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1ª QUESTÃO:
a) O que se entende por justiça restaurativa, quais são as suas características e qual a base legal para a
sua aplicação?
b) Quem é o público-alvo e quais os critérios de atendimento na justiça restaurativa do núcleo de
justiça juvenil?
c) Qual a metodologia aplicada?
RESPOSTA:
a)
A Justiça Restaurativa é incentivada pelo Conselho Nacional de Justiça por meio do Protocolo de
Cooperação para a difusão da Justiça Restaurativa firmado em agosto de 2014 com a Associação dos
Magistrados Brasileiros (AMB).
Segundo o juiz Asiel Henrique de Sousa, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
(TJDFT), a Justiça Restaurativa é uma prática que está buscando um conceito. Em linhas gerais pode-
se dizer que se trata de um processo colaborativo voltado para resolução de um conflito caracterizado
como crime, que envolve a participação maior do infrator e da vítima. Surgiu no exterior, na cultura
anglo-saxã. As primeiras experiências vieram do Canadá e da Nova Zelândia e ganharam relevância
em várias partes do mundo.
Em desenvolvimento no Brasil acerca de dez anos, a Justiça Restaurativa elenca o quadro do modelo
consensual de justiça, elemento o qual contribui para o amadurecimento da Justiça Criminal no Brasil,
bem como, a possibilidade alternativa de observação das condições humanitárias dos indivíduos
envolvidos em conflitos, bem como, a participação e protagonismo de ambos na resolução desse
mesmo conflito.
Nesse elemento, para conceituação, o Conselho Econômico e Social da ONU (2002) define a Justiça
Restaurativa como qualquer processo no qual a vítima e o ofensor e, quando apropriado, quaisquer
outros indivíduos ou membros da comunidade afetados por um crime, participam ativamente na
resolução das questões oriundas do crime, geralmente com a ajuda de um facilitador, é discutida
como uma possível alternativa a essa situação de barbárie.
1. promover e estimular seu sentido de dignidade e de valor; portanto, que o processo tenha um
caráter emancipatório, valorizando sua condição de sujeito de direito e, por conseguinte, responsável;
2. fortalecer o respeito da criança pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de terceiros,
permitindo entrever a abertura a um processo dialógico, que é ínsito à JR; e
3. estimular sua reintegração e seu desempenho construtivo na sociedade, com ênfase na garantia de
seus direitos sociais e, novamente, à sua emancipação pessoal.
Uma nova perspectiva de Justiça se amolda, aplicável também na Justiça da infância e da juventude
com o propósito de proporcionar uma justiça social para todos os jovens, possibilitando ao mesmo
tempo para a sua proteção e para a manutenção da paz e da ordem na sociedade, em consonância com
o estabelecido nos art. 1º e 4º das Regras de Beijing .
Por essa razão, no âmbito do garantismo juvenil, faz-se necessário conceituar o garantismo penal
juvenil como elemento de enfrentamento
àsinobservâncias aos direitos fundamentais, bem como, na aplicação da Justiça aos adolescentes em
conflito com a lei.
Nesse elemento, para FERRAJOLI (2000), o Estado Constitucional de Direito pode ser visto como um
novo modelo de direito e de democracia, por tal motivo, orienta ainda Luigi Ferrajoili, o Garantismo é a
outra cara do Constitucionalismo, uma vez que lhe correspondem a elaboração, implementação dos
instrumentos de garantias de direitos que assegurem "o máximo de efetividade dos direitos
constitucionalmente reconhecidos." Por tal conceituação, o elemento da Justiça Restaurativa apresenta-se,
desde as primeiras discussões acerca da sua difusão no Brasil, como a melhor alternativa para a resolução
de conflitos e efetivação da justiça. Além disso, a partir da Resolução 225 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), a Justiça Restaurativa passou a ter um carácter "vinculante", pois, foi estabelecida
metas nacionais de implementação desse método de Justiça nos Tribunais do Brasil. Ou seja, ao invés de
versar sobre transgressões e culpados, a Justiça Restaurativa, materializa a possibilidade concreta de
participação individual e social, democratização do atendimento, acesso a direitos, afirmação de
igualdade em espaços de diálogo, em ambientes seguros e respeitosos, valorização das diferenças, por
meio de processos socio-pedagógicos que considerem os danos, os responsáveis pelos mesmos e os
prejudicados pela infração.
