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Abstract: This article aims to analyze and understand the assumptions and the concept of
Restorative Justice as an instrument for re-socializing the convict. Today, the State’s
“inefficiency” is notorious in promoting the rehabilitation of the criminal. A parallel is made
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between traditional justice and restorative justice, highlighting the differences between
them. Subsequently, it seeks to demonstrate how this restorative method can be performed
based on an understanding of the convict’s resocialization tool, explaining its guiding
principles. Thus, the study now presented demonstrates that Restorative Justice can
contribute to the awareness of the active subject (the one who committed the crime) not
merely with the crime, but also through its effects, through the Apac method, enabling a
prison ideal immersed in the dialogue and reducing prison recidivism. Finally, it seeks to
identify its applicability in the criminal law enforcement phase.
INTRODUÇÃO
O modelo de política criminal adotado pela justiça penal no Brasil, pautado na abordagem
punitiva, mostra-se incapaz de corresponder às suas expectativas no âmbito da reabilitação
e prevenção de condutas criminosas, pois, embora o princípio da dignidade da pessoa
humana seja princípio expresso, constatamos, de várias formas, que o próprio Estado viola,
visto que, o que deveria ser o maior garantidor de seu cumprimento, na verdade torna-se
seu maior transgressor. Em um sistema prisional com falência anunciada, observamos cada
vez mais a incapacidade do Estado de responder ao crime de forma positiva e eficaz.
Diante disso, o Estado vem ampliando o alcance do sistema penal com decisões de caráter
emergencial, por vezes equivocadas, a exemplo da crescente utilização das ações de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO), demonstrando forte tendência a um estado de exceção
permanente. Em contraponto com todo esse cenário temos a justiça restaurativa, que adota
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uma abordagem que não seja a da culpabilização, mas a possibilidade de um encontro entre
as pessoas que foram atingidas, direta ou indiretamente, pela situação de dano,
proporcionando assim uma reflexão sobre o conflito.
A justiça restaurativa, que teve sua prática iniciada na Nova Zelândia, vem se consolidando
nas últimas décadas em vários lugares do mundo, a exemplo do Reino Unido, Estados
Unidos, Canadá, Colômbia e Brasil. Apresentando uma resposta inovadora e adequada às
necessidades das vítimas, da comunidade e dos autores do delito, este método analisa o
crime como uma violação de pessoas e relacionamentos interpessoais, e não somente ao
Estado, – que resulta para o infrator apenas a obrigação de reparar aquele dano.
Este estudo tem por objetivo demonstrar a eficácia da justiça restaurativa como ferramenta
para solução de conflitos no âmbito penal, com vistas à diminuição da política de
encarceramento em massa, através da metodologia utilizada pelas Associações de Proteção
e Assistência aos Condenados (Apacs). Pretende, ainda, mostrar como a valorização do
indivíduo apenado, bem como o oferecimento de plenas condições de cumprimento da
pena sem a perda da dignidade, ajuda na ressocialização destes e diminui as chances de
retorno ao cárcere.
Para tanto, foi utilizado o método de revisão bibliográfica, com abordagem indutiva para as
conclusões do estudo. A pesquisa está dividida em cinco capítulos, além da introdução: no
primeiro, tem-se um relato histórico dos movimentos que embasam a justiça restaurativa,
sua origem e seu processo de consolidação; no segundo, traz-se a justiça restaurativa para o
âmbito do Brasil, explanando como a manutenção desta característica pode contribuir para
a extensão da rede de controle penal; o terceiro capítulo detalha a justiça restaurativa como
um método original e novo modelo de resposta ao delito; o quarto faz um apanhado da
realidade prisional no Brasil, bem como a violação dos direitos do apenado; o quinto
capítulo explana a metodologia APAC, quando esta surgiu, quais são os seus objetivos,
propósitos e seus aspectos; e, por fim, o sexto capítulo apresenta o método APAC à luz da
Lei de Execução Penal.
O título Justiça Restaurativa é atribuído a Albert Eglash, que, em 1977 escreveu um artigo
denominado “Beyond Restitution: Creative Restitution”, o qual foi publicado por Joe Hudson
e Burt Gallaway, em sua obra “Restitution in Criminal Justice”. Em seu artigo, Eglash assevera Privacidade - Termos
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Cumpre-nos afirmar que não é fácil chegar a uma completa definição de justiça restaurativa.
