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OAT 1

Disciplina: Psicologia Jurídica


Docente: Ísis Franco de Carvalho
Discentes: Allana Brito Amaral, Ana Maria Silva Nascimento, Bruna Ambrozi Palma
Fernandes, Eldjara Larissa Simão Cachina Caldas, Ivonete Soares, Janete de
Andrade, Leila Faustino, Leila Sacramento dos Reis Cruz, Pedro Cordier e Victor
Emanuel Ferreira de Jesus.

RESUMO - CAPÍTULO 3
OS MOMENTOS DE APLICAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA, SUAS
PRÁTICAS E ALGUMAS EXPERIÊNCIAS

REFERÊNCIA: PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. Justiça restaurativa: da


teoria à prática. 1ª Edição - São Paulo: IBCCRIM, 2009.

3.1) Momentos de aplicação das práticas restaurativas


A retroatividade implica a ação ou condição de modificar o que já foi realizado,
isto é, conferir efeitos pretéritos aos atos praticados. Essa nova visão de justiça propõe
um novo paradigma na definição de crime e dos objetivos da justiça. Ainda não há
nenhum sistema de justiça inteiramente restaurativo, mas existem práticas no
processo criminal que contribui para aplicação dessas práticas restaurativas.
As ações retroativas podem acontecer em quatro estágios do procedimento do
sistema de justiça criminal sendo elas, a fase policial, a pré-acusação. O
encaminhamento pode ser feito tanto pela polícia quanto pelo Ministério
Público. Nesta etapa muitas críticas foram feitas, porque os policiais utilizam o
encaminhamento dos casos como um poder discricionário, ou seja, a possibilidade de
escolher a solução que melhor satisfaça o interesse público em questão.
A segunda fase, após-acusação, é feita pelo ministério público. A terceira etapa
é a do juízo, tanto antes do julgamento quanto ao tempo da sentença. O
encaminhamento é feito pelo Tribunal. E por último a fase da punição, como
alternativa ao cárcere, como parte dele, ou somada à pena de prisão. O
encaminhamento é feito pelo próprio órgão prisional. Atentando se que esse programa
é feito durante o cumprimento da pena do condenado.
A análise dos momentos em que as práticas restaurativas vêm sendo aplicadas
no âmbito criminal, já que ainda não há nenhum sistema de justiça inteiramente
restaurativo, mas apenas sistemas de justiça criminal permeados por práticas ora
inseridas no procedimento criminal, ora levadas a cabo fora dele, mas que surtem
efeitos no processo.
A derivação de casos a programas restaurativos pode acontecer em pelo
menos quatro estágios do procedimento do sistema de justiça criminal:
• fase policial, ou seja, pré-acusação. O encaminhamento pode ser feito tanto
pela polícia quanto pelo Ministério Público.
• fase pós-acusação, mas, usualmente, antes do processo. encaminhamento é
feito pelo Ministério Público;
• etapa do juízo, tanto antes do julgamento quanto ao tempo da sentença. O
encaminhamento é feito pelo Tribunal;
• fase da punição, como alternativa ao cárcere, como parte dele, ou somada à
pena de prisão.
As legislações não possuem critérios iguais para a derivação dos casos aos
programas de mediação. Algumas legislações são de caráter permissivo, permitindo
que o procurador ou a polícia tenha discricionariedade para desviar o infrator do
processo tradicional. Nos casos em que a determinação legal é coercitiva, ela obriga
o encaminhamento dos casos como condição prévia às decisões de prosseguimento
ou extinção do procedimento penal.

3.2) Tipos de programas ou práticas restaurativas (e algumas experiências)


Denomina-se "conferências restaurativas" onde se faz necessário colocar as
partes afetadas frente a frente para falarem sobre os danos decorrentes do delito sem
muita adversidade e decidir assim o que deve ser resolvido. Segundo autor, tais
processo visam responsabilizar o ofensor por seu ato e dar oportunidade à vítima e a
comunidade afetada debatendo o impacto do delito com o responsável, lembrando
que não se tratará aqui de todas as práticas existentes, só entre as mais conhecidas
e utilizadas. Uma das práticas mais utilizadas é a mediação. A Exemplo dos EUA,
Canadá e Europa, onde inicia-se prática margina com recurso (comissões de vizinhos)
se encarregam de solucionar delitos de pequena gravidade sem vítimas com base na
qualidade de vida da comunidade e com isso observa-se desaparecimento das
diferenças nas práticas de processos restaurados. Pois bem, sabe-se que esse
programa atinge nova visão multimetodológica com uma forma renovadora de prática
restauradora seguindo a demanda do caso no contexto cultural, buscando o diálogo,
com soluções sem violência na adversidade facilitando testemunho de outros dando
oportunidades de transformação na conexão humana e assim a Justiça Restaurativa
em sua prática visa a mediação sem deixar de lado os princípios e valores
restaurativos.

