laudo
definitivo.
Outros exames específicos, quando envolverem perícias não realizadas pelo
Instituto Médico Leal ou pelo Instituto de Criminalística, deverão ser requisitados
a outros órgãos públicos especializados.

7.2 PRAZO DE COBRANÇA DE REQUISIÇÕES PERICIAIS

O laudo pericial, nos termos do parágrafo único do art. 160 do Código de Pro-
cesso Penal, será elaborado no prazo máximo de 10 (dez) dias, podendo este prazo
ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos, de tal sorte que,
em caso de atraso, o Delegado de Polícia deverá tomar providências junto aos insti-
tutos, no sentido de tê-lo em mãos no mais curto espaço de tempo.

7.3 FUNDAMENTO LEGAL

Segundo estabelece o artigo 176 do Código de Processo Penal, o Delegado de


Polícia e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.

8. CONCLUSÃO

O Delegado de Polícia, presidente do Inquérito Policial, e, por via de con-


sequência, das atividades de Polícia Judiciária, tem à sua disposição uma legis-
lação processual penal adequada à questão do exame do corpo de delito e das
perícias em geral. Deve evitar, ao máximo, o descumprimento do procedimen-
to estipulado, principalmente dos prazos fixados para a elaboração dos laudos
médico-legais e periciais.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

As requisições de exames periciais, quando emergentes, deverão ser elaboradas


com os quesitos necessários ao esclarecimento dos fatos em apuração, impondo-
-se, face ao atual Estado Democrático de Direito, uma Polícia Judiciária eficiente,
apoiada por Médicos Legistas e Peritos Criminais, integrando-se, assim, o binômio,
materialidade e autoria.

9. QUESITOS

Veja a seguir os quesitos deste capítulo.

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REQUISIÇÕES DE EXAMES PERICIAIS

Código Penal
(Decreto-lei nº 2.848, de 7-12-1940)

Imputabilidade penal
Art. 26 e parágrafo único
Quesitação médico-legal para exame de sanidade mental do indiciado

1) O examinando submetido a exame era, ao tempo da ação (ou da omissão), por


motivo de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou determinar-se
de acordo em esse entendimento? (Resposta justificada)
2) O examinando submetido a exame não possuía, ao tempo da ação (ou omissão),
em virtude de perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento mental in-
completo ou retardado, a plena capacidade de entender o caráter criminoso do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento? (Resposta justifica-
da)
3) Qual essa doença mental ou de que natureza era essa perturbação da saúde men-
tal?
4) Que grau de desenvolvimento mental apresenta o examinando submetido a exa-
me?

Menores de dezoito anos


Art. 27
Quesitação médico-legal para exame de criança ou de adolescente

1) O examinando é menor de 12 (doze) anos?


2) O submetido a exame é menor ou maior de 18 (dezoito) anos (Resposta justificada)

Embriaguez
Art. 28, II, e §§
Quesitação médico-legal para verificação de embriaguez

1) O examinando está embriagado pelo álcool ou por substância de efeitos análo-


gos? (Resposta Justificada)
2) Essa embriaguez é completa ou incompleta? (Resposta Justificada)
3) O examinando, em virtude da embriaguez completa era, ao tempo da ação (ou
da omissão), inteiramente incapaz de entender o caráter criminoso do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento? (Resposta Justificada)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

4) O examinando, em virtude da embriaguez, não possuía, ao tempo da ação (ou


da omissão), a plena capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento? (Resposta Justificada)
5) O examinando, no estado em que se encontra, põe em perigo a segurança pró-
pria ou alheia?
6) A embriaguez do examinando é habitual?

Homicídio
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Houve morte?
2) Qual a causa da morte?
3) Qual o instrumento ou meio que produziu a morte?
4) A morte foi produzida por veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro
maio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum? (Resposta jus-
tificada)
5) Foi a morte ocasionada por lesão corporal anterior que, por sua sede, foi sua
causa eficiente?

Quesitação criminalística para exame de pessoa vítima de venefício

1) Houve propinação de veneno por meio endógeno ou exógeno?


2) Qual o veneno ministrado à vítima?
3) O veneno ministrado foi de tal qualidade ou em dose que causasse a morte da
vítima, ou que pudesse causá-la?
4) Não causando a morte, o veneno ministrado poderia produzir ou causar lesão
corporal?

Homicídio culposo
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) A morte resultou de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício?


(Resposta Justificada)

Infanticídio
Art. 123
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) Houve morte?
2) Ocorreu durante o parto, ou logo após?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3) Quantos dias de vida tinha o recém-nascido por ocasião do crime?


4) Qual a causa?
5) Foi produzia por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por
outro meio insidioso ou cruel?(Resposta Justificada)
6) A morte foi provocada por meios diretos ou indiretos?
Quesitação médico-legal para exame da indiciada
1) A examinanda encontrava-se sob a influência do estado puerperal ao tempo do
fato que lhe é imputado?
2) Qual o seu estado mental?
3) Foi o ato criminoso praticado sob a influência do estado puerperal?

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento


Art. 124
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) Houve aborto?
2) Foi ele provocado?
3) Qual o meio utilizado para tal provocação?
4) O meio empregado foi adequado para a provocação do aborto?
5) Em consequência do aborto ou do meio empregado para provocá-lo, sofreu a
gestante incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias,
perigo de vida, debilidade permanente de membro, sentido ou função, incapaci-
dade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutilização
de membro, sentido ou função, ou deformidade permanente?
6) Era a provocação do aborto o único meio de salvar a vida da gestante?
7) A gestante é alienada ou débil mental?
8) Houve ou não expulsão do óvulo (zigoto), embrião ou feto?

Aborto
Art. 126, parágrafo único
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) A gestante é menor de 14 (catorze) anos?
2) A gestante é alienada ou débil mental?
3) Há lesão corporal ou qualquer outro vestígio indicando ter havido emprego de
violência?

Aborto seguido de morte da gestante


Art. 127
Quesitação médico-legal para exame cadavérico da vítima
1) Houve morte?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) Qual a sua causa?


3) Há sinais de gravidez da vítima?
4) A morte da gestante sobreveio em consequência de aborto ou de meio emprega-
do para provocá-lo?
5) Qual o meio empregado para provocação do aborto?
6) A morte foi precedida de provocação de aborto?

Aborto necessário
Art. 128, I
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) A provocação do aborto foi feita como único meio de salvar a vida da gestante?

Lesão corporal
Art. 129
Quesitação médico-legal para exame inicial da vítima

1) Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do examinando? (resposta espe-


cificada)
2) Qual o instrumento ou meio que produziu a ofensa?
3) A ofensa foi produzida com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum? (Res-
posta Justificada)
4) Da ofensa resultou perigo de vida?
5) Da ofensa resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30
(trinta) dias?
6) Da ofensa resultou debilidade permanente de membro, sentido ou função, inca-
pacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inutili-
zação de membro, sentido ou função, ou deformidade permanente? (Resposta
Justificada)

Lesão corporal de natureza grave


Art. 129, e §§
Quesitação médico-legal para exame complementar da vítima

1) Da ofensa, objeto do exame de corpo de delito anterior, resultou ao examinando


incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias?
2) Dessa ofensa resultou perigo de vida, debilidade permanente de membro ou
função, incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda
ou inutilização de membro, sentido ou função, ou debilidade permanente? (Res-
posta Justificada) Se for o caso, acrescentar-se-á o seguinte quesito:
3) Dessa ofensa resultou aceleração de parto ou aborto? (Resposta Justificada)

212

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Lesão corporal de natureza grave


Quesitação médico-legal para exame da vítima do sexo masculino

1) Há ofensa à integridade corporal ou à saúde do examinando?


2) Qual a natureza do agente, instrumento ou meio que a produziu?
3) Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por
outro meio insidioso ou cruel? (Resposta Justificada)
4) Resultará incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias,
ou perigo de vida, ou debilidade permanente de membro, sentido ou função?
(Resposta Justificada)
5) Resultará incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável,
ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade perma-
nente? (Resposta Justificada).

Quesitação médico-legal para exame da vítima do sexo feminino

1) Há ofensa à integridade corporal ou à saúde da examinanda?


2) Qual a natureza do agente, instrumento ou meio que a produziu?
3) Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por
outro meio insidioso ou cruel? (Resposta Justificada)
4) Resultará incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias,
ou perigo de vida, ou debilidade permanente de membro, sentido ou função?
(Resposta Justificada)
5) Resultou aceleração de parto?
6) Resultará incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável,
ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou deformidade perma-
nente? (Resposta Justificada)
7) Resultou aborto?

Lesão corporal culposa


Art.129, § 6º
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do examinando? (Resposta Jus-


tificada)
2) Qual instrumento ou meio que produziu a ofensa?
3) Da ofensa resultou perigo de vida?
4) Da ofensa resultou incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30
(trinta) dias?
5) Da ofensa resultou debilidade permanente de membro, sentido ou função, in-
capacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável, perda ou inu-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

tilização de membro, sentido ou função, deformidade permanente? (Resposta


Justificada)
6) Se, prestado socorro imediato ao ofendido, haveria possibilidade de diminuir as
consequências das lesões?
7) Nos casos indicados e para exame complementar, utilizar dos demais quesitos
para lesão corporal dolosa (art. 129 do CP), já relacionados.

Perigo de contágio venéreo


Art. 130
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) O examinando está contagiado de moléstia venérea?
2) Qual a moléstia e onde está localizada?
3) O contágio resultou ou pode ter resultado de relações sexuais ou de qualquer ato
libidinoso?
4) A moléstia é a mesma de que está contaminado o indiciado? (se por ocasião do
exame da vítima ainda não houver sido apresentado ao perito, suprimir-se-á este
quesito.)

Quesitação médico-legal para exame do indiciado


1) O examinando é portador de moléstia venérea?
2) Qual essa moléstia e onde está localizada?
3) O examinando sabia ou devia saber que estava contaminado dessa moléstia?
4) A moléstia venérea de que é portador o examinando torna-o capaz de expor
alguém a perigo, por meio de relações sexuais, ou de qualquer outro ato libidi-
noso? (Resposta Justificada)

Perigo de contágio de moléstia grave


Artigo 131
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) O examinando está contagiado de moléstia grave?
2) Qual a moléstia?
3) De que modo se teria produzido o contágio?
4) A moléstia é a mesma de que está contaminado o indiciado? (este quesito não será
incluído na série se o exame da vítima se realizar antes do exame do indiciado)

Quesitação médico-legal para exame do indiciado

1) O examinando está contaminado de moléstia grave?


2) Qual a moléstia?
3) É contagiosa essa moléstia?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4) O examinando devia saber que estava contaminado dessa moléstia?


5) O ato imputado ao paciente era capaz de produzir o contágio de outrem?

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Art. 132
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Qual o tipo de periclitação havida contra a vida ou saúde da vítima?


2) Qual o meio ou a causa que provocou essa periclitação?
3) Não sendo possível precisar a causa, qual a mais provável?
4) Da periclitação havida resultou comprometimento contra a vida, contra o patri-
mônio ou contra ambos os bens jurídicos?
5) O ato imputado ao agente expôs a vida ou a saúde do paciente a perigo direto e
iminente? (Resposta Justificada)
6) Qual foi este perigo? (Resposta Justificada)

Abandono de incapaz
Art. 133
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) O examinando era, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos re-
sultantes do seu abandono?
2) Do abandono resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada,
com referência ao artigo 129, §§ 1º e 2º do Código Penal)
3) Do abandono resultou a morte do examinando?

Exposição ou abandono de recém-nascido


Art. 134
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) O examinando era recém-nascido ao tempo de sua exposição ou abandono?


(Resposta Justificada)
2) Dessa exposição ou abandono resultou lesão corporal de natureza grave? (res-
posta especificada, com referência ao art. 129, §§ 1º e 2º)
3) Dessa exposição ou abandono resultou a morte?

Omissão de socorro
Art. 135
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) O examinando era inválido ou estava ferido? (Resposta Justificada)

215

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) Da omissão de assistência, ou de socorro, resultou lesão corporal de natureza gra-


ve? (Resposta Justificada, com referência ao art. 129, §§ 1º e 2º do Código Penal)
3) Da omissão de assistência, ou de socorro, resultou a morte?
4) Era possível prestar assistência ao paciente sem risco pessoal?

Maus tratos
Art. 136
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) A vida ou a saúde do examinando foi exposta a perigo pela privação de alimen-


tação ou cuidados indispensáveis? (Resposta Justificada)
2) A vida ou a saúde do examinando foi exposta a perigo pela sujeição a trabalho
excessivo ou inadequado? (Resposta Justificada)
3) A vida ou a saúde do examinando foi exposta a perigo pelo abuso de meios de
correção ou de disciplina? (Resposta Justificada)
4) Do fato resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada, com
referência ao art. 129, §§ 1º e 2º do Código Penal)

Constrangimento ilegal
Art. 146
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Qual o tipo de violência física para a consecução do constrangimento?


2) Quais os vestígios materiais do evento relacionáveis com o constrangimento en-
contrados no local?

Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Há lesão corporal, ou outro vestígio, indicando ter havido emprego de violência


contra o examinando? (Resposta Justificada)
2) Há vestígio indicando ter havido emprego de qualquer outro meio para reduzir
a capacidade de resistência do examinando? (Resposta Justitifcada)
3) Qual o meio empregado?

Sequestro e cárcere privado


Art.148
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) O examinando apresenta sinal ou vestígio de grave sofrimento físico ou moral?


(Resposta Justificada)
2) Esse sofrimento resultou ou pode ter resultado de maus tratos em sequestro ou
cárcere privado? (Resposta Justificada)

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3) Esse sofrimento resultou ou pode ter resultado da natureza da detenção em se-


questro ou cárcere privado? (Resposta Justificada)

Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Qual o tipo de crime havido?


2) Qual o tipo de local em que se encontrava(m) a(s) pessoa(s) sequestrada(s) ou
mantida(s) em cárcere privado?
3) Qual o lapso temporal em que a(s) pessoa(s) esteve (estiveram) privada(s) de sua
liberdade?

Redução a condição análoga à de escravo


Art.149
Quesitação criminalística para exame de local

1) Houve redução da(s) pessoa(s) a condição análoga à de escravo?


2) Como foi consumada tal redução da liberdade individual?

Violação de correspondência
Art. 151
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Houve devassamento de correspondência fechada?


2) Houve destruição de correspondência?
3) De que natureza era essa correspondência?

Sonegação ou destruição de correspondência


Art. 151, § 1º, I
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) No que consistiu, ou de que forma se processou, a violação ou sonegação da


correspondência?
2) Como ocorreu a destruição da correspondência?
3) Qual o tipo de correspondência que foi violada, sonegada ou destruída?
4) A violação foi indevida, isto, realizada por quem não de direito?

Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica


Art. 151, II, III, IV
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) No que consistiu, ou de que forma se processou, a violação ao serviço telegráfi-


co, telefônico ou radioelétrico?

217

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) Decorrentes da violação, quais foram as consequências à(s) pessoa(s) física(s) ou


jurídica(s) atingida(s)?

Furto qualificado
Art. 155, § 4º
Quesitação criminalística para exame de local de crime (1ª opção)

1) Há vestígios de violência, mediante destruição ou rompimento de obstáculo à


subtração da coisa?
2) Em caso positivo, quais esses vestígios?
3) Quais os obstáculos destruídos ou rompidos pelo indiciado?
4) O indiciado empregou força, instrumento ou equipamento para destruir ou
romper os obstáculos à subtração da coisa?
5) Qual a natureza dessa força, instrumento ou equipamento?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (2ª opção)

1) Qual a natureza do local examinado?


2) Qual o meio utilizado pelo indiciado para ter acesso ao local do crime: destrui-
ção ou rompimento de obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou
outro meio?
3) Existem, internamente, no local do crime, vestígios de destruição ou rompimen-
to de obstáculo ou teria ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio
tendente à subtração da coisa?
4) Em que época presume-se tenha ocorrido o fato criminoso?
5) Houve emprego de instrumento(s)? Em caso positivo, qual(is)?
6) Existem vestígios, marcas, objetos documentos ou outros detalhes que venham
a permitir a futura identificação do(s) autor(es)?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (3ª opção)

1) Há vestígios de violência às coisas ou objetos? 2) Em que consistem esses vestígios?


3) Seu aspecto indica terem sido eles produzidos recentemente?
4) Por essa violência foram vencidos obstáculos? (esclarecer se por rompimento,
por destruição, deslocamento, por escalada, ou por outro meio empregado)
5) Qual era, ou quais eram esses obstáculos?
6) Houve emprego de instrumento ou instrumentos?
7) Qual foi, ou quais foram esses instrumentos?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (4ª opção)


1) Houve destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

2) Qual foi o obstáculo destruído ou rompido?


3) Houve escalada? (Resposta Justificada)
4) Houve destreza? (Resposta Justificada)
5) Qual o meio ou instrumento empregado?
6) Houve emprego de chave falsa? (Resposta Justificada)
7) Em que época presumível ocorreu o fato?

Quesitação criminalística para exame de local (5ª opção)


1) Qual a natureza do local examinado?
2) Qual o meio usado para o acesso a esse local: com destruição ou rompimento de
obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou outro?
3) Há, internamente, vestígios de destruição ou rompimento de obstáculo ou teria
ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio tendente à subtração de coisas?
4) Em que época se presume tenha ocorrido o fato?
5) Houve emprego de instrumento ou instrumentos? Quais?
6) Existiam vestígios, marcas, objetos, documentos ou outros que venham a permi-
tir a futura identificação do autor ou autores?

Quesitação criminalística para exame de instrumento de crime


1) Qual a natureza e características do instrumento apresentado a exame?
2) Esse material pode ser utilizado eficazmente para a prática de furto, mediante
rompimento de obstáculo ou escalada?
3) Podem os senhores peritos fornecer outros dados relevantes à investigação em curso?

Roubo
Art. 157
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Há lesão corporal, ou outro vestígio, indicando ter havido emprego de violência


contra o(a) examinando(a)?(Resposta Justificada)
2) Há vestígios indicando ter havido emprego de qualquer outro meio para reduzir
o(a) examinando(a) à impossibilidade de resistência?
3) Qual o meio ou instrumento empregado?
4) Da violência resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada,
com referência ao artigo 129, §§ 1º e 2º do Código Penal)
5) Da violência resultou morte?

Quesitação criminalística para exame de local de crime


1) Qual a natureza do local examinado?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

3) Qual o meio usado para o acesso a esse local: com destruição ou rompimento de
obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou outro?
4) Há, internamente, vestígios de destruição ou rompimento de obstáculo ou teria
ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio tendente à subtração de coisas?
5) Em que época se presume tenha ocorrido o fato?
6) Houve emprego de instrumento ou instrumentos? Quais?
7) Existiam vestígios, marcas, objetos, documentos ou outros que venham a permi-
tir a futura identificação do autor ou autores?

Extorsão
Art. 158
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) Há lesão corporal, ou outro vestígio, indicando ter havido emprego de violência
contra o(a) examinando(a)?
2) Qual o meio ou instrumento empregado? 3) Da violência resultou lesão corporal
de natureza grave? (Resposta Justificada, com referência ao artigo 129, §§ 1º e 2º)
4) Da violência resultou morte?

Extorsão mediante sequestro


Art. 159
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) Há lesão corporal, ou outro vestígio, indicando ter havido emprego de violência
contra o examinando?
2) Qual o meio ou instrumento empregado?
3) Da violência resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada,
com referência ao artigo 129, §§ 1º e 2º do Código Penal)
4) Da violência resultou morte?

Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Qual o tipo de crime havido?


2) Qual o tipo de local em que se encontrava(m) a(s) pessoa(s) seqüestrada(s)?
3) Qual o lapso temporal em que a(s) pessoa(s) esteve (estiveram) privada(s) de sua
liberdade?

Alteração de limites
Art. 161
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve alteração de limites de acordo com dois levantamentos planimétricos e


os dois memoriais de cálculos inclusos?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

2) Houve supressão ou deslocamento de tapume, marco ou qualquer outro sinal


indicativo de linha divisória? (Resposta Justificada)
3) Em que consistiu a supressão ou o deslocamento?
4) Qual imóvel acrescido com a supressão ou deslocamento?

Alteração de limites
Art. 161, § 1º, I e II
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve supressão ou deslocamento de tapume, marco ou qualquer outro sinal


indicativo de linha divisória?

Usurpação de águas
Art. 161, § 1º, I
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve desvio ou represamento de águas?


2) Como se operou o desvio ou represamento?
3) Em proveito de quem se fez o desvio ou represamento?
4) Em que consistiu o proveito?

Supressão ou alteração de marca em animais


Art. 162
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Foi suprimida ou alterada no animal apresentado a exame marca ou sinal indi-


cativo de propriedade? (Resposta Justificada)
2) Como se operou a supressão ou alteração?
3) Há vestígios indicativos da marca ou sinal suprimido ou alterado?
4) Qual era a marca ou sinal?

Quesitação criminalística para exame de local de crime


1) Qual a natureza do local examinado?
2) Qual o meio usado para o acesso a esse local: com destruição ou rompimento de
obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou outro?
3) Há, internamente, vestígios de destruição ou rompimento de obstáculo ou te-
ria ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio tendente à subtração
de coisas?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Dano
Art. 163
Quesitação criminalística para exame de local de crime (1ª opção)
1) Houve destruição, inutilização ou deterioração da coisa submetida a exame?
(Resposta Justificada)
2) Qual o meio e quais os instrumentos empregados?
3) Houve emprego de substância inflamável ou explosiva?
4) Qual o valor do dano causado?

Quesitação criminalística para o exame de local de crime (2ª opção)


1) Qual a natureza do local examinado?
2) Qual o meio usado para o acesso a esse local: com destruição ou rompimento de
obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou outro?
3) Há, internamente, vestígios de destruição ou rompimento de obstáculo ou
teria ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio tendente à subtra-
ção de coisas?
4) Em que época se presume tenha ocorrido o fato?
5) Houve emprego de instrumento ou instrumentos? Quais?
6) Existiam vestígios, marcas, objetos, documentos ou outros que venham a permi-
tir a futura identificação do autor ou autores?

Dano qualificado
Art. 163, parágrafo único, e I usque IV
Quesitação criminalística para exame de local de crime
1) Qual a extensão dos danos produzidos pela ação criminosa?
2) Quais os objetos ou instrumentos que os produziram?

Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico


Art. 165
Quesitação criminalística para exame de local de crime
1) Houve destruição, inutilização ou deterioração do bem particular, ou público
submetido a exame?
2) Houve destruição, inutilização ou deterioração parcial, ou total, do (edifício,
passeio ou monumento, estátua, ornamento, livro de notas, registro, livro, papel
ou documento) apresentado a exame?
3) Em que consistiu a destruição, inutilização ou deterioração do objeto submetido
a exame?

222

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Alteração de local especialmente protegido


Art. 166
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve alteração do aspecto do local examinado?


2) Em que consistiu?

Apropriação indébita
Art. 168
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Qual a natureza do local examinado?


2) Qual o meio usado para o acesso a esse local: com destruição ou rompimento de
obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou outro?
3) Há, internamente, vestígios de destruição ou rompimento de obstáculo ou teria
ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio tendente à subtração de coisas?
4) Em que época se presume tenha ocorrido o fato?
5) Houve emprego de instrumento ou instrumentos? Quais?
6) Existiam vestígios, marcas, objetos, documentos ou outros que venham a permi-
tir a futura identificação do autor ou autores?

Fraude na entrega da coisa


Art. 171, IV
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) No que consistiu tecnicamente a fraude?


2) Foi ela praticada por meio de destruição total ou parcial da coisa ou através de
lesão à integridade física?
3) A fraude foi praticada contra que tipo de coisa?

Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro


Art. 171, V
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Houve destruição total ou parcial da coisa submetida a exame? (Resposta Justi-


ficada)

Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Houve lesão ao próprio corpo ou à saúde? (Resposta Justificada)


2) Houve agravamento das consequências da lesão ou doença? (Resposta Justificada)
3) Como foi produzida?

223

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Fraude no comércio
Art. 175
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Qual a espécie de mercadoria submetida a exame?


2) Essa mercadoria está falsificada ou deteriorada? (Resposta Justificada)

Art. 175, § 1º
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Qual a espécie da coisa submetida a exame?


2) Houve emprego de metal em qualidade ou peso diverso do enconmendado?
(Resposta Justificada)
3) Houve emprego de pedra falsa por verdadeira ou pedra de menor valor do que
a encomendada? (Resposta Justificada)
4) A pedra submetida a exame é falsa?
5) O metal submetido a exame é precioso?
6) Essa imitação pode induzir em erro ou enganar o consumidor?

Atentado contra a liberdade de trabalho


Art. 197
Quesitação médico-legal para exame da vítima

Formular quesitos relativos à “violência”


Violência em geral
1) Há sinais ou vestígios indicando ter havido emprego de violência contra o exa-
minando?
2) Quais são?
Notas: No caso de ter havido lesão corporal, formular os quesitos da respectiva
série.
No caso de violência contra a coisa, formular os quesitos da série de “dano”.

Atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem violenta


Art. 198
Quesitação médico-legal para exame da vítima
Formular quesitos relativos à “violência”.

Atentado contra a liberdade de associação


Art. 199
Quesitação médico-legal para o exame da vítima
Formular quesitos relativos à “violência”.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Paralisação de trabalho seguida de violência ou perturbação da ordem


Art. 200
Quesitação médico-legal para o exame da vítima
Formular quesitos relativos à “violência”.

Invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola. Sabotagem


Art. 202
Quesitação criminalística para exame de local de crime
1) No que consistiu a sabotagem?
2) Houve invasão do estabelecimento industrial, comercial ou agrícola e provoca-
ção de danos materiais nos mesmos?
3) Quais foram esses danos?

Frustração de direito assegurado por lei trabalhista


Art. 203
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime
Formular quesitos relativos à “violência”.

Frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho


Art. 204
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime
Formular quesitos relativos à “violência”.

Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo


Art. 208
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime
Formular quesitos relativos à “violência”.

Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária


Art. 209
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

Formular quesitos relativos à “violência”.

Violação de sepultura
Art. 210
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve violação ou profanação da sepultura ou urna funerária? (Resposta Justi-


ficada)
2) Em que consistiu essa violação (ou profanação)?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Destruição, subtração ou ocultação de cadáver


Art. 211
Quesitação médico-legal para exame do cadáver

1) Houve destruição de cadáver ou parte dele? (Resposta Justiticada)


2) Em que consistiu essa destruição?
3) Como foi produzida?

Vilipêndio a cadáver
Art. 212
Quesitos médico-legais para exame do cadáver

1) Houve vilipêndio ao cadáver ou às suas cinzas? (Resposta Justificada)


2) Em que consistiu esse vilipêndio?

Estupro
Art. 213
Quesitação médico-legal para exame da vítima do sexo feminino

1) Houve conjunção carnal?


2) É virgem?
3) Há vestígio de desvirginamento recente?
4) Qual a data provável do desvirginamento?
5) Houve coito anal?
6) Qual a data provável do coito anal?
7) Há lesão corporal ou outro vestígio de violência e, no caso afirmativo, qual o
meio empregado? (Resposta Justificada)
8) Da violência resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada
com referência ao artigo 129 § 1º e 2º do Código Penal)
9) Da violência resultou a morte da vítima?
10) A vítima é maior ou menor de 14 (catorze) anos ou é maior ou menor de 18
(dezoito) anos (Resposta Justificada).
11) A vítima é alienada ou débil mental? (Resposta Justificada)
12) Houve qualquer outra causa que tivesse impossibilitado a vítima de oferecer
resistência? (Resposta Justificada)
13) No caso específico, formular quesitos para exame de constatação de crime de
perigo de contágio venéreo.

Quesitação médico-legal para exame da vítima do sexo masculino


1) Houve coito anal?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

2) Qual a data provável do coito anal?


3) Há lesão corporal ou outro vestígio de violência e, no caso afirmativo, qual o
meio empregado? (Resposta Justificada)
4) Da violência resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada,
com referência ao artigo 129 § 1º e 2º do Código Penal)
5) Da violência resultou a morte da vítima?
6) A vítima é maior ou menor de 14 (catorze) anos ou é maior ou menor de 18
(dezoito) anos (Resposta Justificada)

Violência sexual mediante fraude e Assédio Sexual


Art. 215 e Art. 216 A
Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) Houve prática de ato libidinoso?
2) Em que consistiu?
3) Qual o meio empregado?
4) A vítima é alienada ou débil mental?
5) Houve qualquer outra causa que tivesse impossibilitado a vítima de reagir?
6) A vítima é maior ou menor de 14 (catorze) anos ou é maior ou menor de 18
(dezoito) anos? (Resposta Justificada)
7) No caso específico, formular quesitos para exame de constatação de crime de
perigo de contágio venéreo.

Artigo 217 A – Estupro de vulnerável


Quesitação médico-legal para exame da vítima
1) Houve conjunção carnal?
2) É virgem?
3) Há vestígio de desvirginamento?
4) Qual a data provável do desvirginamento?
5) Houve coito anal?
6) Qual a data provável do doito anal?
7) Há lesão corporal ou outro vestígio de violência e, no caso afirmativo, qual o
meio empregado? (Resposta Justificada)
8) Da violência resultou lesão corporal de natureza grave? (Resposta Justificada
com referência ao artigo 129 §§ 1º e 2º do Código Penal)
9) Da violência resultou a morte da vítima?
10) A vítima é maior ou menor de 14 (catorze) anos ou é maior ou menor de 18
(dezoito) anos? (Resposta Justificada)
11) A vítima é alienada ou débil mental? (Resposta Justificada)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

12) Houve qualquer outra causa que tivesse impossibilitado a vítima de oferecer
resistência? (Resposta Justificada)
13) No caso específico, formular quesitos para exame de constatação de crime de
perigo de contágio venéreo.

Quesitação para exames de DNA

1) Existe algum vestígio no local dos fatos?


2) Qual a natureza da amostra coletada no local?
3) Foi realizada a extração de DNA da referida amostra? Em caso negativo, qual
foi a impossibilidade?
4) É possível identificar a referida amostra coletada neste local? Pode-se afirmar
que é humana?
5) Qual o processo de identificação que pode ser utilizado?
6) Em que objeto foi coletada a referida amostra?
7) Foi realizado algum tipo de exame comparativo utilizando-se a referida amostra?
8) Que tipo de resultado esta amostra apresentou?
9) Foram encontradas células espermáticas na amostra coletada?
10) Foram encontradas células diferentes das do(a) doador(a) da amostra?
11) O material examinado tem característica de pelo animal ou humano?
12) Existem células aderidas neste pelo? É possível extrair o DNA?
13) Foi encontrado algum indício com aspecto de líquido seminal? Em caso positivo
trata-se de líquido seminal?
14) O resultado obtido aponta para o suspeito? (se houver, com Resposta Justificada)

Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente, ao estado civil de recém


nascido
Art. 242
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Houve parto?
2) Qual a data provável desse parto?
3) Qual a idade da criança dada como filho (a) pela examinanda?

Quesitação médico-legal para exame da indiciada

1) A examinada está grávida, ou não?


2) A examinada esteve efetivamente grávida ou deu à luz recentemente?
3) A criança apresentada como filho(a) da examinanda nasceu a termo?

228

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4) A criança apresentada como filho(a) da examinanda é ou parece ser própria ou


alheia?

Incêndio
Art. 250
Quesitação criminalística para exame de local de crime (1ª opção)

1) Houve incêndio?
2) Qual o material que o produziu?
3) Qual o modo por que foi, ou parece ter sido produzido o incêndio?
4) Qual a natureza do edifício, construção ou das coisas incendiadas?
5) Quais os efeitos ou os resultados do incêndio?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (2ª opção)

1) Houve incêndio?
2) Onde o fogo teve início?
3) Qual a sua causa?
4) Não sendo possível precisar sua causa, qual a mais provável?
5) Do incêndio resultou perigo para a integridade física, para a vida ou para o
patrimônio alheio?
6) Qual a extensão dos danos produzidos pelo incêndio?
7) Existem eventuais vestígios de objeto(s), produto(s) químico(s) ou material(is)
explosivos utilizados na ação criminosa?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (3ª opção)

1) Houve incêndio?
2) Qual a natureza, finalidade e utilização da coisa incendiada?
3) Onde se originou o incêndio?
4) Qual a causa determinante?

Incêndio
Art. 250
Quesitação criminalística para exame pericial contábil

1) Qual o capital da firma?


1) Acha-se o mesmo integralizado?
2) Quando foi levantado o último balanço?
3) Pelo exame dos livros podem os peritos determinar o valor do estoque de mer-
cadoria que deveria existir no estabelecimento quando irrompeu o incêndio?

229

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

4) Qual o valor dos móveis e utensílios que existiam no estabelecimento, constantes


da escrita da firma?
5) Acha-se o estabelecimento no seguro e em qual ou quais companhias segura­
doras?
6) Qual a situação econômico-financeira da firma?
8) Podem os senhores peritos prestar outros esclarecimentos que possam ser úteis
à elucidação do fato?
9) Os quesitos devem ser objetivos, explícitos, que enfoquem de maneira específica
a infração penal, questionando sobre os artifícios contábeis empregados para
dissimular o fato ilícito praticado, bem como o modus operandi e o quantum
obtido ardilosamente.

Explosão
Art. 251
Quesitação criminalística para exame de local de crime (1ª opção)

1) Houve explosão?
2) Onde ocorreu?
3) Qual a sua causa?
4) Não sendo possível precisar a causa, qual a mais provável?
5) Da explosão resultou perigo para a integridade física, para a vida ou para o
patrimônio de outrem?
6) Qual a extensão dos danos produzidos pela explosão?
7) Qual a natureza do material explosivo utilizado?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (2ª opção)


1) Houve explosão, arremesso ou colocação de engenho de dinamite ou de subs-
tância de efeito análogo? (Resposta Justificada)

Uso de gás tóxico ou asfixiante


Art. 252
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve uso de gás tóxico ou asfixiante?


2) Qual a sua natureza?
3) O uso desse gás expôs a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de
outrem? (resposta especificada)
4) Houve dano?
5) Qual a sua extensão?
6) Qual o seu valor?

230

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico ou


asfixiante
Art. 253
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) O material apresentado a exame constitui substância ou engenho explosivo, gás


tóxico ou asfixiante? (Resposta Justificada)
2) O material apresentado a exame é destinado à fabricação de substância ou enge-
nho explosivo, gás tóxico ou asfixiante? (Resposta Justificada)

Inundação
Art. 254
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve inundação?
2) Qual o fato que a ocasionou?
3) Qual a natureza e utilidade do prédio inundado?
4) Quais os efeitos ou resultados produzidos pela inundação?
5) O que foi inundado?
6) Foi a inundação acidental, proposital ou resultou de imprudência, negligência
ou imperícia? (Resposta Justificada)
7) A inundação expôs a perigo a vida ou a integridade física de outrem? (Resposta
Justificada)
8) A inundação expôs a perigo o patrimônio de outrem? (Resposta Justificada)
9) Qual o valor do dano?

Perigo de inundação
Art. 255
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve remoção, destruição ou inutilização de obstáculo natural ou obra desti-


nada a impedir a inundação?
2) Qual era o obstáculo natural ou a obra destinada a impedir a inundação?
3) Onde ocorreu o fato?
4) Foi o fato acidental, proposital ou resultou de imprudência , negligência ou im-
perícia?
5) Qual a natureza do imóvel em que ocorreu a remoção, destruição ou inutilização
do obstáculo ou obra e qual a natureza da coisa sujeita a ser inundada?
6) A remoção, destruição ou inutilização expôs a perigo a vida ou integridade física
de outrem?
7) A remoção, destruição ou inutilização expôs a perigo o patrimônio de outrem?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

8) Qual o valor do dano?


9) Qual a sua extensão?

Desabamento ou desmoronamento
Art. 256
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve desabamento ou desmoronamento?


2) Qual a natureza da coisa desabada ou desmoronada?
3) O desabamento ou desmoronamento foi acidental, proposital ou resultou de
imprudência, negligência ou imperícia? (Resposta Justificada)
4) Esse desabamento ou desmoronamento expôs a perigo a integridade física, a
vida ou o patrimônio de outrem? (Resposta Justificada)
5) Houve dano?
6) Qual a sua extensão?
7) Qual o seu valor?

Subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento


Art. 257
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve inutilização de aparelho, material ou meio destinado ao serviço de com-


bate ao perigo, de socorro ou salvamento?

Formas qualificadas de crime de perigo comum


Art. 258
Quesitação médico-legal para exame da vítima

1) Em todos os crimes de perigo comum, se tiver resultado lesão corporal ou morte,


devem ser formulados os quesitos relativos à lesão corporal ou à morte. (art.258)

Difusão de doença ou praga


Art. 259
Quesitação criminalística para exame de local de crime (1ª opção)

1) Houve difusão de doença ou praga que pudesse causar dano à floresta, planta-
ção ou a animais de utilidade econômica?
2) Qual a doença ou praga difundida?
3) A difusão foi acidental, proposital ou resultou de imprudência, negligência ou
imperícia? (resposta especificada)
4) Houve dano?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5) Qual a sua extensão?


6) Qual o seu valor?

Quesitação criminalística para exame de local de crime (2ª opção)

1) O local examinado permite afirmar que houve difusão de doença ou praga


que possa ter causado dano à floresta, plantação ou a animais de utilidade
econômica?
2) Qual o tipo de doença ou praga constatada e qual sua potencialidade danosa?
3) É possível constatar-se que existem indícios de que a difusão de doença ou praga
em exame foi dolosa ou culposa?

Perigo de desastre ferroviário


Art. 260
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve destruição, danificação ou desarranjo, total ou parcial, de linha férrea,


material rodante ou de tração, obra de arte ou instalação? (Resposta Justificada)
2) Qual o meio empregado?
3) Houve colocação de obstáculo na linha?
4) Qual foi ele?
5) Houve interrupção ou embaraço do funcionamento do telégrafo, telefone ou
radiotelegrafia? (resposta especificada)
6) Houve prática de outro ato de que pudesse resultar desastre? (resposta justificada)
7) Houve impedimento ou perturbação do serviço de estrada de ferro? (resposta
justificada)
8) Do fato resultou desastre?
9) Como se verificou?
10) Houve dano?
11) Qual o seu valor?
12) O desastre foi acidental, proposital ou resultou de imprudência, negligência ou
imperícia? (resposta justificada)
13) Do desastre resultou lesão corporal ou morte? (Resposta Justificada com refe-
rência aos arts. 121 e 129 e seus parágrafos do Código Penal)

Atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo


Art. 261
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) A embarcação ou aeronave foi exposta a perigo? (Resposta Justificada)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) Houve prática de ato tendente a impedir ou dificultar a navegação marítima,


fluvial ou aérea? (Resposta Justificada)
3) Do fato resultou naufrágio, submersão ou encalhe de embarcação ou a queda ou
destruição da aeronave? (Resposta Justificada)
4) O sinistro resultou de imprudência, negligência ou imperícia?
5) Do sinistro resultou lesão corporal ou morte? (Resposta Justificada com referên-
cia aos arts. 121 e 129 e seus parágrafos do Código Penal)

Atentado contra a segurança de outros meios de transporte


Art. 262
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve exposição a perigo de meio de transporte público?


2) Qual esse meio de transporte?
3) Foi impedido ou dificultado o funcionamento desse meio de transporte?
4) Em que consistiu a exposição a perigo, o impedimento ou a dificultação? (Res-
posta Justificada)
5) Do fato resultou desastre?
6) O desastre resultou de imprudência, negligência ou imperícia? (Resposta Justifi-
cada)
7) Do desastre resultou lesão corporal ou morte? (Resposta Justificada, com refe-
rência aos arts. 121 e 129 e seus parágrafos do Código Penal)

Arremesso de projétil
Art. 264
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Houve arremesso de projétil contra veículo em movimento?


2) Esse veículo era destinado ao transporte público?
3) Do fato resultou lesão corporal ou morte? (Resposta Justificada)

Atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública


Art. 265
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve atentado contra a segurança ou o funcionamento de serviço de utilidade


pública?
2) Qual esse serviço?
3) Em que consistiu o atentado?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico ou telefônico


Art. 266
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, radiotelegráfico ou


telefônico? (Resposta Justificada)
2) Foi impedido ou dificultado o restabelecimento do serviço interrompido ou per-
turbado?
3) Em que consistiu a interrupção, a perturbação, o impedimento ou a dificultação
(Resposta Justificada)
4) O fato ocorreu por ocasião de calamidade pública?

Epidemia
Art.267
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Houve epidemia mediante a propagação de germes patogênicos?


2) Essa epidemia foi causada por imprudência, negligência ou imperícia?
3) Dessa epidemia resultou morte?

Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal


Art. 270
Quesitação criminalística para exame de água potável (1ª variante)

1) A água submetida a exame está envenenada?


2) Qual o veneno?
3) Qual a quantidade encontrada?

Quesitação criminalística para exame de substância alimentícia ou medicinal (2ª


variante)

1) O material submetido a exame é substância alimentícia ou medicinal? (Resposta


Justificada)
2) Esse material está envenenado?
3) Qual o veneno?
4) Qual a quantidade encontrada?

Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal


Art. 270, § § 1º e 2º
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A água, ou substância alimentícia ou medicinal, submetida a exame encontra-se


envenenada?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) Qual a substância que produziu o envenenamento?


3) Existem indícios de que a ação criminosa foi dolosa ou culposa?

Corrupção ou poluição de água potável


Art. 271
Quesitação criminalística para exame do objeto material de crime

1) A água submetida a exame está corrompida ou poluída? (resposta Justificada)


2) Essa corrupção ou poluição tornou-a imprópria para consumo ou nociva à saú-
de? (Resposta Justificada)

Falsificação corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos


alimentícios
Art. 272
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O material submetido a exame é substância alimentícia ou medicinal? (Resposta


Justificada)
2) Esse material está corrompido, adulterado ou falsificado? (resposta especificada)
3) Essa corrupção, adulteração ou falsificação tornou-o nocivo à saúde?

Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins


terapêuticos ou medicinais
Art. 273
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O material submetido a exame é substância alimentícia ou medicinal?


2) Esse material está alterado?
3) Por essa alteração foi modificada a sua qualidade ou reduzido o seu valor nutri-
tivo ou terapêutico? (Resposta Justificada)
4) Por essa alteração foi suprimido, total ou parcialmente, qualquer elemento de
sua composição normal, ou substituído por outro de qualidade inferior? (Res-
posta Justificada)

Emprego de processo proibido ou de substância não permitida


Art. 274
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) No fabrico do material submetido a exame foi empregado revestimento, gasei-


ficação artificial, matéria corante, substância aromática, antisséptica, conserva-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

dora ou qualquer outra, não expressamente permitida pela legislação sanitária?


(Resposta Justificada)
2) Em que consistiu?

Invólucro ou recipiente com falsa indicação


Art. 275
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) No invólucro ou recipiente apresentado está inculcada a existência de substância


que não se encontra no material submetido a exame?
2) No invólucro ou recipiente apresentado está inculcada a existência de substância
em quantidade maior do que a encontrada no material submetido a exame?

Outras substâncias nocivas à saúde pública


Art. 278
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O material submetido a exame é nocivo à saúde? (Resposta Justificada)

Art. 279 Revogado

Art. 280
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime
1) O material submetido a exame é substância medicinal?
2) O material submetido a exame está em desacordo com a receita médica apresen-
tada? (Resposta Justificada)

Moeda falsa
Art. 289
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (1ª opção)

1) O papel, a cédula ou moeda, apresentada a exame é, ou não, verdadeira?


2) Qual o seu material, forma, peso e valor intrínseco?
3) Qual o seu valor nominal?
4) Quais os sinais que a diferenciam da verdadeira, no que diz respeito ao seu
cunho, emblema etc?
5) Qual o número de série da cédula, ou papel, apresentado a exame?
6) Qual o meio utilizado para a falsificação?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Quesitação criminalística para exame de cédula falsa (2ª opção)


1) É verdadeira ou falsa, a cédula submetida a exame?
2) Qual o seu número, sua série e sua estampa?
3) Qual a sua nacionalidade?
4) Qual o meio empregado para a falsificação?
5) Qual o seu valor nominal?
6) Quais os sinais que a diferenciam da verdadeira, tanto no material empregado,
como a sua feitura?

Quesitação criminalística para exame de moeda falsa

1) São falsas as moedas submetidas a exame?


2) Em caso afirmativo, quais os caracteres físicos e químicos que as diferenciam
das peças autênticas de valor e tipo correspondente?
3) Têm as moedas submetidas a exame o mesmo valor intrínseco que as autênticas
que lhes são correspondentes?

Quesitação criminalística para exame de contrafação de papel moeda

1) Qual o valor nominal, série, número e estampa da cédula apresentada a exame?


2) É verdadeira ou falsa a cédula?
3) Sendo falsa, a falsificação foi operada por contrafação ou por alteração?
4) Qual o processo empregado para a contrafação?
5) Quais os sinais que a diferenciam da verdadeira?
6) Trata-se de falsificação de papel-moeda de curso legal neste ou em país estrangeiro?
7) Pode a cédula examinada confundir-se no meio circulante comum com papel-
-moeda autêntico?

Quesitação criminalística para exame de alteração de papel moeda

1) Qual a série, número e estampa da cédula apresentada a exame?


2) É verdadeira ou falsa a cédula?
3) Sendo falsa, a falsificação foi operada por contrafação ou por alteração?
4) Em que consistiu a alteração?
5) Qual o valor nominal real da cédula, antes de alterada?
6) Qual o valor nominal aparente da cédula, depois de alterada?
7) Trata-se de falsificação de papel-moeda de curso legal neste ou em país estrangeiro?
8) Pode a cédula examinada confundir-se no meio circulante comum com cédula
do valor indicado na resposta ao quesito anterior?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Quesitação criminalística para exame de contrafação de moeda metálica

1) Qual o valor nominal da moeda apresentada a exame?


2) Quais os seus característicos?
3) É verdadeira ou falsa a moeda?
4) Sendo falsa, a falsificação foi operada por contrafação ou alteração?
5) Foi a falsificação obtida por cunhagem, fundição ou galvanoplastia?
6) Qual a sua matéria, peso e valor intrínseco?
7) Quais os sinais que a diferenciam da verdadeira?
8) Trata-se de falsificação de moeda de curso legal neste ou em país estrangeiro?
9) Pode confundir-se no meio circulante comum com moeda autêntica?

Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A moeda metálica (ou o papel-moeda) submetida a exame constitui falsi­ -


fica­ção de moeda metálica (ou de papel-moeda) de curso legal no País ou no
estrangeiro?
2) A falsificação foi feita por fabricação, ou por alteração?
3) Em que consistiu?

Moeda falsa
Art. 289, § 3º
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A moeda submetida a exame foi fabricada com título ou peso inferior ao deter-
minado em lei?

Quesitação criminalística para exame do local de crime

1) No local havia condições materiais para falsificação de papel moeda (ou moeda
metálica)? Quais eram tais condições?
2) O material apresentava características que lhe permitiam ser confundido com o
papel moeda de curso legal? Quais eram tais características?

Quesitação criminalística para exame dos instrumentos do crime, v.g., matrizes,


moldes, máquinas e acessórios, ferramentas e produtos químicos relacionados com o
fabrico de moedas falsas

1) As matrizes, moldes, máquinas e seus acessórios constantes da relação do mate-


rial apreendido, servem para a fabricação de moedas?
2) Em caso afirmativo, qual o processo de fabricação empregado? Obs: se, com o
material acima referido, forem também apreendidas moedas e matérias-primas,

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

deverão ser formulados mais os seguintes quesitos: 3) São falsas as moedas sub-
metidas a exame? 4) Em caso afirmativo, quais os caracteres físicos e químicos
que 4) Em caso afirmativo, quais os caracteres físicos e químicos que as as dife-
renciam das peças autênticas de valor e tipo correspondentes? 5) Têm as moedas
submetidas a exame o mesmo valor intrínseco que as autênticas que lhes são
correspondentes? 6) As moedas submetidas a exame poderiam ter sido fabrica-
das por meio de matrizes, moldes, máquinas e seus acessórios, aos quais se refere
o 1º quesito? 7) A matéria submetida a exame é a mesma utilizada na fabricação
das referidas moedas?

Crimes assimilados ao de moeda falsa


Art. 290

1) A cédula, nota ou bilhete representativo de moeda, submetida a exame com-


põe-se de fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros? (resposta
especificada)
2) Na cédula, nota ou bilhete recolhido, foi suprido o sinal indicativo de sua inuti-
lização? (Resposta Justificada)

Petrechos para fabricação de moeda


Art. 291
Quesitação criminalística para exame de petrechos

1) Quais os petrechos apresentados a exame?


2) Esses petrechos constituem maquinismos, aparelhos, instrumentos ou outro ob-
jeto especialmente destinado à falsificação de papel-moeda ou moeda metálica?
3) Qual a finalidade de cada petrecho ou objeto?
4) O objeto submetido a exame é maquinismo, aparelho, instrumento ou petrecho
especialmente destinado à falsificação de moeda? (Resposta Justificada)

Falsificação de papéis públicos


Art. 293
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O objeto submetido a exame constitui falsificação de selo postal? (ou estampi-


lha; papel selado; papel de emissão legal destinado à arrecadação de imposto
ou taxa; papel de crédito público; vale postal; cautela de penhor; caderneta de
depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade
de direito público; talão; recibo; guia; alvará; outro documento relativo à arre-
cadação de rendas públicas ou a depósito ou caução de que o poder público seja
responsável; bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte adminis-
trada pela União, por Estado ou por Município?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

2) A falsificação foi feita por fabricação ou alteração?


3) Em que consistiu?
4) O referido papel foi usado?
5) Em que consistiu esse uso?

Supressão em papéis públicos de carimbo ou sinal


Art. 293, § 2º
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (1ª opção)

1) Qual o papel apresentado a exame?


2) Foi suprimido nesse papel, com o fim de torná-lo novamente utilizável, carimbo
ou sinal indicativo de sua inutilização?
3) Por que modo foi feita a supressão?

Quesitação criminalística para o exame do objeto material do crime (2ª opção)

1) No papel submetido a exame foi suprimido carimbo ou sinal indicativo de sua


inutilização?
2) O referido papel foi usado depois de sua alteração?
3) Em que consistiu esse uso?

Petrechos de falsificação
Art. 294
Quesitação criminalística para o exame do objeto material do crime

1) O objeto submetido a exame é especialmente destinado à falsificação de selo


postal (ou de estampilhas, de papel selado ou de qualquer dos demais papéis
referidos no art. 293 do Código Penal)? (Resposta Justificada)

Falsificação do selo ou sinal público


Art. 296
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O objeto submetido a exame constitui falsificação de selo público destinado à


autenticação de ato oficial da União, do Estado ou de Município (ou de selo ou
sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou de sinal
público de tabelião)? (Resposta Justificada)
2) Essa falsificação foi feita por fabricação, ou por alteração?
3) Em que consistiu?
4) O referido objeto foi usado?
5) Em que consistiu esse uso?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (1ª opção)

1) Qual o documento apresentado a exame?


2) É falso no todo ou em parte ou é verdadeiro?
3) Em que consistiu a falsificação?
4) Sendo verdadeiro, foi alterado o documento?
5) Em que consistiu a alteração?

Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (2ª opção)

1) O documento apresentado a exame é verdadeiro ou falso?


2) É falsa ou verdadeira, a assinatura lançada sobre o documento cujo exame se
requisita?
3) Houve alteração no documento, no todo ou em parte, em suas letras ou caracte-
res, ou em qualquer outra parte?
4) A letra ou assinatura lançada sobre o documento em exame é do punho de (ví-
tima, indiciado ou testemunha)?
5) A caligrafia em exame parece-se com a do indiciado ou de outra pessoa, conhe-
cida ou desconhecida?
6) Há indícios de ser o indiciado o autor da assinatura apresentada a exame?
7) Quais são esses indícios à vista do papel, escritura ou assinatura submetidas a
exame?

Falsificação de documento particular


Art. 298
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (1ª opção)

1) Qual o documento apresentado a exame?


2) É falso no todo ou em parte ou é verdadeiro?
3) Em que consistiu a falsificação?
4) Sendo verdadeiro, foi alterado o documento?
5) Em que consistiu a alteração?

Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (2ª opção)

1) Quais as características e natureza dos documentos apresentados para exame? 2)


Apresenta o mesmo característica de ser falso ou falsificado?
3) Em caso positivo, qual o tipo de falsificação?
4) Sendo o documento de preenchimento mecanográfico, é possível identificar-se a
máquina de escrever ou o computador?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5) O preenchimento e assinatura do documento de fls...foram produzidos por um


só punho gráfico?
6) O preenchimento e assinatura foram produzidos por qualquer (ou quaisquer)
dos punhos que forneceram os padrões de confronto de fls...?
7) A assinatura de fls. é autêntica?
8) Sendo falsa, a assinatura teria sido efetuada por outra pessoa?

Falso reconhecimento de firma ou letra


Art. 300
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (1ª opção)

1) A firma ou letra atribuída ao investigado, constante do documento submetido a


exame, é falsa? (Resposta Justificada)

Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime (2ª opção)

1) A letra lançada no auto de colheita de material gráfico é a mesma fornecida pelo


punho do indiciado?
2) É possível determinar se a assinatura da vítima foi realmente falsificada?
3) Qual o autor da falsificação?

Reprodução ou alteração de selo ou peça filatélica


Art. 303
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O objeto submetido a exame é reprodução ou alteração de selo (ou peça filatélica)?


2) O referido selo (ou peça filatélica) tem valor para coleção?
3) A reprodução ou alteração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo
ou peça?

Uso de documento falso


Art. 304
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O documento submetido a exame foi falsificado no todo ou em parte?


2) O documento submetido a exame, sendo verdadeiro, foi alterado?
3) Em que consistiu a falsificação, ou alteração?
4) O referido documento é público ou particular, ou é emanado de entidade paraes-
tatal, ou título ao portador ou transmissível por endosso, ou ação de sociedade
comercial, ou livro mercantil ou testamento particular? (Resposta Justificada)
5) O referido documento foi usado depois de falsificado ou alterado?
6) Em que consistiu esse uso?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Supressão de documento
Art. 305
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Houve destruição, supressão ou ocultação de documento público ou particular


verdadeiro?
2) Em que consistiu essa destruição, supressão ou ocultação?

Falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou na fiscalização


alfandegária, ou para outros fins
Art. 306
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O objeto submetido a exame constitui falsificação de marca ou sinal empregado


pelo poder público no contraste de metal precioso ou na fiscalização alfandegá-
ria? (Resposta Justificada)
2) Essa falsificação foi feita por fabricação ou adulteração?
3) Em que consistiu?
4) A referida marca ou sinal foi usado?
5) Em que consistiu esse uso?

Art. 306, parágrafo único


Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O objeto submetido a exame constitui falsificação de marca ou sinal de uso da


autoridade pública para o fim de fiscalização sanitária, ou para autenticar ou
encerrar determinados objetos, ou comprovar o cumprimento de formalidade
legal? (Resposta Justificada)
2) Essa falsificação foi feita por fabricação, ou por alteração?
3) Em que consistiu?
4) A referida marca ou sinal foi usada?
5) Em que consistiu esse uso?

Falsa identidade
Art. 307
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) Qual a natureza e características do material apresentado a exame?


2) Apresenta vestígios de ter sido retirada a fotografia de seu verdadeiro portador
e aposta a fotografia que nela se vê?
3) A cédula de identidade em exame, após ter sido alterada, foi replastificada?
4) Pode o senhor perito fornecer outros dados relevantes à investigação?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Adulteração de sinal identificador de veículo automotor


Art. 311
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) A numeração do chassi é original?


2) A numeração do motor do veículo é original?
3) Não sendo original a numeração do chassi do veículo, é possível identificar a
numeração original?
4) Não sendo original a numeração do motor do veículo, é possível identificar a
numeração original?
5) Confrontando-se o número do chassi, do motor, além dos agregados do veículo,
com os números constantes na ficha de montagem fornecida pelo fabricante,
carta laudo, é possível afirmar que o veículo examinado corresponde ao da carta
laudo? Por que?
6) Se houve uma identificação parcial do veículo é possível através dessa identifica-
ção afirmar que esse veículo corresponde ao da carta laudo? Por que?

Motim de presos
Art. 354
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) Qual a natureza do local examinado?


2) Qual o meio usado para o acesso a esse local: com destruição ou rompimento de
obstáculo, ou mediante escalada, uso de chave falsa ou outro?
3) Há, internamente, vestígios de destruição ou rompimento de obstáculo ou teria
ocorrido escalada, uso de chave falsa ou outro meio tendente à subtração de
coisas?
4) Em que época se presume tenha ocorrido o fato?
5) Houve emprego de instrumento ou instrumentos? Quais?
6) Existiam vestígios, marcas, objetos, documentos ou outros que venham a permi-
tir a futura identificação do autor ou autores?

Lei das Contravenções Penais


(Decreto-lei nº 3.688, de 3-10-1941)

Porte de arma
Art. 19, §§, e alíneas
Quesitação criminalística para exame de arma branca instrumento de contravenção
(1ª opção)

1) Qual a natureza da peça submetida a exame?

245

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) Quais as suas dimensões e qual o seu peso?


3) No estado em que se encontra, podia ter sido utilizada eficazmente para uma
agressão física?
4) A arma submetida a exame apresenta manchas de sangue?
5) Em caso afirmativo, tem esse sangue características de sangue humano?

Quesitação criminalística para exame de arma branca instrumento de contravenção


(2ª opção)

1) Qual a natureza e características do material apresentado a exame?


2) Apresenta o mesmo condições para ser usado na prática de crime?
3) Apresenta vestígios de sangue?
4) Em caso positivo, é sangue humano?
5) Podem os senhores peritos tecer outras considerações a respeito?

Emissão de fumaça, vapor ou gás


Art. 38
Quesitação criminalística para exame de local da contravenção

1) É possível constatar, no caso concreto, a existência de dano ao meio ambiente?


2) Qual o nível de poluição, emissão de gases ou de substâncias poluentes?
3) É possível comprovar a existência de perigo à incolumidade humana, animal ou
vegetal?

Perturbação do trabalho ou do sossego alheios


Art. 42, I usque IV
Quesitação criminalística para exame de local da contravenção

1) Qual o nível de ruído constatado no local da infração penal investigada?


2) Quais os instrumentos ou sinais acústicos que os produzem?
3) É possível constatar-se danos efetivos e iminentes na hipótese investigada?
4) É possível fornecer-se uma análise mediada de tempo e lugar dos ruídos?
5) Quais são os riscos para a incolumidade humana e animal no caso vertente?

Jogo de azar
Art. 50
Quesitação criminalística para exame dos instrumentos da contravenção

1) Qual a espécie do objeto submetido a exame?


2) Esse objeto pode servir à prática de jogo de azar? (Resposta Justificada)

246

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Embriaguez
Art. 62
Quesitação médico-legal para verificação de embriaguez (1ª opção)

1) O examinando apresenta sinais clínicos de embriaguez?


2) Em caso afirmativo, tais sinais permitem diagnosticar embriaguez ligeira, acen-
tuada ou completa?
3) O hálito do examinando é característico e denunciador de absorção de substân-
cia alcoólica?
4) No estado em que se encontra pode por o mesmo em risco a segurança própria
ou alheia, principalmente na direção de veículo automotor na via pública?

Quesitação médico-legal para verificação de embriaguez (2ª opção)

1) O hálito do examinando é característico e denunciador de absorção de substân-


cia alcoólica?
2) O examinando está embriagado pelo álcool ou por substância de efeitos
análogos?
3) No estado em que se encontra, põe o paciente em perigo a sua própria segurança
ou a segurança alheia?

Jogo do bicho
Art. 58 do Decreto-lei nº 6.259/44
Quesitação criminalística para exame dos instrumentos da contravenção (1ª opção)

1) Qual a espécie dos papéis submetidos a exame?


2) Esses papéis são destinados à prática do denominado jogo do bicho? (Resposta
Justificada)

Quesitação criminalística para exame dos instrumentos da contravenção (2ª opção)

1) Qual a natureza e características dos documentos apresentados a exame?


2) Podem esses documentos ser considerados como de jogo e em caso afirmativo a
que espécie de jogo se destinam?
3) O jogo do bicho, pelo modo que é feito, pode ser considerado loteria ou rifa não
autorizadas nos termos da lei em vigor?
4) Qual é o mecanismo do jogo do bicho?
5) Pode o referido material servir à prática de jogo de azar, e, em caso afirmativo, a
que espécie de jogo?
6) Os computadores e telefones apreendidos foram utilizados na prática da infra-
ção penal?

247

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Corrida de cavalos
Art. 60 do Decreto-lei nº 6.259/44
Quesitação criminalística para exame de documentos

1) Qual a natureza e características do material apresentado a exame?


2) Podem esses documentos ser considerados como de jogo e, em caso afirmativo,
a que espécie de jogo se destinam?
3) O jogo de apostas sobre corridas de cavalos fora do hipódromo ou de local onde
não seja autorizado, é considerado jogo de azar?
4) Qual o mecanismo de aposta sobre corrida de cavalos?

Quesitação criminalística para exame de material

1) Qual a natureza e características do material apresentado a exame?


2) Pode o referido material servir à prática de jogo de azar e, em caso afirmativo, a
que espécie de jogo?
3) Qual o mecanismo de tal espécie de jogo?
4) Os computadores e telefones apreendidos foram utilizados na prática da infra-
ção penal?

Código de Processo Penal


(Decreto-lei nº 3.689, de 3-10-1941)

Local de afogamento
Arts. 6º, VII, e 169
Quesitação criminalística para exame de local de afogamento

1) Quais as dimensões, eventual diâmetro do poço, lago, represa, rio?


2) Qual a distância entre o local do afogamento até o imóvel mais próximo?
3) Existe algum tipo de proteção junto às margens?
4) O local é de fácil acesso?
5) Existe possibilidade de elaborar-se um croqui do local?
6) Existe possibilidade de levantamento fotográfico do local pelo senhor perito?

Local de crime
Arts. 6º, VII, e 169
Quesitação criminalística para exame de local de crime contra o patrimônio

1) Existem vestígios de violência à coisa ou objetos encontrados no local do crime?


2) Em caso positivo, quais são esses vestígios?
3) Essa violência é causa de destruição ou rompimento de obstáculo ou obstáculos?
4) Qual esse obstáculo, ou obstáculos?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5) Houve emprego de força, instrumento ou aparelho para vencê-lo ou vencê-los?


6) Qual foi essa força, instrumento ou aparelho?
7) Qual a extensão dos danos causados e seu provável valor em termos de prejuízo?

Incidente de insanidade mental do acusado


Arts. 149, § 1º, e 151
Quesitação médico legal para exame do indiciado

1) O examinando apresenta comprometimento de sua integridade mental?


2) Em caso positivo, tal comprometimento é total ou parcial?
3) Qual sua espécie ou gênero?
4) Desde que época o examinando apresenta tal comprometimento?
5) O examinando cometeu a infração penal em situação de imputabilidade, semi-
-imputabilidade ou inimputabilidade?

Autópsia (exame necroscópico)


Arts. 162 usque 166, e parágrafo único
Quesitação complementar sobre cadáveres (1ª opção)

1) Qual o biotipo do cadáver?


2) É possível descrever sua altura exata, peso, cor da pele, cor dos olhos, tipo e cor
dos cabelos?
3) O cadáver apresenta deformidades, cicatrizes e tatuagens?
4) É possível determinar-se a idade do cadáver através de radiografia do punho, da
articulação do cotovelo e do osso pélvico da bacia?
5) Qual o número de dentes da hemi-arcada superior e inferior do cadáver, caso
possua dentição natural?
6) É possível a colheita de impressões digitais do examinado, para fins de identifi-
cação futura?
7) Há no cadáver lesões corporais?
8) Em caso positivo, qual a sua natureza?
9) Há no cadáver lesões de defesa?
10) Em caso afirmativo, onde se localizam?
11) Qual a natureza dos instrumentos que produziram tais lesões?

Quesitação complementar sobre cadáveres (2ª opção)

1) Que tipo de asfixia mecânica causou o aparecimento das manchas de Tardieu


nos pulmões e no pericárdio do extinto, em face dos elementos que foram coligi-
dos para o bojo dos autos?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2) É possível tecer outras considerações que possam auxiliar o esclarecimento da


causa mortis?

Quesitação complementar sobre cadáveres (3ª opção)

1) Referentemente à luxação da coluna cervical, em que nível ela ocorreu, conside-


rando-se da 1 à 7 vértebras cervicais?
2) A presença de hematoma subdural da fossa posterior (cerebelar) não poderia ter
dificultado o diagnóstico da luxação cervical?
3) Havia traumatismo raque-medular associado à luxação da vértebras cervicais?
4) No caso de trauma raque-medular, não teria esta sido a causa imediata da morte
e não o hematoma subdural e consequentemente trauma crânio-encefálico, con-
forme descrito no laudo necroscópico?
5) Qual o mecanismo de trauma envolvido na luxação cervical? Queda? Contra-
golpe?

Perícias para constatação de materiais biológicos


Art. 170
Quesitação criminalística relativa a perícia de sangue

1) Quais são as características da(s) peça(s) examinada(s)?


2) Há nelas manchas hematóides?
3) Em caso positivo, trata-se de sangue?
4) Em sendo sangue, pode-se afirmar que é sangue humano?

Quesitação criminalística relativa a perícia de líquido seminal

1) Quais são as características da(s) peça(s) examinada(s)?


2) Há nela(s) mancha(s) com aspecto das produzidas por líquido seminal? 3) Em
caso positivo, trata-se de líquido seminal?

Quesitação criminalística relativas à perícia de pelos, fibra vegetal e fibra sintética

1) O material examinado tem característica de pelos?


2) Em caso positivo, trata-se de pelo humano?
3) O material examinado tem característica de fibra vegetal?
4) O material examinado tem característica de fibra sintética? Há condições de se
determinar sua natureza?

250

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Exames grafotécnicos
Art.174, I usque IV
Quesitação criminalística para verificação da autenticidade ou falsidade de assinatura

1) A assinatura lançada no documento de fls....dos autos, é falsa, tendo em vista os


padrões fornecidos pela pessoa homônima às fls....... dos autos?
2) A assinatura atribuída ao investigado, que figura no documento de fls......., é
falsa, tendo em vista os padrões fornecidos pela referida pessoa às fls...... dos
mesmos autos?
3) Em caso positivo proveio ela do punho de...... que forneceu material gráfico às
fls. dos autos?

Quesitação criminalística para verificação de autoria de assinatura fictícia

1) A assinatura “...............” lançada no documento de fls....., dos autos, proveio do


punho de......que forneceu material gráfico às fls.... dos autos?

Quesitação criminalística para verificação da autoria de uma assinatura e do


preenchimento de um documento

1) A assinatura e os dizeres preenchedores do documento de fls.... dos autos provie-


ram do punho de.......... que forneceu material gráfico às fls..... dos autos?

Quesitação criminalística para determinação do autor de escrita em geral

1) Os lançamentos manuscritos, que figuram no documento de fls.... provieram do


punho de........ que forneceu material gráfico às fls....... dos autos?

Exames mecanográficos
Art. 175
Quesitação criminalística para identificação de máquina de escrever

1) O documento de fls.... dos autos foi datilografado na máquina de escrever mar-


ca....., nº....., que produziu os padrões das fls. dos autos?
2) Em qual das máquinas de escrever, cujos padrões se encontram às fls...., fls...,
fls....., e fls..... dos autos foi datilografado o documento de fls.....dos autos?
(quando várias são as máquinas suspeitas)

Quesitação criminalística para constatação de ter sido o documento datilografado


integralmente numa mesma máquina

1) O documento de fls....dos autos foi datilografado no seu todo na mesma máquina?

251

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Quesitação criminalística para verificação da existência de enxerto ou acréscimo,


quando há suspeita de inserção de letras, palavras, ou frases num texto datilografado

1) Apresenta o documento de fls....dos autos desalinhamento datilográfico, quer


vertical quer horizontal, que indiquem não ter sido o seu texto datilografo numa
só assentada?

Quesitação criminalística para exames de carimbos, quando o interesse é o de saber


se determinado carimbo foi, ou não, o que produziu uma impressão

1) A impressão de carimbo que figura no documento de fls... dos autos, procedeu


do carimbo que produziu as impressões colhidas às fls..... dos autos?

Quesitação criminalística para exames de máquinas autenticadoras e protetora de


cifras

1) A autenticação mecânica aposta no documento de fls..... proveio da máquina


que forneceu os padrões de fls. dos autos?

Quesitação criminalística para verificação de alterações através de rasuras,


acréscimos, lavagem química e recorte

1) Apresenta vestígios de alteração genérica de qualquer natureza o documento de


fls....dos autos?
2) Os dizeres........foram enxertados no documento de fls......(ou à página do livro)?
3) Subjacente a atual palavra (ou expressão)......não figurava no documento de
fls....dos autos a palavra (ou expressão)..............?

Espectografia do som, imagem e material para confronto


Art. 175
Quesitação criminalística para exame de fitas de áudio

1) Pode o senhor perito proceder a transcrição parcial ou integral do conteúdo


gravado na fita magnética enviada a exame?
2) A gravação questionada constante da fita magnética enviada a exame apresenta
vestígio de ter sido alterada por meio de cortes, emendas, regravações ou outros
meios, ou sua gravação é um todo homogêneo?
3) É de boa qualidade sonora a reprodução do conteúdo gravado, de interesse pe-
ricial constante da fita magnética enviada a exame?
4) Pode o senhor perito estabelecer com segurança a identificação vocal de seus
interlocutores?
Quesitos: guardadas as devidas peculiaridades, aplicam-se estes mesmos quesi-
tos para fitas de vídeo ou filmes

252

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Quesitação criminalística para constatação de obscenidade ou pornografia em fitas


de vídeo ou filmes

1) Têm caráter obsceno ou pornográfico as imagens gravadas nas fitas videocassete


(filmes, películas etc) encaminhadas a exames?
2) Em caso negativo ou positivo por quê?

Quesitação criminalística para constatação de obscenidade ou pornografia em


revistas, livros, jornais ou impressos em geral

1) Têm caráter obsceno ou pornográfico as estampas fotográficas (desenhos) que


ilustram os exemplares enviados à perícia?
2) Revelam seus conteúdos escritos igualmente de cunho obsceno ou pornográfico?
3) Em caso negativo, por quê?

Recomendações adicionais em casos de coleta e classificação de material para confronto

1) Examinar a(s) peça(s) ou instrumento(s) de crime, onde se encontra(m) o(s)


vestígio(s) e proceder ao confronto com o(s) padrão(ões), a fim de comprovar,
ou não, a sua utilização na prática da infração penal.

Acidentes do Trabalho
(Decreto- lei nº 7.036, de 10-11-1944)

Acidentes do trabalho
Art. 47
Quesitação médico-legal para exame de vítima de acidente do trabalho em caso de morte

1) Houve morte?
2) Essa morte resultou de lesão corporal, perturbação funcional ou doença? (Res-
posta Justificada)
3) A morte resultou de acidente do trabalho? (Resposta Justificada)

Quesitação médico-legal para exame da vítima de acidente do trabalho em caso de


incapacidade

1) O paciente apresenta lesão corporal, perturbação funcional ou doença? (Res-


posta Justificada)
2) Qual o instrumento ou meio que a ocasionou?
3) Essa lesão corporal, perturbação funcional ou doença, foi causada pelo fato
alegado como acidente do trabalho? (Resposta Justificada)

253

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

4) Dessa lesão corporal, perturbação funcional ou doença, resultou incapacidade


total e permanente para o trabalho?
5) Resultou incapacidade total e temporária para o trabalho?
6) Resultou incapacidade parcial e permanente para o trabalho?
7) Resultou incapacidade parcial e temporária para o trabalho?
8) Qual a classificação do dano sofrido em face das tabelas de “lesões-tipo” vigentes?

Quesitação criminalística para exame de local de acidente do trabalho

1) Houve acidente de trabalho?


2) Como ocorreu?
3) Houve condição física insegura que propiciou o evento?
4) Em caso afirmativo, havia proteção para condição insegura?
5) Em caso de existir condição física insegura, está ela relacionada com a não apli-
cação das normas técnicas e regulamentos de segurança do trabalho? Por quê?
6) Do estudo da ocorrência, pode-se configurar violação de práticas seguras?

Crimes contra a Economia Popular


(Lei nº 1.521 de 26-12-1951)

Crimes contra a economia popular


Arts. 2º, 3º e 4º, incisos e alíneas
Quesitação criminalística sobre locais de crimes contra a economia popular

1) Qual a natureza do estabelecimento comercial onde ocorreu o delito?


2) No que consistiu materialmente o crime contra a economia popular? Especificar

Crime de Genocídio
(Lei nº 2.889, de 1º-10-1956)

Crimes de genocídio
Arts. 1º, a usque e, 2º e 3º
Quesitação criminalística sobre locais de crime de genocídio

1) O genocídio havido foi contra grupo nacional étnico, racial ou religioso?


2) Foram apurados elementos objetivos que permitiram caracterizar medidas ado-
tadas para impedir nascimentos de determinados grupos ou transferir menores
de um grupo para outro?

254

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Código Eleitoral
(Lei nº 4.737, de 15-07-1965)

Crimes eleitorais
Arts. 289 usque 326
Quesitação criminalística sobre locais de crimes eleitorais

1) No que consistiu materialmente o crime eleitoral?


2) Implicou o crime, na propaganda eleitoral ou visando a fins de propaganda, a
honra de terceiro ou simplesmente materializou-se por meio de escrita, assina-
lamento ou pintura em muros, fachadas ou logradouro público, de cartazes ou
faixas ou na falsificação ou alteração de documento público ou particular?

Sonegação fiscal
(Lei nº 4.729, de 14-07-1965)

Crimes de sonegação fiscal


Art. 1º, I usque V
Quesitação criminalística para exame dos artifícios utilizados na sonegação fiscal

1) Os quesitos devem ser objetivos, explícitos, enfocando de maneira específica a


infração penal, questionando sobre os artifícios contábeis empregados para dis-
simular o fato ilícito praticado, bem como o modus operandi e o quantum obtido
ardilosamente.

Código Florestal
(Lei nº 4.771, de 15-09-1965)

Contravenções florestais
Art. 26, a usque q
Quesitação criminalística para exame de local de contravenção florestal

1) Houve degradação ambiental?


2) A área periciada é de conservação permanente ou ambiental, reserva biológica
ou ecológica, estação ecológica, parque público, floresta pública, área de rele-
vante interesse ecológico, ou reserva extrativista?
3) Qual a vegetação que existia no local?
4) Esta vegetação existia no local?
5) A vegetação existente no local é natural ou decorrente de intervenção humana?
6) Houve impedimento ou dificultação da regeneração de floresta ou de demais
formas de vegetação?

255

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Lei de Drogas
(Lei nº 11.343, de 23-8-2006)

Locais de crime
Art. 33, § 1º, II e III
Quesitação criminalística para exame de locais de encontro de drogas bem como de
locais de plantio, cultura, colheita e exploração de vegetais

1) Qual a espécie de local em que se encontrava(m) o (s) material (s) encontrado(s)?


2) No local indicado cultivaram-se que classes de vegetais? Qual a área cultivada?
Que espécie de vegetais?
3) O material encontrado era produto industrializado? Há condições de indicar a
procedência?

Facilitação de uso
Art. 38
Quesitação médico-legal para constatação de facilitação de uso de substâncias
entorpecentes (1ª opção)

1) A substância tal, prescrita na receita médica apresentada, é droga?


2) A mesma substância foi prescrita fora dos casos indicados pela terapêutica, ou
em dose evidentemente maior do que a necessária ou com infração de preceito
legal ou regulamentar?

Quesitação médico-legal para constatação de facilitação de uso de drogas (2ª opção)

1) A droga foi prescrita fora de caso indicado pela terapêutica ou em dose eviden­
temente maior do que a necessária, ou com infração de preceito legal ou regula-
mentar? (resposta especificada)

Quesitação médico-legal para constatação de facilitação de uso de drogas (3ª opção)

I - para exame do paciente


1) Foi ministrada ao paciente droga ou substância que determine dependência físi-
ca ou psíquica? (resposta especificada)
2) Qual a substância?
3) O paciente, no momento, está sob os efeitos de droga? (resposta especificada)

II - para exame do material apresentado


1) O material apresentado para o exame constitui droga ou substância que deter-
mine dependência física ou psíquica?
2) Qual a substância?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

III - para exame de matéria prima


1) O material apresentado para exame constitui matéria-prima ou planta destinada à
preparação de droga ou substância que determine dependência física ou psíquica?
2) Qual é essa matéria ou planta?

Quesitação médico-legal para constatação de facilitação de uso de drogas (4ª opção)

1) A receita, objeto de exame, foi prescrita por médico ou dentista?


2) A receita prescreve medicamento que contém droga ou substância que determi-
ne dependência física ou psíquica? (resposta especificada).
3) A dose prescrita é evidentemente maior que a necessária ou com infração de pre-
ceito legal ou regulamentar?

No caso indicado

1) Pelo exame do examinando, a receita foi ministrada, fornecida ou prescrita a


menor de 21 (vinte e um) anos?
2) O examinando está sob os efeitos de droga ou substância que determine depen-
dência física ou psíquica?

Exame de constatação
Art. 50, § 1º
Quesitação médico-legal para constatação provisória de droga (1ª opção)

1) Qual a natureza da droga apresentada a exame?


2) Tem ela a propriedade de causar dependência física ou psíquica?

Quesitação médico-legal para constatação provisória de droga (2ª opção)

1) Qual a natureza do material examinado?


2) Qual o seu peso?
3) No estado em que se encontra pode causar dependência física ou psíquica?

Quesitação médico-legal para constatação provisória de droga (3ª opção)

1) Qual a natureza e características do material apresentado?


2) Pode o mesmo ser considerado droga ou substância capaz de determinar depen-
dência física ou psíquica?
3) O restante do material é comumente usado no preparo, na confecção de emba-
lagem ou na pesagem de entorpecentes para o tráfico?
4) Podem os senhores peritos tecer outras considerações a respeito?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Quesitação médico-legal para exame de droga (4ª opção)

1) Qual a droga apresentada a exame?


2) Essa substância é droga? (no caso de não ser possível apresentar-se ao perito
porção da substância em causa, bastará o seguinte quesito:)
3) A substância denominada... (mencionar) é droga?

Quesitação médico-legal para exame de droga (5ª opção)

1) Na matéria submetida a exame encontra-se alguma substância venenosa ou


anestésica?
2) Qual a substância encontrada?
3) Era ela de tal quantidade e em dose tal que causasse a morte ou pudesse causá-la?
4) A substância foi ingerida ou aplicada externamente de modo que causasse a
morte, perigo de vida ou alteração profunda da saúde?

Parcelamento do Solo Urbano


(Lei nº 6.766, de 19-12-1979)

Parcelamento do solo urbano


Art. 50, I, II e III, e parágrafo único, I e II
Quesitação criminalística para exame de local de crime

1) O exame do local permite constatar algum impacto ambiental?


2) Em caso positivo, qual a extensão desse impacto ambiental e suas consequências
sobre a ecologia?
3) Podem ser descritos os lotes e a gleba para fins penais?
4) Podem ser fornecidos outros subsídios para a configuração do ilícito penal em
apuração?

Direitos e Obrigações relativos à Propriedade Industrial


(Lei nº 9.279, de 14-5-1996)
Art. 183
Violação de patente de invenção
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A coisa submetida a exame é objeto de privilégio de invenção?

Art. 184
Violação de modelo de utilidade
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime
1) A coisa submetida a exame constitui modelo de utilidade, assegurado por patente?

258

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Arts. 187 e 188


Violação de desenho industrial
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O desenho ou modelo submetido a exame constitui reprodução de desenho ou


modelo industrial, objeto de patente? (Resposta Justificada)
2) O desenho ou modelo submetido a exame constitui desenho ou modelo indus-
trial de privilégio? (Resposta Justificada)
3) O objeto submetido a exame constitui imitação ou cópia de desenho ou modelo
industrial privilegiado? (Resposta Justificada)
4) A marca submetida a exame é imitação, ou cópia, de desenho ou modelo indus-
trial privilegiado? (Resposta Justificada)

Arts. 189 e 190


Violação de registros de marca
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A marca submetida a exame é reprodução, no todo ou em parte, da que foi re-


gistrada por...? (Resposta Justificada)
2) A marca submetida a exame constitui imitação da que foi registrada pelo inves-
tigado?
3) Essa reprodução ou imitação pode induzir em erro ou confusão? (Resposta Jus-
tificada)

Art. 191
Violação de expressão ou de sinal de propaganda
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A expressão, ou sinal de propaganda, constitui imitação de outra registrada?


2) Essa imitação pode criar confusão entre os produtos ou estabelecimentos?

Arts. 192, 193 e 194


Uso indevido de indicações geográficas e demais indicações
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

Foi usado no artigo (produto, recipiente, invólucro, cinta, rótulo, fatura, cir-
cular, cartaz ou outro meio de divulgação ou propaganda) submetido a exame
termos retificativos, tais como “tipo”, “espécie”, “gênero”, “sistema”, “seme-
lhante”, “sucedâneo”, “idêntico”, ou “equivalente”, sem ressalva da verdadeira
procedência do artigo (ou produto)? (Resposta Justificada)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Art. 195, V
Uso indevido de nome comercial
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) O nome comercial (título de estabelecimento, insígnia, expressão ou sinal de


propaganda, armas, brasões ou distintivos públicos) empregado na marca apre-
sentada a exame constitui reprodução de nome comercial (título de estabeleci-
mento etc.) registrado pelo investigado? (Resposta Justificada)
2) O nome comercial (título de estabelecimento, insígnia, expressão ou sinal de
propaganda, armas, brasões ou distintivos públicos) empregado na marca apre-
sentada a exame constitui imitação do nome comercial (título de estabelecimen-
to etc) registrado pelo investigado?
3) Essa imitação pode criar confusão?

Art. 195, V
Uso de marca, nome comercial etc, indicativo de procedência não verdadeira
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A marca (nome comercial, título de estabelecimento, insígnia, expressão ou sinal


de propaganda) submetida a exame indica procedência diversa da verdadeira?

Art. 195, VIII


Fraudulenta utilização de recipiente ou invólucro de outro produto
Quesitação criminalística para exame do objeto material do crime

1) A mercadoria submetida a exame está em recipiente ou invólucro de seu produtor?


2) Está adulterada ou falsificada? (Resposta Justificada)

Estatuto do Desarmamento
(Lei nº 10.826, de 22-12-2003)

Art. 10, §§, 1º usque 4º, e incisos


Porte de arma
Quesitação criminalística para exame de arma de fogo (1ª opção)

1) Qual a natureza da arma apresentada para exame?


2) Quais são as suas dimensões?
3) No estado em que se acha, podia ser utilizada eficazmente para perpetração do
crime?
4) A arma submetida a exame acha-se, ou não, carregada?
5) Qual a natureza da munição que lhe serve de carga?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

6) A carga, ou projétil, foi expelida mediante detonação da cápsula ou da espoleta?


7) O exame da alma do cano indica que o disparo tenha sido recente?
8) O projétil retirado do cadáver, neste ato exibido, é do mesmo calibre da arma em
exame?

Quesitação criminalística para exame de arma de fogo (2ª opção)

1) Qual a natureza da arma submetida a exame?


2) Qual o seu calibre?
3) Achava-se carregada?
4) Em caso afirmativo, qual a espécie de sua munição?
5) No estado em que se encontra, podia ter sido eficazmente utilizada na realização
de disparos?
6) Apresenta vestígios produzidos por disparos recentes?

Quesitação criminalística para exame de arma de fogo (3ª opção)

1) Quais a natureza e características do material apresentado?


2) Apresenta o mesmo condições para realizar disparos de projéteis?
3) Apresenta vestígios de disparo recente?
4) O projétil encaminhado foi expelido por qualquer das armas remetidas a exame?
5) Os projéteis foram expelidos por quais armas?
6) Pode o senhor perito tecer outras considerações?

Quesitação criminalística para exame de arma de fogo (4ª opção)

1) Qual a espécie da arma submetida a exame?


2) Quais as suas características?
3) No estado em que se apresenta, poderia ter sido utilizada eficazmente para a
prática do crime?
4) Apresenta alguma mancha?
5) Qual a natureza dessa mancha?

Quesitação criminalística para exame de arma de fogo (5ª opção)

1) A arma está carregada?


2) Qual a natureza da carga?
3) Há vestígios de disparos recentes? (Resposta Justificada)
4) Há sinal indicativo de desarranjo no mecanismo da arma? (Resposta Justificada)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Quesitação criminalística para exame de arma de fogo (6ª opção)

1) Qual a natureza da(s) arma(s) submetida(s) a exame?


2) Qual seu calibre?
3) Acha-se carregada?
4) Em caso afirmativo, com munição de que espécie?
5) No estado em que se encontra podia ter sido eficazmente utilizada na realização
de disparo?
6) Apresenta vestígios produzidos por disparo recente?
7) Qual natureza do projétil submetido a exame?
8) Quais as suas características em relação à munição de que fez parte e a arma que
o atirou?

Quesitação criminalística para exame de projétil de arma de fogo (1ª opção)

1) Qual a natureza do projétil submetido a exame?


2) Quais as suas características em relação à munição de que fazia parte?
3) Quais as suas características em relação à arma que o disparou?