Para Saliba (2009)3:
Pode-se asseverar que a Justiça Restaurativa entende o crime como uma ofensa que gera
danos às pessoas em concreto e aos relacionamentos. Sendo assim, a resposta que ela dá
passa sempre pelas perguntas: “Quem são as vítimas dessa ofensa? “ e “Como reparar os
danos?”. A resposta para tais questionamentos encontra fundamento na necessidade de que
os réus sejam integrados na reparação do dano, assumindo uma efetiva responsabilidade
para o alcance deste fim. Esse processo colaborativo envolve não apenas o réu, mas também
a vítima e a comunidade – que pode ser a família e amigos -, visando encontrar solução e
reparação do dano ao ofendido.
Nesse contexto, vale destacar a obra Vigiar e Punir (1975), de Michel Foucault4, pois nela, o
autor argumenta que a condenação e a punição têm a intenção apenas de conter a
criminalidade e garantir a efetivação das normas e leis. Ou seja, a crítica reside em afirmar
que é mais interessante para o Estado “vigiar e punir” do que buscar entender e, além disso,
trabalhar os reais problemas decorrentes do crime.
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À vista disso, é possível perceber que várias são as consequências que formatam a natureza
de crime, pois um conflito entre indivíduos pode resultar em graves danos à vítima, à
sociedade e ao próprio autor. Tais consequências violam o ordenamento jurídico e
produzem consequências em diversos âmbitos que não estão restritos ao ofensor, afetando
indiretamente a comunidade ou até mesmo a vítima. O Estado não oferece às partes a
opção de solucionar o problema, causando-lhes uma total impotência diante do modelo
utilizado pela justiça penal.
Essa metodologia pode ser aplicada em diferentes momentos do processo, mas, na verdade,
seu intuito não é modificar a sentença. Diversos casos são elucidados fora do tribunal,
através da conciliação, de modo que, a sentença passa a ser o acordo feito entre as partes
afetadas. Já alguns são resolvidos no tribunal, porém, ainda quando o juiz sentencia, as
partes têm a oportunidade de estabelecer, em conjunto, quais sanções sugerir ao
magistrado. Isso leva a pouco ou a nenhum interesse em retificar uma decisão na qual as
próprias partes puderam opinar.
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Nota-se que, na justiça tradicional, o foco não é o dano causado à vítima nem ao infrator e
muito menos à comunidade, e sim o mero descumprimento da lei para sua definição de
culpa, pois após a identificação do crime a atenção se volta ao passado, buscando refazer a
conduta delituosa.
Ainda na concepção de Zerh, no que tange à ofensa, a justiça comum a define com termos
técnicos e jurídicos, ao tempo em que, na restaurativa abrange todo seu contexto. As
necessidades e direitos da vítima que são ignorados do ponto de vista retributivo, se
transformam em preocupação central.
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A juíza Carline Regina Nunes, que atua na cidade de Santana, – considerada uma das mais
violentas do estado do Amapá -, defende a aplicação do método restaurativo, pois, segundo
ela, “É fácil julgar e dar sentenças. Mas, no dia seguinte, as pessoas têm problemas de novo
e voltam pedindo por mais justiça. É por isso que passei a valorizar a restauração e a
pacificação social.” (AGÊNCIA SENADO, 2019)
Embora não haja mudança legislativa, tem-se uma pequena janela em nosso sistema
jurídico, através do aperfeiçoamento da Constituição de 1988 e a Lei 9.099/95, que
propiciaram certa conformidade da metodologia restaurativa no sistema brasileiro.
Atualmente, a justiça restaurativa está expandida em todo território nacional, com muitos
resultados positivos percebidos de acordo com os desafios e expectativas de cada região do
Brasil. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) instituiu a Política Nacional de
Justiça Restaurativa, que regulamenta o mecanismo restaurativo no campo judicial.
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Segundo o CNJ, de trinta e um tribunais, apenas três não dispõem de iniciativa sobre justiça
restaurativa. Os Tribunais de Justiça dos estados do Pará, Ceará, Rio de Janeiro e Piauí, por
exemplo, já possuem projetos relacionados à essa metodologia. Em pesquisa realizada pelo
CNJ, a maior parte dos Tribunais entrevistados afirmou perceber que a justiça restaurativa
contribui para a garantia de direitos e promoção do trabalho. (BRASIL, 2020c)8.