3.2.1) Mediação entre vítima e ofensor (VOM – victim-offender mediation).


A mediação é uma das práticas restaurativas mais utilizadas, e que possui mais
tempo de aplicação, sendo entendida como um recurso importante no sistema judicial.
Embora seja mais aplicada na resolução de pequenos delitos, atualmente tem-se a
sua utilização para delitos mais sérios e violentos. No geral, essa prática consiste no
encontro entre vítima e ofensor com o intermédio de um mediador, mas existem alguns
outros modelos variantes, com a presença de amigos ou familiares das partes ou o
encontro separado do mediador com as partes.
Esse processo objetiva viabilizar o diálogo e estabelecer um acordo reparador,
bem como entender causas e consequências do delito, uma vez que é garantido um
ambiente seguro e estruturado, além de um encontro individual entre o mediador e
cada uma das partes, onde são expostos, para o ofensor, os impactos
biopsicossociais sofridos pela vítima. Enquanto a vítima tem a oportunidade de
entender o que motivou e como ocorreu o delito. Com isso, pode-se alcançar também
o objetivo secundário da mediação, a dissuasão; a superação da dicotomia vítima-
ofensor e estereótipos envolvidos.
Segundo Schiff, pesquisas americanas, canadenses e europeias mostraram
que tanto vítimas quanto ofensores que passaram por processos de mediação
mostraram-se mais satisfeitos com o processo e com o resultado do que outros que
passaram pelo processo tradicional. Constatou-se também que as vítimas que
estiveram frente a frente com seu ofensor, mesmo que algumas tenham relatado fazer
em princípio, costumam temer menos a revitimização e o recebimento da reparação.
Com relação aos ofensores, os que completaram o processo restaurativo costumam
cumprir as obrigações de restituição, possuindo, igualmente, um menor índice de
reincidência quando comparados aos infratores que passaram pelo processo penal
tradicional.
Para melhor avaliar os resultados que têm sido obtidos com a aplicação da
mediação no âmbito penal, tem sido bastante explicativo o "Programa de mediación y
reparación en la jurisdicción penal" do governo da Catalunha, o qual atua na justiça
penal de adultos desde 1998, foi iniciado pelo departamento de justiça (atual
departamento de justiça e interior) do governo da Catalunha, é considerado uma
ferramenta eficaz para abordagem de conflitos junto às partes.

3.2.1.1) A experiência catalã na justiça penal de adultos


Programa de mediação e reparação, iniciado no Governo da Catalunha
Espanha atua na justiça penal de adultos desde 1998, possibilitando a mediação
extrajudicial, substituindo a pena privativa de liberdade de até dois anos em caso de
réu primário, por multa ou trabalhos em benefícios à comunidade, podendo ser
revogada suspensão pelo não cumprimento civil no prazo, em execução penal e
reparação pode acarretar benefícios ao condenado, acesso a liberdade condicional e
concessão de indulto.
O Código Penal considera alguns delitos que possuem circunstâncias
atenuantes como: ordenação do território, o patrimônio histórico, contra recursos
naturais e meio ambiente.
Produz escusa absolutória, além da reparação pecuniária, o Código Penal
espanhol faz publicação da sentença condenatória; delitos de injúria e calúnia, delitos
contra a propriedade intelectual e industrial e a demolição de obras e delitos sobre
ordenação do território.
O código apenas não estabelece quais os delitos são suscetíveis a reparação,
avalia e valida aplicação mediadora; necessidade da vítima, infração e características
do conflito.
Este projeto segue vigorando e é considerado ferramenta eficaz para abordagem de
conflitos entre as partes. Dentre as diversas avaliações sobre o programa destaca-se
uma pesquisa de novembro de 1998 a junho de 2002, com base nos dados coletados,
foi considerada como bem sucedida para as partes envolvidas.

3.2.2) Conferências de família (FGC – family group conferencing).