Quesitação criminalística para exame de projétil de arma de fogo (2ª opção)

1) Qual a natureza e características do material apresentado?


2) Quais os tipos de armas em que é usado?

Quesitação criminalística para exame de projétil de arma de fogo (3ª opção)

1) Qual a natureza e características do material apresentado?


2) Qual o tipo de arma em que é usado?

Código de Trânsito Brasileiro


(Lei nº 9.503 de 23-09-1997)

Crimes de trânsito
Arts. 301 usque 312
Quesitação criminalística para exame de local de acidente de trânsito (1ª opção)

1) Houve acidente?
2) Qual a sua natureza?
3) Como ocorreu ou parece ter ocorrido? (em caso de necessidade de complemen-
tação de laudo pericial de acidente de trânsito, poderão ser formulados outros
quesitos a critério das autoridades competentes, tais como:)

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4) Em que estado de conservação encontrava-se o sítio do evento?


5) O local era provido de iluminação pública?
6) No local havia sinalização? Em caso afirmativo, qual?

Quesitação criminalística para exame de local de acidente de trânsito (2ª opção)

1) Houve acidente?
2) Qual o tipo de acidente ocorrido?
3) Como aconteceu o acidente?
4) Quem lhe deu causa e por quê?
5) Qual o traçado topográfico do local: cruzamento, confluência, bifurcação, pas-
sagem de nível, curva, reta, viaduto ou praça?
6) Qual a visibilidade no momento do fato?
7) Qual o perfil topográfico do local: em nível, aclive ou declive?
8) Qual o nome da rua, avenida, estrada, praça etc?
9) Qual o sentido direcional imprimido pelos veículos envolvidos, a saber, cidade-
-bairro, bairro-cidade, rua-rua, avenida-avenida etc?
10) Qual a mão de direção do local: mão dupla ou mão única?
11) Existe sinalização de trânsito no local do acidente, como semáforos, placas, fai-
xas ou tartarugas?
12) Qual o tipo de pavimentação no local do acidente: asfalto, concreto, paralelepí-
pedos, blocos de concreto, terra batida, areia, cascalho etc?
13) Qual o estado de pavimentação: bom, regular, péssimo, seco, molhado, úmido etc?
14) Qual o tipo de iluminação existente: incandescente, a vapor, mercúrio?
15) A iluminação estava acesa, apagada ou inexiste?
16) Quais as dimensões da calçada, do leito carroçável e do acostamento?
17) Existem vestígios de frenagem, de derrapagem, de arrastamento ou de atrita-
mento de pneus?
18) Existem sulcos, riscos, atritamentos, cavidades?
19) Em caso positivo, qual a sua localização e significado?
20) Houve eventual choque com objetos fixos, tais como postes, árvores, guias etc?

Quesitação criminalística para exame de local de acidente de trânsito (3ª opção)

1) Qual a posição e situação em que foram encontrados os veículos?


2) Quais as suas características: tipo, marca, cor, modelo etc.?
3) Qual a extensão dos danos, seu sentido e orientação?
4) Os veículos envolvidos encontravam-se em condições de transitar normalmente?
5) Qual a situação dos sistemas de segurança para o tráfego, tais como os de freio,
direção, elétrico, suspensão, limpadores de pára-brisas?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

6) Existem avarias ou anomalias em tais sistemas?


7) Qual o estado de conservação dos pneus?
8) Os chassis conferem com a documentação em termos de veracidade?
9) Podem ser constatadas eventuais adulterações efetuadas nas características ori-
ginais dos veículos?
10) Qual a velocidade do(s) veículos(s) no momento do acidente?
11) Há condições para a elaboração de croqui?
12) Há possibilidade de reconstituição do evento?

Quesitação criminalística para vistoria de veículos acidentados

1) Quais as características do veículo examinado?


2) Esse veículo apresentava danos? Em caso de resposta afirmativa, onde se situa-
vam? Quais as orientações desses danos?
3) Como se apresentavam seus sistemas de segurança para o tráfego (freios, dire-
ção, alarme e iluminação)?
4) Em que estado de conservação achavam-se os pneus desse veículo?
5) Esse veículo se encontrava em condições perfeitas para transitar normalmente?

Exame de sanidade mental


Art. 147, I
Quesitação médico-legal para exame de sanidade mental de candidato à habilitação

1) O candidato apresenta estado físico normal, inclusive do aparelho sensorial?


2) O candidato apresenta estado mental normal?
3) No caso negativo, qual a doença ou perturbação?
4) Esta doença ou perturbação é irreversível?
5) Nas condições em que se apresenta, o candidato (ou paciente) pode dirigir veí-
culo automotor como amador ou profissional?

Exame de verificação de embriaguez


Arts. 165, 276 e 277
Quesitação médico-legal para verificação de embriaguez

1) O examinando encontra-se, no momento, em estado de embriaguez alcoólica


ou sob os efeitos de substância tóxica de qualquer natureza? (Resposta Justifi-
cada).

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Condutas e Atividades Lesivas ao Meio Ambiente


(Lei nº 9.605, de 12-2-1998)

Crimes contra o meio ambiente


Arts. 29 usque 37
Quesitação criminalística dos crimes contra a fauna: caça

1) Houve destruição de criadouro natural?


2) Qual a descrição da arma ou objeto utilizado para a prática da infração penal e qual a
sua potencialidade lesiva?
3) Qual a espécie de veneno, ou substância química, utilizada na ação criminosa?
4) Qual o tipo de gaiola apreendida e qual sua capacidade para conter pássaros?
5) Os objetos e produtos apreendidos são hábeis à perseguição, caça, destruição ou apanha
de animais?
6) O animal submetido a exame é, ou não, animal da fauna silvestre?
7) Qual o meio utilizado para o transporte da ave, réptil, anfíbio etc?
8) O local da infração penal tem características de cárcere ou de local de confinamento?
9) Quais as condições de higiene, alimentação, trato e ferimento encontradas em relação ao
animal maltratado?
10) Que petrechos foram utilizados pelo sujeito ativo na infração penal e qual sua potencia-
lidade lesiva?

Arts. 29 usque 37
Quesitação criminalística dos crimes contra a fauna: pesca

1) Há nexo causal entre os peixes ou cetáceos apresentados a exame e os agrotóxicos, subs-


tâncias químicas ou explosivos, apreendidos e também submetidos a exame?
2) Qual a descrição do material apreendido?
3) Os objetos, instrumentos ou petrechos utilizados na ação delituosa apresentam potencia-
lidade ofensiva?

Crimes contra o meio ambiente


Arts. 38 usque 53
Quesitação criminalística dos crimes contra a fauna: flora

1) O local examinado pode ser considerado como floresta?


2) O dano constatado permite comprovar o corte de árvores com separação do tronco da raiz?
3) As coisas apreendidas, armas, substâncias e instrumentos, são próprios para a explora-
ção de produtos e subprodutos florestais?
4) O local examinado constitui Parque Nacional, Estadual, Municipal ou área de
reserva ecológica?

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

5) O incêndio ocorrido (caso tenha havido incêndio) apresenta indícios de ter sido
doloso ou culposo?
6) Em caso positivo, qual a extensão do dano?
7) Os peritos podem afirmar se foram, ou não, tomadas precauções adequadas
para evitar-se o incêndio?
8) Qual a capacidade do balão causador do incêndio e quais os instrumentos, ma-
teriais e meios utilizados para a sua fabricação?
9) Quais os meios utilizados para o impedimento da regeneração da vegetação na-
tiva: gradeação manual, mecânica, fogo, produtos químicos ou outros?
10) Como pode ser descrita a madeira apreendida?
11) A madeira apreendida é, ou não, procedente de floresta?
12) A madeira transformada em carvão apreendido era realmente, ou não, madeira
de lei?
13) Qual o dano ecológico causado pela extração de minérios ou areia, em termos
de poluição de cursos de água e desbarrancamento de margens?

Crimes contra o meio ambiente


Art. 54, caput
Quesitação criminalística para constatação de poluição do solo

1) Qual o nível de degradação, erosão ou esgotamento do solo?


2) Qual o método que o desencadeou?
3) Qual a forma de manejo e a potencialidade lesiva das substâncias poluentes?
4) Qual a forma de contaminação?

Crimes contra o meio ambiente


Art. 54, § 2º, II
Quesitação criminalística para constatação de poluição atmosférica

1) É possível constatar, no caso concreto, a existência de dano ao meio ambiente?


2) Qual o nível de poluição, emissão de gases ou de substâncias poluentes?
3) É possível comprovar a existência de perigo à incolumidade humana, animal ou
vegetal?

Crimes contra o meio ambiente


Art. 55, e parágrafo único
Quesitação criminalística para constatação de garimpo

1) Quais os métodos e substâncias empregadas na extração do material em exame?


2) Quais os riscos à incolumidade humana, ambiental e animal decorrentes dos
métodos empregados?

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3) Quais os danos ambientais produzidos pela atividade desenvolvida pelos mine-


radores ou garimpeiros?

Crimes contra o meio ambiente


Art. 56, caput
Quesitação criminalística para constatação de produtos ou substâncias tóxicas

1) A produção, o processamento, a embalagem etc. do material apreendido é legal?


2) Qual a sua potencialidade lesiva em relação à incolumunidade humana, animal
ou vegetal, decorrente da análise das amostras oferecidas a exame?
3) Qual a forma de acondicionamento do material e eventuais danos por ele produ-
zidos?
4) Podem ser oferecidos outros subsídios destinados à mais completa elucidação
do caso investigado?

Crimes contra o meio ambiente


Art. 56, § 2º
Quesitação criminalística para constatação de atividades nucleares

1) Como ocorreu o acidente ou contaminação?


2) Qual a descrição e características principais do material submetido a exame?
3) Quais os níveis de radiação e de contaminação do local e adjacências?
4) Quais as possibilidades de contaminação de outros sítios adjacentes ao do evento?

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Capítulo VII
APREENSÕES E ARRECADAÇÕES

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Procedimentos cautelares no Código de


Processo Penal; 3. Cabimento; 4. Formalidades; 5. Apreensão; 6. Busca e apreensão;
6.1 Busca domiciliar; 6.2 Busca pessoal; 7. Arrecadação; 8. Medidas assecuratórias; 9.
Avaliação 10. Restituição; 11. Apreensões nas legislações especiais; 11.1 Apreensão de
adolescente; 11.2 Armas de fogo; 11.3 Busca em repartição pública e escritório de advo-
cacia; 11.4 Crime organizado; 11.5 Contrabando ou descaminho; 11.6 Meio ambiente;
11.7 Propriedade imaterial; 11.8 Drogas; 12. Conclusão. 13. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
As apreensões e arrecadações são procedimentos cautelares, de natureza ins-
trumental, constituindo meios para assegurar a tutela jurisdicional, bem como para
fazer retornar a coisa ou valor a seu legítimo proprietário ou possuidor.
As apreensões e arrecadações deverão estar embasadas em dois pressupostos,
o periculum in nora e o fumus boni iuris, para evitar o prejuízo que adviria da demora
na conclusão da ação penal, e respectivamente, verificar a presença de elementos
indicadores da existência do crime e da autoria.
Os procedimentos cautelares processuais penais podem ser de natureza pessoal
ou real. O primeiro recai sobre a pessoa que, em tese, infringiu o ordenamento penal,
e o segundo sobre os bens que tiverem relação com o fato delituoso.

2. PROCEDIMENTOS CAUTELARES NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


Preceitua o inciso I do artigo 6º do Código de Processo Penal, com redação
determinada pela Lei nº 8.862/94, que dele retirou a expressão “se possível e con-
veniente”, que a autoridade policial, obrigatoriamente, deverá comparecer ao locus
delicti providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos Peritos Criminais. Em seguida, realizará atos de Polícia Judiciária,
documentando a colheita de elemento probatório que interesse ao esclarecimento
da ocorrência.
Dependendo da peculiaridade do caso, determinará a lavratura de auto, que,
segundo a norma processual penal, poderá ser de exibição e apreensão, de busca e
apreensão, de arrecadação, de sequestro, de avaliação, de entrega e de depósito.

3. CABIMENTO
Os procedimentos cautelares poderão ocorrer anteriormente a qualquer pro-
cedimento policial ou judicial, i.e., quando a autoridade policial tiver conhecimento

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

da infração penal, durante o Inquérito Policial, na fase da instrução criminal, e du-


rante a execução, como, por exemplo, na busca necessária a verificar o procedimento
do liberado condicional no caso de revogação, consoante previsão do artigo 145 da
Lei de Execução Penal.

4. FORMALIDADES

Em matéria de providência cautelar, urgente e provisória, presente fundada


razão, a atuação policial deverá ser pautada pelos critérios estabelecidos pelo es-
tatuto processual penal e pela legislação especial, que cuidam dos procedimentos
cautelares, sob pena de se cometer crime de abuso de autoridade ou de prevaricação.
No que concerne aos formalismos existentes nas lavraturas dos autos, existem
propostas para modificações nos respectivos conteúdos dos modelos tradicionais,
uma vez que carecem de introduções sucintas. Além dos nomes e identidades, deve-
rão indicar, também, os endereços das testemunhas e do exibidor, qualificado por
último.
Necessário, ainda, especial cuidado na descrição do local, forma, condição e
contexto da apreensão da coisa, evitando-se, assim, o comprometimento do conjun-
to probatório, observando-se o princípio da verdade real.
A melhor linguagem a ser utilizada na descrição de coisas em geral apreendi-
das, arrecadadas ou que de alguma forma devam ser pormenorizadas em autos, é a
de caráter objetivo e científico que transparece em abundância nos laudos periciais.
Nesse sentido, é preferível descrever, v.g., “segmento cilíndrico de madeira im-
pregnado de substância de aspecto hematóide” a lançar “pedaço de pau sujo de san-
gue”, “resíduos vegetais de cor esverdeada com conformação e odor característicos
do entorpecente denominado cannabis sativa” a enunciar “porção de maconha”,
“projétil de chumbo nu, conformação cilindro - ogival, amolgado a empregar bala
de chumbo amassada”.
A ideia da substituição da locução “em poder de” por “circunstâncias” é salu-
tar, pois abre a possibilidade para a inclusão, neste campo, de outros dados, também
importantes, além do nome, identidade e endereço de eventual detentor do objeto
apreendido.
Outras inovações propostas são a substituição da expressão relacionado(s)
com a infração penal de...”, para “relacionado(s) com o seguinte procedimento de
Polícia Judiciária (BO, TCO, IP), nº ....., que versa sobre (natureza), sendo certo que
as novas tendências procuram substituir “Escrivão de seu cargo ou de meu cargo”,
para “Escrivão de Polícia”, dispensando-se o restante.
O encerramento, também, poderá ser simplificado, abolindo-se expressões pre-
concebidas como, “e por mim, Escrivão de Polícia, que o digitei”.

5. APREENSÃO

Apresentado o instrumento da infração penal ou qualquer outro objeto que


interesse à prova como, v.g., coisas achadas ou obtidas por meios criminosos, ins-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

trumentos de falsificação ou de contrafação, objetos falsificados, ou contrafeitos,


armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim
delituoso, elementos necessários à prova ou à defesa do investigado, a autoridade
policial determinará a lavratura de circunstanciado auto de exibição e apreensão.
(modelo 1)
Há casos em que, em razão da peculiaridade dos bens apreendidos, deverão
ser realizadas comunicações aos órgãos específicos, v.g., de controle sobre armas de
fogo, veículos produto de crime, cargas transportadas, produtos controlados como
explosivos, venenos, medicamentos.

6. BUSCA E APREENSÃO

Enquanto a apreensão diz respeito à formalização da tomada de elemento pro-


batório, que interessa ao esclarecimento da ocorrência, a busca refere-se à pesquisa,
investigação e indagação de elementos materiais relacionados com o caso investigado.
A busca domiciliar, ou pessoal, será determinada de ofício, ou a requerimento
de qualquer das partes. Embora, em princípio, devam ser executadas pela autorida-
de policial com competência ratione loci, permite o artigo 250, caput, do Código de
Processo Penal que o Delegado de Polícia, ou seus agentes, penetrem no território de
circunscrição alheia, ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão,
forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente auto-
ridade local, antes da diligência, ou após, conforme sua urgência.

6.1 Busca domiciliar

A busca domiciliar é possível, quando fundadas razões a autorizarem. No to-


cante ao domicílio, definido no texto constitucional como o asilo inviolável da pes-
soa, devem ser observados os conceitos estabelecidos pelo artigo 246 do Código de
Processo Penal e o disposto no § 4º do artigo 150 do Código Penal.
A busca domiciliar será executada de dia, consoante o disposto no artigo 245,
caput, do estatuto processual penal. Nesse sentido, há quem entenda que dia deve
ser compreendido como o período entre a aurora e o crepúsculo. Tratando-se de me-
dida excepcional de lesão a direito individual, contudo, é mais conveniente aceitar
a posição daqueles que sustentam que o período noite se estende das 20 (vinte) às
6 (seis) horas, com fundamento e analogia no artigo 172 do Código Processo Civil.
O artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal, por sua vez, possibilita a busca
domiciliar à noite, quando houver consentimento do morador, para efetuar prisão
em flagrante delito, em caso de desastre ou prestar socorro.
Antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado de
busca ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta
para o descobrimento do que se procura, nada impedindo, dependendo do caso, que
a autoridade policial participe da busca.
Frise-se que a Portaria nº 1.287/05 dispõe sobre a execução de diligências da
Polícia Federal, para cumprimento de mandados judiciais de busca e apreensão,

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

sendo que em seu art. 2º, inciso II, afirma que ela será realizada sobre o comando da
responsabilidade do Delegado Federal e estabelece outras providências.
Finda a diligência, deverá o Delegado de Polícia documentá-la por meio de
auto de busca e apreensão, que será assinado pelos executores e testemunhas, comu-
nicando-se o Juízo, sobre as circunstâncias, mediante ofício.(modelo 2)
Em caso de desobediência do morador, será arrombada a porta e forçada a
entrada, permitindo-se, ainda, o emprego de força contra coisas existentes no inte-
rior da casa do recalcitrante, sendo, consignado no auto a resistência que ensejou o
arrombamento.
De acordo com a redação determinada pelo inciso XI do artigo 5º da Lei
Maior, para resguardar-se a legalidade da busca domiciliar, deverá ser solicitado
mandado judicial, através de representação subscrita pela autoridade policial que,
devidamente fundamentada, indicará o imóvel em que será realizada, o motivo e os
fins da diligência, bem como solicitação para arrombamento, caso necessário.
A formalidade de que deve revestir-se o mandado expedido pelo Delegado
de Polícia consta do artigo 243 do Código de Processo Penal, sendo que, em face
da determinação constitucional, nele deverá ser inserida a expressão “judicialmente
autorizado”.
É possível, ainda, a busca e apreensão de pessoas, v.g., do ofendido que se
encontra privado de sua liberdade, como nas hipóteses de sequestro, redução a con-
dição análoga à de escravo, subtração de incapazes.
Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, os motivos da diligência
serão comunicados a quem tiver sofrido a busca, se o requerer.

6.2 Busca pessoal


Consiste a busca pessoal na inspeção do corpo e das vestes de alguém para
apreensão de instrumentos ou objetos. Inclui, além disso, toda a esfera de custódia
da pessoa, como bolsas, malas, pastas, embrulhos, veículos, motocicletas, barcos etc.
Nesse sentido, para a localização de coisas a serem apreendidas é permitido o
uso de quaisquer meios lícitos, v.g., mecânicos, radioscópicos, utilização de animais.
A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando hou-
ver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos
ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no
curso de busca domiciliar.
A busca realizada em mulher deve ser discreta, e será feita por outra mulher, se
não importar retardamento ou prejuízo da diligência, nos termos do artigo 249 do
Código de Processo Penal.

7. ARRECADAÇÃO
A autoridade policial, ao localizar instrumento de objeto no local da infração
penal, deverá lavrar auto de arrecadação, quando julgar necessário transportar os
bens para exame posterior, com a finalidade de fixar o liame entre a prova material,
o crime e o criminoso. (modelo 4)

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Nem sempre os bens arrecadados têm relação direta com infração penal, v.g.,
os pertences do suicida.
Existem algumas posições no sentido de afirmar que o auto de arrecadação
já foi substituído, naturalmente, pelo auto de exibição e apreensão. De qualquer
forma, independentemente do procedimento adotado, se existir fundada razão para
a medida cautelar, não ocorrerá nulidade, desde que os instrumentos ou objetos
sejam detalhadamente discriminados, constando, entre outras características, sua
numeração, marca, calibre, estado de conservação, tipo etc.

8. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
As medidas assecuratórias, v.g., o sequestro de bens imóveis e móveis, hipoteca
legal e o arresto têm por escopo garantir a reparação do dano por parte do autor de
infração penal ao ofendido, i.e., vítima ou interessado.
Na fase procedimental, interessa-nos apenas o sequestro de bens imóveis e mó-
veis, pois a hipoteca legal e o arresto só podem ocorrer na fase processual.
O artigo 132 do Código de Processo Penal, não sendo caso de busca e apre-
ensão, prevê a possibilidade de se proceder ao sequestro de bens móveis, estando
presentes as condições do artigo 126.
Como menciona Julio Fabbrini Mirabete, citando E. Magalhães Noronha, o
sequestro na esfera penal é a retenção judicial do bem imóvel ou móvel, havido
com os proventos da infração, com o fim de assegurar as obrigações civis advindas
deste”1.
O sequestro pode ser efetuado esteja o bem na propriedade do acusado ou na
posse de terceiro, não importando o título da aquisição, ou seja, através de aliena-
ção, renúncia ou abandono.
A representação da autoridade policial objetivando a sua concessão, será diri-
gida ao Juiz competente para processar a ação penal, e para sua decretação é neces-
sário que existam indícios veementes da procedência ilícita do bem, nos termos do
artigo 126 do Código Processo Penal. (modelo 5)
Prossegue Mirabete, citando Hélio Tornaghi, que indícios veementes “são os
que levam grave suspeita, os que eloquentemente apontam um fato, gerando uma
suposição bem vizinha da certeza”2. Não se trata de prova plena da ilicitude da aqui-
sição do imóvel, porém, não pode ser ordenado se não existir qualquer prova, ainda
que indiciária ou circunstancial, e muito menos decorrer de simples presunção, sen-
do incabível quando o acusado adquirir o bem antes do fato criminoso3.
Recaindo o sequestro sobre imóvel, deve a autoridade policial representar ao
Juiz, objetivando sua inscrição no Registro de Imóveis, conforme prevê o artigo 128
do Código de Processo Penal, que será realizada na forma do artigo 239 da Lei nº
6.015/73, Lei de Registros Públicos.

1 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 1996, p. 236.2 MIRA-
BETE, op. cit., p. 237. 3 RT 544/350.
2 MIRABETE, op. cit., p. 237.
3 RT 544/350

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

9. AVALIAÇÃO
Avaliar significa determinar o valor real de alguma coisa. Nos termos do artigo
172 do Código de Processo Penal, proceder-se-á, quando necessário, à avaliação por
meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências, confor-
me determina o parágrafo único do dispositivo.
Procura a autoridade policial, com o ato da avaliação, determinar o exato va-
lor da coisa. Até mesmo o produto do crime, também, poderá ser submetido à ava-
liação. No caso, o Delegado de Polícia determinará a lavratura de auto de avaliação
que assinará juntamente com os peritos nomeados, as testemunhas e o escrivão.
(modelo 6)
Os peritos nomeados prestarão compromisso de fielmente desempenharem
seus encargos caso não sejam oficiais, não se devendo designar policiais civis como
peritos avaliadores, sobretudo quando tiverem participação na investigação.
A avaliação, medida cautelar realizada no curso do Inquérito Policial, neces-
sária à elucidação da infração penal, influencia, indubitavelmente, a dosimetria da
pena, por força do disposto no artigo 59 do Código Penal.

10. RESTITUIÇÃO
Caberá restituição de coisas apreendidas pela autoridade policial quando pu-
derem ser restituídas, não interessarem ao processo nos termos do artigo 118 do
Código de Processo Penal, não houver dúvida quanto ao direito do reclamante e
não tiver sido feita a apreensão em poder de terceiro de boa fé.
Podem, também, ser restituídos os instrumentos que não forem suscetíveis de
confisco, i.e., aqueles cujo fabrico, uso, porte, alienação ou detenção, constituam fa-
tos lícitos, instrumentos de crime confiscáveis na hipótese de existir pessoa com au-
torização prévia para uso, coisas deterioráveis, não sendo duvidoso o direito ao bem.
Aliás, em relação a toda coisa apreendida, ou arrecadada, definida como legal-
mente restituível, a autoridade policial procederá à devolução do bem, lavrando-se
auto de entrega. (modelo 7).
No entanto, em caso de dúvida sobre quem seja seu verdadeiro proprietário, a
autoridade policial poderá depositá-lo em mãos da pessoa que o detinha, se idônea,
mediante auto de depósito, instaurando incidente de restituição de coisa apreendi-
da, nos termos do § 1º do artigo 120 do Código de Processo Penal. (modelo 8)
Ressalte-se que o artigo 91,inciso II, a, do Código Penal, dispõe sobre a perda
em favor da União dos instrumentos do crime.

11. APREENSÕES NAS LEGISLAÇÕES ESPECIAIS

11.1 Apreensão de adolescente


A apreensão de adolescente ocorre quando há ato infracional. Se for infração
penal sem violência ou grave ameaça, v. g. furto, poderá o adolescente ser entregue
ao responsável, que ficará compromissado em apresentá-lo ao Juízo da Infância e

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Juventude no primeiro dia útil subsequente. Quando os responsáveis se recusarem


em recebê-lo, ou não forem encontrados, o adolescente será encaminhado ao Juízo
citado. Ele também será encaminhado à Vara da Infância e Juventude no caso de
crime cometido com violência ou grave ameaça.
É feita por meio de auto de apreensão de adolescente, elaborado nos moldes do
auto de prisão em flagrante, no qual se faz mencionar todos os fatos e pessoas rela-
cionadas com a apreensão, dando-se-lhe conhecimento de seus direitos, bem como
a identificação do autor da apreensão e da autoridade policial presidente dos atos.
(modelo 9)
Devem ser ouvidos todos os envolvidos na mesma ordem da autuação da pri-
são em flagrante. A apreensão de armas e de qualquer objeto de interesse para a
perfeita compreensão dos fatos e circunstâncias da ação do adolescente deve ser
realizada pela autoridade policial, que determinará a realização das perícias, bem
como das avaliações.
Quando cabível, faz-se a entrega de valores ou objetos aos seus legítimos pro-
prietários, de tudo lavrando-se os respectivos autos. Após a formalização dos atos
e elaboração das peças necessárias, o adolescente deve ser encaminhado a exame
de corpo de delito, de praxe, e imediatamente apresentado ao Juiz da Infância e
Juventude, acompanhado de todo o procedimento elaborado. Se não for possível a
apresentação imediata, deverá ser recolhido em local seguro, separado dos demais
presos, e conduzido o mais rapidamente possível à presença da autoridade judiciária
competente.
Pode ocorrer, também, do adolescente ser apreendido por ordem judicial e,
neste caso, procede-se de forma semelhante à da prisão de pessoa procurada, ou
seja, elabora-se boletim de ocorrência, requisita-se o exame de corpo de delito e
apresenta-se o adolescente acompanhado do mandado judicial, imediatamente, ou
o mais breve possível, com as mesmas cautelas.
A Portaria DECAP 4/99 estabelece procedimento a ser adotado quando da
apreensão de adolescente e dá providências correlatas.

11.2 Armas de fogo


Com a promulgação da Lei nº 10.826/03, que dispõe sobre o Sistema Nacional
de Armas e define crimes, a autoridade policial deixou de observar os ditames da
Lei nº 9.099/95, tendo em vista que as penas máximas cominadas são superiores a 2
(dois) anos, passando a instaurar Inquérito Policial, por portaria ou auto de prisão
em flagrante, para a apuração da infração penal, após a devida apreensão.
A Portaria DGP-34/97, estabelece procedimento a ser adotado quando da
apreensão de armas de fogo e dá providências correlatas.
O Capítulo XII, armas de fogo, complementa a presente matéria.

11.3 Busca em repartição pública e escritório de advocacia


Parte da doutrina afasta a possibilidade de existir busca em repartição pública.
Todavia, significativa corrente sustenta seu cabimento, quando indispensável a apre-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ensão da coisa na busca da verdade real, condicionando-se sua realização à recusa


espontânea da entrega da coisa, bem como à autorização judicial.
Em se tratando de busca em escritório de advocacia, determina o artigo 7º,
inciso II, da Lei nº 8.906/94, Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do
Brasil, que seja realizada mediante autorização judicial, sendo o ato acompanhado
por representante da OAB.
A Portaria nº 1.288/05 dispõe sobre a execução de diligências da Polícia Fede-
ral para cumprimento de mandados judiciais de busca e apreensão em escritório de
advocacia. Disciplina as ações policiais que não podem se impor de forma absoluta
nem, tampouco, o poder da autoridade policial deve se revestir de caráter ilimitado,
devendo sempre prevalecer o bom senso e o equilíbrio para que se realize o superior
interesse público.
Em seu art. 4º o citado diploma legal traz elenco de objetos que não poderão
ser apreendidos em escritórios de advocacia.

11.4 Crime organizado


A Lei nº 9.034/95 prevê no artigo 2º, inciso III, a possibilidade de se apreende-
rem documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais, bem como
a de acesso a dados relacionados às ações praticadas por organizações criminosas
fixando meios operacionais de investigação e prova.
No entanto, seu art. 3º, preservando o sigilo constitucional, dotou o Juiz de
competência para realizar, pessoalmente, certas diligências, próprias do Delegado
de Polícia, cuja autoridade foi reconhecida constitucionalmente. Esta novidade vem
sendo criticada pela doutrina.

11.5 Contrabando ou descaminho


Contrabando é a importação ou exportação de coisa proibida sem pagamento
de direito fiscal, e descaminho é a importação ou a exportação de mercadoria legal,
com fraude ou sonegação fiscal, nos termos do artigo 334 do Código Penal.
O Decreto-lei nº 37/66, em seu artigo 104, inciso , esclarece que haverá perda
dos veículos utilizados para contrabando ou descaminho, determinada pela própria
autoridade alfandegária, bem como será decretada a perda da mercadoria contra-
bandeada ou descaminhada.
Em se tratando de apuração da Polícia Federal, o Delegado de Polícia, em
situação de contrabando ou descaminho, deve observar a legislação federal.

11.6 Meio ambiente

A legislação referente ao meio ambiente prevê a apreensão de material para


análise. Para a colheita de amostra, a autoridade policial deve observar o Código
Sanitário Estadual, Decreto nº 12.342/78 adaptado ao estatuto processual penal.
O Delegado de Polícia, ao realizar à apreensão de material, deverá observar as
instruções constantes do art. 25 da Lei nº 9.605/98.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

11.7 Propriedade imaterial

A autoridade policial poderá proceder à busca e apreensão, mediante autoriza-


ção judicial, de obras e objetos indevidamente produzidos.
Na ocasião, será lavrado termo, assinado por duas testemunhas, com a descri-
ção de todos os bens apreendidos e informações sobre suas origens.
Quanto às infrações penais previstas na Lei nº 9.279/96, que regula direitos e
obrigações relativos à propriedade industrial, torna-se possível a apreensão, desde
que os crimes sejam de ação penal pública incondicionada, pois, nos delitos de ação
penal privada, a diligência será realizada por 2 (dois) peritos nomeados pelo Juiz,
conforme estabelece o artigo 527, caput, do Código de Processo Penal.

11.8 Drogas

A Secretaria da Segurança Pública para disciplinar os procedimentos referen-


tes à formalização da apreensão, acondicionamento, guarda e incineração de drogas
no Estado de São Paulo, nos termos do artigo 31 e seguintes da Lei Federal nº
11.343 de 23 de agosto de 2006, editou a Resolução SSP-336 de 11 de dezembro de
2008. Nessa direção, a Portaria DGP-35/2008 tratou de assegurar às Unidades Po-
liciais Civis do Estado o fiel cumprimento dos termos da Resolução SSP-336/2008.
Estabelece o art. 32, da Lei nº 11.343/06, que “As plantações ilícitas serão ime-
diatamente destruídas pelas autoridades de polícia judiciária, que recolherão quan-
tidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das
condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas neces-
sárias para a preservação da prova”.
O § 1º, do mesmo artigo diz que “A destruição de drogas far-se-á por incine-
ração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, guardando se as amostras necessárias à
preservação da prova”.
Referida incineração deverá ser precedida de autorização judicial e executada
pela autoridade de polícia judiciária competente, na presença de representante do
Ministério Público e da autoridade sanitária, previamente comunicados do ato, ou
seja, com antecedência mínima de 7 (sete) dias, conforme estabelece o artigo 9º da
Resolução SSP-336/2008, bem como o artigo 9º da Portaria DGP-35/2008.
Não havendo dúvida por parte dos presentes, será confeccionado, no local, o
auto circunstanciado de incineração e, após assinatura de todos, que receberão uma
cópia, será encaminhada uma via ao Juízo competente, nos termos do parágrafo 2º
do artigo 10 da Resolução SSP-336/2008.
A Portaria DGP 11/2000 esclarece que o Parecer lançado nos autos do proces-
so 53/2000, da Egrégia Corregedoria Geral da Justiça concluiu pela possibilidade
de incineração do material entorpecente, mesmo antes do trânsito em julgado da
decisão.
O art. 62, da Lei nº 11.343/06 reza que “Os veículos, embarcações, aeronaves
e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e
objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia
judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação espe-
cífica”.

12. CONCLUSÃO

A colheita acautelatória de provas e indícios torna imprescindível a atribuição


às autoridades policiais de poderes coercitivos, pois estão obrigadas a impedir o
desaparecimento das provas, sujeitas à ação voraz do tempo, bem como restabelecer
o estado anterior do delito, satisfazendo o legítimo interesse da vítima. Os proce-
dimentos cautelares são atos de alta relevância que buscam estabelecer a verdade
material para que, na esfera penal, o Estado - Administração tenha o direito sub-
jetivo público de exigir a tutela jurisdicional no exercício do jus puniendi, quando
prejudicado o direito subjetivo da liberdade do acusado.

13. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 1

AUTO DE EXIBIÇÃO E APREENSÃO

Aos___ dias do mês de____ de ______, nesta cidade de_____________,


na_______, onde se achava o(a) Dr(a)____________, Delegado(a) de Polícia res-
pectivo comigo, Escrivão(ã) de Polícia__________________ao final nomeado e
assinado, aí, em presença das testemunhas ____________________(nome das
testemunhas, documento e endereço), ao final assinadas, compareceu o exibi-
dor_________(nome e RG, endereço) que exibiu à Autoridade Policial os objetos(s)
e valor(es) encontrado(s) em ___________________, no dia __de_________de____,
às___ horas em poder de_____________________, relacionado(s) com a infração
penal de_______________, sendo determinada pela Autoridade a apreensão do(s)
objeto(s) e valor(es) abaixo descritos: __________________.
Nada mais havendo a tratar, mandou a Autoridade que fosse encerrado este
auto, que lido e achado conforme, vai assinado com as testemunhas____________e
_____________e, comigo,_____ , Escrivão(ã) que o digitei.

Seguem as assinaturas da Autoridade________, Exibidor_______, Testemu-


nhas___ e Escrivão(ã) de Polícia____________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 2

AUTO DE BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR

Aos___dias do mês de________de_____, nesta cidade de _________,


na_________,onde presente se encontrava o(a) Delegado(a) de Polícia,
Dr(a)__________________, comigo Escrivão(ã) de Polícia, ao final assinado(a) e
nomeado(a), em presença das testemunhas (nome das testemunhas, documento e
endereço), intimou a pessoa presente_____________ (descrever nome, documento e
sua qualidade no local) da propriedade (dizer que tipo de propriedade é) a franque-
ar a entrada, lendo-lhe o teor do mandado de busca e apreensão, ordenando-lhe que
mostrasse o objeto(s) ou valor (es) buscado (s), sendo o (s) mesmo (s) encontrado (s)
(descrever detalhes de onde foi (ram) encontrado (s) e o que se busca). Nada mais
havendo, determinou a Autoridade Policial que se encerrasse o presente auto que,
depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado pela Autoridade, pelas
testemunhas e comigo, , Escrivão(ã) que o digitei (datilografei).

Seguem as assinaturas da Autoridade

_______Testemunhas_______Escrivão(ã)_____

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 3

REPRESENTAÇÃO PARA CONCESSÃO


DE MANDADO DE BUSCA E APREEENSÃO

Ofício nº____ /____


____________,___ de__________ de________

Meritíssimo Juiz de Direito:

Consta que, no dia___, às_____horas, no endereço__________,área desta De-


legacia de Polícia, ocorreu (informar a denominação da infração penal), (informar
detalhes e modus operandi do agente).
Foi registrado o boletim de ocorrência de nº____(e instaurado o Inquérito Po-
licial de nº___) e, conforme oitivas realizadas, há informações de que o producta
sceleris encontra-se (descrever o local), representando esta Autoridade Policial pela
concessão de mandado judicial de busca e apreensão domiciliar e ordem de arrom-
bamento, caso seja necessário, nos termos do art. 240 do Código de Processo Penal.
Respeitosamente,

Delegado(a) de Polícia

À Sua Excelência o Sr. Dr.

Meritíssimo Juiz de Direito de (local)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 4

AUTO DE ARRECADAÇÃO

Aos___dias do mês de________de_____, na_____________, onde presente


se achava o(a) Dr(a)_________________, comigo Escrivão(ã) de Polícia, ao final
assinado(a) e nomeado(a), aí às___horas, na presença das testemunhas infra-assina-
das, determinou a mesma Autoridade que se procedesse à arrecadação dos objetos
e valores abaixo relacionados e que foram encontrados nas vestes de____________
(qualificação), vítima de___________ (natureza da ocorrência), acontecido às_____,
em _______(local), a saber:_________________(relacionar, minuciosamente, os ob-
jetos encontrados). Nada mais havendo a tratar, mandou a Autoridade que fos-
se encerrado este auto, que lido e achado conforme, vai assinado com as testemu-
nhas______________(nome, RG, endereço) e, comigo,_________,Escrivão(ã) que o
digitei.

Seguem as assinaturas da Autoridade_______Testemunhas_________


Escrivão(ã)___

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 5

REPRESENTAÇÃO SOBRE SEQUESTRO

Ofício nº___ /____

____________,____ de____ de________

Meritíssimo Juiz:

Conforme os elementos de convicção documentados no Inquérito Policial, re-


gistrado sob número , havendo indícios veementes da proveniência ilícita dos bens
abaixo relacionados, proventos de (descrever a infração penal), represento objeti-
vando o sequestro dos seguintes bens, após a manifestação do digno representante
do Ministério Público, como medida cautelar que visa resguardar o direito da víti-
ma, a saber:
1)__________________
2)__________________
3)__________________
(relacionar os bens, móveis ou imóveis)

Renovo protestos de estima e consideração.

Delegado(a) de Polícia

À Sua Excelência

Meritíssimo Juiz de Direito de (local)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 6

AUTO DE AVALIAÇÃO

Aos___ dias do mês de_____ de_____, nesta cidade de___________ , na De-


legacia de_____________, onde se achava o(a) Dr(a)______________, Delegado(a)
de Polícia respectivo, comigo Escrivão(ã) de Polícia, ao final assinado, aí presentes
os peritos nomeados________________e________________(nomes, RG, endereço)
e as testemunhas infra-assinadas, a Autoridade deferiu aos peritos o compromisso
formal de bem e fielmente desempenharem a sua missão, declarando com verdade
o que entrarem e descobrirem e o que em suas consciências entenderem, e determi-
nou-lhes que procedessem à avaliação de __________________________(descrever
os objetos). Após confabularem entre si, os peritos nomeados avaliaram o objeto
da seguinte forma: ________________________(descrever o objeto e o respectivo
valor). Nada mais havendo a tratar, mandou a Autoridade encerrar este auto, que,
depois de lido e achado conforme, vai devidamente assinado. Eu,_______________,
Escrivão(ã) de Polícia que o digitei.

Seguem as assinaturas da Autoridade_____,


dos Peritos_________,
Testemunhas_______________________ e
Escrivão(ã)_____________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 7

AUTO DE ENTREGA

Aos dias___ do mês de_______de___, nesta cidade de_________, na Delegacia


de Polícia, onde se achava o(a) Dr(a)__________, Delegado(a) de Polícia, comigo
Escrivão(ã), ao final assinado e as testemunhas, _______________(nome, documen-
to e endereço), aí presente_______________________(nome, documento, endereço),
pela Autoridade foi feita a entrega de_____________________(detalhar os objetos
ou o que foi entregue).
Nada mais havendo, após lido e achado conforme, determinou a Autoridade
o encerramento do presente auto que, depois de lido e achado conforme, vai de-
vidamente assinado pela Autoridade, recebedor, testemunhas e comigo,________,
Escrivão(ã) de Polícia que o digitei.

Seguem as assinaturas da Autoridade_______, Recebedor______, Testemu-


nhas_________, Escrivão(ã) de Polícia_______________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 8

AUTO DE DEPÓSITO

Aos dias___ do mês de______ de____, nesta cidade de________________,


na Delegacia de_________________________, onde se achava o(a)
Dr(a)_____________,Delegado(a) de Polícia, comigo Escrivão(ã) de Polícia abaixo
nomeado e assinado, aí, em presença das testemunhas (descrever o nome, documen-
to e endereço de cada uma) infra-assinadas, compareceu (nome, documento e ende-
reço), para quem a Autoridade fez o depósito de___________________________,
o qual afirmou que aceitava, comprometendo-se a não abrir mão dele, salvo por
ordem da Autoridade Policial ou Judicial competente, ficando, pois, como fiel de-
positário. Nada mais havendo, após lido e achado conforme, vai devidamente assi-
nado pela Autoridade, pelas testemunhas, pelo depositário e por mim,_________ ,
Escrivão(ã) de Polícia que o digitei.

Seguem as assinaturas da Autoridade_____________, do Depositário________,


das Testemunhas______________, Escrivão(ã) de Polícia__________________.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 9

AUTO DE APREENSÃO DE ADOLESCENTE

Às___horas do dia___do mês de_______do ano de _____, nesta cidade


de________, na Delegacia ____________, onde presente se achava o(a) Sr.(a)
Dr(a)______________, Delegado(a) de Polícia respectivo, comigo, Escrivão(ã) de
Polícia, ao final assinado, aí compareceu o Sr. CONDUTOR, adiante qualificado,
o qual, na presença das testemunhas que adiante seguem, apresentou apreendido o
ADOLESCENTE____________, em razão de tê-lo surpreendido na Rua_______,
nº____, na cidade de_____________, na prática (ou logo após etc.) de ATO INFRA-
CIONAL consistente em_________ (roubo p/ex.) contra a pessoa de______
Preliminarmente a Autoridade cientificou-se da menoridade do conduzido e
da efetiva prática do ato infracional a ele atribuído, determinando a sua apreensão,
cientificando-o de seus direitos, dentre eles o de permanecer calado e de ter assis-
tência da família e de advogado, tendo o adolescente se manifestado no sentido de
(avisar familiar por exemplo). Fê-lo saber ainda que está sendo providenciado a
comunicação aos pais ou responsável através do fone (ou outro meio). Em seguida
foram identificados ao adolescente o policial apreensor, bem como a Autoridade
que preside este procedimento.
Após providenciada a incomunicabilidade das testemunhas, passou a Autori-
dade a ouvir o CONDUTOR E PRIMEIRA TESTEMUNHA: , (qualifi­cação), que
foi compromissado na forma da lei, prometendo dizer a verdade do que soubesse e
lhe fosse perguntado. Inquirido respondeu: que, ; Nada mais disse e nem lhe foi
perguntado. SEGUNDA TESTEMUNHA: (qualificação). Testemunha compro-
missada na forma da lei, prometendo dizer a verdade do que soubesse e lhe fosse
perguntado. Inquirida respondeu: que, . Nada mais disse e nem lhe foi perguntado.
Em seguida passou a Autoridade colher as declarações da VITIMA: (qualificação).
Inquirida respondeu: que, Nada mais disse. Finalmente passou a Autoridade a qua-
lificar o ADOLESCENTE que disse chamar-se: (qualificação completa.), o qual,
inquirido, respondeu: que;. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado.
Por último, determinou a Autoridade que se fizesse constar que, pelo que foi
exposto e apurado, infere-se que o adolescente , infringiu o art. 157, § 2º, I, do CP
(ex.) e que, tendo em vista a gravidade do fato lhe imputado, conforme dispõe o art.
175 do Estatuto da Criança e do Adolescente, não poderá ser liberado, devendo ser
encaminhado para a___ Vara da Infância e Juventude, onde permanecerá à disposi-
ção do MM Juiz de Direito competente.
Nada mais havendo a tratar, mandou a Autoridade encerrar este auto, que
depois de lido e achado conforme vai devidamente assinado pela Autoridade,
pelo condutor e demais testemunhas, pela vítima, pelo adolescente e por mim, ,
Escrivão(ã) que o digitei.
Seguem as assinaturas da Autoridade_________ Condutor__________
Testemunhas_____________ Vítima______________, Adolescente_________,
Escrivão(ã) de Polícia___________________.

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Capítulo VIII
DOCUMENTOS RELATIVOS
AO INVESTIGADOR DE POLÍCIA

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Participação do Investigador de Polícia na


elaboração do BO; 3. Ordem de serviço; 4. Relatório de investigação;4.1 Relatório de
Investigação Ilustrado; 5. Intimações e notificações; 6. Relatório decorrente de manda-
do de prisão; 7. Relatório decorrente de mandado de busca e apreensão; 8. Relatório
decorrente de mandado de condução coercitiva; 9. Relatório decorrente de ofícios re-
quisitórios do Poder Judiciário e do Ministério Público; 10. Relatório de situação das
viaturas; 11. Parte de serviço; 12. Esclarecimento de BOAD; 13. Informe criminal e
investigação preliminar; 14. Elaboração dos documentos pelo Investigador de Polícia;
15. Conclusão; 16. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O Investigador de Polícia, no dizer de Coriolano Nogueira Cobra, em seu


“Manual de Investigação Policial”, é uma figura especial1 nos quadros da organiza-
ção policial civil, sendo sua ação muito importante, e até decisiva, nos trabalhos de
Polícia Judiciária, pois cabe a ele a tarefa de levantar os meios de provas, trazendo-
os para os autos do Inquérito Policial.
Além de conhecer, com proficiência, os outros meandros de suas atribuições, e
a dos demais policiais civis que com ele trabalham, e cooperam, para o mesmo fim,
deve o Investigador de Polícia, encarregado das investigações de um caso concreto,
conhecer os elementos que integram a composição do Inquérito Policial em curso,
bem como ter uma noção ampla dos objetivos que o procedimento investigatório
procura alcançar, saindo da posição de mero coadjuvante.
Em razão disso, é preciso que se padronize sua participação em um maior nú-
mero de atos investigatórios, a fim de que a fase pré-processual da persecução penal
alcance seus objetivos com maior eficácia.

2. PARTICIPAÇÃO DO INVESTIGADOR DE POLÍCIA NA ELABORAÇÃO


DO BO

O Delegado de Polícia, quando da apresentação da ocorrência na unidade po-


licial, deve permitir que o investigador participe, efetivamente, da elaboração do

1 COBRA, Coriolano Nogueira. Manual de Investigação Policial.São Paulo:Saraiva,7ªed.,revista


e atualizada, 1987, p.7.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

histórico do boletim de ocorrência, facultando-lhe esboçar um relatório sobre a in-


fração penal apresentada, trazendo para o registro preliminar a somatória de sua
experiência profissional.

3. ORDEM DE SERVIÇO

Elaborada pela autoridade policial, de forma circunstanciada, a ordem de


serviço (modelo 1), em matéria de polícia judiciária é um documento administra-
tivo cujo destinatário é o Investigador de Polícia e que contém todas as informa-
ções necessárias para o sucesso de uma diligência policial, dela devendo constar
o prazo para seu cumprimento, que pode ser, no mínimo, de 5 (cinco) dias, diante
do silêncio da autoridade.
Nessa ocasião, recomenda-se que a autoridade policial dê-lhe vista dos autos,
a fim de que tenha uma visão global do caso investigado, podendo daí retirar outros
subsídios que julgar convenientes para o aprofundamento das diligências.

4. RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

O relatório de investigação (modelo 2) deve ser elaborado de maneira cir-


cunstanciada e minuciosa em atendimento às diligências determinadas pela
autoridade policial, destacando, ao final, o cumprimento da ordem, de forma
positiva, ou negativa. Sugere-se que este documento (modelo 5) tenha alguns
requisitos, a saber, o número de referência, os dados das diligências efetuadas,
ou não, a qualificação e endereço das pessoas mencionadas, quando localizadas,
a data e a assinatura do agente da autoridade responsável pelo cumprimento da
ordem de serviço correspondente.

4.1 Relatório de Investigação Ilustrado


O relatório de investigação ilustrado é a mesma peça tratada no presente item,
instruído, todavia, com fotografias legendadas, desenhos ou croquis. Este documen-
to, próprio do Investigador de Polícia, destina-se principalmente ao registro das in-
vestigações cujos elementos sejam pobres em informações e detalhes sobre o local e
cercanias do fato.
O relatório ilustrado é utilizado, sobretudo, em investigações de crimes contra
a pessoa cujo registro foi efetuado em data distante da ocorrência, prejudicando
sensivelmente o andamento e o sucesso dos trabalhos investigativos.
As fotografias podem ser anexadas aos relatórios ou inseridas no próprio texto
capturadas e reproduzidas por meio digital.
Finalmente, recomenda-se aos policiais responsáveis da elaboração desse re-
latório, o máximo cuidado no registro das informações transmitidas bem como o
esmero na digitação porque este documento tem sido citado, frequentemente, por
juízes, promotores e advogados no curso dos processos criminais.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5. INTIMAÇÕES E NOTIFICAÇÕES

O Investigador de Polícia, no âmbito da Polícia Judiciária, faz as vezes de ofi-


cial de justiça, entregando notificações (modelo 7) e intimações a todas as pessoas
convocadas pela autoridade policial a fornecer suas respectivas versões nos autos de
Inquérito Policial.
Nessas oportunidades, deverá entregar as intimações às pessoas a quem foram
endereçadas, nunca a terceiros, procurando, obrigatoriamente, colher recibo de en-
trega, que, mediante certidão do escrivão do feito, deverão fazer parte integrante
dos autos.
O prazo de cumprimento das notificações e intimações deve ser imediato, dian-
te da ausência de prazo estipulado de normas internas para a sua execução.

6. RELATÓRIO DECORRENTE DE MANDADO DE PRISÃO

A prisão, em cumprimento de mandado, efetuada pelo Investigador de Polícia,


obedece aos preceitos estatuídos pelos arts. 282 usque 300 do Código de Processo
Penal.
Deve o agente da autoridade, se o tiver em mãos, entregar ao preso cópia do
mandado, com declaração do dia, hora e lugar da prisão.
A seguir, elaborará relatório circunstanciado a respeito do seu cumprimento,
fazendo juntar, quando possível, recibo passado pelo preso, na cópia do instrumen-
to judicial.

7. RELATÓRIO DECORRENTE DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO

De idêntica forma, na qualidade de agente da autoridade policial, deverá o


Investigador de Polícia providenciar a elaboração de relatório circunstanciado (mo-
delo 4), como na hipótese previamente analisada, relatando incidentes porventura
ocorridos na execução de mandado de busca e apreensão.

8. RELATÓRIO DECORRENTE DE MANDADO DE CONDUÇÃO


COERCITIVA

Igualmente, como nas duas hipóteses anteriores, deverá o Investigador de Po-


lícia elaborar relatório circunstanciado sobre os fatos decorrentes da determinação
de condução coercitiva da parte à presença da autoridade policial ou judiciária,
relatando igualmente incidentes porventura acontecidos.

9. RELATÓRIO DECORRENTE DE OFÍCIOS REQUISITÓRIOS DO PODER


JUDICIÁRIO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Caso despachados pela autoridade policial ao Investigador de Polícia, tais do-


cumentos, comumente destinados à localização de partes envolvidas em processos

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

(modelo 8), devem ser respondidos, protocolarmente àquela, através de relatório


circunstanciado, a fim de que a unidade policial requisitada possa oferecer, através
da autoridade policial, explicações plausíveis ao Poder Judiciário, ou ao órgão mi-
nisterial, em caso de localização, ou não, de tais pessoas, v.g., testemunhas, vítimas,
indiciados, crianças e adolescentes.

10. RELATÓRIO DE SITUAÇÃO DE VIATURAS

É extremamente útil, e salutar, que o Investigador de Polícia elabore um rela-


tório mensal sobre a situação da viatura, ou viaturas, (modelo 3) quando sob sua
responsabilidade, descrevendo sua condição mecânica, bem como eventuais danos
e baixas.

11. PARTE DE SERVIÇO

A parte de serviço é uma comunicação feita pelo Investigador de Polícia à au-


toridade policial, referente a diligências ou investigações por ele realizadas, em face
de infração penal.
Apresentada em forma de relatório, nela relata o resultado de suas investiga-
ções, realizadas a partir de fatos, ou denúncias, que propiciaram o desencadeamento
das diligências investigatórias.
Trata-se, na verdade, de levantamento de elementos indiciários, cujo resultado
deve ser levado ao conhecimento do superior hierárquico, o Delegado de Polícia,
na forma de parte de serviço, com esclarecimentos face diligências realizadas e até
mesmo independe de expedição de prévia ordem.

12. ESCLARECIMENTO DE BOAD

Algumas vezes, a autoridade policial, mediante simples despacho no rosto do


boletim de ocorrência de autoria desconhecida, faz com que este sirva de ordem de
serviço, determinando ao Investigador de Polícia diligências julgadas necessárias,
mormente no tocante ao esclarecimento da autoria e das circunstâncias da infração
penal.
Ainda que se trate de mero despacho ordinatório da autoridade policial sobre
o boletim, o investigador incumbido de realizar diligências deverá elaborar relatório
(modelo 6) sobre as investigações preliminares, dentro do prazo estabelecido por seu
superior hierárquico.
A medida é altamente recomendável, em face do princípio da imediatidade do
Processo Penal, e da obrigação do Estado em dar pronta satisfação à vítima da in-
fração penal, que, raras vezes, é informada sobre o curso das investigações, deixando
transparecer que a Polícia Judiciária não cumpre, satisfatoriamente, suas atribuições
constitucionais.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

13. INFORME CRIMINAL E INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR

A Polícia Civil do Estado de São Paulo, por sugestão de integrantes das DISE,
criou uma peça denominada informe criminal e investigação preliminar, na qual,
inicialmente, o Investigador de Polícia Chefe elabora um informe dando ciência à
sua autoridade policial do teor de um fato denunciado.
Esta, então, se for o caso, despacha favoravelmente, determinando a investiga-
ção dos fatos noticiados, e, com base no informe criminal, a chefia de investigadores
elabora um documento conhecido como informação preliminar, que é distribuído
a uma das equipes. Através de investigação, campana e monitoramento do local,
chega-se à procedência, ou improcedência, da notícia, reduzindo-se tudo a relatório
de investigação, documento de grande importância para a instauração de Inquérito
Policial, pedidos de prisão temporária ou preventiva, e, até, autuações em flagrante,
em casos de crimes permanentes.

14. ELABORAÇÃO DOS DOCUMENTOS PELO INVESTIGADOR DE


POLÍCIA

Os Investigadores de Polícia, como de hábito, trabalham, quase que exclusiva-


mente, fora das unidades policiais, sendo certo que suas atribuições, dadas às suas pe-
culiaridades, deles demandam muito pouco no tocante à grafia da língua portuguesa.
Nesse contexto, desse policial civil exige-se, pelo menos, termos claros, preci-
sos e concisos, a fim de que, através de seus documentos, a autoridade policial e o
Escrivão de Polícia de seu cargo norteiem os passos de uma boa persecução penal.
Aliás, a redação clara, ainda que não acadêmica, oferece ao Delegado de Polícia
um alicerce consistente para a instauração de Inquéritos Policiais, formulação de
representações, no sentido de serem concedidos mandados de busca e apreensão,
prisões temporárias, prisões preventivas, e, não raras vezes, criar-se condições para
a condenação criminal do investigado.

15. CONCLUSÃO

A árdua, e incansável, tarefa da investigação policial é tendência intuitiva do


ser humano no sentido de ingressar nos mistérios, muitos deles insondáveis, da alma
criminosa. A busca do secreto, do inatingível, do enigma a ser desvendado, é uma
característica daqueles que escolheram a Polícia como profissão.
A propósito, segundo Aurélio Buarque de Holanda, investigar, do latim inves-
tigare significa: a) seguir os vestígios de; b) fazer diligência para achar; pesquisar,
indagar; investigar as causas de um fato; c) examinar com atenção, esquadrinhar.2
Doutrinariamente, investigação policial é uma atividade do Estado destinada
ao esclarecimento do fato delituoso e à descoberta de sua autoria.

2 BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio


de Janeiro: Nova Fronteira, 2ª ed., revista e aumentada, 1986, p. 965.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

16. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 1

ORDEM DE SERVIÇO Nº

PROCEDIMENTO ______BO/TC

DATA___/ ___/____ LOCAL______ HORA________

VÍTIMA(S) E SEU(S) DOMICÍLIO(S):______________________

INDICIADO(S) E SEU(S) DOMICÍLIO(S): __________________

TESTEMUNHA(S) DO FATO E SEU(S) DOMICÍLIO(S):

1º__________________

2º__________________

3º__________________

4º__________________

AUTORIDADE REQUISITANTE:_____________________
ESCRIVÃO(Ã) DO FEITO:______________

NATUREZA DA INVESTIGAÇÃO

Deverá a equipe de investigação, a que esta for distribuída, diligenciar visando


(especificar a diligência)______________________________ .
Cumpra-se no prazo de _____________dias.

Delegado(a) de Polícia - Autoridade Policial titular da unidade/equipe

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 2

RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

NATUREZA DA INVESTIGAÇÃO: _____________________


DATA:____/_______/____
REQUISITANTE:__________________
REFERÊNCIA:______________(OS/BO/IP/NOTÍCIA ANÔNIMA)
VIATURA___________TALÃO Nº_______
POLICIAIS:_________________________

Senhor(a) Delegado(a)

Informo a V.Sª. que esta equipe de investigação, cumprindo requisição cons-


tante na OS respectiva, diligenciou na ____________(logradouro) visando (noticiar
a determinação da diligência)__________________________.(Descrever o resultado
da diligência)

Era o que tínhamos a informar.

Nome e cargo do policial

Nome e cargo do policial

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 3

RELATÓRIO DE SITUAÇÃO DE VIATURA POLICIAL

DATA:___/___/___HORA:____LOCAL:_________

VEÍCULO/BEM INSPECIONADO:____________

Sr. Delegado(a):

Informamos a V.Sª. que realizamos inspeção na (viatura/bem) e nada de anor-


mal foi constatado ou constatamos as seguintes anormalidades:

1)________________________________________

2)________________________________________

Era o que tínhamos a informar.

Nome e cargo do policial

Nome e cargo do policial

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 4

RELATÓRIO DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO

Ref.

Procedimento nº___ /____

DIPO

Senhor(a) Delegado(a):

Informamos a V.Sª. que, em cumprimento ao mandado de busca e apreen-


são expedido no dia___ /______ do corrente ano, diligenciamos na rua_________
nº______,nesta cidade. No referido local fomos atendidos pela moradora do imóvel
que se identificou com o RG___________,____(nome) e que, ao exibirmos o referido
mandado, nos franqueou a entrada em sua residência. No local, vistoriamos todos
os móveis e objetos ali situados e não encontramos nenhum objeto produto de ilíci-
to, nem substâncias entorpecentes, ou armas de fogo.
Dirigimo-nos ao outro imóvel situado no mesmo endereço, residência
de____________ irmão de_________________, e procedemos à busca no interior
da residência, nada tendo sido localizado de ilícito, nem armas ou substância en-
torpecente.
É o que cumpre-nos informar, no momento.
___________________ ,___ de__________ de_________

Investigador de Polícia Investigador de Polícia

Investigador de Polícia

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 5

RELATÓRIO – Nº ______________

Inquérito Policial nº____/___

Natureza: ____Crime contra o patrimônio (Ex. furto de residência)

I -HISTÓRICO: O Investigador de Polícia deverá descrever brevemente a condu-


ta delituosa, baseando-se nos elementos colhidos nos autos, bem
como acrescentando demais elementos obtidos durante as diligên-
cias.

II- DILIGÊNCIAS EFETUADAS: Deverá o policial civil encarregado das inves-


tigações, esclarecer de maneira pormenorizada
a maneira pela qual chegou ao esclarecimento
da autoria, descrevendo em detalhes o trabalho
que permitiu tal conclusão.

III- AUTOR(es):__________ qualificação completa

IV- MODO DE EXECUÇÃO: O Investigador de Polícia descreverá a maneira


empregada pelo agente criminoso no cometimento do delito, bem como apontar
informes que possua sobre os antecedentes do investigado, tais como: comparsas
em outras ações delituosas; antecedentes policiais, apontando quais as infrações
anteriormente cometidas; locais que o investigado costuma praticar os crimes;
comportamento do agente (semelhante à vida pregressa).

V-RECEPTADOR: _________________qualificação

VI- VÍTIMA: __________ qualificação

VII- TESTEMUNHA(s):__________ qualificação

VIII- OBJETO(s) APREENDIDO(s)______________

IX- OUTROS DADOS RELEVANTES:

Local e data ____________

Assinatura ______________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 6

BOLETIM DE OCORRÊNCIA –
DELITOS DE AUTORIA DESCONHECIDA

INFORMAÇÃO - Nº____ /_______

Boletim de ocorrência nº__________ /___

Natureza:_______________________________
I - Histórico
II - Qualificação da vítima
III - Qualificação das testemunhas
IV - Reconhecimento fotográfico
V - Diligências realizadas
VI - Outros dados relevantes

Local e data___________________________

Assinatura ____________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 7

NOTIFICAÇÕES

INFORMAÇÃO - Nº_____ /_______

Inquérito Policial nº___/_________

Natureza da diligência: ______________Notificar testemunha

I- Diligências realizadas: O Investigador de Polícia encarregado de dar cumprimento


à ordem dada pela Autoridade Policial não deve limitar-
se a informar que não localizou a testemunha, tendo por
obrigação descrever quais diligências realizou para obter
tal resultado. Ainda que não tenha cumprido de maneira
eficaz a diligência, por circunstâncias alheias à sua vontade,
deverá lançar, por exemplo, a qualificação das pessoas
com as quais obteve as informações que impossibilitaram
o fiel cumprimento da requisição emitida pela Autoridade
Policial.

II- Testemunha: ________________qualificação completa

III- Testemunha: ________________qualificação completa

Local e data ____________________

Assinatura _____________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 8

ORDEM DE SERVIÇO PARA LOCALIZAÇÃO DE EVENTUAIS


TESTEMUNHAS DO DELITO

Inquérito Policial nº_______ /______

Ordem de serviço nº__________ /______

Natureza da diligência: ____ localizar eventuais testemunhas da conduta delituosa

I- Diligências realizadas: Obviamente, na hipótese de localizar as testemunhas do


crime investigado, o policial civil incumbido das diligências deverá lançar uma
completa qualificação da pessoa localizada. Se entretanto, não obtiver êxito em tal
intento, tem por obrigação, descrever quais as diligências realizadas e apontar as
pessoas (devidamente qualificadas) com as quais obteve os informes que impossibi-
litaram o cumprimento da ordem de serviço.

II- Testemunha: ___________qualificação

III- Testemunha: ___________qualificação

Local e data _________________

Assinatura __________________

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Capítulo IX
COMUNICAÇÕES OFICIAIS

Sumário: 1. Considerações preliminares. 2. Formas de redação oficial. 2.1 A linguagem


dos atos e comunicações oficiais. 2.2 Formalidade e padronização. 2.3 Concisão e clare-
za. 2.4 Legislação disciplinadora. 3. Meios usuais de comunicações oficiais. 4. Comuni-
cações oficiais obrigatórias. 5. Conclusão. 6. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Por comunicação oficial entende-se todas as formas regulamentares utilizadas


para transmitir ou divulgar um fato de domínio da repartição pública. Assim, na
medida em que se reporta a procedimentos da Administração Pública, a comunica-
ção oficial, a exemplo desta, deve obedecer aos princípios constitucionais de legali-
dade, impessoalidade, moralidade e eficiência.
Sob a égide da legalidade, tudo aquilo que é oficial obriga-se a estar de confor-
midade com a lei. A impessoalidade decorre do entendimento de que, por tratar da
coisa pública, a comunicação oficial não deve ficar adstrita a capricho ou à vontade
de pessoas. A moralidade se explica por si só, pois não há como deixar de existir no
curso da comunicação oficial. Eficiência é a meta desejada pela Administração e
também se afirma através da comunicação oficial.
As comunicações oficiais, no aspecto formal e prático, obedecem a certas nor-
mas disciplinadas em regulamentos específicos, baixados pela Administração Pú-
blica. Nelas, o tratamento entre pessoas e órgãos, públicos ou não, se faz de forma
protocolar, observados os princípios hierárquicos e as formalidades regulamentares.
Do Manual de Redação da Presidência da República extrai-se que na redação
das comunicações oficiais deve-se, antes de tudo, seguir os preceitos da redação ofi-
cial, caracterizada pela impessoalidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza,
concisão, formalidade e uniformidade. 1
Ressalte-se que esses atributos decorrem da Carta Magna, conforme o dispos-
to no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
Assim, a publicidade e a impessoalidade, princípios fundamentais de toda ad-
ministração pública, devem, também, nortear a elaboração dos atos e comunicações
oficiais.

1 Manual de Redação da Presidência da República, edição de 2002, revista e atualizada (www.


presidenciadarepublica.gov.org.br)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Encerrando estas considerações, cabe mais uma vez enfatizar que, qualquer
que seja a natureza da comunicação oficial, a transparência e a inteligibilidade são
requisitos indispensáveis, eis que intrínsecos ao próprio Estado de Direito.

2. FORMAS DE REDAÇÃO OFICIAL

Sintetizando, pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder
Público redige atos normativos e comunicações.
Conforme acentuado linhas antes, no curso de uma redação oficial, além da
impessoalidade, o uso do padrão culto de expressão, a clareza, a concisão, a forma-
lidade e a uniformidade conduzem a uma interpretação única, num mesmo nível de
linguagem.
A uniformidade da comunicação pressupõe que existe um único comunicador,
o Serviço Público, podendo o destinatário ser outro órgão da Administração ou o
conjunto dos cidadãos ou de instituições, que passam a ser tratados de forma ho-
mogênea.
Isso não quer dizer que se deva admitir ou praticar uma forma específica de
linguagem administrativa, que coloquialmente seria o burocratês, invariavelmente
caracterizado por expressões e clichês do jargão burocrático, além de evitáveis for-
mas arcaicas de construção de frases.
Destaque-se que a redação oficial não se prende a eventual aridez do idioma
pátrio, podendo e devendo com ele evoluir. Impõe-se, contudo, a observância de
certos parâmetros que a diferencia da literatura, do texto jornalístico ou da corres-
pondência pessoal.
A linguagem estritamente técnica deve se restringir aos casos absolutamente
indispensáveis. Rebuscamentos acadêmicos e vocabulários de determinadas áreas
são de difícil compreensão por parte de quem não esteja com eles familiarizado,
devendo por essa razão ser evitados.

2.1 A linguagem dos atos e comunicações oficiais

O emprego de determinado nível de linguagem nos atos e expedientes oficiais


decorre, de um lado, do próprio caráter público dessas comunicações; de outro, de
sua finalidade. Esses atos, por serem de caráter normativo ou por estabelecerem
regras para a conduta de órgãos públicos e seus servidores ou até mesmo dos cida-
dãos, somente atingirão seus objetivos se forem redigidos em linguagem adequada.
Do mesmo modo, qualquer outro expediente oficial deve informar com clareza
e objetividade. Se assim não for, ou seja, se o texto contiver expressões de circulação
restrita, como gírias, regionalismos vocabulares e jargões técnicos, sua compreensão
será dificultada.
Os textos oficiais, em face do caráter impessoal de que devem se revestir e pela
finalidade que têm de informar com o máximo de clareza e concisão, requerem uti-
lização do padrão culto da língua.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Pode-se entender por padrão culto aquele em que se observam as regras da


gramática formal e se emprega vocabulário comum ao conjunto dos usuários do
idioma. A obrigatoriedade do seu uso na linguagem das comunicações oficiais de-
corre do fato de estar ele acima das diferenças léxicas, morfológicas ou sintáticas
regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias lingüísticas, permitindo,
por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos os cidadãos.
Cabe lembrar que o padrão culto nada tem contra a simplicidade do texto,
desde que não se confunda com a pobreza de expressão. Assim como seu uso não
implica emprego de linguagem rebuscada, nem de contorcionismos sintáticos e figu-
ra de linguagem própria da língua literária. Já o jargão burocrático deve ser evitado,
pois terá sempre sua compreensão limitada.
Como já salientado, a linguagem técnica deve ser restrita às situações em que
seu emprego seja indispensável, evitando-se, tanto quanto possível, seu uso indiscri-
minado.

2.2 Formalidade e padronização

As comunicações oficiais devem ser formais, ou seja, obedecer a certas regras,


sendo a de tratamento uma forma delas. Isso não quer dizer somente quanto ao
emprego deste ou daquele pronome de tratamento para uma autoridade de deter-
minado nível. Implica, mais que isso, na polidez e na civilidade do enfoque dado ao
assunto de que cuida a comunicação.
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária uniformidade
das comunicações. Ora, se a administração estadual é una, natural que as comuni-
cações produzidas sigam um mesmo padrão.
O estabelecimento desse padrão é um dos objetivos deste Capítulo que exige aten-
ção a todas as características da redação oficial e também da apresentação dos textos.

2.3 Concisão e clareza

Antes de ser uma característica, a concisão deve representar uma qualidade do


texto oficial.
Considera-se conciso o texto que consegue transmitir um máximo de informa-
ção com um mínimo de palavras.
Para se obter uma redação concisa impõe-se, além do conhecimento do assunto
sobre o qual se escreve, um tempo necessário para revisar o texto depois de escrito.
Nessa releitura, percebe-se, muitas vezes, eventuais erros, redundâncias e repe-
tições desnecessárias.
A concisão, esforço a ser desenvolvido por quem escreve, atende, basicamente,
ao princípio da economia linguística, seguindo a fórmula de empregar o mínimo de
palavras para informar o máximo sobre o assunto.
Nos textos mais complexos deve ser observada certa hierarquia de ideias: as
fundamentais e as secundárias. As primeiras dão o sentido, a ideia-base; as últimas,
os detalhes, as explicações.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A clareza, porém, é a qualidade básica, fundamental, de um texto oficial. De-


fine-se como claro o texto que possibilita a pronta compreensão pelo leitor. Clareza,
contudo, não se atinge por si só. Ela depende de outras características próprias da
redação oficial, como a impessoalidade, o uso do padrão culto da linguagem, a for-
malidade, a padronização e a concisão.

2.4 Legislação disciplinadora

A Resolução SSP-198, de 7/12/83, disciplina a tramitação e registro dos pro-


cessos e documentos no âmbito da Pasta. No artigo 69 e seguintes, quando trata
da redação, forma e zelo, especifica que “será adotado estilo usual da Administração
Pública, em linguagem concisa, clara e restrita ao assunto em estudo”.
Aludido diploma diz ser obrigatório o uso da ortografia oficial, o que equivale
dizer que nas comunicações oficiais deve-se usar termos escorreitos, genuínos, sem
mescla de estrangeirismos. O tratamento entre pessoas deve ser protocolar e respeitoso.
Disso tudo deflui que a comunicação oficial deve primar pela concisão e a
clareza, sempre restrita ao assunto enfocado, ou seja, deve-se exercitar o poder de
síntese, de modo a transmitir o máximo de informação com o mínimo de palavras.
É de se recomendar, pela sua praticidade, a utilização, na medida do possível,
do consagrado roteiro sequencial o quê, quem, como, onde, quando e por quê, em
qualquer redação de caráter policial. Ele se ajusta e se justifica, perfeitamente, ao
sentido de perquirição de que se ocupa o trabalho de investigação.
Ainda no campo da redação oficial, existem normas estabelecendo as auto-
ridades que têm direito ao tratamento de excelência e quem pode ser distinguido
como senhoria. Em regra, fazem jus ao tratamento de excelência as mais altas au-
toridades dos três poderes, nas esferas federal, estadual ou municipal, inclusive os
oficiais generais das Forças Armadas e as autoridades diplomáticas e eclesiásticas.
No âmbito da Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, além
do titular da Pasta, e do Secretário Adjunto, somente o Delegado Geral de Polícia e
o Comandante Geral da Polícia Militar têm essa prerrogativa. As demais autorida-
des devem ser distinguidas como senhoria.
O Decreto nº 11.074, de 5/1/78, que aprovou as Normas do Cerimonial Público
do Estado de São Paulo, em sua Seção VIII, do Artigo 86 ao 95, trata da correspon-
dência oficial e se inicia com a inusitada disposição: “A correspondência oficial não
admite abreviaturas.” Os textos dos artigos seguintes cuidam do tratamento a ser
dado na correspondência oficial dirigida a autoridades nacionais e estrangeiras, e a
particulares de qualquer nacionalidade. O decreto contém um anexo com o fecho
desses ofícios e cartas.
A Resolução SSP-239, de 12/7/05, que estabelece o Regimento Interno do Con-
selho da Polícia Civil, diz em seu art. 3º, que àquele Conselho cabe o tratamento de
Egrégio. Seus membros têm o título de Conselheiro e o tratamento a eles devido será
formal.
Entende-se por tratamento formal aquele que obedece à forma, que se atém às
formalidades estabelecidas, portanto convencional.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3. MEIOS USUAIS DE COMUNICAÇÃO OFICIAL

Os meios usuais de comunicação oficial utilizados pela Polícia Civil são o ofí-
cio, para os casos revestidos de maior formalidade, o memorando, para as situações
de menor complexidade e importância, o edital, ou o comunicado, para dar publici-
dade a assunto de interesse do público em geral e a circular, ou o aviso, para noticiar
assunto de interesse do público interno, preferencialmente.
Outras formas existem, como a portaria, o despacho interlocutório e a ordem
de serviço, que mais se aplicam na elaboração de procedimentos de Polícia Judiciá-
ria, objeto de outros capítulos deste Manual.
O Manual de Telecomunicações e de Elaboração de Mensagens Eletrônicas,
criado pela Portaria DGP-28, de 14/6/2010, foi elaborado em face da necessidade de
se atualizar o serviço de transmissão e recepção de mensagens pela rede Intranet da
Polícia Civil. Esse Manual adapta as mensagens a modelos padronizados, abrangen-
do maior número de informações de interesse policial, sendo seu uso obrigatório em
todas as unidades policiais civis.
Segundo o compêndio Curso Especial de Língua Portuguesa2, elaborado pela
Academia de Polícia Civil de São Paulo, sob a responsabilidade da professora Anna
Ciampone de Souza:
Ofício é uma comunicação oficial expedida por autoridades para tratamento
de assuntos oficiais entre órgãos da administração pública ou dirigidos aos particu-
lares. São partes do ofício o cabeçalho, o nome do documento, número, ano, sigla do
órgão expedidor, local e data, destinatário, assunto, vocativo, fecho, assinatura e por
último o endereçamento, com as iniciais do redator e do digitador.
Memorando é modalidade de comunicação entre unidades administrativas de
um mesmo órgão, que podem estar hierarquicamente em nível igual ou diferente.
Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação eminentemente interna.
Carta é meio de comunicação de que se valem as empresas ou as pessoas para
o relacionamento comercial, sendo comum o seu recebimento pelas repartições pú-
blicas.
Requerimento é instrumento por meio do qual se solicita algo de direito a uma
autoridade, baseando-se em dispositivos legais. Também é chamado de petição. Em
segundo grau é recurso. Se coletivo, é abaixo-assinado.
Relatório é documento em que se registram observações, pesquisas, investiga-
ções, fatos, variando de acordo com o assunto e a finalidade.
Ordem de serviço, em matéria de polícia judiciária, é determinação de chefia
com orientação para a execução de serviço ou para o desempenho de encargo.
Atestado é documento expedido para fins de direito por órgão público, assina-
do por funcionário que autentica a veracidade do fato.
Certidão é documento expedido por quem tem fé pública, como o escrivão de
polícia e o tabelião, com a finalidade de comprovar algo requerido, reproduzindo

2 Curso Especial de Língua Portuguesa – Ciampone de Souza, Anna, 1940 – (coord.). Ed. Aca-
demia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra – São Paulo – 1º semestre de 2005

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

rigorosamente os assentamentos em livros, processos ou quaisquer outros documen-


tos. Há ainda a certidão utilizada na movimentação do inquérito policial como ato
privativo do escrivão de polícia.
Declaração é informação fornecida a respeito de alguém ou de algo, esclarecen-
do ou simplesmente declarando fato, deliberação ou decisão, podendo ser publicada
pela imprensa.
Ata é o registro de uma reunião, sessão, assembleia ordinária ou extraordiná-
ria. O registro sem formalidades chama-se relatório de reunião.

4. COMUNICAÇÕES OFICIAIS OBRIGATÓRIAS

Muitas são as comunicações oficiais obrigatórias, não existindo ordem de im-


portância entre elas. Todavia, merece destaque a mais antiga de todas, prescrita no
Regulamento Policial do Estado, Decreto nº 4.405-A, de 17/4/28, que em seu artigo
87, preceitua: “Constitui dever comum a todos os delegados, comunicar ao chefe de
Polícia e às demais autoridades da comarca, o dia em que tomar posse e assumir o
exercício do cargo”.
Entende-se, assim, que esta comunicação, nos dias de hoje, deva ser feita ao
superior hierárquico imediato, ao Juiz de Direito da comarca, ao Promotor de Justi-
ça, ao Prefeito Municipal, ao presidente da Câmara Municipal e ao comandante da
unidade policial militar da área.
A comunicação referida neste tópico, por uma questão de protocolo, poderá
ser feita, ainda, a outras personalidades, públicas ou não, com atividade no municí-
pio ou comarca.
Outra comunicação oficial que merece destaque é a decorrente do mandamen-
to constitucional de que trata o artigo 5º, LXII, da Constituição Federal, no sen­-
tido de que “a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comuni-
cados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada”.
Os principais diplomas legais que ordenam sejam feitas comunicações sobre
ocorrências policiais aos mais diversos órgãos, são:
- Lei Federal nº 8.069, de 13/7/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente, que
em seu artigo 107 torna obrigatória a comunicação, incontinenti, à autoridade judi-
ciária competente, e à família do apreendido, a apreensão de qualquer adolescente e
o local onde se encontra recolhido.
- Lei Complementar nº 207, de 5/1/79, que no seu artigo 84, diz que a autori-
dade policial que, por qualquer meio, tiver conhecimento de irregularidade prati-
cada por policial civil, comunicará imediatamente o fato ao órgão corregedor, sem
prejuízo das medidas urgentes que o caso exigir. Nessa linha, seu parágrafo único
manda que ao instaurar procedimento administrativo ou de polícia judiciária contra
policial civil, a autoridade que o presidir comunique o fato ao Delegado de Polícia
Diretor da Corregedoria.
- Lei Estadual nº 10.498, de 5/1/00, que torna obrigatória a notificação pelas
autoridades ao Conselho Tutelar, ou na falta deste ao Juízo da Infância e da Juven-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

tude ou ao Ministério Público, a ocorrência de maus tratos contra crianças, adoles-


centes e deficientes.
- Resolução SSP-22, de 11/4/90, que manda que as ocorrências com reféns,
sejam retransmitidas, imediatamente, ao Grupo Especial de Resgate - GER e ao
COPOM, pelo CEPOL e as recebidas pelo COPOM deverão ser retransmitidas ao
GATE e ao CEPOL.
- Resolução SSP-8 de 17/l/91, que determina que os acidentes com aeronaves
sejam comunicados ao Serviço Regional de Aviação Civil - SERAC.
- Resolução SSP-41, de 30/3/98, que ao estabelecer normas para a ação conjun-
ta na repressão aos crimes contra a saúde pública, manda que uma vez constatado o
fato, seja feita comunicação à autoridade sanitária, com vistas ao necessário apoio
técnico do órgão da vigilância sanitária, da Secretaria de Estado da Saúde.
- Portaria DGP-1, de 8/1/85, que dispõe sobre a remessa ao IIRGD-Instituto
de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt, dos mandados, contramandados e al-
varás de soltura, bem como as comunicações sobre prisões em flagrante, cumpri-
mento de mandados e contramandados, alvarás de soltura, fugas e recapturas de
presos.
- Portaria DGP-3, de 4/2/85, que ao dispor sobre a elaboração e o encami-
nhamento de planilhas de identificação e individuais dactiloscópicas, manda que os
Delegados de Polícia, presidentes de feitos criminais, fiscalizem a elaboração desses
documentos, certificando-se do seu correto preenchimento e perfeita tomada das
impressões papilares.
- Portaria DGP-29, de 16/9/86, que manda que as ocorrências de acidente de
trabalho sejam objeto de imediata comunicação à Secretaria de Estado de Relações
do Trabalho e Emprego.
- Portaria DGP-9, de 30/3/87, que determina que as ocorrências de subtração
e localização de veículos automotores sejam comunicadas aos órgãos competentes,
via CEPOL, para as devidas providências, inclusive para a ampla divulgação ao
público em geral.
- Portaria DGP-36, de 20/11/87, que dando nova redação às regras contidas
nas Instruções Gerais do Boletim Individual, referido no artigo 809 do Código de
Processo Penal, determina, em síntese, que a primeira parte do Boletim ficará arqui-
vada na Delegacia; a segunda deverá ser remetida à SEADE - Fundação Sistema
Estadual de Análise de Dados, e a terceira acompanhará o processo.
- Portaria DGP-27, de 8/12/93, que ordena que a prisão de cidadão estrangeiro,
por qualquer motivo, seja imediatamente comunicada ao CEPOL, para posterior
retransmissão à representação consular respectiva.
- Portaria DGP-27, de 23/8/96, que determina que a expedição e a devolução
de cartas precatórias sejam feitas diretamente à autoridade deprecada ou deprecan-
te, através do correio, com aviso de recebimento -AR, exceção feita ao município
da Capital, onde esses documentos são encaminhados aos Centros de Execução de
Cartas Precatórias do DECAP.
- Portaria DGP-30, de 17/9/96, que manda que todas as ocorrências sobre de-
saparecimento e localização de pessoas desaparecidas, encontro de cadáveres de pes-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

soas desconhecidas, sejam, de imediato, comunicadas à 2a. Delegacia da Divisão de


Proteção à Pessoa do DHPP.
- Portaria DGP-1, de 6/1/97, determina que o falecimento de policial civil,
quando em serviço ou em razão da função, seja comunicado, imediatamente ao
CEPOL, pela autoridade que registrar a ocorrência.
- Portaria DGP-16, de 19/6/97, que manda que as fugas de presos sejam comu-
nicadas, de imediato ao CEPOL, por qualquer servidor, com posterior remessa de
relatório à respectiva chefia departamental.
- Portaria DGP-24, de 19/9/97, que ao criar o Programa de Prevenção e Redu-
ção de Furto, Roubo e Desvio de Cargas - PROCARGA, determina que as ocorrên-
cias do gênero, antes da formalização do registro, sejam comunicadas ao CEPOL,
que, constatados indícios de que o fato esteja relacionado ao narcotráfico, dará ciên-
cia ao Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado do DENARC.
- Portaria DGP-34, de 30/12/97, que manda que a apreensão de arma de fogo
seja comunicada imediatamente à Divisão de Produtos Controlados do DIRD.
- Portaria DGP-11, de 10/7/98, que ordena que sejam comunicadas ao CE-
POL, de imediato, as ocorrências de manifesta gravidade, envolvendo autoridades e
funcionários públicos, especialmente policiais.
- Portaria DGP-14, que de 6/10/98, diz que a subtração ou o extravio de cédu-
las de identidade, deve ser comunicado ao CEPOL, para retransmissão ao IIRGD.
- Portaria DGP-13, de 21/10/99, dispõe que qualquer informação relevante
para o esclarecimento de resgate de preso deverá ser transmitida diretamente ao
GIRP (Grupo de Intervenção em Cenários de Resgate de Presos), no DEPATRI.
- Portaria DGP-1, de 4/2/00, que disciplina a recepção e o registro de ocorrên-
cias policiais e denúncias por meio eletrônico, instituindo o Boletim Eletrônico de
Ocorrência - BEO, determina que as denúncias e opiniões referentes ao desempenho
da atividade policial, serão imediatamente distribuídas aos órgãos policiais, segun-
do a sua natureza, para apreciação e eventuais providências.

5. CONCLUSÃO

Em síntese, a comunicação oficial é fator de transcendental importância no


contexto da Polícia Judiciária. De sua correta formulação e eficaz emprego depende
o sucesso do trabalho policial.

6. MODELOS

Seguem os modelos alusivos a este Capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Modelo de Ofício

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone..............
E-mail............

Ofício nº ...../....... ...................., ...... de ................ de ........