Dentro da Justiça Penal Juvenil, a prática restaurativa torna-se uma alternativa avançada na resolução de
conflitos entre o adolescente em conflito com a lei, bem como, estabelece uma ponte com a comunidade a
qual sentiu algum tipo de dano causado pela infração. Ou ainda, esse elemento de proteção, possibilita a
abertura de um outro espaço, onde seja presente familiares, amigos ou pessoas próximas do infrator ou da
vítima, que são componentes da infração e coadjuvantes da vontade de reparo e/ou restauração da
confiança na comunidade.
Em efeito, no Sistema de Justiça da Infância e Juventude, a Justiça Restaurativa possibilita uma mudança
na ótica de responsabilização penal juvenil, pois, é observada a necessidade de participação dos
envolvidos em conflitos, bem como, levando em consideração à "questão social", a precariedade social a
qual a criança e o adolescente no Brasil estão expostos, de modo que, a justiça restaurativa acaba por
permitir a reafirmação e a proteção aos direitos e garantias fundamentais desses indivíduos e o acesso à
justiça dos adolescentes em conflito com a lei.
Por tal motivo, a Justiça Restaurativa na efetivação da justiça, torna-se uma ferramenta que
instrumentaliza a aproximação do adolescente com a comunidade, tendo em vista, não a sua internação ou
separação do convívio social, ao invés disso, permite-se uma nova possibilidade de interação social do
adolescente com
acomunidade por meio dos círculos restaurativos que possibilitam a participação dos envolvidos no
conflito, bem como na delimitação de tarefas do adolescente com a comunidade, como bem orienta o
inciso III do art. 112 do ECA.
No âmbito internacional, a Resolução 2002/12 do ECOSOC fixa-se como marco basilar para a
fixação das características e princípios inerentes às diferentes modalidades de Justiça Restaurativa.
Versando sobre a terminologia correta a ser empregada nessas práticas, os objetivos gerais de sua
implementação, bem como demarcando algumas diretrizes para a operação dos programas de
restauração, seu desenvolvimento continuo e acompanhamento pelos órgãos governamentais.
A citada resolução determina que os acordos advindos dos processos restaurativos, sempre que
possível devem ser judicialmente supervisionados e, quando oportuno, homologados judicialmente,
ganhando status de qualquer sentença, ou seja, a lei daquele caso concreto.
No âmbito nacional, no ano de 2005, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento em
parceria com a Secretaria de Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça, foram responsáveis por
dar apoio técnico e financiar a instauração de três projetos de Justiça Restaurativa em Porto Alegre,
São Caetano do Sul e Brasília.
b) O público-alvo das atividades restaurativas são adolescentes e crianças em conflito com a lei, as
vítimas dos atos infracionais, bem como suas famílias e pessoas da comunidade com interesse em
firmar um acordo.
2ª QUESTÃO:
ANA CLARA, criança de 10 anos, diariamente passava por constrangimentos perpetrados por seus
colegas de escola pelo fato de possuir massa corporal acima do peso apresentado pelas demais
crianças de sua faixa etária. Ofendida por ser chamada de "gorda" e excluída dos círculos de amizade
por considerarem que não tinha condições físicas de participar das brincadeiras, a criança passou a
apresentar transtornos de comportamento, fato que ocasionou, inclusive, seu afastamento temporário
das atividades escolares. Tal situação atualmente é denominada bullying. No caso especifico, é
possível a aplicação do programa de Justiça Restaurativa para crianças? Sendo positivo, como se
daria essa aplicação, o atendimento e os agentes envolvidos? Em caso ser apurado ato infracional, é
possível o adolescente ser inserido no programa?
RESPOSTA:
Base no modelo utilizado no programa de Justiça Restaurativa em São Caetano do Sul,
desenvolvido sob a responsabilidade da Vara e da Promotoria da Infância e da Juventude.
Uma educacional - que ocorre no próprio ambiente escolar - e outra jurisdicional - na Vara da
Infância e da Juventude.
Conta com o apoio da diretoria Regional de Ensino, do Conselho Tutelar, do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente, da Escola Paulista de Magistratura e das OnG's CECIP (Centro
de Criação e Imagem Popular) e CNV (Comunicação Não-Violenta).
Integram a equipe multidisciplinar diretamente envolvida com o programa juiz, promotor, assistentes
sociais, as diretoras das escolas, os facilitadores, pedagogos, entre outros profissionais.
Nesta, os Círculos Restaurativos são realizados nas próprias escolas, em salas especialmente
destinadas ao programa, e os professores desempenham o papel de facilitadores.
