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IDENTIFICAÇÃO
Curso:
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2. RESUMO DO PROJETO (ATÉ 1.200 CARACTERES)
2
Justiça Restaurativa para emponderar as partes envolvidas, promover
promover responsabilidades,
prevenir crimes e diminuir o encarceramento. Explicita e implicitamente, a projetam
como uma “luz no fim do túnel”, diante do fracasso do sistema penal. Nesse contexto,
expectativas e mitos são criados ao seu respeito.
Ainda que a gravidade dos crimes esteja associada a intensidade dos danos e ao
grau de reprovação moral, sua classificação (leve, médio e grave) pode variar pessoal,
cultural e historicamente, e não está isenta de críticas. Esta
Esta classificação tem
consequências diretas para as pessoas acusadas e condenadas, em face de um crime.
Além de repercutir no tempo de privação da liberdade, no prolongamento do sofrimento
e na estigmatização daqueles que cumprem ou cumpriram uma pena, a gravidade
gravidade de
uma conduta pode favorecer ou impedir a inclusão nos programas restaurativos.
Exemplo disso é a restrição – no Brasil e no mundo – da Justiça Restaurativa aos crimes
considerados leves. Em razão do seu potencial para promover o desencarcerament
desencarceramento, e
por ser equivocadamente compreendida como uma maneira dos ofensores se
beneficiarem ou evitarem o processo penal, o modelo restaurativo não é imediatamente
aceito como resposta a todos os crimes, ou como solução para todas as vítimas e
infratores (TIVERON, 2017).
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Justiça Restaurativa para emponderar as partes envolvidas, promover
promover responsabilidades,
prevenir crimes e diminuir o encarceramento. Explicita e implicitamente, a projetam
como uma “luz no fim do túnel”, diante do fracasso do sistema penal. Nesse contexto,
expectativas e mitos são criados ao seu respeito.
Ainda que a gravidade dos crimes esteja associada a intensidade dos danos e ao
grau de reprovação moral, sua classificação (leve, médio e grave) pode variar pessoal,
cultural e historicamente, e não está isenta de críticas. Esta
Esta classificação tem
consequências diretas para as pessoas acusadas e condenadas, em face de um crime.
Além de repercutir no tempo de privação da liberdade, no prolongamento do sofrimento
e na estigmatização daqueles que cumprem ou cumpriram uma pena, a gravidade
gravidade de
uma conduta pode favorecer ou impedir a inclusão nos programas restaurativos.
Exemplo disso é a restrição – no Brasil e no mundo – da Justiça Restaurativa aos crimes
considerados leves. Em razão do seu potencial para promover o desencarcerament
desencarceramento, e
por ser equivocadamente compreendida como uma maneira dos ofensores se
beneficiarem ou evitarem o processo penal, o modelo restaurativo não é imediatamente
aceito como resposta a todos os crimes, ou como solução para todas as vítimas e
infratores (TIVERON, 2017).
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preparados para trabalhar com crimes graves; outros, que não chegaram ao
Abolicionismo Penal.. Ou, ainda, que “não há ‘como aplicar técnicas de mediação nas
questões de gênero, onde há uma desigualdade nas relações’”. Em outra direção,
direção, alguns
magistrados defendem o uso da Justiça Restaurativa para todas as condutas
(ANDRADE,, 2018, p. 148). A recusa das vítimas em participar de encontros
restaurativos, oferece indicações importantes para a compreensão dos motivos pelos
quais muitas pessoas não admitem ou resistem à adoção da Justiça Restaurativa nos
crimes graves.
para crimes cuja pena máxima seja de seis anos de prisão, para todos
os delitos culposos e para as contravenções. Entretanto, algumas leis
deste país ressalvam a possibilidade de aplicação da mediação penal
em crimes com penas maiores, após a condenacondenação
ção pelo sistema de
justiça criminal. Neste país, independentemente da gravidade da pena,
há ressalvas à aplicação da justiça restaurativa para crimes em que as
vítimas forem menores de idade, crimes cometidos por funcionários
públicos no exercício da funç
função,
ão, crimes dolosos contra a vida e contra
a integridade sexual ou roubo (ARGENTINA, 2005, p. 01). 1).