Meritíssimo Juiz de Direito:

Atendendo à requisição de Vossa Excelência, expedida nos autos do Processo


nº 000.2010.00000-0, que trata do crime de homicídio simples, em que figura como
vítima ............... e como acusado .................., apresento a esse Juízo o Investigador
de Polícia ..................., R.G. nº 00.000.000, pertencente ao efetivo desta Delegacia
de Polícia, para ser ouvido na audiência agendada para as ..... horas do dia .....
de.......... de ........, nesse E. Tribunal do Júri.

Valho-me da oportunidade para renovar a Vossa Excelência os meus protestos


de alta estima e distinta consideração.

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

A Sua Excelência
O Senhor Doutor .........................
MM. Juiz de Direito Presidente do E. Tribunal do júri da Comarca de ...........
.................... – SP
AB/cde.

311

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Modelo de Memorando

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone..............
E-mail............

Memorando nº ......../..... ........................ de .................. de ..........


AB/cde.

Ao Senhor Chefe da Seção de Comunicações


Assunto: Instalação de computadores

Nos termos do Plano Geral de Informatização, solicito a Vossa Senhoria ve-


rificar a possibilidade de que sejam instalados três novos microcomputadores nesta
Unidade Policial.
Sem maiores detalhes técnicos, acrescento, apenas, que o ideal seria que os
equipamentos fossem dotados de disco rígido e de monitor padrão AGA. Quanto
a programas, haveria necessidade de dois tipos: um processador de texto e outro
gerenciador de banco de dados.
O treinamento de pessoal para a operação dos equipamentos poderia ficar a
cargo da Academia de Polícia de São Paulo.
Devo mencionar, por fim, que a informatização dos trabalhos desta Delegacia
ensejará racional distribuição de tarefas entre os servidores e, sobretudo, uma me-
lhoria na qualidade dos serviços prestados.

Atenciosamente.

[nome do signatário]
[cargo do signatário]

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Modelo de carta

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone...........
E-mail............

AB/cde. ..............,de ............de..............

À ...........................
Rua ...................., nº.........
CEP 00000-000 - cidade - SP

Ref. Processador de textos

Prezados Senhores:

Já recebemos o Unitexto 4.2. Sugerimos também a aquisição do gerenciador


de aplicações, bem como escotilhas para completar o software de que necessitam.
Verifiquem as características nos folhetos anexos.
O preço promocional do Unitexto 4.2, mais a escotilha, é o equivalente a US$
000,00 (...........................) dólares comerciais.
Ficaremos honrados com sua visita ao nosso stand na 21ª Fenasoft, no Pavi-
lhão de Exposições do Anhembi, de .... a ..... de........ p.f.

Atenciosamente.

[nome do signatário]
[cargo do signatário]

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Modelo de requerimento

Senhor Subprefeito Municipal do ............... (bairro) – São


Paulo – SP

............................., R.G. nº ................., proprietário do imóvel situado na Rua


......................, nº....., bairro......., CEP 00000-000, contribuinte do IPTU nº .............
requer a Vossa Excelência, de acordo com as normas municipais, autorização para
rebaixamento de guia para entrada de veículo.

Nestes termos,

pede deferimento.

...................., ... de ................ de.....

.........................................................

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Modelo de ordem de serviço

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone...........
E-mail............

O R D E M DE S E R V I Ç O Nº ../.....

O Delegado de Polícia Titular do ..... Distrito Policial, no uso de suas atribuições


legais, determina ao policial civil, a quem for esta O.S. distribuída, que diligencie
a fim de localizar, no prazo de ...... dias, a pessoa de......................, cujo provável
endereço consta dos autos do inquérito policial nº ../...., para prestar depoimento,
conforme notificação nº ...../......, anexa à presente.

........................,..... de ............ de .....

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Modelo de relatório de investigação

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone...........
E-mail............

RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

A Sua Senhoria
O(A) Senhor(a) Doutor(a)...................
Delegado(a) de Polícia do...................

Referência: Ordem de Serviço nº ......./20....


Inquérito Policial nº ...../20.....
Natureza da Ocorrência:....................
Vítima:..........................
Indiciado:......................

Em cumprimento à Ordem de Serviço em epígrafe, informo a Vossa Senho-


ria que procedi às investigações determinadas para a localização da testemunha
............................
Estive no endereço constante na O.S, onde, por informação do Sr. ...................,
residente na Rua ............., nº ........, bairro.........., nesta cidade, constatei que a tes-
temunha...................., mudou-se com a família, há aproximadamente um mês, para
outro Estado.
Afirmou ainda que a referida testemunha saiu devendo aluguéis atrasados e,
por esse motivo, não comunicou seu novo endereço.
Encontra-se, portanto, em lugar incerto e não sabido.

Era o que me cumpria informar.

_____________________________________
Investigador(a) de Polícia

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Modelo de atestado de pobreza

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone...........
E-mail............

ATESTADO DE POBREZA

Atesto, para fins judiciais, que ................ R.G. nº........... (qualificação comple-
ta) é pessoa pobre, na acepção jurídica do termo, não podendo prover as despesas
do processo, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.

......................., ........ de................ de ..........

_____________________________________
Delegado(a) de Polícia

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Modelo de certidão

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................
Rua.....nº.....bairro.....cidade.....-SP, Cep........Telefone...........
E-mail............

CERTIDÃO

....(Nome)..............................., Escrivão(ã) de Polícia


de ......classe, lotado(a) na Delegacia Geral de Polícia,
classificado(a) no ...................., com sede de exercício
na ........................., no uso das atribuições legais que o
cargo lhe confere,

CERTIFICA, em cumprimento à determinação da


autoridade policial, exarada em requerimento da parte interessada, que no livro
nº ...., destinado ao registro de inquéritos policiais desta Unidade Policial, consta
às fls. ...... o formal registro do Inquérito Policial nº......., relativo à apuração, em
andamento, da responsabilidade criminal pela autoria do fato ocorrido no dia ......,
às ...... horas, na rua ..........., nesta cidade, figurando como vítima.......... .

O referido é verdade e dá fé.

_____________________________________
Nome
Escrivão(ã) de Polícia

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Modelo de declaração

DECLARAÇÃO

DECLARO, na qualidade de integrante da Comissão do Concurso Público pa


ra............................. e a pedido do(a) interessado(a), que o Sr.(a)............................,
RG. n°......... compareceu à prova preambular do referido certame, nesta data, no
horário das ........às....... horas.

São Paulo, ..... de.................... de ..........

_____________________________________
Nome do(a) Professor

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Modelo de ata

Ata de Reunião Ordinária

Aos .......dias do mês de ........ do ano de ............, nesta cidade de São Paulo,
capital, na sede da ...................., sito à ............., nº......., bairro ..............., às ......
horas, reuniu-se, ordinariamente, a Diretoria Executiva do(a)......................., sob a
presidência de....................., para deliberar sobre a seguinte ordem do dia: ...........
.......................................................................... Depois de analisados, discutidos e
votados os itens da pauta, resultaram as seguintes deliberações: ................... . Às
......horas, a reunião foi declarada encerrada pelo Sr.(a) Presidente. Eu............., que
a secretariei, lavrei esta ata, que segue assinada pelos que dela participaram.

Presidente(a) .......................................
Participante.......................................
Participante.........................................
Secretário(a).........................................

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Capítulo X
PROTOCOLADOS CONEXOS
À POLÍCIA JUDICIÁRIA

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Origem e registro dos Protocolados; 3. Tra-


mitação no âmbito da Pasta; 4. Classificação dos documentos sigilosos; 5. Conclusão;
6. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Conceitualmente, protocolar significa registrar em protocolo; dar um código


de identificação.
Protocolados conexos à Polícia Judiciária são expedientes administrativos de
alguma forma identificados com um procedimento de natureza processual.
Não se confundem, portanto, com os que demandam providências meramente
administrativas. Sua origem decorre de situações diversas em que, preliminarmente
ou durante seu prosseguimento, denotam correlação com um fato que mereça apu-
ração na esfera policial judiciária.
Na maioria das vezes esses protocolados têm início com a notícia de um fato
relevante que exija providências por parte dos órgãos administrativos, policiais ou
não. No curso da sua tramitação é que, muitas vezes, emerge a necessidade de ins-
truir o procedimento conexo de polícia judiciária.
Seja como for, esses expedientes exigem tratamento diferenciado, de modo a
poder atender aos objetivos da Administração e da Justiça. Este capítulo reúne con-
siderações e normas sobre a matéria.

2. ORIGEM E REGISTRO DOS PROTOCOLADOS

Sempre que um procedimento administrativo demandar prosseguimento no


próprio âmbito em que é gerado, ou em outros escalões, surge a necessidade de se
dar início a um protocolado. A partir daí atribui-se a esse expediente uma identifica-
ção numérica e uma classificação de acordo com a natureza da matéria de que trata.
É o seu registro formal de origem, que passará a guiar sua tramitação de maneira
racional, rápida e segura.

3. TRAMITAÇÃO NO ÂMBITO DA PASTA

A Resolução SSP-198, de 7/12/83, ao disciplinar a movimentação de processos


e documentos no âmbito da Secretaria da Segurança Pública, estabelece que a tra-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

mitação de protocolados deve se processar com a máxima celeridade, tanto que seu
artigo 64 diz que o prazo máximo de retenção em cada dependência é de 5 (cinco)
dias úteis, para informações e providências e de 8 (oito) dias úteis para apresenta-
ção de pareceres ou soluções que dependam de estudos mais detidos. Diz, ainda, o
citado artigo, que nos processos que tramitam pelo interior do Estado, esses prazos
serão dilatados para 10 (dez) e 15 (quinze) dias úteis, respectivamente.
Aludida norma estabelece outros detalhes quanto ao cumprimento de prazos,
asseverando que só será admissível infringência, em caso de absoluta necessidade,
motivada por circunstâncias especiais e convenientemente justificadas em tempo
hábil, no próprio protocolado. Nesse aspecto, veda o uso de fórmulas vagas como
retido por acúmulo de serviço ou retido em aguardo.
Já a Resolução SSP-106, de 01/07/10, que estabeleceu normas complementa-
res ao disposto naquele ordenamento anterior, dispõe que “a entrada e a saída de
quaisquer processos, documentos ou expedientes similares no Gabinete do Secretá-
rio, far-se-á por intermédio da Seção de Comunicações Administrativas (SCA) da
Divisão de Administração (DAGS)”.
Diz, ainda, que obedecido o atual sistema de protocolo de papéis, cada expe-
diente, depois de registrado e autuado receberá um número de processo “GS”, salvo
quando se refira a processo anterior do mesmo interessado e versando o mesmo
assunto, hipótese em que, após protocolado, será simplesmente encaminhado para
juntada.
Dispõe que a tramitação interna de processos entre as diversas unidades da
Administração Superior da Secretaria e da Sede, ou provenientes de outros órgãos
da Pasta, realizar-se-á diretamente, mediante despacho dos dirigentes ou respon-
sáveis por essas unidades, enviando-se à Seção de Comunicações Administrativas
(SCA), após a assinatura da unidade recebedora, uma das vias da “Relação Nu-
mérica de Expedição de Autos” (lista de remessa), para fins de anotação e controle.
Em outros tópicos, dispõe sobre a tramitação de expedientes à Consultoria Ju-
rídica da Pasta, tais como as notificações em mandados de segurança, informações
em ações e decisões judiciais que determinem o cumprimento de obrigações de fazer
e não fazer.
Estabelece ser de exclusiva competência do Secretário de Estado, do Secretário
de Estado Adjunto, do Chefe de Gabinete e da Assessoria Especial do GS, o enca-
minhamento à Consultoria Jurídica de expedientes que digam respeito a “consulta
sobre a interpretação, eficácia ou validade de atos administrativos de responsabilidade
do Titular da Pasta; consulta sobre matéria de ordem constitucional, normas de ser-
viço, procedimentos processuais, interpretação de textos legais e outras, cuja natureza
possa implicar em alteração de diretrizes existentes no âmbito da Pasta”.
Diz, finalmente, que “são de competência exclusiva do Titular da Pasta, os
despachos que encaminhem expedientes ao Governador do Estado, ao Vice-Gover-
nador do Estado, aos Secretários de Estado, ao Presidente da Assembleia Legis-
lativa, ao presidente do Tribunal de Justiça, ao Procurador Geral de Justiça, ao
Presidente do Tribunal de Contas, ao Procurador Geral do Estado e a outras altas
autoridades civis e militares”.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4. CLASSIFICAÇÃO DOS DOCUMENTOS SIGILOSOS

No âmbito da Administração Pública em geral, e no da Polícia Civil, em par-


ticular, alguns documentos assumem caráter sigiloso e passam a ter tramitação di-
ferenciada. São aqueles que tratam de assuntos que, por sua natureza, devam ser de
conhecimento restrito, cabendo ao destinatário a preservação do sigilo.
O Decreto Federal nº 79.099, de 6/1/77, que aprovou o Regulamento para a
Salvaguarda dos Assuntos Sigilosos, estabelece que a correspondência sigilosa se
classifica nos seguintes graus: I - Ultra-secreta; II - Secreta; III - Confidencial; IV -
Reservada.
A especificação dos assuntos classificados nos diferentes graus de sigilo e as
normas para o seu trato estão estabelecidas no decreto acima referido.

5. CONCLUSÃO

Os protocolados conexos à Polícia Judiciária, como o próprio nome sugere, e


aqui se procurou evidenciar, demandam providências de interesse policial-judiciário.
Destinam-se, quase sempre, a instruir procedimentos do gênero, ainda que a eles
não possam ser anexados na sua forma original.
Ao serem restituídos à repartição de origem, devem estar convenientemente
instruídos, se possível com despachos conclusivos. A celeridade na sua tramitação é
fator que se impõe.

6. MODELOS

Este capítulo não comporta modelos.

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Capítulo XI
RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA
DE LOCAL DE CRIME

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. A origem do neologismo; 3. Conteúdo; 4.


Recognição visuográfica enquanto peça ilimitada; 5. Origem da recognição visuográfica;
6. Fatores objetivos; 7. Natureza procedimental; 8. O universo de pesquisa; 9. O local da
recognição visuográfica; 10. O croqui; 11. A fotografia; 12. Observações sobre a arma
utilizada; 13. Observações sobre o cadáver; 14. Observações sobre as testemunhas; 15. A
recognição visuográfica e as ciências auxiliares; 16. Conclusão; 17. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A História, ensina Marco Antonio Desgualdo, tem demonstrado que a impro-


visação, o empirismo e o emprego de métodos pouco ortodoxos, e até cruéis, para
a obtenção da verdade, fazem parte da natureza humana na sua metafísica, a tal
ponto que semelhante busca reflete-se na sistematização dos meios para alcançá-la,
sendo uma característica do próprio homem em suas múltiplas atividades.
O progresso, considerados o tempo e o espaço, ensina o renomado estudioso,
adaptou e consolidou novas técnicas de Investigação Policial, valendo-se esta da
Criminalística, da Criminologia e da Medicina Legal. Reconhece, ainda, que a pes-
quisa de campo, intuitiva, disponível aos seus destinatários, ficou despida de outro
embasamento, senão o do costumeiro relato unilateral, quase sempre precário, po-
bre de valores e adstrito, tão somente, à ótica laborativa do investigador.
Dentro desse quadro, surge, então, a premente necessidade da atualização de
métodos e pesquisas no campo da Investigação Policial, principalmente diante do
avanço da criminalidade e do crime organizado, merecendo especial atenção os es-
tudos investigatórios sobre os crimes contra a vida.
Diante desse novo contexto, é através da Cibernética que se abrem novas opor-
tunidades, principalmente mediante o aproveitamento dos “fractais”, ou frações, na
tarefa da reconstituição do todo, aplicando-se tal princípio à Investigação Policial.
Partindo-se, então, da premissa de que, nessa reconstrução, os recursos da In-
formática devem ser objeto de alcance e emprego científico, na busca da verdade, e
que a cognição de indícios, locais de crime e outras circunstâncias, podem ser carrea­
das para os autos como um fator de correta interpretação da materialidade e da au-
toria, surgiu a ideia de que a vivência da autoridade policial, enquanto pesquisador
da criminalidade, pode ser resumida graficamente em uma única peça documental,
que traduz o acompanhamento de circunstâncias e de fatos, desde a motivação do

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

crime até o seu desfecho. Esse método, em si mesmo, é conhecido, doutrinariamente,


como recognição visuográfica de local de crime.

2. A ORIGEM DO NEOLOGISMO

A recognição visuográfica, enquanto instituto de Investigação Policial, é um


neologismo composto pelas palavras recognição, do latim recognitio, que significa
reconhecimento, mais o adjetivo visual, do latim visualis, que diz respeito à vista,
que, enquanto sentido, assimila melhor as noções de conhecimento do que a au-
dição. Esse neologismo, para sua afirmação final, vale-se, também, do substantivo
grafia, que, em última análise, é a técnica do uso da linguagem como comunicação
escrita, ou através de ideogramas.
Na realidade, a recognição visuográfica é uma anamnese do crime, descrita,
esquematizada e ilustrada fotograficamente, como preleciona Desgualdo, revestin-
do-se de contornos de verdadeira semente da futura investigação, levando-se em
consideração o seu dinamismo e praticidade, depois de concretamente formalizada.

3. CONTEÚDO

O exame da peça permite ao observador atento verificar que ela traz, em seu
contexto, o local, a hora, o dia do fato e da semana, outros adminículos como condi-
ções climáticas e meteorológicas do momento do crime, além de subsídios coletados
pelo pesquisador de campo junto a testemunhas e pessoas que tenham tido ciência
do acontecimento investigado. Traz, ainda, com a minuciosa observação sobre o ca-
dáver, sua identidade, possíveis hábitos, características comportamentais sustenta-
das pela Criminologia, além de croqui descritivo, nos termos das previsões impostas
pelo inciso I do art. 6º do CPP.

4. RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA ENQUANTO PEÇA ILIMITADA

Preleciona Marco Antonio Desgualdo, em seu trabalho “Recognição Visuo-


gráfica de Local de Crime”1, que a peça não tem as limitações de um laudo, por-
quanto o pesquisador carreia para ele muito de sua experiência e militância profis-
sional e que pode ser complementada, na coincidência de detalhes, pela confissão
do criminoso.
Uma vez elaborada, a recognição visuográfica exige, para sua correta inter­
pretação, a utilização de raciocínios indutivos, dedutivos, abdutivos e analógicos,
que servirão como indicadores do caminho investigativo a ser trilhado, com abso-
luta certeza, pela autoridade policial e seus agentes encarregados do esclarecimento
do caso.

1 DESGUALDO, Marco Antonio. Recognição Visuográfica de Local de Crime. São Paulo: Re-
vista Brasileira de Ciências Criminais do IBCCrim, nº 13, janeiro/março de 1996, pp. 242/252.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5. ORIGEM DA RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA

A recognição visuográfica, esclarece Desgualdo, nasceu da observação, pois


que, se de um lado, contém o fato criminoso no tempo e no espaço, por outro re-
sume as circunstâncias exteriores que poderiam influenciar a conduta humana no
resultado.
Em princípio, a recognição visuográfica busca apoio junto à Estatística e à lei
das probabilidades, delineando, ademais, o perfil psicológico do criminoso dentro
do contexto do princípio da verdade real.
Partindo-se, então, da premissa de que o fato criminoso decorre da volição do
entendimento, consumado na sua definição legal, passa este a ser revisto a partir
do ponto convergente da conduta e ação até seus antecedentes próximos e remotos,
inclusive as causas que o motivaram.

6. FATORES OBJETIVOS

A recognição visuográfica do local do crime, no magistério do citado autor,


apresenta várias facetas, ou fatores objetivos.
A primeira delas, em casos de homicídio, é o corpo estirado no local do crime, e
seus dados periféricos, que devem ser reproduzidos, com prioridade, na recognição.
Outro fator objetivo, segundo o estudioso, são as condições meteorológicas,
de tempo, de pressão atmosférica, bem como levantamentos sobre o dia da semana,
hora, local, e se possível, a fase lunar, tudo acompanhado de croqui e fotografação.
Constituem, outrossim, fatores objetivos de relevante importância na ela­
boração da recognição visuográfica o calibre da arma utilizada pelo criminoso, o
número de tiros desfechados, a região atingida, detalhes que irão revelar o maior
ou menor grau de intensidade emocional que conduziu o sujeito ativo à prática da
infração penal.
Nesse momento, o pesquisador ou investigador de campo, recomenda Des-
gualdo, irá buscar e, igualmente, descrever, de forma concisa e resumida, junto a fa-
miliares, amigos, e até mesmo desafetos do pesquisado, seus hábitos, vícios, virtudes
e tudo mais que possa servir para que seja delineado seu perfil psicológico, enquanto
vítima, de tal sorte que a investigação possa concluir sobre as probabilidades do fato
ter acontecido desta ou daquela forma.

7. NATUREZA PROCEDIMENTAL

A recognição visuográfica é um procedimento investigatório de Polícia Judiciá­


ria de natureza dinâmica, uma vez que acrescenta detalhes e traz certezas sobre o
criminoso, seu perfil psicológico, bem como sobre o local do crime.
Mostra, identicamente, o provável trajeto de chegada e de fuga do autor, se
encontrava-se a pé ou motorizado, fornecendo, também, dados sobre sua perícia, ou
imperícia, no manuseio de armas e, até, se agiu por mero impulso, ou por distorção
emotiva, como anotado no citado trabalho.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

8. O UNIVERSO DE PESQUISA

Marco Antonio Desgualdo, em seu artigo pioneiro, reconhece que todo crime
de autoria desconhecida é um desafio, sendo a presunção inicial de que foi perpe-
trado por ser humano, fora dos padrões normais, cuja conduta típica reveste-se de
culpabilidade.
A partir desse ponto crucial, existe todo um universo a ser pesquisado, através
de metodologia pouco usual, ou até mais avançada, inclusive mediante a utilização
de processos de perquirição modelados pela Heurística e pela Semiótica.
Numa análise, ainda que superficial, poderíamos dizer que a recognição visuo-
gráfica cifra-se em torno de uma reprodução gráfica, ilustrada, do local do crime,
mediante utilização de croqui, fotografia, exame da arma, exame externo do cadáver
e oitiva sumária das testemunhas podendo aplicar-se, inclusive, aos locais de crimes
de trânsito. (modelo 3)

9. O LOCAL DA RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA

O local objeto da recognição visuográfica pode ser interno ou externo.


O local é interno quando circunscrito ao interior de qualquer imóvel, e externo
quando situado a céu aberto.
O local, interno ou externo, deve ser reproduzido com extrema fidelidade, exi-
gindo do observador relativo vocabulário, bem como percepção subjetiva de valores.
No local interno, o pesquisador de campo deve descrever, de forma enfática,
as condições de higiene, ordem, colocação de objetos e móveis que possam traduzir
a índole de seu morador. Identicamente, devem ser anotados cinzeiros, marcas de
cigarros, fósforos, isqueiros, uso de óculos, dentaduras ou qualquer outro indício
que permita ao pesquisador concluir sobre os hábitos do usuário, seus defeitos ou
fraquezas. Sumamente relevante, anote-se, é o registro da existência, no local, de
animais de estimação, como cães, gatos, pássaros e peixes, importantes para a re-
construção da personalidade da vítima. Sua geladeira e despensa poderão fornecer
uma ideia de seus hábitos alimentares. De idêntica forma, os livros encontrados
no local fornecerão uma noção adequada de seus impulsos ou condicionamentos
intelectuais.
O local externo, igualmente, é de importância marcante, pois nele, certamente,
serão encontrados acidentes geográficos, como rios, represas, córregos, lagos ou la-
goas, ou, ainda, ruas pavimentadas.
Na elaboração da recognição visuográfica, enquanto peça investigatória, de-
vem ser mencionadas a existência de guias ou sarjetas, bem como o tipo de constru-
ção dos prédios existentes no local, v.g., casas térreas, com jardins, ou alinhadas ao
nível da via pública, bem como a existência, ou não, de outros pavimentos.
O perfil dos moradores, frise-se, merece especial atenção da autoridade policial
e de seus agentes, seja sob o aspecto de origem, ou sob seu aspecto externo.
Nessa mesma linha de raciocínio, convém verificar a existência, nas imediações
da área construída, de bares, bilhares, casas de massagens, hotéis ou qualquer outro

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

estabelecimento aberto ao público, cujo campo de visão permita a visualização do


local do crime de vários ângulos.
Nesse contexto, anote-se, há 180 (cento e oitenta) graus de percepção, estando
a vítima encostada à parede, e de 360 (trezentos e sessenta) graus estando no centro
da via, situações que permitem o traçado de linhas pelo pesquisador de campo,
objetivando a verificação da possibilidade da existência de eventuais testemunhas,
adverte Desgualdo.

10. O CROQUI

O croqui, recurso indissociável da recognição visuográfica, é o próprio levanta-


mento do local de crime, realizado através de desenho sem escala.
No seu contexto, deve o policial necessariamente representar as portas, as ja-
nelas, os móveis, os objetos etc. De igual forma, se o compartimento é quadrado,
circular, retangular etc, devem ser anotados todos os detalhes que interessarem ao
fato sob investigação.

11. A FOTOGRAFIA

A autoridade policial, ou seus agentes, por ocasião da elaboração da recog-


nição visuográfica, devem optar pela fotografia geral destinada a reproduzir todo
o local com o maior número possível de vestígios. Em se tratando de local muito
extenso, deve a autoridade orientar o fotógrafo policial no sentido de dividi-lo em
setores, fotografando-os pormenorizadamente.
Na realidade, orienta Desgualdo, a fotografia do local do crime retrata de for-
ma permanente o palco dos acontecimentos, permitindo consultas em caso de dúvi-
das, além de possibilitar a comparação com outros casos anteriormente ocorridos.

12. OBSERVAÇÕES SOBRE A ARMA UTILIZADA

Procurando não violar a cena do crime objeto dos exames criminais, o policial
à frente do caso deverá anotar o tipo ou marca da arma utilizada, se deixada no
local, bem como os cartuchos ali abandonados.
Identicamente, através de auto de arrecadação, deve colher eventuais cartu-
chos ejetados de armas automáticas.
Nessa ocasião, a observação do alinhamento das marcas de sangue, alongadas,
estreladas etc, permitirão ao investigador ter uma ideia se a vítima deslocou-se do
local inicial do crime e, também, se o criminoso encontra-se ferido.

13. OBSERVAÇÕES SOBRE O CADÁVER

As primeiras observações realizadas pelo investigador de campo são de extre-


ma relevância, principalmente se o cadáver encontrar-se em processo de decompo-
sição, ou se no local existem odores ou cheiros diversificados, adverte Desgualdo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

As manchas hipostáticas, a hora presumida da morte, as condições climáticas


de tempo, principalmente de temperatura e de umidade relativa do ar, influem no
processo de decomposição, dando ao investigador condições de estabelecer a hora
aproximada da ocorrência.
Igualmente, o exame do corpo possibilita que se tire ilações sobre a forma ini-
cial de tratamento do autor para com a vítima e qual a intensidade da reação desta
em relação ao sujeito ativo da ação criminosa.
Existindo vítimas supérstites, deverá o pesquisador procurar saber destas o
nome da vítima, o que estas acharam de mais estranho na evolução dos aconte-
cimentos e quais as observações mais importantes em relação ao autor. Identica-
mente, procurará o policial civil verificar qual a impressão pessoal que o criminoso
deixou no espírito da testemunha.
Nesse sentido, deverá estabelecer se se trata de um maníaco, se agiu por vin-
gança, e em que momento houve subtração de objetos, procurando, paralelamente,
estabelecer vestígios facilmente identificáveis e suas particularidades. Todo crimi-
noso, observe-se, procura não deixar, no local do crime, vestígios dígito-papilares
ou identificatórios do reconhecimento de seu rosto, mediante utilização de luvas e
máscaras, respectivamente, aspectos que denotam método.

14. OBSERVAÇÕES SOBRE AS TESTEMUNHAS

As testemunhas, alerta Desgualdo, devem ser observadas pelas suas condições


de cultura, formação escolar, profissão etc.
De suma importância, também, a anotação de tiques nervosos, mimetismos,
impostação de voz e formas de trajar ou de vestir, detalhes que servirão de suporte
para as informações prestadas e que serão, a seguir, investigadas.
É preciso, também, que a autoridade policial e seus agentes empenhados na
elaboração da recognição visuográfica tenham em mente que, num primeiro impul-
so, toda pessoa inquirida sobre ter presenciado, ou não, os fatos, busca esquivar-se
de futuros comparecimentos a unidades policiais ou judiciárias.
Nesse momento, o pesquisador deve ser habilidoso, educado, evitando intimi-
dações prejudiciais à investigação, sendo de se lembrar que preciosos depoimentos
têm sido perdidos por absoluta falta de habilidade no trato com as pessoas.
Assim, boêmios, prostitutas, vigilantes, enfermeiros e, até, policiais devem ser
tratados com especial cautela, fazendo constar, na recognição, se a testemunha pro-
curou espontaneamente a Polícia, se foi indicada ou se arrolada incidentalmente.
Não deve o policial civil deixar de registrar, nesse documento, a facilidade de
expressão da testemunha, sua sinceridade e credibilidade, visto que esta fase, no
magistério de Desgualdo, é versátil em termos investigatórios.

15. A RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA E AS CIÊNCIAS AUXILIARES

Alerta o precursor desse método de investigação que o quadro criminoso,


apresentado aos olhos de quem investiga, pode mostrar-se mascarado, sendo certo

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

que muitos policiais foram enganados por coisas que pareciam claras e inegáveis,
mas que, na realidade, eram bem diferentes do que pareciam.
Diante desse contexto, o policial deverá demonstrar arejamento científico, sob
pena de não avançar na nobre arte da investigação criminal, valendo-se das ciências
auxiliares, de observação e de aplicação.
São ciências de observação a Biologia, a Tipologia, a Sociologia e a Psiquia-
tria, enquanto que são de aplicação a Medicina Legal, a Polícia Técnica ou Científi-
ca e a Ciência Penitenciária.
Adverte, ainda, de que muitas vezes não bastam apenas conhecimentos cien-
tíficos para o desvendamento de um caso, devendo o investigador, também, apelar
para seus sentidos, deixando aflorar seu raciocínio lógico, já que, através deles che-
ga-se à intuição sensível, que implica em “ver com os olhos da percepção”.
Assim, todos os cinco sentidos deverão encontrar-se em contato com o meio
ambiente, assimilando, no local, todos os vestígios que se apresentarem, conclui
Marco Antonio Desgualdo.

16. CONCLUSÃO

A recognição visuográfica de local de crime, como se pode concluir, é a recons-


tituição do todo por um fragmento ou parte conhecida.
Trata-se de um novo instituto de investigação criminal que se encontra em fase
de aprimoramento, sendo um passo a mais no estabelecimento da verdade real pela
Polícia Judiciária.
Como esclarece o criador deste meio de prova, se, de um lado, as testemu-
nhas revelam o lado humano e emotivo do caso investigado, se, de outro, os laudos
médico-legais e periciais apresentam especificidades frias, a recognição visuográfica
aproxima e une aqueles que presenciaram o crime à atuação do criminoso na prática
delitiva, reconstituindo, nos parâmetros do provável, os passos, conduta, hábitos,
gostos, vícios e expectativas da própria vítima.
O instituto da recognição visuográfica tende a evoluir com a técnica e com os
recurso da Informática, e, numa fase mais avançada, melhor se delineará no campo
da Holografia.
Como conclui o próprio Desgualdo, o certo é que se está enveredando por um
caminho de amplas perspectivas no qual ciências humanas, como o Direito e a Psi-
cologia se confundem com as exatas, estatística e probabilidades, para o resultado
final, que é contribuir para a apuração do fato e o estabelecimento da autoria”2.

17. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

2 DESGUALDO, op. cit., p. 246.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Modelo 1

RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA DE LOCAL DE CRIME


HOMICÍDIO

DATA DO FATO: ____/____/____ HF HS HC HS

DO LOCAL:

a) - INTERNO

TIPO ( ) residência térrea ( ) sobrado ( ) apartamento


( ) edícula ( ) cômodo isolado ( ) comércio
( ) outro ___________________________________________

QUALIDADE DA RESIDÊNCIA E CONDIÇÕES DE HIGIENE DO LOCAL:


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

ORDEM DE COLOCAÇÃO DE OBJETOS E MÓVEIS:


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

ANOTAR OS PRINCIPAIS OBJETOS EXISTENTES NA CENA DO CRIME:


(cinzeiros, cigarros, bebidas, copos, manchas, óculos, dentaduras etc ou indícios que
possam levar ao esclarecimento de hábitos, defeitos e fraquezas da(s) vítima(s) ).
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

EXISTÊNCIA DE ANIMAIS: (cães, gatos, peixes, aves etc)


_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________

GELADEIRA E DESPENSA: (hábitos alimentares)


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

EXISTÊNCIA DE BIBLIOTECA, LIVROS, REVISTAS: (ou outros objetos que


possam auxiliar na formação da noção de gostos e hábitos intelectuais)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

BANHEIROS E OUTRAS DEPENDÊNCIAS QUE POSSAM CONTER


ELEMENTOS DA PERSONALIDADE DA(S) VÍTIMA(S)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

b) - EXTERNO

ACIDENTES GEOGRÁFICOS: (rios, lagos, montes, represas, córregos etc.)


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

ESTRADA ( ) pavimentada ( ) terra ( ) outro piso


LOGRADOURO ( ) rua ( ) avenida
GUIA E SARJETA ( ) sim ( ) não
ESGOTO ( ) céu aberto ( ) canalizado
ASPECTO GERAL DO LOCAL (tipo de construções existentes nas redondezas)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

PERFIL DOS MORADORES DO LOCAL E VIZINHANÇA: _______________


______________________________________________________________________

ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS NAS PROXIMIDADES DE ONDE


SE VERIA A CENA DO CRIME: (bares, bilhares, casas de massagens, lupanares
etc.)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
CROQUI DO LOCAL DO CRIME: (desenho sem escala; representar cômodos,
portas, janelas, móveis, entradas e saídas, forma dos compartimentos (redondo,
retangular, quadrado etc.), anotando todos os detalhes que interessem ao fato).
DA ARMA UTILIZADA: MARCA _________________ MODELO __________
CALIBRE_________________________. Nº CANOS________________________
DIMENSÕES _________________________________________________________
ACABAMENTO __________________ CAPAC.TIROS ______________________
Nº DE CARTUCHOS DEFLAGRADOS _________________________________
Nº DE CARTUCHOS ÍNTEGROS RECOLHIDOS NO LOCAL______________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROVAVELMENTE PERTENCENTE A __________________________________


TIPO: ( ) SEMI-AUTOMÁTICA ( ) AUTOMÁTICA
PAÍS DE ORIGEM ____________________________________________________
POSSUI DOCUMENTOS? ( ) sim ( ) não
ARMA BRANCA (especificar): __________________________________________
INSTRUMENTO (especificar):___________________________________________

DO(S) CADÁVER(ES) _________________________________________________


POSIÇÃO DO ENCONTRO ( ) decúbito dorsal ( ) decúbito ventral
( ) deitado em ________________________________________________________
( ) em suspensão ( ) parcial (descrever)_________________________________
( ) total. Com utilização de _____________________________________________
OUTRA POSIÇÃO (especificar) __________________________________________
SITUAÇÃO DO CADÁVER: ( ) morte recente
( ) decomposição ( ) recente ( ) avançado estado

CHEIROS E ODORES NO LOCAL: _____________________________________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

MANCHAS HIPOSTÁTICAS: __________________________________________


HORA PRESUMIDA DA MORTE: ______________________________________

CONDIÇÕES CLIMÁTICAS: ( ) úmido ( ) seco


( ) frio ( ) calor ( ) chuva ( ) temperatura amena

SEGUNDO INFORMES COLHIDOS NO LOCAL, HOUVE ABORDAGEM


OU QUALQUER DIÁLOGO ENTRE AUTOR E VÍTIMA?
( ) não ( ) sim - qual?
______________________________________________________________________

HOUVE REAÇÃO DA VÍTIMA? ( ) não ( ) sim - qual?


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

HÁ VÍTIMAS SOBREVIVENTES? (DESTINO) ___________________________


______________________________________________________________________

FORAM OUVIDAS INFORMALMENTE? ( ) não ( ) sim: informações colhidas:


(ATENÇÃO - Ao ouvir vítima sobrevivente, procurar extrair informações
sobre como agiu o autor, se conhece sua identidade, o que havia de estranho no
seu comportamento, qual sua impressão sobre a personalidade do autor, estava
ele embriagado ou sóbrio, agiu em legítima defesa ou em reação a fato anterior
(vingança), por quê? etc) _________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

HOUVE SUBTRAÇÃO DE BENS DA VÍTIMA? (descrever) ______________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

É POSSÍVEL DETERMINAR-SE EM QUE MOMENTO OCORREU A


SUBTRAÇÃO?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

VESTÍGIOS GERAIS DE INTERESSE ENCONTRADOS (descrever); ________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

HOUVE PREOCUPAÇÃO EM CAMUFLAR VESTÍGIOS? COMO? _________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

SEGUNDO O APURADO INICIALMENTE, TRACE EM LINHAS GERAIS A


PERSONALIDADE E HÁBITOS DA(S) VÍTIMA(S): (considere comentários de
amigos, colegas de trabalho, colegas de bar, vizinhos e familiares, procurando esta­
belecer especialmente sua índole, como filho, pai, marido, patrão, subordinado etc)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

DAS TESTEMUNHAS ABORDADAS E ARROLADAS: (tecer comentários sobre


o apurado, especialmente que tragam interesse à investigação. NÃO DESCARTE
QUALQUER INFORMAÇÃO, POR MAIS ABSURDA QUE PAREÇA NO
PRIMEIRO MOMENTO)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

IMPRESSÃO PESSOAL DO INVESTIGADOR/PESQUISADOR


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

DETERMINAÇÕES DA AUTORIDADE POLICIAL QUE CHEFIOU A


EQUIPE:
EQUIPE - DELPOL __________________
- INVESTIPOL ______________

JUNTE-SE AO:( )BO Nº __________ ( ) OS Nº_____________ IP Nº__________

VÍTIMA(S) ___________________________________________________________

AUTOR(ES) __________________________________________________________
______________________________________________________________________

FICHA(S) Nº(S)

_________________, ______ de _________________ de _____

________________________________ ________________________________
Encarregado do preenchimento Autoridade Policial
Nome ou carimbo Nome ou carimbo

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 2

RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA DE LOCAL DE CRIME


FURTO/ROUBO

DATA DO FATO: ____/____/____ HF HS HC HS

DO LOCAL:

a) - INTERNO
TIPO ( ) residência térrea ( ) sobrado ( ) apartamento
( ) edícula ( ) cômodo isolado ( ) comércio
( ) outro _______________________________________________________

ENDEREÇO COMPLETO: (constar logradouro, nº, bairro, andar, apto, telefone etc.)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
QUALIDADE DA CONSTRUÇÃO E CONDIÇÕES GERAIS DO LOCAL NO
TOCANTE À SEGURANÇA: ___________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) EXTERNO
DESCRIÇÃO DO LOCAL: ______________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
ENDEREÇO COMPLETO E MEIOS DE ACESSO: _________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HÁ SINAIS INDICATIVOS DE UTILIZAÇÃO DE VEÍCULO(S)? ( ) não ( ) sim
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PESSOAS COM ACESSO AUTORIZADO AO LOCAL: ____________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ESPÓLIO ENCONTRADO (considerar os móveis e objetos encontrados e a


situação atual, no tocante à organização): __________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
DESCREVER EVENTUAIS SISTEMAS ESPECIAIS DE SEGURANÇA
(portas, janelas, fechaduras, cadeados, alarmes, dispositivos especiais de defesa, v.g.,
eletrificação, obstáculos, ofendículos etc. ___________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
EXISTÊNCIA DE ANIMAIS DE GUARDA: ______________________________
______________________________________________________________________
SISTEMA ESPECIAL PARA GUARDA DE VALORES: ____________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PELO ESPÓLIO, COMO PARECE TER OCORRIDO O ACESSO AO LOCAL?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HOUVE ESCALADA, E OU ROMPIMENTO DE OBSTÁCULOS? ( ) não ( ) sim
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
VESTÍGIOS ENCONTRADOS: _________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PARECE TER HAVIDO UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS PARA TANTO?
FORAM ENCONTRADOS NO LOCAL? _________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

338

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

HÁ VÍTIMA(S) DE VIOLÊNCIA REAL? ( ) não ( ) sim ___________________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HOUVE UTILIZAÇÃO DE ARMA? ( ) não ( ) sim (descrever): _____________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HOUVE TESTEMUNHAS VISUAIS? ( ) não ( ) sim (constar nomes e endereços
completos) ____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
TESTEMUNHAS REFERIDAS (nomes e endereços completos) ______________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PERFIL DOS MORADORES DO LOCAL E REDONDEZAS _______________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
CROQUI DO LOCAL

HOUVE PREOCUPAÇÃO EM CAMUFLAR VESTÍGIOS? ( ) não ( ) sim ___


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
ROL DE BENS SUBTRAÍDOS, SEGUNDO INFORMAÇÕES NO LOCAL:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_______________________________________________ (use o verso, se necessário)
COM BASE NO MODUS OPERANDI HÁ CASOS SEMELHANTES
REGISTRADOS? _____________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

339

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

IMPRESSÃO PESSOAL DO INVESTIGADOR/EQUIPE SOBRE O CASO EM


TELA:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
DETERMINAÇÕES DA AUTORIDADE POLICIAL: ______________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
EQUIPE: DELPOL: _______________
INVESTIPOL: _______________
_______________
_______________
_______________
_______________
JUNTE-SE AO
( ) BO Nº _________ ( ) OS Nº _______ ( ) IP Nº ________ - ____ DP

AUTOR(ES)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
FICHA(S)/FOTOS _____________________________________________________
______________________________________________________________________
HOUVE APREENSÃO E ENTREGA DE BENS? ( ) não ( ) sim. JUNTAR
CÓPIA DOS AUTOS RESPECTIVOS

OBSERVAÇÕES FINAIS________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

_________________, ______ de _________________ de _____

________________________________ ________________________________
Encarregado do preenchimento Autoridade Policial
Nome ou carimbo Nome ou carimbo

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Modelo 3

RECOGNIÇÃO VISUOGRÁFICA DE LOCAL DE ACIDENTE


DE TRÂNSITO

DATA DO FATO: ____/____/____ HF HS HC HS

DO LOCAL:

a) INTERNO

ENDEREÇO COMPLETO: (constar logradouro, nº, bairro, andar, apto, telefone etc.)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
QUALIDADE DA VIA PÚBLICA E CONDIÇÕES GERAIS DO LOCAL NO
TOCANTE À SEGURANÇA: ___________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) EXTERNO
DESCRIÇÃO DO LOCAL: _____________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
ENDEREÇO COMPLETO E MEIOS DE ACESSO: ________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HÁ SINAIS INDICATIVOS DE ENVOLVIMENTO DE VEÍCULO(S)?
( ) não ( ) sim
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
PESSOAS COM ACESSO AO LOCAL: ___________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

CENÁRIO ENCONTRADO (considerar os veículos encontrados e a sua situação


atual): ________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
DESCREVER EVENTUAIS SISTEMAS ESPECIAIS DE SEGURANÇA DOS
VEÍCULOS: __________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
EXISTÊNCIA DE ANIMAIS NA PISTA: _________________________________
______________________________________________________________________
PELA POSIÇÃO DOS VEÍCULOS COMO PARECE TER OCORRIDO O
ACIDENTE? __________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HOUVE DANOS ? ( ) não ( ) sim
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
VESTÍGIOS ENCONTRADOS: _________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HÁ VÍTIMA(S) ? ( ) não ( ) sim _____________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HOUVE TESTEMUNHAS VISUAIS? ( ) não ( ) sim (constar nomes e endereços
completos) ____________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
TESTEMUNHAS REFERIDAS (nomes e endereços completos) _______________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

PERFIL DOS MORADORES DO LOCAL E REDONDEZAS ______________


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
CROQUI DO LOCAL

HOUVE PREOCUPAÇÃO EM PREJUDICAR O LOCAL? ( ) não ( ) sim ____


______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
ROL DE BENS ARRECADADOS NO LOCAL: ___________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_______________________________________________ (use o verso, se necessário)
IMPRESSÃO PESSOAL DO INVESTIGADOR/EQUIPE SOBRE O CASO EM
TELA:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
DETERMINAÇÕES DA AUTORIDADE POLICIAL: _____________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
EQUIPE: DELPOL: _______________
INVESTIPOL: _______________
_______________
_______________
_______________
_______________
JUNTE-SE AO
( ) BO Nº _________ ( ) OS Nº _______ ( ) IP Nº ________ - ____ DP

AUTOR(ES) __________________________________________________________
______________________________________________________________________
FOTO(S) _____________________________________________________________
______________________________________________________________________

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

HOUVE APREENSÃO E ENTREGA DE BENS? ( ) não ( ) sim. JUNTAR


CÓPIA DOS AUTOS RESPECTIVOS

OBSERVAÇÕES FINAIS________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________

_________________, ______ de _________________ de _____

________________________________ ________________________________
Encarregado do preenchimento Autoridade Policial
Nome ou carimbo Nome ou carimbo

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CAPÍTULO XII
PROCEDIMENTOS POLICIAIS

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Crimes contra o patrimônio; 3. Furto e rou-


bo de veículos; 4. Localização de veículo; 4. Receptação de veículo; 6. Furto, roubo e
desvio de carga; 7. Crimes contra a vida; 8. Lesões corporais; 9. Armas de fogo; 9.1.
Procedimento; 9.2 Indicações para consulta; 9.3 Porte de arma de fogo: Policial militar;
9.3.1 Delito praticado por policial militar com arma da corporação; 9.3.2 Delito prati-
cado por policial militar com arma particular; 9.3.3 Infração praticada por policial mili-
tar fora da função; 10. Drogas; 10.1 Rotina policial; 10.2 Apreensão; 10.3 Indicações de
consulta; 11. Auto de Resistência; 11.1 Considerações preliminares; 11.2 Procedimentos
policiais; 11.3 Rotina policial; 12 Indicações de consulta; 13. Conclusão.

1. Considerações preliminares

O objetivo principal deste capítulo é o de orientar o policial responsável pelo


registro da ocorrência, nos procedimentos policiais.
Nessa direção, há um rol mínimo de providências a serem adotadas diante
das principais ocorrências policiais. É óbvio que, em razão da complexidade de tais
ocorrências, não se pretende aqui elencar todas as medidas cuja adoção se faz neces-
sária à solução do caso concreto.

2. Crimes contra o patrimônio

A autoridade policial ao ser cientificada de ocorrência referente a crime contra


o patrimônio de autoria desconhecida, com violência ou grave ameaça à pessoa ou
dano material relevante, deverá:
a) comparecer ao local dos fatos, determinando sua preservação para o cabível
levantamento;
b) requisitar os exames periciais necessários;
c) determinar o registro dos fatos em boletim de ocorrência, do qual deverão
constar as providências adotadas, as comunicações efetuadas, os exames
periciais requisitados e, se for o caso, a solicitação de assessoramento da
unidade policial competente, como o DEIC, na Capital, ou a DIG, nos
demais municípios do Estado;
d) encaminhar cópia do boletim de ocorrência à Divisão de Crimes contra
o Patrimônio do DEIC na Capital, ou à DIG, nos demais municípios do
Estado;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

e) na hipótese de comunicação de furto ocorrido no interior de estabelecimento


ou de residência na qual não existam pessoas presentes, deverá a autoridade
providenciar a presença de policiais para preservar o local, até a chegada da
vítima ou de pessoa que a represente.

3. Furto e roubo de veículos

Recebida a comunicação de ocorrência de furto ou roubo de veículo automo-


tor, deverá o Delegado de Polícia, de imediato, determinar a lavratura de boletim de
ocorrência. Deve também:
a) nas unidades não informatizadas, expedir mensagem ao CEPOL, solicitando
o respectivo bloqueio, fazendo inserir o número da mensagem na cópia do
respectivo Boletim de Ocorrência, fornecida para a vítima;
b) nas unidades informatizadas, utilizar o aplicativo atualmente existente,
complementando as informações, sempre que necessário;
c) em se tratando de crime de roubo e a vítima tiver descrição detalhada dos
autores do delito, encaminhá-la, mediante memorando, ao Serviço de
Informações Criminais-SIC, do DEIC ou ao órgão policial competente,
juntamente com eventuais testemunhas, para reconhecimento fotográfico e
elaboração de retrato falado, pelos setores competentes.

4. Localização de veículo

Por ocasião da localização de veículo, deve a autoridade policial:


a) elaborar boletim de ocorrência de encontro de veículo, além dos respectivos
autos de exibição, apreensão, constatação, avaliação e expedir a requisição
de exames periciais, bem como, se for o caso, executar a entrega, liberação
ou depósito do bem a quem de direito, lavrando-se o respectivo auto.
b) expedir, imediatamente, mensagem de baixa do veículo, fazendo constar
no histórico do registro do fato, a unidade policial que registrou o delito, a
data e o número do boletim de ocorrência;
c) anexar ao boletim de ocorrência, extrato sobre o veículo expedido pelos
terminais de pesquisas realizadas junto ao DETRAN;
d) encaminhar, após as providências do item anterior, cópia do boletim de
ocorrência para a unidade policial onde foi registrado o furto ou roubo do
veículo.

5. Receptação de veículo

O Delegado de Polícia, ao deparar-se com um veículo automotor com suspeita


de ser produto de crime, deverá:

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

a) determinar a expedição de extrato computadorizado sobre as características


do veículo, através das placas e chassi, confrontando os dados obtidos com
o veículo apresentado;
b) providenciar a observação visual da numeração do chassi;
c) havendo fundada suspeita de adulteração de chassi ou de outro agregado,
determinar a lavratura de boletim de ocorrência bem como a formalização
do auto de exibição e apreensão do veículo;
d) oficiar, quando da posse dos agregados do veículo, à empresa montadora,
solicitando remessa da carta-laudo;
e) constatando, após o recebimento do documento, que as informações sobre
o veículo são discrepantes, expedir requisição de perícia no veículo ao
Instituto de Criminalística, instruída com cópia da carta-laudo e vistoria
do DETRAN, objetivando constatar a adulteração do chassi e demais
agregados, bem como, a identificação da numeração original, cabendo
ao Instituto de Criminalística concluir que o chassi ou outro agregado do
automóvel estão adulterados;
f) examinar a forma de aquisição do veículo e, havendo possibilidade de ser
o possuidor terceiro de boa fé, diante da inviabilidade de se manter o bem
apreendido em pátio ou em local adequado na unidade policial, proceder
ao depósito do objeto apreendido mediante lavratura do auto respectivo
em favor do possuidor, alertando-o que o auto de depósito não o autoriza
a trafegar com o veículo.

6. Furto, roubo e desvio de carga

Existem a respeito vários diplomas administrativos que analisam essas moda-


lidades criminosas, a saber:
a) a Resolução SSP-284/97 institui o PROCARGA e disciplinou as atuações
das polícias estaduais nessas hipóteses.
b) a Portaria DGP-24/97 instituiu as comunicações que devem ser efetuadas
nas ocorrências de furto, roubo e desvio de cargas.
c) a Portaria DGP-5/98 padronizou as informações sobre esses delitos.
d) a Portaria DGP-24/07 atualizou o trâmite institucional de tais comunicações
e a Resolução SSP-280/09 reorganiza o programa de prevenção e redução
de furtos, roubos, apropriação indébita e receptação de carga.
Quanto ao procedimento policial, o Delegado de Polícia, tomando conheci-
mento de ocorrência atinente a furto, roubo e desvio de cargas, bem como de recep-
tação de produtos oriundos dessa modalidade criminosa, deverá:
a) comunicar a ocorrência, antes mesmo de seu registro, ao Centro de
Comunicações e Operações da Polícia Civil - CEPOL;
b) elaborar boletim de ocorrência e fornecer o número de seu registro ao
CEPOL;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

c) providenciar, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, o encaminhamento


à Divisão de Investigações sobre Furto e Roubos de Veículos e Cargas -
DIVECAR, e à Coordenadoria de Análise e Planejamento - CAP, cópias
do boletim de ocorrência, autos de apreensão, reconhecimento, avaliação,
entrega, bem como do auto de prisão em flagrante, no impresso de
comunicação específico que integra a Portaria DGP-24, de 19 de setembro
de 1997;
d) encaminhar à Divisão de Investigações sobre Furtos e Roubos de Veículos
e Cargas - DIVECAR, as partes envolvidas nos crimes definidos neste
item, para os atos de Polícia Judiciária decorrentes da prisão em flagrante,
conforme preconiza a Resolução SSP - 284, de 26 de agosto de 1997.
A Resolução SSP - 184/01 dispõe sobre a expedição de certidão em caso de
furto ou roubo de veículos.
A Portaria DGP -26/02 cria grupos especiais de investigação sobre furto, rou-
bo e desvio de cargas.

7. Crimes contra a vida

Há cautelas mínimas a serem observadas pelo Delegado de Polícia nos locais


de crimes contra a vida em geral e no caso de ser cientificado de ocorrência relacio-
nada à morte violenta, sem prejuízo de outras providências, a saber:
a) comparecer ao local dos fatos, determinando seja mantida sua preservação,
para o competente levantamento;
b) recomendar aos policiais que se abstenham, no local do crime, de revirar as
vestes da vítima à procura de documentos, bem como de tocar nos objetos
e nas armas utilizados para a prática do delito;
c) tão logo constatado o óbito, elaborar, com o auxílio dos investigadores,
recognição visuográfica, com o intuito de buscar informações detalhadas
sobre as circunstâncias nas quais ocorreu a morte, anotando dados
referentes à prova de identidade e reduzindo a termo o depoimento das
testemunhas arroladas no local;
d) requisitar os exames periciais cabíveis, com formulação ao Médico Legista
e aos demais peritos, dos quesitos necessários ao esclarecimento do caso;
e) havendo apreensão de arma ou do instrumento do crime, providenciar
exame para pesquisa da impressão digital e da natureza e eficiência da arma
ou do objeto;
f) zelar pela cautela no transporte dos instrumentos apreendidos. Nos casos
em que seja necessária perícia na arma para investigação de disparo
recente, recomendar aos policiais que se abstenham de introduzir objetos
pontiagudos na arma para o seu transporte, já que tal procedimento pode
alterar o resultado dos exames balísticos;

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

g) depois do levantamento e da realização de perícia no local, proceder com


cautela, à arrecadação dos bens e documentos que estiverem com o cadáver
para posterior exame;
h) requisitar carro de cadáver;
i) instaurar Inquérito Policial.
Em relação às cautelas mínimas a serem observadas pelo Delegado de Polícia
nos homicídios dolosos de autoria desconhecida, tão logo seja cientificado do delito:
a) comparecer ao local dos fatos, determinando seja mantida a sua preservação
para o competente levantamento;
b) requisitar os exames periciais cabíveis, com formulação ao Médico Legista
e Perito Criminal dos quesitos necessários ao esclarecimento do caso;
c) recolher o maior número de dados possível para a elaboração da ocorrência:
d) procurar estabelecer a autoria e o motivo do delito;
e) se a vítima ainda não veio a óbito e existir pessoa suspeita da autoria do
delito determinar a realização imediata do auto de reconhecimento, se
possível, reduzindo a termo suas declarações;
f) solicitar o assessoramento do DHPP na Capital ou de eventual unidade
especializada, nos demais municípios do Estado;
g) estabelecer, em conjunto com o órgão de assessoramento, os pontos
necessários à investigação policial, definindo a orientação dos exames
periciais;
h) evitar a apreensão de qualquer objeto no local da ocorrência, antes da
realização da perícia, para que não haja prejuízos aos exames realizados
pelo Instituto de Criminalística;
i) fazer constar no boletim de ocorrência, todas as informações que possam
subsidiar as investigações, observando especialmente os dados referentes
à qualificação, descrição física e vestimentas da vítima, ferimentos visíveis
em seu corpo, além de quaisquer outros esclarecimentos sobre o local dos
fatos;
j) nas hipóteses de assessoramento, caso não tenha sido solicitado, encaminhar
cópia do boletim de ocorrência à equipe especializada, observando os
trâmites hierárquicos pertinentes.

8. Das lesões corporais

Tratando-se de ocorrência sobre lesões corporais leves ou lesões corporais cul-


posas não tipificadas como crimes de trânsito, deve a autoridade policial:
a) determinar o registro dos fatos em termo circunstanciado;
b) requisitar os exames periciais necessários;
c) se for o caso, instaurar Inquérito Policial nas exceções cabíveis aos procedi-
mentos de menor potencial ofensivo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nas ocorrências onde houver lesões corporais com resultado grave, gravíssimo
ou seguidas de morte, deve a autoridade policial:
a) determinar o registro do fato em boletim de ocorrência;
b) requisitar os exames periciais necessários;
c) instaurar Inquérito Policial.

9. Armas de fogo

Para apreciação dos delitos referentes às armas de fogo, merecem atenta leitura
as infrações de que trata a Lei nº 10.826/03.

9.1 Procedimentos

Os delitos de porte de arma de fogo, previstos nos artigos 14 e 16 da Lei nº


10.826/03, necessitam de procedimentos especiais para sua apuração, a saber:
a) elaboração de boletim de ocorrência com histórico pormenorizado sobre as
circunstâncias da apreensão, tipo de arma, modelo, marca, número, calibre,
capacidade de municiamento e a existência de projéteis na arma apreendida,
bem como quantidade e identificação dos projéteis apreendidos, dimensões
do cano e acabamento da arma, indicação do portador, do local e das
condições em que a arma foi encontrada;
b) registro do boletim em livro próprio;
c) apreensão de arma de fogo em auto próprio, que deve ser imediatamente
comunicada à Divisão de Produtos Controlados do DIRD;
d) requisição dos exames periciais necessários à comprovação da materialidade
do ilícito, lembrando-se que, para a configuração desses delitos, a
caracterização da potencialidade lesiva da arma de fogo é indispensável,
devendo ser comprovada através de exame pericial.
Após análise e avaliação das circunstâncias legais que envolvem a ocorrência,
a autoridade policial determinará a instauração de Inquérito Policial mediante auto
de prisão em flagrante, ou portaria, conforme o caso concreto.

9.2 Indicações para consulta

A Lei nº 10.826/03 dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de


fogo e munição, o Sistema Nacional de Armas - Sinarm define crimes e dá outras
providências, e o Decreto nº 5.123, de 1º/7/04, regulamenta a aludida Lei, são as
legislações no âmbito federal.
Para informações sobre armas de fogo, munição, explosivo, produto químico
inflamável, fogos de artifício de uso e importação permitido, restrito ou proibido, é
recomendável a leitura do Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controla-
dos (R-105), com a redação estabelecida pelo Decreto nº 2.998, de 23/3/99.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Ao Sistema Nacional de Armas - SINARM, instituído no Ministério da Justi-


ça, no âmbito da Polícia Federal incumbe identificar e cadastrar as armas de fogo e
seus proprietários, bem como todas as ocorrências relativas a transferência, roubo,
furto e extravio de tais aparatos.
É o que dispõe o artigo 2º da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento),
complementado pelo artigo 1º do Decreto nº 5.123/04, que o regulamenta.
Já o controle do registro das armas de fogo institucionais e de seus integrantes,
bem como daquelas adquiridas pelo País para testes e avaliação técnica e ainda, das
obsoletas, incumbe ao SIGMA, instituído pelo artigo 2º do Decreto nº 5.123/04 no
âmbito do Comando do Exército, junto ao Ministério da Defesa.
Atualmente, o porte de arma de fogo é proibido em território nacional, “salvo
os casos previstos em legislação própria” e para os integrantes e instituições previs-
tas no artigo 6º da Lei nº 10.826/03.
Em decorrência do resultado do referendo popular realizado em outubro de
2005, deixou de entrar em vigor o artigo 35, “caput”, do Estatuto do Desarmamento
que proibia a comercialização de armas e munições em território nacional.
Assim, desde que atendidos os requisitos previstos nos incisos I, II e III do §
1º do artigo 10 da Lei 10.826/03, poderá ser expedido porte de arma de fogo de uso
permitido ao cidadão, pela Polícia Federal.
Por força do disposto no artigo 23 do Decreto nº 5.123/04 o porte de arma deve
conter a abrangência territorial e a eficácia temporal, as características da arma e o
número de seu registro junto ao SINARM ou SIGMA, a identificação do proprietá-
rio da arma e assinatura, cargo e função da autoridade concedente.
Oportuno lembrar que tal autorização será cassada e a arma apreendida sem-
pre que seu titular “conduzí-la ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer
em locais públicos... ou ... onde haja aglomeração de pessoas, em virtude de eventos
de qualquer natureza” ou portar o armamento em estado de embriaguez ou sob
efeito de drogas ou medicamentos que alterem seu desempenho intelectual ou motor
(artigo 26 e parágrafos do Decreto nº 5.123/04).
Decisão do Supremo Tribunal Federal, prolatada na Ação Direta de Inconsti-
tucionalidade nº 3.112-1-DF, publicada no DJ de 26/10/2007, pelo Ministro Ricardo
Lewandowski, declarou a inconstitucionalidade dos parágrafos únicos dos arts. 14 e
15 da Lei nº 10.826/03, e o art. 21, do mesmo diploma legal.
A Portaria DGP-12/08 disciplina a aquisição e o porte de arma de fogo por
policial civil, sendo que o artigo 10 do referido ato administrativo foi alterado pela
Portaria DGP-19/09.

9.3 Porte de arma de fogo: Policial militar

Sobre o registro e porte de arma de fogo por policiais militares deve-se con-
sultar portaria do Comandante Geral a respeito, publicada todo o ano, dispondo
sobre o registro de armas de fogo não registradas, renovação de registros estaduais
e entrega de arma de fogo junto às Organizações Policiais Militares do Estado de
São Paulo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

9.3.1 Delito praticado por policial militar com arma da corporação

A questão não é pacífica. Há entendimento jurisprudencial no sentido de que


se o crime for praticado por policial militar contra civil, com o emprego de arma
da corporação, mesmo fora da escala de serviço, compete à Justiça Militar o julga-
mento do delito, consoante o preconizado pela Súmula 47 do STJ. Contra: STJ RT
721/539.

9.3.2 Delito praticado por policial militar com arma particular

Se o crime for praticado por policial militar, fora da escala de serviço, com o
emprego de arma particular, compete à Justiça comum o julgamento do delito.

9.3.3 Infração praticada por policial militar fora da função

Tem-se posicionado a doutrina e a jurisprudência no sentido de que a Justiça


Militar não tem competência para julgar policial militar que, em trajes civis e fora
do local de trabalho, pratique delito não relacionado com sua função.

10. Drogas

A Lei nº 11.343, de 2 de agosto de 2006, que revogou as Leis nºs 6.368/76 e


10.409/02, institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sis-
nad, prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção so-
cial de usuários e dependentes de drogas. Estabelece normas para repressão à pro-
dução não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, bem como define crimes e dá
outras providências.
A Lei nº 8.072/90 assemelhou o tráfico de drogas aos crimes hediondos, consi-
derando-o insuscetível de fiança e de liberdade provisória.
Os prazos para a conclusão de inquérito policial também foram alterados pela
novatio legis (art. 51): 30 (trinta) dias para indiciado preso e 90 (noventa) dias, quan-
do em liberdade, havendo a possibilidade de duplicação do prazo pelo juiz, ouvido o
Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária,
nos termos do parágrafo único do art. 51, desta Lei.
A Lei nº 11.343/06 ainda considerou como prova de materialidade do delito
o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, quando firmado por
perito oficial, ou o auto de constatação provisório da droga, quando subscrito por
perito não oficial.
No caso de flagrante delito, se a autoridade policial não estiver de posse do
laudo definitivo até o escoamento do prazo de 30 dias, deverá encaminhar os autos
ao Juízo competente, sem prejuízo da futura remessa do laudo definitivo até 3 (três)
dias antes da audiência de instrução e julgamento, na dicção do art. 52, parágrafo
único, inciso I, da Lei nº 11.343/06.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

10.1 Rotina policial

A competência para o processo e julgamento dos crimes de tráfico ilícito de


drogas (arts. 33 a 37 da Lei nº 11.343/06), será de regra da Justiça comum dos Esta-
dos. Todavia, se restar caracterizado ilícito transnacional, o processo e o julgamento
são de competência da Justiça Federal (art. 70).
O antigo delito do art. 16, da revogada Lei nº 6.368/76, hoje previsto no art. 28
da nova lei, que trata da aquisição, guarda, depósito, transporte e posse de drogas
para consumo pessoal, ou a semeadura, cultivo e colheita de plantas destinadas à
preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar de-
pendência física ou psíquica, não mais dará ensejo à prisão em flagrante, devendo
o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta
deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando se termo circunstancia-
do e providenciando se as requisições dos exames e perícias necessários (art. 48, § 2º,
Lei nº 11.343/06).
A lei citada criou mais três figuras delituosas relacionadas ao tráfico ilícito de
drogas (arts. 36, 37 e 39), e nos demais casos mantivera os tipos anteriores, numa
verdadeira novatio legis um pejus (nova lei para pior), haja vista aumentar considera-
velmente a pena de multa, ou mesmo as penas privativas de liberdade.
Nos termos do art. 52 da Lei nº 11.343/06, a autoridade policial, ao remeter os
autos do inquérito ao juízo, deverá relatar “sumariamente as circunstâncias do fato,
justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quanti-
dade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições
em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente”.
Recomenda-se aos policiais civis, para o fortalecimento do conjunto probató-
rio, as seguintes condutas:
a) as denúncias anônimas recebidas pela Polícia Civil, não raras vezes,
oferecem subsídios valiosos para o esclarecimento de delitos relacionados a
essa modalidade delituosa. Assim, a fim de justificar as diligências que, para
a verificação de sua veracidade, serão realizadas, devem ser registradas em
livro próprio, constando data e horário de seu recebimento. Nos autos de
inquérito policial, tal justificativa pode ser feita, sem grandes formalidades,
através de certidão expedida pelo Escrivão de Polícia;
b) nos casos relacionados à Lei nº 11.343/06, para que o ato do agente seja
também enquadrado no art. 40 desse mesmo diploma, que trata de causa de
aumento de pena quando: “a infração tiver sido cometida nas dependências
ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de
sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento
de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou
policiais ou em transportes públicos”, deve ser feito um croqui do lugar
onde foi realizada a diligência, a fim de evidenciar sua proximidade dos
locais de que trata o dispositivo;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

c) se, no curso das diligências, houver somente policiais que presenciaram os


fatos, seu depoimento será valorizado se os autos forem instruídos com
justificativa para a inexistência de outras testemunhas, como a realização da
diligência em local deserto, ou o encontro por policiais de drogas durante a
madrugada etc;
d) sempre que a apreensão ocorrer em residência, com presença de outras
pessoas além do indiciado, devem estas ser formalmente ouvidas;
e) sempre que possível, deve ser mantido um arquivo das diligências realizadas
para consulta pelos policiais civis que forem chamados a depor em Juízo.
Tal providência evita lapso e fortalece o depoimento dos policiais como
elemento de prova;
f) as comunicações à autoridade judicial competente sobre prisão em flagrante
em razão dos delitos previstos nos artigos 33 a 37 da nova Lei, devem ser
instruídas com o laudo de constatação da droga.

10.2 Apreensão

Por ocasião da apreensão da droga, recomenda-se aos policiais civis:


a) quando no Inquérito Policial houver mais de um indiciado, deve se
especificar a porção da substância apreendida, de forma individualizada;
b) quando os policiais apreenderem mais de uma porção de droga devem leva-
las em separado à autoridade, evitando que se misturem;
c) sempre que a apreensão se der por uma equipe de policiais, deve se fazer
constar nos autos os nomes de todos os integrantes do grupo, a fim de se
propiciar maiores subsídios para o fortalecimento do conjunto probatório;
d) igualmente, o auto de apreensão deverá individualizar e descrever os
invólucros das porções de drogas apreendidas, relacionando as com cada
um dos indiciados, evitando expressões genéricas como “alguns pacotes”
etc.
e) nos termos da Portaria DGP nº 35, de 17 de dezembro de 2008, o Delegado
de Polícia deverá determinar a pesagem da droga bruta apreendida, proceder
a sua fotografação, lacrar a droga e requisitar os respectivos exames de
constatação, bem como providenciar local seguro para a sua guarda.

10.3 Indicações de consulta

A Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, é a primeira indicação de consulta.


A obrigatoriedade de comunicação ao DENARC sobre procedimentos de po-
lícia judiciária instaurados para a apuração de crimes, imediatamente após a inau-
guração do feito, é estabelecida pela Portaria DGP 9, de 9/6/98.
A respeito da apreensão, arrecadação e destinação dos bens do acusado no
crime de tráfico de drogas, consultar os artigos 60 a 64, da Lei nº 11.343/06.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A Lei citada ainda estabelece critérios para a sistemática destruição de drogas,


apreendidas em Inquéritos Policiais.

11. Auto de Resistência

Sempre que houver resistência à ordem legal por parte de terceiros, o policial
civil pode usar dos meios necessários para defender-se ou para vencê-la.

11.1 Considerações preliminares

O auto de resistência deve ser lavrado imediatamente após o ocorrido e subs-


crito por 2 (duas) testemunhas, além do executor, na forma estabelecida pelo artigo
292 do Código de Processo Penal.
Constituem hipóteses em que o policial poderá encontrar resistência de tercei-
ros: a) a prisão em flagrante; b) o cumprimento de mandado de prisão; c) o cum-
primento de mandado de condução coercitiva; d) o cumprimento de mandado de
busca e apreensão.

11.2 Procedimentos policiais

A fim de resguardar a integridade da correta ação policial, o auto de resistência


deve ser instruído com minudente relato dos fatos, além de cópia das requisições das
perícias cabíveis. Observe que tal providência independe da autuação em flagrante
do resistente pela prática de ilícito penal, como nos casos de resistência e desacato.

11.3 Rotina policial

Após sua elaboração, o procedimento seguirá o trâmite do inquérito comum,


obedecidos os prazos regulamentares.
Em caso de morte do resistente, constatado o óbito em razão da utilização
dos necessários meios de contenção policial, o inquérito policial será iniciado com
o auto de resistência.
Inexistindo morte do resistente, deverá ser lavrado o auto de resistência e, se
ocorrer a prisão, o respectivo auto de prisão em flagrante.
Havendo resistência do indiciado ao cumprimento do mandado de condução
coercitiva, o auto de resistência elaborado deverá ser juntado aos autos do inquérito
em curso.

12. Indicações de consulta

Para informações sobre os procedimentos nos casos de furto, roubo e desvio de


cargas, consultar as Resoluções SSP-284/97, SSP-184/01 e SSP-280/09, que tratam
da atuação das polícias estaduais, as Portarias DGP-24/97, DGP-5/98 e DGP-24/07,

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

que tratam das comunicações e informações que devem ser efetuadas e compiladas
bem como a Portaria DGP-25/02 que cria grupos especiais de investigação sobre
furto, roubo e desvio de carga.
Nas ocorrências de furto, roubo ou encontro de veículos, consultar a Portaria
DGP-9, de 30/3/87.
Sobre as providências para a agilização na obtenção do laudo de exame ne-
croscópico e do exame pericial, consultar a Portaria DGP-17, de 8/9/97.
Os procedimentos a serem seguidos nos locais de crime são tratados de forma
minudente pela Resolução SSP -382, de 1/9/99 e pela Recomendação DGP - 2, de
8/9/92.
Sobre o atendimento de ocorrência envolvendo policial, ver a Resolução SSP-
224, de 3/6/98.

13. Conclusão

Os procedimentos elencados neste capítulo são meramente exemplificativos, já


que é impossível exaurir todas as medidas de Polícia Judiciária passíveis de serem
adotadas em cada caso concreto. Assim, as rotinas descritas devem ser usadas pelos
policiais civis apenas como lembrete, durante o atendimento de ocorrências.

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Capítulo XIII
POLÍCIA JUDICIÁRIA NA INVESTIGAÇÃO
DOS CRIMES ECONÔMICOS

Sumário: 1. Considerações Preliminares; 2.Crimes contra a ordem econômica; 2.1 Lei


nº 1.521/51; 2.2 Lei nº 8137/90; 2.2.1 Diligências policiais; 3. Crimes contra a economia
popular e as relações de consumo; 3.1 Código Penal; 3.2 Lei nº 1.521/51; 3.3 Lei nº
8.137/90; 3.4 Código de Defesa do Consumidor; 3.5 Jogos de azar como crimes con-
tra a economia popular; 4. Crimes contra a saúde pública; 4.1 Código Penal; 4.2 Lei
nº 8137/90; 5. Crimes contra os direitos trabalhistas e previdenciários; 5.1 Código Pe-
nal; 5.2 Contravenções Penais (Decreto-lei nº 3.688/41; 5.3 Lei nº 7.716/89; 5.4 Lei nº
9.029/95; 6 Estelionato; 7. Crimes Fiscais; 8. Fraude à Previdência Social; 9. Crimes
Falimentares; 10. Malversação de fundos públicos; 10.1 Código Penal; 10.2 Crimes con-
tra a regularidade das licitações e contratos da Administração Pública; 11. Reciclagem
de capitais; 12. Receptação; 13. Crimes contra a propriedade imaterial; 13.1 Crimes
contra a propriedade intelectual; 13.2 Crimes contra a propriedade industrial; 13.2.1
Crimes contra as patentes; 13.2.2 Crimes contra os desenhos industriais; 13.2.3 Crimes
contra registro de marca; 13.2.4 Crimes por meio de marca, título de estabelecimento e
sinal de propaganda; 13.2.5 Crimes contra indicações geográficas e demais indicações;
13.2.6 Crimes de concorrência desleal; 14. Crimes cambiários; 15. Delitos societários;
16. Crimes de Informática.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Os crimes econômicos comportam grande dissensão conceitual e de difícil


classificação sistemática das normas penais, implicando na seleção, dentre os múl-
tiplos tipos penais da legislação pátria, daqueles que representem verdadeira tutela,
mediata ou imediata, de bens jurídicos genuinamente econômicos. O ordenamento
jurídico penal trata da matéria em diversas leis especiais.
Consideram-se de ação penal pública incondicionada os delitos previstos no
Código de Defesa do Consumidor e devem ser apurados mediante inquérito poli-
cial ou, conforme a pena cominada, termo circunstanciado, nos termos da Lei nº
9.099/95.

2. CRIMES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA

Duas são as legislações, no direito penal brasileiro, que contemplam a prote-


ção ao bem jurídico ordem econômica, apesar de tratarem também de outros bens
jurídicos: as Leis nºs 1.521/51 e 8.137/90.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2.1 Lei nº 1.521/51

A Lei nº 1.521, de 26 de dezembro de 1951, apesar de tratar dos crimes contra


a economia popular, em seu artigo 3º descreve condutas que caracterizam ofensa à
ordem econômica, a saber:
a) destruição, inutilização ou danos indevidos a matérias-primas ou mercado-
rias, com objetivo de provocar alta de preços;
b) abandono de plantações, suspensão de atividades fabris e meios de trans-
porte, mediante indenização paga pela desistência da competição;
c) provocação de alta ou baixa de preços de mercadorias, títulos públicos,
valores ou salários por meio de notícias falsas, operações fictícias ou
qualquer outro artifício;
d) exercício de funções de direção, administração ou gerência de mais de uma
empresa ou sociedade do mesmo ramo de indústria ou comércio com o fim
de impedir ou dificultar a concorrência.

2.2 Lei nº 8.137/90

A lei nº 8.137, de 17 de dezembro de 1990, dispôs, no mesmo contexto, sobre


matérias distintas, tipificando crimes tributários, funcionais além dos delitos contra
a ordem econômica e as relações de consumo. Afora isso, “foram definidos como
crimes contra a ordem econômica ações físicas que sempre foram tipificadas como
delitos contra a economia popular, pondo à calva a falta de técnica ou rigor jurídico,
antes aludida, em verdadeiro desprezo à ciência jurídica, seus dogmas e princípios,
revelando um legislador empírico e despreparado”.

2.2.1 Diligências policiais

As modalidades mais comuns de sonegação fiscal são subfaturamento de notas


fiscais, talões paralelos, lançamento indevido na escrita de nota fiscal para apro-
veitamento de créditos do ICMS, uso da mesma nota fiscal, por várias vezes, para
acobertar o transporte de mercadorias, alegação do desaparecimento de talões de
notas fiscais, compra de notas fiscais para abatimento de seu valor na declaração do
imposto de renda, calçamento de notas fiscais, anulação fraudulenta de notas fiscais,
utilização de notas fiscais de outra firma para acobertar mercadorias da empresa,
uso fraudulento de nota fiscal de produtor, uso fraudulento de cartão de inscrição
de produtor rural, falsificação de autenticação bancária em guia de recolhimento de
ICMS, uso repetido dos mesmos tickets ou fichas de caixa, para venda de produtos
em bares ou lanchonetes.
Talões de notas fiscais para vendas dentro do Estado: são impressos em 4 (qua-
tro) vias. A 1ª via é destinada ao adquirente da mercadoria, a 2ª à fiscalização, a 3ª
via permanece fixa no talão, enquanto a 4ª é destinada à contabilidade.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Os talões de notas fiscais de mercadorias que se destinam à venda em outros


Estados são impressos em 5 (cinco) vias, distribuídas na seguinte forma. A 1ª, a 2ª e
a 4ª vias, acompanham a mercadoria, enquanto a 3ª e 5ª vias, permanecem fixadas
ao bloco.
Falsificação de autenticação bancária em guia de recolhimento de ICMS: neste
caso, a tática mais usada é a utilização de aparatao para a autenticação mecânica de
guias que são arquivadas e lançadas na escrita fiscal da empresa.
Nas diligências, os policiais civis deverão observar na autenticação bancária
constante na guia:
a) a identificação por letras do banco recebedor;
b) o número do caixa que recebeu a importância;
c) a data do recebimento;
d) a importância recebida.
A investigação pode ser feita por amostragem, procedendo-se à consulta ao
banco cujo nome ou código figura na autenticação mecânica duvidosa, para infor-
mação sobre o real depósito da importância indicada.
Igualmente deve ser feita uma listagem de todas as guias e valores declarados
como recolhidos, e encaminhada à agência ou posto bancário respectivo para pros-
seguimento das investigações.
Uso dos mesmos tickets ou fichas de caixa, para vendas em bares ou lanchonetes:
trata-se de manobra utilizada pelos comerciantes para ocultar do Fisco o montante
de suas vendas. O caixa emite tickets referentes às primeiras despesas do dia. Os
tickets são entregues pelos fregueses no balcão ao empregado, que os devolve ao
caixa, para que sejam reaproveitados em outras vendas.
Caixa dois: é um livro paralelo onde todos os pagamentos e recebimentos re-
almente efetuados pela firma são registrados. Os livros fiscais obrigatórios nesses
casos servem somente para o pagamento de impostos e não como base para o rateio
dos lucros entre os sócios. É muito comum em empresas que vendem sem nota fical.
Compra de notas fiscais para abatimento na declaração de Imposto de Renda:
trata-se de fraude utilizada frequentemente por firmas construtoras que não reco-
lhem ICMS. Os titulares da empresa compram notas fiscais frias referentes a mate-
riais utilizados na construção, aumentando desta forma suas despesas a fim de lesar
o Fisco.
Talões paralelos: há tipografias que imprimem talões de notas fiscais com a
mesma numeração dos legalmente autorizados para uso da empresa que, para aco-
bertar o montante de mercadoria comercializada, utiliza poucas notas fiscais do
talão legalmente impresso, lesando o Fisco pela omissão de várias operações efetu-
adas, sobre as quais não houve recolhimento de ICMS.
No caso de diligências em tipografia nas quais houver negativa de autoria da
impressão investigada, recomenda-se a solicitação de perícia nas máquinas para a
constatação do alegado.
Subfaturamento: é a diferença entre o valor cobrado sobrea a real operação
comercial e o constante na nota fiscal emitida, v.g. preenchimento de impresso de

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

pedido, orçamento ou a denominada nota branca, que não têm valor fiscal, mas que
passam a valer como recibo para o adquirente.
Calçamento: é a modalidade de sonegação na qual o comerciante coloca o va-
lor real da transação somente nas vias da nota fiscal que acompanha a mercadoria,
registrando um valor menor nas vias que ficam fixas no bloco e nas destinadas à
fiscalização.
Tal expediente é conhecido como calçamento porque o negociante usa uma
lâmina ou papelão entre as vias que acompanham a mercadoria, as destinadas à
fiscalização e as que permanecem no bloco de notas fiscais, de forma que os valores
exatos da venda aparecem apenas na via destinada ao adquirente.
Os crimes contra a ordem econômica do Capítulo II dessa lei tratam conjun-
tamente dos crimes contra as relações de consumo. Assim, os artigos 4º, 5º e 6º
referem-se às condutas lesivas à ordem econômica, enquanto que o artigo 7º às re-
lações de consumo.
No artigo 4º, inciso I, encontram-se as seguintes condutas:
a) abuso do poder econômico, com dominação do mercado ou eliminação
total ou parcial da concorrência, mediante:
1) ajuste ou acordo de empresas;
2) aquisição de acervos de empresas em cotas, ações, títulos ou direitos;
3) coalizão, incorporação, fusão ou integração de empresas;
4) concentração de ações, títulos, cotas ou direitos em poder de empresa,
empresas coligadas ou controladas ou pessoas físicas;
5) cessação parcial ou total das atividades da empresa;
6) impedimento à constituição, funcionamento ou desenvolvimento de
empresa concorrente.
Também no artigo 4°, inciso II, tem-se:
b) formação de acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes visando:
1) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas;
2) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de
empresas;
3) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou
de fornecedores.
Os incisos III, IV, V, VI e VII, do mesmo artigo, dispõem:
c) discriminação de preços de bens ou de prestação de serviços por ajustes
ou acordo de grupo econômico, com o fim de estabelecer monopólio ou de
eliminar, total ou parcialmente, a concorrência.
d) açambarcamento, sonegação, destruição ou inutilização de bens de
produção ou de consumo, com o fim de estabelecer monopólio ou de
eliminar, total ou parcialmente, a concorrência.
e) provocação de oscilação de preços em detrimento de empresa concorrente
ou vendedor de matéria-prima, mediante ajuste ou acordo, ou por outro
meio fraudulento.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

f) venda de mercadoria abaixo do preço de custo, com o fim de impedir a


concorrência;
g) elevação sem justa causa do preço de bem ou serviço, valendo-se da posição
dominante no mercado;
O artigo 5°, incisos I a IV, incriminam as seguintes condutas:
h) exigência de exclusividade de propaganda, transmissão ou difusão de
publicidade, em detrimento de concorrência;
i) subordinação da venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de
outro bem, ou ao uso de determinado serviço;
j) sujeição da venda de bem ou da utilização de serviço à aquisição de
quantidade arbitrariamente determinada;
k) recusa, sem justa causa, do diretor, administrador ou gerente de empresa a
prestar à autoridade competente, ou prestação de modo inexato, informação
sobre o custo de produção ou preço de venda.

3. CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR E AS RELAÇÕES DE


CONSUMO

Essas modalidades delitivas encontram-se disciplinadas na legislação pátria,


conforme segue:

3.1 Código Penal

O artigo 175 do Código Penal dispõe:


a) fraude no exercício de atividade comercial em detrimento do adquirente ou
consumidor, mediante:
1) venda, como verdadeira ou perfeita, de mercadoria falsificada ou
deteriorada;
2) entrega de uma mercadoria por outra;
3) alteração, em obra encomendada, da qualidade ou do peso do metal; ou
substituição de pedra verdadeira por falsa ou outra de menos valiosa;
ou venda de pedra falsa por verdadeira; ou venda como precioso de
metal que não o seja.

3.2 Lei nº 1.521/51


Contemplam os artigos 2º e 3º da Lei nº 1.521/51:
a) recusa de prestação de serviços essenciais ou do fornecimento de mercado-
rias a quem se disponha ao pronto pagamento;
b) exposição à venda, ou venda, de mercadoria ou produto alimentício fabri-
cado em desacordo com determinações oficiais de peso e composição;
c) sonegação, recusa de venda ou retenção de insumos ou bens, para fins de
especulação;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

d) ajuste para imposição de preço de revenda ou exigência de exclusividade de


fornecimento;
e) obtenção, ou tentativa de obtenção, de ganhos ilícitos em detrimento do
povo ou número indeterminado de pessoas mediante especulações ou
processos fraudulentos;
f) violação a contrato de venda a prestação mediante fraude a sorteio ou não
entrega da coisa vendida;
g) posse ou uso de pesos ou medidas padronizadas alterados para fraude;
h) usura pecuniária ou real mediante:
1) cobrança de juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas
em dinheiro, superiores à taxa permitida por lei;
2) cobrança de ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia
permutada por moeda estrangeira;
3) empréstimo sob penhor privativo de instituição oficial de crédito;
4) obtenção ou estipulação, em qualquer contrato, de lucro patrimonial
que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou
prometida, com abuso da premente necessidade, inexperiência ou
leviandade de outra parte.

