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PRÊMIO INNOVARE
Concurso de monografias:
A Justiça do século XXI
2013
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RESUMO
ABSTRACT
The disclosure of violent crimes committed by adolescents ignites the demand made by
a significant portion of the population by the reduction of the age of criminal
responsibility and recrudescence on the application of custodial measures, arguing that
those measures can contribute to the reduction of the urban violence. In fact, the
statistics show that placement is a widely applied measure in Brazil, however, with no
effective results in the indices of recidivism. Moreover, the comparison of the
placement rates among the states of the Federation denotes underlying discrepancies to
the criteria that seem to guide the judicial decision-making. At the same time, many
scientific studies show that most of the adolescents are involved in infractions, but just a
small number implies in violent acts, in a repeated way. In addition, it is argued here the
need of providing tools/means that allow us to identify, with greater precision, among
the placement adolescents, which ones effectively present serious problems and which
one of them the placement is, indeed, an indicated measure. The type and the intensity
of the measure must be criteriously analyzed, since evidences show that the application
of an inadequate measure, more or less severe than the necessities of the adolescent,
besides not contributing, can have negative effects, against expectations. To distinguish
correctly the offender adolescents whose behavior represents the presence of problems
in the psychosocial development, and denotes “engagement offense”, from the ones
who commit transitory acts, characterized by the developmental phase, it is crucial for
the orientation of public policy in the area. Besides the benefits to the adolescents
themselves, from the institutional point of view, such distinction will certainly generate
savings on the costs of placement (number of vacancies in the socio-educational
system) and an increase in the quality of the offered services. This understanding has
led countries that investigate the problem for a longer period, to reduce the discretion
provided to the Judiciary in the application of the socio-educational measures, basing
their decisions in systematized assessment tools. Those can: 1. indicate with a good
level of sensibility and specificity the necessity or not of applicating judicial character
measures, based on the evaluation on the level of recidivism offense risk starting from
the identification or not on the factors associated to the problem; 2. Support the
decision-making about the type and intensity of the most appropriated measure for each
case; 3. Pointing out aspects to be worked in the execution program of socio-
educational measure, concerning both, difficulties and psychosocial resources,
fundamental to the process of placement. Those means are anchored in a model called
Risk-Need-Responsivity. It’s believed that the Brazilian Juvenile Justice, of XXI
Century, can gradually incorporate the principles of this model, in order to make the
decision-making more consistent, the implementation and evaluation of individual
treatment plan foreseen in the National System of Socio-educational Care, including,
complementing the model of Restorative Justice.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 04
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 26
4
1 INTRODUÇÃO
que, por isso, deveria ocupar a posição central nas reflexões, concernindo ao tratamento
sociojurídico a eles dispensado.
Além da identificação e da descrição das trajetórias da conduta delituosa, o foco das
investigações implementadas nessa perspectiva teórico-metodológica é a identificação
das condições que sustentam uma trajetória persistente, com vistas à possibilidade de
predizer a emergência e/ou o agravamento desta, para os indivíduos expostos a tais
condições, em comparação a indivíduos da população em geral. Na terminologia da
área, tais condições são denominadas “fatores de risco”, sendo estes definidos por
Werner e Smith (1992) e Garmezy (1983, citado por MRAZEK; HAGGERTY, 1994)
como “características, variáveis ou eventos que, se presentes para um dado indivíduo,
aumentam a probabilidade de ele desenvolver um problema, se comparado a outro da
população geral”.
A produção científica nessa linha conta com a colaboração de pesquisadores em
várias partes do mundo, o que concorre para que o conhecimento já produzido seja
suficientemente robusto, assentado em centenas de pesquisas, e tenha gerado certos
consensos. As investigações realizadas em países como a Inglaterra, o Canadá e os
Estados Unidos, por exemplo, verificaram que a “delinquência persistente” refere-se a
uma parcela reduzida de adolescentes, contando com cerca de 5% da população de
jovens apenas (ainda que, no Judiciário, tal subgrupo esteja quase sempre super-
representado), e os principais fatores de risco associados à persistência do
comportamento infracional são os mesmos, transcendendo as diferentes configurações
socioculturais.