A promotora de Justiça Silvia Canela, que também atua no estado do Amapá, relatou ao
Senado que, em consequência dos círculos de discussão que acontecem na comunidade,
dezenas de meninas pararam de se automutilar, a criminalidade da região diminuiu e a
escola local apontou o crescimento no desenvolvimento educacional. Destacou ainda que:
“precisamos ter um novo olhar para o ser humano, para o conflito e para a sociedade. A
justiça restaurativa traz o indivíduo à sua essência, seu eu verdadeiro, que é bom.” (AGÊNCIA
SENADO, 2019).
Sem tomar como objetivo da pena a realização de tratamento que faça do criminoso o não-
criminoso, cumpre que se ofereça ao condenado possibilidade para harmônica integração
social, viabilizando-se que aprenda valores positivos e eleja nova forma de vida,
principalmente por meio de assistência social e educacional, a ser obrigatoriamente
prestada ao preso. Tenta-se, na reforma Penal, uma postura realista, sem ortodoxias e
comprometimentos teóricos, instaurando-se um realismo humanista, que […] pretende fazer
da execução da pena a oportunidade para sugerir e suscitar valores, facilitando a resolução
de conflitos pessoais do condenado, mas sem a presunção de transformar cientificamente
sua personalidade.
A Lei de Execução Penal (LEP), de 1984, determina que o preso deve ficar em uma cela
individual, com área mínima de seis metros quadrados e que deve haver coerência entre a
estrutura do prédio e sua lotação. Porém, na prática, o que se observa é uma superlotação
dos presídios e isso inviabiliza qualquer tentativa de ressocialização do apenado.
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Além disso, verifica-se uma violação à dignidade da pessoa humana, pois a alimentação dos
presos também não é considerada adequada, não há a devida assistência médica,
psicológica, jurídica, nem itens de higiene necessários, levando a um total descaso com os
condenados, de tal maneira a impossibilitar a concretização do fundamento norteador da
prisão: combater a criminalidade.
Onde não houver respeito pela vida e pela integridade física e moral do ser humano, onde
as condições mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde não houver
limitação de poder, enfim, onde a liberdade e a autonomia, a igualdade e os direitos
fundamentais não forem reconhecidos e minimamente assegurados, não haverá espaço
para dignidade humana e a pessoa não passará de mero objeto de arbítrio e injustiças.
A prisão, com efeito, está em crise. Essa crise abrange também o objeto ressocializador da
pena privativa de liberdade, visto que grande parte dos questionamentos e críticas que se
são feitos à prisão não referem-se à impossibilidade relativa ou absoluta de obter algum
efeito positivo sobre o apenado. Inclusive os próprios detentos estão cônscios dessas
dificuldades do sistema prisional.
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De acordo com o conceito trazido por Capez (2005)14, a sanção penal caracteriza-se pelo
caráter opressivo aplicado pelo Estado, através da execução de uma sentença, em razão da
prática de um delito, com o objetivo de punir e ao mesmo tempo propiciar uma reinserção
social ao apenado evitar que esse indivíduo volte a cometer crimes.
Mas como efetivar os direitos do apenado se nem a sua integridade física é mantida? De
acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público15, em 2019, 238 presos foram
mortos dentro das penitenciárias de todo Brasil. Em presídios de todas as regiões houveram
91 movimentos coletivos (rebeliões) para subverter a ordem ou a disciplina. Na região
Nordeste, por exemplo, apenas 26,65% dos presídios têm oficinas de trabalho. Em metade
dos estabelecimentos do país não há assistência educacional.
A justiça restaurativa seria, portanto, uma saída eficaz para tantas mazelas do sistema
prisional em nosso país, visto que, seu objetivo é reparar o dano causado à vítima por um
viés que não seja a justiça criminal e sim o diálogo entre os envolvidos. Embora seja uma
alternativa minimalista, deve sim ser devidamente fiscalizada pelos entes competentes para
que, sua aplicabilidade aconteça realmente em função da atividade restauradora.
Toda política criminal que tenha como objetivo reduzir a criminalidade deve buscar meios
para que as pessoas não tenham estímulos para delinquir novamente. Nesse sentido,
alguém que eventualmente tenha infringido a lei penal dificilmente será convencido pelo
Estado a deixar as atividades criminosas se a ele não for mostrado algum caminho que traga
mais benefícios que o crime. Samuel Miranda Colares16 (2016) diz, em palavras mais
simples: se o apenado, ao sair da penitenciária, não encontrar benefício na ressocialização,
serão grandes as chances do mesmo voltar a delinquir.