3.3 Lei nº 8.137/90

Estabelecem os artigos 6º e 7º da Lei n° 8.137/90:


a) transgressão a tabelas oficiais de preços de mercadorias ou serviços;
b) aplicação de fórmula de reajustamento de preços ou de indexação de contrato
proibida, ou diversa da legalmente estabelecida ou administrativamente
fixada;
c) favorecimento de consumidor em preterição a outro;
d) venda, ou exposição à venda, de mercadoria com embalagem, tipo, especifi-
cação, peso ou composição em desacordo com as prescrições legais ou não
correspondentes à respectiva classificação oficial;
e) exposição à venda, ou venda, de produtos misturados de diferentes espécies
ou qualidades;
f) fraude de preços mediante:
1) alteração da denominação, sinal externo, marca, embalagem,
especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento,
sem modificação essencial ou de qualidade do bem ou serviço;
2) fracionamento de bem ou serviço originalmente vendido em conjunto;
3) junção de bens ou serviços originalmente vendidos separados;
4) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na
prestação de serviços;

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

g) elevação do valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços,


mediante exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais;
h) indução do consumidor, ou usuário, a erro mediante indicação ou
afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade de bem ou
serviço;

3.4 Código de Defesa do Consumidor

A Lei nº 8.078/90, no Título II, artigos 61 até 74, tipifica como infrações penais
as seguintes condutas:
a) omissão de dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade
de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade;
b) omissão de comunicação à autoridade competente e aos consumidores a
nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior
à sua colocação no mercado:
c) omissão em retirar do mercado, imediatamente, quando determinado pela
autoridade competente, produtos nocivos ou perigosos;
d) execução de serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determi-
nação de autoridade competente;
e) afirmação falsa ou enganosa, ou omissão de informação relevante sobre
a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,
durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços;
f) promoção de publicidade enganosa ou abusiva;
g) promoção de publicidade capaz de induzir o consumidor a se comportar de
forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança;
h) omissão na organização de dados fáticos, técnicos e científicos que dão base
à publicidade;
i) emprego, na reparação de produtos, de peça ou componentes de reposição
usados, sem autorização do consumidor;
j) utilização na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento
físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer
outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a
ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer;
k) Impedimento ou embaraço de acesso do consumidor às informações que
sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros;
I) omissão na imediata correção de informação sobre consumidor constante
de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber
ser inexata:
m) omissão de entrega ao consumidor do termo de garantia adequadamente
preenchido e com especificação clara de seu conteúdo.

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3.5 Jogos de azar como crimes contra economia popular

Já se escreveu que o jogo “é um vício econômico e eticamente danoso: desor-


ganiza o trabalho, exalta a imaginação, favorece os maus desígnios, aguça a cupidez,
avilta o caráter, entretém a ociosidade, gera a ruína, motiva os crimes mais graves,
sobretudo contra o patrimônio, as falsidades, as ‘chantagens’, os peculatos e, por
fim, insensibiliza, corrompe, degrada”.1
No Brasil, tradicionalmente, os jogos de azar estiveram sob exploração direta
e exclusiva do Estado, inadmitindo-se que ao particular fosse confiado o exercício
dessa atividade. Não por outro motivo, em 1946, através do Decreto-Lei nº 9.215, o
então Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, restabeleceu a vigência do ar-
tigo 50, § 3°, a, do Decreto-Lei nº 3.688/41, preceito que, ainda hoje vigente, tipifica
como infração penal o estabelecimento e exploração de jogos de azar.
Com o surgimento das verdadeiras “empresas do crime”, nasceu a necessidade
de se reciclar ou “lavar” o produto ilícito das atividades dessas organizações crimi-
nosas, sendo o ramo da exploração de jogos de azar um desses canais de branquea-
mento, com a possibilidade de se lançar mão da tecnologia para utilizar aparelhos
eletrônicos de natureza proibida, por exemplo, os de videopôquer. Além disso, as
denominadas máquinas “caça-níqueis” são, na verdade, jogos eletrônicos, alimenta-
dos por fichas ou moedas, que pagam prêmios em dinheiro.
Ressalte-se que “a aposta consiste na escolha de opções e decisões do jogador
que servem como fonte da dinâmica dos jogos, que serão efetuadas através de to-
ques em teclas, tendo como base de apostas e sorteios, figura, símbolos ou números
configurados dentro do concurso de prognósticos gerados aleatoriamente nos pro-
gramas dos jogos nos terminais. O sorteio é feito instantaneamente, sendo gerado
pelo próprio equipamento, após o apostador acionar uma tecla para movimentação
dos símbolos, figuras ou números de acordo com a modalidade de jogo e modelo do
terminal que está sendo utilizado pelo apostador”.(Definição extraída do artigo 2°,
parágrafo 2°, V, Decreto 43.270, de 15 de abril de 2003 do Estado de Minas Gerais).
Define-se, essencialmente, como jogo de azar aquele em que o ganho e a perda
dependam exclusiva, ou preponderantemente, da sorte. Não é, portanto, o que exige
habilidade de execução, como o jogo de bilhar e o de snooker.
Caracteriza-se, pois, total ou parcialmente pela sorte, que depende do caso
fortuito, sem ou com reduzidíssima participação da habilidade do jogador.
Ao incrustar a expressão “jogo de azar” no artigo 50 § 3°, a, do Decreto-Lei
nº 3.688/41, obrigou o legislador que se procedesse à integração normativa pela
apreensão do exato sentido e alcance do que fosse “jogo de azar”. Certo que alguns
jogos permitem a pronta constatação da proporção em que o fator sorte entra no
ganho ou na perda, ao passo que outros já não trazem bem nítidos os elementos de
aferição das quotas de habilidade e de previsibilidade.
Nesse passo, oportuno trazer o ensinamento do Delegado de Polícia, Nélson
Ferreira, “o azar é aquilatado pelo exame do mecanismo do jogo. Basta saber em

1 DUARTE, José. Comentários à Lei das Contravenções Penais, p. 490

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que proporção entre o fato2 ‘sorte’ e, logicamente, o fator habilidade. Quando o


fator ‘sorte’ for exclusivo ou entrar em proporção muito preponderante, o jogo
será de azar. [...] Entre os jogos de azar mecânicos poderemos citar, ainda, as má-
quinas ‘papa-níqueis’, facilmente reconhecíveis, razão pela qual nos dispensamos
de descrevê-Ias. As máquinas ‘papa-níqueis’ ou serão jogos de azar (pelo fato de
o número premiado depender exclusivamente da sorte) ou serão crimes contra a
economia popular”.
Na esteira dessa argumentação, não se pode admitir que a escusa de que as
apostas nas máquinas eletrônicas tenham o condão de caracterizar jogo de azar em
face da ausência da “bilateralidade”, porque não presente uma segunda pessoa em
operação contraposta à ação do apostador, ou seja, se aceita hoje que o oponente
humano seja substituído por programa cibernético que, como produto, implica em
resistência às pretensões de vitória do apostador.
Argumentando que as possibilidades de vitória são nulas ou irrisórias, certa-
mente falar-se-ia em estelionato, verdadeiro e próprio, ou crime contra a economia
popular (pela indeterminação dos sujeitos passivos), eis que o maquinismo confi-
guraria o artifício, o aparato material, para perpetração da fraude garantidora da
vantagem pecuniária ilícita pelo explorador do jogo em face do prejuízo inexorável
do apostador.
Entretanto, como as constatações periciais têm acusado probabilidade de ga-
nho oscilante de 40% a 80%, forçoso reconhecer que os resultados de vitória ou
perda são absolutamente aleatórios, vez que o apostador tem suas oportunidades de
sucesso condicionadas, primeiro, ao contínuo processamento de dados segundo o
“software” em operação e, segundo, ao estágio em que se achava tal processamento
no instante em que substitui o apostador antecedente na máquina, i.e, se este obtive-
ra unicamente prejuízo nas suas investidas, esperando que os resultados revelem-se,
agora, favoráveis ao apostador que lhe sucede; de maneira inversa, se o antecessor
lograra sucessivos lucros em desfavor da máquina, provável que os prognósticos de-
sencadeados pelo processamento eletrônico venham exibir, agora, para compensa-
ção das perdas do equipamento, resultados gravosos ao novo cliente.
Somente a inspeção pericial, em cada caso, possibilitará a aferição individu-
alizada de que entidade típica esteja configurada na exploração ou manutenção de
uma máquina “caça-níquel”. Demonstrado que inexiste jogo, i.e, ausente o fator
aleatório, ainda que produto de processamento eletrônico, e que, ao revés, as máqui-
nas estão preordenadas para fraudar os usuários, como também para evitar combi-
nações premiadas ou redução considerável do percentual de vitória dos apostadores,
inegavelmente tratar-se-á de crime contra a economia popular porque presente pro-
cesso fraudulento empregado contra universo amplo de vítimas, aqui entendidas na
condição de consumidores.
Antonio Scarance Fernandes entende pela não exaustividade das condutas
discriminadas no artigo 2°, inciso IX, da Lei n° 1.521/51, devendo ocorrer à ade-
quação a este dispositivo da atividade consistente na exploração de máquinas de

2 Leite, Manoel Carlos da Costa, Lei das Contravenções Penais, p. 266/267

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“vídeo-pôquer”, desde que detectado processo fraudulento que venha a lesar nú-
mero indeterminado de pessoas. (in Revista Justitia, Procuradoria Geral de Justiça
e Associação Paulista do Ministério Público, ano 52, vol. 152, out/dez/1990, p. 86).
Nesses casos, as sequências são programadas, de forma imutável, pela máqui-
na, não tendo o apostador a menor possibilidade de alterar os resultados sucessivos
de cada jogada, com ínfima possibilidade de formar qualquer jogo compensador.
Sintetizando, há que se ter em conta, para se deslocar a tipificação da contra-
venção penal para o crime de estelionato, a substituição da sorte pela fraude e, para
transmutação deste crime contra o patrimônio para a figura típica da Lei nº 1.521/51,
a lembrança de que nos crimes contra a economia popular não se tem em conta a
lesão ao patrimônio individual, nem visa proteger o patrimônio público, considera-
-se que a ofensa é dirigida, sobretudo, contra o patrimônio do povo, perturbando o
bem-estar social e o seu poder econômico, pelo assalto ganancioso dos infratores.

4. CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

Com exceção dos artigos 279 e 281, já revogados, essas modalidades delitivas
estão previstas nos artigos 267 a 285 do Código Penal, a saber:

4.1 Código Penal

Os artigos 272 a 285 dispõem:


a) falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de substâncias ou produ-
tos alimentícios;
b) fabricação, venda, exposição à venda, importação, depósito para venda,
distribuição ou entrega a consumo, de substância alimentícia ou produto
falsificado, corrompido ou adulterado;
c) falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produtos destinados a
fins terapêuticos ou medicinais ou medicamentos, matérias primas, insumos
farmacêuticos, cosméticos, saneantes e os de uso em diagnósticos;
d) importação, venda, exposição venda, depósito para venda ou distribuição
ou entrega para consumo de produtos, de fins terapêuticos ou medicinais,
ou medicamentos, matérias primas, insumos farmacêuticos, cosméticos,
saneantes e os de uso em diagnósticos, falsificados, adulterados ou alterados;
e) emprego de processo ou substâncias proibidos na fabricação de produtos
destinados a consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria corante,
substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não
expressamente permitida pela legislação sanitária;
f) inculcação, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêu-
ticos ou medicinais, da existência de substâncias não encontradas em seu
conteúdo ou achadas em quantidade inferior à mencionada;

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g) venda, exposição à venda, depósito para venda, entrega a consumo de


produto produzido mediante emprego de processo ou substância proibidos
ou contido em recipiente com invólucro veiculador de falsa indicação;
h) venda, exposição à venda, depósito ou cessão de substância destinada à
falsificação de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais;
i) fabrico, venda, exposição à venda, depósito para venda, entrega a consumo
de coisa ou substância nociva à saúde, ainda. que não destinada à alimen-
tação ou fim medicinal;
j) fornecimento de substância medicinal em desacordo com receita médica;
k) exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica, charlatanismo
e curandeirismo.

4.2 Lei nº 8.137/90

Estabelece a alínea “a” do artigo 7º, inciso IX, da Lei n° 8.137/90 que a venda,
depósito, exposição ou entrega de matéria prima ou mercadoria em condições im-
próprias ao consumo caracteriza crime.

5. CRIMES CONTRA OS DIREITOS TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIOS

Não se pode afirmar que a doutrina nacional tenha dado estatura autônoma
a um verdadeiro “Direito Penal do Trabalho”, muito embora notórias as violações
de conotação criminal, sob diversas naturezas, de que são pacientes a classe dos tra-
balhadores brasileiros. No entanto, essa nomenclatura vem sendo empregada pelos
penalistas europeus desde a primeira metade do século passado - “Diritto Penal dei
Lavoro” dos italianos, “Derecho Penal dei Trabajo” para os espanhóis ou o “Ar-
beitsstrafecht” segundo os germânicos - para designar essa derivação especial do
Direito do Trabalho tradicional.
O Direito Penal do Trabalho pode ser entendido como o ramo do ordenamen-
to jurídico que objetiva tutelar penalmente os direitos conferidos aos trabalhadores
em nível constitucional ou ordinário. No direito brasileiro encontramos essas cons-
truções típicas na legislação codificada e extravagante, a saber:

5.1 Código Penal

Os artigos 132, 149 e 197 até 207 dispõem:


a) perigo à vida ou à saúde de outrem;
b) redução à condição análoga à de escravo;
c) atentado contra a liberdade de trabalho;
1) atentado contra a liberdade de contrato de trabalho e boicotagem
violenta;
2) atentado contra a liberdade de associação;

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3) paralisação de trabalho, seguida de violência ou perturbação da ordem;


4) paralisação de trabalho de interesse coletivo;
5) invasão de estabelecimento industrial, comercial ou agrícola;
6) frustração de direito assegurado por lei trabalhista;
7) frustração de lei sobre a nacionalização do trabalho;
8) exercício de atividade com infração de decisão administrativa;
9) aliciamento para o fim de emigração;
10) aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território
nacional

5.2 Contravenções Penais (Decreto-lei nº 3.688/41)

Na Lei de Contravenções Penais temos:


a) exercício ilegal de profissão ou atividade econômica;
b) exercício ilegal do comércio de coisas antigas, obras de arte, manuscritos e
livros raros ou antigos;
c) infração de determinação legal relativa à matrícula ou à escrituração de
indústria, de comércio, ou de outra atividade.

5.3 Lei nº 7.716, de 05-01-1989


A alínea “a” nos artigos 3º e 4º dispõem impedimento ou embaraço ao empre-
go em empresa privada ou a cargo na Administração Pública (direta, indireta ou em
suas concessionárias), em razão de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional.

5.4 Lei nº 9.029, de 13-04-1995


A alínea “a” do artigo 2º trata da adoção de prática discriminatória e limitativa
para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo,
origem raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade, mediante a exigência de
teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento
relativo à esterilização ou a estado de gravidez e sobre a adoção de quaisquer medi-
das, de iniciativa do empregador, que configurem exigência de teste, exame, perícia,
laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização
genética, bem como o controle de natalidade não autorizado.

6. ESTELIONATO

Ao início do século findo, já escrevia Nelson Hungria que, em substituição à


clássica e violenta criminalidade, surgia agora novas formas de delinquência, onde
“o expoente da improbidade operosa é o architectus fallaciarum, o scroc, o burlão, o
cavalheiro de indústria”. Na verdade assiste-se, hoje, a uma justaposição entre aquela

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criminalidade bárbara e esta outra engenhosa, a fraude, sob todos os mantos, nas
relações interpessoais. Do mesmo expoente mestre pátrio colhe-se que a sagacidade
dos negócios não se constitui em fraude juridicamente ponderável, sendo tolerada,
dentro de certos limites, em homenagem à segurança e estabilidade dos contratos,
havendo, pois, licença para aquela habitual astúcia pela qual se realiza o vulgarmen-
te dito “bom negócio”. O Direito, concluiu ele, nem sempre se apresenta coincidente
com a Moral.
Vários entes típicos previstos no artigo 171 do Código Penal trazem inegável
conteúdo de Direito Penal Econômico porque, quebrantando a boa fé nas relações
negociais, além de lesar o patrimônio privado, colocam ademais em perigo o bem
jurídico maior que é a ordem pública econômica, em especial, quando produzem
“grave prejuízo em interesses econômicos coletivos, como sucede com as grandes
fraudes financeiras e as quebras fraudulentas de sociedades mercantis de grande
importância”, nos seguintes termos:
a) disposição de coisa alheia como própria;
b) alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria;
c) defraudação de penhor;
d) fraude na entrega de coisa;
e) fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
f) fraude no pagamento por meio de cheque:
g) duplicata simulada.

7. CRIMES FISCAIS

O Direito Penal Tributário, ou Fiscal, ou, ainda, para alguns, Direito Penal Fi-
nanceiro, constitui-se, portanto, num ramo do Direito Penal Econômico que busca
tutelar não apenas o crédito do tesouro, “mas todo o complexo de realização dessa
política financeira informada pelo bem comum”.
Naturalmente nem todo ilícito tributário veste a moldura de um tipo penal.
Conforme exposição magistral de PAULO DE BARROS CARVALHO (Curso de
Direito Tributário, p. 346), “o comportamento violador do dever jurídico estabele-
cido em lei tributária pode revestir as características de meras infrações ou ilícitos
tributários, bem como de crimes, fiscais, dessa maneira definidos em preceitos da lei
penal”, isto porque, anota, “entre tais entidades existe uma distinção formal e, atrás
disso, uma grande diferença de regime jurídico, posto que os crimes fiscais estão
subordinados aos princípios, institutos e formas do Direito Penal, ao que as infra-
ções contidas em leis tributárias, de caráter não-criminal, sujeitam-se aos princípios
gerais do Direito Administrativo”.
Orienta EDAMAR OLIVEIRA ANDRADE FILHO (Dos Crimes Fazendá-
rios, Compêndio Teórico e Prático, p. 95) que “veiculada no bojo de normas que
buscavam criar mecanismos de proteção às relações de consumo, num período eco-
nômica e politicamente conturbado, veio a lume a Lei nº 8.137, de 27-12-1990, que
ao revogar a Lei nº 4.729/65, pretendeu, mais uma vez, reprimir a evasão tributária”.

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Abstraem-se do citado diploma as seguintes condutas delitivas:


a) supressão ou redução de tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante:
1) omissão de informação ou prestação de informação falsa às autoridades
fazendárias;
2) fraude à fiscalização tributária pela inserção de elementos inexatos ou
omissão de operação de qualquer natureza, em documento ou livro
exigido pela lei fiscal;
3) falsificação ou alteração de nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda,
ou qualquer documento relativo à operação tributária;
4) elaboração, distribuição, fornecimento, emissão ou utilização de
documento falso ou inexato;
5) negativa ou omissão de fornecimento de nota fiscal, ou documento
equivalente, relativos à venda de mercadoria ou prestação de serviço;
6) omissão de recolhimento de tributo ou contribuição social, descontado
ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria
recolher aos cofres públicos;
7) exigência, pagamento ou recebimento, para si ou para o contribuinte
beneficiário, de qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou
deduzido de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;
8) não aplicação, ou aplicação indevida, de incentivo fiscal ou parcelas de
imposto liberadas por órgãos ou entidade de desenvolvimento;
9) utilização ou divulgação de programas de processamento de dados que
permitam ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação
contábil diversa da fornecida à Fazenda Pública;

8. FRAUDE À PREVIDÊNCIA SOCIAL

Embora fincado no título dos crimes contra o patrimônio, a apropriação indé-


bita previdenciária tem por objetividade jurídica não o patrimônio individual, mas
sim “o patrimônio de todos os cidadãos que fazem parte do sistema previdenciário”.
O artigo “168-A”, introduzido pela Lei 9.983, de 14-07-2000, passou a veicular
as seguintes infrações penais:
a) omissão de repasse à Previdência Social das contribuições recolhidas dos
contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional;
b) omissão de recolhimento, no prazo legal, de contribuição ou outra
importância destinada à Previdência Social que tenha sido descontada de
pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
c) omissão de recolhimento de contribuições devidas à Previdência Social
que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de
produtos ou prestação de serviços;

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d) omissão de pagamento de benefício devido a segurado, quando as respecti-


vas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdên-
cia Social.

9. CRIMES FALIMENTARES

A Lei de Falências, Lei nº 11.101, de 09-02-2005, que disciplina a recuperação


judicial, extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, ao revo-
gar o Decreto-lei nº 7.661/45, trouxe, em seu capítulo VII, as disposições de natureza
penal, alinhando várias espécies de crimes:
a) fraude a credores: prática - antes ou depois da sentença que decretar a
falência, conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação
extrajudicial - de ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo
aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou
para outrem;
b) violação de sigilo empresarial: violação, exploração ou divulgação, sem
justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou
serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade
econômica ou financeira;
c) divulgar ou propalar informações falsas: por qualquer meio, sobre devedor
em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter
vantagem;
d) indução a erro: sonegação ou omissão de informações ou prestação de
informações falsas no processo de falência, de recuperação judicial ou de
recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o Ministério
Público, os credores, a assembleia-geral de credores, o Comitê ou o
administrador judicial;
e) favorecimento de credores: prática - antes ou depois da sentença que
decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar plano de
recuperação extrajudicial - de ato de disposição ou oneração patrimonial
ou gerador de obrigação, destinado a favorecer um ou mais credores em
prejuízo dos demais;
f) desvio, ocultação ou apropriação de bens: apropriação, desvio ou ocultação
de bens pertencentes ao devedor sob recuperação judicial ou à massa falida,
inclusive por meio da aquisição por interposta pessoa;
g) aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens: aquisição, recebimento ou
uso ilícito de bem que sabe pertencer à massa falida; influência para que
terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou use;
h) habilitação ilegal de crédito: apresentação, em falência, recuperação judicial
ou recuperação extrajudicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou
reclamação falsa ou juntar a ela de título falso ou simulado;

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i) exercício ilegal de atividade: exercício de atividade para a qual foi inabilitado


ou incapacitado por decisão judicial;
j) violação de impedimento: especulação para lucro ou aquisição pelo
juiz, representante do Ministério Público, administrador judicial, gestor
judicial, perito, avaliador, escrivão, oficial de justiça ou leiloeiro, por si ou
por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação
judicial;
k) omissão dos documentos contábeis obrigatórios: omissão na elaboração,
escrituração ou autenticação - antes ou depois da sentença que decretar
a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de
recuperação extrajudicial- dos documentos de escrituração contábil
obrigatórios.
Pela redação da nova Lei de Falências, a sentença que decreta a falência, con-
cede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial constitui condi-
ção objetiva de punibilidade das infrações penais ali descritas. Anote-se, por fim, a
existência de distinção doutrinária entre crime falimentar próprio (em que autor do
delito é o falido) e o crime falimentar impróprio para todos os demais casos típicos.

10. MALVERSAÇÃO DE FUNDOS PÚBLICOS (Improbidade em geral e fraudes


em licitações públicas)

No Direito Penal pátrio encontra-se inúmeros tipos criminalizando condutas


que, de uma forma ou de outra, implicam no exercício indevido da função pública
para, malversando ou desviando os fundos do erário, locupletar o agente ou be-
neficiar outrem, em prejuízo da comunidade nacional, federativa ou local. Sem se
esgotar o rol de infração penal, invoca-se as seguintes:

10.1 Código Penal

Os artigos 312 até 327 dispõem:


a) peculato;
b) inserção de dados falsos em sistema de informações;
c) modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações;
d) extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento;
e) emprego irregular de verbas ou rendas públicas;
f) concussão;
g) excesso de exação;
h) corrupção passiva e ativa;
i) facilitação de contrabando ou descaminho;
j) prevaricação;
k) condescendência criminosa;

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l) advocacia administrativa;
m) violação de sigilo funcional;
n) crimes contra as finanças públicas (art. 359):
1) contratação de operação de crédito;
2) inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar;
3) assunção de obrigação no último ano do mandato ou legislatura;
4) ordenação de despesa não autorizada;
5) prestação de garantia graciosa;
6) não cancelamento de restos a pagar;
7) aumento de despesa total com pessoal no último ano do mandato ou
legislatura;
8) oferta pública ou colocação de títulos no mercado sem criação ou
registro regulares.

10.2. Crimes contra regularidade das licitações e contratos da Administração Pública


(Lei 8.666, de 21-06-1993, arts. 89-98)
a) dispensa ou inexigência indevidas de licitação;
b) modificação ou vantagem indevida em favor de adjudicatário durante
execução dos contratos celebrados;
c) impedimento, perturbação ou fraude à realização de qualquer ato de
procedimento licitatório;
d) devassa do sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório ou
favorecimento da devassa a terceiro;
e) afastamento de licitante por meio de violência, grave ameaça, fraude ou
oferecimento de vantagem de qualquer tipo;
f) fraude, em prejuízo da Fazenda Pública, de licitação instaurada para
aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente:
1) elevando arbitrariamente os preços;
2) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou
deteriorada;
3) entregando uma mercadoria por outra;
4) alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria forne­
cida;
5) tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta
ou a execução do contrato;
g) admissão à licitação de ou celebração de contrato com empresa ou
profissional declarado inidôneo;
h) impedimento ou embaraço de inscrição de interessado nos registros cadas-
trais ou promoção indevida de alteração, suspensão ou cancelamento e re-
gistro do inscrito.

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11. RECICLAGEM DE CAPITAIS

RAUL CERVINI (Criminalidad Organizada y Lavado de Dinero-Criminalida-


de Moderna e Reformas Penais, André Copetti (org.), p.79-80) expõe que “diversos
filtros estruturais de tipo econômico e social, em nível nacional e internacional, e
outros de caráter operativo, outorgam a cenografia apropriada para dificultar a in-
dividualização, prevenção e repressão aos processos de lavagem de dinheiro e outras
formas de extradelinquência. Estes entraves alcançam tanto as autoridades como
as corporações financeiras. Dentro desse panorama irrefutável, resulta proveitoso
denunciar a existência de uma rede de intercâmbios e apoios recíprocos, que com
extrema sofisticação, e prevalecendo-se dessas mesmas condições, funciona entre os
diversos grupos e subgrupos delitivos organizados”.
Em primeiro lugar, compromete-se a livre concorrência entre as empresas, pela
presença de operadores financeiros que, beneficiando-se de tais proventos, não têm,
necessariamente, que recorrer aos canais legítimos de financiamento, por exemplo, o
crédito bancário. Em segundo lugar, as empresas criminosas prescindem das regras
de mercado para conseguir seus lucros, logrando assumir uma posição dominante
no mercado, sem sujeição aos rígidos princípios econômicos aos quais se submetem
as empresas legalmente operantes.
De fato, um efeito reflexo, igualmente danoso, da criminalidade organizada
consiste na contaminação dos mercados lícitos com o ingresso de caudais de re-
cursos provenientes de atividades delitivas, tolhendo a iniciativa dos empresários já
operantes, o surgimento de novas empresas e a vinda de empreendimentos estran-
geiros, além de importar no fechamento das empresas legais.
Os investidores do capital “sujo” podem apropriar-se progressivamente do
mercado, fazendo que os produtores que desenvolvem suas atividades nos patama-
res da legalidade tenham suas posições gravemente afetadas, restando marginaliza-
dos ou excluídos do tráfico mercantil lícito, motivo por que a propriedade de se falar
em fenômeno danoso de tez econômica e, também, criminal.
Não se ignora que a utilização do sistema bancário e financeiro para reciclar os
benefícios obtidos das mais diversas atividades delitivas foi uma prática difundida e
impune durante largos anos, praticamente em todo o mundo.
Partindo de certa cumplicidade do sistema financeiro, tornou-se possível a
transformação de capitais de origem ilícita, oriundos do cometimento de delitos
graves, em recursos isentos de suspeita, através de numerosos procedimentos, aber-
tura de contas inominadas ou secretas, fragmentação do capital em múltiplas contas
de reduzidos saldos para unificação posterior, aquisição de metais nobres e outros
objetos de valor, financiamento de empresas que operam com dinheiro em espécie
(v.g. companhias de seguro), investimento de capital em empresas sediadas nos de-
nominados “paraísos fiscais” etc.
No Brasil, as condutas relacionadas com a reciclagem de capitais espúrios são
tipificadas na Lei 9.613, de 03-03-1998, alterada pela Lei 10.701, de 09-07-2003,
que incrimina a ocultação ou dissimulação, por vários mecanismos ali descritos, da
natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens,

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crimes graves (tráfico


de entorpecentes, terrorismo, extorsão mediante sequestro, bem como delitos contra
a Administração Pública, o sistema financeiro nacional e aqueles perpetrados por
organizações criminosas).

12. RECEPTAÇÃO
A receptação apresenta-se como manutenção ou, pior, como segurança e agra-
vação de uma situação patrimonial ilícita, pois “acrescenta-se ao dano já efetuado,
pressupõe-no segundo o seu próprio conceito e coloca a coisa subtraída ainda mais
longe do poder de dispor por parte do dono”.
Merece ela tratamento legal no artigo 180 de nosso estatuto penal, com a des-
crição das figuras simples, qualificada, privilegiada e culposa.

13. CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL


É de ALEXANDRE DIAS PEREIRA (Franz Von Liszt, Tratado de Direito
Penal Alemão, tomo II, p. 265), jurista lusitano, o ensinamento de que “os direitos
sobre obras literárias e artísticas, prestações conexas, programas de computador,
bases de dados criativas, patentes, modelos de utilidade, modelos e desenhos indus-
triais, marcas, recompensas, nomes e insígnias de estabelecimentos são consi­derados
pelo legislador como bens dignos de tutela jurídico-penal. O mesmo vale para os
segredos de comércio e indústria. Na concorrência desleal não é certo qual o bem
que se protege (um direito à lealdade da concorrência? Os usos honestos da concor-
rência? A concorrência em si? As empresas?)”.

13.1 Crimes contra a propriedade intelectual (Código Penal, art. 184)


Justifica-se, hoje, com muito mais razão, a intervenção do Direito Penal na
proteção da propriedade intelectual, haja vista que o desenvolvimento de novas
tecnologias, em especial a informática, tornou mais fáceis as reproduções de docu-
mentos, imagens, sons etc, ocasionando alcance de meios cada vez. mais eficazes de
ofensa a esse bem jurídico (abrigado tanto no âmbito do direito à propriedade pri-
vada quanto no de livre criação artística, ambos assegurados constitucionalmente).

13.2 Crimes contra a propriedade industrial (Lei nº 9.279, de 14-05-1996)


O bem jurídico protegido é a marca de indústria, que consiste, nas palavras
de GALDINO SIQUEIRA (Tratado de Direito Penal, parte especial, tomo II, p.
394), “em sinal gráfico ou figurativo, indicativo de proveniência originária do pro-
duto, a saber, o seu fabricante ou produtor, o estabelecimento onde foi produzido, a
localidade ou região da sua proveniência; é a marca de comércio, quando assinala
a procedência comercial da mercadoria, isto é, qual o comerciante que a vendeu”.
Há quem aponte visível identidade, quanto à fundamentação e legitimidade,
entre a proteção da propriedade comum e a da propriedade industrial, a primeira
tendo por objeto os bens materiais e, esta, bens imateriais.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Segundo a Lei nº 9.279, de 14-05-1996, a proteção dos direitos relativos à pro-


priedade industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnoló-
gico e econômico do País, efetua-se mediante: a) concessão de patentes de invenção
e de modelo de utilidade; b) concessão de registro de desenho industrial; c) conces-
são de registro de marca; d) repressão às falsas indicações geográficas; e) repressão
à concorrência desleal.

13.2.1 Crimes contra as patentes


a) fabricação de produto que seja objeto de patente de invenção ou de modelo
de utilidade, sem autorização do titular;
b) uso de meio ou processo que seja objeto de patente de invenção, sem
autorização do titular;
c) exportação, venda, exposição ou oferta à venda, manutenção em estoque,
ocultação ou recebimento, para utilização com fins econômicos, produto
fabricado com violação de patente de invenção ou de modelo de utilidade,
ou obtido por meio ou processo patenteado;
d) importação de produto que seja objeto de patente de invenção ou de modelo
de utilidade ou obtido por meio ou processo patenteado no País, para os
fins previstos no inciso anterior, e que não tenha sido colocado no mercado
externo diretamente pelo titular da patente ou com seu consentimento;
e) fornecimento de componente de um produto patenteado, ou material ou
equipamento para realizar um processo patenteado, desde que a aplicação
final do componente, material ou equipamento induza, necessariamente, à
exploração do objeto da patente.

13.2.2 Crimes contra os desenhos industriais


a) fabricação, sem autorização do titular, de produto que incorpore desenho
industrial registrado, ou imitação substancial que possa induzir em erro ou
confusão;
b) exportação, venda, exposição ou oferta à venda, tem em estoque, oculta
ou recebe, para utilização com fins econômicos, objeto que incorpore
ilicitamente desenho industrial registrado, ou imitação substancial que
possa induzir em erro ou confusão;
c) importação de produto que incorpore desenho industrial registrado no País,
ou imitação substancial que possa induzir em erro ou confusão, para os fins
previstos no inciso anterior, e que não tenha sido colocado no mercado
externo diretamente pelo titular ou com seu consentimento.

13.2.3 Crimes contra registro de marca


a) reprodução ou imitação, sem autorização do titular, no todo ou em parte,
de marca registrada;

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

b) alteração de marca registrada de outrem já aposta em produto colocado no


mercado;
c) importação, exportação, venda, oferta ou exposição à venda, ocultação ou
manutenção em estoque de: a) produto assinalado com marca ilicitamente
reproduzida ou imitada, de outrem, no todo ou em parte; b) produto de sua
indústria ou comércio, contido em vasilhame, recipiente ou embalagem que
contenha marca legítima de outrem;

13.2.4 Crimes por meio de marca, título de estabelecimento e sinal de propaganda

a) reprodução ou imitação, venda ou exposição à venda, de modo que possa


induzir em erro ou confusão, de armas, brasões ou distintivos oficiais
nacionais, estrangeiros ou internacionais, sem a necessária autorização, no
todo ou em parte, em marca, título de estabelecimento, nome comercial,
insígnia ou sinal de propaganda, ou uso dessas reproduções ou imitações
com fins econômicos.

13.2.5 Crimes contra indicações geográficas e demais indicações

a) fabricação, importação, exportação, venda, exposição ou oferta à venda,


ou manutenção em estoque, de produto que apresente falsa indicação
geográfica;
b) uso, em produto, recipiente, invólucro, cinta, rótulo, fatura, circular, cartaz
ou em outro meio de divulgação ou propaganda, de termos retificativos, tais
como “tipo”, “espécie”, “gênero”, “sistema”, “semelhante”, “sucedâneo”,
“idêntico”, ou equivalente, sem ressalva à verdadeira procedência do
produto;
c) uso de marca, nome comercial, título de estabelecimento, insígnia, expressão
ou sinal de propaganda ou qualquer outra forma que indique procedência
que não a verdadeira, ou vender ou expor à venda produto com esses sinais.

13.2.6 Crimes de concorrência desleal

a) publicação, por qualquer meio, de falsa afirmação, em detrimento de


concorrente, com o fim de obter vantagem;
b) prestação ou divulgação, acerca de concorrente, de falsa informação, com o
fim de obter vantagem;
c) emprego de meio fraudulento, para desviar, em proveito próprio ou alheio,
clientela de outrem;
d) uso de expressão ou sinal de propaganda alheios, ou imitação destes, de
modo a criar confusão entre os produtos ou estabelecimentos;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

e) uso indevido de nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia


alheios ou venda, exposição ou oferta à venda ou manutenção em estoque
de produto com essas referências;
f) substituição, pelo seu próprio nome ou razão social, em produto de outrem,
do nome ou razão social deste, sem consentimento;
g) atribuição a si, como meio de propaganda, de recompensa ou distinção que
não obteve;
h) venda ou exposição ou oferta à venda, em recipiente ou invólucro de outrem,
de produto adulterado ou falsificado, utilização deste para negociar com
produto da mesma espécie, embora não adulterado ou falsificado, se o fato
não constitui crime mais grave;
i) destinação ou promessa de dinheiro ou outra utilidade a empregado
de concorrente, para que o empregado, faltando ao dever do emprego,
proporcione vantagem ao ofertante;
j) recebimento de dinheiro ou outra utilidade, ou aceite de promessa de paga
ou recompensa, para, faltando ao dever de empregado, proporcionar
vantagem a concorrente do empregador;
k) divulgação, exploração ou utilização, sem autorização, de conhecimentos,
informações ou dados confidenciais, utilizáveis na indústria, comércio ou
prestação de serviços, a que teve acesso mediante relação contratual ou
empregatícia, mesmo após o término do contrato;
l) divulgação, exploração ou utilização, sem autorização, de conhecimentos
ou informações obtidos por meios ilícitos ou aos quais se teve acesso
mediante fraude;
m) venda, exposição ou oferta à venda de produto, com declaração de se tratar
de objeto de patente depositada, ou concedida, ou de desenho industrial
registrado, que não o seja, ou menção, em anúncio ou papel comercial,
como depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser;
n) divulgação, exploração ou utilização, sem autorização, de resultados de
testes ou outros dados não divulgados, cuja elaboração envolva esforço
considerável e que tenham sido apresentados a entidades governamentais
como condição para aprovação de comercialização de produtos.

14. CRIMES CAMBIÁRIOS

Compreendem-se, sob essa epígrafe, não somente as disposições penais a res-


peito do câmbio de moedas (genuínas ou autênticas), da fraude de divisas e do con-
trole dos meios de pagamento internacionais, mas também aquelas relativas à cam-
bial e ao cheque, à nota promissória e ao cheque circular, aos valores mobiliários e
ao warrant, à duplicata mercantil, ao conhecimento de depósito etc.
Na Lei nº 1.521/51, antes referida, existe, na alínea “a”, de seu artigo 4°, uma
conduta usurária que implica em cobrança de ágio superior à taxa oficial de câmbio,
sobre quantia permutada por moeda estrangeira.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Como ressalvado, não se identificam os delitos cambiários com os crimes re-


lativos à falsificação de moeda falsa e que, tratados nos arts. 289-291 do Código
Penal, mantêm indisfarçável conexão com a criminalidade econômica, não só pela
ampla potencialidade patrimonial lesiva mas igualmente pelo abalo possível à cre-
dibilidade depositada sobre o material que compõe nosso meio circulante (cédulas
e moedas metálicas).

15. DELITOS SOCIETÁRIOS (Código Penal, art. 177)

No artigo 177 do CPB estão concentradas as figuras típicas relativas às fraudes


e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações (aquelas em que
o capital é fracionado em títulos denominados “ações”), cuja disciplina legal vem
dada pela Lei nº 6.404, de 15-12-1976, alterada pela Lei nº 10.303, de 31-10-2001.
As sociedades por ações desdobram-se em sociedades anônimas e em sociedades em
comandita por ações, ambas sob tutela penal.
Importante ressaltar que as figuras típicas do artigo sob comento apresen-
tam caráter nitidamente subsidiário, devendo ser afastada sua incidência quando,
demonstrada a lesão ou perigo à economia popular, buscar-se o enquadramen-
to penal na Lei nº 1.521/51. Reconhece MAGALHÃES NORONHA3 que não é
simples diferenciar a “economia do povo” das “pequenas economias de um gran-
de, extenso e indefinido número de pessoas”. E explica: “se a lesão real ou poten-
cial atinge apenas a uma ou duas dezenas de pessoas ricas ou de magnatas que
subscreveram todo o capital social, cremos que muito maior delito poderia ser
considerado contra a economia do povo. Ao contrário, se a subscrição fosse fei-
ta por avultado e extenso número de pessoas que, com seus minguados recursos,
subscreveram uma ou outra ação, a ofensa patrimonial seria dirigida contra a eco-
nomia popular”.

16. CRIMES DE INFORMÁTICA

A aplicação dos recursos da informática teve, sem dúvida, na Economia seu


campo mais fértil, daí decorrendo um número muito grande de questões relaciona-
das ao uso do computador como meio de exercício das complexas atividades eco-
nômicas e financeiras, algumas de matiz penal que ensejaram a moderna figura da
“criminalidade informática”, propiciada pela “tramitação automatizada de negó-
cios e os telepagamentos por redes de computadores; o direito do processamento
eletrônico de dados (e aqui, em especial, o direito do contrato do processamento ele-
trônico de dados); a proteção jurídica do software e dos bancos de dados; finalmente
o direito do indivíduo à consulta dos dados que lhe digam respeito, a proteção de
dados e o direito de co-gestão da informação”.

3 NORONHA, Magalhães. Direito Penal, vol. II, p. 459

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Na cibernética, o importante é delimitar as condutas delitivas em grupos bem


distintos, a saber:
a) crimes cometidos contra elementos informáticos:
1) físicos (hardware, integrados por teclados, monitores, terminais, dis-
quetes, discos rígidos, placas de circuitos etc). Quaisquer desses elemen-
tos podem constituir-se em coisa móvel e, portanto, figurar como objeto
material dos clássicos delitos patrimoniais, em especial, furto, roubo,
apropriação indébita, dano etc.
2) lógicos (software, conformada basicamente pelos arquivos automáticos
nos quais se concentra o complexo operativo - responsável pelo controle
do sistema e pela realização de operações elementares - , os programas
ou aplicativos em geral, bem como os dados de quaisquer naturezas
armazenados pelo usuário em sua máquina). Esses arquivos são nada
mais que um fluxo eletromagnético de informações, idéias ou instruções,
contidas num meio cujo acesso é processado eletronicamente.
Recaindo a ação criminosa sobre os denominados “arquivos de programas”,
salvo existente liberalidade do autor para uso (nas figuras do freeware ou sharewa-
re), ocorre a tipificação de crimes contra a propriedade intelectual, nos termos do
art. 12, da Lei 9.609, de 19-02-1998. Falar-se-ia, então, na proteção autoral de bens
informáticos (programas de computador e bases de dados).
Se os arquivos, no entanto, não consistirem de “programas” - aqui entendidos
no sentido amplo, como sequência de instruções para realizar determinada tarefa
no sistema de informática - afasta-se a ofensa ao direito autoral para se configurar,
eventualmente, um delito de dano, no caso de a conduta ilícita de acesso indevido
(obrigatoriamente com alteração ou inutilização da gravação original) recair sobre
dados de interesse do criador do arquivo (textos, imagens, sons etc).
Ocorrente o mero acesso desautorizado, com a simples leitura (sem posterior
uso) dos arquivos alheios, não sendo concomitantes ou subsequentes à “invasão” a
modificação ou destruição dos dados neles armazenados, inexistirá conduta típica
penal a tratar.
Assevere-se que, existindo uma cópia de segurança (“back up”), o delito restará
circunscrito apenas à esfera da tentativa, porquanto os dados subsistirão incólumes
no segundo arquivo (formado exatamente com a finalidade de precatar-se o utente
contra danos ou alterações indesejados). Parece-nos, defensável, ainda, a tese do
crime impossível nesse caso.
Ressalte-se que a intrusão indevida poderá, ainda, importar em verdadeiros
crimes contra os direitos autorais, violação de segredos, divulgação de material obs-
ceno ou pornográfico (inclusive de crianças ou adolescentes) a depender do conte-
údo dos arquivos ilicitamente acessados e, depois, por qualquer forma, utilizados,
distribuídos ou destruídos.
b) crimes praticados através do sistema informático, isto é, infrações penais
que não têm os recursos da informática como seu objetivo material, mas
sim como meio de perpetração. As fraudes cometidas através do sistema

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informático, favorecidas pela informatização progressiva das operações


financeiras, comerciais e de crédito (a chamada transferência eletrônica
de fundos), são produzidas normalmente pela introdução de dados falsos
ou alterações dos programas, que determinam a realização automática de
transferências bancárias, ingressos ou reconhecimento de créditos em favor
de quem realiza a manipulação. Como ressalta JUAN JOSÉ GONZÁLEZ
RUS (Revista del Consejo General del Poder Judicial, número especial IX,
p. 48) “o meio empregado e a atuação sobre máquinas e não pessoas, com
a agravante de se cuidar de elementos não corpóreos, faz surgir a dúvida
sobre as possibilidades que oferecem as atuais figuras delitivas, mormente
aquelas ínsitas de nosso sexagenário Código Penal, para tipificar esses
comportamentos e, neste caso, quais possibilidades de interpretação sem
tanger a vedada analogia “in malam partem”.
A inquietude doutrinária, hoje, assenta na necessidade, ou não, de criação de
tipos penais específicos para as condutas ilícitas em consideração ao seu meio infor-
mático de cometimento. Fica-se com MONTANO GOMÉZ (Delitos Informáticos
y los Tipos que Exigem Cosa Ajena Mueble, in Justiça Penal 7, Críticas e Sugestões,
p.339), que não vislumbra uma nova categoria delitiva, mas sim a irrupção de um
novo modelo tecnológico que agitou o sistema penal ao tomá-la de surpresa. Como
relembra ele, a aplicação de tipos preexistentes a fenômenos tecnolóqicos inova-
dores e revolucionários não é nova na história do Direito Penal, tendo ocorrido,
por exemplo, com a energia elétrica e com a utilização de aparatos mecânicos. Para
maior objetividade, ficamos ainda com VICENTE GRECO FILHO (Algumas ob-
servações sobre o Direito Penal, v.8, nº 95 esp., p.3, out. 2000) que, dissertando sobre
este tema, conclui que devemos deixar o Direito Penal em paz, porque, mesmo nesta
seara “virtual”, está ele perfeitamente apto a atender à proteção dos direitos básicos
das pessoas.

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Capítulo XIV
DOCUMENTOS E ATOS
RELATIVOS AO ESCRIVÃO DE POLÍCIA

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Participação do Escrivão de Polícia na ela-


boração dos atos de Polícia Judiciária; 3. Termos privativos do Escrivão de Polícia; 3.1
Autuação; 3.2 Recebimento; 3.3 Conclusão; 3.4 Data; 3.5 Certidão; 3.6 Juntada; 3.7
Desentranhamento; 3.8 Remessa; 3.9 Apensamento; 3.10 Vista; 3.11 Termo de encerra-
mento;3.12 Termo de abertura; 4. O Escrivão de Polícia como depositário necessário;
4.1 Guarda de Inquéritos policiais e de outros bens; 5. Competência do Escrivão de
Polícia para autenticar documentos; 6. Conclusão; 7. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Nas questões de Polícia Judiciária, tudo o que não se inicia e não termina em
cartório pelas mãos do Escrivão de Polícia, simplesmente não existe. Essa assertiva
resume a importância do trabalho afeto ao ocupante desse nobre ofício, como suge-
re o lema da laboriosa classe sine notario nihil rerum in perpetuam memoriam, que do
latim se traduz sem o escrivão nada se perpetua.
Com efeito, não há como deixar de admitir que grande parte dos atos da fase
pré-processual da persecução penal é executada pelo Escrivão de Polícia, sem falar
das tarefas próprias da atividade de polícia administrativa que, em boa parte, tam-
bém lhe competem.
O Escrivão de Polícia é um técnico profissionalmente especializado. O produto
final do seu trabalho, o Inquérito Policial, elaborado sob a presidência da autorida-
de policial, com o concurso de outros servidores, é peça ímpar, cronologicamente
ordenada e concebida sob a égide da praxe forense.
Oportuno ressaltar, igualmente, o trabalho que o Escrivão de Polícia executa
na elaboração de processos administrativos, ocasião em que assume a condição de
secretário da unidade Processante Permanente ou Especial.

2. PARTICIPAÇÃO DO ESCRIVÃO DE POLÍCIA NA ELABORAÇÃO DOS


ATOS DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

No momento em que a notícia de um fato delituoso chega a uma delegacia,


começa o trabalho do Escrivão de Polícia, com a elaboração dos primeiros regis-
tros. A partir daí, na sequência da apuração, seja qual for a decisão da autoridade
policial em face do ocorrido, a ele caberá elaborar o ato seguinte, e prosseguir até a
conclusão do feito, sempre sob a presidência do Delegado de Polícia.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nessa trajetória, surgem os procedimentos formais do inquérito, os autos, os


termos, os despachos interlocutórios, através dos quais formaliza os atos determina-
dos pela autoridade no curso da persecução penal na esfera policial.
Assim, fica clara a sua participação na elaboração dos atos de Polícia Judi-
ciária, do início ao término do Inquérito Policial. O Código de Processo Penal, ao
tratar da matéria, dispõe, em vários dos seus artigos, a respeito dos procedimentos
afetos ao Escrivão de Polícia.

3. TERMOS PRIVATIVOS DO ESCRIVÃO DE POLÍCIA

A movimentação do Inquérito Policial é feita de forma ordenada, através dos


termos privativos do Escrivão de Polícia, conhecidos como termos de movimento.
De cunho enunciativo e com a presunção de verdade, esses termos são a autuação,
o recebimento, a conclusão, a data, a certidão, a juntada, o desentranhamento, a
remessa, o apensamento, a vista, a abertura e o encerramento.

3.1 Autuação

Autuação é o termo inicial do inquérito, lavrado na primeira folha dos autos,


que lhe serve de capa, na qual também constam o nome do Escrivão de Polícia, a
natureza da infração, o autor da ação e os nomes da vítima e do indiciado bem como
campo destinado para registro do feito. (modelo 1)

3.2 Recebimento

É o termo em que o Escrivão de Polícia registra a entrega que lhe é feita em car-
tório, dos autos de inquérito, quando estes provêm de outra autoridade. (modelo 2)

3.3 Conclusão

É o termo ato através do qual o Escrivão de Polícia submete o inquérito a exa-


me e despacho da autoridade que o preside. (modelo 3)

3.4 Data

É o termo que assinala a tramitação do inquérito, da autoridade que o preside


ao Escrivão de Polícia que nele funciona, para cumprimento de determinação exa-
rada em despacho interlocutório. (modelo 4)

3.5 Certidão

É o termo pelo qual o Escrivão de Polícia faz consignar no inquérito, de modo


a fazer fé, o cumprimento de ordem legal emanada do Delegado de Polícia, ou, se
for o caso, informa o motivo porque não a pode cumprir. (modelos 5 e 6)

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3.6 Juntada

Através desse termo o Escrivão de Polícia registra a anexação ao inquérito,


mediante prévio despacho do Delegado de Polícia, de qualquer documento ou peça
que deva instruí-lo. (modelo 7)

3.7 Desentranhamento

É o termo através do qual o Escrivão de Polícia em cumprimento à determina-


ção da autoridade, certifica haver retirado dos autos determinado documento que
deva ser objeto de qualquer diligência fora do inquérito, ou que nele esteja indevi-
damente. (modelo 8)

3.8 Remessa

Através desse termo o Escrivão de Polícia consigna, de forma a que fique com-
provado, o envio do inquérito a Juízo ou a outra autoridade policial.
Quando existirem armas ou quaisquer outros objetos que devam acompanhar
o feito, é imperioso fazer constar do termo de remessa essa circunstância, de manei-
ra discriminada. (modelo 9)

3.9 Apensamento

É um termo que sempre encerra dualidade: apensamento nos autos princi-


pais e apensamento dos autos apensados. Apensar significa juntar, anexar. Portanto,
ocorre quando o escrivão insere um procedimento no outro, lavrando o termo em
ambos. (modelos 10 e 11)

3.10 Vista

Conquanto seja mais comum em procedimentos administrativos, o Escrivão


de Polícia lavra o termo de vista para permitir que a parte interessada, ou seu ad-
vogado, tenha acesso aos autos, em cartório, podendo fazer anotações do que lhe
convier. (modelo 12)

3.11 Termo de encerramento

Dá-se por determinação da autoridade, quando o inquérito atinge o número


de 200 (duzentas) folhas e precisa ser dividido em volumes. No termo, que é lavrado
na última folha do volume, o Escrivão de Polícia informa com quantas folhas o en-
cerra, fazendo alusão à abertura do seguinte, na mesma data.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

3.12 Termo de abertura

Uma vez encerrado o primeiro volume, o Escrivão de Polícia abre o segundo,


na mesma data, com termo lavrado em sua primeira folha, que passa a ter o número
sequencial, incluindo nova capa de autuação. A Resolução SSP 198/83, em seu art.
5º, § 1º, recomenda que cada volume deva conter 200 (duzentas) folhas.

4. O ESCRIVÃO DE POLÍCIA COMO DEPOSITÁRIO NECESSÁRIO

Paralelamente às suas inúmeras atribuições, o Escrivão de Polícia, por força do


que dispõe o parágrafo único do artigo 331 do Código de Processo Penal, assume a
condição de depositário necessário, quando recebe o valor da fiança exibida para,
no prazo de 3 (três) dias, dar a ele o destino previsto na lei. É certo que o dispositivo
legal ressalva que essa incumbência só prevalece “nos lugares em que o depósito não
se puder fazer de pronto...”.
Seja como for, trata-se de mais um munus que corrobora a importância e a
responsabilidade que a função do cargo encerra.

4.1 GUARDA DOS INQUÉRITOS POLICIAIS E DE OUTROS BENS

Consoante o Decreto nº 4.405-A, de 17 de abril de 1928, que instituiu o Regu-


lamento Policial do Estado de São Paulo, ainda parcialmente em vigor, e no que se
refere à competência do Escrivão de Polícia, destaca-se, respectivamente, nos incisos
IV, V e VI do artigo 113, entre outras atribuições: “arrolar, em um livro de inven-
tário, todos os folhetos, leis, regulamentos, livros, móveis e tudo o que pertença à
delegacia, bem como os autos e outros documentos que tenham de ser arquivados,
organizando em ordem o respectivo arquivo”; “ter um livro de carga e descarga
de remessa de autos, conclusões finais dos inquéritos, ofícios, documentos e mais
papéis”; “praticar todos os deveres profissionais inerentes ao cargo, observando a
praxe forense”.
Posteriormente, o Decreto nº 47.788, de 2 de março de 1967, confere ao Escri-
vão de Polícia a elaboração e organização de inquéritos policiais, sob a orientação
direta do Delegado de Polícia, atribuindo-lhe também a guarda e conservação de
móveis e material de escritório.
O Código de Processo Penal, em seu artigo 331, parágrafo único, dá ao Escri-
vão de Polícia a condição de depositário necessário, quando recebe o valor da fiança
arbitrada para que, no prazo de 3 (três) dias, efetue seu recolhimento aos cofres
públicos.
Em relação à apreensão, exibição e destino dos bens, relacionados com o fato
em apuração, o Código de Processo Penal atribui ao Escrivão de Polícia responsa-
bilidade pela guarda e encaminhamento dos objetos, o mesmo ocorrendo adminis-
trativamente.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5. COMPETÊNCIA DO ESCRIVÃO DE POLÍCIA PARA AUTENTICAR


DOCUMENTOS

O despacho normativo datado de 26/7/78 do Secretário da Segurança Pública,


exarado no Processo GS nº 4.536/78, aprovou o Parecer nº 232, da Consultoria Jurí-
dica da Pasta, no sentido de que compete aos funcionários públicos “entre os quais
os Escrivães de Polícia”, tão somente a autenticação de cópias daqueles documentos
cujos originais, em razão de seus cargos, encontrem-se em seu poder. A parte final
do documento diz, textualmente “... Portanto, se um documento se encontrar em
cartório policial e for necessária a sua reprodução, o respectivo Escrivão de Polícia
autenticará a fotocópia, especificando que confere com o original em seu poder...”

6. CONCLUSÃO

Na conclusão deste Capítulo, cabe repetir as palavras do saudoso Escrivão de


Polícia Augusto Mondin, em sua monumental obra Manual de Inquérito Policial,
na 6ª edição, pela Editora Sugestões Literárias S.A. de São Paulo, no ano de 1967,
na página 24, menciona, ao tratar da natureza especialíssima do serviço policial:
“que o funcionário policial desconhece horário, condições climatéricas, distâncias,
riscos. Não recua diante do desconforto. Não lhe é lícito esmorecer. Se o êxito lhe
sorri, a íntima satisfação é a sua recompensa...”

7. MODELOS

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELOS DE TERMOS PRIVATIVOS


DO ESCRIVÃO DE POLÍCIA

MODELO 1
AUTUAÇÃO
Aos ............ dias do mês de ............ do ano de ............, nesta cidade de ............,
em meu cartório, autuo ............., que adiante se segue ............. e, para constar, lavro
este termo. Eu, ............, Escrivão de Polícia que o digitei.

MODELO 2
RECEBIMENTO
Aos ............ dias do mês de ............ do ano de ............, foram-me entregues,
em cartório, os presentes autos, e para constar, lavrei este termo. Eu, ............, Escri-
vão de Polícia que o digitei.

MODELO 3
CONCLUSÃO
Aos ............ dias do mês de ............ do ano de ............, faço estes autos con-
clusos ao Dr. Delegado de Polícia desta unidade policial e, para constar, lavro este
termo. Eu, ............, Escrivão de Polícia que o digitei.

MODELO 4
DATA
Aos ............ dias do mês de .......... do ano de ............, recebi estes autos e, para
constar, fiz este termo. Eu, ............, Escrivão de Polícia que o digitei.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 5
CERTIDÃO
Certifico, em cumprimento à portaria (ou despacho) retro (ou supra) haver
.......... (declarar a natureza do ato praticado): intimado partes, notificado peritos,
expedido ofício, pesquisado laudos etc. O referido é verdade e dou fé.
..........(local), ............(data)
O Escrivão de Polícia, ............(assinatura)

MODELO 6
CERTIDÃO
..............(nome)...,Escrivão(ã) de Polícia, em exercício na Delegacia de Polícia
de......................., atendendo requerimento da parte interessada e em cumprimento
a despacho exarado pelo Sr.(a) Delegado(a) de Polícia,................
CERTIFICA, que verificando no Cartório a seu cargo, o arquivo de Boletins
de Ocorrência, encontrou o de nº......., sobre................., do seguinte teor: “........”.
Era o que continha o Boletim de Ocorrência acima referido e seu teor foi para aqui
fielmente transcrito. O referido é verdade,

_________________, ____ de __________________ de ______

__________________________
Escrivão de polícia

MODELO 8
DESENTRANHAMENTO
Aos ............dias do mês de.............. do ano de .............., em cumprimento ao
despacho retro (ou supra), desentranhei destes autos o (s) documento (s) de folha
(s)..............., para serem submetidos à competente perícia técnica. Para constar, la-
vrei este termo. Eu, ..............., Escrivão (a) de Polícia que digitei.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 9
REMESSA
Aos ............ dias do mês de ............ do ano de ............, faço remessa destes
autos ao ............ (destinatário: Fórum Criminal, Delegacia de Polícia, Institutos
Periciais etc.) e, para constar, lavro este termo. Eu, ............, Escrivão de Polícia que
o digitei.

MODELO 10
APENSAMENTO (nos autos principais)
Aos ............ dias do mês de ............ do ano de ............ em cumprimento do
despacho (supra ou retro), apenso a estes autos os autos de ............ (declarar a na-
tureza dos autos apensados) e, para constar, faço este termo. Eu, ............, Escrivão
de Polícia que o digitei.

MODELO 11
APENSAMENTO (nos autos apensados)
Aos ............ dias do mês de ............ do ano de ............, em cumprimento ao
despacho (supra ou retro), apenso estes autos ao inquérito policial em que figura
como indiciado ............ e, para constar, lavro termo. Eu, ............, Escrivão de Polí-
cia que o digitei.

MODELO 12
VISTA
Aos..........dias do mês de........................do ano de............, em cartório, faço
estes autos com vista ao acusado, na pessoa de seu advogado.......(nome e OAB) e,
para constar, lavro este termo. Eu,...............,Escrivão de Polícia que o digitei.

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Capítulo XV
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. O sujeito ativo nas infrações penais; 3. A


atuação da Polícia Judiciária na apuração da autoria das infrações penais; 4. A identifi-
cação humana; 4.1 A identificação criminal; 4.2 A identificação datiloscópica e fotográ-
fica; 5. O indiciamento; 5.1 Conceito; 5.2 Formalização do indiciamento; 5.3 Conteúdo;
6. Conclusão; 7. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O exercício de Polícia Judiciária envolve, necessariamente, os meios indispen-


sáveis à apuração das infrações penais e sua autoria, princípio na atualidade, não só
de Direito Processual Penal e, especialmente, de Direito Constitucional.
Visando a definição de autoria e pretendendo a aplicação da lei aos que pra-
ticam infrações penais, o Estado realiza a persecução para definir a identidade de
seus autores.
Desta forma, objetivando estabelecer regras definidoras de autoria dos ilícitos
penais, o presente Capítulo abrange a importância da identificação humana, seus
métodos e os processos datiloscópico e fotográfico.
Ao tratar da identificação criminal e sua importância na efetiva forma de indi-
cação de autor de infração penal, o tema proposto deve analisar, principalmente, os
aspectos constitucionais que tratam daqueles que, sendo portadores de documentos
enumerados na Lei nº 12.037, de 1º de outubro de 2009, não serão submetidos à
identificação criminal.
Por fim, tratando-se, ainda, de identificação o capítulo analisa seus aspectos
formais da identificação criminal que são realizados através do indiciamento.

2. O SUJEITO ATIVO NAS INFRAÇÕES PENAIS

O sujeito ativo, nas infrações penais, é aquele que pratica a conduta descrita
na norma penal.
Em princípio, o sujeito ativo só pode ser o homem, ou seja, a criatura humana,
embora, na atualidade, exista, em algumas infrações penais, a possibilidade da pes-
soa jurídica ser considerada como sujeito ativo de certos ilícitos.
Estes comentários visam, preliminarmente, estabelecer a situação do ser hu-
mano como o autor de infração penal.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

3. A ATUAÇÃO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA NA APURAÇÃO DA AUTORIA


DAS INFRAÇÕES PENAIS

Desnecessário estabelecer, neste Capítulo, o campo de atuação da Polícia Judi-


ciária, tema exposto em campos próprios.
Entretanto, torna-se necessário fixar ponto essencial relacionado ao seu exercí-
cio, ou seja, na apuração das infrações penais e na indicação de seus autores.
A investigação criminal, visando identificar as causas e os motivos do delito,
transporta o investigador para a essencialidade da identificação criminal de seu autor.
A identificação decorre da própria necessidade de personalizar o sujeito ativo
da infração penal.

4. A IDENTIFICAÇÃO HUMANA

Reconhecendo ser a identificação o meio utilizado para estabelecer o conheci-


mento de alguém ou de alguma coisa, torna-se importante fixar alguns elementos da
forma de demonstração do que se está identificando.
Efetivamente, interessa tratar, neste momento, apenas da identificação física
do ser humano, ou mais propriamente, demonstrar que a infração penal foi cometi-
da por determinada pessoa.
Na opinião de A. Almeida Júnior, em seu livro “Lições de Medicina Legal”,
o processo de reconhecimento, porém, torna obrigatório o emprego de técnicas ob-
jetivas e subjetivas, a fim de que a ciência possa indicar que “certo corpo humano,
que em dado momento se apresenta a exame, é o mesmo que em ocasião anterior já
havia sido apresentado”1.
Na identificação humana, três são os atos necessários: primeiro, o registro ou
fichamento de determinado grupo que tem os mesmos caracteres permanentes, ca-
pazes de distinção de qualquer outro grupo; segundo, o registro do mesmo grupo
de caracteres, quando em época posterior, o indivíduo é de novo encontrado; e, por
fim, um julgamento, mediante comparação dos dois registros, para dizer ou negar
a identidade.2
A vida moderna exige, para perfeita e completa identificação do ser humano, o
emprego de técnicas científicas que permitam estabelecer ser este ou aquele a pessoa
a se identificar.
A começar da vida rotineira, ou seja, presença na escola, na vida comercial,
bancária, trabalhista, a identificação é indispensável e se faz mais necessária quando
da prática do crime, para se estabelecer a identificação de seu autor.

1 ALMEIDA JÚNIOR, A., Lições de Medicina Legal. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nacional
de Direito, 1957, p.12.
2 ALMEIDA JÚNIOR, A., op. cit., p. 12.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

4.1 A identificação criminal

A investigação criminal, atividade exclusiva do Estado exercida pela Polícia


Judiciária, tem como objetivo apurar a autoria do delito, indicando à Justiça Crimi-
nal o seu verdadeiro autor, informando a respeito de seus antecedentes e, inclusive,
prestando esclarecimento sobre sua personalidade.
Toda essa importante atividade somente pode ser realizada por meio de um
trabalho científico que obedeça a requisitos técnicos por demais experimentados.
O Código de Processo Penal, em seu artigo 6º e a legislação específica a respei-
to da identificação do civilmente identificado, fixam regras indispensáveis à apura-
ção das infrações penais com destaque aos meios necessários à individualização do
autor, especificadamente tratando do indiciado e das informações a respeito de sua
vida pregressa.

4.2 A identificação datiloscópica e fotográfica

Vários são os processos para a identificação do ser humano. Dentre estes, ape-
nas para referência, citam-se as mutilações, as marcas, as tatuagens, a fotografia, o
retrato falado, a antropometria e outras formas empíricas, como ausência de dentes.
Os processos de identificação mais utilizados pela Polícia Judiciária, com base
científica, são o da identificação datiloscópica e da identificação fotográfica.
A identificação datiloscópica, por meio de um procedimento simples, expedito
e com base segura, torna possível a identificação do ser humano.
Não sendo necessário, no âmbito deste trabalho, falar-se da história da dacti-
loscopia e de seu efetivo emprego em todo o mundo, é preciso estabelecer “desde o
início do século atual, Felix Pacheco (Rio) e Evaristo da Veiga (São Paulo), pleitea-
vam a adoção da dactiloscopia”3.
O procedimento da identificação datiloscópica, que utiliza o sistema de classi-
ficação de Vucetich, deve ser utilizado para a identificação do indiciado desde que
este não seja civilmente identificado, conforme disposição da Lei nº 12.037/09.
Muito embora o sistema de identificação se apresente como a forma mais ade-
quada e científica de indicação de autoria, prevalece a ideia de que a datiloscopia
representa um sério constrangimento ilegal.
O constituinte de 1988, pretendendo considerar como garantia do cidadão o
não constrangimento da identificação datiloscópica, fixou no inciso LVIII, do artigo
5º da Constituição Federal, como princípio que “o civilmente identificado não será
submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.
O legislador ordinário, dando cumprimento à norma constitucional que veda
a identificação criminal a quem for identificado civilmente, adota, com a Lei nº
12.037/09, regras proibitivas da identificação criminal, reconhecendo que a identifi-
cação civil é atestada por certos documentos públicos.

3 ALMEIDA JUNIOR, A. op. cit., p. 22.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

São considerados, para efeito de reconhecimento da identificação civil, “qual-


quer dos seguintes documentos: I- carteira de identidade; II – carteira de trabalho;
III – carteira profissional; IV – passaporte; V – carteira de identificação funcional;
VI – outro documento público que permita a identificação do indiciado”.4
Os documentos de identificação militares são equiparados a documentos de
identificação civil, de acordo com disposição do parágrafo único do artigo 2º da Lei
nº 12.037/09.
A identificação criminal do indiciado – sistema datiloscópico e fotográfico –
excepcionalmente pode ocorrer quando, embora apresentado o documento de iden-
tificação, o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; o documen-
to apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado; o indiciado
portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si;
constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; o es-
tado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do docu-
mento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.5
A identificação do indiciado, atestada por um dos documentos enumerados,
deve ser comprovada com juntadas de suas cópias aos autos do inquérito ou de
outra forma de identificação ou nos autos de comunicação da prisão em flagrante.
Excepcionalmente pode a identificação criminal, datiloscópica e fotográfica, ser
necessária ainda que o indiciado apresente um dos documentos de identificação civil.
Nas condições indicadas, a identificação criminal é essencial às investigações
policiais e o ato somente pode ser realizado por despacho da autoridade judiciária
competente que decidirá de ofício ou por representação da autoridade policial, do
Ministério Público ou mesmo da defesa.6
Destaca o legislador que a identificação criminal, quando indispensável, de-
verá obrigar a autoridade encarregada de sua efetivação “providências necessárias
para evitar o constrangimento do identificado”.
As informações constantes dos registros de identificação criminal, a não ser
quando destinadas ao juízo criminal, não poderão ser mencionadas em atestados de
antecedentes antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.
O legislador ordinário, diante da legislação objeto deste comentário, estabele-
ceu regras proibitivas da identificação criminal, revogando a Lei nº 10.054, de 7 de
dezembro de 2000, o artigo 5º da Lei nº 9.034/95 que dispõe sobre a identificação
compulsória de pessoas envolvidas em ação praticada por organizações criminosas.
A respeito da identificação datiloscópica do adolescente na prática de ato
infracional, previsão no artigo 109 do Estatuto da Criança e do Adolescente –
ECA – (Lei nº 8.069/90), a sua efetivação deve seguir as mesmas regras da lei ora
comentada.

4 A regra estabelecida na Lei nº 12.037/09 é de que o civilmente identificado não será submetido
a identificação criminal. Os documentos referidos no texto são aqueles indicados no artigo 2º da lei ora
objeto de comentário.
5 Artigo 2º da Lei nº 12.037/09.
6 A situação descrita está definida no inciso IV do artigo 3º da Lei nº 12.037/09.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5. O INDICIAMENTO

O indiciamento, etimologicamente reconhecido, significa indicação, sinal, re-


velação e autorização para fazer acusação ou denúncia, segundo o ensinamento de
Sérgio Pitombo.7

5.1 Conceito
O indiciamento constitui ato utilizado pela Polícia Judiciária para a identifica-
ção criminal do autor de um ilícito penal.
Reconhecendo-se como indispensável para a apuração do fato criminoso a
identificação de seu autor, compete à Polícia Judiciária estabelecer distinção entre
o mero suspeito e aquele a quem é atribuída a ação delituosa, no caso o indiciado.
No desenrolar das investigações, a autoridade policial necessita realizar uma
tarefa especial para atribuir a alguém a qualidade de indiciado.
Essa certeza na indicação não sofre grandes dificuldades quando o conheci-
mento da infração penal é levado à autoridade policial através da prisão em flagrante.
Tratando-se de fatos nos quais necessário se faça, para a indicação do autor, a
realização de investigação, é, na tramitação do Inquérito Policial, que surgindo os
elementos que indicam a autoria, deverá ocorrer o indiciamento, que não deve ser
um ato arbitrário, mas legítimo do poder do estado.
Não constitui, como muitos doutrinadores pretendem, constrangimento ilegal
ser o suspeito transformado em indiciado, havendo elementos indicativos de sua
participação nos fatos delituosos.
Oportuna a distinção que estabelecia o Prof. José Frederico Marques, no bojo
do Projeto de Lei nº 633/75, que trata da reforma do Código de Processo Penal,
a respeito de réu, acusado, suspeito e indiciado, em capítulos próprios do projeto
referido, nos seguintes termos:
“Art.105 - Antes de proposta ação penal, denomina-se suspeito aquele a
quem se possa atribuir a prática da infração penal; e indiciado, o que desta
seja o provável autor”.

5.2 Formalização do indiciamento


A formalização do indiciamento é ato de exclusiva responsabilidade do Dele-
gado de Polícia.
Ao ser definida a autoria do delito, deixando a suspeita de ser mera conjectura,
compete ao Delegado de Polícia estabelecer o indiciamento, através de decisão no
Inquérito Policial ou em outras formas de apuração de ilícitos penais. (Ver modelos)
O indiciamento é ato formal e, portanto, deve a autoridade policial estabelecer,
fundamentadamente, a sua existência nos autos de Inquérito Policial, dando ciência
prévia dessa decisão ao indiciado ou seu defensor, se este já for conhecido.

7 PITOMBO, Sérgio M. Moraes. Inquérito Policial - Novas Tendências. 1ª ed. Pará:Editora


Cejup, p. 37.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

5.3 Conteúdo

O conteúdo do indiciamento deve obedecer às normas procedimentais esta-


tuídas no artigo 6º do Código de Processo Penal, cabendo ao Delegado de Polícia,
conclusivamente, definir as razões de sua decisão indicando o dispositivo penal in-
fringido.
Constitui elemento indispensável, como conteúdo do indiciamento, a investi-
gação a respeito da vida pregressa do indiciado, conforme determinação do dispos-
to no inciso IX do artigo 6º do Código de Processo Penal.

6. CONCLUSÃO

A atividade de Polícia Judiciária, visando a apuração das infrações penais, exi-


ge a completa identificação criminal da autoria do delito.
A identificação criminal, objetivando definir a verdade real, princípio básico
do Processo Penal, envolve, não só a investigação propriamente dita, mas, principal-
mente, a indicação de seu autor, através de métodos científicos, como a identificação
dactiloscópica e a formalização de seu indiciamento.
As informações a respeito da vida pregressa são indispensáveis na identifi­
cação, a fim de permitir à Justiça Criminal uma melhor forma de individualização
da pena.
Por derradeiro, as regras proibitivas de identificação criminal a quem é porta-
dor de documentos de identificação civil e, neste caso, são considerados qualquer
documento que permita a identificação do indiciado, pode trazer sérios riscos à
completa e correta aplicação da Justiça contra aquele que, efetivamente, praticou
um crime.

7. MODELOS

Veja, a seguir, os modelos relativos a este capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO PARA IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL DO INDICIADO

Cls.

Identifique-se o indiciado ___________________________________________,


pelos processos datiloscópico e fotográfico, requisitando-se sua folha de antecedentes,
em virtude de _________________________________________ (citar uma das
hipóteses abaixo).

_______________, ____ de ___________________ de____

_________________________
Delegado(a) de Polícia

1. Caso de indiciado não portador de identificação civil.


2. Uma das situações dentre aquelas elencadas no artigo 3º da Lei nº 10.054/00, ainda que civilmente
identificado o autor.
3. Em razão de indiciado envolvido em ação praticada por organizações criminosas de acordo com os
ditames do artigo 5º da Lei nº 9.034/95.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO PARA IDENTIFICAÇÃO DO ADOLESCENTE


AUTOR DE ATO INFRACIONAL

Cls.

Identifique-se o adolescente autor de ato infracional ______________________


__________, pelos processos datiloscópico e fotográfico, requisitando-se os seus ante-
cedentes infracionais, de acordo com o artigo 109 do Estatuto da Criança e do Adolescente
– ECA (Lei nº 8.069/90) e o artigo 4º da Portaria DGP-23, de 28 de junho de 2004.

____________________, ____ de _______________ de____

_________________________
Delegado(a) de Polícia

1. Dispõe o artigo 109 do ECA o que segue: “O adolescente civilmente identificado não será submetido à
identificação compulsória pelos órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação,
havendo dúvida fundada.”
2. Portaria DGP-23, de 28 de junho de 2004, reza em seu artigo 4º: “Presente, por qualquer motivo, em
unidade da Polícia Civil adolescente ou ex-adolescente (em faixa etária compatível de execução de medida
sócio-educativa) sobre a qual recaia dúvida acerca da existência de mandado judicial de internação provisória
ou definitiva a cumprir, deverá a Autoridade Policial, pelo meio de comunicação mais célere, solicitar a
confirmação da existência e validade da ordem de privação de liberdade à Divisão de Capturas/DIRD.”

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO DE INDICIADO CIVILMENTE IDENTIFICADO

Cls.

Identifique-se o indiciado___________________________________________
____________________________________________, RG ___________________,
que, por ser portador de cédula de identidade, fica dispensado de ter colhidas suas indi-
viduais datiloscópicas, requisitando-se sua folha de antecedentes.

____________________, ____ de _______________ de____

_________________________
Delegado(a) de Polícia

* Caso de indiciado portador de identificação civil.

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Capítulo XVI
ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS OBRIGATÓRIOS

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Peculiaridades dos livros oficiais; 3. Livros


obrigatórios; 4. Livros facultativos; 5. A escrituração regulamentar dos livros; 5.1 Livro
de Registro de Inquéritos Policiais, com índice;5.2 Livro de Registro de Termos Cir-
cunstanciados de Ocorrência, com índice; 5.3 Livro de Registro de Fianças Criminais,
com índice; 5.4 Livro de Registro de Ocorrências Policiais; 5.5 Livro de Registro de
Boletim de Identificação Criminal; 5.6 Livro de Registro de Apreensão de Adolescentes;
5.7 Livro de Registro de Cartas Precatórias Expedidas; 5.8 Livro de Registro de Cartas
Precatórias Recebidas; 5.9 Livro de Registro de Inquéritos Policiais e Termos Circuns-
tanciados de Ocorrência em Trânsito e para Diligências; 5.10 Livro de Registro de Carga
para Inquéritos Policiais e Termos Circunstanciados de Ocorrências; 5.11 Livro de Re-
gistro de Drogas Apreendidas; 5.12 Livro de Registro de Armas Apreendidas; 5.13 Livro
de Registro de Veículos Automotores Apreendidos; 5.14 Livro de Registro de Ordens
de Serviço; 5.15 Livro de Registro de Inventário e Tombo; 5.16 Livro de Registro de
Termos de Visitas em Correição do Poder Judiciário; 5.17 Livro de Registro de Termos
de Visitas em Correição da Polícia Civil; 5.18 Livro de Registro de Termos de Visitas da
Defensoria Pública; 5.19 Livro de Registro de Termos de Visitas do Ministério Público;
5.20 Livro de Registro de Termos de Compromisso de Funcionário “ad hoc”; 5.21 Livro
de Registro de Correspondência Expedida; 5.22 Livro de Registro de Correspondência
Recebida; 5.23Livro de Registro de Ponto para Funcionários Públicos de Carreiras não
Policiais; 5.24 Livro de Registro de Carga de Armas e de Algemas; 6. Conclusão; 7.
Modelos e Decreto nº 54.750/2009 e Portaria DGP-10/2010.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Inicialmente, há de se destacar que os livros se destinam, quaisquer que sejam
suas formas, a perpetuar, através da imutabilidade, os fatos objeto dos seus registros.
Daí a razão, a despeito do advento da Informática, do livro continuar sendo indis-
pensável aos trabalhos afetos a uma repartição pública, em especial a uma Delegacia
de Polícia. A instauração de um Inquérito Policial, por exemplo, só se consuma,
efetivamente, depois de feito seu registro formal no livro respectivo.
Os livros obrigatórios de uma Delegacia de Polícia devem ser escriturados por
Escrivão de Polícia ou sob sua orientação, fiscalização e responsabilidade.

2. PECULIARIDADES DOS LIVROS OFICIAIS

Os livros oficiais revestem-se de certas formalidades que os comuns não têm.


São elas, por exemplo, os termos de abertura e de encerramento, a numeração ti-
pográfica, ou manual de suas folhas, a aposição da rubrica de quem assinou seus
termos, no alto de cada folha e a proibição de apresentarem emendas ou rasuras,
devendo ser escriturados com tinta azul ou preta.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Os termos de abertura e de encerramento serão lavrados, respectivamente, na


primeira e na última folhas utilizáveis do livro, com a mesma data. Sua escrituração
deverá ser feita com bastante zelo e critério, de modo que não ocorram incidentes
que descaracterizem suas finalidades de guardar fidelidade e perpetuar o registro.

3. LIVROS OBRIGATÓRIOS

Durante algumas décadas, os livros obrigatórios de uma Delegacia de Polícia


eram os estabelecidos pelo Regulamento Policial do Estado de São Paulo, aprovado
pelo Decreto nº 4.405-A, de 17 de abril de 1928 e pelos Decretos Estaduais nºs. 1762,
de 22 de junho de 1973 e 31.382, de 11 de abril de 1990, legislação revogada no ano
de 2009, com edição de novo Decreto Estadual.
A publicação do Decreto Estadual nº 54.750, de 8 de setembro de 2009, confe-
re ao Delegado Geral de Polícia atribuições para disciplinar, mediante portaria, os
livros obrigatórios nas Unidades da Polícia Civil do Estado de São Paulo, de acordo
com as peculiaridades das atividades de polícia judiciária.
Assim, a Portaria DGP-10, de 5 de março de 2010, fixa o rol dos livros obri-
gatórios nas Unidades da Polícia Civil, que, segundo seu artigo 1º, são os seguintes:
a) Livro de Registro de Inquéritos Policiais, com índice;
b) Livro de Registro de Termos Circunstanciados de Ocorrência, com índice;
c) Livro de Registro de Fianças Criminais, com índice;
d) Livro de Registro de Ocorrências Policiais;
e) Livro de Registro de Boletim de Identificação Criminal;
f) Livro de Registro de Apreensão de Adolescentes;
g) Livro de Registro de Cartas Precatórias Expedidas;
h) Livro de Registro de Cartas Precatórias Recebidas;
i) Livro de Registro de Inquéritos Policiais e Termos Circunstanciados de
Ocorrência em Trânsito e para Diligências;
j) Livro de Registro de Carga para Inquéritos Policiais e Termos Circuns­
tanciados de Ocorrências;
k) Livro de Registro de Drogas Apreendidas;
l) Livro de Registro de Armas Apreendidas;
m) Livro de Registro de Veículos Automotores Apreendidos;
n) Livro de Registro de Ordens de Serviço;
o) Livro de Registro de Inventário e Tombo;
p) Livro de Registro de Termos de Visitas em Correição do Poder Judiciário;
q) Livro de Registro de Termos de Visitas em Correição da Polícia Civil;
r) Livro de Registro de Termos de Visitas da Defensoria Pública;
s) Livro de Registro de Termos de Visitas do Ministério Público;

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

t) Livro de Registro de Termos de Compromisso de Funcionário “ad hoc”;


u) Livro de Registro de Correspondência Expedida;
v) Livro de Registro de Correspondência Recebida;
w) Livro de Registro de Ponto para Funcionários Públicos de Carreiras não
Policiais;
x) Livro de Registro de Carga de Armas e de Algemas e
y) Livro de Registro de Uso de Algemas.
Nas Delegacias Seccionais de Polícia, Divisões Policiais e Diretorias Depar­
tamentais, sem prejuízo da manutenção dos livros acima mencionados, são obriga-
tórios os livros declinados a seguir, conforme o artigo 2º da Portaria citada.
a) Livro de Registro de Atas e Reuniões;
b) Livro de Registro de Portarias e Editais Expedidos;
c) Livro de Registro de Procedimentos Licitatórios e
d) Livro de Registro de Contratos Administrativos.
Com relação aos livros das Circunscrições Regionais e Seções de Trânsito, unida-
des descentralizadas do Departamento Estadual de Trânsito, nos termos da regulamen-
tação constante do Decreto Estadual nº 13.325/79, eram estabelecidos por sua Diretoria,
conforme previsto no artigo 2º do Decreto Estadual nº 54.750, de 8 de setembro de 2009.

4. LIVROS FACULTATIVOS

A Portaria DGP-10, de 5 de março de 2010, além de fixar o rol dos livros


obrigatórios nas unidades da Polícia Civil, também institui os procedimentos para a
criação de livros facultativos.
O artigo 4º da Portaria DGP-10, de 5 de março de 2010, menciona que as Uni-
dades Policiais Civis poderão instituir livros facultativos, em consonância às suas
específicas necessidades, mediante autorização formal da respectiva direção depar-
tamental e com comunicação imediata à Delegacia Geral de Polícia.

5. A ESCRITURAÇÃO REGULAMENTAR DOS LIVROS

A escrituração regulamentar dos livros oficiais, como já registrado no preâm-


bulo deste Capítulo, deve ser feita com zelo e presteza, de modo a evitar, sobretudo,
emendas e rasuras, valendo igualmente lembrar que a tinta a ser utilizada deve ter
cor azul ou preta, aliás os dizeres do § 1º do artigo 5º da Portaria DGP-10, de 5
de março de 2010, dispõe e até acrescentando que são vedadas emendas e rasuras,
tendo também ressalvado no mesmo artigo que os livros tratados neste ato admi-
nistrativo necessariamente são encadernados, contendo termos de abertura e de en-
cerramento, assinados pela Autoridade Policial competente e terão suas folhas, em
rigorosa numeração sequencial, por ela rubricadas.
No § 2º do artigo 5º da referida Portaria DGP, está prevista a substituição de
livro encadernado por livro de folhas soltas, dependendo de prévia autorização da
respectiva diretoria departamental.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A principal formalidade que caracteriza um livro oficial é a lavratura do terno


de abertura, (modelo 1) em sua primeira folha utilizável e, consequentemente, a do
termo de encerramento, (modelo 2), em sua última folha, ambos com a mesma data.
Há de se ressaltar que muitos dos livros obrigatórios possuem suas folhas im-
pressas na forma como devem ser escrituradas, cabendo ao Escrivão de Polícia, tão
somente, preencher os respectivos campos. Outros, do tipo ata, devem ser adaptados
à finalidade a que se destinam.

5.1 Livro de Registro de Inquéritos Policiais, com índice 

Nele são registrados os Inquéritos Policiais instaurados, devendo ser preenchidos


os campos existentes, tanto no ato do registro quanto no da conclusão do feito, ocasião
em que todos os dados devem ser completados. Os nomes das vítimas e dos indicia-
dos deverão ser transpostos para seu índice alfabético, de modo a facilitar a localização
quando da consulta. A numeração dos inquéritos é renovada no início de cada ano.

5.2 Livro de Registro de Termos Circunstanciados de Ocorrência, com índice 

O livro deve conter o registro dos dados básicos das ocorrências de menor
potencial ofensivo, nos moldes daqueles lançados no Livro de Registro de Inqué-
ritos Policiais. Os nomes do autor, vítimas e testemunhas, constantes dos Termos
Circunstanciados de Ocorrência, deverão figurar no respectivo índice onomástico. 

5.3 Livro de Registro de Fianças Criminais, com índice 

Destina-se esse livro ao registro das fianças exibidas, de cujo termo, já  par-
cialmente impresso, deve ser extraída certidão para instruir o respectivo feito. Sua
obrigatoriedade decorre de mandamento constante do artigo 329 do Código de Pro-
cesso Penal. 