O público alvo são os alunos de 4º a 8º série e do ensino médio das respectivas escolas, podendo
haver, portanto, até mesmo a participação de crianças - o que é inviável na faceta jurisdicional do
programa.
Nesta vertente, qualquer conflito é passível de ser encaminhado a um Círculo Restaurativo, mesmo
que não compreenda ato infracional, mas simples infração escolar disciplinar, sendo que se dá ênfase
aos casos relacionados ao chamado bullying.
Qualquer pessoa pode pedir que seja realizado o Círculo e, geralmente, a iniciativa é tomada por
professores ou pelos envolvidos.
Pode haver, conforme o caso, a participação do Conselho Tutelar, que é responsável por fazer a
avaliação referente aos problemas sociofamiliares subjacentes aos conflitos e por realizar o
encaminhamento para atendimento pelo serviço público, se for necessário.
Todos os casos atendidos na vertente escolar, inclusive os relativos a infrações disciplinares, após o
cumprimento do acordo, são encaminhados ao juízo, que os registra, fiscaliza o teor do acordo e, se
for o caso de prática de ato infracional, o Juiz, a pedido do Ministério Público, pode, com fulcro no
artigo 126 do Estatuto da Criança e do Adolescente, homologar a remissão sem aplicação da medida
socioeducativa.
Já na vertente jurisdicional do programa, o público alvo são os adolescentes em conflito com a lei.
Quando o conflito chega ao fórum, faz-se a sua avaliação durante a oitiva informal do adolescente ou
na audiência de apresentação. Se houver a admissão de responsabilidade pelo adolescente e a
aceitação dos envolvidos para participar do programa restaurativo, o processo é suspenso e as partes
são encaminhadas para oPré-Círculo
com as assistentes sociais, que, após, agendam os Círculos, os quais se realizam nas escolas em que os
adolescentes estãomatriculados.
Não há a exclusão pré-determinada de casos associada à natureza do ato infracional, podendo participar
do programa crimes violentos, como roubo e estupro, se a vítima aquiescer.
Os atos infracionais que mais comumente fazem parte do programa são ameaças, roubos, furtos,
agressões físicas e ofensas verbais.
Os Círculos são realizados sob o encaminhamento do fórum, com a participação da assistente social e de
membros da escola, sendo que estudantes são incentivados a participar como co-facilitadores. A Vara e a
Promotoria são responsáveis por controlar os termos do acordo. Após, o Juiz o homologa e concede a
remissão prevista no artigo 126, parágrafo único, da Lei 8.069/1990, cumulada com a medida
socioeducativa prevista no acordo. Caso haja o seu descumprimento, pode ser realizado novo círculo.
Para corroborar o acima exposto, convém transcrever trecho do artigo publicado no periódico da
Universidade Santa Cecília:
“Deve-se dar atenção especial ao âmbito escolar, pois é nesse cenário onde ocorre a maior frequência do
número de violência entre crianças e adolescentes, através do bullying. Grande é o número de vítimas
todos os dias dentro das escolas. Vítimas que merecem a atenção necessária para não carregarem
cicatrizes emocionais pelo resto de suas vidas. É essencial dar a elas empoderamento para que se sintam
necessárias naquele determinado meio social, valorizadas, e, possibilitando, dessa forma, a atenuação do
desequilíbrio de poder que afeta o convívio das crianças, promovendo a harmonia social.
Neste sentido, se constata a possibilidade de aplicação da Justiça Restaurativa no âmbito escolar,
notadamente em casos de bullying, onde verifica-se a conveniência de seu uso no restabelecimento das
relações estudantis.
...
Como dito anteriormente, o bullying é o abuso sistemático do poder, desta forma, as práticas da Justiça
Restaurativa devem ser aplicadas com o intuito de extinguir os problemas ocasionados por esse
desequilíbrio. Deve haver suporte e responsabilidade da comunidade escolar, junto com os meios que
busquem valorizar e empoderar as crianças afetadas pela agressão. (...)
Quando um jovem praticar bullying, os representantes da instituição escolar podem promover a
participação do mesmo em conjunto com seus responsáveis legais e a vítima, para que deste modo
possam bucar a reparação do dano, moral e material, e a responsabilização por parte do agressor.
Nesse sentido, a legislação brasileira prevê aplicação de medidas socioeducativas, possibilitando práticas
restaurativas, em hipótese de criança e adolescente cometer ato infracional, em seu artigo 101 do Estatuto
da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90.