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anos ou que seja aplicável processo sumário ou sumaríssimo
(PORTUGAL, 2007, p. 1) (TIVERON, 2017, p.359).
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O Código de Processo Penal apresenta diversas previsões neste sentido: artigos 10, 17, 28, 42 e 576.
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valores que são buscados. Os primeiros vêem o encontro, entre vítima e o ofensor, como
central, enquanto os teóricos baseados no resultado, a exemplo de Howard Zehr, focam
na reparação do dano. “Enquanto alguns puristas podem insistir em características
carac
particulares, muitos teóricos vêem a justiça como um continuum, com a maioria dos
programas exibindo graus variados de processos e valores restaurativos” 2. Para que os
programas sejam ampliados no sistema de justiça criminal
riminal e possam impactar n
no
encarceramento, é necessária uma concepção ampla e flexível de Justiça Restaurativa.
Isso exige, entre outras tarefas, um redimensionamento do papel da vítima (LANNI,
2021, p.641).
A fim de compreender por que a Justiça Restaurativa não contribui para a redução do
encarceramento
ceramento no Brasil, a pesquisa analisará o uso de abordagens restaurativas nos
delitos graves, a partir das experiências piloto conduzidas pelo Poder Judiciário
brasileiro (Objetivo geral).
2
“While some purists may insist on particular features, many theorists view restorative justice as a
continuum, with most programs exhibiting varying degrees of restorative process and values” (LANNI,
2021, p.641).
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universo. Os efeitos colaterais da punição – estresse; raiva; rancor; ódio; baixa
autoestima; retraimento; apatia; ansiedade; depressão; inabilidade de confiar nos outros;
dificuldade de se relacionar e de tomar decisões;
decisões; anestesia emocional; impulsividade;
desesperança; despreparo
paro para a reintegração social etc – impossibilitam um presente e
um futuro melhor para os apenados e para a própria sociedade. Mesmo fracassada, a
prisão continua sendo “aposta” e a “esperança” de
d “ordem” e “segurança”.
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Entre os significados da palavra “tabu” observam
observam-see os seguintes: proibição, receio, impedimento,
censura, interdição, desautorização, banimento, vedação, restrição etc.
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A insatisfação com as políticas criminais de drogas e com a atuação do sistema
de justiça criminal, é acompanhada por proposições políticas que caminham em várias
direções, por vezes opostas. Uma parte destas proposições defende o recrudescimento
penal e a outra parte defende a eliminação ou redução do controle penal. No que tange a
estas últimas proposições, observa-se
observa o apoio de intelectuais, de movimentos sociais, de
entidades de classes e de partidos políticos, a reformas no sistema de justiça criminal
que priorizem abordagens e medidas não privativas da liberdade. Todavia, a maioria das
propostas de reforma oferece pouca esperança de diminuição significativa
significa do
encarceramento em massa (LANNI, 2021), uma vez que elas tendem a se restringir aos
crimes considerados leves. Com efeito, qualquer reforma – que tenha como objetivo
impactar o encarceramento – deverá incluir os crimes considerados graves, como os
crimes
rimes violentos e os crimes de drogas. Como
Como demonstrado acima, o crime de tráfico de
drogas é responsável por 30,28
8% da população prisional.
4
“Restorative justice is an approach to achieving justice that involves, to the extent possible, those who
have a stake in the specificc offense or harm to collectively identify and address harms, needs, and
obligations, in order to heal and put things as right as possible” (ZEHR, 2014, p.33).
9
reintegração e evitam ou reduzem o encarceramento5 (LANNI, 2021,
p.637)
p.637).