5.4 Livro de Registro de Ocorrências Policiais 

Vem com suas folhas parcialmente impressas, servindo para o registro, em or-
dem cronológica, de todas as ocorrências atendidas e sobre as quais tenham sido
lavrados boletins. O registro será feito com o preenchimento de todos os dados prin-
cipais, conforme os campos existentes, tais como número de ordem, data, nature-
za da ocorrência, nome da(s) vítima(s), nome do(s) indiciado(s) e se foi, ou não
instaurado inquérito policial, lavrado auto de prisão em flagrante delito ou termo
circunstanciado de ocorrência.
Também serão apostos os nomes dos componentes das equipes que se re-
vezam no plantão. Ao final do turno será feito o resumo das atividades, deven-
do ser consignado o material, v.g., viatura(s), colete(s), arma(s), etc, que será(ão)
transferido(s) à equipe que assume. Desse resumo, extraem-se cópias para remessa
aos escalões superiores. 

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5.5 Livro de Registro de Boletim de Identificação Criminal 

Destina-se ao registro dos boletins de identificação criminal utilizados, crono-


logicamente, com dados alusivos ao feito respectivo. Os boletins são numerados em
três vias, sendo a primeira encaminhada ao Instituto de Identificação “Ricardo Gum-
bleton Daunt” – IIRGD, da Polícia Civil do Estado de São Paulo, a segunda para os
autos principais (inquérito policial ou termo circunstanciado de ocorrência) e a ter-
ceira para a respectiva cópia dos autos. As cópias excedentes não serão numeradas.

5.6 Livro de Registro de Apreensão de Adolescentes

Destina-se ao registro da ocorrência em razão de apreensão de adolescentes,


devendo conter todos os dados pertinentes.

5.7 Livro de Registro de Cartas Precatórias Expedidas 

Destina-se ao registro das cartas precatórias expedidas para cumprimento, que


deverão receber numeração cronológica, renovável a cada ano. 

5.8 Livro de Registro de Cartas Precatórias Recebidas 

Destina-se ao registro das cartas precatórias recebidas para cumprimento, que


deverão receber numeração cronológica, renovável a cada ano. 

5.9 Livro de Registro de Inquéritos Policiais e Termos Circunstanciados de


Ocorrência em Trânsito e Para Diligências 

Este livro foi concebido para registrar os inquéritos policiais e termos circuns-
tanciados de ocorrência devolvidos com pedidos de diligências (cotas). 

5.10 Livro de Registro de Carga para Inquéritos Policiais e Termos Circunstanciados


de Ocorrência 

Neste livro, são registrados os feitos quando de sua instauração, para poste-
rior distribuição aos Escrivães de Polícia, mediante carga. Trata-se de livro do tipo
ata, devidamente adaptado, devendo ser utilizada uma linha para cada registro. O
lançamento será feito concomitantemente com o Livro de Registro de Inquéritos
Policiais, com índice, com o mesmo número sequencial, incluindo-se os feitos oriun-
dos de outras unidades. 

5.11 Livro de Registro de Drogas Apreendidas 

Destina-se ao registro dos dados alusivos à droga apreendida (peso, número


do boletim de ocorrência, termo circunstanciado, inquérito policial), à pessoa em
poder de quem foi apreendida a droga, à solução etc. 

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

5.12 Livro de Registro de Armas Apreendidas 

Destina-se ao registro dos dados alusivos à arma, à pessoa em poder de quem


foi a mesma apreendida, à solução etc. 

5.13 Livro de Registro de Ordens de Serviço

Destina-se ao registro das ordens de serviço expedidas à Chefia de Investiga-


dores da Unidade Policial, contendo número e natureza do feito, breve relato da
diligência a ser realizada e prazo para execução.

5.14 Livro de Registro de Inventário e Tombo 

Destina-se ao tombamento dos bens materiais existentes e dos que venham a


ser recebidos pela unidade policial, com a descrição de tipo, estado de conservação,
documento e data da remessa, valor declarado ou aproximado, além do número
do patrimônio. Os bens devem ser relacionados sala por sala, dependência por de-
pendência. Quando determinado bem se tornar inservível, ou por qualquer outro
motivo indisponível, será lavrado termo de baixa, do qual se enviará, pelas vias
hierárquicas, cópia ao órgão de controle do material.
A Portaria DGP-7, de 31-3-92, ordena que sua escrituração seja minuciosa e
atualizada quanto a todos os bens existentes na repartição, definidos como material
permanente. Determina, ainda, que se adote um quadro a ser fixado em local de
fácil acesso, contendo relação impressa dos bens em questão, com os respectivos
números de patrimônio. Diz, igualmente, que o livro deve ser objeto de cuidadoso
exame, por ocasião das correições, devendo eventuais irregularidades serem comu-
nicadas diretamente à Delegacia Geral de Polícia. 

5.15 Livro de Registro de Termos de Visitas em Correição do Poder Judiciário 

Destina-se ao registro das atas descritivas das visitas dos Magistrados, e do


que foi constatado nas correições, ordinárias ou extraordinárias procedidas junto às
unidades policiais civis. 

5.16 Livro de Registro de Termos de Visitas em Correição da Polícia Civil 

São lavradas atas descritivas das visitas e do que foi constatado nas correições,
ordinárias ou extraordinárias, feitas nas dependências subordinadas. Desses termos
devem ser extraídas certidões para posterior remessa ao órgão hierarquicamente
superior.
Vale lembrar que as correições, regulamentadas pela Resolução SSP-46, de
21-12-70, se realizam semestralmente, quando ordinárias, anunciadas através de edi-
tal, com a devida publicidade.  

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

5.17 Livro de Registro de Termos de Visitas da Defensoria Pública 

Destina-se ao registro das visitas realizadas pelos membros da Defensoria Pú-


blica, que lavrarão o respectivo termo.

5.18 Livro de Registro de Termos de Visitas do Ministério Público 

Destina-se ao registro das visitas realizadas pelos membros do Ministério Pú-


blico, que certamente lavrarão termo de próprio punho. 

5.19 Livro de Registro de Termos de Compromisso de Funcionário “ad hoc”

Nele são lavrados os compromissos prestados apor autoridades leigas, v.g.,


pessoas nomeadas para atos específicos, como os peritos e os intérpretes, além do
Escrivão de Polícia “ad hoc”, previsto no artigo 305 do Código de Processo Penal.  

5.20 Livro de Registro de Correspondência Expedida

Destina-se ao registro de toda correspondência expedida contendo o número


sequencial, o tipo da correspondência, local de destino, resumo do assunto e data
de expedição etc.

5.21 Livro de Registro de Correspondência Recebida

Destina-se ao registro de toda correspondência recebida contendo o resumo


do assunto e a data do recebimento, o tipo da correspondência, o nome do expedi-
dor e o respectivo encaminhamento na Unidade Policial.

5.22 Livro de Registro de Ponto para Funcionários Públicos de Carreiras não Policiais
Destina-se ao registro do comparecimento do funcionário público em exercí-
cio na Unidade Policial, designados de burocráticos, devendo registrar data, entrada
e saída para o efeito de atentar a frequência ao trabalho.

5.23 Livro de Registro de Carga de Armas e de Algemas


Destina-se ao registro de fornecimento de armas e de algemas para prestação
de serviços, contendo número, características, marca, estado de conservação, nome
da pessoa a quem foi destinada.

5.24 Livro de Registro do Uso de Algemas


Destina-se ao registro de pessoa sempre que necessário ser algemada, como
preso(a), com nome e resumo do motivo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

6. CONCLUSÃO

Pelo que aqui ficou demonstrado, pode-se concluir que a atividade policial,
pelas suas características, não pode dispensar o uso do livro oficial. O registro dos
atos de Polícia Judiciária e, também, das providências de caráter administrativo,
necessitam ser feitas de forma indelével, com simplicidade e eficiência.
Todavia, há de se destacar que os recursos de informática, que a Polícia Civil já
se utiliza em larga escala, poderão ser de grande valia nesse campo.

7. MODELOS - DECRETO Nº 54.750, DE 8 DE SETEMBRO DE 2009 E


PORTARIA DGP-10, DE 5 DE MARÇO DE 2010.

Veja a seguir os modelos relativos a este capítulo.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

DECRETO Nº 54.750, DE 8 DE SETEMBRO DE 2009

Dispõe sobre os livros obrigatórios nas Unidades da Polícia Civil, da Secretaria da


Segurança Pública, e dá providências correlatas

JOSÉ SERRA, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições


legais,

Decreta:

Artigo 1º - São livros obrigatórios nas Unidades da Polícia Civil, da Secretaria da


Segurança Pública, aqueles constantes de portaria do Delegado Geral de Polícia,
de acordo com as peculiaridades dos serviços realizados e observada a legislação
pertinente.
Artigo 2º - Os livros das Seções e Circunscrições de Trânsito serão os estabelecidos
pela Diretoria do Departamento Estadual de Trânsito, obedecida a legislação
respectiva.
Artigo 3º - Este decreto entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas
as disposições em contrário, em especial:
I - o Decreto nº 1.762, de 22 de junho de 1973;
II - o Decreto nº 31.382, de 11 de abril de 1990.

Palácio dos Bandeirantes, 8 de setembro de 2009


JOSÉ SERRA
Antonio Ferreira Pinto - Secretário da Segurança Pública
Aloysio Nunes Ferreira Filho - Secretário-Chefe da Casa Civil
Publicado na Casa Civil, aos 8 de setembro de 2009
Publicado no DOE, de 09/09/2009.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Portaria DGP- 10, de 5-3-2010

Fixa o rol de livros obrigatórios nas Unidades da Polícia Civil, nos termos do
Decreto Estadual 54.750, de 8-9-2009, e dá providências correlatas

O Delegado Geral de Polícia,


Considerando que os imperativos constitucionais de legalida­de, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência impõem o criterioso e perene registro formal
dos atos decorrentes do exercí­cio das atividades de polícia judiciária, administrativa
e preventiva especializada, legalmente atribuídas à Polícia Civil;
Considerando, ainda, que a complexidade de tarefas incum­bidas à Polícia Civil pode
justificar a adoção de livros específicos para determinadas unidades policiais civis;
Considerando, finalmente, a expressa disposição contida no Decreto nº 54.750, de 8
de setembro de 2009, Resolve:
Art. 1º - Constituem-se obrigatórios para todas as Unidades da Polícia Civil os
Livros de Registro de:
a) Inquéritos Policiais, com índice;
b) Termos Circunstanciados de Ocorrência, com índice;
c) Termos de Fianças Criminais, com índice;
d) Ocorrências Policiais;
e) Boletim de Identificação Criminal;
f) Apreensão de Adolescentes;
g) Cartas Precatórias Expedidas;
h) Cartas Precatórias Recebidas;
i) Inquéritos Policiais e Termos Circunstanciados de Ocorrên­cia em Trânsito e para
Diligências;
j) Carga para Inquéritos Policiais e Termos Circunstanciados de Ocorrências;
k) Drogas Apreendidas;
l) Armas Apreendidas;
m) Veículos Automotores Apreendidos;
n) Ordens de Serviço;
o) Inventário e Tombo;
p) Termos de Visitas em Correição do Poder Judiciário;
q) Termos de Visitas em Correição da Polícia Civil;
r) Termos de Visitas da Defensoria Pública;
s) Termos de Visitas do Ministério Público;
t) Termos de Compromisso de Funcionário “ad hoc”;
u) Correspondência Expedida;
v) Correspondência Recebida;
w) Ponto para Funcionários Públicos de Carreiras não Policiais;
x) Carga de Armas e de Algemas;
y) Uso de Algemas.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Art. 2º - Nas Delegacias Seccionais de Polícia, Divisões Poli­ciais e Diretorias


Departamentais, sem prejuízo da manutenção dos livros tratados no artigo anterior,
será obrigatória, adicional­mente, a adoção dos Livros de Registros de:
a) Atas de Reuniões;
b) Portarias e Editais Expedidos;
c) Procedimentos Licitatórios;
d) Contratos Administrativos.
Art. 3º - A Corregedoria Geral da Polícia Civil - Corregedoria, cumulativamente
aos livros previstos nos artigos 2º e 3º, conta­rá, ainda, com os Livros de Registro de:
a) Apurações Preliminares;
b) Sindicâncias Administrativas;
c) Processos Administrativos;
d) Designação de Delegados de Polícia e Funcionários.
Art. 4º - Poderão as unidades policiais civis, observados os dispositivos anteriores,
instituir livros facultativos em conso­nância às suas específicas necessidades, mediante
autorização formal da respectiva direção departamental e com comunicação
imediata à Delegacia Geral de Polícia.
Art. 5º - Os livros de que trata esta portaria, necessariamen­te encadernados, conterão
termos de abertura e de encerramen­to assinados pela Autoridade Policial competente
e terão suas folhas, em rigorosa numeração sequencial, por ela rubricadas.
§ 1º - Na escrituração dos livros serão empregadas as cores azul ou preta, vedadas
emendas e rasuras.

§ 2º - A substituição de livro encadernado por livro de folhas soltas dependerá de


prévia autorização da respectiva diretoria departamental.
Art. 6º - Esta portaria entrará em vigor da data de sua publicação, revogadas as
disposições que lhe forem contrárias.

Publicada no Diário Oficial de 6/3/2010-Seção I, São Paulo, 120(43)-7

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 1

TERMO DE ABERTURA

Este livro, que contém __________ folhas, todas tipograficamente numeradas e


rubricadas com a rubrica “____________________________”, do meu uso, destina-se
a ___________________. Tem, pela ordem, o nº ______.

_____________, _______de ____________ de _________

_________________________
Delegado(a) de Polícia Titular

* Obs. O termo de encerramento deverá ter a mesma data do termo de abertura.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 2

TERMO DE ENCERRAMENTO

Este livro, que contém _________ folhas, todas tipograficamente numeradas e


rubricadas com a rubrica “_______________” do meu uso, destinou-se à __________.
Teve, pela ordem, o nº ___________.

_____________, _______de ____________ de _________

_________________________
Delegado(a) de Polícia Titular

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 3

TERMO DE VISITA E CORREIÇÃO

Aos ____ dias do mês de ____________________ do ano de ____, na Delegacia


de Polícia do Município de _________________________________ / SP, ___ª Classe,
onde presente se achava o Dr(a) ___________________________, Delegado Seccional
de Polícia de ___________________, comigo Escrivão(ã) de Polícia ao final assinado,
presente o Doutor _________________________, Delegado de Polícia Titular e demais
funcionários da Delegacia (exceto o(s) Sr(s)__________________________________,
que _________________________________) determinou o Sr. Corregedor que fosse
lavrado o presente termo, em cumprimento ao disposto no Decreto nº ______, de ____/
____/____ e Resolução SSP-46/70, de 21/12/70, como segue. Os trabalhos tiveram início
às ______ horas, como previsto no Edital nº _____ de ___/____/____, afixado em local
de costume e publicado pela Imprensa Oficial do Estado. Audiência pública: Nada a registrar.
Conceito público, capacidade física e funcional da autoridade e funcionários: verificou o
Sr. Corregedor que a autoridade e os funcionários gozam de bom conceito na sociedade
local, demonstrando suficiente capacidade física e funcional para o desempenho de suas
funções. Inquéritos, sindicâncias e similares: de 1º de janeiro até a presente data, foram
instaurados _______ Inquéritos Policiais; destes, _______ já foram relatados e remetidos
ao Juízo da Comarca . Em andamento foram encontrados _____ Inquéritos Policiais; destes
_____ encontram-se no Fórum solicitando dilação de prazo. ____ Inquéritos Policiais
remanescentes de anos anteriores foram encontrados em Cartório e ________ solicitando
dilação de prazo, conforme segue: Em Cartório: _____(nº/ano). Solicitando dilação de
prazo: _______ (nº/ano). ______Inquéritos Policiais para cumprimento de cota, foram
encontrados: Em Cartório: ________ (nº/ano). Solicitando dilação de prazo: ________
(nº/ano).____ Sindicância(s) em andamento. Foram encontradas ______ Cartas Precatórias
para cumprimento: _______ (nº/Delpol deprecante). Até a presente data foram registrados
_______ Termos Circunstanciados e ______ Boletins de Ocorrência. ______ armas
apreendidas em Cartório, vinculadas a feitos criminais: ________(descrição/nº do IP).
Foram visados os últimos Prontuários: Criminal, nº ____, em nome de _____; Funcional,
nº ____ em nome de ______________________________ (carreira); Registro de arma
nº _________ em nome de __________________________________; Porte de arma
nº ____________, em nome de __________________; Alvará de Produtos Controlados
nº ____, em nome de _____________________, referente a __________. Livros Fichários
e Pastas: Os livros foram encontrados em ordem, devidamente escriturados e as pastas
organizadas e atualizadas Em cumprimento à Portaria DGP-7, de 31/3/92, foi examinado o
Livro de Inventário e Tombo, constatando-se que _______________________________.
Localização e condições de uso do prédio: A unidade policial encontra-se instalada à rua
______________________________________________, prédio ________________,
em __________________ estado de conservação. Meios de comunicação e de transportes:
Conta a unidade com ________ linhas(s) telefônica(s), de nº(s) ________________,

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

_______________ estação fixa de rádio e _______ viaturas: ________________ (marca,


modelo, ano, patrimônio, placas). Setor de Identificação: Em estoque foram encontrados
_________ espelhos de Cédula de Identidade, de nºs ________ a ________; ________
faixas de RG, de nºs __________ a ___________. _______ jogos de Boletins de
Identificação Criminal, de nºs _________ a _________. Cadeia Pública: Conta com
_______ celas, onde estão abrigados presos do sexo ________, sendo ______ provisórios
e ________ condenados. A diária de alimentação custa R$ _____________, fornecida
pela firma __________. _________ houve reclamação por parte dos detentos. ______ª
CIRETRAN: A última prestação de contas foi remetida ao DETRAN em ___/____/___,
através do ofício nº __________, constando arrecadação de R$ _________________.
Foram visados os últimos documento expedidos: CNH nº ______________________,
em nome de _______________________________; DUT nº _____________________
em nome de _________________________________; DUAL nº _________________
em nome de _________________________________________; último PGU de CNH
nº ______ em nome de _______________________________; último PGU de veículo
nº _________________, em nome de ________________________________. Em
estoque foram encontrados __________ DUT, __________ espelhos, de nº __________
a ____________; __________DUAL de nº ________________ a ______________;
_______ CNH, espelhos de nº ______________ a _____________. Foram visadas ainda,
a última ata do exame prático de direção, realizado em ____/____/____, com _______
candidatos inscritos, sendo ________ aprovados e __________ reprovados; a última
ata de exame escrito, realizado em ____/____/____, com __________ candidatos
inscritos, sendo _________ aprovados e ____________ reprovados; último alvará de
funcionamento de Auto-Escolas: _________ (nº do alvará/nome da Auto-Escola). Foram
vistas ainda ______ sindicâncias instauradas contra infratores do CTB, a saber:
__________ (nº/nome do sindicado). Necessidades: Pessoal: ___________; Material:
________; Outros: _________. Recomendações feitas: __________________________.
Considerações finais:
__________________________________________________________. Nada mais
havendo, o Sr. Corregedor deu a visita por encerrada e sobre ela lavrei o presente termo
que vai devidamente assinado por todos que dela participaram e por mim
______________________________ Escrivão(ã) de Polícia Chefe da Seccional.

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CAPÍTULO XVII
CRIMES AMBIENTAIS

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2.Breves considerações sobre os crimes contra


o meio ambiente; 3. Infrações Penais contra a fauna; 3.1 Infrações Penais classificadas
como menor potencial ofensivo; 3.2 Infrações penais apuradas por Inquérito Policial;
3.3 Causas de exclusão de ilicitude; 4. Infrações Penais contra a flora; 4.1 Infrações
penais classificadas como de menor potencial ofensivo; 4.2 Crimes ambientais apurados
por meio de inquérito policial; 4.3 Conceitos específicos dos crimes contra a flora; 5
Infrações penais de poluição e outros delitos ambientais; 5.1.O tipo penal poluição; 5.2
As várias espécies de poluição; 6. Infrações penais contra o ordenamento urbano e o
patrimônio cultural; 6.1.Classificação dos crimes; 7. Infrações penais contra a Adminis-
tração Ambiental; 8. Infrações penais não previstas na legislação específica sobre meio
ambiente; 9. Conclusão.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A legislação penal protetora do meio ambiente tem como base institucional o


artigo 225 § 3º da Constituição Federal, muito embora anteriormente já previsse o
direito positivo regras definidoras de infrações penais.
Pretendeu o legislador, com a Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente – Lei n.
9.605, de 10 de fevereiro de 1998 -, estabelecer regras uniformes visando à incrimi-
nação daqueles que perturbam o sadio meio ambiente.

2. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRIMES CONTRA O MEIO


AMBIENTE

Fixando um exagerado número de tipos criminais, o legislador transformou


certas infrações meramente administrativas em crimes e utilizando, conforme assi-
nala o doutrinador Luiz Régis Prado, “conceitos amplos e indeterminados – muitas
vezes eivados de impropriedades técnicas, linguísticas e lógicas -, permeados por
cláusulas valorativas, e, frequentemente, vazados em normas penais em branco (vg.,
arts. 34, 38, 40, 45, 60, etc.), com excessiva dependência administrativa (vg.: permis-
são, licença ou autorização da autoridade competente)”, possibilitou manter vigen-
te dispositivos criminais previstos em outras legislações.
Diante das inovações apresentadas e dadas as características das infrações pe-
nais contra o meio ambiente, especialmente levando-se em conta os denominados
ilícitos penais de menor potencial ofensivo e, ainda, a problemática da responsabi-
lidade penal da pessoa jurídica, toda a sistemática da investigação deve obedecer a
critérios específicos conforme a natureza do ilícito.  

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

3. INFRAÇÕES PENAIS CONTRA A FAUNA  

Os tipos penais definidos como “crimes contra a fauna”, previstos nos ar-
tigos 29 a 35 da Lei nº 9.605/98, tem como objeto a proteção do “conjunto de
animais próprios de uma região”, fixando, a norma penal, a defesa da “fauna
silvestre”.
Consideram-se espécimes de fauna silvestre, de acordo com o  § 3º do artigo
29, “todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras,
aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo
dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras”,  
A Polícia Judiciária, referente ao capítulo dos Crimes contra a Fauna, que
descreve dezessete tipos criminais, deve levar em conta a natureza da infração penal.
Dessa forma, os crimes cujas sanções penais não sejam superiores a dois anos
e as contravenções penais (Lei nº. 9.099/95 c/c Lei nº 10.259/01) por serem classifi-
cados como infrações penais de “menor potencial ofensivo”, devem ser apurados
por procedimento denominado “Termo Circunstanciado”, conforme disposição da
legislação que criou e instituiu o Juizado Especial Criminal.
As infrações penais deste capítulo que têm penas superiores a dois anos são
apuradas por meio de Inquérito Policial, conforme disposição processual penal.

3.1 Infrações Penais classificadas como menor potencial ofensivo

As infrações penais contra a fauna, apuradas por rito procedimental do Juiza-


do Especial Criminal são:
Agressão à fauna silvestre – art. 29 – caput; Impedimento à procriação – inciso
I, § 1º art. 29; Modificação, dano ou destruição – ninho, abrigo ou criadouro natu-
ral – inciso II, § 1º art, 29; Comércio de ovos, larvas ou espécime da fauna silvestre
– inciso II, § 1º art. 29;  Introdução irregular de espécime animal no país – art. 31;
Crueldade contra animais – art. 32; Experiência didática ou científica dolorosa ou
cruel – § 1º - art. 32; Omissão de cautela na guarda ou condução animal – art. 31
da Lei das Contravenções Penais; Crueldade contra animais – art. 64 da Lei das
Contravenções Penais.  

3.2 Infrações penais apuradas por Inquérito Policial

São infrações penais dessa espécie:


Contrabando – art. 30; Provocação, pela emissão de fluentes ou carreamento
de materiais, o perecimento de fauna aquática – art. 33; Pesca em períodos proibi-
dos – art. 34; Pesca de espécies que devem ser preservadas – inciso I, § único, art.
34; Pesca em quantidades superiores às permitidas ou mediante aparelhos, técnicas
e métodos não permitidos – inciso II – § único, art. 34; Transporte, comércio, be-
nefício, industrialização de espécies provenientes de pesca proibidas – inciso III – §

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único,  art. 34; Pesca com utilização de explosivos ou substâncias tóxicas ou outro
meio proibido, artº 35; Crimes relacionados à pesca de toda espécie de cetáceos – Lei
nº 7.643, de 18 de dezembro de 1987.
Deve-se acrescentar, para efeito de aplicação das normas relacionadas às in-
frações contra à fauna, que o artigo 36 define o que é considerado pesca em suas
múltiplas atividades como sendo “todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apa-
nhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos de peixes, crustáceos, moluscos e
vegetais hidróbios suscetíveis ou não de aproveitamento econômico”.  

3.3 Causas de exclusão de ilicitude


As hipóteses de causas de exclusão de ilicitude, em número de quatro, estão
previstas no artigo 37 e referem-se aos fatos descritos nos artigos 29, 31 e 32 da lei
ambiental.
Portanto, “não é crime se o abate se dá em estado de necessidade, com a fi-
nalidade de saciar a fome do agente e de sua família. É o caso do caiçara que cos-
tumeiramente abate animais para o sustento de sua família nas imediações de sua
moradia; b) também não é crime o abate de animais que causem danos às lavouras,
aos pomares e aos rebanhos, desde que autorizado pela autoridade competente”,
“c) por fim, não é crime o abate de animais considerados nocivos pelo órgão com-
petente. Cuida-se de norma penal em branco, devendo o órgão respectivo arrolar os
animais para efeito de abate em caso de necessidade”.

4. INFRAÇÕES PENAIS CONTRA A FLORA 

As infrações penais contra a flora envolvem os crimes definidos nos artigos 38


a 52 (14 tipos) da Lei nº 9.605/98 (Crimes contra o Meio Ambiente) e as Contraven-
ções Penais (04 tipos) previstas nas letras “e”, “j”, “l” e “m” do artigo 26 da Lei nº
4.771/65 (Código Florestal).
Observam os doutrinadores Vladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos de
Freitas que, promulgada a Lei nº 9.605/98, as infrações penais relativas ao Código
Florestal foram, em quase sua totalidade, consideradas como crimes, “às vezes,
com pequenas alterações na descrição da conduta ilícita, em outras, com idêntica
redação”.
Entretanto, sem que os motivos fossem devidamente esclarecidos, provavel-
mente por questões de política criminal, quatro contravenções penais foram manti-
das na legislação ambiental e que faziam parte do Código Florestal.
Pretende-se, nos comentários a respeito do tema “flora”, examinar, prelimi-
narmente, conceitos a respeito de flora, floresta, floresta de preservação permanente,
floresta de domínio público, unidades de conservação, para facilitar ao policial civil
uma visão a respeito das condutas infracionais.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

4.1 Infrações penais classificadas como menor potencial ofensivo

São consideradas infrações penais contra a flora classificadas como “menor


potencial ofensivo”, (Lei nº 9.099/95), os crimes definidos na Lei nº 9.605/98 e as
contravenções penais de natureza florestal previstas nas alíneas “e”, “j”, “l” e “m”
do artigo 26 da Lei nº 4.771/65  - Código Florestal.
O Código Florestal, em dispositivos que não foram revogados pela nova legis-
lação sobre crimes ambientais, trata de contravenções penais que envolvem questões
importantes a respeito da preservação do meio ambiente relacionadas às florestas e
demais formas de vegetação.
São infrações penais dessa espécie:
Destruição e dano – floresta de preservação permanente – modalidade culpo-
sa – § único art. 38; Incêndio em mata ou floresta – modalidade culposa – § único
art. 41; Extração mineral de pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral – art.
44; Corte e transformação de madeira de lei – art. 45; Recebimento ou aquisição
de produtos de origem vegetal – art. 46, caput; Transporte ou depósito de produtos
de origem vegetal – § único – art. 46; Impedir ou dificultar regeneração de floresta
– art. 48; Destruir ou danificar plantas  de ornamentação em lugar público e em
propriedade privada – art. 49 – modalidades dolosa e culposa; Destruir ou danificar 
florestas ou  vegetação objeto de especial preservação – art. 50; Comercializar mo-
tosserra  - art. 51; Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias
ou instrumentos próprios para caça – art. 52; As contravenções penais previstas
Código Florestal – Lei nº 4.771/65 – artigo 26: Não restituição de licenças extintas
– letra “j”; Utilização de produtos florestais ou hulha como combustível – letra “l” e 
Omissão de cautela na guarda de animais – letra “m”.

4.2 Crimes ambientais apurados por meio de Inquérito Policial 

São infrações penais dessa espécie definidos na lei de crime contra o meio am-
biente e no Código Penal:
Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente.- artº 38;
Cortar árvores em floresta de preservação permanente – art. 39; Danificar direta ou
indiretamente Unidades de Conservação – art. 40;  Provocar incêndio em mata ou
floresta – art. 41;  Fabricar, vender, transportar ou soltar balões – art. 42;  Causar
incêndio, expondo a perigo a viga, a integridade física ou patrimônio de outrem – se
o incêndio é em lavoura, pastagem mata ou floresta -  art. 250 do Código Penal.

4.3 Conceitos específicos dos crimes contra a flora

Em vários dispositivos do capítulo o legislador destacou que o bem jurídico


protegido é a preservação do patrimônio natural, dando especial atenção às Unida-
des de Conservação.
Entende a doutrina que o conceito de Unidade de Conservação deve ser mais
amplo do que o estabelecido no  art. 40,  devendo a proteção abranger as duas for-

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mas de Unidades de Conservação: Conservação de Proteção Integral  e Conserva-


ção de Uso Sustentável.
As Unidades de Conservação de Proteção Integral  que “tem por objetivo a
preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas (art. 9º, §§ 1º, 2º, 3º
e 4º, I, II, III e IV, da Lei nº 9.985, de 18-7-2000)”  e podem ser criadas pela União,
Estados e Municípios, são: reservas biológicas, parques nacionais e municipais, mo-
numentos naturais, e refúgios de vida silvestre.
São consideradas Unidades de Conservação de Uso Sustentável: áreas de pro-
teção ambiental; áreas de relevante interesse ecológico, florestas nacionais, estaduais
e municipais. reservas extrativistas, reservas de fauna, reservas de desenvolvimento
sustentável e reservas particulares do patrimônio natural.

5. INFRAÇÕES PENAIS DE POLUIÇÃO E OUTROS DELITOS AMBIENTAIS

O legislador, pretendendo estabelecer controle mais eficiente de combate a


toda forma de poluição, criou novos tipos delituosos e fixou penas variáveis de for-
ma a considerar como delitos de menor potencial ofensivo diversas infrações penais
e considerando outras como crimes extremamente graves.
A nova legislação, em oito artigos, define delitos relacionados à  prática de po-
luição, revogando os dispositivos da Lei nº 6.938/81 que, dispondo sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, definia o que era poluição.
Reconhecem os doutrinadores que a nova legislação sobre meio ambiente –
Lei nº 9.605/98 – no que se refere à poluição, apresenta-se em condições superiores
pela abrangência de seu campo e, especialmente, por procurar punir a poluição de
qualquer natureza.
Objetivando fixar as normas para a investigação criminal, de responsabilidade
exclusiva do Delegado de Polícia, este comentário classifica as questões relacionadas
à poluição e outros crimes levando em conta os dispositivos da Lei nº 9.605/98, os
crimes definidos no Código Penal e em outras legislações especiais. 
Outro aspecto que deve ser destacado a respeito dos crimes de poluição pre-
vistos na Lei nº 9.605/98, é que, à exceção do § 1º do art. 54 (modalidade culposa),
do art. 55  e  seu § único, do § 3º do artigo 56 (modalidade culposa),  e do art. 60 
classificados como delitos de menor potencial ofensivo, todos, em razão da sanção
imposta, devem ser  apurados por meio de inquérito policial.   

5.1 O tipo penal poluição

O artigo 54 da  Lei nº 9.605/98 define o crime de poluição nos seguintes termos:
“Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou o que provoquem a mortalidade de animais
ou a destruição significativa da flora”.
O dispositivo ora objeto de comentário visa sancionar a provocação de polui-
ção de qualquer natureza que, em níveis elevados, resultam ou possam resultar em

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danos à saúde humana, ou o que provoquem a mortalidade de animais ou a destrui-


ção significativa da flora.
Realista, o legislador reservou ao delito não qualquer espécie de poluição, mas
aquela em que pode ocorrer perigo de danos à saúde humana ou aquela que atinja
mortalmente a fauna ou a destruição da flora.
Segundo o doutrinador Sirvinskas, “o bem jurídico tutelado é o meio ambiente
(art. 225 da CF), sob o aspecto da proteção da pureza e limpeza da água, do ar e do
solo. É, em outras palavras, a preservação do patrimônio natural e a qualidade de
vida do ser humano, da fauna, da flora, do solo, do ar e das águas. Acrescenta-se a
isso a proteção da paisagem (poluição visual urbana e rural) e a proteção da sonori-
dade suportável (barulho e ruídos prejudiciais ao sentido auditivo)”.
A atuação da Polícia Judiciária nas investigações a respeito do crime de polui-
ção exige, preliminarmente, uma compreensão do significado do tipo delituoso para
que não haja qualquer sanção penal a formas de poluição que não ofereçam  risco à
saúde humana  nem a provocação de danos à fauna ou à flora.
Assim, deve-se considerar a exposição feita por Régis Prado para quem “a
conduta incriminada consiste em causar (originar, produzir, provocar, ocasionar,
dar ensejo) poluição de qualquer natureza, em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade dos animais
ou a destruição significativa da flora. Por poluição, em sentido amplo, compreende-
-se a alteração ou degradação de qualquer um dos elementos físicos ou biológicos
que compõem o ambiente”.
Diante das explicações a respeito do significado da poluição, torna-se neces-
sário identificar a quantidade de objetos poluentes que possam perturbar a saúde
humana e os outros elementos do crime. Não há dúvida de que, para a autoridade
policial, torna-se complexa a identificação de “níveis tais” para definir a consuma-
ção do delito.
Os exames periciais realizados por técnicos altamente especializados, e que
nem sempre a polícia tem em seus quadros, são indispensáveis para indicar a natu-
reza do instrumento poluidor  e o perigo que pode ocorrer para o ser humano, para
a fauna e para a flora.
Trata-se de delito cuja sanção penal é elevada e, em razão dessa situação, deve
o Delegado de Polícia, conhecendo dos fatos, instaurar inquérito policial e apurar a
responsabilidade das pessoas físicas e jurídicas que tiveram envolvimento no crime.
Além da forma dolosa, o legislador previu que o crime de poluição de qualquer
natureza pode ser culposo e, nessas condições, delito de  pequeno potencial ofensivo,
nos termos da Lei nº 9.099/95.

5.2 As várias espécies de poluição

A poluição de qualquer natureza apresenta situações específicas relacionadas


à poluição do solo, poluição atmosférica, poluição da água, poluição das praias,
poluição por resíduos sólidos, líquidos e gasosos.
Destaque especial deve ser dado à poluição sonora que, em razão de veto presi-
dencial ao artigo 59 do Projeto de Lei que deu origem à Lei nº 9.605/98, o “produzir

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sons, ruídos ou vibrações em desacordo com as prescrições legais ou regulamen-


tares, ou desrespeitando as normas sobre emissão e imissão de ruídos e vibrações
resultantes de qualquer natureza”, deixou de considerar crime a conduta descrita.
Prevalece, para o caso de poluição sonora, a interpretação de que  a contra-
venção penal prevista no art. 42 do Decreto Lei nº 3.688/41 é aplicável às hipóteses
previstas no dispositivo vetado. 
São definidos como crimes, além do art. 54, o deixar de adotar medidas de
precauções em caso de risco ambiental, § 3º do art. 54; executar pesquisa, lavra ou
extração de recursos minerais, art. 55; tráfico ilícito de produto ou substância tóxica,
art. 56; construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos,
obras e serviços potencialmente poluidores, art. 60; disseminar doença ou praga ou
espécies que possam causar danos à fauna,  à flora, á agricultura, à pecuária ou aos
ecossistemas, art. 61.
A lei nº 6.453, de 17 de outubro de 1977, dispondo sobre a responsabilidade
criminal por atos relacionados com atividades nucleares, descreve tipos que consti-
tuem crimes na exploração e utilização de energia nuclear.

6. INFRAÇÕES PENAIS CONTRA O ORDENAMENTO URBANO E


PATRIMÔNIO CULTURAL

O constitucionalista José Afonso da Silva, ao estabelecer os três aspectos do


meio ambiente, para efeito de conceituação, não deixou de assinalar a importân-
cia do “meio ambiente artificial” e do “meio ambiente cultural”, que são formados
“pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (es-
paço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espa-
ços livres em geral: espaço urbano aberto)” e “pelo patrimônio histórico, artístico,
arqueológico, paisagístico, turístico que, embora artificial, em regra como obra do
homem, difere do anterior (que também  é cultural) pelo  sentido de valor especial 
que adquiriu ou de que se  impregnou”.
Diante do que está estabelecido pelo referido doutrinador e, ainda, pela impor-
tância do que representa o meio urbano para a vida do ser humano e o que pode re-
presentar o patrimônio cultural, este bem definido na própria Constituição Federal,
o legislador não deixou de assinalar dispositivos relacionados a crimes praticados
contra o ordenamento urbano e contra o patrimônio cultural.
Não se pode olvidar, tratando-se de infrações penais contra o meio urbano,
da legislação que regula o “parcelamento do solo”, que tem previsão legal em dis-
positivo diverso da lei de crimes ambientais. Vide a Lei nº 6.766, de 19 de dezembro
de 1979.

6.1 Classificação dos crimes

As infrações penais deste capítulo estão classificadas em “crimes contra o pa-


trimônio cultural” e “crimes contra o ordenamento urbano”, (arts. 62 a 65 da Lei
nº 9.605/98).

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Os delitos contra o patrimônio cultural estão classificados como infrações de


médio potencial ofensivo e, em razão dessa classificação, são apurados por inquérito
policial.
As infrações penais referentes aos artigos 64 e 65, ou sejam, as relacionadas
ao ordenamento urbano, são conceituadas como de “menor potencial ofensivo”,
devendo a apuração dessa modalidade de crime ser feita, pela polícia judiciária, por
meio de  termo circunstanciado.
São crimes contra o patrimônio cultural: destruição, inutilização ou deteriora-
ção de bens especialmente protegidos, art. 61; alteração do aspecto ou estrutura de
edificação ou local especialmente protegido, art. 63.
A proteção do patrimônio cultural encontra-se na Constituição Federal, no
artigo 216. Tem por objetivo o meio ambiente, especificado no patrimônio histórico,
artístico e arqueológico, mantendo, além dos bens protegidos por lei ou por decisão
judicial, os arquivos, registros, museus, bibliotecas, pinacotecas e outras instalações
científicas ou similares protegidas por lei, ato administrativo ou decisão judicial.
Tratando-se de infrações penais apuradas em inquérito policial, tendo em vista
a pena prevista ser a de reclusão de um a três anos e multa, devem as autoridades po-
liciais atentar, preliminarmente, para a questão da competência jurisdicional, pois
tratando-se de fato que pode envolver interesses da União a atribuição de polícia
judiciária é da polícia federal.
As infrações descritas neste item são, necessariamente, classificadas como cri-
mes materiais e, nestas condições, devem ser documentadas com exames periciais
que visam comprovar a destruição, inutilização ou deterioração do bem, especial-
mente quanto à natureza do dano e seu valor.
A modalidade culposa é admissível no crime previsto no artigo 63 e, nessa hi-
pótese, a infração penal é conceituada como de  menor potencial ofensivo, podendo
ser o fato apurado a partir de termo circunstanciado.
São crimes contra o ordenamento urbano: a construção irregular em solo não
edificável, art. 64; pichar, ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento
urbano, art. 65.
O artigo 65, com a nova redação da Lei nº 12.408, de 25 de maio de 2011, des-
criminalizou o ato de grafitar, estabelecendo, em seu § 2º que “não constitui crime a
pratica de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou pri-
vado mediante manifestação artística, desde consentida pelo proprietário, e, quando
couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público,
com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e
das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e
conservação do patrimônio histórico e artístico nacional”.
O artigo 65, com a nova redação, está definindo apenas a conduta identificada
como “pichar”, espécie de infração penal que se tornou comum nas grandes cidades,
como demonstração de protesto de toda a natureza, inclusive política.
Trata-se de delito classificado de menor potencial ofensivo outrora identifi-
cado como modalidade de crime de dano e que tem como sujeito ativo somente a
pessoa física.

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Em regra, o sujeito passivo envolve, não somente o proprietário do bem cons-


purcado ou a União, os Estados ou Municípios, mas especialmente a coletividade.
As investigações a respeito de delitos da espécie devem ser procedidas nos ter-
mos da Lei nº 9.099/95, devendo a polícia judiciária, federal ou estadual, elaborar
termo circunstanciado instruído com prova da materialidade da infração, encami-
nhando-o a juízo criminal competente.

7. INFRAÇÕES PENAIS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO AMBIENTAL


Na elaboração da legislação referente ao meio ambiente pode perceber o le-
gislador que, para salvaguarda do objeto da lei, haveria necessidade de criar novos
tipos penais relacionados à administração ambiental.
Dessa forma, embora não constituindo inovação, a Lei nº 9.605/98 criou qua-
tro tipos penais envolvendo infrações praticadas somente por funcionários públicos
e outras que, além do servidor, podem envolver, especialmente, o particular.
Após a promulgação da legislação ora comentada, a administração ambiental,
em todas as suas áreas, passou a ser mais presente e, principalmente, na elaboração
de estudos de impacto ambiental, tem realizado trabalho de efeito preventivo.
São crimes praticados por funcionários públicos: Falsidade, omissão e sone-
gação de informações, art. 66; Concessão de licença, autorização ou permissão em
desacordo com as normas ambientais, art. 67.
O artigo 66, prevendo pena de reclusão,  de um a três anos, e multa, pode
ser comparado aos delitos de falsidade ideológica e de prevaricação, em razão
da descrição do tipo reservado ao funcionário público em atividade de proteção
ambiental.
Igualmente o artigo 67 trata de delito próprio e tem como característica o fun-
cionário público conceder autorização para a realização de serviços, atividades ou
obras em desacordo com as normas ambientais.
O sujeito ativo dessas espécies de delito somente pode ser aquele que, nos ter-
mos do artigo 327 do Código Penal, é conceituado como funcionário público.
Deve-se assinalar, no exame do artigo 66, o rigor da pena prevista que indica a
modalidade de reclusão, enquanto no artigo 67, a pena prevista, mantendo a mesma
quantidade da sanção, é de detenção.
As investigações a cargo da polícia judiciária, por meio  de inquérito policial,
devem obedecer, quanto às atribuições do órgão, a natureza da infração quanto
a competência jurisdicional. Tratando-se de organismo ambiental pertencente â
União, cabe ao Departamento de Polícia Federal a instauração do inquérito poli-
cial, ficando reservado à polícia civil dos Estados a investigação no caso de o sujeito
passivo ser organismo estadual.
O parágrafo único do artigo 67 prevê infração penal de  modalidade culposa,
cuja pena é de detenção de três meses a um ano e multa, classificada desta forma
como “menor potencial ofensivo” e, portanto, apurada por meio de termo circuns-
tanciado, tanto na polícia federal como nos organismos da polícia civil, nos Estados.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Os delitos descritos nos artigos 68 e 69 podem ser praticados, por serem classi-
ficados como comuns, por qualquer pessoa, inclusive por funcionário público.
No artigo 68, o autor Passos de Freitas, em sua obra já citada, comentando
esse dispositivo, faz uma advertência a respeito do tipo delituoso que serve, efetiva-
mente, para a investigação criminal a cargo da polícia judiciária.

“Trata-se de tipo penal aberto, ou seja, cuja abrangência alcança uma


grande quantidade de situações fáticas. Esse fato, que é inquestionável,
exige prudência do Ministério Público e do Judiciário. É preciso que no
caso concreto se examine detidamente a existência de dolo ou culpa,
evitando-se o constrangimento de se submeter cidadãos às agruras do
processo penal, sem que haja justa causa. Se não houver discernimento
na apreciação dos fatos, as mais variadas atividades poderão, sob o
critério subjetivo do autor da denúncia, configurar esse crime, em tese”.

O artigo 68 admite a modalidade  culposa, cuja pena é de três meses a um ano,
sem prejuízo da multa. 
Referentemente ao artigo 69, pode-se acrescentar que esta modalidade de de-
lito tem o seu momento consumativo com  a ação de obstar ou dificultar a fiscaliza-
ção podendo ocorrer com simples omissão.
A apuração se faz com inquérito policial, excepcionando-se na hipótese de
tratar-se de delito culposo, quando o rito procedimental é o previsto na  Lei nº
9.099/95.

8. INFRAÇÕES PENAIS NÃO PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA


SOBRE MEIO AMBIENTE

Os vetos a dispositivos do projeto de lei que deu origem à Lei nº 9.605/98 man-
tiveram preceitos penais relativos ao meio ambiente que estão descritos em legisla-
ções esparsas, inclusive no Código Penal.
Dada a relevância de certas disposições, especialmente as contravenções penais
relativas à defesa da flora e à poluição, este capítulo pretende apresentar, de forma
bastante simplificada, os tipos penais descritos em legislações esparsas e que não
foram revogados pela lei de crimes ambientais. 
O Código Penal, em diversos dispositivos, trata, subsidiariamente, de crimes
que podem envolver fatos relacionados ao meio ambiente.
Os tipos referidos estão descritos nos artigos 163, 164, 250, 251, 252, 253, 254,
256, 270 e 271, não necessitando de comentários específicos a respeito em razão de
ampla bibliografia e obras especializadas de doutrinadores.
Com o objetivo de, apenas, especificar a natureza das infrações penais quanto
à  forma de investigação criminal, este comentário apresenta classificação a respeito
dos atos de Polícia Judiciária.
São indicadas infrações penais denominadas de menor potencial ofensivo e,
portanto, apuradas, em princípio, por termo circunstanciado as seguintes:

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

1. Dano (art. 163, caput);


2. Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (art. 164);
3. Fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte  de explosivos ou gás
tóxico, ou asfixiante, poluição atmosférica (art. 253).
Constituem delitos apurados por meio de inquérito policial:
1 - Dano qualificado (art.163, § único);
2 - Incêndio (art. 250);
3 - Explosão – (art.251);
4 - Uso de gás tóxico ou asfixiante (art.252);
5 - Inundação (art.254);
6 - Desabamento ou desmoronamento (art. 256);
7 - Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal
(art. 270);
8 - Corrupção ou poluição de água potável (art. 271).

9. CONCLUSÃO

Os comentários expostos não tiveram a intenção de apresentar discussões dou-


trinárias a respeito dos ilícitos penais do meio ambiente, tarefa muito bem apreciada
pelos doutos referidos na bibliografia.
O objetivo pretendido é oferecer sugestões a respeito do trabalho investigató-
rio que deve exercer a Polícia Civil na apuração das infrações ambientais, levando-se
em conta, principalmente, as inovações surgidas com recentes legislações.
As infrações penais, tanto aquelas tipificadas na legislação especial como nas
legislações esparsas, na pretensão de oferecer melhor tutela ao meio ambiente, apre-
sentam sanções ora classificadas como “menor potencial ofensivo” ora como “infra-
ções de alta potencialidade criminal”, inclusive como “crimes hediondos”.
Dessa forma, deve-se consignar que, no exercício de Polícia Judiciária, as in-
vestigações podem ser realizadas por meio de inquérito policial ou, tratando-se de
infração prevista na lei nº 9.099/95, com a nova conceituação de infração de menor
potencial ofensivo, por termo circunstanciado.
As infrações penais lesivas ao meio ambiente, em regra, são infrações que
deixam vestígios e, por esse motivo, devem ser documentadas com exames peri-
ciais requisitados pelo Delegado de Polícia que deve apresentar quesitação crimi-
nalística adequada.
Muito embora a questão da responsabilidade penal da pessoa jurídica, nas
infrações penais do meio ambiente, seja objeto de polêmica discussão doutrinária,
os atos investigatórios, por meio de inquérito policial ou de termo circunstancia-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

do, devem estabelecer a real participação de autoria da infração, nos termos da


legislação pertinente.1

1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Responsabilidade penal da pessoa jurídica a luz da


Constituição Federal. Boletim IBCCrim, edição especial, São Paulo, n.º 65, abril, 1998.
BRASIL, IBAMA – Temas polêmicos. Conceituação de madeira de lei. Internet Ibama. www.@
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MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro, 6a. ed, São Paulo, Malheiros,
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PRADO, Alessandra Rapassi Mascarenhas. Proteção penal do meio ambiente – Fundamento, São
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__________. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Boletim do IBCCrim, n.65, São Paulo,
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__________. Quadro comparativo das infrações penais contra o ambiente. Boletim do IBCCrim
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SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do meio ambiente, 2a. ed, São Paulo, Editora
Saraiva, 2002.

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CAPÍTULO XVIII
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA

Sumário: 1. Conceito; 2. Evolução histórica; 2.1 Os Direitos Humanos do estado de


natureza à sociedade civil; 2.2 Inglaterra; 2.3 Estados Unidos; 2.4 França; 3. Evolução
histórica em nível global; 4. Os Direitos Humanos na segunda metade do século XX; 5.
Os Direitos Humanos nas Américas; 6. Os Direitos Humanos e suas quatro gerações; 7.
Características dos Direitos Humanos; 8. Regras mínimas da ONU para o tratamento
dos reclusos; 9. Repertório de regras mínimas no Brasil; 10. Uso de algemas; 11. Refle-
xos na legislação interna; 12. Direitos Humanos na Polícia Civil; 13. A Academia de Po-
lícia e os Direitos Humanos; 14. A globalização dos Direitos Humanos; 15. Conclusão.

1. CONCEITO

De Plácido e Silva preleciona que Direitos Humanos é a “designação dada a


todo Direito instituído pelo homem, em oposição ao Direito que se gerou nas rela-
ções divinas feitas ao homem”.1
Para Alexandre de Moraes, Direitos Humanos é o “conjunto institucionali-
zado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o res-
peito à sua dignidade, por meio sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e
o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personali-
dade humana”.2
De acordo com a Unesco, “a proteção de maneira institucionalizada dos di-
reitos da pessoa humana contra os excessos do poder cometidos pelos órgãos do
Estado ou regras para se estabelecer condições humanas de vida e desenvolvimento
da personalidade humana”, configura os Direitos Humanos.3
Maurice Cranston, por sua vez, conceitua Direitos Humanos como “uma ex-
pressão do século XX para o que foi tradicionalmente conhecido como direitos na-
turais, ou, numa frase mais estimulante, os direitos do homem”.4
Outros doutrinadores conceituaram os Direitos Humanos, merecendo ser lem-
brados Norberto Bobbio, Louis Henkin, o argentino Carlos Santiago, Antonio En-
rique Pérez Luño, De Villiers e Herkenhoff, constantes das bibliografias consultadas.

1 Cf. De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 11ª edição, Rio de Janeiro, Forense, 1989, p.88.
2 Cf. Alexandre de Moraes, Direitos Humanos Fundamentais, São Paulo, Atlas, 1997, p. 39.
3 Cf. Unesco, Les dimensions internationales des droits de l’homme, 1978, p. 11.
4 Cf. Maurice Cranston, O que são os Direitos Humanos, Difel, Difusão Editorial S/A, São
Paulo, Rio de Janeiro, 1979, p.1.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A evolução histórica dos Direitos Humanos, que se inicia a partir do estado de


natureza até plasmar a sociedade civil, passa, necessariamente, pela história política
da Inglaterra, dos Estados Unidos e da França.

2.1 Os Direitos Humanos do estado de natureza à sociedade civil

Thomas Hobbes, em seu Leviatã, refere-se ao estado de natureza em que vi-


viam todos os homens, como a liberdade que cada um deles possui de utilizar, como
quiser, de seu próprio poder para preservar sua própria natureza, descrevendo três
principais causas da discórdia “primeiro, a competição; segundo, a desconfiança, e
terceiro, a glória” 5.
Segundo Hobbes, o estado primitivo, tido como de inocência e de felicidade,
no qual todo homem tem o direito de fazer o que quiser, apresenta-se como uma
época anárquica, violenta e de discórdia entre os homens.
A guerra latente no estado de natureza só termina com a instituição do Estado
e de seu soberano, momento histórico em que os homens renunciam parte de seus
direitos em relação a este, que os exerce em nome dos governados.
Nasce, então, o contratualismo, descrito como a transferência mútua de direitos.6
John Locke, analisando a questão, doutrina que os homens são iguais e pos-
suem a mesma faculdade jurídica, citando, como exemplos, o direito à vida, à li-
berdade, à propriedade, bem como o poder de julgar e de castigar os violadores do
contratualismo.
Ensina que a sociedade política decorre de um contrato específico e limitado,
capaz de resolver os conflitos e de defender os direitos de propriedade contra a in-
justiça.
À semelhança do pensamento de Hobbes, Locke entende que os homens, em
troca da garantia de respeito ao Direito, cedem sua prerrogativa pessoal na interpre-
tação e execução da lei natural.7
Emanuel Kant discorrendo sobre o Estado afirma que se torna fundamental
discutir a passagem do estado de natureza, ou estado da força, para o estado de
direito, ou sociedade civil.
De acordo com a visão jusnaturalista do problema, essa passagem pode ocorrer
de duas formas.
A primeira delas é resultante da eliminação do estado de natureza na sociedade
civil, opinião compartilhada por Hobbes e Rousseau, em decorrência da completa
alienação dos direitos naturais, produzindo-se um estado absolutamente novo em
relação à autoridade do Estado.

5 Cf. Thomas Hobbes, Leviatã, tradução João Paulo Monteiro e Mana Vizza da Silva,Abril
Cultural,1979, p. 75.
6 Cf. Thomas Hobbes, op. cit.,p. 75.
7 Cf. John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo, Abril Cultural, São Paulo, 1983.

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A última delas, sob inspiração de John Locke, determinava a conservação do


estado de natureza na sociedade civil, asseverando que a função do Estado, de di-
reito ou meramente civil, é assegurar a realização dos direitos naturais anteriores à
sua criação.8
Kant adota a segunda alternativa. Aceita a distinção entre Direito Privado e
Direito Público, na qual o Estado de Direito não altera os institutos de Direito Pri-
vado, como a propriedade, o contrato e a sucessão, que lhes são anteriores, consti-
tuindo a passagem do estado de natureza para o de sociedade civil um dever moral.9
“Durante o século XVIII, Montesquieu consegue sublimar o elo entre o Es-
tado, a lei e a liberdade política. No século seguinte, Hegel também ligará Estado
e liberdade, mostrando assim a função positiva do Estado, que, segundo este pen-
sador, encampa a Razão”, esclarecem Maria Carolina Milani Caldas, Alber Rosa
Figueiredo, Ivete da Costa e Lara Maria da Rosa em seu notável artigo “Direitos
Humanos”, publicado pela Revista Adpesc.10

2.2 Inglaterra

As declarações de direitos, hoje em vigor, de vasta amplitude, resultam de uma


demorada evolução, cujas bases encontram-se nos famosos documentos do Direito
Constitucional da Inglaterra, v.g., a Magna Carta, a Petition of Rights, o Habeas
Corpus Act, o Bill of Rights e o Act of Settlement.
A Magna Carta foi imposta ao Rei João Sem Terra pelos barões ingleses, entre
15 e 19 de junho de 1215, dando início à história dos Direitos Humanos.11
Guilherme José de Mattos, Delegado de Polícia aposentado, considera a Carta
Magna inglesa como “a primeira constituição do mundo”.12
A Petition of Rights, representando o reconhecimento das antigas liberdades
nacionais, foi exigida de Carlos I, pelas Comunas, em 1628.
O Habeas Corpus Act, promulgado em 1679, sob o reinado de Carlos II, era o
meio legal para libertar as pessoas ilegalmente presas ou detidas.
O Bill of Rights, editado por ocasião da ascensão ao trono de Guilherme de
Orange, em 1689, restringiu o poder real.
O Act of Settlement, finalmente, em 1701, fechando o ciclo histórico desses
importantes documentos de vasta amplitude, exigiu o consentimento prévio do Par-
lamento inglês para o Estado declarar guerra ao mesmo tempo em que impedia o
rei de destituir magistrados.

8 Cf. John Locke, op. cit..


9 Cf. Norberto Bobbio, Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant, tradução de Alfredo
Foül, Universidade de Brasília, 9ª ed., 1997.
10 Cf. Maria Carolina Milani Caldas, Alber Rosa Figueiredo, Ivete da Costa e Lara Maria da
Rosa, Direitos Humanos, Revista Adpesc, nº 3, 1º semestre de 1999, p. 72.
11 Cf. João Francisco Crusca, Violação dos Direitos Humanos, Revista Adpesp, ano 19, nº 26,
dezembro de 1998, p.40.
12 Cf. Guilherme José de Mattos, Da proteção dos Direitos Humanos, Revista Adpesp, nº 8, 2º
semestre de 1982, p. 14.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2.3 Estados Unidos


Em 1776, a Declaração de Independência americana proclama, de forma sole-
ne, que todos os homens foram criados iguais e que foram dotados pelo Criador de
certos direitos inalienáveis.
Entre esses direitos, a Declaração de Independência colocou em evidência a
vida, a liberdade e a busca da felicidade, afirmando que, para assegurar o seu uso,
os homens estabelecem entre si governos, cuja autoridade emana do consentimento
dos governados.
No mesmo ano, a Declaração de Direitos da Virgínia proclamava como di-
reitos inerentes ao homem, o gozo da vida e da liberdade, os meios de adquirir e
possuir a propriedade, bem como a busca e a obtenção da felicidade e da segurança.

2.4 França
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, decorrente da Revo-
lução Francesa, proclamou como direitos naturais e imprescritíveis, a liberdade, a
propriedade, a segurança e a resistência à opressão, negando o estado de coisas que
vigorava sob o domínio da realeza.
Guilherme José de Mattos, a propósito, observa que “a Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão, de 1789, é oriunda da Revolução Francesa”, tendo
sido “preparada pelos escritos dos Enciclopedistas e dos filósofos Voltaire, Montes-
quieu e Rousseau. Representa o grito dos povos oprimidos pela tirania dos reis, um
dos quais Luiz XIV, cognominado o Rei Sol, que entendia estar investido do direito
divino, como se fosse um Deus na Terra. Aliás, chegou a dizer que era o próprio
Estado, com esta sua frase: L’État c’est moi, o Estado sou eu”.13
Os constituintes de 1789, antes de estabelecerem o Governo da França sobre no-
vas bases, decidiram fazer uma declaração solene de direitos “naturais, inalienáveis e
sagrados” do homem, objetivando prevenir, definitivamente, a volta do despotismo.
Com semelhante declaração, os constituintes, além de proteger os indivíduos,
impuseram uma limitação absoluta aos poderes do Estado.
Inspirada pelos fisiocratas e pelos jusnaturalistas, a declaração francesa admi-
tia a existência de certos princípios anteriores e imutáveis, que se impõem aos povos
em todos os tempos, e que deveriam estar sempre diante dos olhos do povo, servindo
de guia aos legisladores e de salvaguarda dos cidadãos.
Guilherme José de Mattos, nesse sentido, ensina que “o direito natural é o
que vem do céu. Está entre nós, dentro de nós. Sendo criação de Deus, é anterior
ao Estado; logo também ao homem, que é filho de Deus, é anterior ao Estado. Daí
porque o direito positivo, criação do homem, existe para amparar os princípios do
direito natural. Assim é que, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, es-
tão relacionados o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à segurança pessoal ao
trabalho e ao salário justo, além de outros”.14

13 Cf. Guilherme José de Mattos, op. cit., p.15.


14 Cf. Guilherme José de Mattos, op. cit., p.16.

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Esse importante documento estabelece que o indivíduo é portador de direitos


essenciais e sagrados que nenhum Estado pode privar, e em nome dos quais o cida-
dão tem o dever de se rebelar contra quem quer que contra eles atente.
Essa mesma ideia de oposição dos direitos do indivíduo em relação ao Estado,
encontrada na Declaração de 1789, surge, novamente, nas Declarações francesas de
1793, ano III, e de 1848.
Tais ideias encontram seu primeiro registro em escritos de Locke,15 que, reto-
mando a hipótese do estado de natureza, inicialmente analisada por Hugo Grotius,
pregou a igualdade e a liberdade original dos homens.
Assim, caso os legisladores neguem e destruam as coisas que pertencem ao
povo, “põem-se em estado de guerra com este, que fica isento de toda espécie de
obediência a seu respeito”.16
É o direito à revolução.

3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA EM NÍVEL GLOBAL


Na última metade do século XX consolidou-se a concepção de Direitos Hu-
manos na esfera da política internacional. Paralelamente, desenvolveu-se um pro-
cesso de normatização sistemática, que definiu os princípios gerais a serem adotados
por todos os países envolvidos, bem como de edição de atos internacionais que vem
institucionalizando mecanismos concretos de proteção dos direitos humanos”.17
Doutrinam essas brilhantes autoridades policiais catarinenses que, “enquanto
o século XIX havia se caracterizado por ser o momento do reconhecimento consti-
tucional, em cada Estado, dos direitos fundamentais, no século XX, principalmente
após a Segunda Guerra Mundial, houve uma progressiva incorporação dos direitos
humanos no plano internacional. Tal constatação levou à discussão desse fenôme-
no da política internacional contemporânea com a criação de um novo campo de
interesse e atuação dos Estados com a consequente proliferação de acordos em ins-
tituições específicas para tratar dos direitos humanos, permitindo hoje que se afirme
serem os direitos humanos um tema global”.18
Em razão desse contexto, ao longo do século XIX constata-se uma série de
ações estatais e privadas, de caráter pontual, como a criação da Cruz Vermelha
Internacional que, em meados desse século, introduziu a questão dos Direitos Hu-
manos na política internacional.
Apontam as autoras anteriormente citadas que, “em 1916, o American Institu-
te of International Law, criado em 1912 pela União Panamericana (existente desde
1899), projeta uma declaração de direitos do homem estruturada internacionalmen-
te, sem obter resultados positivos”.19

15 Cf. John Locke, Segundo Tratado sobre o Governo, op. cit., 1983.
16 Cf. Heleno Cláudio Fragoso, Direito Penal e Direitos Humanos, 1ª ed, Forense, Rio de Janei-
ro, 1977, p.120.
17 Cf. Maria Carolina Milani Caldas, et al, op.cit., p. 73.
18 Cf. Maria Carolina Milani Caldas, et al, op.cit., p. 73.
19 Cf. Maria Carolina Milani Caldas, et al, op.cit., p. 73 e p. 74.

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O Tratado de Versalhes, resultado da Conferência de Paris, em 28 de junho


de 1919, coroando o final da Primeira Guerra Mundial, na Parte XII, referen-
te à Carta da Organização Internacional do Trabalho, estabelece os direitos do
trabalhador, mediante “a noção de um direito comum internacional referente às
liberdades individuais”.
Em 1938, a Conferência Pan-Americana, reunida em Lima, Peru, diante de
um iminente quadro de crise internacional, prevendo as atrocidades nazistas já es-
boçadas a partir da subida de Hitler ao poder no governo da Alemanha, ressaltou a
necessidade da “defesa dos direitos do homem”.
Heleno Cláudio Fragoso, por sua vez, ensina que “uma nova visão começa a
surgir quando Roosevelt em 1941, numa declaração famosa, proclama as quatro li-
berdades: a liberdade de expressão, que garante a democracia; a liberdade de credo;
a liberdade da necessidade, e a liberdade do medo”.20
Discorrendo acerca da Doutrina das Quatro Liberdades, de Franklin Delano
Roosevelt, enunciadas em 1941, a saber, “de palavra e expressão, de culto, de não
passar necessidade e de não sentir medo!”, Guilherme José de Mattos alerta que
“bom seria se todos, neste mundo, não passassem necessidade, nem sentissem medo,
mas, o certo é que muita gente passa fome ou vive no medo”.21
A Carta do Atlântico, de 14 de agosto de 1941, subscrita pelo Presidente dos
Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt e pelo Primeiro Ministro da Inglaterra,
Winston Churchill, “afirmava a esperança de que a paz se estabelecesse, propor-
cionando a segurança, de que todos os homens em todos os países, pudessem viver
livres do medo e da necessidade”.22

4. OS DIREITOS HUMANOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX

A intensificação da política de direitos humanos teve como fator decisivo o


nazismo, cujos campos de concentração, técnicas de extermínio em massa através da
utilização de câmaras de gás e fornos crematórios, trabalhos forçados e experiências
cruéis com seres humanos, foram revelados ao mundo pelos aliados, perplexos com
as atrocidades nazistas.23
Desse holocausto decorreram ações instrumentais que levaram a constituição
do Tribunal de Nuremberg, em 1945, que reprimiu os crimes contra a humanidade.24
Preleciona Heleno Cláudio Fragoso que “a Carta da ONU, surgida ao término
do conflito, em seu preâmbulo, declara que os povos das Nações Unidas reafirma-
ram sua fé nos direitos humanos, na dignidade e no valor da pessoa humana, nos
direitos iguais de homens e mulheres”.25

20 Cf. Heleno Cláudio Fragoso, op. cit., p.120 e Maria Carolina Milani Caldas et al, op. cit., p. 74.
21 Cf. Guilherme José de Mattos, op. cit., p. 15
22 Cf. Heleno Cláudio Fragoso, op.cit., p. 120.
23 Cf. João Francisco Crusca, op. cit., p. 37.
24 Cf. João Francisco Crusca, op. cit., p. 38.
25 Cf. Heleno Cláudio Fragoso, op. cit., p. 120.

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Dentro desse quadro, a Comissão de Direitos Humanos, criada em decorrên-


cia do art. 68 da Carta da ONU, elaborou, em três anos, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, promulgada em Paris, no Palais de Chaillot, em 1948, sob a pre-
sidência de Eleanor Roosevelt, ainda sob o impacto da Segunda Guerra Mundial.26
Guilherme José de Mattos, discorrendo sobre esse notável documento, consi-
dera-a “a bíblia política” do mundo civilizado, contendo trinta artigos, constituin-
do-se em “um belo somatório de direitos da pessoa humana” cujos princípios, “em-
bora não revestidos de forma jurídica, representam o compromisso assumido pelos
países signatários da mesma”.27
Em 1951, a História dos Direitos Humanos registra a promulgação da Con-
venção sobre o Estatuto dos Refugiados, enquanto que, em 1966, foram promulga-
dos e adotados o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Todavia, é preciso lembrar que, entre a Conferência de São Francisco, em 1945,
quando se promulgou a Carta da ONU, e a adoção da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, em 1948, o mundo viveu a época denominada guerra fria, que
iria repercutir em todos os foros internacionais, de sorte a fazer com que a segunda
tivesse um efeito mais simbólico que prático.

5. OS DIREITOS HUMANOS NAS AMÉRICAS

No continente americano, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do


Homem, proclamada pela OEA – Organização dos Estados Americanos, em 2 de
abril de 1948, adquire destaque pela sua primazia, sendo adotada em decorrência da
IX Conferência Internacional Americana, reunida em maio deste ano, em Bogotá.28
Essa declaração prevê, de maneira muito ampla, direitos civis e políticos, assim
como direitos econômicos, sociais e culturais, merecendo seu preâmbulo especial
destaque ao afirmar que “as Constituições nacionais dos povos americanos reconhe-
cem que as constituições jurídicas e políticas que regem a vida em sociedade, têm como
finalidade principal a proteção dos direitos essenciais do homem e a criação de circuns-
tâncias que lhe permitam progredir espiritual e materialmente, e alcançar a felicidade.
Os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele cidadão de determinado
Estado, mas sim do fato de os direitos terem como base os atributos da pessoa humana”.

6. OS DIREITOS HUMANOS E SUAS QUATRO GERAÇÕES

Os direitos fundamentais da pessoa humana são aqueles que todas as pessoas


devem ter, em todo lugar e a qualquer tempo, e cuja privação causaria uma grave

26 Cf. Eduardo Muylaert Antunes, Natureza Jurídica da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, RT 446/29.
27 Cf. Guilherme José de Mattos, op. cit., p.15.
28 Cf. Guilherme José de Mattos, op. cit., p.15.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ofensa à Justiça.29 Esses direitos apresentam-se como direitos fundamentais de pri-


meira, segunda, terceira e quarta gerações.
Os direitos fundamentais de primeira geração, ou direitos da liberdade, são
aqueles que têm por titulares o indivíduo. São oponíveis ao Estado, e se traduzem
como faculdades ou atributos da pessoa, ostentando uma subjetividade que é o seu
traço mais característico.
São, enfim, os direitos de resistência ou de oposição perante o Estado e que va-
lorizam primeiro o homem singular, o homem das liberdades abstratas, o homem da
sociedade mecanicista, que compõe a sociedade civil, tendo dominado o século XIX.
Milton da Silva Ângelo preleciona que “são os direitos e garantias individuais
e políticas clássicas, ou liberdades públicas, surgidos institucionalmente a partir da
Magna Carta.30
Os direitos fundamentais de segunda geração são os direitos econômicos, sociais
e culturais que dominaram o século XX. Nasceram juntamente com o princípio da
igualdade, dominando, por completo, as Constituições do segundo pós-guerra. De
acordo com Milton da Silva Ângelo, “foram proclamadas nas Declarações solenes
das Constituições marxistas e também no constitucionalismo da social-democracia,
principalmente na de Weimar”.31
Os direitos fundamentais de terceira geração são os denominados direitos da
fraternidade, segundo Karel Vasak, que os identificou em número de cinco.
Segundo Vasak, são direitos fundamentais da terceira geração o direito ao de-
senvolvimento, o direito à paz, o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade
sobre o patrimônio comum da humanidade e, finalmente, o direito de comunicação.
Essa classificação, conforme doutrina Milton da Silva Ângelo “não é taxativa,
mas sugestiva”.32
Os direitos fundamentais de quarta geração são o direito à democracia, o direito
à informação e o direito ao pluralismo, sendo que deles depende a concretização da
sociedade aberta ao futuro.
Esta última geração de direitos fundamentais foi apontada em 1979 por Karel
Vasak, que os denominou direitos de solidariedade.33
Alguns autores os consideram falsos direitos fundamentais.34
Em suma, são direitos fundamentais de primeira geração os direitos individu-
ais e políticos, de segunda geração os direitos sociais, de terceira geração os tran-
sindividuais e dos povos e, finalmente, de quarta geração, os das gerações futuras.35

29 Cf. João Francisco Crusca, op. cit., p. 37.


30 Cf. Milton da Silva Ângelo, Direitos Humanos, LED, Editora de Direito, p. 25.
31 Cf. Milton da Silva Ângelo, op. cit., p. 25.
32 Cf. Milton da Silva Ângelo, op. cit., p. 25.
33 Cf. João Francisco Crusca, op. cit., p. 37.
34 Cf. Robert Pelloux, apud Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Direitos Humanos Fundamen-
tais, 3ª ed, revista, Saraiva, 1999, p. 57.
35 Cf. Celso Lafer, A Reconstituição dos Direitos Humanos, São Paulo, Companhia das Le-
tras, l988, p.127, e Gilmar Antônio Bewin, Os Direitos dos Homens e o Neoliberalismo, Ijuí, Ed. Ijuí,
l977, p. 46.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Antônio Augusto Cançado Trindade considera as gerações de direitos uma


fantasia.
Ao redigir a apresentação do livro “Direitos Humanos e o Direito Constitucio-
nal Internacional”, de Flávia Piovesan, adverte, ao referir-se aos dogmas do passa-
do, que os Direitos dos Direitos Humanos vêm agora questionar e desafiar, “que o
quarto exemplo diz respeito à fantasia das chamadas “gerações de direitos”, a qual
responde a uma visão atomizada ou fragmentada destes últimos tempo. A noção
simplista das chamadas “geração de direitos”, histórica e juridicamente infundada,
tem prestado um desserviço ao pensamento mais lúcido a inspirar a evolução do di-
reito internacional dos direitos humanos. Distintamente do que a infeliz invocação
da imagem analógica da “sucessão generacional” pareceria supor, os direitos hu-
manos não se “sucedem” ou “substituem” uns aos outros, mas antes se expandem,
se acumulam e fortalecem, interagindo os direitos individuais e sociais (tendo estes
últimos inclusive precedido os primeiros no plano internacional, a exemplo das pri-
meiras convenções internacionais do trabalho).
E arremata o seu magistério, asseverando que “o que testemunhamos é o fe-
nômeno não de uma sucessão, mas antes da expansão, cumulação e fortalecimento
dos direitos humanos consagrados, a revelar a natureza complementar de todos os
direitos humanos. Contra as tentações dos poderosos de fragmentar os direitos hu-
manos em categorias, postergando sob pretextos diversos a realização de alguns
destes (e.g., os direitos econômicos e sociais) para um amanhã indefinido, se insurge
o Direito dos Direitos Humanos, afirmando a unidade fundamental da concepção,
a indivisibilidade e a justiciabilidade de todos os direitos humanos”.36

7. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

As principais características dos Direitos Humanos, segundo Milton da Silva


Ângelo, são a inviolabilidade, a irrenunciabilidade, a imprescritibilidade, a inalienabi-
lidade, a universalidade, a efetividade, a interdependência e a complementariedade.37
A inviolabilidade caracteriza os Direitos Humanos que não podem ser desres-
peitados, seja por determinações internacionais, seja por atos emanados das autori-
dades públicas, sob pena de responsabilidade civil, penal e administrativa.
A irrenunciabilidade é a segunda característica dos Direitos Humanos, que não
podem ser objeto de renúncia, como o direito à vida, à liberdade, à dignidade e à
intimidade.
A imprescritibilidade significa que o decurso do tempo não pode elidir os Di-
reitos Humanos, como no caso do crime de racismo, previsto pelo inciso XLII do
art. 5º da CF.

36 Cf. Antônio Augusto Cançado Trindade, apresentando o livro Direitos Humanos e o Direito
Constitucional Internacional, de Flávia Piovesan, Max Limonad, 2ª ed., p. 21 e 22.
37 Cf. Milton da Silva Ângelo, op. cit., pp. 18, 19 e 20.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A inalienabilidade, por seu turno, impede que o homem transfira qualquer um


de seus direitos humanos, a título oneroso ou gratuito.
A universalidade impõe o respeito aos Direitos Humanos, sem quaisquer restri-
ções, independentemente de nacionalidade, sexo, raça, credo, ou convicção política,
religiosa ou filosófica.
A efetividade, em tema de Direitos Humanos, significa coerção, de sorte que
não terão efeito qualquer, caso não se garanta a sua materialização.
A interdependência dos Direitos Humanos pressupõe uma interatividade entre
os preceitos constitucionais e os demais ramos do Direito, como nos casos do man-
dado de segurança e do habeas corpus, que garantem o direito líquido e certo e a
liberdade de locomoção.
Finalmente, a complementariedade, que é a possibilidade de se interpretar os
Direitos Humanos à luz dos princípios de Direito Público e de Direito Privado,
uma vez que impossível a sua interpretação de forma unilateral, conforme observa
Milton da Silva Ângelo.38

8. REGRAS MÍNIMAS DA ONU PARA O TRATAMENTO DOS RECLUSOS

Não é de hoje que a sociedade brasileira vem se envolvendo na elaboração


de regras mínimas para o tratamento de presos no País. Essa tendência, que deve
persistir no século que ora se inicia, preserva, com sabedoria, o interesse coletivo da
segurança da cidadania que luta por resguardar as garantias e os direitos das pesso-
as submetidas a penas privativas de liberdade.
Esse elenco de regras atende à determinação da Assembleia Geral da ONU,
preceituada através da Resolução nº 2.858, de 20 de dezembro de 1971, reiterada
pela Resolução nº 3.218, de 6 de novembro de 1974.
A importância da implementação, em todos os países, de um corpo de prin-
cípios destinado a orientar os limites do poder-dever de punir, no relacionamento
do Estado com os reclusos e detentos, em decorrência de exigências constitucionais
e legais, surgiu no IV Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Delito e
Tratamento do Delinquente, realizado em Kioto, no Japão, em 1970.
A iniciativa do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no
sentido de elaborar uma edição de Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no
Brasil decorreu do encontro de Kioto anteriormente mencionado.
Todavia, por ocasião do V Congresso das Nações Unidas, realizado em Gene-
bra, na Suíça, em 1975, levantou-se, novamente, a bandeira da luta pelos Direitos
Humanos dos presos.
De idêntica forma, o Comitê Permanente do Crime e Justiça Penal das Nações
Unidas, do qual um dos membros é o Brasil, na sessão de 26 de abril a 6 de maio de
1994, em Viena, na Áustria, reiterou recomendação no sentido de edição de Regras
Mínimas em matéria de Justiça Penal, no âmbito de todas as nações participantes.

38 Cf. Milton da Silva Ângelo, op. cit., p. 19.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A Resolução nº 8, de 12 de julho de 1994, do Conselho de Segurança Criminal


e Penitenciária, é um repertório de normas constitucionais de disciplina imprescin-
dível das relações que devem existir entre o Estado e o homem preso, seja ele conde-
nado ou provisório, assegurando-se ao reeducando todos os direitos não atingidos
pela sentença ou pela própria lei.

9. REPERTÓRIO DE REGRAS MÍNIMAS NO BRASIL

As regras mínimas, a seguir elencadas, e que poderão ter seu estudo ampliado
através de obras mais alentadas que o presente trabalho, sintetizam os esforços e
esperanças de que é possível a ressocialização do preso aproximando-o mais rapida-
mente da sociedade da qual se desviou.
Assim, o preso tem, dentre outros, direito a:
a) registro;
b) separação por categorias;
c) locais especialmente destinados à execução da pena;
d) higiene pessoal;
e) roupas e cama;
f) alimentação;
g) exercícios físicos;
h) serviços médicos;
i) disciplina e sanções;
j) direito de informação e de queixa;
k) contato com o mundo exterior;
l) biblioteca;
m) religião;
n) depósito de objetos pessoais;
o) notificação de falecimento, enfermidade e transferências;
p) inspeção.

10. USO DE ALGEMAS

Diversas normas internacionais vedam abusos que podem ser cometidos du-
rante o algemamento de pessoas, que, no Brasil, é previsto pelo art. 284 do CPP.
Nesse sentido, o artigo 31 das Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos,
da Organização das Nações Unidas.
Identicamente, segundo o magistério de Sergio Marcos de Moraes Pitombo,
vejam-se: “art. 5º da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948; art.
3º das Quatro Convenções de Genebra, de 1949 e, também, o art. 99 da Terceira
Convenção; art. 7º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 1966;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

art. 3º da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas Contra a Tortura e Ou-


tros Tratamentos e Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes, da Organização das
Nações Unidas”.
Em âmbito regional, a utilização de algemas é prevista pelo “art. 3º da Con-
venção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamen-
tais de 1950; art. 5º da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, aprovada
em 1981, ainda não vigorante; e, finalmente o art. 5º do Código de Conduta para os
Funcionários Encarregados de Fazer Cumprir a Lei”.39

11. REFLEXOS NA LEGISLAÇÃO INTERNA

A Resolução nº 2.858, de 20 de dezembro de 1971, e a Resolução nº 3.218, de


6 de novembro de 1974, da Assembleia Geral da ONU, o IV Congresso das Na-
ções Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente, realizado em
1974, em Kioto, no Japão e o V Congresso realizado em Genebra, Suíça, em 1975,
repercutiram sobre a edição da Lei de Execução Penal, Lei nº 7.210, de 11 de julho
de 1984, totalmente aproveitada pela Resolução nº 8, de 12 de julho de 1994, do
Conselho Nacional de Política Penitenciária.
Dentro desse contexto não podemos nos esquecer da Resolução nº 45/110 da
Assembleia Geral das Nações Unidas, conhecida como Regras Mínimas das Nações
Unidas sobre as Medidas Não-Privativas de Liberdade (Regras de Tóquio), sobre as
quais existe uma excelente tradução de Damásio E. de Jesus.40
Cumpre salientar, identicamente, que outros direitos humanos são assegura-
dos aos presos tais como assistência jurídica gratuita, acesso à justiça e o acesso ao
direito, bem como assistência jurídica integral por parte da defensoria pública e do
poder público.

12. DIREITOS HUMANOS NA POLÍCIA CIVIL

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, fonte e origem do Pacto so-


bre os Direitos Civis e Políticos e do Pacto sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais, consolidou-se, definitivamente, por ocasião da comemoração do seu
cinquentenário, como um dos mais destacados diplomas jurídicos produzidos pela
humanidade ao longo de sua aventura histórica sobre a face da terra.
Pedra de toque das mais modernas conquistas jurídicas do século, a Declara-
ção Universal dos Direitos Humanos liga-se, umbilicalmente, à Magna Carta Li-
bertatum, de 1215, à Petition of Rights, de 1628, ao Habeas Corpus Act, de 1679,
monumentos jurídicos que levaram a Inglaterra a promulgar, em 1689, a declaração
dos direitos naturais do cidadão inglês, conhecida como Bill of Rights.

39 Cf. Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, Inquérito Policial-Novas Tendências, Cejup, p. 90.
40 Cf. Nações Unidas, Regras de Tóquio-Comentários às Regras Mínimas das Nações Unidas
sobre as Medidas Não-Privativas de Liberdade, tradução de Damásio E. de Jesus, Edições Paloma, Com-
plexo Jurídico Damásio de Jesus, 1998.

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Muito embora restrita à cidadania inglesa, a Bill of Rights, acabou por refletir-
se na Declaração de Virgínia, de 1776, estendendo seus efeitos aos cidadãos ingleses
e seus descendentes residentes na América, sendo, finalmente, assimilada pela De-
claração dos Direitos do Homem e do Cidadão, votada pela Assembleia Nacional,
durante a Revolução Francesa.
Portentosa construção ideológica, a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão resultou dos esforços intelectuais do filósofo e humanista Thomas Paine
(1737-1809), que doutrinava que cada época e cada geração devem agir em conjunto,
estabelecendo sua própria ordem política e social, principalmente nos aspectos ati-
nentes aos direitos humanos à vida, à educação, e ao usufruto da riqueza da Nação.
Nesse sentido, é preciso recordar que eles jamais sobreviverão se a sociedade não
buscar apoio na instituição policial, conforme interpretação que se extrai da leitura
do artigo 12 do diploma revolucionário, votado pela Assembleia Nacional francesa.

13. A ACADEMIA DE POLÍCIA E OS DIREITOS HUMANOS

Louvável a iniciativa da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São


Paulo, ao incluir, a partir de 1991, a disciplina “Direitos da Cidadania” nas Escolas
de Polícia do Estado, e não menos digna a inclusão da disciplina “Direitos Huma-
nos e da Cidadania” nos concursos de ingresso à carreira de Delegado de Polícia,
abrindo-se, em decorrência dessa atitude, vagas para professores dessa disciplina na
Academia de Polícia de São Paulo.
Todavia, é preciso lembrar que o Estado não pode proporcionar plena segu-
rança aos contribuintes ao pagar baixos vencimentos aos seus quadros policiais,
inferiores aos níveis mínimos éticos mundiais, em situações registradas por uma lon-
ga história de desrespeito e omissão a direitos constitucionais isonômicos. Aliás, a
realidade brasileira mostra, há anos, através dos meios de comunicação, inúmeras
autoridades policiais, bem como seus agentes, trabalhando, paralelamente, em ou-
tras atividades, buscando complementar seus minguados vencimentos, em constante
defasagem, com retribuições pecuniárias análogas pagas pelo Poder Judiciário aos
magistrados, pelo Poder Executivo ao Ministério Público e às suas Procuradorias, e
pela iniciativa privada.
Por outro lado, somam-se ao noticiário diário da imprensa os constantes
resgates de presos, custodiados de forma anômala em unidades policiais civis, por
ousados “comandos” criminosos, que, em cinematográficos golpes de mão, têm li-
bertado seus comparsas quase que semanalmente e em grosas, como registrado em
episódios ocorridos em Campinas e na Grande São Paulo, pondo em polvorosa a
sociedade, e, ao mesmo tempo, colocando em risco os direitos dos policiais civis,
referentes à vida, à liberdade, à incolumidade física e psíquica.

14. A GLOBALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Sob o prisma dos direitos econômicos, sociais e culturais, o fenômeno da glo-


balização torna os policiais brasileiros bastante apreensivos, uma vez que, dentre os

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milhões de policiais de todo o mundo, de acordo com recente relatório da Organi-


zação Internacional do Trabalho, os brasileiros são aqueles que menores salários
recebem como contraprestação por sua perigosa e patriótica atividade laborativa.
Ao se comemorar o cinquentenário da Declaração assinada em 1948, no Tro-
cadero, aos pés da Torre Eiffel, em Paris, é preciso que os governantes não se esque-
çam de que as autoridades policiais e seus agentes trabalham, diuturnamente, em
favor de uma sociedade mais justa, garantindo o cumprimento de direitos constitu-
cionais de caráter universal, vigentes no País.
As autoridades policiais e seus agentes sabem que a folha salarial do funciona-
lismo público estadual consome grande parte da receita corrente líquida no Estado
e que vontade política não se concretiza sem recursos financeiros.