As conferências de família foram adotadas pela legislação neozelandesa para
os casos de jovens infratores no ano de 1989, o que fez deste país o primeiro a utilizar
oficialmente a justiça restaurativa e também esta prática de maneira mais sistemática
e como primeiro recurso para os delitos cometidos por menores. A mediação seja
aplicada em diversos estágios do processo criminal, sendo antes da ação penal, ou
antes do processo e até mesmo depois da instrução e antes da sentença/ após a
sentença.
‘ O facilitador e cada uma das partes (que podem ser acompanhadas por suas
famílias), antes do encontro direto entre vítima e ofensor. O objetivo é fazer com que
o infrator reconheça o dano causado à vítima e aos demais e assume a
responsabilidade por seu comportamento.
Diversos países foram demonstrados êxito na utilização da prática restaurativa
e, principalmente na Nova Zelândia, a reincidência dos jovens foi menor, os processos
atendem melhor tanto a vítima quanto o infrator. A prática são os círculos que
começaram a ser aplicados por juízes no Canadá em 1991, e em 1995 já eram
utilizados nos EUA. Resolver problemas também da comunidade e com o intuito de
prover suporte de cuidado tanto para as vítimas quanto para os ofensores.

3.2.3) Círculos restaurativos


Sua utilização abrange delitos cometidos tanto por jovens quanto por adultos,
sendo também empregados para delitos graves, disputas da comunidade, em escolas
e casos envolvendo o bem-estar e proteção da criança. Utilizados também para outros
fins como para resolver um problema na comunidade, prover suporte e cuidado para
vítimas e ofensores que estiveram presos.
Podem ocorrer em diversas etapas do processo judicial criminal. Participam
dos círculos as partes diretamente envolvidas no conflito, vítima/infrator, respectivas
famílias, pessoas ligadas à vítima e ao infrator, bem como pessoas vinculadas ao
sistema de justiça criminal.
A atenção é voltada às necessidades das vítimas, comunidade e ofensores,
desde uma perspectiva holística e integradora. O objetivo é promover a cura para
todas as partes afetadas, oferecendo ao ofensor a possibilidade de arrepender-se,
empoderar as vítimas e membros da comunidade para expressar-se francamente e
desenvolver capacidade para os próprios integrantes resolverem os seus conflitos.
Investigações feitas através de entrevista com participantes, demonstram que 5 em 6
ofensores sentiram-se satisfeitos com a experiência, tendo sido apoiados pela
comunidade e recebido sua confiança. A comunidade relata ter percebido efeitos
positivos, e experimentarem forte impacto com o processo.

3.2.3.1) A experiência de Porto Alegre na justiça penal de menores


As práticas restaurativas de atuação complementar ao sistema da justiça
criminal se fizeram presente em dois momentos segundo as pesquisas:
I. Logo ao ingressar no sistema de justiça criminal, é feita uma audiência judicial
no projeto Justiça Instantânea (JIN) que atua em conjunto com o Centro Integrado de
Atendimento da Criança e do Adolescente (CIACA), momento que o jovem é
encaminhado para a central de práticas Restaurativas.
Nas maiores partes das vezes, isto ocorre antes mesmo de qualquer definição
sobre a medida sócio- educativa que eventualmente será aplicada.se aplicação da
prática restaurativa for considerada suficiente para resolver a situação, não será
aplicada medida sócio educativa. Caso contrário, a justiça restaurativa atuará de
forma complementar ao processo tradicional, durante o processo de conhecimento ou
durante a execução de medida sócio educativa.
II. Ocorre durante o atendimento da medida sócio educativa, neste momento,
atuando conjuntamente FASE e FaSC/PEMSE, elaboram um plano de atendimento
ao adolescente que cumpre medida em privação de liberdade ou meio aberto.
A particularidade deste programa reside na aplicação da justiça restaurativa ao
tempo de da execução da medida sócio educativa, segundo o coordenador do
programa busca-se qualificação da execução das medidas sócio educativas Struktur
um novo sentido ético nas proposições do atendimento a partir dos princípios da
justiça restaurativa.
O texto aborda a análise de um programa restaurativo destinado a
adolescentes infratores, com foco na reincidência após a participação. Os resultados
revelam que a maioria dos reincidentes não completou o processo restaurativo,
enquanto apenas 23% dos participantes que o fizeram reincidiram.
Destaca-se também o alto índice de sucesso na obtenção de acordo
restaurativo, alcançando 92,7% dos casos, dos quais 75,6% foram efetivamente
cumpridos. Além disso, a satisfação dos envolvidos, tanto adolescentes quanto
familiares, foi significativa, atingindo 80%.
No entanto, surgem preocupações em relação à possível sobreposição da
justiça restaurativa à tradicional, o que pode resultar em revitimização e prejudicar o
diálogo devido ao distanciamento temporal entre os eventos. A instrumentalização da
justiça restaurativa, transformando-a em mais um instrumento do sistema criminal,
também é apontada como um desafio a ser enfrentado.
Diante disso, destaca-se a importância de implementar a justiça restaurativa
precocemente, a fim de maximizar seu potencial transformador, embora haja
reconhecimento das dificuldades inerentes à sua adoção em nível nacional.

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