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Uma das diferenças entre a Apac e o sistema carcerário comum é que, na primeira, os presos
(chamados de recuperandos) são corresponsáveis pela própria recuperação e recebem da
comunidade uma assistência médica, psicológica, espiritual e jurídica, enquanto que, no
segundo, como visto, não há essa participação comunitária. Na Apac, os próprios
recuperandos ajudam a fazer a segurança e a disciplina, tendo como suporte funcionários,
voluntários e diretores das entidades, não existindo presença de policiais e agentes
penitenciários.
Para evitar a ociosidade, eles frequentam cursos supletivos e profissionais dentre outras
variadas atividades. Essa metodologia fundamenta-se no estabelecimento de uma disciplina
rígida, caracterizada pelo respeito, ordem, trabalho e o envolvimento da família do
sentenciado. Viabilizar a percepção de dignidade da pessoa humana, de capacidade de
restauração também é um dos pilares do método.
Cabe falar, ainda, da municipalização da execução penal, ou seja, o condenado cumpre a sua
pena em presídio de pequeno porte, com capacidade para, em média, 100 (cem)
recuperandos, dando preferência para que o preso permaneça em sua terra natal e/ou onde
se encontra a sua família.
A primeira Apac foi criada em 1972, em São José dos Campos (SP), como fruto do esforço
de um grupo de cristãos, liderado pelo advogado Mário Ottoboni17. Em uma visita que
fizeram ao presídio, o advogado, que fazia parte de uma Pastoral carcerária, ficou bastante
impactado com a situação precária dos presídios e com o total desrespeito aos direitos
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Isso foi possível também em razão do auxílio do então juiz da comarca de São José dos
Campos, que no primeiro momento não acreditou na eficácia do método, sendo convencido
posteriormente de que essa proposta cristã poderia sim mudar a vida dos apenados.
Ganhando personalidade jurídica em 1974, a Apac passou a atuar como órgão parceiro da
Justiça na execução da pena.
A resistência inicial a esse método foi notória, bem como a discussão de assuntos
relacionados aos presos ou à criação das Apacs. Porém, com a continuidade e expansão, a
maioria das pessoas aprovaram.
O objetivo da Apac é promover a humanização dentro dos presídios, sem perder de vista o
fim originário da pena. Para tanto, comprova-se que, muito embora o Estado tenha o dever
de conferir assistência aos apenados, poderá agir sempre e eficazmente com a força da
comunidade. Esta é a base da legitimidade legal e funcional de atuação das Apacs na
recuperação dos presos.
Devemos observar então, que tal entidade possui seus próprios princípios, tais como:
Respeito, Responsabilidade e Relacionamento. Estes princípios fundamentam e embasam
todos os objetivos da Justiça Restaurativa, na medida em que proporciona o protagonismo e
autonomia das pessoas diretamente envolvidas em situações de dano, sofrimento, conflito
ou violência. A Justiça Restaurativa cumpre seus objetivos no momento em que torna da
justiça um processo transformador, bem como a redução da probabilidade de futuras
ofensas. Para tanto, é de suma importância o reconhecimento dos sentimentos da vítima e a
garantia do respeito às suas necessidades.
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Visa proporcionar oportunidades aos presos de fazer uma nova escolha, um novo caminho,
que, por vezes, não era possível, pois eles nem sequer o conheciam. Pretende evitar ainda a
reincidência no crime e oferecer alternativas para o condenado se recuperar. Como afirma o
advogado Mário Otobonni (2001)18:
O método cuida em primeiro lugar da valorização humana da pessoa que errou e que,
segregada ou não, cumpre pena privativa ele liberdade. Normalmente, os infratores
condenados são discriminados no mais amplo sentido da palavra. A maioria é vista apenas
como criminosos irrecuperáveis, lixo pela sociedade.
Aqui, vale lembrar a máxima: “Toda pessoa é maior que seu próprio erro”, Ottoboni
(2001)19. Este é o pilar que sustenta a validação da recuperação desse apenado, buscando
reformulá-lo interiormente, a partir de um sistema de méritos que fiscaliza seu
comportamento nos mínimos detalhes. A promoção progressiva dos internos do estágio
fechado até o aberto depende, como toda pena, de critérios objetivos e subjetivos, sendo os
primeiros regidos pela lei e os segundos avaliados segundo o desempenho do preso nas
atividades propostas pelo método para cada etapa.