15. CONCLUSÃO

Não obstante, os governantes não podem se esquecer que a Polícia Civil cons-
titui eficiente instrumento de controle social e de proteção dos direitos humanos
fundamentais e, portanto, indispensável aos objetivos perseguidos pela democracia.
Aliás, nunca é demais lembrar que a Assembleia Nacional revolucionária, reconhe-
cendo a necessidade da instituição policial como órgão permanente do Estado apro-
vou o artigo 12, da sua histórica declaração, nos seguintes termos “a garantia dos
direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública: esta força é, pois,
instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem
é confiada”.41

41 Cf. Carlos Alberto Marchi de Queiroz, Direitos Humanos e Polícia Civil. Informativo Adpesp,
nº 42, janeiro de 1999, pp. 25 e 26.

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Capítulo XIX
ACIDENTE DO TRABALHO

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Fatores de importância; 3. Classificação de


acidentes do trabalho; 4. Higiene do trabalho; 5. Segurança do trabalho; 6. Prevenção
de acidentes; 7. Normas de proteção do trabalho policial; 8. Causas dos acidentes; 8.1
Causas imprevisíveis; 8.2 Causas previsíveis; 9. A saúde do policial civil; 9.1 Trabalho
noturno e em turnos; 9.2 Trabalho insalubre; 9.3 Trabalho periculoso; 9.4 Estresse; 10.
Lesão por esforços repetitivos e doenças osteo-musculares relacionadas ao trabalho –
LER/DORT; 11. Comissão Interna de Prevenção de acidentes – CIPA; 12. Afastamento
por acidente do trabalho. 13. Considerações finais.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Acidente do trabalho, definido pela Lei n° 8.213/91, é aquele que ocorre pelo
exercício do trabalho a serviço do empregador, provocando lesão corporal ou per-
turbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução permanente ou tempo-
rária, da capacidade para o trabalho.
Embora possa parecer que acidente no trabalho e acidente do trabalho sejam
idênticos, na realidade não o são. O primeiro é todo e qualquer acidente com le-
sões de pessoas, ou não, no local do trabalho, v.g. uma caixa que cai é acidente no
trabalho, mesmo não causando qualquer dano. O segundo é o acidente que ocorre
pelo exercício do trabalho, a serviço do empregador ou no trajeto de ida e volta do
emprego, provocando lesão corporal, perturbação funcional, doença que cause a
morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho.

2. FATORES DE IMPORTÂNCIA

O fator humano contribui, potencialmente, para a ocorrência dos acidentes


do trabalho. Algumas das características da personalidade humana podem tornar-
se causas próximas de acidentes, enquanto outras concorrem positivamente para
afastar alguns perigos.
A irresponsabilidade pode levar à negligência, a teimosia à falta de proteção e
ambas ao acidente. O fato de se achar que os infortúnios somente acontecem com os
outros, leva ao acidente, por falta de prevenção.
Inversamente, o alto senso de responsabilidade, a meticulosidade e a perseve-
rança são qualidades humanas que favorecem a prevenção.
A quase totalidade dos acidentes deriva de falhas humanas do acidentado ou
de terceiros, de modo que as estatísticas coligidas são importantes para minimizá-las.

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Dados gerais sobre acidentes do trabalho indicam que fatores humanos, como
a ignorância, a inobservância de regras de segurança e fadiga são responsáveis por
80% dos acidentes e somente 18% podem ser atribuídos às causas materiais, reser-
vando-se os 2% aos fenômenos naturais.
Além do aspecto da personalidade, verifica-se que existem indivíduos biolo­gi­
camente predispostos ao acidente. A idade, o sexo, o estado de saúde, são elementos
que influenciam nessa predisposição, pois os menores e as pessoas idosas são mais
sujeitas a acidentes.
Sabe-se que a capacidade física da mulher é distinta à do homem, tornando-a,
por vezes, mais propensa à fadiga e à enfermidade.
Deve ser lembrado, contudo, que as características físicas e os traços de perso-
nalidade sempre atuam conjuntamente na pessoa para a mensuração de sua influên-
cia na ocorrência de acidentes.
Destarte, a predisposição para o infortúnio só pode ser verificada indivi­­dual­
mente, mediante exames específicos, variando conforme a natureza do trabalho
executado.

3. CLASSIFICAÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO


Os acidentes do trabalho são classificados em doenças do trabalho, doenças
profissionais e acidentes do trabalho tipo.
Doenças do trabalho, ou mesopatias, são as que não têm no trabalho sua causa
única, resultando das condições especiais em que é executado, como pneumonia,
tuberculose, bronquite, sinusite, entre outras patologias. As condições excepcionais
ou especiais do trabalho podem provocar a quebra da resistência orgânica, fazendo
eclodir ou agravar a doença.
Doenças profissionais, ou tecnopatias, são aquelas em que a causa única en-
contra-se na própria atividade laboral, insalubre por sua natureza. São doenças tí-
picas de algumas atividades como silicose, leucopenia, tenossinovite, entre outras.
Acidentes do trabalho tipo, em seu conceito, devem cingir-se à subtaneidade
da causa e ao resultado imediato, ao contrário das doenças que apresentam pro-
gressividade e mediatidade do resultado. São os que se verificam de forma súbita,
violenta, fortuita ou ocasional, provocando lesões.

4. HIGIENE DO TRABALHO
A higiene do trabalho compreende uma série de princípios e normas, cujos
objetivos são a orientação profissional, o ensino pré-profissional, a instrução espe-
cializada, a melhoria das condições do trabalho, os socorros adequados e imediatos,
a recuperação do policial acidentado e a educação preventiva.
Considerando-se que a higiene tem papel essencialmente preventivo, parece
contraditório fazer referência a socorro e recuperação de empregados acidentados
dentro deste título. Todavia, o cuidado imediato de um ferimento, como sua desin-
fecção tem caráter preventivo, visando a não agravação de suas consequências.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A recuperação do acidentado tem muito a ver com a sua destinação para o


exercício de função compatível com suas condições mentais e físicas, evitando-se
que sua incapacidade seja, potencialmente, fonte de novos acidentes.
Alguns pesquisadores atribuem tais estudos a um campo específico da Saúde
Ocupacional, denominado Medicina do Trabalho, razão pela qual é desnecessário
mencionar outros títulos.
Ressalte-se que a divisão acadêmica do binômio higiene-segurança tem fins
meramente didáticos, não existindo limites exatos entre ambos os campos, moti-
vo pelo qual especialistas preferem englobar tais estudos na denominação genérica
Saúde Ocupacional que abrange também as medidas curativas.
A orientação e o ensino pré-profissional visam encaminhar o policial à atividade
que melhor se adapte, a fim de prepará-lo tecnicamente para o retorno a sua função.
Cumpre à higiene do trabalho propiciar condições adequadas à realização da
atividade. Busca-se, por intermédio da melhoria das condições do trabalho, esta-
belecer padrões de salubridade e proteção do policial contra a agressividade que o
labor ou o ambiente possam afetar sua saúde física e mental.
Amplo trabalho de recuperação das vítimas de acidentes deve ser feito para
reintegrá-las em suas atividades, impedindo-as de se sentirem inúteis.

5. SEGURANÇA DO TRABALHO

A segurança do trabalho é o estudo e a execução de medidas que visam a


remoção das condições inseguras ou, pelo menos, a diminuição de seu número e
gravidade.
Nesse contexto, considera a Polícia Civil, acidente de trabalho toda lesão
sofrida que possa tornar o policial civil inválido, causar sua morte, afastá-lo
para tratamento médico ou doenças contraídas em razão da função. Também
por fato lesivo ocorrido no trajeto entre a sua casa e o trabalho ou vice versa,
bem como quando tal se der em razão da função, nos termos do artigo 3º da
Portaria DGP 19/98.
Regras gerais de segurança na polícia são, entre outras, a manutenção cons-
tante de armas, algemas, viaturas, munição, uso de equipamentos individuais de
proteção v.g. colete à prova de bala.

6. PREVENÇÃO DE ACIDENTES

A prevenção de acidentes é um dos pilares que sustentam a tese de que o mun-


do material deve ser colocado a serviço do ser humano, na defesa de sua integridade
física e moral como corolário inquestionável.
Assim, tudo há de ser feito para prevenir os acidentes do trabalho no sentido
de proteger a integridade física do ser humano, pois todos são responsáveis pela pre-
venção do acidente, cada um com sua parcela definida e limitada ao seu campo de
ação, respondendo realmente por ela. Nessa direção, para que cada um seja mesmo

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

responsável no combate ao acidente do trabalho, necessário se faz demonstrar que


todos têm interesses e vantagens com a sua prevenção.
As condições insalubres do trabalho policial vão minando a saúde dos profis-
sionais, tirando-lhes muitas vezes a própria vida, o maior bem que a pessoa humana
possui e que, uma vez perdida, não pode ser substituída, pois é de dano irreparável.
Independentemente de quaisquer medidas de proteção ao policial no campo
da higiene e segurança do trabalho, só se logrará reduzir ao mínimo o número de
acidentes e suas consequências, se os próprios policiais procurarem evitá-los.
A Academia de Polícia capacita e especializa o policial civil por meio da disci-
plina Prevenção de Acidentes do Trabalho Policial, objetivando evitar infortúnios e
informá-lo sobre seus direitos.

7. NORMAS DE PROTEÇÃO DO TRABALHO POLICIAL

O artigo 194 da Lei nº 10.261/68 – Estatuto do Funcionário Publico – já no


ano de 1968, estabelece que o funcionário acidentado no exercício de suas atri-
buições ou que tenha adquirido doença profissional, terá direito à licença com
vencimento ou remuneração. O parágrafo único desse artigo considera também
acidente, a agressão sofrida e não provocada pelo funcionário, no exercício de
suas funções.
Por sua vez, o artigo 50 da Lei Complementar n° 207/79 - Lei Orgânica da
Policia Civil – estatui que “o policial civil que ficar inválido ou vier a falecer em
consequência de lesões recebidas ou doenças contraídas em razão do serviço, será
promovido à classe imediatamente superior”.
De acordo com a Lei Complementar nº 432/85 que trata da insalubridade, o
policial civil tem direito a adicional remuneratório por exercer atividade considera-
da insalubre.
A Constituição Estadual de 1989, em seu art. 115, inciso XXV, reza: “Os ór-
gãos da Administração direta e indireta ficam obrigados a constituir Comissão In-
terna de Prevenção de Acidentes – CIPA e, quando assim o exigirem suas atividades,
Comissão de Controle Ambiental, visando à proteção da vida, do meio ambiente e
das condições de trabalho dos seus servidores, na forma da lei”.
No inciso XXVI, estatui o mesmo diploma legal que: “Ao servidor público que
tiver sua capacidade de trabalho reduzida em decorrência de acidente de trabalho
ou doença do trabalho será garantida a transferência para locais ou atividades com-
patíveis com sua situação”.
A Portaria DGP 28/94 reconhece que o policial civil trabalha 24 horas por dia,
o que lhe dá direito a um adicional remuneratório.
Contrato de seguro firmado entre a Secretaria dos Negócios de Segurança Pú-
blica do Estado de São Paulo e a Companhia de Seguros do Estado de São Paulo -
COSESP estipulou uma indenização, atualmente fixada em R$ 100.000,00 (cem mil
reais) aos beneficiários do policial inválido permanentemente ou morto em serviço.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Deve-se salientar que para ter direito ao valor do sinistro, é indispensável que
o policial, por ocasião do acidente, esteja em horário de trabalho, devidamente com-
provado pela escala de plantão.
A partir de 2006, a Companhia de Seguros concordou em considerar como
acidente de trabalho do policial, o trajeto de casa ao trabalho e vice-versa, isto é, o
chamado acidente “In Itinere”.
O Decreto n° 28.180/97, por sua vez, determina que o acidente de trabalho será
apurado mediante sindicância interna.
A Portaria DGP- 9/97 institui as normas de apoio psicológico aos policiais
envolvidos em ações de alto potencial estressante.
A título de subsídio histórico, mister esclarecer que a Portaria DGP 33/97,
ainda em vigor, constituiu a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA,
que realizou profundos estudos a respeito da matéria.
Grupo de Prevenção de Acidentes do Trabalho foi instituído pela Portaria
DGP 19/98, para atuação na Delegacia de Polícia de Investigações sobre infrações
contra as Relações de Trabalho, contra a Organização Sindical e Acidentes do Tra-
balho, atualmente pertencente à estrutura do Departamento de Polícia de Proteção
à Cidadania-DPPC.
Referida portaria deixou expressamente consignado, a proteção do policial
que venha a sofrer acidente no trajeto de casa ao trabalho e vice-versa, o chamado
acidente de trabalho “in itinere”.
O Decreto n° 29.180/88 instituiu o regulamento de perícias médicas referentes
aos funcionários, servidores e candidatos a cargos ou funções públicas.

8. CAUSAS DOS ACIDENTES

Percebe-se por meio dos sentidos uma série de eventos como, por exemplo, a
queda de uma pessoa da escada, rolando até o último degrau, sofrendo graves feri-
mentos. Sabe-se que a pessoa caiu porque a visão nos permite tal percepção, sendo
que o acidente poderia ter sido evitado se o óleo derramado nos degraus fosse obser-
vado, visto que tal circunstância certamente causaria escorregões e tombos. Desse
modo, ainda que não se presenciasse qualquer acidente, este poderia ser previsto e
evitadas suas consequências.
Assim, pode-se dizer que causa de acidente é qualquer fator que o preceda e,
caso removido, evitaria o sinistro.
As causas de acidente de trabalho dividem-se em dois grupos: imprevisíveis e
previsíveis, a saber:

8.1 Causas imprevisíveis

São aquelas que não podem ser afastadas pela vontade do homem, como um
vendaval que arremessa um objeto contra um policial que se dirigia para sua casa
em seu horário de almoço.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

8.2 Causas Previsíveis

São aquelas que podem ser afastadas com a observância de cuidados ou provi-
dências. No exemplo do óleo derramado na escada, o mesmo poderia ter sido limpo
e, assim deixar de ser causa de um acidente.
As causas previsíveis correspondem à grande maioria dos acidentes, e isso de-
monstra o quanto se pode fazer para evitá-los.
Dentre as causas previsíveis destacam-se duas grandes classes: atos inseguros
e condições inseguras.
Ato Inseguro é o comportamento capaz de provocar dano ao funcionário, a
terceiros ou ao equipamento por ele utilizado, a saber:
a) Ato inseguro de ordem psíquica
É aquele decorrente de ações relacionadas à ausência do dever de cuidado
(imprudência, negligência ou imperícia), exigido de pessoa de percepção
mediana, sobretudo do policial que mesmo tendo consciência do perigo
arrisca-se. É o que se verifica com aqueles que não se preocupam com a
manutenção de sua viatura, de suas armas e algemas, ou ainda os que não
possuem habilidade ou destreza na execução do serviço.
b) Ato inseguro de ordem fisiológica
É o resultante do desgaste natural do organismo humano, pois a idade
avançada torna o policial propenso a sofrer acidentes. Doenças como a hi-
pertensão arterial, varizes, hérnias, distensões e esgotamento nervoso, entre
outras, podem dar causa ao infortúnio, tornando-se parte do cotidiano.
Por outro lado, as condições inseguras ocorrem quando há falha técnica no
ambiente ou no equipamento utilizado, v.g. a manutenção precária da viatura, im-
provisada pelo próprio policial.

9. A SAÚDE DO POLICIAL CIVIL

O trabalho noturno ou em turnos alternados, o ambiente psicológico e social,


as posturas incorretas do ponto de vista da ergonomia, isto é, o conjunto de estudos
que visam a organização metódica do trabalho em função do fim proposto e das
relações entre o ser humano e a máquina, agridem a saúde do policial.
A presença isolada ou cumulativa de tais fatores acarretam aos policiais efeitos
variados, de acordo com a vulnerabilidade individual, como desconforto, insatisfa-
ção, estresse, fadiga, dentre outros, contribuindo para o acidente do trabalho e até
mesmo morte prematura.

9.1 Trabalho Noturno e em turnos

Para entender os malefícios do trabalho noturno é necessário abordar a ques-


tão dos ritmos biológicos. O organismo humano está sujeito a diversos ritmos bio-

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lógicos que se repetem em intervalos uniformes, sendo que o ritmo de 24 (vinte e


quatro) horas ou periodicidade diária passou a ser denominado “ritmo circadiano”.
Ao longo de um dia, podem ser acompanhados vários ritmos circadianos,
como o ritmo vigília-sono, a produção hormonal, o volume urinário a variação da
temperatura oral e cutânea, a secreção de suco gástrico, entre outros.
O agente prejudicial à saúde é a inversão do horário de trabalho, visto que as
pessoas estão ajustadas aos ritmos da natureza com períodos alternados de ativida-
de e inatividade, obedecendo ciclos perfeitamente delimitados. Entretanto, os ritmos
atuam de forma sincronizada em perfeita conexão das atividades para o funciona-
mento harmonioso do organismo.
Quando se inicia um trabalho noturno começa um conflito de informações
no organismo, controlados pelo sistema nervoso central, acarretando uma desorga-
nização dos ritmos circadianos, os quais perdem o compasso e seguem livremente,
como uma orquestra sem regente. O efeito prejudicial é imediato, pois a tentativa
para se dormir durante o dia e trabalhar à noite gera um sono menor em quantidade
e pior em qualidade.
O trabalho noturno fixo ou em turno de revezamento é sempre agressivo, pois
o pleno ajustamento dos ritmos circadianos é praticamente impossível. Entretanto,
basta dormir uma ou mais noites no ciclo normal para perder todo o período de
relativa adaptação ao ritmo invertido.
Os relatos dos plantonistas têm demonstrado que os pontos de contato com
a família nos cruzamentos de horários dos fusos invertidos, além de raros, caracte-
rizam-se mais pelo atrito e menos pelo afeto, sendo frequentes os rompimentos e a
desagregação familiar.
A rigor, não existe uma doença específica em relação ao policial que trabalha
à noite ou em turnos, mas diversas perturbações à saúde física e mental propiciam
o surgimento da fadiga, que pode tornar-se crônica, provocando o agravamento de
outras doenças pela baixa resistência imunológica, bem como sofrimento mental e
envelhecimento precoce. Os relatos médicos informam a ocorrência de irritabilida-
de, angústia, hipersensibilidade a ruídos, nervosismo, ansiedade, insônia, cefaleias,
alteração de caráter, desatenção, úlceras gástricas e duodenais, desarranjos intes-
tinais, alcoolismo, obesidade, depressão, fraqueza em geral entre outros sintomas.
Importante salientar que tudo isso varia de acordo com a suscetibilidade indi-
vidual, e há número considerado de pessoas que não se adaptam ao trabalho notur-
no e procuram administrar suas consequências.
Especialistas na área de saúde ocupacional recomendam algumas medidas
para minimizar os efeitos agressivos do trabalho noturno, como a redução da jorna-
da e de sua duração semanal.
Os plantões devem seguir o sentido horário (manhã/tarde/noite), menos agres-
sivo que o anti-horário, e, após o plantão noturno, deve ser concedida uma folga
mínima de 48 (quarenta e oito) horas, preservando-se o final de semana livre.

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9.2 Trabalho Insalubre

É reconhecido oficialmente que das diversas agressões à saúde, uma das mais
explícitas, é o trabalho insalubre.
O trabalho insalubre, isto é, não saudável, é o que causa danos à saúde. Muitas
enfermidades estão diretamente relacionadas à insalubridade e outras são agravadas
pelas condições em que a atividade laboral é executada, possibilitando a visualiza-
ção do nexo causal entre trabalho e doença.
Os levantamentos bioestatísticos têm fundamental importância nesta área por-
que os efeitos da insalubridade são percebidos a longo prazo, pois o agente agressor,
de forma insidiosa, vai minando a resistência do organismo humano.
A CLT, em seu artigo 189, conceitua atividades insalubres como “aquelas que,
por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da nature-
za e da intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos”.
A fim de compensar as condições insalubres de trabalho, criou-se um adicional
específico, cabível apenas às atividades relacionadas pelo Ministério do Trabalho.

9.3 Trabalho Periculoso

Os agentes insalubres atuam lentamente provocando efeitos nocivos a longo


prazo, porém, no ambiente de trabalho, há outros que agem instantaneamente, com
efeitos e danos imediatos, denominados agentes perigosos ou periculosos.
A exposição aos agentes insalubres acarreta a perda paulatina da saúde, ao
passo que o contato com agentes periculosos leva à incapacidade permanente ou à
morte súbita.
Todo trabalho encerra algum perigo, porém, em algumas atividades o risco é
mais acentuado. Os ambientes perigosos aumentam o desgaste, demandando cons-
tante vigilância para evitar a ocorrência de acidentes.
Diante disso, há previsão legal de remuneração adicional para determinados
trabalhos perigosos.
As hipóteses que conferem direito ao adicional, taxativamente indicadas na
legislação, são para trabalhadores que mantenham contato permanente com infla-
máveis, explosivos, energia elétrica e radiações ionizantes ou substâncias radioativas.
Entretanto o trabalho policial, apesar de extremamente perigoso, não dá direi-
to ao adicional de periculosidade.

9.4 Estresse

Etimologicamente, segundo Houaiss, estresse é o “distúrbio fisiológico ou psi-


cológico causado por circunstâncias adversas”.
Entende-se que tal estado decorre de reações físicas, químicas e mentais do
organismo em face das circunstâncias que excitam, irritam, amedrontam ou colo-
cam em perigo.

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Novas situações, interpretadas como perigo ou ameaça, levam o organismo


humano a se mobilizar para enfrentá-las, através de mecanismos adaptativos como
alarme, resistência e exaustão.
Os primeiros sintomas aparecem sob forma de nervosismo, ansiedade, irrita-
bilidade, fadiga, raiva, angústia, dores musculares, taquicardia, cansaço, tristeza,
cefaleia, insônia e até períodos de depressão.
A permanência do estado estressante torna o policial mais vulnerável a toda
sorte de enfermidade.

10. LESÃO POR ESFORÇOS REPETITIVOS E DOENÇAS OSTEO-MUSCU­


LA­RES RELACIONADAS AO TRABALHO – LER/DORT

A LER e DORT são doenças caracterizadas pelo desgaste de estruturas do


sistema músculo-esquelético que atingem várias categorias profissionais.
As doenças ocupacionais, equiparadas a acidente do trabalho, dividem-se em
doenças ligadas à profissão (doenças do trabalho) e doenças decorrentes das con-
dições especiais em que o trabalho é realizado (doenças profissionais). No primeiro
caso, há presunção de que sua origem esteja vinculada ao trabalho. Já no segundo,
há necessidade da prova do nexo causal.
Dentre as doenças do trabalho, destacam-se as lesões por esforços repetitivos,
conhecidas por LER, denominação genérica que engloba todas as afecções de ten-
dões, músculos, fáscias, ligamentos e nervos, decorrentes do uso repetido de grupos
musculares ou da manutenção de postura inadequada e a DORT, é o desgaste das
estruturas músculo-esquelético do trabalhador.
As lesões mais frequentes são as tenossinovites e as tendinites, conhecidas
como “doenças do digitador”, em razão de sua maior incidência naqueles que exe-
cutam a inserção de dados, de modo mecânico ou eletrônico.
Os fatores biomecânicos desencadeantes da patologia são a força excessiva com
as mãos, a posição desconfortável no trabalho, a repetição de um mesmo padrão de
movimentos e a compressão mecânica das delicadas estruturas dos membros superio-
res. Por sua vez, os fatores contributivos são a tensão excessiva e a postura estática.
Geralmente os sintomas são de evolução insidiosa até serem claramente per-
cebidos. Com frequência, são desencadeados ou agravados após período de maior
quantidade de trabalho ou jornadas prolongadas e em geral, o policial busca formas
de manter o desenvolvimento de seu trabalho, mesmo que a custa de dor.
A diminuição da capacidade física passa a ser percebida no trabalho e fora
dele, nas atividades cotidianas.
A Norma Regulamentadora NR-17, que trata diretamente da prevenção da
LER (Ergonomia), estabelece que o tempo efetivo de digitação não deva ultrapassar
5 horas e o restante da jornada será exercida em outras atividades que não exijam
esforço repetitivo ou visual. Preconiza ainda pausa de 10 minutos para cada 50 mi-
nutos trabalhados, que não poderão ser deduzidos da jornada normal de trabalho.
Na Polícia Civil, um servidor que exerce esforço repetitivo é o Escrivão de Po-
lícia, digitando ou mesmo datilografando por até 12 horas seguidas.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

11. COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES – CIPA

Diante da grande incidência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais


equiparadas, surgiram diversas medidas reativas para enfrentar o problema.
As recomendações da Organização Internacional do Trabalho indicavam,
como meio mais eficaz de combate, os comitês de segurança e prevenção, com parti-
cipação de representantes dos trabalhadores.
No Brasil, o primeiro passo efetivo no caminho da prevenção pode ser identi-
ficado com a criação das CIPAs, abrindo espaço para outras importantes medidas e
programas de caráter preventivo.
A CIPA foi introduzida no ordenamento jurídico nacional há mais de 50 anos,
pela terceira lei brasileira sobre acidente do trabalho. A partir de 1967, a CIPA foi
incorporada na CLT, em razão da nova redação ao art.164, promovida pelo De-
creto-lei 229, de 28 de fevereiro de 1967. Com a mudança da Lei 6514/77, a CIPA
passou a ser disciplinada nos artigos 163 a 165 da CLT.
A CIPA tem objetivo definido de prevenção dos acidentes, atuando no sentido de
eliminar os riscos, bem como requerendo providências da direção da empresa para ade-
quar o ambiente de trabalho às normas de segurança e higiene e medicina do trabalho.
A CIPA deve servir como veículo democrático para canalizar as apreensões,
receios e dúvidas dos trabalhadores em relação às condições do trabalho, desem-
penhando um grande papel nas campanhas educativas de prevenção de acidentes.
De bom alvitre seria um maior entrosamento entre CIPA e Sindicatos de Tra-
balhadores e Patronais para que, eventual reivindicação pudesse ser negociada pelas
entidades classistas sem expor os membros da CIPA.
A legislação atual confere à CIPA a atribuição de elaborar mapas de risco,
identificando os agentes prejudiciais à saúde no ambiente de trabalho, relacionando
os riscos físicos, químicos, biológicos e de acidentes, que serão afixados em todos os
locais possíveis, de forma visível e de fácil acesso aos funcionários.
Na iniciativa privada, toda empresa com 100 (cem) ou mais empregados, por
força de lei, deve organizar a CIPA, a qual além de fiscalizar a ocorrência de aciden-
tes do trabalho, desempenhará importante papel nas campanhas educativas.
Ponto importante, que deve ser organizado pela CIPA, é a caixa de sugestão,
para a eliminação ou redução de condições ou atos inseguros.
Toda sugestão que parta dos trabalhadores merece apreciação, ainda que não
seja aceita. Assim, aconselha-se a empresa a manter várias caixas de sugestão, que
deverão ser controladas pela CIPA. Todas as decisões da comissão sobre as suges-
tões serão comunicadas aos trabalhadores.
Na Policia Civil, a Portaria DGP-33/97, instituiu a Comissão Interna de Pre-
venção de Acidentes – CIPA.
A Portaria DGP-19/98 preconiza que é meta de todo administrador reduzir ao
mínimo possível a incidência de acidente do trabalho. Dessa forma, para localização
e identificação das causas dos resultados infortunísticos, resolveu criar, na Delegacia
de Acidentes de Trabalho, o Grupo de Prevenção de Acidentes (GPA), composto
por cinco funcionários, sendo seu coordenador um Delegado de Polícia. Determina

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ainda, referida portaria, que toda unidade policial deverá encaminhar ao Grupo
uma cópia do registro da ocorrência.
Ao GPA incumbirá coletar todos os registros sobre eventos infortunísticos
ocorridos no Estado; elaborar mapa estatístico; sugerir medidas que possam reduzir
os eventos típicos; encaminhar relatório à Delegacia Geral de Polícia; apontar os
pontos frágeis de determinada atividade policial no que diz respeito a ocorrência
acidentária e, finalmente, propor medidas preventivas ou corretivas para redução,
eliminação ou neutralização dos riscos.
Tanto a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), bem como o
Grupo de Prevenção de Acidentes (GPA), só existem formalmente, aguardando im-
plementação.
Informações estatísticas sobre métodos de segurança é de grande valia, prin-
cipalmente se ilustrada com fatos e fotografias, objetivando demonstrar sempre o
valor da prevenção.
Assim que instalada a CIPA, deve divulgar amplamente as datas de suas reu­
niões e incentivar todo policial a delas participar, dando sua colaboração em prol
do bem estar de todos.
Campanhas, envolvendo todos os recursos educativos possíveis, seriam de
grande valor para o desenvolvimento de um bom programa de segurança no tra-
balho, pois, além de ser um meio eficaz, fornece conhecimentos sobre os riscos pró-
prios de sua função, despertando em todos consciência da prevenção de acidentes.
Muitas vezes, os policiais não seguem normas de segurança porque ignoram os
perigos que a execução de suas atividades pode acarretar, ou não avaliam os danos
que podem sofrer por negligência, imprudência e imperícia. Por outro lado, ou-
vem e repetem preconceitos e neles acreditam, desprezando as normas e esquecendo
mesmo o valor de sua saúde e de sua vida. Não percebem que, se ficarem inválidos,
diminuirão suas capacidades laborativas.
Uma campanha educativa, para que seja realmente boa e atinja seus objetivos
precisa ser completa. Não basta afixar cartazes, nem fazer palestras esporádicas,
mas conscientizar todos acerca do fim proposto.

12. AFASTAMENTO POR ACIDENTE DO TRABALHO

O Departamento de Perícias Médicas do Estado expediu o “Comunicado


DPME – 3, de 9-5-2006, nos seguintes termos:
“O Diretor do Departamento de Perícias Médicas do Estado, nos termos do
inciso VII do artigo 2º do Decreto 30.519, de 03/10/89, comunica:
O enquadramento legal da licença como “Acidente de Trabalho”, dependerá
do envio ao DPME do PROCESSO de acidente em 2 (duas) vias, instaurado pela
unidade onde o (a) servidor (a) estiver classificado (a) que contenha os seguintes
requisitos:
1- Encaminhar comprovação do acidente em Processo, no prazo de oito dias
contados a partir do acidente. Deverá constar nesse Processo:

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

a) indicação do local, dia e hora;


b) horário oficial de trabalho do acidentado;
c) descrição sumária do acidente;
d) declaração de 2 (duas) testemunhas com assinatura e RG;
e) a guia de perícia médica (GPM) deverá ser acompanhada de “Notificação
do Acidente” em 2 (duas) vias preenchidas minuciosamente;
f) comprovação do atendimento médico.
2- Conclusão do Processo, relatório e solicitação do reenquadramento da
licença de tratamento de saúde em requerimento, ratificado pela autoridade
competente, conforme artigos 59 e 60 do Decreto nº 29.180, de 11-11-1988.
A ausência dos elementos supramencionados inviabilizará a sua análise pelo
DPME .”
O policial afastado por acidente do trabalho não terá nenhum prejuízo funcio-
nal, ou seja, ele é considerado como se estivesse em pleno exercício, por isso, a neces-
sidade de observar as exigências do Decreto nº 29.180/88, bem como o Comunicado
DPME – 3, de 9-5-2006, acima transcrito.

13. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A polícia, entre outras atribuições, tem uma finalidade social, pois visa garan-
tir a segurança pública. Composta por profissionais que podem se acidentar, provo-
cando seu afastamento do serviço e, consequentemente, uma lacuna na repartição,
raramente suprida, devido à falta de recursos humanos.
Vale dizer que a polícia será forte, construtiva, progressiva, produtiva, disposta
ao trabalho, na medida em que seus membros forem sadios, física e mentalmente.
Deve também, antes de tudo, o policial estar atento aos problemas relaciona-
dos com acidentes de trabalho, pois geralmente está na linha de frente e a mercê de
infortúnios, os quais poderiam ser evitados, se previstos.1

1 Cf. Desoille Henri. Cours de Médicine du Travil, Vol. I, 1997.


HOUAISS, Antonio.Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss, Objetiva, São Paulo,
2009.
FERNANDES, A . Os Acidentes do Trabalho: do sacrifício do trabalho à prevenção e
à reparação. Evolução Legislativa, atualidade e perspectiva. Lei, Doutrina, Jurisprudência. SP,
LTr, 1995.
GONÇALVES, E.A. Apontamentos Técnico-Legais da Segurança e Medicina do Trabalho. 2a. ed.,
SP, LTr, 1995.
MELLO, R. C. Acidentes do Trabalho: sob a ótica da legislação atualizada, inclusive com a CF de
1988. Doutrina e Jurisprudência dominantes, SP, Saraiva, 1990.
OLIVEIRA,J. Acidentes do Trabalho: teoria, prática,jurisprudência. 3a. ed., SP, Saraiva, 1997.
ROBOREDO, M. L. F. Da Segurança e da Medicina do Trabalho e a Constituição Federal de 1988,
RJ, Liber Juris, 1990.
TAVARES, J. C. Tópicos de Administração Aplicada à Segurança do Trabalho, SP, SENAC, 1995.
TORTORELLO, J. A . Acidentes do Trabalho: teoria e prática. 2a.ed., SP, Saraiva, 1996.
Manuais de Legislação Atlas. Segurança e Medicina do Trabalho. Vol. 16, 43a. ed., SP, Atlas, 1999.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

CAPÍTULO XX
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Atendimento pela Autoridade Policial; 3.


Providências da Autoridade Policial; 3.1 Auto de prisão em flagrante delito; 3.2 Boletim
de ocorrência; 3.3 Ofício ao Juiz; 3.4 Violência ocorrida no âmbito doméstico; 4. Me-
didas protetivas de urgência; 4.1.Competência para concessão das medidas protetivas
de urgência; 4.2. Capacidade de postulação; 4.3. Atribuição do Delegado de Polícia
em relação às medidas protetivas de urgência; 4.4. Formalização do termo de pedido
de providências de medidas protetivas de urgência; 5. Comunicado CG nº 117/2008 da
Corregedoria Geral da Justiça; 6. Modelos e legislação correlata.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O artigo 5°, incisos e parágrafo único da Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006,


que trata da violência doméstica e familiar, dispõe a respeito de qualquer ação ou
omissão criminosa praticada contra a mulher, que venha a causar sua morte, le-
são, sofrimento físico, sexual, psicológico, dano moral ou patrimonial, envolvendo
a vida doméstica, familiar ou qualquer relação íntima de afeto, independente da
orientação sexual.1

2. ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL

Entre os operadores do direito, é a autoridade policial, entenda-se o Delegado


de Polícia, o primeiro a tomar conhecimento do fato concreto e avaliar se é ou não
caso de violência.
Analisando essa premissa legal há necessidade de diferenciar dois tipos de
violência doméstica, ou seja, se a infração penal foi praticada contra mulher ou
não, bem como, se é caso de aplicação da Lei nº 11.340/06, envolvendo as seguin-
tes relações:

1 Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o
espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são
ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em
qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, indepen-
dentemente de coabitação.Parágrafo único.  As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de
orientação sexual.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

a) de coabitação;
b) familiares com ou sem coabitação;
c) de afetividade, com ou sem habitação.
A violência doméstica contra a mulher tem tratamento diverso na aplicação da
Lei Maria da Penha, pois não mais se permite elaboração de termo circunstanciado
quando se tratar de crime. Diante disso, o Delegado de Polícia, se for o caso, poderá
lavrar auto de prisão em flagrante, instaurar inquérito policial por portaria, ou ape-
nas registrar o fato em boletim de ocorrência.
A lei enumera como violência doméstica as situações previstas em seu art. 7º.2
Nessa direção, após o Delegado de Polícia constatar a violência sofrida pela mulher,
verificará qual foi o ilícito, exercendo juízo de tipicidade sobre os fatos apresentados.
De acordo com a Lei nº 11.340/06, poderá o Delegado de Polícia defrontar-se
com os seguintes ilícitos penais:

1. Violência física do art. 7º, inc. I:


a) homicídio doloso ou culposo (art. 121) e demais crimes contra a vida;
b) lesão corporal dolosa ou culposa (art. 129);
c) vias de fato (art. 21, LCP);
d) tortura (Lei nº. 9455/97);
e) crimes de perigo contra a pessoa (art. 130 a 136)
f) maus tratos (art. 136).

2. Violência psicológica do art. 7º, inc. II:


a) constrangimento ilegal (art. 146);
b) ameaça (art. 147);
c) sequestro e cárcere privado (art. 148);
d) violação de domicílio (art. 150).

2 I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde
corporal;II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e
diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degra-
dar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause preju-
ízo à saúde psicológica e à autodeterminação;III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta
que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimi-
dação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo,
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio,
à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;IV - a violência patrimonial, entendida
como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluin-
do os destinados a satisfazer suas necessidades;V - a violência moral, entendida como qualquer conduta
que configure calúnia, difamação ou injúria.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3. Violência sexual do art. 7º, inc. III:

a) estupro (art. 213);


b) violência sexual mediante fraude (art. 215);
c) favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual
(art.228);
d) tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual (art. 231);
e) tráfico interno de pessoas para fim de exploração sexual (art. 231-A).

4. Violência patrimonial do art. 7º, inc. IV:

a) furto (art. 155);


b) roubo e extorsão (art. 157 e 158);
c) extorsão mediante seqüestro (art. 159);
d) apropriação indébita (art.168);
e) dano (art. 163) e dano qualificado (art. 163, parágrafo único, inc. I e IV);
f) estelionato (art. 171).

5. Violência moral do art. 7º, inc. V:

a) calúnia (art. 138);


b) difamação (art. 139);
c) injúria (art. 140 e §§).

3. PROVIDÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL

Após a conclusão de que ocorreu violência doméstica e da realização da res-


pectiva tipificação dos fatos, poderá o Delegado de Polícia adotar as seguintes pro-
vidências de polícia judiciária:
a) lavrar o auto de prisão em flagrante delito;
b) lavrar o boletim de ocorrência com a oitiva das partes, para posterior
instauração de inquérito policial;
c) lavrar termo circunstanciado, na hipótese de contravenção penal.
Importante ressaltar que a lei veda a aplicação da Lei nº. 9.099/95 para a
ocorrência de crime, mas em nenhum momento tornou obrigatório a prisão em
flagrante a todas as hipóteses de violência doméstica. Assim, diante de uma infra-
ção de ação penal pública incondicionada, caracterizando o estado de flagrância,
o Delegado de Polícia deverá presidir a lavratura de auto, se presentes indícios de
autoria e materialidade.
Entretanto, se a ação penal for pública condicionada à representação ou de
iniciativa privada, a atuação do Delegado de Polícia dependerá, respectivamente, de
eventual representação ou de requerimento, expresso da ofendida.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Com referência à natureza da ação no crime de lesão corporal de natureza


leve, há posicionamentos antagônicos na doutrina e na jurisprudência. Uma parte
entende ser esse crime de ação penal pública incondicionada, uma vez que o art.41,
da Lei nº 11.340/2006, afasta a aplicabilidade da Lei nº 9.099/95 que transformou
a natureza da ação em pública condicionada à representação da vítima. Em senti-
do contrário, há corrente afirmando que a vítima do crime de lesão corporal leve
tem direito de optar pela ação ou não. Em fevereiro de 2010, a Terceira Seção do
STJ que reúne os membros da Quinta e da Sexta Turmas decidiu, ao julgar um
recurso repetitivo, que a representação da vítima é condição indispensável para a
instauração da ação (Resp.1.097.042). Naquela ocasião, os ministros afirmaram
que a representação prescinde de rigores formais, bastando à inequívoca manifes-
tação de vontade. No caso julgado a turma considerou a queixa levada à autorida-
de policial materializada no boletim de ocorrência como suficiente ao seguimento
da ação. Ressalte-se que o relator do recurso na Quinta Turma, ministro Napoleão
Nunes Maia Filho afirmou que, para ele, a lesão corporal leve é crime de ação
penal pública incondicionada.
No caso da ação ser pública condicionada, o Delegado de Polícia deverá es-
clarecer à vítima que sua representação ou requerimento implicará na prisão em
flagrante do autor, com suas consequências, v.g. encarceramento, necessidade de pa-
gamento de fiança criminal. Caso a ofendida não deseje o início da ação penal, o
Delegado de Polícia deverá fazer apenas o registro dos fatos em boletim de ocorrên-
cia e orientar a ofendida quanto ao prazo decadencial para representar ou requerer
a instauração da investigação em inquérito policial.
A respeito da possibilidade de fixação de fiança criminal, que se tornara pra-
ticamente obsoleto com o advento da Lei nº. 9.099/95, uma vez que na maioria dos
delitos lavrava-se apenas o termo circunstanciado, pela Lei nº 12.403/2011, a fiança
voltou a ser admissível nos plantões policiais, pois o Delegado de Polícia, dependen-
do da situação, deve arbitrá-la, após proceder à prisão em flagrante do agente.
Nessa direção, podem ser tomadas as seguintes providências policiais:
a) boletim de ocorrência com oitiva da vítima e demais partes;
b) auto de prisão em flagrante delito inafiançável;
c) auto de prisão em flagrante delito afiançável.
Observa-se que somente na segunda hipótese o agressor realmente ficará preso
até que seja analisada eventual liberdade provisória pelo Juiz.
No que se refere à contravenção penal, v.g. vias de fato, art. 21 da LCP, o STJ
tem decidido, com fundamento no art. 41 da Lei Maria da Penha, que o Delegado
de Polícia pode proceder ao rito da Lei nº 9.099/95, lavrando termo circunstanciado,
formulando, se for o caso, o pedido de medidas protetivas.
Frise-se ainda que, no caso de infração penal de menor potencial ofensivo pra-
ticada contra o homem, lavrar-se-á termo circunstanciado. Entretanto, a violência
doméstica contra o homem, prevista na hipótese do art. 129, § 9º do CP, com a nova
pena trazida pela Lei nº 11.340/06, pode resultar na apuração do fato por meio de
instauração de inquérito por portaria ou na prisão em flagrante delito, inclusive
contra a mulher, se esta for a agressora.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

3.1 Auto de prisão em flagrante delito

A lavratura do auto de prisão em flagrante é obrigatória quando o crime for de


ação penal pública incondicionada, porém, é facultativa nos demais tipos de ação
penal, uma vez que depende de representação ou requerimento da mulher ofendida.
O auto de prisão em flagrante deve conter:
a) oitiva do condutor;
b) recibo de entrega de preso;
c) depoimentos das testemunhas;
d) oitiva da mulher ofendida;
e) interrogatório do autuado;
f) boletim de ocorrência;
g) nota de culpa;
h) demais peças do indiciamento (qualificação e vida pregressa);
i) requisições de perícia (exame de corpo de delito);
j) ofícios e demais comunicações obrigatórias (Juiz, Defensoria, etc.).
É importante que o boletim de ocorrência e as declarações da ofendida conte-
nham as seguintes informações:
a) onde mora e com quem (o agressor, filhos, parentes, etc);
b) se tem moradia própria ou de quem é o imóvel onde mora;
c) se tem bens e quais seriam;
d) se tem trabalho ou fonte de sustento próprio;
e) se deseja se separar do agressor;
f) se possui filhos? Quantos? (nomes e idades);
g) se os filhos possuem onde ficar ou a quem poderia ser provisoriamente
concedida uma futura guarda;
h) se deseja medidas protetivas de urgência previstas na lei e quais;
i) se deseja representar criminalmente contra o agressor.
Tais informações são pertinentes porque o Juiz Criminal acumula funções cí-
veis, conforme expressa disposição do artigo 14 da Lei nº 11.340/06. Assim, ao co-
nhecer da prisão em flagrante, o juiz poderá aplicar as medidas protetivas, determi-
nar sobre a guarda provisória dos filhos, alimentos provisórios, moradia, separação
de corpos e demais medidas legais atinentes ao caso concreto, sem a necessidade de
convocar a ofendida para ser ouvida em juízo.

3.2 Boletim de Ocorrência

Sem que a ofendida manifeste a vontade de representar ou requerer criminal-


mente contra o agressor, na ação que dependa de sua provocação, o Delegado de
Policial lavrará tão somente boletim de ocorrência.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

O boletim de ocorrência deve mencionar que o caso envolve violência domés-


tica, sendo expressamente citado no histórico que a ofendida foi informada quanto
aos direitos previstos na Lei nº 11.340/06.
Nesse sentido, a Recomendação DGP 3, de 07 de abril de 2008, orienta que
nos registros de ocorrência, sob a proteção da Lei nº 11.340/2006, a vítima assine
o documento “Termo de Ciência – Lei Maria da Penha”, após conhecer todos os
direitos previstos na lei, cujo modelo encontra-se disponível nos documentos do
sistema RDO e no item 10 deste capítulo.
Deverá ainda o Delegado de Polícia colher a manifestação da ofendida, ain-
da que, no momento, esta não queira propor a ação penal, consignando as mes-
mas informações citadas no item 3.1, que trata do auto de prisão em flagrante
delito, v.g. se tem filhos, onde mora, com quem, para facilitar a concessão de me-
didas protetivas.

3.3 Ofício ao Juiz

Deve ser encaminhado, por ofício, ao Juiz competente, cópia do boletim de


ocorrência, da manifestação da ofendida e cópia do termo de pedido de providên-
cias de medidas protetivas de urgência, ainda que não se trate de prisão em flagrante.

3.4 Violência ocorrida no âmbito doméstico

Deve-se considerar que, desde o advento da Lei nº 11.340/06, a lesão corporal,


ocorrida no âmbito doméstico, contra mulher ou homem, já estabelece, desde que
preenchidas as formalidades legais, prisão em flagrante, tendo em vista a elevação
da pena máxima cominada para 3 (três) anos, nos termos do art.129 § 9º, embora
afiançável. Por essa razão, não pode ser registrada em termo circunstanciado.
Na prática, muitas vezes, marido e mulher, conviventes, namorados se agridem
mutuamente, sendo que, diante das versões das partes, de imediato, não fica nítida
a situação para que o Delegado de Polícia decida pela prisão em flagrante. Neste
caso, o mais prudente é elaborar boletim de ocorrência, encaminhando cópia deste,
por ofício, ao Juiz competente, para que medidas protetivas possam ser aplicadas,
devendo a responsabilidade criminal ser apurada em inquérito policial.

4. MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

A Lei nº. 11.340/2006 criou medidas protetivas de urgência, mas não as defi-
niu. Estabeleceu, em seu Capítulo II, Título IV, o procedimento a ser seguido, no
pedido, para eventual concessão pelo magistrado.
Os artigos 19 a 21 cuidam do procedimento judicial para a concessão de medi-
da protetiva, enquanto os artigos 22 e 23 exemplificam os vários tipos de providên-
cias, respectivamente, as que obrigam o ofensor e as de proteção urgente à ofendida.
Desta forma, conclui-se que as medidas protetivas de urgência, inéditas no
direito brasileiro, objetivam fazer cessar imediatamente a violência sofrida pela ví-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

tima, a garantir sua segurança, a eficácia das medidas protetivas e a efetividade da


aplicação da própria lei.

4.1 Competência para concessão das medidas protetivas de urgência


Nos termos do art. 19 da Lei nº 11.340/06, apenas o juiz pode conceder medi-
das protetivas, sendo que nos termos do art. 33 o magistrado competente será o do
Juizado de Violência Doméstica e Familiar. Todavia, enquanto o respectivo juizado
não estiver estruturado, a competência será do juízo criminal.

4.2 Capacidade de postulação


O art. 19, da Lei Maria da Penha, dispõe que as medidas podem ser requeridas
pela ofendida e pelo representante do Ministério Público. Da leitura, interpreta-se
que o representante do parquet poderia requerê-las à revelia da manifestação de
interesse por parte da vítima.
A doutrina que vem se formando ao redor do tema, entende ser inconstitucio-
nal o pedido do Ministério Público sem a respectiva manifestação da ofendida, vez
que cercearia a liberdade de manifestação desta.

4.3 Atribuição do delegado de polícia em relação às medidas protetivas de urgência


A Lei nº. 11.340/2006 reservou para o Delegado de Polícia importante função
no encaminhamento das medidas protetivas de urgência, pois ele, nos termos do
inciso III do art. 12 da lei, deverá em 48 (quarenta e oito) horas remeter o pedido da
ofendida a juízo, em autos apartados, definindo, no seu parágrafo 1º, as diretrizes
para a formalização e encaminhamento do respectivo pedido.
A decisão sobre o deferimento ou não a respeito do pedido de medida proteti-
va, deve ser comunicada à vítima.
Em caso de descumprimento das medidas protetivas concedidas, o Delegado
de Polícia deverá representar pela decretação da prisão preventiva do ofensor.

4.4 Formalização do termo de pedido de providências de medidas protetivas de urgência

A redação do art. 12, § 1º, da Lei nº 11.340/2006, é taxativa, nos seguintes


termos: “o pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial...”.
Assim, deve ser formalizado um documento, denominado “Termo de Pedido de
Providências de Medidas Protetivas de Urgência”, modelo no item 10. Ainda neste
parágrafo, encontram-se os requisitos do termo citado, a saber: I qualificação da
vítima e do ofensor; II nome e idade dos dependentes; III descrição sucinta do fato
e das medidas solicitadas pela ofendida.
Deve ser levado em consideração também que a medida protetiva é de natu-
reza cautelar, por isso, deverá obedecer aos pressupostos do fumus boni iuris e o
periculum in mora, bem como, que o tempo para a formalização do pedido de medi-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

da protetiva é de 48 (quarenta e oito) horas. Por isso, o Delegado de Polícia deverá


atuar com celeridade e eficácia.
O § 2º, do art. 12, da Lei nº 11.340/2006 estabelece as providências que
deverão ser realizadas pelo Delegado de Polícia para a instrução do pedido a
ser encaminhado ao juízo. Deverá também ser anexado o boletim de ocorrência,
contendo minucioso relato do fato, folha de antecedente criminal do ofensor,
juntando-se ainda cópia dos documentos, apresentados pela vítima, como certi-
dão de casamento e de nascimento dos filhos, registros de ocorrências anteriores,
comprovantes de endereço, eventual contrato de locação principalmente quando
em nome da vítima.
O § 3º do art. 12, da Lei Maria da Penha, estabelece que “serão admitidos
como meios de prova os laudos e prontuários médicos fornecidos por hospitais e
postos de saúde”. Assim, diante da existência, v.g. do prontuário médico, não é ne-
cessário aguardar o envio do laudo do IML, para encaminhamento do Termo de
Pedido de Providências, cumprindo-se, assim, o prazo de 48 (quarenta e oito) horas
para o encaminhamento do Termo de Pedido de Providências.

5. COMUNICADO CG Nº 117/2008 DA CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

O Comunicado CG nº 117/2008 da Corregedoria Geral da Justiça apresenta


as conclusões aprovadas no Congresso “Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) –
Um ano de vigência avanços e retrocessos, sob o ponto de vista prático, na opinião
dos operadores do direito”, a saber:
1 - Não caducam em 30 (trinta) dias as medidas protetivas de urgência,
aplicadas pelo juízo criminal, mesmo que não seja ajuizada ação na esfera
cível que as assegure.
2 - São da competência do juízo criminal as medidas protetivas de natureza
satisfativa.
3 - São cabíveis medidas protetivas, mesmo que não tenha havido
representação da vítima.
4 - Não é obrigatório segredo de justiça, no âmbito criminal, no trato das
medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha.
5 - É possível a reapreciação, pelo juízo cível, de pedido de medida protetiva
anteriormente negado pelo juízo criminal.
6 - É da competência do juízo criminal a execução das medidas protetivas
não cumpridas quando estas tiverem sido por ele aplicadas.
7 - A competência para aplicação das medidas protetivas é exclusiva das varas
criminais enquanto não houver Juizados Especializados em Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher na respectiva comarca.
8 - O parágrafo único do art. 5º da Lei Maria da Penha não se estende à
pessoa do sexo masculino vitimizada em relação homoafetiva.
9 – É constitucional o art. 41 da Lei Maria da Penha.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

10 - Não é possível proposta de transação penal (Lei nº 9.099/1995) no âmbito


da Lei Maria da Penha.
11 - É possível proposta de suspensão condicional do processo (Lei nº 9.099/
1995) no âmbito da Lei Maria da Penha.
12 - As contravenções penais continuam sendo regidas pela Lei nº 9.099/1995
e permitem a aplicação de medidas protetivas previstas na Lei Maria da
Penha.
13 - O inciso III do art. 5º da Lei nº 11.340/ 2006 abarca as relações de namoro
e de ex-namorados, mesmo sem ter havido convivência, bem como a
relação entre amantes. 3

6. MODELOS E LEGISLAÇÃO CORRELATA

3 DJe, 6/2/2008, Caderno 1 - Administrativo, p. 3.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................

Cidade,..........de....................de 20.............

Ofício nº....................
BO nº........................
Inquérito Policial nº...................
Processo nº........... (se houver)
Vítima.......................................
Autor........................................

Referente: Solicitação de Medida Protetiva de Urgência

MM.JUIZ.

Encaminho a Vossa Excelência o Termo de Pedido de Providências de Medida


Protetiva de Urgência de (nome da solicitante).
Acompanha cópias (especificar todos os documentos e diligências que serão
encaminhados).

Nome da Autoridade Policial


Delegado (a) de Polícia

A Sua Excelência o(a)


JUIZ(a) DE DIREITO DA.........VARA CRIMINAL
COMARCA........../SP

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

POLICIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO


UNIDADE POLICIAL ...................................

TERMO DE PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS


DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA

BO nº........................
Inquérito Policial nº...........(se houver)
Processo nº......................(se houver)
Vítima.......................................
Autor........................................

Aos.....dias do mês de .......do ano 20..., na Delegacia de Polícia.............,


onde presente se encontra o(a) Dr.(a)................., Delegado(a) de Polícia, comigo
Escrivão(ã) de Polícia, de seu cargo, ao final nominado(a) e assinado(a), compare-
ceu..........(nome, qualificação completa e endereço da solicitante).
Declarou o seguinte:...(proceder sucinto relato dos fatos), como por exemplo,
declarou o seguinte: Em ....de.....de 20...., às .....horas, no interior da sua residência,
foi agredida com socos e pontapés por seu companheiro, que também a colocou
para fora do lar, sob ameaça de morte. Diante de tais fatos que seguem demonstra-
dos pelos documentos anexados a este termo, solicita as Medidas Protetivas de Ur-
gência, constantes do......(especificar artigos, incisos e alíneas da Lei nº 11.340/06),
pedindo ao MM.Juiz(a) de Direito de uma das Varas Criminais da Comarca de......,
que determine que o autor (nome e qualificação completa) seja........................(espe-
cificar o teor das medidas protetivas).
Nada mais havendo a tratar, determinou a Autoridade que se encerrasse
este termo, que segue devidamente assinado por ela, pela solicitante e por mim,
escrivão(ã) que o digitei.

Autoridade:.............................
Solicitante:..............................
Escrivão(ã)..............................

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

RECOMENDAÇÃO DGP – 3, de 7/4/2008

O Delegado Geral de Polícia


Considerando a necessidade de uniformizar os procedimentos relativos à atu-
ação da Polícia Civil nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher
– Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006;
Considerando que o Delegado de Polícia, em regara, é a primeira autoridade
pública que mantém contato com a mulher vítima de violência doméstica e familiar;
Considerando , nesses casos, ser dever da autoridade policial informar a vítima
de violência doméstica e familiar;
Considerando que é dever do Poder Público garantir os direitos humanos das
mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares, resguardando-as de todas
as formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opres-
são, bem como criando as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos
previstos em lei (art. 3º, §§ 1º e 2º);
Considerando, finalmente, ser diretriz legal a integração operacional do Poder
Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de Seguran-
ça Pública, Assistência Social, Saúde, Educação, Trabalho e Habitação (art. 8º, I),
RECOMENDA:
I – ao atender ocorrência de violência doméstica e familiar contra a mulher,
a autoridade policial deverá orientar a vítima sobre os direitos constantes da lei,
determinando a lavratura de documento a respeito, com minucioso histórico, e ex-
pedição do termo de ciência (Anexo I).
II – As unidades e plantões policiais onde se realizar, ainda que sem exclusivi-
dade, atendimento a vítimas de violência doméstica e familiar deverão ter afixada,
em local de acesso ao público externo e em linguagem de fácil compreensão, relação
da rede de apoio disponível, com os respectivos endereços, telefones e horários de
atendimento (Anexo II).
III – a frequência dos policiais civis, independentemente da carreira ou de nível
hierárquico, nos cursos de aperfeiçoamento, seminários e equivalentes, promovidos
pela Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”, visando o permanente
aprimoramento técnico em face da referida lei./

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

ANEXO I

Termo de Ciência

Aos...dias do mês de...do ano de dois mil e...., na ...(Unidade Policial), nesta
cidade de ...., a(s) vítima(s) (e/0u seu representante legal)...., qualificada(s) (os) no
registro de ocorrência nº....(natureza:...), foi(ram) cientificada(s) (os) expressamente:
da eventual necessidade de representação, em virtude da natureza da infração,
a ser oferecida pessoalmente ou por procurador com poderes específicos, no prazo
improrrogável de seis (6) meses, a partir do conhecimento da autoria, após o que não
poderá mais exercer esse direito;
da importância de manter atualizado o seu endereço constante do registro po-
licial, bem como das demais pessoas apontadas (autor do fato e testemunhas);
dos direitos que lhe são assegurados pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006
(Lei Maria da Penha);
da rede de apoio atualmente disponível para o asseguramento de seus direitos,
conforme relação que se encontra afixada nesta unidade.
Recebi uma via do presente termo às...hs do dia....de.....de......

____________________________________
(assinaturas)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ANEXO II

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR - RELAÇÃO DA REDE DE APOIO

Nesta circunscrição, integram a rede de apoio às mulheres vítimas de violência


doméstica e familiar os seguintes órgãos:
- Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher (Rua..., nº..., Vila...., telefone
nº.... atendimento das....h às........h);
- Defensoria Pública (Rua..., nº..., Vila...., telefone nº.... atendimento das....h
às........h);
- Promotoria de Justiça (Rua..., nº..., Vila...., telefone nº.... atendimento
das....h às........h);
- Equipe de Perícias Médico-legais (Rua..., nº..., Vila...., telefone nº....
atendimento das....h às........h);
- Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Rua..., nº..., Vila...., telefone
nº.... atendimento das....h às........h);
- Pronto Socorro Municipal (Rua..., nº..., Vila...., telefone nº.... atendimento
das....h às........h);
- Núcleo de Atendimento Jurídico da Universidade de.... (Rua..., nº...,
Vila...., telefone nº.... atendimento das....h às........h);
- Núcleo de Atendimento Psicológico da Universidade de .... (Rua..., nº...,
Vila...., telefone nº.... atendimento das....h às........h).

* Publicada no DOE. de 8/4/2008.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

PORTARIA DGP – 15/2008, de 23/9/2008

Estabelece modelo de boletim estatístico de ocorrências relativas à violência


doméstica e familiar contra a mulher.
O DOUTOR MAURICIO JOSÉ LEMOS FREIRE, Delegado Geral de Polí-
cia, no uso de suas atribuições legais e
Considerando que a Lei Federal 11.340, de 7 de agosto de 2006, estabelece a
obrigatoriedade de os Órgãos de Segurança contarem com base de dados relativos à
violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 38);
Considerando a necessidade de se estabelecer modelo do boletim estatístico
mensal a ser elaborado pelas Unidades Policiais Civis;
CONSIDERANDO que a Portaria DGP-34, de 5 de junho de 2007, que tratou
da matéria,necessita ser atualizada em face dos sistemas informatizados que vêm
sendo implantados na Polícia Civil, DETERMINA:
Art. 1º - As Unidades Policiais elaborarão, mensalmente, boletim estatístico
relativo às ocorrências policiais atendidas e que tratem de violência doméstica e
familiar contra a mulher.
Parágrafo único - Os boletins estatísticos deverão ser encaminhados juntamen-
te com o Boletim Estatístico Mensal nº.
Art. 2º - Até o mês de dezembro de 2008 as Unidades Policiais deverão adotar
como modelo de boletim mensal a que se refere o caput do artigo anterior,o cons-
tante do Anexo I e, a partir de janeiro de 2009, o modelo constante do Anexo II, os
quais se encontram disponíveis na Intranet.
Art. 3º - O Departamento de Inteligência da Polícia Civil (DIPOL) providen-
ciará para que não seja possível concluir a elaboração de registro policial sem que o
Policial Civil responsável esclareça tratar-se ou não de violência doméstica e familiar
contra a mulher.
Parágrafo único. As unidades que ainda não contarem com o Registro Digital
de Ocorrências deverão consignar, obrigatoriamente, em todos os registros policiais
a condição referida no caput.
Art. 4º - As Autoridades Policiais incentivarão a freqüência de policiais aos
cursos de aperfeiçoamento, seminários e equivalentes, promovidos pela Academia
de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra”, visando a implementar o cumprimento
da Lei 11.340/06.
Art. 5º - Esta portaria entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas
as disposições em contrário.
Delegacia Geral de Polícia, aos 23 de setembro de 2008.

MAURICIO JOSÉ LEMOS FREIRE


DELEGADO GERAL DE POLÍCIA

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Portaria DGP - 28, de 27-7-2009

Estabelece rotina a respeito de ocorrência relativa a violência doméstica e fa-


miliar contra a mulher
O Delegado Geral de Polícia, considerando que compete à Autoridade Poli-
cial a decisão jurídica a respeito dos fatos que lhe são apresentados; considerando
que não há entendimento pacífico sobre a natureza da ação penal relativa ao cri-
me de lesões corporais de natureza leve quando praticado no âmbito das relações
domésticas;
Considerando que a Lei Federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, prevê, além
das medidas de Polícia Judiciária, medidas protetivas de competência da Autorida-
de Judiciária;
Considerando, finalmente, a regra inserta no art. 5º, XXXV, da Constituição
Federal, determina:
Artigo 1º. A Autoridade Policial que registrar ocorrência relativa a crime de le-
são corporal de natureza leve em qualquer das situações previstas no art. 5o, da Lei
Federal nº 11.340/2006, deverá adotar, de acordo com seu convencimento jurídico,
as providências de polícia judiciária pertinentes, sem prejuízo daquelas previstas nos
arts. 10 a 13 da mesma lei e observados os termos dos arts. 1º a 3º da Portaria DGP-
18, de 25 de novembro de 1998.
Artigo 2º. Em não havendo imediata instauração do procedimento de polícia
judiciária cabível, a Autoridade Policial deverá comunicar a ocorrência à Autori-
dade Judiciária competente, por meio de ofício instruído com cópia do respectivo
boletim.
Artigo 3º. Os Delegados Seccionais de Polícia, quando das correições nas uni-
dades subordinadas, fiscalizarão o efetivo cumprimento da presente portaria, ado-
tando as providências cabíveis para sanar eventual desobediência.
Art. 4º. Esta portaria entrará em vigor da data de sua publicação, revogadas as
disposições que lhe forem contrárias4.

4 DOE, Séc I, Pág. 16, de 28-7-2009.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

CAPÍTULO XXI
TRÂNSITO

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2.Conceito de via pública e sua extensão; 3.


Nomenclaturas técnicas das vias terrestres; 4.Nomenclaturas técnicas de veículos; 5.
Normas de conduta nas vias públicas e infrações administrativas; 5.1 Regras de veloci-
dade como normas de conduta; 5.2 Infrações administrativas; 6. Acidentes de trânsito;
6.1 Nomenclaturas técnicas dos eventos decorrentes de acidentes de trânsito; 6.2 Pro-
cedimentos de polícia judiciária; 6.3 Informações sobre seguro obrigatório – DPVAT;
6.4 Acidentes com viaturas policiais; 7. Crimes de trânsito; 7.1 Disposições genéricas;
7.2 Disposições especiais; 7.3 Homicídio culposo e lesão corporal culposa na direção
de veículo automotor; 7.4 Omissão de socorro; 7.5 Fuga a responsabilidade; 7.6 Em-
briaguez ao volante; 7.7 Violação a suspensão ou a proibição de se obter a permissão
ou habilitação para dirigir veículo automotor; 7.8 Racha; 7.9 Direção sem habilitação;
7.10 Entrega de direção do veículo a determinadas pessoas; 7.11 Excesso de velocida-
de; 7.12 Fraude processual; 8. Documentos de porte obrigatório e comprobatórios da
propriedade veicular conforme legislação de trânsito; 9. Documentos de habilitação.
Tipos, classificação e validade; 9.1 CNH. Exercício de atividade remunerada. Cursos
de Especialização Categorias (A a E e ACC); 10. Pedestre e condutor de veículo não
motorizado. Observações quando da ocorrência de acidente de trânsito.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Os aspectos a serem analisados no presente capítulo enfocam as regras de


caráter administrativo aplicáveis no campo penal, atendendo os critérios estabele-
cidos no Código de Trânsito Brasileiro e a regulamentação do Conselho Nacional
de Trânsito.
Torna-se preponderante, diante do regramento federal próprio, a utilização
correta da terminologia técnica e da conceituação administrativa na elaboração de
atos de polícia judiciária.

2. CONCEITO DE VIA PÚBLICA E SUA EXTENSÃO

São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os


caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, cujo uso é regulamentado pelo
órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades
locais e as circunstâncias especiais, nos termos do art. 2º do CTB.
O conceito abrange, por extensão legal, praia aberta à circulação pública e as
vias internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas,
conforme parágrafo único do art. 2º do CTB. Nessa direção, aplicam-se todas as re-
gras relativas às normas gerais de circulação e conduta, incidências penais típicas do
ordenamento de trânsito e suas consequências decorrentes, ainda que sejam guar-

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

necidas por muros, cercas, cancelas ou qualquer aparato de segurança, incluindo


eventual corpo de segurança patrimonial particular.
As disposições do ordenamento de trânsito são aplicáveis a todas as pessoas,
pedestres ou condutores, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou
não, com extensão ao Poder Público.
Anote-se que os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito respon-
dem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados
aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de pro-
gramas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro.

3. NOMENCLATURAS TÉCNICAS DAS VIAS TERRESTRES

Em qualquer circunstância, principalmente quando da elaboração dos atos


de Polícia Judiciária, nas diversas situações e incidências é preponderante a exata
compreensão e inserção das definições técnicas das vias terrestres estabelecidas na
legislação de trânsito, a saber:
Acostamento é a parte da via diferenciada da pista de rolamento, destinada à
parada ou estacionamento de veículos em caso de emergência e à circulação de pe-
destres e bicicletas, quando não houver local apropriado para esse fim.
Bordo da Pista é a margem da pista, demarcada por linhas longitudinais de
bordo que delineiam a parte da via destinada à circulação de veículos.
Calçada é a parte da via reservada ao trânsito de pedestres, normalmente se-
gregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, e, quando pos-
sível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização, vegetação e outros fins.
Canteiro Central é o obstáculo físico construído como separador de duas pis-
tas de rolamento, eventualmente substituído por marcas viárias (canteiro fictício).
Cruzamento é a interseção de duas vias em nível.
Estacionamento é a imobilização de veículos por tempo superior ao necessário
para embarque ou desembarque de passageiros.
Estrada é a via rural não pavimentada.
Faixa de Domínio é a superfície lindeira às vias rurais, delimitada por lei es-
pecífica e sob responsabilidade do órgão ou entidade de trânsito competente com
circunscrição sobre a via.
Faixa de Trânsito é qualquer uma das áreas longitudinais em que a pista pode
ser subdividida, sinalizada ou não por marcas viárias longitudinais, que tenham
uma largura suficiente para permitir a circulação de veículos automotores.
Ilha é obstáculo físico, colocado na pista de rolamento, destinado à ordenação
dos fluxos de trânsito em uma interseção.
Interseção é todo cruzamento em nível, entroncamento ou bifurcação, incluin-
do as áreas formadas por tais cruzamentos, entroncamentos ou bifurcações.
Logradouro Público é o espaço livre destinado pela municipalidade à circula-
ção, parada ou estacionamento de veículos, ou à circulação de pedestres, tais como
calçada, parques, áreas de lazer, calçadões.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Lote Lindeiro é aquele situado ao longo das vias urbanas ou rurais e que com
elas se limita.
Passagem de Nível é todo cruzamento de nível entre uma via e uma linha férrea
ou trilho de bonde com pista própria.
Passagem Subterrânea é obra de arte destinada à transposição de vias, em des-
nível subterrâneo, e ao uso de pedestres ou veículos.
Passarela é obra de arte destinada à transposição de vias, em desnível aéreo, e
ao uso de pedestres.
Passeio é parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, sepa-
rado por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à
circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas.
Perímetro Urbano é limite entre área urbana e área rural.
Pista é parte da via normalmente utilizada para a circulação de veículos, iden-
tificada por elementos separadores ou por diferença de nível em relação às calçadas,
ilhas ou aos canteiros centrais.
Placas são elementos colocados na posição vertical, fixados ao lado ou suspen-
sos sobre a pista, transmitindo mensagens de caráter permanente e, eventualmente,
variáveis, mediante símbolo ou legendas pré-reconhecidas e legalmente instituídas
como sinais de trânsito.
Ponte é a obra de construção civil destinada a ligar margens opostas de uma
superfície líquida qualquer.
Refúgio é a parte da via, devidamente sinalizada e protegida, destinada ao uso
de pedestres durante a travessia da mesma.
Retorno é o movimento de inversão total de sentido da direção original de
veículos.
Rodovia é a via rural pavimentada.
Sinais de Trânsito são elementos de sinalização viária que se utilizam de placas,
marcas viárias, equipamentos de controle luminosos, dispositivos auxiliares, apitos
e gestos, destinados exclusivamente a ordenar ou dirigir o trânsito dos veículos e
pedestres.
Sinalização é o conjunto de sinais de trânsito e dispositivos de segurança co-
locados na via pública com o objetivo de garantir sua utilização adequada, possi-
bilitando melhor fluidez no trânsito e maior segurança dos veículos e pedestres que
nela circulam.
Trânsito é a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou
em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e
operação de carga ou descarga.
Transposição de Faixas é a passagem de um veículo de uma faixa demarcada
para outra.
Ultrapassagem é o movimento de passar à frente de outro veículo que se deslo-
ca no mesmo sentido, em menor velocidade e na mesma faixa de tráfego, necessitan-
do sair e retornar à faixa de origem.
Viaduto é a obra de construção civil destinada a transpor uma depressão de
terreno ou servir de passagem superior.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

4. NOMENCLATURAS TÉCNICAS DE VEÍCULOS

De igual forma, quando do emprego de expressões técnicas na elaboração dos


atos de Polícia Judiciária, especialmente os relacionados às requisições periciais, de
relevo a inserção de nomenclaturas estabelecidas pelo ordenamento de trânsito, des-
tacando:
Automóvel é o veículo automotor destinado ao transporte de passageiros, com
capacidade para até oito pessoas, exclusive o condutor.
Bicicleta é o veículo de propulsão humana, dotado de duas rodas, não sendo
similar à motocicleta, motoneta e ciclomotor.
Bonde é o veículo de propulsão elétrica que se move sobre trilhos ou sob cabo-
-de-aço.
Caminhão-trator é o veículo automotor destinado a tracionar ou arrastar outro.
Caminhonete é o veículo destinado ao transporte de carga com peso bruto total
de até três mil e quinhentos quilogramas.
Camioneta é o veículo misto destinado ao transporte de passageiros e carga no
mesmo compartimento.
Carro de mão é o veículo de propulsão humana utilizado no transporte de
pequenas cargas.
Carroça é o veículo de tração animal destinado ao transporte de carga.
Charrete é o veículo de tração animal destinado ao transporte de pessoas.
Ciclo é o veículo de pelo menos duas rodas a propulsão humana.
Ciclomotor é o veículo de duas ou três rodas, provido de um motor de com-
bustão interna, cuja cilindrada não exceda a cinqüenta centímetros cúbicos (3,05
polegadas cúbicas) e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinquenta
quilômetros por hora.
Lotação é o veículo de carga útil máxima, incluindo condutor e passageiros
transportados, expressa em quilogramas para os de carga, ou número de pessoas,
para os de passageiros.
Microônibus é o veículo automotor de transporte coletivo com capacidade
para até vinte passageiros.
Motocicleta é o veículo automotor de duas rodas, com ou sem side-car, dirigi-
do por condutor em posição montada.
Motoneta é o veículo automotor de duas rodas, dirigido por condutor em po-
sição sentada.
Motor-casa (motor-home) é o veículo automotor cuja carroçaria seja fechada e
destinada a alojamento, escritório, comércio ou finalidades análogas.
Ônibus é o veículo automotor de transporte coletivo com capacidade para mais
de vinte passageiros, ainda que, em virtude de adaptação com vista à maior comodi-
dade deste, transporte número menor.
Peso bruto total é o peso máximo que o veículo transmite ao pavimento, cons-
tituído da soma da tara mais a lotação.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Reboque é o veículo destinado a ser engatado atrás de um veículo automotor.


Semi-reboque é o veículo de um ou mais eixos que se apoia na sua unidade
tratora ou é a ela ligado por meio de articulação.
Tara é o peso próprio do veículo, acrescido dos pesos da carroçaria e equi­
pamento, do combustível, das ferramentas e acessórios, da roda sobressalente, do
extintor de incêndio e do fluído de arrefecimento, expresso em quilogramas.
Trailer é o reboque ou semi-reboque tipo casa, com duas, quatro, ou seis rodas,
acoplado ou adaptado à traseira de automóvel ou camionete, utilizado em geral em
atividades turísticas como alojamento, ou para atividades comerciais.
Trator é o veículo automotor construído para realizar trabalho agrícola, de
construção, de pavimentação e tração de outros veículos e equipamentos.
Utilitário é o veículo misto caracterizado pela versatilidade do seu uso, inclu-
sive fora de estrada.
Veículo articulado é a combinação de veículos acoplados, sendo um deles au-
tomotor.
Veículo automotor é todo veículo a motor de propulsão que circule por seus
próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coi-
sas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e
coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não
circulam sobre trilhos (ônibus elétrico).
Veículo de carga é o veículo destinado ao transporte de carga, podendo trans-
portar dois passageiros, exclusive o condutor.
Veículo de coleção é aquele que, mesmo tendo sido fabricado há mais de trinta
anos, conserva suas características originais de fabricação e possui valor histórico
próprio.
Veículo conjugado é a combinação de veículos, sendo o primeiro um veículo
automotor e os demais reboques ou equipamentos de trabalho agrícola, construção,
terraplenagem ou pavimentação.
Veículo de grande porte é o veículo automotor destinado ao transporte de car-
ga com peso bruto total máximo superior a dez mil quilogramas e de passageiros,
superior a vinte passageiros.
Veículo de passageiros é o veículo destinado ao transporte de pessoas e suas
bagagens.
Veículo misto é o veículo automotor destinado ao transporte simultâneo de
carga e passageiro.

5. NORMAS DE CONDUTA NAS VIAS PÚBLICAS E INFRAÇÕES


ADMINISTRATIVAS

O ordenamento de trânsito estabelece inúmeras normas de conduta para a


condução de veículos automotores nas vias públicas e as correspondentes infrações
administrativas, muitas das quais possuem efeitos no âmbito penal.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

5.1 Regras de velocidade como normas de conduta (artigos 61 e 62 do CTB)

As regras de classificação dos limites de velocidade permitidos nas vias pú-


blicas abertas à circulação são importantes para a composição histórica dos fatos,
auxiliando na propositura da quesitação pericial, oitiva da vítima e testemunhas e
interrogatório do indiciado.
A velocidade máxima permitida para a via é aquela indicada por meio de si-
nalização vertical ou horizontal, em face das características técnicas do local e as
condições de trânsito.
Na falta de sinalização indicativa para delimitação dos limites máximos de ve-
locidade, aplicar-se-ão as regras gerais de interpretação, inclusive para a elaboração
de quesitos periciais, estabelecida a seguinte ordem:

I - nas vias urbanas de:


trânsito rápido 80 km/h
Arterial 60 Km/h
coletora 40 Km/h
Local 30 Km/h
II – nas vias rurais – rodovias:
automóveis, camionetes e motocicletas 110 Km/h
ônibus e microônibus 90 Km/h
demais veículos 80 Km/h
III – nas vias rurais – estradas:
todos os veículos 60 Km/h

A lei de trânsito especifica que o órgão de trânsito com circunscrição sobre a


via pública poderá regulamentar, por meio de sinalização vertical e horizontal, ve-
locidades superiores ou inferiores às estabelecidas na norma. A velocidade mínima
não poderá ser inferior à metade da velocidade máxima estabelecida, respeitadas as
condições operacionais de trânsito e da via.

Conceitos técnicos das vias públicas:

Via é a superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreen-


dendo a pista, a calçada, o acostamento, a ilha e o canteiro central.
Via de trânsito rápido é aquela caracterizada por acessos especiais com trânsito
livre, sem interseções em nível, sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem
travessia de pedestres em nível.
Via arterial é aquela caracterizada por interseções em nível, geralmente con-
trolada por semáforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros e às vias secundárias e
locais, possibilitando o trânsito entre as regiões da cidade.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Via coletora é aquela destinada a coletar e distribuir o trânsito que tenha ne-
cessidade de entrar ou sair das vias de trânsito rápido ou arteriais, possibilitando o
trânsito dentro das regiões da cidade.
Via local é aquela caracterizada por interseções em nível não semaforizadas,
destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas.
Via rural é aquela que compreende as estradas e rodovias.
Via urbana é aquela que compreende ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e si-
milares, abertas à circulação pública, situadas na área urbana, caracterizadas prin-
cipalmente por possuírem imóveis edificados ao longo de sua extensão.

5.2 Infrações Administrativas (art. 161 do CTB)

A infração administrativa é conceituada como a inobservância de qualquer


preceito do Código de Trânsito Brasileiro, de sua legislação complementar ou das
resoluções do Conselho Nacional de Trânsito, sujeitando o infrator às penalidades e
medidas administrativas. É de ser destacado que o § 1º do art. 256 do CTB estabelece
que a aplicação das penalidades administrativas não elide as punições originárias de
ilícitos penais decorrentes de crimes de trânsito.
Para tanto, agrega-se quadro indicativo das condutas administrativas que tam-
bém caracterizam ilícito penal:

INFRAÇÕES
INFRAÇÕES PENAIS
ADMINISTRATIVAS

Art. 302 – Homicídio culposo na direção de veículos


Não há correspondência
automotor
Art. 303 – Lesão corporal culposa na direção de
Não há correspondência
veículos automotor
Arts. 176 e 177 Art. 304 – Omissão de socorro
Não há correspondência Art. 305 – Fuga do local de acidente de trânsito
Art. 306 – Embriaguez na condução de veículo
Art. 165
automotor
Art. 307 – Violação da proibição de dirigir ou obter o
Art. 162
documento de habilitação
Art. 308 – Participação, sem autorização da
Arts. 173 e 174 autoridade competente, em corrida, disputa ou
competição automobilística
Art. 309 – Direção de veículo automotor sem a devida
Art. 162
habilitação, gerando perigo de dano

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Art. 310 – Permissão para que terceiro não habilitado


Arts. 163, 164 e 166 ou desprovido de higidez física ou mental dirija veículo
automotor

Art. 311 – Tráfego em velocidade incompatível com


a segurança nas proximidades de escolas, hospitais,
Art. 220
estações de embarque e desembarque de passageiros e
demais locais assemelhados

Art. 312 – Inovação artificiosa de local de acidente


Art. 176 de trânsito com vítima para induzir a erro peritos e
autoridades policial e judiciária

6. ACIDENTES DE TRÂNSITO

6.1 Nomenclaturas técnicas dos eventos decorrentes de acidentes de trânsito

Conforme sua natureza, os acidentes têm diferentes denominações em face dos


envolvidos, dos veículos e eventos correlatos, tornando-se necessário o estabeleci-
mento de nomenclaturas técnicas para aprimoramento dos procedimentos de polí-
cia judiciária, destacando:
Abalroamento é o embate ou impacto entre um veículo em movimento contra
um outro veículo estacionado ou parado.
Atropelamento é o impacto entre um veículo em movimento e um ser animado.
Avaria é o dano ocasionado no veículo envolvido no acidente de trânsito.
Capotamento é a ocorrência em que um veículo em movimento sai de sua po-
sição normal apoiando-se sobre sua capota.
Choque é o impacto de veículo contra um obstáculo imóvel ou fixo, v.g., muro
árvore, poste etc.
Colisão é o impacto entre veículos em movimento.
Danos de pequena monta são aqueles que não afetam a estrutura ou os sistemas
de segurança do veículo.
Danos de média monta são aqueles que afetam os componentes mecânicos ou
estruturais do veículo, os quais, quando consertados ou reconstituídos, permitem o
retorno à circulação.
Danos de grande monta são aqueles que afetam as peças externas, mecânicas
e estruturais do veículo, impedindo que este retorne à circulação (veículo irrecupe-
rável).
Engavetamento é a colisão em cadeia de veículos em movimento, ou parados,
quando impulsionados por outros.
Queda é a precipitação vertical do veículo em espaço livre.
Tombamento é a ocorrência em que um veículo em movimento sai de sua posi-
ção normal apoiando-se sobre um dos lados.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

6.2 Procedimentos de Polícia Judiciária

Acidente de trânsito é todo e qualquer evento ocorrido nas vias terrestres,


casual ou não, envolvendo veículos, pessoas e/ou animais, do qual resulta danos
materiais e/ou físicos, interessando à polícia judiciária aquele do qual resulte lesão
física, impondo o cumprimento das exigências previstas no art. 6º do Código de
Processual Penal.
Regra primordial é a preservação do estado e conservação das coisas para
a realização da perícia (art. 169 do CPP); entretanto, o delegado de polícia ou o
agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato, independentemente de
exame do local, poderá permitir a imediata remoção das pessoas que tenham so-
frido lesão, bem como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pú-
blica e prejudicarem o tráfego (art. 1º da Lei nº 5.970, de 11 de dezembro de 1973).
O procedimento para atendimento ao local de acidente de trânsito encontra-se
normatizado pela Resolução SSP nº 19, de 31 de julho de 1974.
O delegado de polícia fará consignar no boletim de ocorrência, no termo cir-
cunstanciado, na requisição pericial e no relatório final a inovação decorrente da
remoção das pessoas e/ou veículos, com indicação das testemunhas que o presen-
ciaram e todas as demais circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade
(parágrafo único do art. 1º da Lei nº 5.970, de 1973).
Na apuração dos fatos, desde o registro da ocorrência, por ocasião da formu-
lação de perguntas aos envolvidos e da quesitação, a autoridade policial atentará
para a observância ou não das normas e regras de circulação descritas nos arts. 29
a 67 do Código de Trânsito Brasileiro, tenha ocorrido ou não a remoção de pessoas
e/ou veículos.
As indagações são preponderantes para verificação da eventual prática delitiva
descrita no art. 312 do Código de Trânsito Brasileiro, que trata da inovação artifi-
ciosa do estado de lugar, de coisa ou pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial,
o perito, ou juiz.
A autoridade policial encaminhará cópia do boletim de ocorrência ao De-
partamento Estadual de Trânsito – DETRAN para que este realize o registro dos
dados estatísticos sobre acidentalidade no trânsito, conforme exigência prevista na
Resolução nº 208, de 26 de outubro de 2006, do Conselho Nacional de Trânsito –
CONTRAN. Essa obrigação consta de determinação exarada na Portaria DGP nº
8, de 9 de junho de 1998.
Ressalte-se, ainda que do evento não tenha resultado lesão na(s) pessoa(s)
envolvida(s), o delegado de polícia poderá determinar, a pedido ou não do(s)
interessado(s), o registro da ocorrência, a qual, por não viabilizar instauração
de inquérito, será arquivada mediante despacho fundamentado da autoridade
policial e, em seguida, registrado em livro próprio (art. 3º da Portaria DGP nº
18, de 25 de novembro de 1998). O fundamento para a decisão administrativa
de arquivamento do boletim de ocorrência reside na circunstância de que os fa-
tos não configuram, manifestamente, qualquer ilícito penal (art. 2º da Portaria
acima referida).