Essa base tem possibilitado a elaboração de alguns modelos para orientar a
avaliação e o tratamento (acompanhamento) de adolescentes em conflito com a lei.
Neste trabalho destaca-se o modelo denominado de Risco-Necessidade-Responsividade
– RNR, proposto por Andrews e Bonta (1994/2010), considerando que o mesmo tem
sido amplamente utilizado na Justiça Juvenil, em diferentes países como Inglaterra, País
de Gales, várias partes dos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia, denotando sua
pertinência e aplicabilidade para além dos limites do país em que teve origem, o
Canadá.
Em síntese, o referido modelo foi proposto com o objetivo de auxiliar os operadores
do Direito na avaliação do risco de reincidência e das necessidades dos adolescentes,
com vistas a identificar o programa de tratamento (socioeducativo) mais adequado em
cada caso e a auxiliar na elaboração de um plano de intervenção ajustado. Ou seja, mais
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do que apontar o nível de risco, o modelo indica os fatores que, para um determinado
adolescente, sustentam a conduta infracional e devem ser o foco da intervenção. Com
relação ao fator responsividade, preconizado também no modelo, esse remete a
características de personalidade, habilidades e estilo de aprendizagem que devem ser
considerados, com vistas a maximizar a adesão ao programa e a favorecer as
aprendizagens (aquisições) que o adolescente deve fazer no contexto da intervenção.
Considera-se que tal modelo de avaliação e reabilitação harmoniza-se com as
diretrizes traçadas para área no ECA e está presente nas normativas internacionais que
preveem que as avaliações para as tomadas de decisão quanto às medidas
socioeducativas devem contemplar uma análise completa sobre o meio social, as
circunstâncias de vida do jovem e as condições em que ocorreu a prática da infração,
garantindo a satisfação de suas necessidades e a proteção de seus direitos básicos.
Também a Lei 12.594/2012 que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo (SINASE) estabelece normas para o fluxo de atendimento do
adolescente, autor de ato infracional, e reitera a necessidade da elaboração de um plano
individual de atendimento (PIA), pela instituição responsável pela execução das
medidas socioeducativas, como forma de garantir o atendimento das necessidades do
jovem, no âmbito da Justiça.
Assim, os apontamentos calcados numa produção científica de ponta, especializada
no fenômeno da prática de delitos na adolescência, não contradizem o marco jurídico
vigente no Brasil; pelo contrário, o endossam e dão sentido (orientação) a determinados
dispositivos contidos na lei.
Portanto, tendo como pano de fundo o panorama acima delineado, o presente
trabalho tem o objetivo de discutir sucintamente o conceito de “engajamento
infracional” e os modos de aferição do mesmo, bem como o de apresentar o modelo
RNR e defender sua utilidade como método auxiliar às avaliações para a tomada de
decisão à aplicação de medidas socioeducativas e à avaliação do PIA, previsto no
SINASE, situando-o, inclusive, como modelo complementar ao da Justiça Restaurativa.
A meta é fornecer subsídios para a reflexão dos operadores do Direito sobre a
importância de dispor de referências empiricamente fundamentadas à operacionalização
de determinados dispositivos da lei, bem como à realização das avaliações indicadas na
área do adolescente em conflito com a lei.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
Com vistas a aferir de forma mais precisa os níveis de risco, Andrews e Bonta
(1994/2010) indicam ainda a importância de considerar outros fatores, destacados na
literatura, que funcionam como moderadores dos efeitos dos fatores apontados, ou seja,
fatores correlacionados ao comportamento infracional, mas sem impacto direto sobre o
mesmo, sendo a sua ação, no tocante ao aumento da probabilidade do cometimento de
atos infracionais, dependente da interação com outros fatores. A título de exemplo, um
desses fatores é o nível socioeconômico. A característica de pertencer a uma família que
possui baixo status socioeconômico, não raro, implica em viver em regiões com altos
índices de criminalidade, favorecendo a exposição à violência, o que, em seu turno,
pode resultar em insensibilidade aos comportamentos agressivos e, em combinação com
adversidades no plano individual, familiar, escolar e na relação com pares, pode
aumentar a suscetibilidade para o crime (FERGUSSON; SWAIN-CAMPBELL;
HORWOOD, 2004; KIMONIS et al., 2008; MEIER et al., 2008). Outro fator
moderador que pode ser citado é a inteligência verbal que, em interação com a
adversidade familiar significativa, pode predizer o comportamento infracional de início
precoce (GIBSON; PIQUERO; TIBBETS, 2001; MC GLOIN; PRATT, 2003).