Nos últimos anos, a justiça restaurativa tem sido cada vez mais discutida
como parte da reforma da justiça criminal. Entre 2010 e 2015, quinze estados
aprovara
aprovaramm leis de apoio à justiça restaurativa, embora essa legislação pouco
tenha feito para mudar seu foco em delitos menores. ‘Mas os defensores da
reforma estão cada vez mais procurando a justiça restaurativa como parte da
resposta ao encarceramento em massa. Michelle Alexander,, autora de The
New Jim Crow, endossou o uso da justiça restaurativa para crimes violentos
em um recente editorial do New York Times. Times.’’ E os protestos de George
Floyd revelaram amplo apoio a um repensar significativo do policiamento e
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do processo
rocesso criminal (LANNI, 2021, p.638).
5
“Restorative programs can be used as a form ofdiversion from the criminal process, as an alternative
alte
form of sentencing, or, in more serious cases, as a way to reduce the criminal sentence. Proponents argue
that restorative processes offer victims more satisfaction than the criminal process and do a better job of
holding the offender accountable w while
hile promoting reintegration and avoiding or reducing incarceration”
incarcera
(LANNI, 2021, p.637).
6
“In recent years, restorative justice has been increasingly discussed as part ooff criminal justice reform.
Between 2010 and 2015, fifteen statespassed laws supporting restorative justice, though this legislation
did little to change its focus on minor offenses. But reform advocates are increasingly looking to
restorative justice as part
rt of the answer to mass incarceration. Michelle Alexander, the author of The New
Jim Crow, hás endorsed the use of restorative justice for violent crime in a recent New York Times
editorial. And the George Floyd protests revealed broadranging support for a significant rethinking of
policing and the criminal Process” (LANNI, 2021, p.638).
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Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça e o Programa das Nações Unidas para o
desenvolvimento (PNUD). Ao longo destes 17 anos, a Justiça
iça Restaurativa se expandiu
por todo o país e é adotada por diversos órgãos do sistema de justiça criminal, seja na
fase pré-processual,
processual, processual, de execução penal e de execução das medidas sócio
educativas. Reconhecida e incentivada formalmente pelo Conselho
Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), através de suas resoluções, a Justiça Restaurativa se apresenta como uma
alternativa para muitos
itos dos dilemas e desafios do sistema de justiça.
j
Para dar conta dos objetivos da pesquisa será realizada uma pesquisa
bibliográfica. A complexidade da questão das drogas demanda esforços interpretativos
que não se restrinjam à análise jurídica da legislação. De natureza
natureza interdisciplinar, as
análises teóricas contemplam autores dos campos de formação do coordenador desta
pesquisa,, Ciências Sociais e Direito; em especial, da Criminologia Crítica. Esta última
se caracteriza “por um campo analítico complexo”, “integrado por um pluralis
pluralismo
metodológico” (ANDRADE), 2012, p. 95) “cuja preocupação central de estudo é o
desvio (im)punível e as respostas formais e informais elaboradas para o seu controle”
(CARVALHO, 2013, p. 46). Nesse sentido, busca-se
se problematizar a inclusão dos
delitos graves na Justiça Restaurativa judicial e o seu impacto no encarceramento.
11
ideologias,
eologias, seus valores, suas práticas, seus destinatários e suas contradições. Permite,
portanto, compreender com mais propriedade a relação entre o Direito e a realidade
(COSTA, 2014). No entanto, como esclarece a antropóloga brasileira Rebeca Lemos
Igreja,
a, “a análise do Direito como objeto de uma pesquisa empírica é algo recente e
ainda muito pouco consolidada na formação acadêmica das Faculdades de Direito”. Os
cursos de graduação e muitos de pós-graduação
pós graduação priorizam uma formação dogmática,
técnica e instrumental,
rumental, afastada do universo da pesquisa empírica. Esta perspectiva
tende a desconsiderar as pesquisas empíricas das Ciências Sociais que demonstram que
o Direito, “longe de ser uma entidade abstrata”, é produto de um contexto histórico,
social e cultural;
l; reflete as relações de poder, de hierarquias e de processos sociais e
culturais vigentes (IGREJA, 2017, p.11).
12
pesquisa do CNJ (ANDRADE, 2018)7. Os dados e documentos apresentados pelos
profissionais serão incorporados e analisados.