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

6.3 Informação sobre Seguro Obrigatório - DPVAT

O seguro obrigatório de danos pessoais – DPVAT1 tem por finalidade prover


cobertura aos danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre,
ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, regido por normas próprias, o
que não exclui, quando provocado, a atuação da Polícia Judiciária, no exercício do
poder de polícia administrativa.
Prevê o pagamento de indenização mediante simples prova do acidente e do
dano, independentemente da identificação do veículo e da existência de culpa, haja
ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado.
O pagamento do seguro obrigatório estende-se a todos os proprietários de veí-
culos, nos valores e prazos estabelecidos em legislação própria. O não pagamento do
seguro poderá acarretar a aplicação de multa, fixada no dobro do valor do prêmio
devido, consoante o disposto no art. 112 do Decreto-Lei nº 73/66, com redação dada
pela Lei Complementar nº 126/07. Na hipótese de ocorrência de evento em que o
seguro não foi realizado ou estava vencido, o consórcio das seguradoras poderá ha-
ver regressivamente do proprietário do veículo os valores que desembolsar, ficando
o veículo, desde logo, como garantia da obrigação, ainda que vinculada a contrato
de alienação fiduciária, reserva de domínio, leasing ou qualquer outro (art. 7º, § 1º,
da Lei nº 6.194/74).
Dado ao caráter obrigatório e protetivo, a Lei Estadual nº 9.823, de 31 de
outubro de 1997, dispõe que nos boletins de ocorrência2 de acidentes de trânsito
com vítimas, deverão constar os procedimentos para o recebimento do seguro obri-
gatório. Os procedimentos compreendem os prazos, os documentos e os locais para
recebimento da indenização, incumbindo ao delegado de polícia encaminhar, obri-
gatoriamente, à vítima ou a seus familiares, cópia do boletim de ocorrência (vide art.
13 da Portaria DGP- 18, de 25 de novembro de 1998).
A Circular nº 393, de 16 de outubro de 2009 (DOU de 20.10.09), da Supe-
rintendência de Seguros Privados – SUSEP, aprovou as instruções complementares
para o pagamento do seguro obrigatório e estabeleceu todas as condições para que
seu beneficiário requerê-lo, destacando, por força da exigência da lei estadual:

1 Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de 1974


2 Na hipótese de não identificação do(s) veículo(s) envolvido(s) no acidente de trânsito, do qual
decorreu lesão(ões) na(s) pessoa(s) envolvida(s), o delegado de polícia deverá consignar essa circunstân-
cia, vinculando o resultado – lesão – com o evento

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

SEGURO OBRIGATÓRIO – INDENIZAÇÃO


Situações e Documentos
Registro da ocorrência expedido pela autoridade
Morte policial, certidão de óbito e prova da qualidade de
beneficiário

Registro da ocorrência e Laudo do Instituto Médico


Legal (*), com verificação da existência e quantificação
das lesões permanentes, totais ou parciais, de acordo
Invalidez Permanente com os percentuais da tabela, constante do anexo à Lei
nº 6.194/74
(*) O IML deverá fornecer o laudo no prazo de até 90
(noventa) dias (art. 5º da Lei nº 6.194/740)
Registro da ocorrência, do qual deverá constar,
obrigatoriamente, o nome do hospital, ambulatório,
ou médico assistente que tiver prestado o primeiro
Despesas de Assistência
atendimento à vítima, e prova das despesas médicas
Médica e Suplementares –
efetuadas e que estas decorreram do atendimento à
DAMS (**)
vítima do acidente
(**) As seguradoras poderão solicitar documentos
complementares
Prazos
1. O prazo para dar entrada no pedido de indenização é de 3 (três) anos, a contar da data
em que ocorreu o acidente, nos termos do Código Civil
2. Para acidentes envolvendo invalidez, nos quais o acidentado esteve ou ainda está
em tratamento, o prazo para a realização do pedido levará em conta a data do laudo
conclusivo do Instituto Médico Legal - IML
Beneficiários
Indenização paga de acordo com o disposto no art.
Em caso de morte
792 do Código Civil

Em caso de Invalidez
permanente ou reembolso
A própria vítima
de despesas de assistência
médica e suplementares
Locais de Atendimento
Os pontos de atendimento em todo o território nacional estão listados no site
www.dpvatseguro.com.br

6.4 Acidentes com viaturas policiais


Ocorrendo acidente de trânsito com o envolvimento de viatura policial, inde-
pendentemente da instauração de inquérito policial e definição da autoridade com-
petente em face do ocorrido, o procedimento administrativo seguirá os ditames da

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Resolução SSP nº 103, de 22 de agosto de 1985, objetivando determinar, se caso, a


responsabilidade administrativa do servidor ou de terceiros, bem como o ressarci-
mento de danos. Se do acidente não resultar vítima, aplica-se o disposto na Resolu-
ção SSP nº 24, de 11 de março de 1983.
Incumbirá à autoridade policial, ao tomar conhecimento do acidente, imedia-
tamente determinar a elaboração do boletim de ocorrência e requisitar os exames
periciais do local do acidente e dos veículos acidentados. Impõe-se também a re-
quisição de exames periciais para caracterização das lesões e verificação do uso de
substância alcóolica ou que determine dependência, com encaminhamento de todas
as peças à Corregedoria Geral da Polícia Civil.

7. CRIMES DE TRÂNSITO
O Código de Trânsito Brasileiro introduziu novos tipos penais para caracteri-
zar determinadas condutas do motorista quando da utilização de veículo automo-
tor nas vias públicas abertas à circulação, tratando de especializar figuras típicas,
antes tratadas de forma genérica pelo Código Penal. Nessa direção, segue quadro
demonstrativo dos crimes de trânsito e seus equivalentes pretéritos:

INFRAÇÕES PENAIS DO CTB EQUIVALENTES PRETÉRITOS


Art. 302 – Homicídio culposo Art. 121, § 3º do Código Penal
Art. 303 – Lesão corporal culposa Art. 129, § 6º do Código Penal
Art. 304 – Omissão de socorro Art. 135 do Código Penal
Não há correspondência ou
Art. 305 – Fuga do local de acidente de trânsito
equivalência
Art. 306 – Embriaguez na condução de veículo Art. 34 da LCP
Art. 307 – Violação da proibição de dirigir ou
Art. 330 do Código Penal
obter o documento de habilitação
Art. 308 – Participação, sem autorização da
autoridade competente, em corrida, disputa ou Art. 132 do Código Penal
competição auto­mobilística
Art. 309 – Direção de veículo automotor sem a
Art. 32 da LCP
devida habilitação, gerando perigo de dano
Art. 310 – Permissão para que terceiro não
Não há correspondência ou
habilitado ou desprovido de higidez física ou
equivalência
mental dirija veículo automotor
Art. 311 – Tráfego em velocidade incompatível
com a segurança nas proximidades de escolas,
Art. 132 do Código Penal
hospitais, estações de embarque e desembarque
de passageiros e demais locais assemelhados
Art. 312 – Inovação artificiosa de local de
acidente de trânsito com vítima para induzir a Art. 347 do Código Penal
erro peritos e autoridades policial e judiciária

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

7.1 Disposições Genéricas


O Código de Trânsito Brasileiro define os crimes de trânsito nos arts. 302 a
312, exigindo que a conduta do infrator decorra da inobservância de regras de cir-
culação ou do comportamento na condução de veículo ou em decorrência do seu
uso, desde que ocorrente nas vias terrestres urbanas e rurais, nas praias abertas à
circulação pública e nas vias internas pertencentes aos condomínios constituídos
por unidades autônomas (arts. 2º e 3º do CTB).
A esses aplicam-se as disposições gerais elencadas nos arts. 291 a 301 do mes-
mo ordenamento, com aplicação subsidiária das normas gerais do Código Penal e
do Código de Processo Penal. As demais regras dispostas na lei de trânsito possuem
caráter de normas de interpretação suplementar ou subsidiária, algumas delas com
extensão de efeitos na esfera administrativa.
Embora a lei de trânsito determine a aplicação das especificidades de natureza
processual penal da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, quando caracterizada
lesão corporal culposa, em determinadas situações instaurar-se-á inquérito policial
para a investigação da infração penal e determinação de sua autoria (conforme lei-
tura do § 2º do art. 291, incluído pela Lei nº 11.705, de 2008).
As hipóteses determinantes para a instauração de inquérito policial são aquelas
estabelecidas no § 1º do mesmo dispositivo, quando verificado que o agente estava:
I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência (vide art. 165 do CTB)
II – participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automo-
bilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo
automotor, não autorizada pela autoridade competente (vide arts. 173 e
174 do CTB)
III – transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em
50 km/h (cinquenta quilômetros por hora) (vide art. 218 do CTB, com
redação dada pela Lei nº 11.334/06)

7.2 Disposições Especiais


Os crimes de trânsito definidos no ordenamento de regência especial apresen-
tam algumas peculiaridades inerentes que os distinguem dos crimes comuns, mere-
cendo destaque por sua importância no âmbito da Polícia Judiciária:
I – propositura de medida cautelar restritiva de direito: consistente na sus-
pensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou
a proibição de sua obtenção, mediante representação, havendo necessida-
de de garantia da ordem pública (art. 294 do CTB)
II – verificação da ocorrência de circunstâncias determinantes para o agra-
vamento das penalidades, na fase do procedimento de polícia judici-
ária, desde que o infrator esteja na condução do veiculo (art. 298 do
CTB):
1. com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de
grave dano patrimonial a terceiros;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

2. utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas (vide


art. 115 do CTB e Resolução CONTRAN nº 231/07);
3. sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação (vide
art. 162, I, do CTB);
4. com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria
diferente da do veículo (vide arts. 148 e 162, III, do CTB);
5. quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o
transporte de passageiros ou de carga (vide art. 145, IV, do CTB e Re-
solução CONTRAN nº 168/04);
6. utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de
acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do
fabricante (vide art. 105 do CTB e Resolução CONTRAN nº 14/98);
7. utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de
acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do
fabricante (vide art. 105 do CTB e Resolução CONTRAN nº 14/98).
III – nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá
a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral
socorro àquela (vide art. 301 do CTB).
IV – encaminhamento das principais peças do procedimento de polícia judi-
ciária ao órgão de trânsito, quando do registro de ocorrência retratando
acidente de trânsito grave. A obrigatoriedade decorre da regra prevista
no § 1º do art. 160 do CTB, em que a autoridade de trânsito do local de
registro da habilitação poderá determinar que o envolvido seja submetido
à realização dos exames de aptidão física e mental, avaliação psicológica,
escrito, sobre legislação de trânsito, noções de primeiros socorros e de
direção veicular, realizado na via pública, em veículo da categoria para
a qual estiver habilitado (vide regramento da Resolução CONTRAN nº
300, de 4 de dezembro de 2008).

7.3 Homicídio Culposo e Lesão Corporal Culposa na direção de veículo automotor3


(arts. 302 e 303 do CTB)
Por força do disposto no parágrafo único do art. 302 do CTB, que trata do au-
mento da pena de um terço à metade, a necessidade de verificação, quando da elabo-
ração das peças dos procedimentos de polícia judiciária, das seguintes circunstâncias:
a) se o agente é habilitado; se o for, os dados constantes do documento de ha-
bilitação e respectiva categoria, incluindo a informação se o mesmo exerce

3 Conceito de veículo automotor: todo veículo a motor de propulsão que circule por seus pró-
prios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária
de veículos utilizados para o transporte de pessoas ou coisas. O termo compreende os veículos conecta-
dos a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico).

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

profissão ou atividade vinculada com o transporte de passageiros, autoriza-


do ou não pelo poder público concedente;
b) descrição sucinta do local do evento, indicando se o fato ocorreu em faixa
de pedestres ou na calçada, isto porque comumente ocorre inovação, artifi-
ciosa ou não, pela retirada dos veículos da via pública4;
c) se o condutor deixou de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à vítima do acidente de trânsito.
As mesmas observações devem ser aplicadas quando o agente praticar lesão
corporal culposa na direção de veículo automotor.

7.4 Omissão de Socorro (art. 304 do CTB)


O tipo penal descreve o comportamento do condutor do veículo ao deixar, na
ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo
diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública. Incide
nas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida
por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.
É de ser observado que o tipo agrava a pena de homicídio culposo e de lesão
corporal culposa, tratando-se de crime subsidiário, quando constituir elemento de
outro mais grave. Assim, em situações muito específicas prevalecerá o crime de omis-
são de socorro, revelando-se como crime autônomo.
A caracterização do crime de omissão de socorro exige que o agente o pratique
na condução de veículo automotor envolvido no acidente, do qual resulte homicídio
culposo ou lesão corporal culposa, ou ambos. Os demais não partícipes do acidente,
condutores de veículos automotores ou não, poderão cometer o crime de omissão
de socorro tipificado no art. 135 do Código Penal.

7.5 Fuga à Responsabilidade (art. 305 do CTB)


Prevê o dispositivo a aplicação da sanção penal ao condutor que afastar-se do lo-
cal do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída.
A constitucionalidade da norma é questionada por grande parte da doutri-
na, destacando Damásio E. de Jesus: “A lei pode exigir que, no campo penal, o
sujeito faça prova contra ele mesmo, permanecendo no local do acidente?”. Como
diz Ariovaldo de Campos Pires, “a proposição incriminadora é constitucionalmente
duvidosa” (Parecer sobre o Projeto de Lei 73/94, que instituiu o CTB, oferecido ao
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Brasília, 23/07/1996).
Guilherme de Souza Nucci anota: “Trata-se do delito de fuga à responsabilidade,
que, em nosso entendimento, é inconstitucional. Contraria, frontalmente, o princípio
de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo — nemo tenetur se dete-
gere. Inexiste razão plausível para obrigar alguém a se auto-acusar, permanecendo no
lugar do crime, para sofrer as consequências penais e civis do que provocou. Qualquer

4 O art. 312 do CTB trata da inovação artificiosa, havendo, portanto, necessidade de verificação
da concorrência deste dispositivo penal (concurso material).

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

agente criminoso pode fugir à responsabilidade, exceto o autor de delito de trânsito.


Logo, cremos inaplicável o artigo 305 da Lei 9.503/97” (in Leis Penais e Processuais
Penais Comentadas, editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 848).
Com eles concorda Luiz Flávio Gomes, para quem: “Que todos temos a obri-
gação moral de ficar no local do acidente que provocamos não existe a menor dú-
vida. Mas a questão é a seguinte: pode uma obrigação moral converter-se em obri-
gação penal? De outro lado, sendo legítima a exigência de ficar no local, por que
impor essa obrigação apenas em relação aos delitos de trânsito, sabendo-se que o
homicida doloso, o estuprador, etc. não contam com obrigação semelhante? Nin-
guém é obrigado a fazer prova contra si mesmo, a declarar contra si mesmo, ou seja,
a auto incriminar-se (Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 8). O
dispositivo em questão resulta numa espécie de auto-incriminação. De outra parte,
ninguém está sujeito a prisão por obrigações civis (ressalvando-se as duas hipóteses
constitucionais: alimentos e depositário infiel). No art. 305 do CTB está contempla-
da uma hipótese de prisão (em abstrato) por causa de uma responsabilidade civil.
Pelas razões invocadas, em suma, há séria dúvida sobre a constitucionalidade do
preceito legal em debate” (in Estudos de Direito Penal e Processo Penal, Editora
Revista dos Tribunais, 1ª edição - 2ª tiragem, 1999, páginas 46 e 47).

7.6 Embriaguez ao volante (art. 306 do CTB)


A redação original do art. 306 do CTB previa a incidência penal para aquele
que conduzisse veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou subs-
tância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem.
Continha uma elementar do tipo, consistente em expor a dano potencial a
incolumidade de outrem, nada tratando a respeito da quantidade mínima de inges-
tão de bebida alcoólica, suficiente para a caracterização do ilícito penal. Bastava a
caracterização da influência do álcool em qualquer limite quando da condução de
veículo automotor.
A Lei nº 11.705, de 19 de junho de 2008, modificou a redação do artigo, pre-
vendo sua caracterização na hipótese de condução de veículo automotor, na via
pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6
(seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência.
Excluída a verificação da existência de perigo de dano, inseriu-se nova elemen-
tar do tipo, caracterizada pela concentração de álcool por litro de sangue igual ou
superior a 6 (seis) decigramas, acrescentando, com melhor redação, a influência de-
corrente do uso de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.
Foram mantidas as penas mínima e máxima - detenção, de seis meses a três
anos, bem como as penalidades acessórias, dispostas em multa e suspensão ou proi-
bição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Como parâmetro para a caracterização da concentração mínima exigida,
quando da utilização de testes de alcoolemia, o legislador introduziu um parágra-
fo único ao artigo, especificando ser de competência do Poder Executivo Federal

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- Conselho Nacional de Trânsito - a estipulação da equivalência entre os distintos


testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime de embriaguez na con-
dução de veículo automotor.
No âmbito administrativo, em sua redação original, a infração de trânsito era
caracterizada na hipótese de dirigir sob a influência de álcool, em nível superior a
seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que
determine dependência física ou psíquica. Com a Lei nº 11.275, de 2006, foi retirada
a concentração mínima de álcool exigida pelo tipo infracional, harmonizando o
critério administrativo com o penal.
O legislador manteve o valor e os prazos para as penalidades de multa de trân-
sito e de suspensão do direito de dirigir, a primeira fixada no valor de R$ 957,70
(novecentos e cinquenta e sete reais e setenta centavos) e a outra a ser determinada
com base nos parâmetros do art. 261 do CTB e da Resolução CONTRAN nº 182,
de 2005 (apreensão da carteira de habilitação pelo prazo de quatro a doze meses).
Com a Lei nº 11.705, de 2008, o tipo administrativo foi mantido para permitir
a caracterização do ilícito independente da quantidade relativa à ingestão de bebi-
da alcoólica, bem como o valor pecuniário da multa de trânsito. Foi aprimorada a
redação relativa à utilização de qualquer outra substância psicoativa que determine
dependência. Inovou com a introdução do parágrafo único ao art. 165, permitindo
que a embriaguez possa ser apurada na forma do art. 277 do CTB. A penalidade
de suspensão do direito de dirigir foi fixada em doze meses, mantida a obrigação da
aplicação da medida administrativa de recolhimento do documento de habilitação.
Vê-se, portanto, a inversão dos critérios determinantes para a caracterização
dos ilícitos penal e administrativo, reforçado pela nova redação do art. 276, a qual
dispõe que qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor
às penalidades previstas no art. 165 do CTB. O parágrafo único repete que órgão do
poder executivo federal disciplinará as margens de tolerância para casos específicos.
A este dispositivo agregou-se nova regra constante do art. 277, dispondo que
todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for
alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será
submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por
meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permi-
tam certificar seu estado.
Os parágrafos 2º e 3º desse artigo dispõem que a infração administrativa
prevista no art. 165 poderá ser caracterizada pelo agente de trânsito mediante
a obtenção de outras provas em direito admitidas, acerca dos notórios sinais de
embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor, presumindo sua ca-
racterização na hipótese de recusa do condutor na submissão a qualquer dos pro-
cedimentos admitidos em lei.
Para tanto, aplicam-se as regras da Resolução CONTRAN nº 206, de 2006, re-
cepcionada pelo novo regramento dado pela Lei nº 11.705, de 2008, dispondo sobre
os requisitos necessários para a constatação do consumo de álcool, de substância
entorpecente, tóxica ou de efeito análogo no organismo humano, estabelecendo os
procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trânsito e seus agentes.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Formas de Caracterização da Embriaguez

I - teste de alcoolemia com a concentração de álcool igual ou superior a seis decigramas


de álcool por litro de sangue – exame químico toxicológico

II - teste em aparelho de ar alveolar pulmonar (etilômetro - bafômetro) que resulte na


concentração de álcool igual ou superior a 0,3mg por litro de ar expelido dos pulmões1

III - exame clínico com laudo conclusivo e firmado pelo médico examinador da Polícia
Judiciária2

IV - exames realizados por laboratórios especializados, indicados pelo órgão ou


entidade de trânsito competente ou pela Policia Judiciária, em caso de uso de substância
entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos

V - no caso de recusa do condutor à realização dos testes, dos exames e da perícia, a


infração poderá ser caracterizada mediante a obtenção, pelo agente da autoridade de
trânsito, de outras provas em direito admitidas acerca dos notórios sinais resultantes do
consumo de álcool ou de qualquer substância entorpecente apresentadas pelo condutor,
mediante preenchimento de termo especifico3

VI - realização de exame de alcoolemia para as vítimas fatais de acidentes de trânsito –


exame químico toxicológico

1 Etilômetro - A alcoolemia considerada para efeito de aplicação da penalidade é a diferença entre


a medida e o valor correspondente ao seu erro maximo admitido, todos expressos em mg/l (miligrama de
álcool por litro de ar expirado. O erro máximo admitido deve respeitar a legislação metrológica em vigor.
2 A Superintendência da Polícia Científica, por meio do Instituto Médico Legal, editou a Por-
taria nº 1, de 5 de outubro de 2009, definindo o roteiro para a realização do exame clínico de embriaguez
para os fins do Código de Trânsito Brasileiro. A portaria levou em consideração critérios insertos em ta-
bela destinados a determinar a equivalência com a quantidade mínima de álcool para determinar o crime
de embriaguez ao volante. Da conclusão do laudo de exame de verificação de embriaguez constarão as
seguintes alternativas: a) Não embriagado e/ou Alcoolemia menor que 2 dg/l (valor quantitativo da aná-
lise toxicológica); b) Não embriagado, alcoolemia maior que 2 dg/l e menor que 6 dg/l (valor quantitativo
da análise toxicológica); c) Não embriagado, alcoolemia maior ou igual a 6 dg/l (valor quantitativo da
análise toxicológica); d) Embriagado, alcoolemia maior que 2 dg/l e menor que 6 dg/l (valor quantitativo
da análise toxicológica); e) Embriagado com alcoolemia maior ou igual a 6 dg/l (aplicasse aos casos de
exame clínico onde o indiciado encontra-se embriagado em conformidade com a linha de corte da dis-
cussão - II); f) Embriagado com alcoolemia maior ou igual a 6 dg/l na hora do fato (aplica-se aos casos
de exame clínico onde o indiciado encontra-se embriagado em conformidade com a linha de corte da
discussão – I, adicionado o intervalo de tempo em horas multiplicado pelo coeficiente de metabolização
(0,15g/l/hora - Nota técnica 15/08); g) Embriagado por substância psicoativa (resultado qualitativo da
análise toxicológica); h) Embriagado, compatível com substância psicoativa (avaliação apenas clinica); i)
Embriagado, compatível com associação de ambos (avaliação apenas clinica).
3 O termo destinado à constatação da embriaguez foi disciplinado pelo Departamento Estadual
de Trânsito – DETRAN, nos termos da Portaria nº 752, de 2007, alterada pela Portaria nº 536/08, conhe-
cido pela sigla ACASE.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Infere-se, analisando os critérios determinantes para a caracterização das in-


frações penal e administrativa, distinções preponderantes, de observância obrigató-
ria para as autoridades de polícia judiciária e de trânsito, assim dispostas:

Infração Administrativa – Art. 165 Infração Penal – Art. 306

I – exige concentração igual ou superior a


I – admite qualquer concentração de
seis decigramas de álcool por litro de san-
álcool, verificada pela realização de exa-
gue, verificada pela realização de exame
me químico toxicológico
químico toxicológico

II - teste em aparelho de ar alveolar pul-


II - teste em aparelho de ar alveolar pulmo-
monar (etilômetro - bafômetro) que re-
nar (etilômetro - bafômetro) que resulte na
sulte na concentração de álcool igual ou
concentração de álcool igual ou superior a
superior a 0,3mg por litro de ar expelido
0,3mg por litro de ar expelido dos pulmões
dos pulmões

III – viável a caracterização da concentra-


III - exame clínico com laudo conclusi- ção mínima exigida por meio de exame clí-
vo e firmado pelo médico examinador nico com laudo conclusivo e firmado pelo
da Polícia Judiciária médico examinador da Polícia Judiciária,
nos termos da Portaria editada pelo IML

IV – caracterização da infração median- IV – inviável a caracterização da concentra-


te obtenção, pelo agente da autoridade ção mínima exigida por meio da aferição
de trânsito, de outras provas em direi- realizada pelo agente de trânsito, quando
to admitidas acerca dos notórios sinais da coleta de outras provas em direito ad-
resultantes do consumo de álcool ou de mitidas acerca dos notórios sinais resultan-
qualquer substância entorpecente apre- tes do consumo de álcool ou de qualquer
sentadas pelo condutor, na hipótese de substância entorpecente apresentadas pelo
recusa na submissão aos testes condutor

V - exames realizados por laboratórios


V - exames realizados por laboratórios es-
especializados, indicados pelo órgão
pecializados, indicados pelo órgão ou enti-
ou entidade de trânsito competente ou
dade de trânsito competente ou pela Policia
pela Policia Judiciária, em caso de uso
Judiciária, em caso de uso de substância
de substância entorpecente, tóxica ou de
entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos
efeitos análogos

VI – a condução do veículo, na via pública,


VI – a simples condução do veículo, na estando o condutor com concentração de
via pública, estando o condutor sob a álcool por litro de sangue igual ou superior
influência de álcool ou de qualquer ou- a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de
tra substância psicoativa que determine qualquer outra substância psicoativa que
dependência, caracteriza a infração ad- determine dependência, caracteriza o ilícito
ministrativa penal (trata-se de crime de perigo presumi-
do ou abstrato)

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Notas Relevantes:

1. Para aplicação da penalidade de multa de trânsito, autônoma em relação


a penalidade criminal, o agente de trânsito deverá lavrar o auto de infração, nos
termos do art. 280 do CTB e legislação complementar, possibilitando a instauração
de processo administrativo, defesa do infrator e julgamentos nas diversas instâncias
administrativas.
Os órgãos executivos e normativos de trânsito não admitem a aplicação da pe-
nalidade de multa de trânsito com base no exclusivo recebimento de cópia das peças
do procedimento de polícia judiciária.
Para a caracterização da penalidade administrativa, quando da apresentação
do envolvido na unidade policial, deverá a autoridade policial requisitar aos agentes
de trânsito – policiais militares - a elaboração do auto de infração, consignando no
boletim de ocorrência os dados relativos a essa autuação.
2. Como medida incidental ao registro da ocorrência, impõe-se o cumprimento
de regra complementar prevista no art. 165 do CTB, consistente no recolhimento da
habilitação do condutor infrator, caso tal providência não tenha sido adotada pelo
agente de trânsito (mediante elaboração de certificado de recolhimento).
O lastro de autorização legal encontra assento no art. 272 do CTB, devendo
a autoridade policial encaminhar o documento para a unidade de trânsito do lo-
cal em que os fatos ocorreram, independente do local de registro do documento de
habilitação.
O recolhimento não se confunde com a apreensão, esta última representando
o cumprimento da penalidade de suspensão do direito de dirigir (art. 261 do CTB).
O recolhimento é medida administrativa decorrente da aplicação do princípio da
cautelaridade, impedindo que o condutor embriagado possa dirigir novamente en-
quanto persistir os efeitos da ingestão de álcool.
3. O Código de Trânsito Brasileiro e a legislação complementar não trataram
ou indicaram, de forma genérica ou específica, as substâncias psicoativas que de-
terminem dependência e, por consequência, caracterizam o ilícito previsto no art.
306 e respectiva infração administrativa. Dessa forma, segue quadro indicativo das
drogas psicotrópicas:

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Drogas Psicotrópicas

Hipnossedativos (barbitúricos), Neurolépticos e Tranqui-


1 – Psicolépticos lizantes (sedativos psíquicos que inibem a motricidade, a
sensibilidade, as emoções e o raciocínio)

Timolépticos (anfetaminas) e Psicotônicos


(medicamentos antipsicóticos que criam um estado de in-
2 – Psicanalépticos
diferença mental, inibidor sobre os processos intelectuais
e psicomotores)

Euforizantes (álcool, ópio, cocaína, óxido nitroso) e Alu-


cinógenos ou despersonalizantes (mescalina, bufotenina,
adrenolutina, maconha, LSD) (são drogas que provocam
3 – Psicodislépticos
alterações no psiquismo, criando distorções apreciáveis,
dissolvendo os limitadores do ego, sem alterar significati-
vamente a consciência)

Clorprotixeno e Trimeprimina (compreendem os anticon-


vulsivantes hidantoinatos, que podem induzir tolerância e
4 – Panpsicotrópicos dependência física e psíquica com o uso continuado, com
indicações para neurose de angústia e reativa, estados de-
pressivos, estados delirantes alucinatórios e confusionais)

Fonte: CROCE, Delton; CROCE JÚNIOR, Delton. Manual de Medicina Legal. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 1996.

7.7 Violação a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para


dirigir veículo automotor (art. 307 do CTB)

Trata-se de modalidade do crime de desobediência, caracterizada quando o


condutor é flagrado na condução de veículo automotor na via pública, estando proi-
bido de dirigi-lo por decisão judicial.

7.8 Racha (art. 308 do CTB)

O tipo penal exige que da conduta resulte dano potencial à incolumidade pú-
blica ou privada, a ser aferida no caso concreto, prevendo o concurso de dois ou
mais condutores.

7.9 Direção sem habilitação (art. 309 do CTB)

A direção sem habilitação ou, ainda, a condução de veículo automotor duran-


te o período de cassação do direito de dirigir (arts. 148, § 3º, e 263 do CTB), exige,
para caracterização do ilícito penal, a comprovação da existência de perigo de dano,
qual seja a condução anormal do veículo, como por exemplo, trafegar na contramão

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

de direção ou ultrapassar semáforo vermelho. O tipo penal derrogou o art. 32 da Lei


das Contravenções Penais (Informativo STF, 12 – 16.02.01, p. 1).
A jurisprudência registra que na situação do condutor surpreendido na direção
de veículo depois de aprovado no exame de habilitação, porém antes da expedição
do documento, inexiste crime e sim mero ilícito administrativo (TACRIMSP, Acrim
107.034, JTACRIMSP 68/117). Aquele que esquece o documento de habilitação ou
não o portava por qualquer motivo no momento da abordagem, responde somente
pela infração administrativa (TACRIMSP, Acrim 722.639, 7ª. Câm., j. 27-8-1992).

7.10. Entrega da direção do veículo a determinadas pessoas (art. 310 do CTB).


Aquele que, habilitado ou não, permite, confia ou entrega a direção de veículo
automotor a pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de di-
rigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por
embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança.
O tipo penal não exige a constatação de perigo de dano, bastando apenas a
conduta volitiva daquele que, em sendo responsável pela posse ou guarda do veí-
culo, permitiu ou anuiu que terceiro conduzisse o veículo automotor na via pública.

7.11 Excesso de velocidade em determinados locais (art. 311 do CTB)


O dispositivo retrata a conduta daquele que venha a trafegar em velocidade
incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de
embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja mo-
vimentação ou concentração de pessoas, desde que gere perigo de dano. Assim, de-
monstrado que o condutor realizava manobra perigosa em velocidade incompatível
para trafegar naqueles locais, caracteriza-se o crime definido no artigo. A depender
do caso concreto, admite-se o enquadramento com base no art. 34 da Lei das Con-
travenções Penais.

7.12 Fraude Processual (art. 312 do CTB)


Não se exige para a caracterização do crime a instauração de procedimento
preparatório (registro dos boletins de ocorrência pelas polícia civil e militar, levan-
tamento do local ou recognição), de inquérito policial ou mesmo processo penal.
Exigem-se os seguintes pressupostos: (a) o acidente tenha vítima; do contrário,
a alteração fraudulenta poderá caracterizar o crime previsto no art. 347 do Código
Penal; (b) induza a erro o agente policial, o perito, ou juiz; (c) inovação artificiosa
para a modificação do estado de lugar, de coisa ou de pessoa.

8. DOCUMENTOS DE PORTE OBRIGATÓRIO E COMPROBATÓRIOS DA


PROPRIEDADE VEICULAR CONFORME LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO
A matriz de interpretação consta dos arts. 122, 133, 141, 159 e 232 do Código de
Trânsito Brasileiro, que tratam do Certificado de Registro de Veículo – CRV, do Certi-

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

ficado de Registro e Licenciamento Anual – CRLV, da Autorização para Conduzir Ci-


clomotores, da Carteira Nacional de Habilitação – CNH e da Permissão para Dirigir.
Para nortear a conduta dos agentes de trânsito, quando da fiscalização de trân-
sito ou da apresentação dos condutores e dos veículos perante a autoridade policial,
o Conselho Nacional de Trânsito publicou a Resolução nº 205, de 20 de outubro de
2006, dispondo sobre os documentos de porte obrigatório.
I – documento de circulação: certificado de registro e licenciamento anual –
CRLV, no original, ou cópia autenticada pelo órgão de trânsito, deno-
minada outra via original. Não há amparo legal para exigir a apresenta-
ção de guias comprobatórias do pagamento de impostos, taxas e outros
encargos, muito menos a quitação de multas de trânsito, vencidas ou a
vencer, cuja exigibilidade ocorrerá por ocasião do licenciamento junto ao
órgão de trânsito.
II – documento de propriedade: certificado de registro de veículo – CRLV, cujo
endosso no verso, datado e com reconhecimento de firma por autentici-
dade, permite a realização da transferência de propriedade.

9. DOCUMENTOS DE HABILITAÇÃO. TIPOS, CLASSIFICAÇÃO E


VALIDADE
A legislação de trânsito prevê 3 (três) tipos de habilitação para a condução de veí­
culos, descritos na Resolução CONTRAN nº 205, de 20 de outubro de 2006, a saber:
I - Permissão para dirigir é o documento expedido quando da primeira
habilitação, com validade específica de um ano, abrangendo exclusiva-
mente as categorias “A” e/ou “B”. Decorrido o período de prova, sem o
cometimento de determinadas espécies de infrações de trânsito, haverá
simples substituição da permissão pela carteira nacional de habilitação,
mantida(s) a(s) categoria(s) constante(s) do prontuário do condutor.
II - Carteira nacional de habilitação – CNH é o documento expedido com
prazo de validade condicionado à data de vencimento do exame de
aptidão física e mental, do condutor, expedido de acordo com a categoria
pretendida, atendidas às exigências dos artigos 140 e seguintes do Código
de Trânsito Brasileiro.
III - Autorização para conduzir ciclomotor – ACC é o documento obtido,
nos mesmos moldes e condições exigidas para a expedição da carteira
nacional de habilitação - CNH de categoria “A”.
Nota 1: a permissão para dirigir e a autorização para conduzir ciclomotor são
expedidas na mesma cédula destinada à carteira nacional de habilitação, estampan-
do no corpo do documento sua origem e respectiva classificação.
Nota 2: a carteira nacional de habilitação será renovada a cada cinco anos, ou
três anos para condutores com mais de 65 (sessenta e cinco) anos de idade, mediante
a realização de exame de aptidão física e mental. A realização do exame de avaliação
psicológica será exigida dos condutores que exerçam atividade remunerada com o
veículo, nos termos do artigo 147 e §§ do Código de Trânsito Brasileiro.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nota 3: Caracteriza-se infração de trânsito dirigir veículo com validade da car-


teira nacional de habilitação vencida há mais de trinta dias (art. 162, V, CTB). Por
extensão legal, a regra de vigência aplica-se à permissão para dirigir e autorização
para conduzir ciclomotor (Portaria DENATRAN nº 28/99).
Nota 4: O Conselho Nacional de Trânsito, seguindo regramento do Código
de Trânsito Brasileiro, elaborou tabela de correspondência entre as categorias e as
diversas classificações dos veículos, na seguinte ordem:

Tabela de Correspondência

Categoria Especificação e Classificação


Todos os veículos automotores e elétricos, de duas ou três rodas, com ou
A
sem carro lateral

Veículos automotores e elétricos, de quatro rodas cujo peso bruto total


não exceda a três mil e quinhentos quilogramas e cuja lotação não exceda
a 08 (oito) lugares, excluído o do motorista, contemplando a combinação
de unidade acoplada, reboque, semi-reboque ou articulada, desde que
atenda a lotação e capacidade de peso para a categoria
B
Os condutores da categoria B estão autorizados a conduzir veículo
automotor da espécie motor-casa, desde que o peso não exceda a 6.000
kg (seis mil quilogramas) ou cuja lotação não exceda a 8 (oito) lugares,
excluído o do motorista, segundo o art. 143, § 2º do CTB, com redação
dada pela Lei nº 12.452, de 21 de julho de 2011

Todos os veículos automotores e elétricos utilizados em transporte de


carga, cujo peso bruto total exceda a três mil e quinhentos quilogramas;
tratores, máquinas agrícolas e de movimentação de cargas, motor-casa,
C
combinação de veículos em que a unidade acoplada, reboque, semi-
reboque ou articulada, não exceda a 6.000 kg de PBT e, todos os veículos
abrangidos pela categoria “B”

Veículos automotores e elétricos utilizados no transporte de passageiros,


D cuja lotação exceda a 08 (oito) lugares e, todos os veículos abrangidos nas
categorias “B” e “C”

Condutor de combinação de veículos em que a unidade tratora se


enquadre nas categorias “B”, “C” ou “D” e cuja unidade acoplada,
E reboque, semi-reboque, trailer ou articulada tenha 6.000 kg (seis mil
quilogramas) ou mais, de peso bruto total, ou cuja lotação exceda a 8
(oito) lugares, nos termos da Lei nº 12.452, de 21 de julho de 2011

Autorização para conduzir ciclomotor, assim considerado o veículo de


duas ou três rodas, provido de um motor de combustão interna, cuja
ACC cilindrada não exceda a cinquenta centímetros cúbicos (3,05 polegadas
cúbicas) e cuja velocidade máxima de fabricação não exceda cinquenta
quilômetros por hora

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Para a condução de veículos motorizados nas vias públicas abertas à circu-


lação e nas vias equiparadas imprescindível a habilitação do condutor de acordo
com a categoria vinculada à respectiva correspondência contemplada na tabela de
classificação.
A obtenção da permissão para dirigir, da carteira nacional de habilitação ou
da autorização para conduzir ciclomotor estão condicionadas ao preenchimento
dos requisitos dispostos no art. 140 do CTB, destacando-se, preponderantemente, a
imputabilidade penal do interessado.
Por essa razão, o adolescente, por não preencher o requisito da imputabilidade
penal, está impedido de conduzir qualquer espécie de veículo, inclusive ciclomotor,
sob pena de o fazendo incorrer na prática de ato infracional, de acordo com a legis-
lação especial de regência.

9.1 CNH. Exercício de atividade remunerada. Cursos de Especialização. Categorias


(A a E e ACC).

Sempre que for obrigatória a aprovação em curso especializado (transporte


de escolares, transporte de produtos perigosos, transporte coletivo de passageiros,
transporte de veículos de emergência e transporte remunerado de pessoas e car-
gas por motocicletas – mototaxista e motofrete), o condutor apresentar credencial
expedida pelo órgão de trânsito, exceto se esta informação constar do campo de
observações da habilitação.

10. PEDESTRE E CONDUTOR DE VEÍCULO NÃO MOTORIZADO. OBSER-


VAÇÕES QUANDO DA OCORRÊNCIA DE ACIDENTE DE TRÂNSITO

É assegurado ao pedestre a utilização dos passeios ou passagens apropriadas


das vias urbanas e dos acostamentos das vias rurais para circulação. O ciclista des-
montado empurrando a bicicleta equipara-se ao pedestre em direitos e deveres.
Nas áreas urbanas, quando não houver passeios ou quando não for possível
a utilização destes, a circulação de pedestres na pista de rolamento será feita com
prioridade sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, exceto em locais
proibidos pela sinalização e nas situações em que a segurança ficar comprometida.
Nas vias rurais, quando não houver acostamento ou quando não for possível
a utilização dele, a circulação de pedestres, na pista de rolamento, será feita com
prioridade sobre os veículos, pelos bordos da pista, em fila única, em sentido con-
trário ao deslocamento de veículos, exceto em locais proibidos pela sinalização e nas
situações em que a segurança ficar comprometida.
Para cruzar a pista de rolamento o pedestre tomará precauções de segurança, le-
vando em conta, principalmente, a visibilidade, a distância e a velocidade dos veículos,
utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem
numa distância de até cinquenta metros dele, observadas as seguintes disposições:
I – onde não houver faixa ou passagem, o cruzamento da via deverá ser feito
em sentido perpendicular ao de seu eixo;

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

II - para atravessar uma passagem sinalizada para pedestres ou delimitada


por marcas sobre a pista:
a) onde houver foco de pedestres, obedecer às indicações das luzes;
b) onde não houver foco de pedestres, aguardar que o semáforo ou o
agente de trânsito interrompa o fluxo de veículos.
Nas interseções e em suas proximidades, onde não existam faixas de travessia,
o pedestre deve atravessar a via na continuação da calçada, observadas as seguintes
normas:
I - não deverá adentrar na pista sem antes se certificar de que pode fazê-lo
sem obstruir o trânsito de veículos;
II - uma vez iniciada a travessia de uma pista, não deverá aumentar o seu
percurso, demorar-se ou parar sobre ela sem necessidade;
III - nos locais em que houver sinalização semafórica de controle de passagem
será dada preferência ao pedestre que não tenha concluído a travessia,
mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos
veículos.
Nota 1: A verificação “in loco” das condições da via pública ou a obtenção
de informações prestadas por testemunhas propiciará a análise do comportamento
do pedestre ou do ciclista quando do evento, independente da responsabilização do
condutor do veículo.
Nota 2: As regras de comportamento poderão compor ‘quesitos’ para a reali-
zação da perícia técnica, permitindo perfeita delimitação da ocorrência e respectivo
evento.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

CAPÍTULO XXII
CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
E IRREGULARIDADES EM MEDICAMENTOS
E SUBSTÂNCIAS ALIMENTÍCIAS

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Aspectos Legislativos; 3. Sujeitos do de-


lito; 4. Polícia Judiciária; 5. Apreensão e acondicionamento de produtos; 5.1 Produ-
tos deteriorados; 5.2 Produtos perecíveis; 5.3 Produtos medicinais; 5.4 Contraprova;
6. Assessoramentos possíveis; 7. Locais de exame; 8. Aspectos penais e processuais. 9;
Considerações finais; 10. Modelos.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Os crimes contra a saúde pública estão previstos nos artigos 267 a 285 do Có-
digo Penal, com as alterações introduzidas pelas Leis nºs. 9.677/98 e 9.695/98.
A primeira Lei n° 9.677/98 nasceu com imprecisões técnicas nos textos, mor-
mente, nos mandamentos enunciativos da lei. Não bastasse isso, a forma escolhida
que sequenciou os parágrafos do artigo 273, por números e letras, afastou-se com-
pletamente da técnica legislativa brasileira.
A segunda Lei nº 9.695/98, cujo objetivo maior foi qualificar o crime de falsifi-
cação de remédios como hediondo, porque não estava explícito na anterior, foi alvo
de críticas, pois as condutas de maior ou menor gravidade tiveram tratamento seme-
lhante, bem como por não ter contemplado o artigo 272, que trata da falsificação,
corrupção, adulteração de substância ou produtos alimentícios, como hediondo.

2. ASPECTOS LEGISLATIVOS

A Lei n° 9.677/98, entretanto, por cerca de 1 (um) mês e 18 (dezoito) dias, foi
alvo de críticas exacerbadas dos lidadores do Direito para que o legislador aparasse
suas imperfeições técnicas, no que foram atendidos, surgindo assim, a Lei 9.695/98
para complementá-la.
A Lei 9.695/98 delimitou o que deveria ser considerado hediondo, restringiu
o campo de incidência da hediondez. Vale dizer, com o advento da Lei n° 9.695/98
considera-se crime hediondo apenas o artigo 273, seus parágrafos e incisos, exceto a
forma culposa, ou seja, a falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de pro-
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
Ressalte-se que tais instrumentos vieram a lume somente após a descoberta de
falsificações em medicamentos, notadamente os episódios envolvendo, v.g., pílulas
anticoncepcionais inócuas, bem como nos óbitos, ocorridos por causa de remédio

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

usado no tratamento do câncer de próstata, em decorrência da falta de efeito a que


se destinava.
De outra parte, imperioso reconhecer que nosso ordenamento jurídico previa
anteriormente mecanismos legais destinados a combater os crimes de falsificação de
remédios e alimentos além do próprio Código Penal, ao prever nos artigos 267 a 285
os crimes contra a saúde publica.

3. SUJEITOS DO DELITO
O sujeito passivo dos crimes contra a saúde pública é a coletividade. Quanto
ao sujeito ativo, qualquer pessoa pode cometer o crime, entretanto, na maioria das
vezes, é um industrial, agricultor ou comerciante.
Quanto à empresa, convém ressaltar, que já existem defensores de que a nova
legislação deixou passar ao largo excelente oportunidade de trazer em seu bojo a
responsabilidade penal da pessoa jurídica, contrariando o axioma clássico do so-
cietas delinquere non potest, a teor do adotado na lei ambiental, que dispõe sobre as
sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, sob o argumento de uma forma eficaz de obrigar diretores das empre-
sas a fiscalizarem eles próprios mais rigorosamente seus produtos, uma vez que, os
crimes contra a ordem econômica e a Constituição Federal, no capítulo destinado
ao assunto, preconizam a possibilidade de responsabilizar-se a pessoa jurídica, sem
prejuízo da individual dos dirigentes, sujeitando-a às punições compatíveis com sua
natureza. Entretanto, necessário trazer a lume que há profissionais do Direito acoi-
mando de inconstitucional a responsabilidade penal objetiva das pessoas jurídicas,
estribado no argumento do preceituado no artigo 5°, inc. XLV, da Carta Federal.

4. POLÍCIA JUDICIÁRIA
A Polícia Civil do Estado de São Paulo, através de profissionais competen-
tes e responsáveis, Delegados de Polícia e auxiliares, têm dado sua contribuição à
sociedade, investigando, esclarecendo e responsabilizando os indigitados nos casos
de denúncias de falsificação dos medicamentos Em razão dessa atuação da polícia
judiciária, evidenciou-se que são fraudados, principalmente os medicamentos mais
consumidos e de preferência mais caros, como exemplo os antibióticos, inclusive
de 100 remédios falsos, 30 são antibióticos. As formas criminais de falsificação de
medicamentos que mais ocorrem são:
a) produtos que não produzem nenhum efeito contra a doença que dizem
tratar de remédios como medicamentos feitos a partir de água e farinha; ou
com dosagem de substância ativa menor do que informa a bula;
b) remédios com a substância ativa na quantidade correta, mas fabricados em
laboratórios clandestinos sem nenhuma higiene e qualidade;
c) amostras grátis dos propagandistas chegam às mãos dos falsários, e mesmo
com a validade vencida, são reaproveitadas. Muitas vezes são reembaladas
ou só são raspadas as numerações de lote, data de fabricação e prazo de
validade em laboratórios improvisados sem nenhuma higiene.

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Nas diligências para a apuração dessas modalidades criminosas, os policiais


civis devem observar:
I. a data de fabricação e o prazo de validade do alimento ou medicamento;
II. irregularidades nas condições de embalagem dos alimentos, como a
existência de:
a) estufamento da tampa ou embalagem;
b) depósitos de sedimentos no fundo da embalagem;
c) furos, vazamentos ou partes amassadas nas latas;
d) odores estranhos ou presença de mofo em massas refrigeradas ou pães
de forma;
e) bolhas e outros danos nas embalagens de papelão dos produtos conge-
lados (indício de deterioração em razão da flutuação da temperatura);
f) sacos plásticos coloridos utilizados para armazenar alimentos.
III. condições de armazenagem e a regularidade do registro dos produtos:
a) registro dos rótulos dos alimentos de origem animal pré-embalados
no Ministério da Agricultura com número fornecido pelo Serviço de
Inspeção Federal (SIF) e o registro de produtos vegetais pré-embalados
no Ministério da Saúde com número fornecido pela Divisão Nacional
de Vigilância Sanitária de Alimentos (DINAL);
b) exposição dos alimentos perecíveis em balcões frigoríficos.
IV. a procedência do produto.

5. APREENSÃO E ACONDICIONAMENTO DE PRODUTOS

O local e as circunstâncias nas quais se deu a apreensão deverão constar de


auto próprio. (modelo 1)
Os produtos perecíveis devem ser acondicionados de imediato em caixa de iso-
por com sacos plásticos com gelo comum ou reciclado e, tão logo possível, enca-
minhados à perícia, com a requisição pertinente. (modelo 2). Em caso de grandes
distâncias, é recomendável a utilização de gelo seco no acondicionamento.
Ainda quanto ao acondicionamento dos produtos apreendidos, deve-se aten-
tar aos termos da Portaria IC 01/2011, bem como a Portaria Conjunta CVS/IAL,
de 9/11/2004, pois ambas estabelecem os procedimentos operacionais de apreensão,
coleta, acondicionamento e encaminhamento dos produtos ao Instituto de Crimi-
nalística ou ainda ao Instituto Adolfo Lutz, conforme o caso concreto.

5.1 Produtos deteriorados

Quando a deterioração for visível, é recomendável que, além da análise labora-


torial da substância apreendida, seja requisitada perícia para constatação fotográfi-
ca do local onde foi encontrado o produto, bem como colhida a amostra. Se possí-
vel, os produtos deverão ser encaminhados para exame em sua embalagem original.

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5.2 Produtos perecíveis

As amostras devem ser embaladas em saco plástico transparente sem uso ou


em frasco de boca larga, esterilizado e acondicionado em local refrigerado. Em se-
guida, devem ser encaminhadas imediatamente à perícia para a constatação de sua
impropriedade, já que o prazo máximo para sua chegada no local do exame é, geral-
mente, de 3 (três) horas, observando-se que para a água o prazo é de 6 (seis) horas.
Havendo dúvidas sobre os procedimentos para o acondicionamento do produto,
deve ser consultado o órgão técnico responsável pelo exame das amostras.
Embora, em tese, possam ser analisadas pequenas quantidades das amostras
apreendidas, recomenda-se a coleta de 3 (três) porções iguais de 500 (quinhentos)
gramas ou de 500 (quinhentos) mililitros, das quais 2 (duas) serão remetidas à pe-
rícia, e 1 (uma) será deixada em poder do comerciante ou industrial para eventual
perícia de contraprova.

5.3 Produtos medicinais

Em se tratando de produtos medicinais, devem ser colhidas amostras de 9


(nove) produtos de cada espécie investigada e divididas em 3 (três) porções acondi-
cionadas individualmente em saco plástico transparente, que deve ser lacrado.
Novamente, 2 (duas) porções serão encaminhadas à perícia, e 1 (uma) ficará
em poder do industrial ou do comerciante responsável.

5.4 Contraprova

A contraprova é meio de defesa de que dispõe o investigado, que pode solicitar


pelo mesmo laboratório, nova análise das amostras apreendidas. A análise deverá
ser realizada dentro de 24 (vinte e quatro) horas, se o produto for perecível, e em 10
(dez) dias, se o produto não for perecível.
Observe-se que o comerciante ou industrial responsável ao receber a amostra
para a realização da contraprova, deve assinar, na qualidade de recebedor, o auto
de entrega da contraprova, na presença da autoridade, do escrivão e de 2 (duas)
testemunhas (modelo 3) e tão logo seja a análise pericial elaborada, deve tomar
conhecimento do laudo de exame através do termo de ciência respectivo. (modelo 4)

6. ASSESSORAMENTOS POSSÍVEIS

Os assessoramentos que se seguem são meramente exemplificativos e devem


ser adaptados à modalidade do delito e ao local e estabelecimento onde se realiza a
diligência.
Para a fiscalização de pesos e quantidades de produtos, contatar o Instituto de
Pesos e Medidas (IPEM).
Nos matadouros, abatedouros, frigoríficos e laticínios pode ser acionado o Ser-
viço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura (SIF).

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Nos laboratórios, indústrias de alimento e nos casos de irregularidades em pro-


dutos alimentícios pré-embalados, solicitar o auxílio dos Escritórios Regionais de
Saúde, no âmbito estadual (ERSAS).
Em feiras-livres, mercados, empórios, peixarias e açougues, na Capital, comu-
nicar a Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Abastecimento ( ISA).
Em farmácias, drogarias, locais que produzem e comercializam cosméticos,
produtos hospitalares e prestam serviços com os denominados inseticidas, acionar a
Divisão do Exercício Profissional da Secretaria da Saúde.
Em padarias, mercearias, supermercados, lanchonetes e restaurantes, pode ser
solicitada a colaboração dos Centros de Saúde e dos responsáveis pela Vigilância
Sanitária local.
Por derradeiro, para o exame de alimentos e produtos agrícolas em geral, é
útil convocar a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

7. LOCAIS DE EXAME

Nos casos de intoxicação, pode ser coletado material biológico como urina,
fezes e vômito das pessoas contaminadas, para análise laboratorial.
Geralmente os exames laboratoriais de substâncias alimentícias ou medicinais
são realizados pelo Instituto Adolfo Lutz que, além de examinar seu aspecto exter-
no, odor, cor e sabor, procede à análise das características físicas, químicas e micro-
biológicas da amostra.
Contudo, isso não poderá ser feito quando a amostra for inadequadamen-
te coletada e transportada ou seu lacre estiver violado. Nessa hipótese, o Instituto
limitar-se-á a emitir parecer sobre as alterações externas que a substância apresentar
em seu aspecto, cor e sabor.
Nos casos de irregularidades em inseticidas, ou fertilizantes, o laudo é costu-
meiramente emitido pelo Instituto Biológico.
O exame em animais pode ser realizado pelo Instituto de Zoonoses, em São
Paulo.

8. ASPECTOS PENAL E PROCESSUAL

O artigo 267 do Código Penal trata do crime de epidemia que resulta da pro-
pagação intencional de germes patogênicos como a varíola, a hepatite, AIDS etc.
Lembre-se que, se em razão da epidemia ocorrer a morte (§ 1º do artigo), o crime é
considerado hediondo (artigo 1º, II, da Lei nº 8.072/90, com a redação determinada
pela Lei nº 8.930/94).
Com referência ao artigo 268 do Código Penal, que cuida de infração de me-
dida sanitária preventiva verifica-se ser ele norma penal em branco, pois depende de
complemento previsto na legislação sanitária. Assim ele se caracteriza quando hou-
ver o descumprimento de determinação de vigilância sanitária e/ou epidemiológica,
não exigindo a existência de dano efetivo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A omissão de notificação de doença, crime previsto no artigo 269 do Código


Penal também se trata de norma penal em branco, cujo complemento encontra-se
na Portaria nº 1.100, de 24/5/96, do Ministério da Saúde, que indica quais as doen-
ças de comunicação compulsória.
Quanto ao envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou
medicinal, crime previsto no artigo 270 do Código Penal, tem como objeto mate-
rial tanto a água corrente como a contida em cisternas, açudes e poços, bem como
gêneros alimentícios em geral, aqui compreendidos os alimentos, líquidos e bebi-
das. Lembre-se que o delito foi excluído da relação de crimes hediondos pela Lei
nº 8.930/94, mas admite a prisão temporária, quando for qualificado pelo evento
morte, por força do disposto no artigo 1º, III, “j” da Lei nº 7.960/89.
O crime previsto no artigo 271 do Código Penal trata de corrupção ou polui-
ção de água potável, que consiste na desnaturação ou na infectação da água. É o
caso do líquido que apresenta elevado teor de chumbo, fluoreto, cobre, zinco (quan-
tidade superior à permitida em lei).
Para a configuração do delito é imprescindível que se comprove a potabilidade
da água e o seu consumo por um número indeterminado de pessoas. Se houver pe-
rigo à incolumidade humana, animal ou vegetal, deve ser consultado o artigo 15, §§
1º e 2º, da Lei nº 6.938/81. Se em razão da poluição for necessária a interrupção do
abastecimento público, consultar também artigo 54, § 2º, III, do mesmo diploma.
No artigo 272, caput, a intenção do legislador é proteger a saúde pública. O
dispositivo estabelece que “corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou
produto alimentício destinado a consumo tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-
lhe o valor nutritivo”, prevê pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa. Constata-se que
as condutas alternativamente incriminadas, antes do advento das novas leis, eram
apenas três, vale dizer, “corromper” (estragar, infectar, desnaturar), “adulterar” (a
adulteração consiste no adicionamento de substância que resulte em piora da qua-
lidade do produto embora, por vezes, melhore sua aparência. É o que se verifica na
adição de bromato de potássio ao pão e de excremento de animais no pó de café),
“falsificar” (a falsificação é a contrafação do produto, que permanece com a mesma
aparência, porém com conteúdo diferente. Caso da venda de margarina, como se fos-
se manteiga. Se não houver perigo para a saúde pública, ver artigo 2º, III, e, da Lei
nº 1.521/51, e artigo 66 da Lei nº 8.078/90). No referido caput, ainda acrescentou-se
a conduta de “alterar” e “além de substância ou produto” ou “reduzindo-lhe o va-
lor”. Desse contexto, depreende-se então que as condutas incriminadas no caput do
artigo 272 passaram a ser alternativamente quatro condutas (corromper, adulterar,
falsificar e alterar). Frise-se também que não se enquadra mais substância medici-
nal, anteriormente também tipificada neste dispositivo. Destaca-se que a substância
ou produto alimentício, líquido ou sólido, necessariamente tem que ser destinado ao
consumo de um número indeterminado de pessoas e deve ser nocivo à saúde, isto é,
prejudicial, por ser danoso à saúde humana ou por redução de seu o valor nutritivo.
Há ainda de se destacar que o crime é de perigo, não havendo necessidade de efeti-
vo dano. A prova pericial é indispensável, sendo que o laudo necessariamente deve
conter fundamentação, além do mais deve ser conclusivo. Não obstante, no Estado

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de São Paulo, a colheita de amostras deve ser realizada em conformidade com a Lei
n° 10.083, de 23 de setembro de 1998, Código Sanitário do Estado de São Paulo,
sob pena do exame pericial se tornar imprestável. Cumpre estabelecer que a perícia
técnica em alimentos, objetivando-se constatar a impropriedade ou nocividade ao
consumo, somente é feita pelo Instituto Adolfo Lutz, que possui laboratório e trei-
namento na área de bromatologia.
Ressalte-se que a água envenenada poderá ensejar enquadramento na Lei n°
9.605/98 que protege o meio ambiente. Além da responsabilidade penal, o autor
do crime pode ser responsabilizado civil e administrativamente, cabendo inclusive
interdição do estabelecimento comercial pela Fiscalização Sanitária e o proprie-
tário poderá ingressar com Mandado de Segurança, visando amparar seu direito
que foi violado por não ter sido observado os ditames da legislação que circundam
o assunto.
Em que pesem as argumentações dos lidadores do direito, a nocividade poderá
ser positiva (capacidade de causar diretamente dano à saúde pública) ou negativa
(redução do valor nutritivo sem perigo imediato a saúde). A tentativa é possível com
a interrupção da conduta. Não se exige fim de lucro, exceto na modalidade ter em
depósito.
A ação penal é pública incondicionada. Mesmo que se cometam várias ações
do tipo, só há um delito, portanto crime de condutas alternativas. Sem a prova de
que a substância ou produto tornou-se nocivo à saúde ou reduziu-lhe seu valor
nutritivo, não há o que se punir, restando eventualmente a aplicação subsidiária de
outro dispositivo. Havendo destinação dirigida na conduta à determinada pessoa
poderá ocorrer outro ilícito. Não basta a conclusão do laudo dizer que a substân-
cia continha produto de adição proibida, tem que informar que a quantidade adi-
cionada tornava a substância nociva ou que seu valor nutritivo foi reduzido. Não
obstante, há entendimento que, mesmo antes das novas leis ingressarem no siste-
ma jurídico, já existiam outras legislações aplicáveis como as Leis n°s. 8137/90,
1521/ 51 e 8078/90.
Quanto ao preceito secundário do artigo 272, passou de 4 a 8 anos e multa,
portanto, houve majoração de pena, pois antes era de reclusão de 2 a 6 anos. Esta
mesma pena é aplicada nos casos de seus parágrafos, para quem pratica as condutas
de fabricar, vender, expor à venda, importar, ter em depósito para vender, ou de
qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o pro-
duto falsificado, corrompido ou adulterado.
A grande novidade no artigo 272, é que seu § 1° tipificou a ação criminosa em
relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico, uma vez que havia incerteza na apli-
cação do uísque falsificado, vez que não se chegava a um entendimento se o uísque
era alimentação. Uma corrente dizia que o uísque não era substância alimentícia
nem medicinal, outra corrente dizia que a venda de uísque nacional em vasilhame
estrangeiro configurava a violação do artigo 175 do CP, ou não se enquadraria nesse
dispositivo, aplicando-se outros, entre os quais os artigos 171, caput, e parágrafo II
inc, IV ou os artigos 275, 276, ou 277.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Importante também mencionar que o artigo 272 não ingressou na esfera de


crimes hediondos, ocorreu apenas lex gravior (Lei mais severa que a anterior). O
artigo 5°, inc. XL da Constituição Federal estabelece que a lei penal não retroagirá
salvo para beneficiar o réu (ver CP. artigo 2°, parágrafo único). Supondo que a
lei lex mitior (lei mais benigna) seja revogada, aplica-se aos fatos ocorridos na sua
vigência, mesmo que revogada pela lex gravior, em decorrência do princípio da
ultratividade da lei mais benigna. Ressalte-se que pelo Pacto de São José da Costa
Rica de 22/11/69, conhecido também como Convenção Americana Sobre Direitos
Humanos, o entendimento seria ao contrário, pois, por ele, a lei nova mais benéfica
tem extratividade (é retroativa, é ultrativa). A contrario sensu, a lei mais severa não
tem extratividade.
A modalidade culposa vem prevista no § 2°, entretanto, ela não cabe na falsifi-
cação, somente nos outros verbos, ocorrendo quando o agente não quer o resultado,
mas ocorre a ação por sua desatenção ou falta de cuidado, Exemplo: esquecimento
da separação e inutilidade de carnes infectadas ou infeccionadas, misturando-a com
outras.
Esclareça-se ainda que a modalidade culposa era apenada com detenção de
seis meses a um ano e multa, sendo que atualmente passou a ser detenção de um
a dois anos e multa. Exemplo que pode tipificar o delito em questão é a adição de
sulfito de sódio à carne crua moída e de sua absorção que pode resultar dano à
mucosa do aparelho digestivo humano ou da adição de sulfito de sódio ao produ-
to pré-moído para dar-lhe aspecto de higidez. Também utilizar, na preparação de
alimentos utilizados para venda, óleo corrompido ou adulterado sabendo de sua
emprestabilidade, por ser nocivo à saúde pública. O laudo pericial deve esclarecer
a quantidade adicionada, para verificar se caracteriza nocividade à saúde. Outros
exemplos são: utilização de carne de cavalo na fabricação de linguiça, pois há a subs-
tituição de elemento de sua convicção normal (substância ou produto alimentício
destinado a consumo); apreensão de amostra de pão que supostamente continha
bromato de potássio.
Frise-se que a colheita de material, e a conseqüente análise oficial, deve obser-
var determinações contidas na Lei Estadual nº 10.083 de 23 de setembro de 1998,
(Código Sanitário do Estado de São Paulo) caso contrário ocorrerá nulidade.
O artigo 273 tutela a saúde pública e tipifica a conduta de quem “falsifica,
corrompe, adultera ou altera produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais”.
O crime ocorre com a presença de bactérias, insetos e bolores na substância. Aqui, a
alteração da substância implica na redução das propriedades alimentícias ou medi-
cinais do produto, embora sem torná-lo nocivo ao consumo, v.g., a utilização de car-
ne de cavalo para fabricação de salsichas, a adição de água ao leite etc. Por força do
disposto no § 1º, do artigo 273, dentre os produtos abrangidos pelo dispositivo estão
os medicamentos, os cosméticos, os insumos farmacêuticos, as matérias-primas, os
saneantes e os de uso diagnóstico.
Em razão de sua gravidade, a conduta prevista pelo dispositivo e seus parágra-
fos, foi considerada como crime hediondo pelo artigo 1º, II-B, da Lei nº 8.072/90.

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Trata-se de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Assim, mesmo que


a pessoa pratique várias ações descritas no tipo penal, responde só por um crime,
isto é, a prática sucessiva das ações enunciadas no texto legal importa em crime
único. Fica excluído, assim, o concurso material de crimes. A legislação em vigor ex-
cluiu a terminologia “substância alimentícia” e adicionou produto destinado a fins
terapêuticos, mantendo “medicinais”. Os núcleos passaram a ser falsificar, corrom-
per, adulterar, alterar. Do tipo anterior, foi mantido somente o núcleo alterar exis-
tente no caput, excluindo-se as condutas modificar e suprimir previstas nos incisos
I e II. No tocante aos crimes contra a saúde pública, esse dispositivo e o único que
foi alçado a crime hediondo, com exceção da modalidade culposa.
A pena prevista para o caput do artigo 273 e § 1º, foi guindada à reclusão de
l0 a 15 anos e multa. Anteriormente era prevista a pena de reclusão de 1 a 3 anos
e multa. Assim, houve uma exacerbação muito grande da pena, motivo de crítica
pelos profissionais do direito, sobretudo no tocante ao § 1º, por ter sido considerado
o cosmético falsificado, corrompido, adulterado ou alterado como crime hediondo.
O § 10 apenava anteriormente “substância alimentícia alterada” e agora adi-
cionou “produto” e suprimiu “alimentícia”. Os parágrafos mencionados e incisos
também estão sujeitos a aplicação da pena prevista no caput do artigo 273, vale di-
zer, de 10 a 15 anos e multa. Seus incisos incidem sobre quem, sem registro no órgão
competente, atua de forma criminosa, em desacordo com a fórmula constante do
registro expedido pela Vigilância Sanitária, v.g. sem as características de identidade
e qualidade admitida para sua comercialização, com redução de seu valor terapêuti-
co e de sua atividade, de procedência ignorada ou adquirida de estabelecimento sem
licença da autoridade sanitária competente. A ação penal é pública incondicionada
e o crime é comum, pois pode ser praticado por qualquer pessoa, ainda que não
seja comerciante ou industrial. A diferença entre o delito do artigo 272 com o artigo
273 é que neste não se pune alteração de substância alimentícia ou medicinal que
torne estas substâncias nocivas à saúde, mas sim a falsificação, corrupção, adultera-
ção ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Integram
a nocividade positiva e negativa. Observa-se, porém, que o artigo 273 não traz a
conduta obrigatória inerente ao artigo 272 “tornando-a nociva à saúde”. Assim,
basta a alteração, falsificação que consiste na modificação da qualidade do produto
destinado a fins terapêuticos ou medicinais que, embora continue sendo o mesmo
produto, perde os atributos que o caracterizam. Ressalte-se que não é exigido para
a consumação perigo completo.
Muitas vezes, a responsabilização do farmacêutico, do balconista ou do vende-
dor é de difícil imputação, uma vez que a farmácia recebeu do laboratório o medica-
mento fechado. Nesse caso, a alegação é de desconhecimento da falsificação, sendo
que provar o contrário, nem sempre é possível. Não obstante, é imprescindível des-
tacar que, em determinadas circunstâncias, impõe-se a quem distribui para consumo
o produto, destinado para fins terapêuticos e medicinais, o dever de verificar o esta-
do em que se acham os medicamentos. Esse dever, entretanto, não será exigido no
caso de substâncias distribuídas em invólucros ou embalagens originais feitas pelo
fabricante, salvo quando o estado de tal embalagem deve fazer presumir a alteração

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do conteúdo. Registre-se, ademais, que normalmente os remédios vêm selados ou


lacrados. Entretanto, a toda evidência o dever de verificação no caso de distribuição
comercial incumbe ao comerciante, por si ou por seus prepostos, que respondem
pela omissão do patrão, salvo quando não exerçam função de gerência ou chefia.
O revendedor tem obrigação de verificar se o produto entregue ao consumo
está alterado. Caso contrário, poderá responder a título de dolo ou de culpa. Neste
caso, há omissão de cuidados devidos para preservar o produto, sem prejuízo de
eventual responsabilidade insculpida no Código de Defesa do Consumidor. Casos
que poderão ensejar o enquadramento no art. 273: produção de complexo vitamí-
nico com componentes em menor quantidade do que a indicada em sua fórmula,
substituição da penicilina por farinha de trigo, ou da insulina por água destilada que
não remove a hiperglicemia, entre outros.
O exame pericial é indispensável e deve obedecer aos dispositivos legais espe-
cíficos do Código Sanitário do Estado de São Paulo, isto é, colheita de amostras
em conformidade com o preceituado nos seus dispositivos. Não é exigida a condi-
ção de comerciante, farmacêutico e industrial, uma vez que qualquer pessoa pode
cometer o crime.
A conduta culposa, prevista no § 2° ao artigo 273, está excluída do rol dos
crimes hediondos, pela própria imposição da Lei n° 9695/98. A grande alteração
na modalidade culposa, ocorreu na pena que antes era de detenção de 2 a 6 meses
e multa, a legislação atual manteve a pena de detenção, mas agravou de 1 a 3 anos
e multa. Essa alteração trouxe inúmeras implicações como a impossibilidade de se
elaborar Termo Circunstanciado, devendo ser confeccionado Boletim de Ocorrên-
cia para apuração do crime, mediante Inquérito Policial por portaria ou autuação
em flagrante. Neste caso, é importante acentuar que a elaboração do flagrante
depende de uma série de circunstâncias nem sempre possíveis de estarem presen-
tes nos primeiros momentos, mormente em se tratando de prova pericial, cujos
resultados decorrem de órgãos especializados, muitas vezes não ligados à própria
polícia, o que exigirá cautela por parte da autoridade policial. Vale acentuar, o
Delegado de Polícia.
Registre-se ainda que o § 10 do art. 273 do Código Penal e respectivos incisos
passou a ser considerado crime hediondo, salvo na modalidade culposa.
Quanto ao artigo 274 do Código Penal, trata-se de norma penal em branco,
na qual se proíbe a utilização na fabricação do produto de processo não permitido
ou de substância não autorizada pela legislação sanitária. As Leis nºs. 9677/98 e
9695/98, não alteraram o seu preceito primário, que reza: “empregar no fabrico de
produto destinado a consumo, revestimento, gaseificado artificial, matéria corante,
substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não expressa-
mente permitida pela Legislação Sanitária”.
Revestimento é o invólucro que cobre o produto como bolos, doces, pães, cai-
xas, envelopes etc. Gaseificação artificial é o processo utilizado na fabricação de
refrigerante ou de bebidas alcoólicas como, por exemplo, água com gás. Matéria
corante é a substância utilizada para dar cor aos alimentos. Substância aromática é
empregada para conferir determinado aroma aos alimentos, tornando-os mais agra-

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dáveis. Substância anti-séptica é a utilizada para evitar a fermentação de alimentos


(não em quantidade superior). Conservadora é a substância que retarda ou impede
a deterioração dos alimentos, v.g. sal, açúcar, azeite, álcool. O artigo ainda permite
outras modalidades, desde que não expressamente permitida pela Legislação Sani-
tária, como: fermentos, pectina, empregada no fabrico de marmelada, goiabada e
bananada, substâncias estabilizantes, acidulantes, entre outras.
O núcleo é “empregar” que possui a significação de fazer uso. O objeto ma-
terial é o destinado a consumo, ou seja, qualquer produto destinado ao consumo
público de indefinido número de pessoas.
Por outro lado, a legislação em comento procedeu à alteração da pena, que
cominava detenção de 1 a 3 meses e multa e passou a ser de reclusão, de 1 a 5 anos e
multa. Esta modificação mudou o procedimento de polícia judiciária. Assim, nesse
crime não se elabora mais o termo circunstanciado. Nesse caso, deve ser elaborado o
boletim de ocorrência para a sua devida apuração, mediante inquérito policial, ins-
taurado por portaria ou auto de prisão em flagrante. Importante destacar que este
dispositivo não se restringe às substâncias alimentícias, mas qualquer outra, como,
por exemplo, material de limpeza. Além do mais, o artigo 274 não fala em “nocivo
à saúde”, mas produto não expressamente permitido pela legislação. Trata-se de
norma penal em branco, posto que se completa com disposições estabelecidas pela
legislação sanitária. A descrição típica é integrada pela legislação sanitária que lhe
serve de complemento, como leis, decretos, regulamentos, entre outras. Não obstan-
te, é indispensável que se “destine ao consumo público”, não constituindo crime o
emprego em produção caseira para consumo familiar. O momento de consumação
do crime é com o emprego de processo ou substância não expressamente permitida
pela legislação sanitária, aplicável no fabrico de produto destinado ao consumo do
público, por exemplo, corante orgânico proibido. A ação penal é pública e incondi-
cionada. Observa-se ainda que não há previsão para a modalidade culposa, poden-
do a conduta ser tipificada apenas dolosamente.
Quanto ao artigo 275 do Código Penal, para a sua tipificação é necessário
que haja perigo à saúde. Em caso de dúvida, consultar também o artigo 2º, III, da
Lei de Economia Popular e o artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor. Caso
inexista risco à saúde pública, ler o artigo 7º, II, da Lei dos Crimes contra a Ordem
Tributária, Econômica e contra as Relações de Consumo.
No que se refere à objetividade jurídica é a proteção da incolumidade pública,
especialmente a saúde pública. O crime trata-se de inculcar invólucro ou recipiente
de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicamentos, a existência de substância
que não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe em quantidade menor que
a mencionada. Assim, o que se veda é a apregoação de existência de substância que
não se encontra em seu conteúdo ou que nele existe, porém em quantidade menor
que a mencionada. Inculcar, núcleo do título, significa dizer: indicar, citar, fazer fal-
sa indicação, dar a entender. Invólucro é tudo o que serve para envolver o produto
pode ser vidro, lata, plástico. Produto, quer dizer, resultado de produção e medica-
mento, ou seja, substância destinada à prevenção, melhora ou cura de doença de in-
definido número de pessoas. Registre-se que a consumação do crime doloso, ora em

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

estudo, somente ocorre com a falsa indicação, sem dependência de outro resultado,
sendo que ele não prevê a modalidade culposa.
O art .275 do Código Penal alterou consideravelmente o preceito secundário,
uma vez que a pena era de detenção de 1 a 3 meses ou multa, e atualmente passou
a ser de reclusão de 1 a 5 anos e multa, não sendo mais sanção alternativa. Assim,
anteriormente tratava-se de infração de menor potencial ofensivo, passando agora a
ser de médio potencial ofensivo. Em razão disso, não cabe mais a suspensão condi-
cional do processo e, no âmbito da polícia judiciária, não é possível a elaboração de
termo circunstanciado, sendo obrigatória a apuração do ilícito por meio de inquéri-
to policial, instaurado por portaria ou auto de prisão em flagrante. Este último com
as cautelas já mencionadas, neste capítulo, por ocasião dos estudos realizados nos
dispositivos anteriores.
Quanto ao artigo 276 do Código Penal, voltado para produto ou substância
nas condições dos dois artigos anteriores, traz a seguinte redação: “Vender, expor
a venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo
produto nas condições dos artigos 274 e 275”. Com referência a esse crime, as Leis
nº 9.677/98 e 9.675/98, apenas alteraram o preceito secundário, não interferindo na
redação original do preceito primário. A pena, que era de detenção de 1 a 3 meses
ou multa, isto é, alternativa, passou a ser de reclusão de 1 a 5 anos e multa. Este
aumento de pena trouxe as implicações já mencionadas no estudo dos artigos ante-
riores, isto é, deixou de ser infração de menor poder ofensivo, não podendo, por isso,
ser elaborado mais termo circunstanciado. A apuração criminal ocorrerá por meio
de inquérito policial, instaurando mediante portaria ou auto de prisão em flagrante.
Também não se aplica a suspensão condicional do processo, vez que a pena mínima
abstratamente cominada não é mais inferior a um ano. Referido dispositivo também
não prevê a forma culposa, somente a dolosa.
Frise-se que, nesse dispositivo, o agente já praticou as ações incriminadas nos
artigos 274 ou 275. Assim, é necessária a existência de apontamento falso no in-
vólucro, isto é, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo,
ou que nela exista em quantidade menor que a mencionada. O objeto material é o
produto destinado a consumo, fabricado com emprego de processo proibido ou de
substância não permitida pela legislação sanitária, segundo as condições previstas
no art. 274, ou ainda produto alimentício, terapêutico ou medicinal, acondicionado
em invólucro ou recipiente com falsa indicação das substâncias que o compõem,
conforme prevê o artigo 275. Tem que ser autor do crime antecedente (art. 274 ou
275), por exemplo, óleo comestível adicionado com água.
Questão duvidosa é saber se a bula integra o invólucro ou recipiente. Há en-
tendimento ser a resposta afirmativa (RT 287:74). Dentro desse mesmo contexto,
observa - se que não se enquadra no dispositivo as indicações feitas em prospecto
ou anúncios de propaganda, dependendo, do caso concreto ser tipificado em ou-
tro delito.
O artigo 277 do Código Penal abrange somente a venda de substância, excluin-
do o comércio de utensílios, apetrechos e máquinas, v.g. venda de carne de cavalo
como se fosse carne de porco, destinada à falsificação, com o seguinte teor: “vender,
expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de pro-

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dutos alimentícios, terapêuticos ou medicinais”, com pena de reclusão de 1 a 5 anos


e multa. Configura crime único a prática de uma ou mais condutas, pois se trata de
crime misto alternativo. Não se pode descurar que as ações no texto incriminadas,
têm caráter taxativo. Ressalte-se que a pena anterior era de detenção de 6 meses a 1
ano e multa, tipificada como infração de menor poder ofensivo. Com a elevação da
sanção penal não é mais cabível a suspensão condicional do processo, em decorrên-
cia de que a pena mínima abstratamente cominada não é inferior a um ano. Com
isso também não se aplica o termo circunstanciado, devendo ser instaurado inqué-
rito policial para a devida apuração da infração penal.
A substância destinada à falsificação de produto alimentício, terapêutico ou
medicinal pode ser exclusivamente ou eventualmente destinada a tal fim. Substância
é matéria caracterizada por propriedades específicas. Trata-se de crime comum, pois
pode ser praticado por qualquer pessoa. Também é de perigo abstrato e presumido
pela lei. Produto alimentício é o que serve à alimentação líquida ou sólida de indefi-
nido número de pessoas. Produto medicinal é o reservado à cura, melhora, preven-
ção de doenças em determinado número de pessoas.
É importante esclarecer que a substância destinada à falsificação de produto
alimentício, terapêutico ou medicinal, não abrange maquinaria, apetrechos, utensí-
lios, e etc. A substância deve ser destinada à falsificação, destinada a dar aparência
de genuíno ao que não é. A ação criminosa é, portanto, substância e não máquina,
aparelhos, ou instrumentos destinados à falsificação. Tal destinação pode decorrer
da própria natureza da coisa, exclusivamente empregada para este fim, ou de espe-
cial aplicação que lhe vai ser dada, pelo comprador ou por quem a recebe a qualquer
título, substâncias que podem ser empregadas para outros fins lícitos. O legislador
previu deste modo, a punição de atos preparatórios à própria falsificação como,
por exemplo, manutenção em depósito de sulfito de sódio, substância conservante
comumente usada na falsificação e adulteração de carne, com o fim de mascarar o
estado de putrefação já iniciado, cuja adição ao produto in natura é expressamente
vedada pela legislação vigente do Ministério da Saúde.
A tentativa é teoricamente possível, mas de difícil ocorrência na prática. A
prova pericial é indispensável, sua ausência no produto falsificado arreda a configu-
ração do delito previsto no artigo 277.
O artigo 278 do Código Penal trata de outras substâncias nocivas à saúde pú-
blica, sendo que em seu parágrafo único, admite a modalidade culposa e abrange
materiais que não se relacionam somente com produtos alimentares ou medicinais,
como cigarros, tintas, produtos de limpeza etc.
Quanto a medicamento em desacordo com receita médica está previsto no ar-
tigo 280 do Código Penal, sendo que em razão da pena máxima ser de 3 (três) anos
a apuração deve ocorrer por meio de inquérito policial.
O exercício ilegal de medicina, arte dentária ou farmacêutica, artigo 282 do
Código Penal, é crime que exige habitualidade. Não admite a tentativa e abrange,
além do exercício indevido, o extrapolamento dos limites da profissão, como a rea-
lização de consultas médicas por farmacêuticos e o atestado de óbito firmado por
médico sobre a causa mortis de pessoa que foi tratada por leigo.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

No tocante ao crime de charlatanismo, artigo 283 do Código Penal ocorre


quando o agente recomenda ou anuncia a cura de doença através de meio secreto
ou infalível. Não exige habitualidade e pode abranger tanto os curandeiros como os
médicos.
O crime de curandeirismo, artigo 284 do Código Penal, exige habitualidade,
embora não necessite de vítima para a sua consumação. Ocorre quando o agente se
propõe a curar moléstias por tratamentos grosseiros, como através de chás para a
cura de pessoa portadora de câncer etc.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do exposto, verifica-se que os Delegados de Polícia deverão agir com rigor no


combate aos crimes, objeto de estudo neste capítulo, pois, muitas vezes, a investi-
gação criteriosa poderá levar a elucidação de uma rede montada pelo crime orga-
nizado, Lei nº 9.034/95 para prejudicar a coletividade, ou, dependendo da situação
fática, da violação do art. 288 do Código Penal, por envolver quadrilha ou bando.1

1 BOLETIM rnCCRIM. n° 71, outubro de 1998, p. 02/3, Desordem Legislativa, Distribuição de


Poder e Desigualdade Social; Reflexões a propósito da Lei. 9.677, de 2 de julho de 1998, KOERNER, Andrei.
BOLETIM mCCRIM. n° 71, outubro de 1998, p.3/4 A Vulgarização do Crime Hediondo, FARIA,
Antonio Celso Campos de Oliveira.
CÓDIGO SANITÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO. (lei. 10.083, de 23 de setembro de 1998.),
DOE, 24 de setembro de 1998, p.OI/4.
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969) -(PACTO DE SAN JOSÉ
DA COSTA RICA). Adotada e aberta à assinatura na conferência especializada interamericana sobre
Direitos Humanos, em San José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969 e ratificado pelo Brasil em 25
de setembro de 1992.
DELMANTO, Celso; DELMANTO, Roberto e JÚNIOR DELMANTO, Roberto. Código Penal
Anotado, 43 edição, São Paulo: Renovar, 1998.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 1o vol. Teoria Geral do Direito Civil, São
Paulo: Saraiva, 123 edição aumentada e atualizada, 1996.
FRANCO, Alberto Silva. Crimes Hediondos. Editora Revista dos Tribunais, 33 edição, p. 34/5.
FRANCO, Alberto Silva; et ai. Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial. sa edição, revis-
ta e ampliada, ed. 1995, Editora Revista dos Tribunais.
GIMENES, EronVerissimo; Daniela Veríssimo.Meio Ambiente:coletânia legislativa de bolso-
Campinas, SP: Millennium Editora,2011.192 p.
JESUS, Damásio Evangelista de. Código Penal Anotado. 83 edição, São Paulo: Saraiva, 1998.
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal, 3o volume, Parte Especial, São Paulo: Saraiva, 8 3
edição, Revista e Atualizada, 1992.
SALLES, Júnior Romeu de Almeida. Código Penal Interpretado. São Paulo: Saraiva, 13 edição,
1996.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, Parte Especial, vol. 3, IIa edição, revista e
atualizada até dezembro de 1996, Editora Atlas.
MONTEIRO, Antônio Lopes. Crimes Hediondos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. NORONHA,
E. Magalhães. Direito Penal. 4o volume, 21 a ed., São Paulo: Saraiva, 1998.
PRADO, Luís Rogério; BITENCOURT, César Roberto. Código Penal Anotado e Legislação
Complementar. Editora Revista dos Tribunais, edição 1997.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

10. MODELOS

Seguem os modelos citados neste Capítulo, referentes à colheita de amostras,


requisição de exame, auto de entrega de contraprova e termo de ciência

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 1

COLHEITA DE AMOSTRAS

Às ____________ horas do dia ________ de ___________________ de _______ na rua


______________________________________________________________, no bairro _________________,
onde está localizado(a) o(a) _______________________________________________,
encontrando-se presente o Sr.(a) _______________________________, portador (a)
do RG _____________________, residente na rua ___________________________,
na condição de _____________________________________ da referida empresa, onde,
pelos policiais da (unidade policial), foram coletadas, em sacos plásticos transparentes
e lacrados, porções ou amostras das seguintes substâncias para serem submetidas a
exames laboratoriais:

Lacre nº Quantidade Espécie


_____________ ________________ ______________
_____________ ________________ ______________
_____________ ________________ ______________
_____________ ________________ ______________
_____________ ________________ ______________
_____________ ________________ ______________

Para constar, assinam o presente o(a) acima qualificado(a) e os policiais da (unidade


policial).

Qualificado: _________________________________________
Policial: ________________________RG _________________
Policial: ________________________RG _________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 2

REQUISIÇÃO DE EXAME

Ofício nº ______/_____
Ref.: _________ ___________________(cidade e data)

Senhor Diretor:

Para fins de exame químico-legal no laboratório desse conceituado órgão, enca-


minho______________________________________________________________________,
acondicionado(s) em saco(s) plástico(s) e autenticados, portanto, tornado inviolável
mediante a aposição de lacre(s) sob número(s) __________________________________
nos materiais recolhidos nesta data por volta das __________ horas no estabelecimento
comercial situado na ________________________________________________, nesta
cidade.

A perícia terá por fim precisar se o referido material encontra-se alterado, adulterado,
corrompido, falsificado ou avariado, e se está relacionado com os fatos investigados por
esta unidade policial, em tese, delituosos.
Para tanto, solicito respostas justificadas aos seguintes quesitos:

1- O material submetido a exame é substância alimentícia ou medicinal?


2- O material está alterado, adulterado, corrompido, avariado ou falsificado?
3- O material é impróprio para o consumo e/ou nocivo à saúde? Por quê?
4- Em caso afirmativo de estar o produto avariado, poderia ser este perceptível a olho
nu ou através do olfato?
5 - O material em questão é efetivamente o indicado em sua embalagem?
6 - Qual a marca, data de fabricação e período de validade do produto?

Aproveito o ensejo para apresentar a V. Sa. protestos de alta estima e consideração.

________________________
Delegado(a) de Polícia

Ilmo. Sr.
Diretor do Instituto de Criminalística / Adolfo Lutz
São Paulo – SP

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MODELO 3

AUTO DE ENTREGA DE CONTRAPROVA

Às ______ horas do dia ____ de ____________ de ____, no recinto da (unidade


policial), onde se achava presente o (a) Delegado(a) de Polícia, __________________
__________, comigo, _____________________________, Escrivão(ã) de Polícia de
seu cargo, ao final assinado, aí, também presente o Sr. (a) ___________________________,
RG _____________ (já qualificado nos autos), residente na ______________________,
bairro de _____________________________________, e diante das testemunhas infra-
assinadas, recebeu as amostras de ___________________________________, coleta-
da, nesta data, em sua firma denominada __________________________________,
situada na _____________________________, estando a referida amostra acondicio-
nada em saco plástico transparente onde foi aposto o lacre nº __________, tornando-a
inviolável, e que servirá como contraprova no caso de surgir alguma dúvida quanto à
análise laboratorial a ser realizada no restante da amostra coletada. Nada mais havendo a
tratar, determinou a Autoridade Policial que fosse encerrado o presente auto que, lido e
achado conforme, segue devidamente assinado por todos. Eu, _____________________,
Escrivão(ã) de Polícia que o digitei.