Com relação às necessidades criminogênicas, essas remetem aos fatores de risco
dinâmicos, entendidos aqui como os fatores passíveis de intervenção que, quando
modificados, estão associados a alterações na probabilidade de reincidência infracional,
ou seja, os fatores relacionados a atitudes e à orientação antissocial; associação com
pares envolvidos em atividades divergentes; padrão de personalidade antissocial;
problemas de supervisão, disciplina e relações afetivas na família; dificuldades no
ambiente escolar; tempo livre sem atividades de lazer estruturadas e abuso de álcool e
outras drogas.
Tendo por base apontamentos feitos por Andrews e Bonta (1994/2010), ressalta-se
que outras necessidades, não criminogênicas, também são dinâmicas; porém, sua
associação com a conduta infracional é fraca ou nula. Nessa perspectiva teórica, e em
consonância com os princípios de proteção integral da juventude, considera-se que os
adolescentes em conflito com a lei também têm direito a uma alta qualidade de serviço
voltado à satisfação dessas outras necessidades (as não criminogênicas), porém esse
atendimento não deve ser o foco de um programa de reabilitação (socioeducativo). Essa
distinção é fundamental quando se pensa em uma intervenção que decorre da aplicação
de uma medida de responsabilização judicial. O serviço oferecido nesse contexto deve
ter como objetivo reduzir a probabilidade de reincidência e, nesse sentido, a intervenção
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viver em locais com maior propensão ao crime, ter atitudes e orientações antissociais ou
fatores de personalidade, familiares, escolares e de trabalho, associados ao cometimento
de delitos. Para esses autores, embora o processo restaurativo seja muito adequado para
aumentar o sentimento de satisfação da vítima e do ofensor, é o processo de reabilitação
que tem real impacto na redução da probabilidade de reincidência do jovem.
Esse mesmo raciocínio é defendido por Bonta (2006). O autor ressalta que, nos
casos mais sérios, os problemas que o ofensor apresenta precisam de tratamento e
sugere que os profissionais que trabalham com a justiça restaurativa estejam treinados
para saber os tipos de intervenção mais efetivos ao adolescente, autor de ato infracional,
propondo, para essa tarefa, que se lance mão de instrumentos de avaliação capazes de
identificar as necessidades de atendimento em cada caso. Cabe esclarecer que a
capacidade de considerar a “vítima” e colocar em posição de levar em conta sua
“satisfação”, vista pelo prisma do modelo RNR, é um aspecto compreendido no fator de
responsividade, ou seja, um aspecto do processo de reabilitação que, apesar de não estar
relacionado diretamente à atividade criminal, seria relevante para a gestão do caso, uma
vez que favorece o comprometimento do jovem com as medidas propostas e assumidas
por ele, durante o acompanhamento socioeducativo.
A bem da verdade, tal proposta está perfeitamente em acordo com a essência dos
princípios da justiça restaurativa, pois essa, a rigor, prevê que o atendimento às
necessidades do adolescente, autor da infração, implica também em benefício para a
vítima e para a comunidade como um todo.
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incontornável o fato de o programa ter de focar os fatores de risco que estão associados
à persistência infracional, considerando que são eles, segundo as inúmeras pesquisas
realizadas, os responsáveis por sustentar a conduta no tempo.
Entende-se que tais dados podem contribuir para a identificação clara da relação
que deve existir entre as necessidades criminogênicas do adolescente e o atendimento
destas pelo plano de atendimento proposto pelo serviço.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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