Espera-se,
se, com o trabalho, contribuir para a discussão e o debate acadêmico,
político e jurídico nacional, sobre a necessidade de expansão da Justiça
Justiça Restaurativa nos
crimes considerados como graves, a exemplo do tráfico de drogas. O sistema prisional
brasileiro ocupa o 3º no ranking internacional,
internacional perdendo para os Estados Unidos e a
7
Segundo o Relatório do CNJ a “maioria dos programas pesquisados dispunha de pouco ou quase
nenhum dado quantitativo sistematizado” ((ANDRADE, 2018, p.50).
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China.. São mais de 900 mil pessoas encarceradas. O crime de tráfico de drogas é
responsável por 30,28% da população prisional8. Como destacado anteriormente, boa parte
das propostas de reforma oferece pouca esperança de diminuição significativa
significa do
encarceramento em massa, uma vez que elas tendem a se limitar aos crimes considerados
leves. Assim, qualquer reforma – que tenha como objetivo impactar o encarceramento –
deverá incluir os crimes considerados graves, como os crimes
crimes violentos e os crimes de
drogas. Discutir seriamente sobre estes aspectos, a luz da ciência, é um passo essencial
para busca de alternativas ao encarceramento.
Existem
xistem razões, fundamentos teóricos e proposições para a construção de um
modelo de justiça verdadeiramente restaurativo,
restaurativo que inclua os crimes considerados
graves. Décadas de repressão, de violência, de mortes
mortes e de encarceramento são mais do
que suficientes para concluir que as políticas criminais de drogas fracassaram em todos
os seus objetivos, e de que outras políticas e abordagens são necessárias,
necessárias urgentemente.
A vida de milhares de pessoas está ameaçada pela
pela manutenção da irracionalidade
punitiva. Dentro do marco legal vigente, a Justiça Restaurativa é talvez o que se tem de
melhor ou menos pior. Ainda que seja utilizada na esfera judicial,
judicial a fatos já ocorridos, a
experiência brasileira tem indicado, conforme
conforme as pesquisas existentes, a satisfação das
vítimas, dos ofensores, da comunidade e dos próprios atores do sistema de justiça
criminal (ANDRADE, 2018). Aprimorá-la
Aprimorá e expandi-la,
la, dentro e fora dos tribunais, não
é uma questão de escolha, mas uma questão m
moral, ética e de justiça.
8
Dados do Departamento Penitenciário
Penitenciário, até julho de 2021. Estão
tão disponíveis no
site:https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMzRlNjZhZDAtMGJjMi00NzE0LTllMmUtYWY1NTAxMj
https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMzRlNjZhZDAtMGJjMi00NzE0LTllMmUtYWY1NTAxMj
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Acesso em: 20 de fev.2022.
14
Voluntários (se houverem): Kariny Anselmo Souza (Graduanda).
9 – CRONOGRAMA
MESES
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
1º 2º 3º 4º 5º 6º
Leitura, fichamentos
mentos e discussão dos x
textos.
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________. Pelas mãos da criminologia: o controle penal para além da (des) ilusão. Rio
de Janeiro: Revan; 2ª Ed, 2017.
CARVALHO, Robson Augusto Mata de. Cotidiano encarcerado: o tempo como pena
e o trabalho como “prêmio”. São Paulo: Conceito Editorial, 2011.
2011
______. Los conflictos como pertenencia. En: De los delitos y de las víctimas.
Editorial Ad-Hoc
Hoc S.R.L., Buenos Aires 1992, pág. 157-182.
157
______. Limites à dor: o papel da punição na política criminal. 1. Ed. Belo Horizonte,
São Paulo: D’Plácido, 2020.
16
LANNI, Adriann. Taking Restorative Justice Seriously. Buffalo Law Review,
Review v. 69,
n. 3, pág. 635, 2021.
PRANIS, Kay; STUART, Barry; WEDGE, Mark. Peacemaking circles: from crime to
community. St. Paul: Living Justice Press, 2003.
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