Segundo dados da Cartilha Novos Rumos na Execução Penal do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais (2009)20:
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Para que não se evidencie a escolha de uma religião como fundamental para a recuperação
dos presos, denomina-se de espiritualidade a modalidade de assistência espiritual.
Tendo como base uma terapia penal, cujo objetivo é a “recuperação” ou a “cura” do
criminoso, considerado como “doente” espiritual e o crime como uma “doença”. Propõe
assim, uma metodologia sustentada pela articulação de dimensões teológicas,
psicoterapêuticas e criminológicas.
Imperiosa se faz a análise dos doze elementos nos quais a metodologia Apac se
fundamenta. Quais sejam:
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2) O recuperando ajudando recuperando: embora este não seja o elemento mais importante
do método – posto que não existe um mais importante -, pode ser facilmente identificado
como uma das razões do sucesso das Apacs. Despertar nos recuperandos o sendo de
responsabilidade, de ajuda mútua, e da importância de se viver em comunidade. Tudo isso
deve ser uma tarefa perene dos voluntários e funcionários das Apacs.
Nota-se que, o trabalho no regime fechado não tem por objetivo única e exclusivamente a
geração de renda. O regime semiaberto também não visa somente o lucro. A destinação
desse regime é a profissionalização, tendo como fundamentação alguns aspectos da
psicologia do preso, a alta rotatividade dos recuperandos e a questão disciplinar.
Contudo, não se pode afirmar que somente a espiritualidade resolve o problema de forma
geral. Pois, se assim fosse, a solução já teria sido desvelada, visto ser costume encontrar
sempre, em praticamente todos os estabelecimentos prisionais, grupos religiosos desta ou
daquela denominação, levando aos presos a palavra de Deus.
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Ocorre que, o preso, sob a cortina da religião, tenta obter favores, privilégios e benefícios
jurídicos. Nos países de maioria cristã, é necessário ajudar os recuperandos a se
encontrarem espiritualmente para que depois, livres, eles possam continuar em uma
comunidade religiosa, possam ter uma vida fundamentada pela ética e orientada por novos
valores.
A maior parte da população prisional não tem condições financeiras para contratar um
advogado, por esse motivo a Apac oferece uma assistência jurídica gratuita.
8) A família: a família também está banalizada e por muitas vezes sofre mais que o próprio
apenado. É constantemente sujeita às “revistas” humilhantes e vexatórias. Percorre longas
distâncias para chegar às unidades prisionais, sendo estas, muitas vezes, totalmente
inatingíveis pelos meios de transporte público. Aguardam durante horas a fio nas filas das
prisões, e, quando finalmente se encontram com seus entes queridos, já estão exaustas e Privacidade - Termos
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desestimuladas. É necessário fé, amor, paciência e afinco para não desanimar. Por outro
lado, a família, por total falta de arranjo, contribui, juntamente com outros fatores (ausência
de políticas públicas, drogas e outros), para o advento do crime e da violência.
11) Política de mérito: o mérito nas Apacs funda a vida do recuperando desde o momento
em que ele chega para o cumprimento da pena até a obtenção da sua liberdade. Todas as
ocorrências e sanções disciplinares aplicadas, bem como as evoluções e aspectos positivos
deverão constar no prontuário do apenado para, no momento adequado, integrarem o
relatório geral que será anexado aos pedidos de benefícios jurídicos quando estes tiverem
observado o lapso temporal para a concessão.
12) A jornada de libertação com Cristo: esse contexto apresenta um dos pontos altos da
metodologia. É um momento de forte reflexão e encontro consigo mesmo, no qual ao longo
de quatro dias, preenchidos por palestras de caráter espiritual – misto de valorização
humana e testemunhos -, recuperando é exposto à uma terapia de realidade, levando-o, ao
final, a um encontro pessoal consigo mesmo e com o ser superior. Privacidade - Termos
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Todos esses fundamentos são econômicos para o Estado, pois, a Apac nada cobra para
ajudar os apenados, não importando qual tipo de crime ele tenha cometido. Além disso,
envolve toda a sociedade no processo de ressocialização, facilitando a aceitação dos
indivíduos no corpo social, posto que o Estado falha gravemente, não promovendo a efetiva
recuperação para a reinserção do mesmo.