Autoridade _______________________
Recebedor ________________________
1ª Testemunha _____________________
2ª Testemunha _____________________
Escrivão(ã) _______________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MODELO 4

TERMO DE CIÊNCIA

Aos _________ dias do mês de ____________________ do ano de ________, nesta


________________________________ (unidade policial), onde presente se encontra
o (a) Dr(a)____________________________________ comigo Escrivão(ã) de seu car-
go, ao final assinado, compareceu _________________________ proprietário(a) e/ou
responsável pelo estabelecimento comercial denominado
___________________________, situado na _______________________________,
a quem foi dada ciência do teor do laudo nº ________________do Instituto Adolfo Lutz,
recebendo uma cópia deste, nesta oportunidade.
Fica ainda, cientificado(a) que, se assim o desejar, poderá requerer exame pericial de
normas técnicas do Instituto de Criminalística/Adolfo Lutz. Nada mais. Lido e achado
conforme, segue assinado por todos e por mim, _________________________
Escrivão(ã) que o digitei.

Autoridade _______________________
Cientificado _______________________
Escrivão(ã) _______________________

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Capítulo XXIII
Criminologia

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Divisões da criminologia; 3. Sociologia cri-


minal; 4. Psicanálise criminal; 5. A nova defesa social e a criminologia crítica; 6. Vitimo-
logia; 7. Ecologia da vitimidade.

1. Considerações Preliminares

Hipócrates, o pai da Medicina, e Platão, em sua obra A República, podem ser


considerados pioneiros da Criminologia. Ambos realizaram estudos sobre a relação
entre a forma do corpo e o caráter das pessoas. Thomas Morus, na sua Utopia, fez
semelhantes incursões. O próprio Sócrates, ao dizer que “o homem não é voluntaria-
mente mau”, inspirou Rousseau, que, muito tempo depois, afirmou ser “o homem
bom, mas que a sociedade o corrompe”.
As teorias que procuram explicar a violência e a criminalidade através de fato-
res constitucionais iniciaram-se com a Frenologia, do médico e anatomista alemão
Gall, para quem o comportamento humano estaria ligado à morfologia do crânio.
Sem qualquer base científica, influenciou, sobremaneira, Lombroso, na Teoria do
Criminoso Nato.
Posta em prática em algumas penitenciárias norte-americanas, apesar de erros
metodológicos, a Frenologia é considerada notável contribuição científica, já que
influenciou, sobremodo, a Criminologia por muitos anos.
Lombroso, médico italiano (1835-1909), considerado o pai da Antropologia
Criminal, procurou explicar o crime como resultante de fatores orgânicos e biológi-
cos. Em seu livro L’Uomo Delinquente (1871-1876), expõe a tese do criminoso nato
ou do atavismo dos caracteres morfológicos.
Para Lombroso, o crime resulta de fatores orgânicos e biológicos. Apóia-se,
para tanto, na Teoria Evolucionista de Darwin, posição, logo a seguir, contestada
por Nicéforo e De Sanctis, partidários dos processos psicológicos que se contrapu-
nham às causas endógenas lombrosianas.
Gabriel Tarde, psicólogo e magistrado italiano, ensinava que o crime é produto
da associação com outros delinquentes, pensamento aperfeiçoado por Enrico Ferri,
adepto da conjunção dos fatores individuais e sociais explicativos do crime.
No início do século XX, Charles Goring, na Inglaterra, encontrou traços lom-
brosianos em condenados e em universitários ingleses, desmistificando a obra de
Lombroso. Todavia em 1939, ainda na Inglaterra, Hooton ressuscita a teoria, com-
parando criminosos com não-criminosos, demonstrando que aqueles apresentavam

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

uma inferioridade biológica herdada e que se manifestava por padrões anatômicos


imperfeitos. Preconizou sua extirpação através de total segregação.
Apesar da procedência da “Sociologia Criminal” de Ferri, os médicos conti-
nuam a insistir na linha lombrosiana. Recentemente Hill e Waterson relacionaram
a violência com a epilepsia. Mack e Ervim relatam a conexão da violência com
disfunções cerebrais. Sheldon, por sua vez, ensina que a violência tem apoio na bio-
tipologia, enquanto que Goddard e Christensen a vinculam à hereditariedade.
Schlapp e Smith ligam a violência com disfunções bioquímicas, enquanto que
Beram as avizinha com as glândulas endócrinas. Lorenz, Timbergen, Andrey, Dart
e Storm doutrinam que o homem é determinado geneticamente para a violência,
conclusões não compartilhadas por Edwin H. Sutherland em seu livro Principles of
Criminology, editado em 1939.
Os caminhos da Criminologia, até hoje, vão do monismo ao pluralismo. As
teorias monistas entendem que o crime tem causas psicológicas ou biológicas, en-
quanto que as teorias dualistas esclarecem que o crime é um componente de causas
individuais (psicológicas ou biológicas) somadas a causas sociais.
As teorias pluralistas, no presente, entendem que o crime resulta de fatores
somados, psicológicos, somáticos e sociais. Pessoalmente, entendemos que o crime
não passa de gravíssima questão sociopolítica que não comporta mero debate aca-
dêmico, mas, ao contrário, muita ação prática.

2. Divisões da Criminologia

A Criminologia pode ser dividida em Criminologia Teórica e Criminologia


Prática, cujo objetivo, único, é a prevenção e a redução da criminalidade, mediante
a aplicação de pena, tida como meio de readaptação e de recuperação.
Como ensina Israel Drapkin, na esteira de Edwin H. Sutherland, Criminologia
é o “conjunto de conhecimentos (portanto não ciência), que estuda o fenômeno e as
causas da criminalidade, a personalidade dos delinquentes e sua conduta delituosa,
bem como a maneira de ressocializá-los”.
Neologismo criado por Garófalo (crimino=latim) e (logos=grego), segundo
Drapkin, pode ter sido cunhado pelo francês Topinard, conforme esclarece Álvaro
Mayrink da Costa. Ensinada, indistintamente, na Europa nas Faculdades de Medi-
cina e de Direito, é ministrada pelos Departamentos de Sociologia das universidades
norte-americanas.
Sua divisão comporta subdivisões. Assim, a Criminologia Teórica triparte-se
em:
a) Antropologia Criminal (Lombroso);
b) Psicologia Criminal (Pinatel) ;
c) Sociologia Criminal (Ferri).
Por seu turno, a Criminologia Prática dicotomiza-se em:
a) Criminalística (Crime detection) ;
b) Política Criminal (Penologia).

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

A Criminalística, rotulada por Seelig de Fenomenologia Criminal, permite,


através da Investigação Criminal, a preservação da prova. Auxiliada pela perícia
médica e pela Dactiloscopia, assume papel relevante na preservação dos locais de
crime.
Enfim, a Criminologia, ao estudar as causas, a contenção e a prevenção do
crime, recebe contribuições de distintos especialistas, nomeadamente, sociólogos,
psicólogos, advogados, policiais, administradores penitenciários, agentes da condi-
cional e outros, conhecidos, comumente, como criminólogos ou criminologistas.

3. Sociologia Criminal

Contrapondo-se à Antropologia Criminal de Lombroso, que concebeu o homo


delinquens, de cabelos revoltos, testa fugidia, orelhas em abano, zigomas salientes,
Enrico Ferri, advogado criminalista italiano, deu início à Sociologia Criminal.
Em seu livro de idêntico nome, contestou a Teoria do Atavismo, demonstran-
do que os fatos geradores do crime são de ordem moral, econômica, política, racial,
climática e, sobretudo, educacional.
Ainda que admitindo, de passagem, que a hereditariedade seja causa de cri-
minalidade, incursionou sobre a pobreza, a impulsividade, a hostilidade, a baixa
escolaridade, os lares desfeitos, o atraso nas escolas, a vizinhança, a delinquência e
a vadiagem, rotulando-as de sociopatias.
Descartando, quase que na sua integralidade, os fatores biopsicológicos como
causas da criminalidade, segundo os médicos, centrou seus estudos advocatícios so-
bre fatores mesológicos, como de maior importância sociológica.
Percebendo que as teorias biológicas apresentavam suporte muito frágil, Ferri
esclareceu que não seria muito difícil afastar-nos dos criminosos que poderiam ser
facilmente detectados por caracteres exógenos, visto que, em alguns casos, o com-
portamento biológico desempenha papel preponderante no atuar criminoso.
Todavia, os problemas criminais, quase que em sua totalidade, apresentam
causas diversas, não devendo o estudo da criminogênese ser encarado como debate
meramente acadêmico.

4. Psicanálise Criminal

Jiménez de Asúa, em suas obras, insiste em afirmar que Sigmund Freud elabo-
rou uma Teoria Etiológica do Delito, baseada em estudos sobre o “id”, o “ego” e o
“superego”.
Considerava o “id” como o inconsciente, o “ego” como fonte superficial do
“id”, mediador entre este e o “superego”, este último verdadeiro fator inibidor do
“id”. Demonstrou que a educação determina as normas de conduta, dizendo que
a “criminalidade não é tara de nascimento, mas deficiência de educação” e que o
criminoso age com o fito de sofrer uma pena, espécie de “catarse”, para afinal ex-
piar o seu delito. Explicou em sua obra “Moisés e a Religião” que o homem herda
instintos delinquenciais, razão dos primeiros conflitos com os pais, do mordiscar

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

dos mamilos da mãe, bem como a destruição de brinquedos e o arrancar dos olhos
das bonecas.
Mesmo enfatizando o poder da “censura pela educação”, foi contrariado por
Adler, que defendia a posição de que “as condições econômico-sociais são, opressi-
vamente, as causas do delito”.

5. A Nova Defesa Social e a Criminologia Crítica

Montagu, em seu livro “A Natureza da Agressividade Humana”, esclarece que,


apesar de existirem no cérebro substratos que podem ser ativados criminalmente, o
comportamento humano violento, como qualquer outro, é aprendido.
Nesse particular, as teorias que valorizam, primordialmente, os componentes
psicológicos e sociais da criminalidade, conduzem, fatalmente, à idéia de que o cri-
minoso pode ser reintegrado ao convívio social desde que adequadamente educado.
Isto significa que, em relação a nossa realidade, exige-se total modificação de
nosso sistema carcerário, a grande escola de aperfeiçoamento do crime e que, pelo
aviltamento que impõe à dignidade do preso, como ser humano, torna compreensí-
veis os baixos índices de recuperação.
Esse, enfim, o pensamento da nova Defesa Social, obra do italiano Filippo
Grammatica, hoje continuada pelo francês Marc Ancel. Desconhece a ordem jurí-
dica, reconhecendo, unicamente, a ordem social, tanto que inadmite a pena como
retribuição, mas, tão somente, como tratamento, através de medidas de segurança.
A Criminologia Crítica, por sua vez, concebe o crime como conveniência da
classe dominante e que os tipos penais são elaborados pelos detentores do poder
para submeter a população em geral. Cifrou-se, é quase certo, na Teoria Crimi-
nológica de Karl Marx, que dissertava, em seu O Capital, que a criminalidade é
manifestação exclusiva do regime capitalista, tese desmentida recentemente após a
implosão do bloco soviético.

6. Vitimologia

Alguém já disse, no passado, que “os grandes criminosos passam para a His-
tória, mas não suas vítimas”. Talvez, um pouco maliciosamente, porque nos identi-
fiquemos mais com os criminosos do que com as vítimas.
A Vitimologia é um dos ramos mais fascinantes da Criminologia. Criada em
1945 por Mendelsohn, através de seu livro Sociologia Jurídica, veio à luz em Paris,
no ano de 1947, através de outra publicação, de sua autoria, intitulada Psicologia
Jurídica.
Mendelsohn, curiosamente, classificou as vítimas em cinco categorias:
1-vítima totalmente inocente (unrelated victim);
2-vítima menos culpada que o criminoso;
3-vítima tão culpada quanto o criminoso;
4-vítima mais culpada que o criminoso;
5-vítima totalmente culpada.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Seu impacto foi tão grande que, hoje, a exemplo do art. 59 do CP, a pena do
agente é, inclusive, diminuída em relação ao comportamento da vítima.
Nesse particular, Polícia e Vitimologia e, consequentemente, Crimi­nologia an-
dam juntas já que mediante a Prevenção Vitimológica ensinam-se as pessoas a não
serem vítimas. Prega maior prevenção dos delitos em áreas de maior deterioração
social, principalmente.
Na escalada da violência contemporânea talvez caiba à Polícia dar o primeiro e
importante passo, pois que instrumentaliza atividade ocupacional que pela própria
natureza propicia violência, posto que pessoas habituadas a viver com ela tornam-se
naturalmente violentas. É a violência como retroalimentação da violência.

7. Ecologia da Vitimidade
Os estudiosos italianos ensinam que “o crime não desaparece, apenas se trans-
forma”. É a chamada “Teoria da Extensão”.
Na atualidade a polícia brasileira defronta-se com novas formas de crimina-
lidade. A primeira delas é a “delinquência dos menores”, que se manifesta através
de criminalidade organizada (darks, white-powers, arrastões), vandalismo (grafita-
gem, nomeadamente) e violência juvenil, em geral. Desmerecem consideranda, nesta
oportunidade, o fracasso na prevenção e no tratamento do delinquente juvenil.
A criminalidade do automóvel, que em 1977 nos Estados Unidos ceifou 50.000
vidas, é em nosso país responsável por metade dos processos-crime em andamento
nas varas criminais. Verdadeira “extensão do ego”, o veículo representa forma de
criminalidade diante da qual a “Polícia deve contar com grande mobilidade para
coibir este tipo de delinquência”.
No Brasil são registrados, anualmente, mais de 600.000 acidentes, com 50.000
vítimas, menos que os 58.000 combatentes norte-americanos mortos em sete anos
de guerra no sudeste asiático. Sétimo PIB mundial, o Brasil possui 15 milhões de
automotores, sendo 85% da produção transportada sobre rodas.
Outras modalidades de macrocriminalidade que a Polícia tem enfrentado e
poderá enfrentar no futuro são: “o terrorismo, o sequestro de aeronaves, a utilização
de reféns, a sabotagem dos transportes coletivos, a criminalidade racial, a ocultação
de bens de consumo, as manobras altistas e o consumo de drogas”.
Sobre tais aspectos urge à polícia brasileira encetar campanhas de comunica-
ção social no sentido de valorizar a vida humana e o respeito às leis. Tais processos
atingiram a grande massa de motoristas que não frequentam escolas, reforçados
com campanhas preventivas de segurança nas estradas e de maior segurança dos
veículos junto às montadoras.
Semelhante ação poderá contribuir para a diminuição de acidentes de trânsito,
uma das formas mais graves de delinquência contemporânea, ao lado dos crimes
contra o patrimônio.
Cabe à Polícia, efetivamente, prevenir, reprimir e controlar a criminalidade, até
que sejam mudadas as estruturas sociais geradoras de injustiça. É preciso, além da
assistência imediata ao menor abandonado pelo Estado, que o policiamento seja,
cada vez mais eficaz, respeitados os direitos humanos.

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O legislador e o administrador devem estar atentos ao constante inchamento
das grandes cidades, ao êxodo rural e aos bolsões de miséria, pois, nesse contexto,
cabe à Polícia atuar, com maior intensidade. São estes verdadeiros espaços vitimo-
gênicos, lugares cuja frequência, por si só, são fontes de riscos de vitimização, a
exemplo das rodovias, dos metrôs, como os de São Paulo e Nova Iorque. Na reali-
dade brasileira e principalmente paulistana, são exemplos típicos a Praça da Sé, as
“feiras-do-rolo”, os bailes “funk” na Zona Leste, logradouros como o Trianon, na
Avenida Paulista.
Eis porque, na atualidade, fala-se em ecologia da vitimidade, posto que, as-
sim como busca-se cuidar de comportamentos desviantes, deve a Polícia voltar suas
atenções para o ecossistema criminógeno.
Nesse aspecto, é preciso, como já explicitado, que a instituição policial realize
prevenção vitimológica, ou seja. ensine as pessoas a não serem vítimas, uma vez que
a criminogênese tem mais assento em fatores mesológicos, do que propriamente em
fatores biopsicológicos.
Ademais, a criminalidade é, também, problema de reenculturação, como aque-
la praticada pelos imigrantes latino-americanos e antilhanos nos Estados Unidos.
Ou de ociosidade, ou de falta de escolaridade. Ou, até, de sexo, posto que, nos países
ocidentais, a criminalidade masculina é quatro vezes mais frequente que a feminina.
Abstraindo-nos, a final, desses fatores condicionantes e precipitantes da cri-
minalidade, é preciso enfatizar que o homem de bem não delinque. A crise moral e
a carência de moralidade geram o crime em grandes proporções, de tal sorte que a
criminalidade evolutiva decorre, em grande parte, do baixo índice moral de pequena
parte da humanidade.
Como disse o Procurador de Justiça José Moisés, “o crime é uma questão de
caráter”.1

1 FERREIRA, Zoroastro de Paiva. “Prevenção do Delito e Tratamento dos Delinquentes”, RT


556/431.
LEITE FILHO, Nelson. “Criminologia Crítica”, RT, 578/457.
MANZANERA, Luís Rodrigues. “Problemas Criminológicos da Atualidade”, RT 503/453.
MARLET, José Maria. “História Natural do Delito”, RT 563/419.
PELLEGRINO, Laércio. “A Adoção de Princípios Vitimológicos na Nova Legis­lação Brasileira”,
RT 556/429.
________. “Filosofia e Criminologia”, RT 569/271.
________. “A Criminologia e a Prevenção da Criminalidade”, RT 578/45.
ROMANI, Dagoberto. “Criminalidade e Psicanálise Criminal”, RT 612/441.
* PUBLICADO ANTERIORMENTE PELA RT 698/459

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Capítulo XXIV
NEUROCIÊNCIA NA ATIVIDADE POLICIAL

Sumário: 1 Neurociência na atividade policial; 1.1 Conceito; 1.2 Histórico; 2 Investiga-


ção policial; 2.1 Conceito; 2.2 Histórico; 3 Comunicação; 4 Aplicação prática.

1. NEUROCIÊNCIA NA ATIVIDADE POLICIAL

A neurociência tem natureza interdisciplinar e se expandiu, recentemente, de


forma considerável, a ponto de se destacar entre as ciências do conhecimento huma-
no, incentivando um novo ramo de pesquisa doutrinária na área jurídica, o denomi-
nado neurodireito.
Nessa esteira, a Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo avança,
pioneiramente, a partir do ano de 2007, na pesquisa incessante da Neurociência,
tendo como alvo a investigação policial, aqui nomeada de Neurociência na Ativi-
dade Policial.
Isso porque as investigações, criminal e científica, despertam interesse de to-
dos, ou seja, da sociedade, dos governantes, dos profissionais de diferentes áreas de
atuação e, em especial, dos policiais, daí a preocupação da Academia de Polícia “Dr.
Coriolano Nogueira Cobra”.

1.1 Conceito
A Neurociência estuda a estrutura, a função e o desenvolvimento do sistema
nervoso ante sua condição normal, bem como frente a eventuais alterações, patoló-
gicas ou não, envolvendo diferentes ciências.
As ciências envolvidas são, por exemplo, medicina, odontologia, anatomia,
fisiologia, neurologia, psiquiatria, psicologia, farmacologia, fonoaudiologia, socio-
logia, biologia, filosofia, física e antropologia.
A Neurociência na atividade policial visa o estudo do comportamento do de-
linquente, da vítima, da dinâmica criminosa, bem como o exame do controle social
frente à ação e reação das pessoas, analisadas em seu contexto mais amplo, ou seja,
a resposta de acordo com o funcionamento do sistema nervoso, levando-se em con-
ta, ainda, a interdisciplinariedade com as demais ciências.

1.2 Histórico
O resgate histórico pode ser apoiado na aula ministrada, em 2008, no Grupo
de Estudos de Neurociência na Atividade Policial, por Magaly Iazzetti Caliman
quando asseverou o que segue:

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

O filósofo Alcmaeon afirmou, no século V a.C., que as funções cognitivas de-


pendem do cérebro. Na mesma época, a importância do órgão supremo no controle
dos movimentos e na manutenção do nível de consciência já era conhecida por Hi-
pócrates. Mais tarde, no séc. IV a.C., Aristóteles apontou o coração como o respon-
sável pela função central da atividade mental.
Descartes, no século XVII, compreendia que a atividade mental dependeria da
alma, enquanto que o cérebro seria importante para o trabalho mecânico.
No século XVIII, o anatomista Franz Joseph Gall descreve diferentes áreas
cerebrais, apontando, como essencial para as atividades mentais, a substância cin-
zenta. A sua pesquisa originou a frenologia, ou seja, o estudo que, através da análise
do crânio, viabiliza estabelecer características e potencialidades do ser humano.
A comprovação de que regiões específicas do cérebro estavam relacionadas às
funções cognitivas ocorreu na segunda metade do século XIX.
Ainda nessa época, em face do estudo a partir de diferentes lesões cerebrais
associadas a distintos distúrbios, surgiu o conceito de que o cérebro era constituído
por um mosaico de “centros”, cada qual responsável por uma determinada função.
Muitos psicólogos, neurologistas e filósofos, chamados globalistas, não com-
partilhavam essas idéias localizacionistas organizadas em regiões circunscritas, pois
consideravam que funções como a memória ou linguagem poderiam ser comprome-
tidas por lesões situadas em diferentes áreas cerebrais.
Ainda no século XIX, a visão predominante era de que a atividade cerebral
organizava-se como sistema funcional complexo (Luria) ou rede de conexão (Me-
sulan).
Esses modelos conceituais são praticamente idênticos e propõem que uma fun-
ção complexa não depende de um “centro”, mas da ação em concerto de diversas
regiões conectadas entre si.
Assim a lesão de uma única região pode afetar diversas funções. Do ponto
de vista dos globalistas ocorreu o comprometimento de uma função complexa sem
localização da área afetada; ao passo que para os localizacionistas, a análise deta-
lhada do distúrbio poderá fornecer informações sobre a contribuição específica de
cada região no complexo funcionamento cerebral normal.
A neurociência tem sua gênese a partir da evolução da técnica de imageamento
em física médica (medicina nuclear), através da medição do fluxo sanguíneo e dos
níveis de atividade cerebral, permitindo estudar o cérebro em funcionamento e, de-
monstrando que a cada estímulo diferentes áreas do órgão supremo entram em ati-
vidade, desfaz a idéia de que somente uma região específica responde à provocação.
A evolução das técnicas de mapeamento do cérebro em funcionamento se con-
sagrou nos anos de 1990 a 2000, sendo denominada a “Década do Cérebro”.
Portanto, a neurociência tem, a um só tempo, origem recente, e, por ter natu-
reza interdisciplinar, podendo-se concluir que o seu estudo tem também raízes lon-
gínquas, pois é possível resgatar a remota história das pesquisas nas demais ciências
envolvidas.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

2. INVESTIGAÇÃO POLICIAL

A atividade policial tem por fim a reconstrução de fatos pretéritos, perquirindo


a materialidade e a autoria de infrações penais, através da Investigação Criminal e
das pesquisas criminalísticas e médico-legais, trabalho, por vezes, árduo e complexo.

2.1 Conceito
A Carta Magna, em seu § 4º do artigo 144, dispõe que: às polícias civis, dirigidas
por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União,
as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
Em consonância com o sobredito texto constitucional, o ordenamento jurídico
vigente prevê referida atribuição no artigo 140 da Constituição do Estado de São
Paulo e no artigo 4º do Código de Processo Penal.
Assim, a atividade investigativa criminal é realizada pelos agentes da Polícia
Civil, no âmbito de suas atribuições, sob a presidência do Delegado de Polícia.
Ressalta-se que a arte de investigar está pautada no conhecimento das ciências
humanas, exatas e biológicas, de forma que pensar neurocientificamente significa
apreender, analisar e julgar informações e fatos de forma sistêmica.
O desenvolvimento da persecução criminal depende de coligir as informações
relevantes em busca da verdade e como atividade intelectual, a missão policial exige
o pensar corretamente, sendo primordial a adequação da formação desse profissio-
nal a uma moderna metodologia científica investigatória, daí a proposta do apren-
dizado da Neurociência na atividade policial, percebendo e interpretando todo dado
essencial ao sucesso da empreitada policial.
Dessa forma, o relatório escrito de tudo que o policial, perito ou médico, pode
observar no local, denominado descrição ou levantamento do local, poderia ser
considerado um documento subjetivo, se não fosse o treino e a técnica. A capacita-
ção do policial em observar é aguçada com o treino. A importância da técnica, por
sua vez, encontra respaldo nas pesquisas científicas de diversas áreas, com o fim de
capacitar melhor o agente da autoridade para o desempenho de seu ofício.
O tirocínio policial busca construir o alicerce da estrutura da informação para
reconstruir um fato pretérito, com o fim específico de provar a materialidade e a
autoria da infração penal, através de investigação criminal e científica.
Assim, a investigação eficaz requer raciocínio científico e lógico, de forma que,
auxiliada pelas demais ciências, visa o esclarecimento de uma infração penal e a
aplicação da Justiça.
Por ser a labuta policial muito complexa, é fundamental que o policial conheça
a si mesmo e enfrente os desafios do dia-a-dia, de forma eficiente e criativa a ponto de
provocar o chamado estresse positivo, logicamente com respaldo na Neurociência.

2.2 Histórico
O doutrinador Marcel Le Clère (apud VIEIRA, 1965, p.1) asseverou ter encon-
trado a função policial descrita “pelos povos considerados como os que alcançando o

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

maior grau de civilização na fase primeva da história da humanidade, quais os egípcios


e os hebreus.”
Primordialmente, o termo polícia, vocábulo de origem grega, significava “defe-
sa da constituição da cidade ou do Estado” (VIEIRA, 1965, p.5). Posteriormente, no
final do século XV, restringiu-se ao sentido atual, ou seja, Instituição que, em nome
do Estado, cumpre a lei com o objetivo de manter a ordem pública, assegurar a paz
pública e garantir os direitos fundamentais.
Atualmente, a Polícia Civil tem incumbência constitucional e armada da lei,
promove a Justiça.
Aponta-se neste ensaio apenas o trabalho da Polícia Judiciária porque, como
órgão auxiliar do Poder Judiciário, exerce a função essencialmente repressiva, per-
quirindo as infrações penais, cujos atos investigativos, lato sensu, são estudados sob
a visão da Neurociência na atividade policial.

3. COMUNICAÇÃO

O estabelecimento da comunicação precisa ser compreendido para o sucesso


da entrevista, formal ou informal, pois sendo uma via de mão dupla, é necessário
que o policial fique atento ao seu comportamento, além de decodificar a reação do
entrevistado, evitando que atitudes, seja do entrevistador ou do entrevistado, levem
ao insucesso da técnica de investigação criminal denominada entrevista.
De acordo com a doutrina de Spritzer (1995, p.103), o impacto da comunica-
ção tem a seguinte proporção: palavras 7%; sons 38 % e corpo 55%, o que possibilita
avaliar os relacionamentos.
Primeiramente, se o corpo tem maior impacto na comunicação, fica fácil com-
preender que a linguagem corporal, como gestos, expressões, movimentos, respira-
ção e fisiologia, é fundamental para ter contato. Se essa linguagem corporal não for
adequada, a comunicação não é estabelecida. Portanto, é a parte mais importante
do sistema nervoso uma vez que representa 55% dela.
A aparência faz diferença para a primeira impressão no momento de estabe-
lecer a comunicação nas relações humanas, nas empresas e em famílias. Por isso, o
ladrão bem vestido consegue êxito em sua empreitada criminosa e a pessoa honesta
com péssima apresentação tem dificuldade em provar a sua inocência (SPRITZER,
1995, p. 107).
Imagine a apresentação pessoal do policial como ferramenta para conquistar
a confiança da sociedade como um todo, conseguir a comunicação com a vítima,
a testemunha e o entrevistado. Assim também a sua avaliação ante aquele que é
questionado, impedindo que a estrutura reptiliana do cérebro tome o controle da
avaliação da situação fática.
Em segundo lugar, o que é importante para fazer com que a comunicação pas-
se pelo sistema límbico, com expressão de 38%, é o som, tanto em qualidade, como
em velocidade. Isto sem excluir a linguagem corporal, juntamente com o som.
O modo pelo qual a pessoa fala sobre determinado assunto é suficiente para
provocar uma reação favorável ou não, independentemente do assunto em si.

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Se a fala é monótona, provoca sono no ouvinte; enquanto que ao contrário,


com entonação correta, a platéia vibra.
É que o Humano, sendo um sujeito vibratório, sujeito ao fenômeno da resso-
nância necessita estar afinado com a comunicação.
Transportando esses ensinamentos à labuta policial, a voz de prisão é um
exemplo claro: se dada sem o tom certeiro, ninguém a levará a sério. O mesmo du-
rante as entrevistas, para ganhar a atenção devida, ou seja, um bom comunicador
pode proceder à investigação com maior facilidade.
Terceiro, é necessário traçar o meio de comunicação correto com a estrutura
do cérebro racional. Assim, com o hemisfério esquerdo, usa-se o próprio conteúdo
da mensagem e com o cérebro direito, a relação deve ser firmada com uma comuni-
cação codificada.
O hemisfério esquerdo processa a palavra, o conteúdo, o significado etc. Neste
caso deve-se usar a razão e a lógica, ao passo que o cérebro direito trabalha com a
meta-mensagem, linguagem sensorial, como a visão, a audição e a cinestésica, ou
seja, linguagem sem palavras.
Assim, se numa determinada entrevista o policial tenta convencer o entrevista-
do a contar a verdade sobre o fato criminal, usando conteúdo de fala positivo, mas
utiliza tom de voz áspero com gesticulações agressivas, a mensagem que realmente
foi transmitida, com 38% do som e 55% da expressão corporal, é negativa, tendo
inconsistência entre a fala verbal e a não-verbal, esta com peso total de 93%, natu-
ralmente que esta prevalece. Isto ocorre porque o corpo expressa a realidade. Daí
a importância do entrevistador compreender que o sucesso da comunicação não
depende somente da decodificação do entrevistado, mas também do cuidado com
sua postura, lembrando que a comunicação é via de mão dupla.
Se a pessoa utiliza uma expressão positiva com gesticulações e tom de voz ne-
gativos, prevalecerá o último; o contrário acontece se a mensagem é negativa, mas
o corpo e o som são positivos; assim, por exemplo, quando se chama a atenção de
alguém dizendo: “você é legal”, ou se brinca com a pessoa expressando: “você tá
louco”. Conclui-se, então, que a forma como se fala importa muito mais do que o
conteúdo em si.
Além do trabalho em si, essas técnicas podem ser observadas para a organiza-
ção interna, de forma que, por exemplo, se o policial diz à equipe que hierarquia se
respeita, mas ele desrespeita o seu chefe, a mensagem transmitida ao grupo de traba-
lho é que não precisa respeitar o superior, provocando transtornos que inviabilizam
a consecução do serviço.
Também podem ser aplicadas em outras áreas, a título de exemplo, na vida
pessoal: se os pais, responsáveis pela educação do filho, dizem aos berros para ele
não gritar, a mensagem realmente transmitida foi para que continuasse falando alto.
O equívoco na comunicação pode levar a uma série de situações indesejáveis, além
de não se atingir o objetivo.
Em suma, o estudo do funcionamento do cérebro auxilia para o estabelecimen-
to da comunicação adequada. O segredo está no alinhamento de todas essas etapas.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Frise-se, assim, a importância da Neurociência na investigação criminal, uma


vez compreendida e usada na labuta policial.
A pesquisa científica passa a ser, ao lado da lei, instrumento de trabalho para
aquele que garante a manutenção da ordem pública embasada, unicamente, na
Justiça.
A formação e aprimoramento do policial são fundamentais para que se con-
cretizem os princípios basilares de um Estado Democrático de Direito.
E, como não poderia ser diferente, o acesso às técnicas mais avançadas de in-
vestigação criminal com a aplicação da Neurociência servirá, primeiramente, para o
aprimoramento do próprio policial e, como consequência, para encetar diligências
de forma consciente e inteligente.

4. APLICAÇÃO PRÁTICA

A Neurociência tem por fim a pesquisa do comportamento humano sob uma


visão sistêmica, ou seja, biopsicossocial.
Tal como a criminologia, a Neurociência analisa a infração penal como fato
humano e social, perquirindo a conduta delitiva, o delinquente, a vítima e o controle
social, no entanto, sob óticas diversas e que, ao mesmo tempo, podem se comple-
mentar. A visão científica da realidade humana e social é sempre provisória ante a
constante dinâmica dos sobreditos objetos de estudo.
A conduta criminosa decorre da combinação de diferentes causas endógenas e
exogénas, cuja constatação somente será possível em cada caso concreto.
A transformação do ser humano, de cunho biológico, psicológico e sociológi-
co, é um processo contínuo, de forma que pretender estudá-lo como objeto estático
é extremamente infundado.
A história da humanidade mostra que, em diferentes realidades sócio-cultu-
rais, político-econômicas e técnico-científicas, a prática criminosa sempre existiu,
do que se conclui que o comportamento delitivo é uma resposta esperada no con-
texto social.
Outro aspecto fundamental é que o mundo científico repudia a ideia de jus-
tificar o comportamento delitivo como resultado de patologia mental, posto que é
o homem real e histórico que se submete ou não ao ordenamento jurídico vigente.
Assim, o ser normal e o anormal podem ou não praticar infrações penais.
Conclui-se, então, que existem somente conjecturas no afã de tecer as causas
da delinquência, visto tratar-se de um fenômeno complexo.
Ao se estudar um comportamento problemático como é o crime, a visão holís-
tica e a análise sistêmica do contexto biopsicossocial apresentam-se essencialmente
importantes, pois para investigar é necessário conhecer as diferentes causas de in-
fluência na conduta humana e a sua importância na expressão do comportamento
correspondente.
Pode-se, em tese, destacar as respostas humanas em intelectuais, emocionais
e reflexivas. Apesar dessas reações não serem independentes entre si, visto que o

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cérebro funciona sistematicamente, a prevalência de umas sobre outras permite essa


classificação.
As respostas intelectuais decorrem da produção de um juízo de valor formado
a partir do conhecimento (córtex cerebral). Verifica-se que as respostas intelectivas
são produzidas pelo homem com o uso de sua cognição.
As reações emocionais são produzidas em decorrência das sensações (sistema
límbico). Não há um juízo de valor (alegria, tristeza, nojo, surpresa, raiva, medo).
O comportamento reflexivo é gerado pelo automatismo cerebral baseado no
instinto de sobrevivência e necessidade do homem ligado à saciação da fome, sede,
sexualidade (cérebro reptiliano). As respostas reflexivas são automáticas, podendo
ser registradas pelos circunstantes, independentemente de aparelhos.
Assim, a sudorese, o empalidecimento, a frequência cardíaca, a aceleração ou
retardo na respiração, os movimentos corporais, a alteração postural, os movimen-
tos oculares, entre outros, refletem o âmago do indivíduo.
Dessa forma, avaliar essas decorrências poderá permitir uma inferência a res-
peito de possibilidade de falso e verdadeiro.
Essa é a regra. No entanto, é preciso separar situações excepcionais em que
coincidentemente uma reação automática presente em determinado momento, de-
tectada pelo observador, não decorra do fato suscitado, mas resulte de outra mani-
festação interior do organismo, não conhecida naquela oportunidade. Por exemplo,
a aceleração cardíaca apresentada no momento de uma entrevista pode decorrer da
pressão de se encontrar perante a autoridade policial, ou seja, a reação decorre de
fato diverso daquele que é o principal.
Como se vê, é necessário o aprimoramento do desempenho da labuta policial
que significa, dentre outras medidas, capacitar o policial a: proceder ao levanta-
mento do local de crime com acuidade e, principalmente, compreender o valor das
informações colhidas; realizar as entrevistas atento às diversas reações dos atores,
visando a decodificação estrutural dos gestos; interpretar a dinâmica de um fato
pretérito; e tomar decisões.
A partir das informações anteriores, podem-se estabelecer algumas aplicações
na produção da prova durante o procedimento policial: na prova objetiva, os vestí-
gios deixados pelos seres humanos podem revelar o seu interior; na prova subjetiva,
as entrevistas formais (interrogatório, depoimento, declaração, por exemplo) e infor-
mais (conversas com os atores do crime) podem ser objeto de avaliação de falso e
verdadeiro através da Neurociência.
A orientação do policial civil em Neurociências compreende o fornecimento
de conhecimentos básicos voltados à reflexão acerca da totalidade mente-corpo, o
que, certamente, contribuirá para o enriquecimento da prática de polícia judiciária.
Enfim, a Neurociência na atividade policial tem por escopo oferecer subsídios
para que o policial pense neurocientificamente, de forma a proporcionar condições
ao profissional para que edifique suas competências e habilidades, com respeito aos
ditames normativos e principiológicos da Constituição Federal, bem como aos tex-
tos normativos dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.

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Isso porque, o ordenamento jurídico vigente tem correlação com acordos in-
ternacionais em que o Brasil é signatário; assim, por exemplo, o princípio da inocên-
cia presumida está disposto no inciso LVII do artigo 5º da Carta Magna, tal como
previsto no Direito Internacional dos Direitos Humanos, nos termos do artigo XI
da Declaração Universal, do artigo 14 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos e do artigo 8º da Convenção Americana.
Dentre tantos outros postulados, pode-se citar ainda o disposto no inciso III
do artigo 5º da Constituição da República que “ninguém será submetido a tortura
nem a tratamento cruel, desumano ou degradante”, da mesma forma previsto no
artigo V da Declaração Universal de 1948, do artigo 7º do Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e ainda do artigo 5º da Convenção Americana de Direitos
Humanos (Pacto de San José da Costa Rica).
Conclui-se, então, que diferentes consequências devem ser levadas em conside-
ração, de um lado, a preocupação do legislador pátrio em estabelecer regras em con-
sonância com as obrigações internacionais assumidas pelo Brasil, e, por outro lado,
o valor jurídico de direitos assegurados pela Constituição Federal com respaldo nos
tratados internacionais, o que vale dizer que sua violação implica em responsabili-
dade não só nacional como internacional.
Por isso a preocupação com a formação do policial buscando, nas mais dife-
rentes áreas científicas, a satisfatória execução de sua missão, dentro dos ditames
legais.1

1 AMEM, Daniel G. Transforme seu cérebro, transforme sua vida: um programa revolucio-
nário para vencer a ansiedade, a depressão, a obsessividade, a raiva e a Impulsividade. Tradução: Judit
G. Pely. São Paulo: Mercuryo, 2000. CALIMAN, Magaly Iazzetti. Neurociências. In: Aula expositiva
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CD-ROM. COBRA, Coriolano Nogueira. Manual de Investigação Policial. 7ª ed. São Paulo: Saraiva,
1987. FERNANDEZ, Atahualpa. Neurociência, moral e direito: seriedade e prudência. Disponível em:
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mentos teóricos: introdução às bases criminológicas da Lai 9.099/95, lei dos juizados especiais criminais.
4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. OLIVEIRA, Getúlio Dornelles de. Controle do Cérebro.
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SPRITZER, Nelson. O novo cérebro: como criar resultados inteligentes. Porto Alegre: L&PM, 1995.
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da comunicação não-verbal. 52ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Capítulo XXV
CRIMES CIBERNÉTICOS – CYBERBULLYING

Sumário: 1. Considerações preliminares; 2. Cyberbullying; 2.1 Modalidades; 2.2 Moti-


vação; 2.3 Consequências; 3. Crimes cibernéticos; 4. Da investigação; 5. Efeitos civis do
cyberbullying; 6. Conclusão.

1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Muitos imaginam que violência signifique unicamente agressão física contra


outras pessoas, ou seja, a ação de infligir uma dor corporal contra a vítima, como
tapa, soco ou empurrão. Independente do tipo de agressão, quando se torna reitera-
da, pode tratar-se do denominado bullying, palavra esta originada da lingua inglesa
que significa valentão e se caracteriza pela prática de agressões físicas ou psicológi-
cas de forma habitual, traumática e prejudicial às vítimas.
O que as pessoas geralmente não levam em consideração é que existem moda-
lidades de violência que podem ser produzidas de forma diferente. Um exemplo é a
agressão moral praticada por instrumentos eletrônicos (ou cibernéticos).
A ofensa praticada por meio eletrônico se assemelha as outras modalidades de
prática desse crime, mas seu efeito pode ser pior para a vítima, em razão da extensão
e velocidade da divulgação.

2. CYBERBULLYING
Recentemente surgiu o cyberbullying que consiste no mesmo tipo de agressão,
porém, praticada de forma eletrônica (ou cibernética), ou seja, por intermédio de
computadores ou outros recursos tecnológicos. Esse tipo de ofensa tem como meio
de execução as mais variadas formas e tem rápida disseminação pela rede, ou seja,
em pouco tempo é disponibilizada na Internet em uma infinidade de sites e blogs.
Por isso, dificilmente a vítima consegue extirpar a informação de todos os locais.

2.1 Modalidades
Entre as modalidades de cyberbullying temos o envio de e-mails ofensivos para
a vítima ou para pessoas conhecidas, envio de mensagens SMS, via celulares, posta-
gem de vídeos, publicação de ofensas em sites, blogs, redes sociais, fóruns de discus-
são, hotéis virtuais, mensageiros instantâneos, entre outras.
O cyberbullying, de forma semelhante ao bullying, é muito frequente no am-
biente escolar, entre jovens e pode ser praticado também no ambiente corporativo,
no seio familiar, entre vizinhos, amigos ou em outros ambientes.

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2.2 Motivação

Em nosso dia-a-dia temos visto o cyberbullying ser praticado pelos mais va-
riados motivos, desde diferenças entre características físicas das pessoas como, por
exemplo, uso de óculos, obesidade, deformidade física ou em relação a outras carac-
terísticas. Isso ocorre também quando um jovem se destaca intelectualmente ou que
possui uma religião, etnia ou preferência sexual diferente da maioria.

2.3 Consequências

Esse tipo de problema tem proporcionado diversas consequências como trau-


mas, baixo desempenho escolar, depressão, sentimento de inferioridade, dificuldade
nos relacionamentos e outros malefícios.

3. CRIMES CIBERNÉTICOS

Cabe ainda destacar que alguns casos de cyberbullying rompem os limites da


licitude e se enquadram em previsões penais. Surgem, nesses casos, os crimes ciber-
néticos, que se caracterizam pela prática de delitos por meio de recursos tecnoló-
gicos, especialmente computadores. Em razão da ocorrência de infração penal, é
deflagrada a atuação dos órgãos de persecução penal, sendo que, em sua primeira
fase, pode atuar a Polícia Civil ou a Polícia Federal, nos termos do artigo 144 da
Constituição Federal. Entre os principais exemplos de cyberbullyng, considerado
criminoso, destacamos:
a) Calúnia: afirmar que a vítima praticou algum fato criminoso. Comum é o
caso de mensagens deixadas no perfil de um usuário do Orkut ou outro site
de relacionamento que imputa a ela a prática de determinado crime como,
por exemplo, furto ou estupro.
b) Difamação: propagar fatos ofensivos contra a reputação da vítima. Por
exemplo, um estudante que, no Twitter, divulga ter visto um empresário
saindo do motel acompanhado da vizinha. Mesmo que o estudante prove
que realmente o empresário foi visto no local, o crime subsistirá, pois
independe do fato ser verdadeiro ou falso, o que importa é que prejudique
a reputação da vítima.
c) Injúria: ofender a dignidade ou o decoro de outras pessoas. Geralmente
se relaciona com xingamentos como, por exemplo, escrever no Facebook
da vítima ou publicar na Wikipédia que ela é prostituta. Também comete
crime de injúria aquele que filma a vítima sendo agredida ou humilhada
e divulga no Youtube. Caso as ofensas sejam relacionadas com a raça,
cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência, o crime se agrava.
d) Ameaça: ameaçar a vítima de mal injusto e grave. É corriqueiro a vítima
procurar a Delegacia de Polícia para informar que recebeu e-mails,
mensagens de MSN ou telefonemas com ameaças de morte.

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e) Constrangimento ilegal: pode ocorrer se a vítima for obrigada a fazer algo


que não deseja e que a lei não determine como, por exemplo, se um garoto
manda uma mensagem instantânea para a vítima dizendo que vai agredir
um familiar dela caso ela não aceite ligar a câmera de computador (web
cam). Também comete este crime aquele que obriga a vítima a não fazer o
que a lei permita, como no caso da garota que manda um e-mail para uma
conhecida e ameaça de matar seu cachorro, caso ela continue a namorar o
seu ex-namorado.
f) Falsa identidade: ação de atribuir-se, ou atribuir à outra pessoa, falsa
identidade para obter vantagem em proveito próprio, ou a outro indivíduo,
ou para proporcionar algum dano. Tem sido frequente a utilização de
fakes em sites de relacionamentos, como no caso de uma mulher casada
que criou um fake para poder se passar por pessoa solteira e conhecer
outros homens. Também recentemente uma pessoa utilizou a foto de
um desafeto para criar um perfil falso no orkut. Ela se passou por ele
e começou a proferir ofensas contra diversas pessoas, visando colocar a
vítima em uma situação embaraçosa.
g) Molestar ou perturbar a tranquilidade: é contravenção penal. Permite punir
aquele que passa a molestar ou perturbar a tranquilidade de outra pessoa
por acinte ou motivo reprovável como, por exemplo, nos casos em que o
autor passa a enviar mensagens desagradáveis e capazes de incomodar a
vítima. Esse tipo de comportamento é observado pelos denominados
trolls, que são pessoas que utilizam a internet para criar discussões, além
de irritar e desestabilizar outras pessoas. Recentemente ocorreu um caso
de um indivíduo que passava o dia inteiro realizando ligações telefônicas
e enviando centenas de mensagens SMS com frases românticas para a
vítima. A prática do cyberstalking que consiste no ato de perseguir a
vítima e ultrapassar os limites da sua privacidade também caracteriza essa
contravenção penal, como nas situações em que o autor passa a incomodar
a vítima com telefonemas ou que manda e-mails repetidamente para ela.

4. DA INVESTIGAÇÃO

Os órgãos que promovem a investigação de crimes relacionados com cyber-


bullying devem adotar procedimentos operacionais uniformes para a coleta de indí-
cios e das provas de crimes cibernéticos, como forma de permitir a materialidade do
delito e tornar a atuação mais eficaz e livre de eventuais questionamentos jurídicos.
A vítima deve procurar uma Delegacia de Polícia e se no local existir computa-
dor com acesso a internet, solicitar que se visualize o conteúdo das ofensas e as im-
prima. Em seguida, é necessário que o escrivão, em razão de ter fé pública, elabore
uma certidão com os endereços que foram acessados (no caso de conteúdo ofensivo
disponibilizado em sites ou redes sociais), imprimindo cópia do conteúdo acessado.
Se a ofensa estiver armazenada no e-mail da vítima o correto é que ela acesse o
e-mail diante do escrivão de polícia, que deverá promover a impressão do conteúdo

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criminoso, não se esquecendo de clicar em ver cabeçalho completo (ou exibir código
fonte da mensagem), elaborando-se certidão sobre o fato. Caso outro policial civil
realize esta atividade, ao final deverá elaborar um documento relatando ao Delega-
do de Polícia os procedimentos adotados. Por exemplo, se o policial for um investi-
gador de polícia ou outro funcionário que trabalhe diretamente com as atividades
investigativas deverá elaborar um relatório de investigação.
É possível registrar uma ata notarial em um cartório de notas. Nesse caso, o
cartorário acessa e imprime o conteúdo ofensivo, no mesmo molde do ato elaborado
pelo escrivão de polícia, pois ambos possuem fé pública.
Para que a Polícia tenha condições de prestar um serviço adequado e eficiente,
é necessário que a vítima forneça o maior número possível de informações e que ela
se cerque de precauções para colaborar com a polícia na persecução penal do delito
que foi deflagrado por intermédio do computador. Também para evitar que possa
vir a ser responsabilizada, sobretudo, nos casos em que não se consegue comprova-
ção da existência do delito, podendo ser inclusive punida pelo crime de comunicação
falsa de crime ou contravenção ou denunciação caluniosa.
Outro caminho que pode ser utilizado é a própria vítima gravar as informa-
ções em uma mídia não regravável e as imprimir, procedendo à entrega do material
na Delegacia de Polícia. Nesta impressão deve constar o endereço (ou URL) onde
o conteúdo foi divulgado e nos casos de e-mails, o cabeçalho completo, além do
conteúdo.
Nos casos de ofensas em salas de bate papo o procedimento é semelhante, sen-
do necessário individualizar o nome da sala, seu endereço na internet e os nickna-
mes envolvidos. Existem programas de computadores confiáveis e gratuitos capazes
de permitir que o site seja integralmente copiado e que se constate a sua autenticida-
de, como por exemplo, o HTTrack Website Copier (cópia do site) e o Home of the
MD5summer (verifica a integridade do arquivo).
Outra forma de registrar as informações e apresentar o endereço onde o con-
teúdo ofensivo foi publicado é utilizar a tecla do computador denominada “print
screen”, que copia uma imagem do que estiver aparecendo na tela. Depois, o usu-
ário executa a cola do conteúdo em algum programa de edição de imagens, como
o “paint”. Em seguida, imprime e entrega para a Polícia, quando noticiar o fato e
elaborar o Boletim de Ocorrência.

5. EFEITOS CIVIS DO CYBERBULLUING

A prática destas ofensas também desencadeia diversos reflexos no âmbito civil,


como por exemplo, a obrigação de reparar os danos morais ou materiais proporcio-
nados pelos autores das ofensas.
De acordo com o artigo 159 do Código Civil “aqueles que por ação ou omis-
são voluntária, negligência ou imprudência violar direito ou causar prejuízo a outrem
fica obrigado a reparar o dano”. Este artigo do Código Civil fundamentou diversas
condenações, como aquela proferida pelo juiz de direito da 4ª Vara Cível de Tagua-
tinga e mantida pela 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que

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condenou uma pessoa a indenizar duas vítimas em razão de ter postado no Orkut
mensagens com palavras e expressões de baixo calão (Processo: 200701014929).
No Rio de Janeiro um grupo de pais de alunos e ex-alunos foi condenado a
pagar uma indenização de R$ 18.000,00, por danos morais, em razão da criação de
uma comunidade na mesma rede social com a finalidade de ofender a vítima (14ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio).
No Estado de Minas Gerais, no ano de 2007, um indivíduo, que foi compa-
rado ao ET de Varginha em um site de relacionamento, recebeu indenização de R$
3.500,00 de um colega de Faculdade (9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de
Minas Gerais).

6. CONCLUSÃO

Registre-se, finalmente, que a prática deste tipo de crime pela internet não é si-
nônimo de impunidade, muito pelo contrário, a Polícia possui instrumentos adequa-
dos e profissionais capacitados para que, por intermédio da investigação criminal, a
autoria e a materialidade sejam comprovadas.
Observa-se que o cyberbullying, muitas vezes, é praticado sem que seus autores
tenham consciência das consequências e dos males que estes proporcionam, por isso
a reparação de dano se torna necessária. Lidar com o problema não é responsabi-
lidade exclusiva da escola ou da polícia. A solução envolve um trabalho conjunto
entre os pais, educadores, organizações não governamentais, entidades religiosas,
órgãos do governo. A sociedade como um todo, atuando em rede, deve participar
da discussão, apresentar sugestões e implementar programas que possam ter efeitos
muito mais positivos.
É necessário que haja uma reflexão envolvendo jovens, adultos sobre a necessida-
de de não praticar esse tipo de ofensa, respeitando-se a dignidade e a cidadania, impor-
tantes atributos dos seres humanos para uma convivência harmônica e bem estar social.

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Referências bibliográficas de temática conexa

LIVROS CONSULTADOS
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GUEDES, Mauro Silva. Manual do Inquérito Policial, Edição Saraiva, 1980.
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Comissão Cultural da Associação dos Escrivães de Polícia do Estado de São Paulo, 1988.
LOPES, Rogério Antônio et al. Teoria e prática da Polícia Judiciária à luz do princípio da
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MALACHIAS, Bolívar. Manual do Delegado de Polícia (Polícia Judiciária). Vol. I, Imprensa
Oficial, Belo Horizonte, 1974.
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Iglu Editora, São Paulo.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Juizados Especiais Criminais – O Delegado de
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MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Prática do Inquérito Policial, Editora Gráfica da
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MARINHO, Gonçalo. Consultor Criminal, Editora Saraiva, São Paulo, 1942.
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Bookseller, Campinas 1999.
MEDEIROS, Flávio M. Do Inquérito Policial, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 1994.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. 10ª ed., Editora Atlas, São Paulo, 2000.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal – Parte Geral, 1º vol., 16ª ed., Editora
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MONDIN, Augusto. Manual do Inquérito Policial, Editora Sugestões Literárias, 1969.
MORAES, Bismael B. Direito e Polícia (Uma Introdução à Polícia Judiciária), Editora
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NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, 1º vol., 32ª ed., Editora Saraiva, São Paulo, 1997.
MÜLLER LEITE, Yara. Como requerer em Juízo, (Formulário Criminal), Biblioteca Jurídica
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NEVES, Pedro. Modelos de Inquéritos Policiaes (sic), Typ. Imprensa Popular, Santos, 1926.
OLIVEIRA JÚNIOR, Angelino de. O Inquérito Policial e a Nova Constituição Federal, São
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PAZZAGLINI FILHO, Mariano; de Moraes, Alexandre; Poggio Smanio, Gianpaolo;
Vaggione, Luiz Fernando. Juizado Especial Criminal – Aspectos Práticos da Lei nº 9.099/95,
Editora Atlas, 3ª ed., 1999.
PEREIRA, Arinos Tapajós Coelho. Processo Contravencional, São Paulo, Serviço Gráfico da
Secreta­ria da Segurança Pública, 1959.
PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. Inquérito Policial – Novas Tendências, Ed. CEJUP,
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QUEIROZ FILHO, Dilermando. Manual de Inquérito Policial, Adcoas, Rio, 2000.
RAIMUNDO, José Guilherme. Inquérito policial: procedimentos administrativos e ação penal,
LEUD – Livraria e Editora Universitária de Direito, São Paulo, 1999.
RODRIGUES, Sindeval Conceição. Estudos de Polícia Judiciária, Edições CEJUP.
ROCHA, Luiz Carlos. Investigação policial. Teoria e prática. Editora Saraiva, 1998.
ROCHA, Luiz Carlos. Prática Policial, Saraiva, 1982.
RIOS, Carlos Alberto dos. Manual Teórico e Prático de Polícia Judiciária, Edipro, 1991.
SALLES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito Policial e Ação Penal, Saraiva, 1983.
SILVA, Ayres F.L. et al. Inquérito policial: teoria e prática programada, Editora Sagra
Luzzatto, Porto Alegre, 1995.
SILVA, Ayres da e DUARTE. Beatriz. Inquérito Policial, Sagra-DC Luzzato, 1ª ed., 1995.
SILVA, José Geraldo da. O Inquérito Policial e a Polícia Judiciária, LED – Editora de Direito
Ltda., 2ª edição, 1996.
SILVA, José Geraldo da. Código de Trânsito Brasileiro Anotado, 1ª ed., Campinas, Bookseller,
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SOUZA, Anna Ciampone de, Curso Especial de Língua Portuguesa – Ciampone de Souza,
Anna, 1940 – (coord.). Ed. Academia de Polícia “Dr. Coriolano Nogueira Cobra – São Paulo
– 1º semestre de 2005.
TEIXEIRA, Francisco de Assis. Dos Crimes de Sonegação Fiscal, Imprensa Oficial de Minas
Gerais, 1998.
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TORNAGHI, Hélio. Manual de Processo Penal (Prisão e Liberdade), Editora Freitas Bastos,
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TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de Processo Penal, Jalovi, 1980.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, 4 volumes, Editora Saraiva,
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ARTIGOS CONSULTADOS

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GODOY RODRIGUES, Juliana Pereira Ribeiro et al. A Polícia Civil e o Acidente de Trabalho.
Revista da ADPESC nº 2, 1º semestre de 1999, pp. 80/93.

Algemas
SILVA LIMA, Herotides. Emprego de algemas, Investigações, ano I, nº 2, pp. 37-41.

Apresentação espontânea
BARBOSA, Manoel Messias. Flagrante e espontânea apresentação do indiciado, Revista
ADPESP nº 15, ano 9, junho de 1998, pp. 30/31.
COGAN, José Damião Pinheiro Machado. Flagrante e espontânea apresentação do acusado,
O Estado de S.Paulo, 13 de janeiro de 1985, p. 50.
PEREIRA DE PAULA, José Eduardo. A apresentação espontânea do acusado e não lavratura
do auto de prisão em flagrante delito pela autoridade policial, Informativo da ADPESP nº 24,
novembro de 1993, p. 14.

Autoridade policial
CUNHA LIMA, João Milanez. Humanização da investigação criminal, JUSTI TIA, ano
XXXVIII, 2º semestre de 1976, vol. 93, pp. 137-147.
FREDERICO MARQUES, José. Distinção entre autoridade policial e agente da autoridade
poli­cial, Revista ADPESP nº 14, ano de 1987, pp. 29/34.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. A autoridade policial e o princípio da insignificância,
Boletim do IBCCrim nº 25, janeiro de 1995, p. 3.
MORAES, Bismael B. Quem merece e quem não merece o título de autoridade, Informativo da
ADPESP nº 13, abril de 1989, p. 7.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

MORAES, Bismael B. Conceito de autoridade policial na lei processual brasileira, Revista


ADPESP nº 3, julho, agosto, setembro de 1980, pp. 31/55.
MORAES, Bismael B. Apontamentos sobre a autoridade policial, Arquivos da Polícia Civil,
volume XLI, 2º semestre, ano 1983, pp. 5/33.
NILSSON, Márcio de Castro. Autoridade policial, hermenêutica da expressão, Revista
ADPESP nº 21, ano 17, setembro de 1996, pp. 91/93.
RAO, Vicente. Conceito de Autoridade Policial. Parecer para a Associação dos Delegados de
Polícia do Estado de São Paulo, 1969.
TORNAGHI, Hélio. Inquérito policial, juizado de instrução, autoridade policial, Revista
ADPESP nº 14, ano de 1987, pp. 3/61.
TORNAGHI, Hélio. Conceito de autoridade policial e agente da autoridade, Revista ADPESP
nº 14, ano de 1987, pp. 35/68.
TUMA, Romeu. Armas e autoridade, Cadernos do PFL – Debates, dezembro de 1999, nº 22,
pp. 45-48, e Folha de S. Paulo, 9 de setembro de 1999.
TUMA JÚNIOR, Romeu. O policial, Boletim do DCS nº 66, fevereiro de 1988, p. 1.

Boletim de ocorrência
KARAM, Felix Cury. Do boletim de ocorrência para sustação de pagamento de cheques,
Boletim do DCS nº 122, novembro de 1992, p. 4.
MORAES, Bismael B. Boletim de ocorrência: 30 anos, Revista ADPESP nº 13, ano de 1985,
pp. 29/41.

Busca e apreensão
CARVALHO, José Luiz de. Busca, apreensão e medidas assecuratórias, Revista ADPESP nº
10, dezembro de 1989, pp. 135/140.
GOMES CORRÊA, Luís Antônio. Mandado de busca: de parceria com o crime e um nó na
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SILVA, José Geraldo da. Da busca e apreensão, Revista ADPESP nº 23, ano 18, junho de
1997, pp. 109/110.

Cadáveres
SILVEIRA GUIMARÃES. Nelson, Agilização na retirada de cadáveres de locais de crimes,
Bole­tim do DCS nº 71, julho de 1988, p. 1.

Classificação do delito
ROCHA, Ubirajara. Da classificação do delito no inquérito policial, Investigações, ano IV, nº
38, pp. 93/97.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Código de Processo Penal


GARCIA, Ivahir de Freitas. Projeto nº 633/75 – Código de Processo Penal, Trabalhos de sub-
relator na Câmara dos Deputados, Brasília, 1976.

Condução coercitiva
FREDERICO MARQUES, José. Da condução coercitiva do indiciado nas investigações
policiais, Investigações, ano II, nº 19, pp. 44-102.

Crimes ambientais
GOBBI, Rômulo. Lei dos Crimes Ambientais, Informativo da ADPESP nº 43, fevereiro de
1999, pp. 21/22.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Atividade policial judiciária nos crimes ambientais,
Revista ADPESP nº 26, ano 19, dezembro de 1998, pp. 59/61.

Crimes contra a economia popular


GOMES, José Carlos. Os planos econômicos e a criminalidade, Boletim do DCS nº 93, maio
de 1990, p. 1.
MANTECCA, Paschoal. Defesa do consumidor, Boletim do DCS nº 91, março de 1990, p. 1.

Crimes contra as relações de consumo


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do Estado, 1999.

Crimes de trânsito
GODOY SUMARIVA, Paulo Henrique. O direito à representação e a Lei nº 9.099/95,
Informativo da ADPESP nº 49, agosto de 1999, pp. 22/23.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. O Código de Trânsito Brasileiro, o homicídio
veicular e outras novidades típicas, Revista ADPESP nº 25, ano 19, 1998, pp. 47/52.
MARTINS MÜLLER, Walter, et al. Bafômetro: exame obrigatório ou não? Boletim do
IBCCrim nº 66, ano 6, maio de 1998, pp. 9/10.
MARTINS MÜLLER, Walter, et al. Comentários ao novo Código de Trânsito Brasileiro,
Boletim do IBCCrim nº 63, ano 6, fevereiro de 1998, pp. 6/7.
RAMOS LEON, Altair, et al. Comentários ao novo Código de Trânsito Brasileiro, Informativo
da ADPESP nº 35, março de 1998, pp. 14/16.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

RAMOS LEON, Altair, et al. Bafômetro: exame obrigatório ou não? Boletim do IBCCrim nº
66, ano 6, maio de 1998, pp. 9/10.
RAMOS LEON, Altair, et al. Comentários ao novo Código de Trânsito Brasileiro, Boletim do
IBCCrim nº 63, ano 6, fevereiro de 1998, pp. 6/7.
SILVA, José Geraldo da. Os crimes de trânsito e a Lei nº 9.099/95, Informativo da ADPESP
nº 51, outubro de 1999, pp.25/26.
SILVA, José Geraldo da. A autoridade policial, a prisão em flagrante e a fiança nos crimes de
trânsito, Revista ADPESP nº 27, ano 20, junho de 1999, pp. 77/99.
SILVA, José Geraldo da. Os crimes de trânsito e a Lei nº 9.099/95, Boletim do IBCCrim nº 67,
ano 6, junho de 1998, p. 5.
SOARES DA SILVA, Cyro Vidal. O Novo Código de Trânsito Brasileiro, Aspectos
diferenciados, Revista ADPESP nº 26, ano 19, dezembro de 1998, pp. 71/76.
TOLEDO RODRIGUES, José Roberto. Crime, sim, Contravenção, não, Informativo da
ADPESP nº 46, maio de 1999, pp. 27/28.
TONINI, Wagner Adilson. O Código de Trânsito e a evolução das normas penais, Informativo
da ADPESP nº 47, junho de 1999, pp. 26/27.

Direito Administrativo Disciplinar


FERNANDES, Newton, MORAES. Bismael B. Da ilegalidade das correições na Polícia
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junho de 1989, pp. 7/45.
FERREIRA DA SILVA, Amir Neves. Sindicâncias judiciais, Revista ADPESP nº 6, 2º
semestre de 1981, pp. 36/41.
LOPES MONTEIRO, Aristides. O funcionário público pode exercer atividades estranhas às
suas funções? Revista ADPESP nº 6, 2º semestre de 1981, pp. 36/41.
LOPES MONTEIRO, Aristides. O policial civil e seus deveres, Revista ADPESP nº 7, 1º
semestre de 1982, pp. 19/23.
LOPES MONTEIRO, Aristides. O fato e a autoria na reintegração do funcionário público,
Revista ADPESP nº 10, ano de 1984, pp. 31/33.
MORAES, Bismael B. Ainda sobre as sindicâncias judiciais: fiquemos com o STF, Revista
ADPESP nº 11, ano de 1985, pp. 98/99.
SOUZA BORMANN, Roosevelt. Algumas considerações acerca do direito de petição, Revista
ADPESP nº 13, ano de 1985, pp. 65/67.

Exame criminológico
FERREIRA, Haroldo. Do exame criminológico na fase policial. Arquivos da Polícia Civil,
volume XXV, 1º semestre, ano 1975, pp. 58/71.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Exame médico-legal
BILTGE, Manoel Moreno. Lesão corporal culposa: desnecessidade de exame de corpo de delito
complementar, Revista ADPESP nº 26, ano 19, dezembro de 1998, pp. 77/80.

Fiança criminal
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Sobre a indevida prestação de fiança criminal
mediante cheque, Informativo da ADPESP nº 23, junho, julho de 1993, pp. 13/14.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. A autoridade policial, a pobreza brasileira, a fiança
criminal e a reforma do Código de Processo Penal, Arquivos da Polícia Civil, volume XLIII, 1º
semestre, ano 1993, pp. 34/35.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. O Delegado de Polícia e a fiança criminal face à
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SILVA LEMOS, Jorge da. A AIDS e a fiança arbitrada pelo Delegado de Polícia, Boletim do
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THAUMATURGO FILHO, Roque. Fiança deve seguir legislação em vigor, O Estado de
S.Paulo, 28 de outubro de 1990, p. 48.
THAUMATURGO FILHO, Roque. Valor de fiança depende da autoridade, O Estado de
S.Paulo, 23 de janeiro de 1991, p. 20.

Imunidades
MORAES, Alexandre de. Imunidades parlamentares, Revista Brasileira de Ciências Criminais
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Imputabilidade
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Incomunicabilidade do indiciado
ANDRADE, Octacílio de Oliveira. A incomunicabilidade do indiciado, Revista ADPESP nº
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Indiciamento e identificação criminal


AMÂNCIO DE SOUZA, Gilson S. Indiciamento em inquérito policial, RT 683/391.
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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

EL-TASSE, Abdel. Indiciamento em inquérito policial – ato obrigatoriamente motivado, RT


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GENOFRE, Roberto Maurício. O indiciado: de objeto de investigações a sujeito de direitos,


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MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Panorama atual do indiciamento e da identificação


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NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Identificação como constrangimento ilegal, O Estado de S.Paulo,


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PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. A identificação processual penal e a Constituição de


1988, RT 635/172.

PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. A Constituição e a identificação processual penal,


Revista ADPESP nº 17, ano 9, junho de 1989, pp. 25/45.

PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. O indiciamento, Jornal do Advogado, janeiro de 1982,


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PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. O indiciamento como ato de polícia judiciária, in RT


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ROSSETO, Laércio. O indiciamento no inquérito policial é ato privativo do delegado, Jornal


ECO-Brasília, DF, outubro-novembro de 1999, p. 13.

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Inquérito policial
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JÚLIO, José Benedito. Da validade do inquérito policial, Revista ADPESP nº 10, ano de 1984,
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MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Inquérito Policial, peça meramente informativa?


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MORAES, Bismael B, Inquérito policial e falta de prevenção, Boletim do IBCCrim nº 88,


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MORAES, Bismael B, Inquérito Policial, juizado de instrução e realidade brasileira, Revista


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MORAES, Bismael B. Em defesa do inquérito policial, Revista ADPESP nº 24, ano 18,
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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

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MORAES, Bismael B. Elementos de inquérito policial, Arquivos da Polícia Civil, volume
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MORAIS FILHO, Antonio Evaristo de. O Ministério Público e o Inquérito Policial, Revista
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MOREIRA FILHO, Guaracy. Inquérito policial: é necessário ou não?, O Estado de S.Paulo,
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NÉRI DA SILVEIRA, José. Aspectos do inquérito policial na jurisprudência do Supremo
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NOVAZZI PINTO, Tabajara. Inquérito policial simplificado, uma urgente necessidade, Revista
ADPESP, nº 20 ano 10, 1995, pp. 89/97.
PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. Mais de cento e vinte e seis anos de inquérito policial,
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PITOMBO, Sérgio Marcos de Moraes. Aspectos Gerais a respeito do inquérito policial, Palestra
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ROCHA, Ubirajara. Da classificação do delito no inquérito policial, Investigações, ano IV, nº
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TORNAGHI, Hélio. Inquérito policial, juizado de instrução, autoridade policial, Revista
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VIEIRA PINTO, Adilson José. O inquérito policial à luz dos direitos e garantias individuais
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Interrogatório do indiciado
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Investigação criminal e policial


BUENO FILHO, Waldomiro. A investigação policial e técnicas de interrogatório, Arquivos da
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CASTRO MACHADO, Antonio Carlos. A investigação nos crimes de autoria desconhecida,
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COBRA, Coriolano Nogueira, Investigação no comércio clandestino e facilitação de uso de
entorpe­cente, JUSTITIA, ano XXXV, 2º trimestre de 1973, vol. 81, pp. 185-190.
CUNHA LIMA, João Milanez. Humanização da investigação criminal, JUSTITIA, ano
XXXVIII, 2º semestre de 1976, vol. 93, pp. 137-147.

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GOMES, José Carlos. Perfilamento psicológico: a nova arma da Polícia para os homicídios
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GOMES, José Carlos. A investigação policial, a Informática e a Constituição, Revista ADPESP
nº 18, ano 10, dezembro de 1989, pp. 93/94.
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roubo, I, Boletim do DCS nº 31, fevereiro de 1986, p. 4.
GRIMALDI FILHO, José, “Modus operandi” empregados pelos delinqüentes no crime de
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LIMA E SILVA, Mauro Marcelo de . O lixo como meio de investigação policial, Boletim do
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NASCIMENTO, Francisco Guimarães do. A papiloscopia como fator de investigação, Revista
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TONINI, Wagner Adilson. Investigação: teoria e prática (diferenças de procedimentos),
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Juizado de instrução
MORAES, Bismael B. Inquérito Policial, juizado de instrução e realidade brasileira, Revista
ADPESP nº 14, ano de 1987, pp. 57/61.
TORNAGHI, Hélio. Inquérito policial, juizado de instrução, autoridade policial, Revista
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Juizados Especiais Criminais


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a honra, Boletim do IBCCrim nº 39, ano 4, março de 1996, p. 7.
CORTIZO SOBRINHO, Raimundo. Modelo de termo circunstanciado: a Portaria DGP nº
14/96, Informativo da ADPESP nº 28, fevereiro, março de 1997, p. 24.
CORTIZO SOBRINHO, Raimundo. Arquivamento de ocorrência pelo Delegado de Polícia nos
crimes da Lei nº 9.099/95, Informativo da ADPESP nº 30, maio/junho de 1997, p. 10.
CORTIZO SOBRINHO, Raimundo. Jogo do bicho: flagrante ou termo circunstanciado?
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DOTTI, René Ariel. A autoridade policial na Lei nº 9.099/95, Boletim do IBCCrim nº 41, ano
4, maio de 1996, p. 5.
LEITE DE BARROS FILHO, Mário. Do valor da representação da vítima nos crimes culposos
de trânsito face à edição da Lei nº 9.099/95, Informativo da ADPESP nº 30, junho de 1997,
p. 17.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Termo circunstanciado ou inquérito policial


anômalo? Informativo da ADPESP nº 36, maio de 1998, p. 22.
NILSSON, Márcio de Castro. Autoridade policial, hermenêutica da expressão, Revista
ADPESP nº 21, ano 17, setembro de 1996, pp. 91/93.
PAIVA SIMÕES, Wilson Mauro. Interpretação literal: o art. 69, e seu parágrafo único, da Lei
nº 9.099/95, Informativo da ADPESP nº 26, dezembro de 1996, p. 26.
SILVA, José Geraldo da. A Lei nº 9.099/95 e suas implicações nas atividades de Polícia
Judiciária, Revista ADPESP nº 21, ano 17, setembro de 1996, pp. 52/72.
TONINI, Wagner Adilson. A conciliação prévia nas infrações de menor potencial ofensivo,
Informa­tivo da ADPESP nº 42, janeiro de 1999, pp. 27/28.
TONINI, Wagner Adilson. Conflito aparente de normas e conflito aparente de procedimentos,
Informativo da ADPESP nº 44, março de 1999, pp.19/20.

Local de crime
COSTA SAMPAIO, Adalberto. Locais de Crime – aspectos técnicos e jurídicos, Jornal do
Escrivão, agosto de 1988, p. 4.
SILVEIRA GUIMARÃES. Nelson, Agilização na retirada de cadáveres de locais de crimes,
Revista ADPESP nº 16, ano 9, dezembro de 1988, pp. 93/102.
TONINI, Wagner Adilson. Local de homicídio não preservado e sua classificação, Revista
ADPESP nº 25, ano 19, março de 1998, pp. 21/24.

Polícia Judiciária
FERREIRA, Haroldo. Polícia Judiciária e o Código de Trânsito Brasileiro. Revista Brasileira
de Ciências Criminais nº 22, abril/junho de 1999, pp. 117-123.
FORTUNATO, Paulo Fernando. O exercício da Polícia Judiciária pela Polícia Civil, Revista
ADPESP nº 27, ano 20, junho de 1999, pp. 21/26.
FREDERICO MARQUES, José. Organização da Polícia Judiciária, Revista ADPESP nº 5,
janeiro, fevereiro, março, abril de 1981, pp. 56/99.
GUIMARÃES PEREIRA, Maurício Henrique. “Habeas Corpus” e polícia judiciária, Justiça
Penal nº 5, 1997, pp. 198-245.
KFOURI FILHO, Abrahão José. A exata dimensão do controle externo da Polícia pelo
Ministério Público, Boletim do IBCCrim nº 85, dezembro de 1999, pp. 8-9.
MORAES, Bismael B. Polícia Judiciária, função essencial à Justiça. Boletim do IBCCrim nº
49, ano 4, dezembro de 1996, p. 10.
ROCHA, Ubirajara. A Polícia em Prismas. Ed. Serviço Gráfico da Secretaria de Segurança
Pública, São Paulo, 1965, p. 69.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

THAUMATURGO, Roque. Polícia judiciária em matéria eleitoral, Boletim do DCS nº 96,


agosto de 1990, p. 1.
TONINI, Wagner Adilson. Defensorias e contraditório informal nos procedimentos iniciais de
polícia judiciária, Boletim do IBCCrim nº 61, ano 5, dezembro de 1997, p. 16.
ZACCARIOTTO, José Pedro. Portaria DGP 18/98 e polícia judiciária democrática, RT
769/461.

Policiamento preventivo especializado


MARTINS SANTOS, Marinósio. Segurança de dignitários, Boletim do DCS nº 76, dezembro
de 1988, p. 2.

Prisão
ÂNGELO, Milton da Silva. Se “por al” não estiver preso. Boletim do DCS nº 107, julho de
1991, p. 2.
GUIMARÃES PEREIRA, Maurício Henrique. Detenção policial, Arquivos da Polícia Civil,
volume XXXV, 2º semestre, ano 1980, pp. 137/145.
MALHEIROS LOPES, Amândio Augusto. Da prisão no curso da investigação policial, Revista
ADPESP nº 12, ano de 1985, pp. 31/32.
NOGUEIRA, Orildo. O uso da força pela autoridade policial, Boletim do DCS nº 122,
novembro de 1992, p. 2.
SILVA LEMOS, Jorge da. Detenção policial e a nova ordem jurídica, Boletim do DCS nº 89,
fevereiro de 1990, p. 2.
SILVA LEMOS, Jorge da. Detenção provisória, Boletim do DCS nº 69, maio de 1988, p. 2.
TONINI, Wagner Adilson. Breve estudo sobre a averiguação e sua legalidade, Revista ADPESP
nº 27, ano 20, junho de 1999, pp. 37/42.

Prisão em flagrante
BARBOSA, Manoel Messias. Flagrante e espontânea apresentação do indiciado, Revista
ADPESP nº 15, ano 9, junho de 1998, pp. 30/31.
COGAN, José Damião Pinheiro Machado. Legítima defesa e prisão em flagrante, RT
770/455/459.
GENOFRE, Roberto Maurício. Flagrante delito: a autoridade policial e a decisão de autuar,
Jornal dos Delegados, 1º semestre de 1990, pp. 6/7.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Do auto de prisão em flagrante datilografado pela
autoridade policial, Revista ADPESP nº 9, ano de 1984, pp. 7/10.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Da prisão em flagrante delito, de juiz de Direito ou


promotor de Justiça, por Delegado de Polícia, Revista ADPESP nº 10, ano de 1984, pp. 12/18.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Aspectos polêmicos da não autuação em flagrante,
Revista ADPESP nº 18, ano 10, dezembro de 1989, pp. 7/8.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Flagrante diferido ou anti-flagrante, Revista
ADPESP nº 21, ano 17, setembro de 1996, pp. 47/48.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Da prisão em flagrante no crime permanente,
Informa­tivo da ADPESP nº 22, maio de 1993, p. 18.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Prisões em flagrante e melhoria do policiamento,
Infor­mativo da ADPESP nº 35, março de 1998, pp. 7/8.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Prisão em flagrante por prática de pedofilia pela
Internet, Boletim da ADPESP nº 40, novembro de 1998, p. 17.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Flagrante diferido ou anti-flagrante?, Informativo
do IBCCrim nº 38, ano 4, fevereiro de 1996, p. 5.
NOGUEIRA, Orildo. Um modelo de auto de prisão em flagrante, Jornal dos Delegados, 2º
semestre de 1989, p. 6.
SAMPAIO FILHO, Walter Francisco. O tráfico de drogas e o flagrante preparado. Boletim do
DCS nº 120, setembro de 1992, p. 2.
TONINI, Wagner Adilson. Fundamentos da prisão em flagrante nas infrações de menor
potencial ofensivo, Boletim do IBCCrim nº 59, de outubro de 1997, p. 4.

Prisão especial
FÁCIO BOTTINO, Cláudio Roberto. Polícia Civil, prisão especial, regime de prisão especial,
Informativo da ADPESP nº 27, janeiro de 1997, p. 9.

Prisão preventiva
CAIRES, José Antônio Gomes de. As prisões preventiva e temporária são inconstitucionais,
Revista ADPESP nº 23, ano 18, junho de 1997, pp. 117/118.
CAIRES, José Antonio Gomes de. Esclarecimento sobre a inconstitucionalidade das prisões
pre­ventivas, Informativo da ADPESP nº 31, julho de 1997, p. 20.
SILVA, Osvaldo. A prisão preventiva, Investigações, ano IV, nº 39, pp. 25-31.

Prisão provisória
COSTA, Marcos Ferreira Guedes da. Prisão Provisória e Ação Penal, Seminário da Disciplina
“Medidas Cautelares Processuais Penais”, no curso de pós-graduação – Mestrado da
Faculdade de Direito da USP, maio de 1999.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Prisão temporária
CAIRES, José Antônio G. de. As prisões preventiva e temporária são inconstitucionais, Revista
ADPESP nº 23, ano 18, junho de 1997, pp. 117/118.
SANTOS CABETTE, Eduardo Luiz. A prática perversa da prisão temporária, Boletim do
IBCCrim nº 58, ano 5, setembro de 1997, p. 5.

Proteção à vítima e à testemunha


BALDAN, Edson Luíz. Proteção à vítima e à testemunha e a prática policial, Justiça Penal nº
7, coordenação de Jacques Camargo Penteado, RT, pp. 381/409.

Prova
SANTOS CABETTE, Eduardo Luiz. O prazo de duração da interceptação telefônica e sua
renova­ção. Boletim do IBCCrim nº 70, ano 6, setembro de 1998, pp. 8/9.

Prova no inquérito
ANGERAMI, Alberto et al, Provas policiais insuscetíveis de repetição, Revista ADPESP nº
26, ano 19, dezembro de 1998, pp. 7/17.
BARBOSA, Manoel Messias. Prova testemunhal, Revista ADPESP nº 6, ano 9, dezembro de
1988, pp. 29/32.
GODOY SUMARIVA, Paulo Henrique. O fruto da árvore envenenada, Informativo da
ADPESP nº 40, novembro de 1998, p. 18.
GOMIDE, Lívio. A perícia de documentos. Arquivos da Polícia Civil, volume XXXV, 2º
semestre, ano 1980, pp. 195/202.
GUIMARÃES PEREIRA, Maurício Henrique et al, Provas policiais insuscetíveis de repetição,
Revista ADPESP nº 26, ano 19, dezembro de 1998, pp. 7/17.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. A prova no inquérito policial, Arquivos da Polícia
Civil, volume XLI, 2º semestre, ano 1983, pp. 125/140.
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. A teoria da árvore dos frutos envenenados, Boletim
do IBCCrim nº 30, ano 3, junho de 1995, p. 8.
TAKAHASHI, Elza Leiko et alii. Exame do sêmen: (manchas de esperma), Arquivos da
Polícia Civil, volume XXXVI, 1º semestre, 1981, pp. 183/195.
TONELLI NETO, Pedro et al, Provas policiais insuscetíveis de repetição, Revista ADPESP nº
26, ano 19, dezembro de 1998, pp. 7/17.
ZARZUELA, José Lopes. Prova de parafina, Revista Arquivos da Polícia Civil, volume
XXXIII, 2º semestre, ano 1979, pp. 171/176.

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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO

ZARZUELA, José Lopes. Locais de crime: aspectos técnicos e jurídicos, volume XXXV, 2º
semes­tre, ano 1980, pp. 161/169.
ZARZUELA, José Lopes. Análise instrumental como elemento de prova, Arquivos da Polícia
Civil, volume XXXVI, 1º semestre, ano 1981, pp. 183/195.

Qualificação indireta
TUCCI, Rogério Lauria. Indiciamento e qualificação indireta-fase de investigação criminal:
distinção, RT 571/291.

Recognição visuográfica
DESGUALDO, Marco Antonio. Recognição visuográfica de local de crime, Revista Brasileira
de Ciências Criminais do IBCCrim, ano 4, nº 13, janeiro-maio de 1996, pp. 242-252.

Reconhecimento de pessoas e coisas


GUIMARÃES PEREIRA, Maurício Henrique. Reconhecimento de pessoas e coisas, Arquivos
da Polícia Civil, volume XXXVIII, 2º semestre, ano 1981, pp. 101/112.

Relatório do inquérito
NOGUEIRA, Orildo, Relatório da autoridade policial, Informativo da ADPESP nº 23, junho,
julho de 1993, p. 15.
QUEIROZ FILHO, Dilermando. Relatório e valorização da carreira, Informativo da
ADPESP nº 29, abril de 1997, pp. 16/17.
QUEIROZ FILHO, Dilermando. Relatório e valorização da carreira II, Informativo da
ADPESP nº 30, maio de 1997, pp. 12/13.

Relaxamento da prisão em flagrante


MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Autoridade policial deve sempre cumprir a lei,
O Estado de S.Paulo, 16 de janeiro de 1991, p. 24.

Reprodução simulada do crime


ROCHA, Ubirajara. Reconstituição do crime, Investigações, ano IV, nº 46, pp. 77-84.

Requisições judiciais e ministeriais


FALCÃO RANGEL, Ricardo. Sentido e finalidade da requisição judicial ou do Ministério
Público, Informativo da ADPESP nº 29, abril de 1997, pp. 5/6.

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MANUAL DE POLÍCIA JUDICIÁRIA

Saúde Pública e Meio Ambiente


LEGISLAÇÃO E PRÁTICA. DECON – Divisão de Investigações Sobre Infrações Contra a
Saúde Pública e Meio Ambiente, Serviço Gráfico da Divisão de Material da Delegacia Geral
de Polícia, 1993.
PRADO, Luiz Regis e outro. Quadro Comparativo das Infrações Penais Contra o Meio
Ambiente, Boletim do IBCCrim nº 65, edição especial, abril de 1998.

Sigilo do inquérito
COGAN, José Damião Pinheiro Machado. A propósito do sigilo no inquérito policial, Jornal
“O Estado de S. Paulo”, p. 38, 14.9.1985.

Telecomunicações
DIPOL, Manual de Telecomunicações e de Elaboração de Mensagens Eletrônicas, Portaria
DGP-28, de 14.6.2010, Gráfica da Academia de Polícia Dr. Coriolano Nogueira Cobra, São
Paulo, 2010.

Termo circunstanciado
ALONSO, Sidney Juarez. Diligências realizadas em termos circunstanciados antes da audiência
preliminar – procedimento incompatível com as normas da Corregedoria Geral da Justiça
(Prov. CG – 32/01). Delegacia de Polícia de Jundiaí – Setor de Carta Precatória (Artigo não
publicado até a presente data).
FERREIRA, Haroldo, & BARIANI, Jaqueline Makowski de Oliveira. A Justiça Criminal
Consensual e as Atividades de Polícia Judiciária, in Arquivos da Polícia Civil – revista tecno-
científica. Acadepol/SP. 2005.
PITOMBO, Sérgio M. de Moraes. Supressão Parcial do Inquérito Policial – Breves notas ao
art. 69 e parágrafo único da Lei nº 9.099/95, in Juizados Especiais Criminais – Interpretação
e crítica. Editora Malheiros.

Vida pregressa
GUIÃES DE BARROS, Luís. Vida pregressa do indiciado, Investigações, ano I, nº 3, pp.
125/130.

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