Neste diapasão, fica demonstrda a compatibilidade entre o ECA e a aplicação da Justiça Restaurativa. O
inciso IV, em especial, trata da “inclusão em programa comunitário ou oficial deauxílio à
1ª QUESTÃO:
CIRILO, adolescente, devidamente representado por seu pai, propôs ação em que pretendeu a
obtenção de uma autorização para atuar como DJ, até que atinja a maioridade civil.
O juízo do Juizado da Infância e Juventude julgou improcedente o pedido, uma vez que o Estatuto da
Criança e do Adolescente veda a concessão de autorizações em sentido amplo, geral e irrestrito,
exigindo-se o exame casuístico e fundamentado de cada evento em que CIRILO porventura
pretender realizar apresentações, de modo que a autorização deverá ser sempre requerida perante a
Vara da Infância e da Juventude do local de cada evento.
A defesa de CIRILO interpôs recurso de apelação na qual insistiu na tese de que seria admissível a
autorização ampla, na medida em que as circunstâncias específicas de cada evento seriam sempre
examinadas previamente, por ocasião da concessão do alvará de funcionamento do próprio evento.
Além disso, a defesa sustentou a possibilidade de a autorização concedida pelo juízo da comarca do
domicílio do adolescente disciplinar a participação, sem que haja a necessidade de requerimento
individual em cada comarca da apresentação.
A partir da situação hipotética acima descrita, analise, fundamentadamente, se os argumentos
defensivos merecem acolhimento.
RESPOSTA:
art. 149, II, "a" e §2º, Lei 8.069/90: "Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de
portaria, ou autorizar, mediante alvará:
...
II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
...
§2º - As medidas adotadas na conformidade deste artigo deverão ser fundamentadas, caso a caso,
vedadas as determinações de caráter geral."
"Com efeito, essa espécie de autorização, cuja característica marcante seria transferir os poderes de
gestão, escolha e desenvolvimento mental, psicológico, pessoal, físico, educacional e social
exclusivamente aos pais, sem nenhuma espécie de controle externo, fatalmente comprometeria o
adequado desenvolvimento da criança e do adolescente, transformando algo que deveria ser uma
atividade complementar, lúdica e de desenvolvimento de habilidades inatas, em uma verdadeira
atividade laboral ou profissional prematura e exploratória, que não se coaduna com os princípios
protetivos da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
De outro lado, a solução jurídica dada pela sentença e pelo acórdão recorrido, no sentido de
condicionar às autorizações para que o recorrente se apresente como disc-jockey a pedidos individuais,
a serem formulados e decididos em cada comarca em que ocorrerá a respectivaapresentação, merece ser
melhor
examinada diante de seu ineditismo, à luz das regras de competência do ECA e do CPC/15, do
princípio do melhor interesse da criança e do adolescente e da especial regra que flexibiliza a
adstrição ao pedido nos procedimentos de jurisdição voluntária (art. 723, parágrafo único, do
CPC/15)."
2ª QUESTÃO:
O Ministério Público ofereceu representação contra TERTULINHO, adolescente, pela suposta
prática de ato infracional equiparado ao delito previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006.
O magistrado da Vara da Infância e da Juventude rejeitou a representação, por ausência de justa
causa, uma vez que se trata de delito impossível, pela existência de flagrante preparado pela
autoridade policial, assim como pela falta de materialidade, já que não houve a apreensão de
entorpecente algum.
O parquet interpôs recurso de apelação, entretanto, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
não conheceu do recurso, por ser intempestivo, sobrevindo, assim, o trânsito em julgado da decisão.
Em seguida, o Ministério Público ajuizou ação rescisória contra a decisão absolutória, sob o
fundamento de que a contagem do prazo teria sido equivocada, sendo tempestivo o apelo acusatório.
Como base na situação hipotética acima descrita, esclareça, fundamentadamente, se é cabível o
ajuizamento de ação rescisória para desconstituir coisa julgada absolutória no procedimento de
apuração de ato infracional.
RESPOSTA:
Não é cabível o ajuizamento de ação rescisória no caso em concreto. Sob este entendimento, o
Superior Tribunal de Justiça, recentemente, apreciou a questão, a saber:
pelo Recorrido seria fato incontroverso, quando, na verdade, o fato incontroverso existente, inclusive
com formação de coisa julgada, é na direção de que o Recorrido não praticou ato infracional. Se não
houve ato infracional, não há pretensão socioeducativa a ser exercida, em qualquer de seus aspectos.
7. Recurso especial desprovido."
grifei
(STJ. Sexta Turma. Resp 1.923.142/DF. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em
22/11/2022 - Informativo 759).