A pena é um modo de repressão que existe desde os tempos das primeiras civilizações,
como forma de ordenar o meio em que vivia o homem, seu convívio e a natureza. A Lei de
Execução Penal24 brasileira é considerada a mais desenvolvida do mundo, porém,
importante se faz a análise quanto à relação da mesma e o verdadeiro exercício da
ressocialização do apenado. Segundo Foucault (2011, p. 101)25, “a punição ideal será
transparente ao crime que sanciona; assim, para quem a contempla, ela será infalivelmente o
sinal do crime que castiga; e para quem sonha com o crime, a simples ideia do delito
despertará o sinal punitivo”.
Para Mirabete (2007)26, a assistência ao apenado pode ser dividida em duas modalidades, a
primeira delas seria essencial à sobrevivência do preso, como assistência material, assistência
à saúde. A segunda influencia para a ressocialização do apenado, como a assistência
educacional, social e religiosa.
O cumprimento das penas privativas de liberdade tem como princípio norteador a sujeição
do interno a direitos e deveres, para que não seja considerado excluído pela sociedade e
continue fazendo parte da mesma, sendo assim, a punição é aplicada ao preso em razão da
prática do delito, cerceando a sua liberdade. Contudo, isso não resultará na perda da
condição humana pelo preso e nem a perda de algum direito que não tenha sido afetado
em decorrência da sua punição.
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O Estado tem a obrigação de oferecer condições propícias para que, após o cumprimento
da pena, o condenado possa voltar à sua vida fora do cárcere, sem que lhe impeçam de
conviver plena e efetivamente em sociedade. Mas, a realidade nos presídios do Brasil, não
está em concordância com o que é definido em Lei.
As condições dos presídios brasileiros são extremamente caóticas, pois, não obedecem às
devidas exigências da Lei de Execução Penal. Por consequência, temos uma crise sem
precedentes, demonstrada pela decadência do sistema penitenciário, como afirma Selson e
Silva (2012)29.
O princípio da humanização é adotado tanto pela Constituição como também pelo Direito
da Execução Penal. Dispõe o art. 5º, XLVII:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
No artigo 41º da LEP, estão determinados quinze incisos, que abarcam algumas garantias, a
saber: alimentação suficiente e vestuário, atribuição do trabalho e sua remuneração,
previdência social, constituição de pecúlio, proteção contra qualquer forma de
sensacionalismo, entrevista pessoal e reservada com o advogado, e assim, por diante”.
(SANTOS, 1998)30
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Neste sentido, o entendimento dos tribunais tem sido o de valorizar o método Apac, como
observamos na jurisprudência abaixo colacionada:
O referido julgado corrobora com a ideia de que o preso não deve sofrer as consequências
da falta de estrutura do Estado. No caso em tela, o apenado foi autorizado a permanecer na
Apac da comarca nos dias de folga e durante repouso, já que, não havia estabelecimento
adequado para que pudesse cumprir sua pena no regime aberto.
Outro julgado, que também vale a pena analisar a importância da viabilização do trabalho
e/ou estudo no processo de ressocialização, é o seguinte:
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Por todo exposto, o método APAC nada mais faz do que transformar em realidade as
previsões elementares, contidas na Lei de Execução Penal, tanto no âmbito dos princípios
como também na enumeração de direitos e deveres dos apenados.
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Ainda na visão de Greco (2011)32, outra forma de prisão que deve ser evitada é a cautelar.
Medida essa que é, uma das responsáveis pela superlotação dos presídios, também deveria
ser aplicada apenas em casos extremos. Portanto, a substituição da pena privativa de
liberdade por pena restritiva direito, ou multa, quando possível, desafogaria
consideravelmente o sistema prisional atual.
Ocorre que, o Estado põe o criminoso na prisão, em resposta ao delito por ele cometido, e o
operacionaliza como forma de proteção da sociedade. Porém, levando em consideração a
condição de falência do sistema carcerário, isto, portanto, não se mostra medida eficaz,
posto que, o Estado deveria intervir minimamente.
Fragoso (1977)33 também defende a substituição da pena privativa de liberdade por outras
sanções não privativas, ou que sejam meramente privativas de liberdade. Para ele, essas
medidas mantêm o apenado em sua comunidade, podendo exercer alguma atividade
laboral, resultando assim, em uma reinserção natural do mesmo na sociedade, paralelo à
execução da pena.
Beccaria (2011)34 defende que sempre deverá haver a diferenciação entre culpado e
suspeito; que a punição deve ser apenas suficiente para suprimir o mal causado, e não para
ser um martírio para o indivíduo. E assevera ainda:
À medida em que as penas forem mais brandas, que se eliminem a miséria a fome das
prisões, quando a piedade e a humanidade penetrarem além das grades, quando enfim os
ministros da justiça abrirem os corações à compaixão, as leis poderão contentar-se com
indícios sempre mais leves para efetuar a prisão.
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Foucault (2012)35 diz que a prisão deve ser um aparelho que abarque todos os aspectos do
indivíduo, como a prática laboral, comportamento do dia a dia e suas decisões. Por ter um
grande poder sobre os apenados, deve então, usar mecanismos que sejam realmente
eficazes, de modo que, consiga propiciar ao mesmo uma nova forma de atuação. A prática
desses métodos norteia o comportamento do apenado favorecendo, então, na melhora de
sua conduta.
CONCLUSÃO
Com o presente estudo, tem-se que a Justiça Restaurativa pode ser bastante eficaz no
processo de ressocialização do apenado. Da mesma forma que qualquer outra instituição do
Direito, a Justiça Restaurativa é norteada e pautada por princípios e estes embasam a
efetivação dos objetivos e propósitos desse método restaurativo.
Acabar por completo com a delinquência é uma presunção utópica, posto que a
marginalização e a desarmonia são intrínsecas ao homem e o acompanharão até o fim da
vida na Terra. Porém, esse fato não exime a sociedade da obrigação que tem frente ao
delinquente. Importante salientar que a proposta da Justiça Restaurativa não surge com a
intenção de extirpar a justiça atual e tradicional, mas sim com o intuito de ajudá-la,
complementá-la em diversos aspectos, fazendo com que a pena atinja sua real função
punitiva e que princípios como dignidade da pessoa humana não sejam violados.
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Todo o cenário sistema prisional possibilita a validação de novas condutas com o intuito de
se chegar em uma real ressocialização. Na contingência dessas novas práticas encontra-se a
Justiça Restaurativa, objeto desta investigação. Seu propósito é fazer com que a sociedade
se sensibilize com a situação e enxergue a vítima como um membro que necessita de apoio,
ao passo que o infrator como alguém que precisa de incentivos para a mudança de suas
condutas.
Desse modo, não pode a penalização ter o objetivo pautado no sofrimento para imputar
medo aos demais membros da sociedade, para que eles não venham a delinquir, sem
também após o cumprimento da pena, não mais se preocuparem com o apenado.
A experiência desta metodologia restaurativa vem sendo utilizada em vários países, cada um
com sua peculiaridade. Assim, as comunidades conseguem sobrepor seus costumes na hora
de solucionar o conflito, tornando a aceitação do infrator mais fácil, bem como a
“recuperação” da vítima.
REFERÊNCIAS
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3 SALIBA, Marcelo Gonçalves. Justiça restaurativa e paradigma punitivo. Pará, 2007. p. 146
5 SICA, Leonardo. Justiça Restaurativa e Mediação Penal: o novo modelo de justiça criminal e
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6 ZEHR, Howard. Trocando as Lentes: um novo foco sobre o crime e a Justiça. Tradução de
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9 REALE JUNIOR, Miguel. Novos rumos do sistema criminal. Rio de Janeiro: Forense, 1983. P.
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11 ARAÚJO JÚNIOR, João Marcello de. Privatização das prisões. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1995, p. 26.
12 https://www.novo.justica.gov.br/news/depen-lanca-paineis-dinamicos-para-consulta-do-
infopen-2019
14 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
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21 SANTOS, Luiz Carlos Rezende. O método Apac e seus 12 elementos. In: SILVA, Jane. Minas
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23 OTTOBONI, Mário. Vamos matar o criminoso? Método APAC. 4. ed, São Paulo: Paulinas,
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26 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
28 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão: causas e alternativas. 5. ed. São
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30 SANTOS, Paulo Fernando. Aspectos Práticos da Execução Penal. São Paulo: Editora
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